UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDNA MARIA LOPES DE SOUZA ESPECIFICIDADE DE SINTOMAS NA HISTERIA UMA ABORDAGEM CLÍNICA Curitiba 2009 1 EDNA MARIA LOPES DE SOUZA ESPECIFICIDADE DE SINTOMAS NA HISTERIA UMA ABORDAGEM CLÍNICA Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Psicologia Clínica, Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para cbtenção do título de Especialista em Psicologia Clínica. Orientador: Dr. Jorge Sesarino Curitiba 2009 2 TERMO DE APROVAÇÃO Edna Maria Lopes de Souza ESPECIFICIDADE DE SINTOMAS NA HISTERIA: UMA ABORDAGEM CLÍNICA Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do título de Especialista em Psicologia Clínica no Curso de Especialização em Psicologia Clínica da Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, ____________________________________________________ Coordenador do Curso de Especialização em Psicologia Clínica Universidade Tuiuti do Paraná Orientador: ____________________________________ Prof. Dr. Jorge Sesarino ____________________________________ _____________________________________ 3 Agradecimentos À minha querida família, por seu encorajamento constante, generosidade e confiança. Aos meus caros professores: Jorge Sesarino, Maria Otília, Deise, Maria Cristina e Ângela, que tornaram possível a conclusão desta monografia. 4 Gostaria que houvesse alguém que ouvisse minha confissão. Não um padre. Não quero que me digam meus pecados. Não minha mãe. Não quero causar tristeza. Não uma amiga. Não entenderia bastante. Não um amante. Seria parcial demais, Não Deus. Ele é tão distante. Mas Alguém que fosse ao mesmo tempo o amigo, o amante, a mãe, o padre, Deus e ainda um estranho. Não julgaria, nem interferiria. E quando tudo houvesse sido dito desde o início até o fim, mostraria a razão das coisas, daria força para continuar e para resolver tudo da minha própria maneira. Autor desconhecido. 5 RESUMO Este estudo versa sobre a histeria, uma abordagem psicanalítica na qual se busca uma compreensão da especificidade dos sintomas para o diagnóstico da histeria, que abrange muitas modalidades e graus e se caracteriza por conflitos psicológicos e sensibilidade anormal generalizada aos estímulos, alteração física involuntária e um inconsciente em exercício. A escolha do estudo de caso como técnica investigativa justificou-se pelo fato de ser uma pessoa com obsessão que se manifesta fisicamente. A entrevistada, uma mulher cuja queixa principal era paralisia no braço direito aliada a uma fobia social e problemas familiares, teve sua fala transcrita, fato que permitiu apreender dados significativos relativos à histeria. Conclui-se que a precisão do diagnóstico evitará o tratamento universalista e classificatório oferecido à pessoa histérica, pois a fala da cliente permitirá apreender que na escuta do sintoma histérico está a base para um resultado final positivo na evolução do seu tratamento. Palavras-chave: abordagem psicanalítica - histeria - diagnóstico - importância da escuta 6 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 7 2 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A HISTERIA ..............................................10 2.1 CONCEITOS E HISTÓRIA DOS SINTOMAS DA HISTERIA ..............................10 2.2 SOFRIMENTO INCORPORADO E HISTERIA....................................................18 2.3 A PRIORIDADE FEMININA.................................................................................22 3 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO ...................................................................26 3.1 DEFINIÇÃO DA METODOLOGIA .......................................................................26 3.2 ESTUDO DE CASO ............................................................................................27 4 CONCLUSÃO ........................................................................................................35 REFERÊNCIAS ....................................................................................................38 7 1 INTRODUÇÃO Este estudo trata de uma abordagem psicanalítica na qual se busca uma compreensão lógica da especificidade dos sintomas para o diagnóstico de histeria. Tudo na psicanálise começou com as mulheres histéricas que foram atendidas por Freud1. Foi escutando as histéricas que ele percebeu que o discurso consciente, que a fala daquelas mulheres era tão somente uma emanação de um outro discurso, o do inconsciente. Aprendendo a escutá-las, como método para tratá-las naquilo que havia de patológico em seus desejos insatisfeitos, descobriu os processos primários que ligam os dois discursos: a condensação e o deslocamento2. Todo processo analítico é uma tentativa de tratar algo impossível de ser suportado na realidade, algo que, pela palavra, pode simbolizar a história de uma nova vida. Costuma-se considerar que os estudos de Freud sobre esse distúrbio foram responsáveis pelo início da psicanálise — estudando os sintomas de seus pacientes e a melhora destes com o uso do método que ele criou, de associação livre, em que o paciente fala sobre seus problemas, sem regras específicas, percebeu que o que é manifestado pela mente não é necessariamente aquilo que ela representa em sua totalidade (TRAVERSO-YÉPEZ; MEDEIROS, 2004, p.87). A histeria, ou neurose histérica, classificada primeiramente por Freud, abrange muitas modalidades e graus3. É caracterizada como estados nervosos em 1 2 3 FREUD, Sigmund. Algumas consequências psíquicas de la diferença sexual anatómica, 1925. Na condensação, características pertencentes a vários processos inconscientes são agrupadas dentro de uma imagem; no deslocamento, as características de uma imagem são transferidas para outra, com a qual o sujeito estabelece relações como se fosse primeira (FREUD, 1973a, p.343). De acordo com Kaufmann (1996, p.248), Freud definiu diferentes tipos de histeria: de angústia (sintomas fóbicos que podem ser observados na neurose obsessiva e na esquizofrenia), de conversão (predominância de sintomas de conversão), de defesa (atividade desenvolvida para evitar representações que causem afetos desagradáveis), de retenção (a natureza do trauma esbarra em condições sociais ou individuais que impedem a ab-reação, isto é: “a liberação da carga 8 geral, podem apresentar uma série de sintomas, desde as formas mais brandas e rudimentares às formas mais complexas, mas a histeria é sempre a mesma, apenas é provocada por uma série de diferentes causas. Neste estudo, foi a fala da paciente que ofereceu suporte para o diagnóstico de histeria, embora tenha sido necessário percorrer a história da histeria, abrindo caminhos para complementar os estudos realizados. Para tanto, relata-se que uma pessoa foi à Clínica de Psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná em busca de informações, com um psiquiatra, sobre seus problemas estomacais, desmaios, enxaqueca e paralisia dos membros superiores bem como do possível tratamento para aliviá-los — seu braço direito estava enfaixado e a pessoa se queixava de muita dor; não havia recebido um diagnóstico preciso, mas lhe fora indicada uma cirurgia para a raspagem dos nervos do braço buscando o retorno da mobilidade e o alívio das dores; também fazia uso de medicamentos controlados, receitados pelo profissional até então consultado. O encaminhamento para o tratamento psicanalítico se fez pela transferência do que a pessoa expôs sobre seus sintomas, ou seja, foi nesta relação transferencial que os sintomas relatados foram transformados em sintomas analíticos. Os problemas diagnósticos residem em até que ponto desordens orgânicas podem ser excluídas e/ou na concordância de quais situações podem ser consideradas como conflitos psicológicos importantes. Em função do que acima foi discutido, entende-se que a análise pode trazer à pessoa histérica a possibilidade de falar de seus sintomas e, falando deles, descobrir que eles escondem questões fundamentais a seu respeito, tais como a questão de sua identidade sexual, de seu desejo, de saber sobre sua própria de afeto”, segundo Roza, 2004. p, 36) e a traumática (descrita por Charcot como sintomas somáticos designados para um traumatismo físico, caracterizado pelas paralisias). 9 condição de mulher, embora a resposta a tais questões não possam trazer exatamente o fim da histeria. Há neste relato especificidade para o diagnóstico clínico de histeria? Frente a essa problemática, o objetivo geral deste estudo é investigar e compreender os significados atribuídos pela pessoa em consulta à sua queixa e apontar o possível diagnóstico de histeria. Os objetivos específicos destacam-se para, diante das considerações tecidas, discutirem as seguintes hipóteses: definir se as mulheres com diagnóstico de histeria são todas fracassadas ou doentes; analisar o sofrimento incorporado e discutir se a histeria somente ocorre em mulheres. Com um recorte qualitativo, a pesquisa bibliográfica — levantamento do referencial teórico constituído pelas fontes que tratam especificamente do assunto em documentos impressos ou eletrônicos, fundamentados nos escritos de Freud, Lacan e outros teóricos, com a finalidade de colocar quem pesquisa, na medida do possível, em contato direto com tudo o que foi dito, escrito e/ou filmado, levando em conta, para a coleta de dados, a possível dificuldade de acesso à informação (GIL, 2002, p.54) — busca trazer subsídios para o diagnóstico de histeria. O texto é apresentado, depois da introdução, em dois capítulos. O capítulo dois discorre sobre os conceitos e a história dos sintomas da histeria no intuito de comprovar ou não a hipótese de que as mulheres com diagnóstico de histeria são todas fracassadas ou doentes; sobre o sofrimento incorporado e histeria, a fim de verificar se a histeria é uma doença ou a expressão do inconsciente e sobre a prioridade feminina, para entender ser a histeria ocorre somente em mulheres. O capítulo três apresenta o processamento metodológico para definir se a especificidade de sintomas viabiliza o diagnóstico de histeria. 10 2 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A HISTERIA 2.1 CONCEITOS E HISTÓRIA DOS SINTOMAS DA HISTERIA Desde os primórdios da humanidade existem relatos de quadros de histeria. Hipócrates (460 a.C.-377 a.C.), médico grego considerado o pai da medicina, já falava sobre a histeria entre as doenças das mulheres (embora seja necessário ressaltar que alguns papiros egípcios já traziam descrições que poderiam ser de histeria, pois é certo que, se existe sexualidade humana, a histeria participa dela mantendo a crença) desde a antiguidade, de sua origem em alguma alteração uterina — no descaso por parte do parceiro, ou então, por fatalidade do destino, o útero deslocava-se no interior do corpo da mulher, "frustrado com a continência de sua proprietária" afetando o funcionamento dos outros órgãos e causando os sintomas. Por isso histeria, do grego hyster = útero. (ISRAËL, 1995, p.14). Na Idade Média, a medicina trouxe pouca contribuição à histeria. Período de intensa religiosidade, a histeria se refugiava nas vias religiosas. A histérica não é muito escandalosa, enquadrada em seu fervor absoluto. No fim deste período e sobretudo nos períodos da Reforma e da Contra-Reforma, os "desvios religiosos" veem as mulheres com quadro de histeria como bruxas, bem por isso eram queimadas vivas, pois o quadro clínico era associado à conjunção com os demônios. (ISRAËL, 1995, p.16). Desde a Antiguidade até os tempos atuais, a histérica encontrava "a fantasia do homem que a transformava em inimiga" (ISRAËL, 1995, p.17). Ou seja, sob as mais diversas formas exteriores, muito diferentes uma das outras e que aparentemente não têm qualquer elo, uma característica as identifica: "um 11 'tratamento' com o objetivo de tornar a histérica inofensiva...para a fantasia masculina" (ISRAËL, 1995, p.17; grifo nosso). Ainda de acordo com Israel (1995, p.15), há que se notar que toda abordagem da histeria esta sempre repleta por fantasias de homens procurando, em seus medos ou seus rancores ante a histeria em particular, dissimular seus ressentimentos diante das mulheres em geral. Freud, por sua vez, não se enganou ao reconhecer nas bruxas, depois dos teólogos e de zelosos juristas, “o papel de ancestrais e precursoras das histéricas de doutos médicos, estabelecendo, além disso, um paralelo entre a sina reservada às mulheres e o lugar atribuído aos judeus nas sociedades ocidentais” (MICHELS, 2001, p.35). Relata Kaufmann (1996, p. 248) que a histeria e o feminino se confundem em Freud, reunidos sob a questão homossexual, tanto da histeria quanto da mulher. Ele observou que os sintomas físicos não possuíam causa orgânica e considerou que a histeria fora causada pela recusa do desejo sexual, que é tipicamente reprimido e se manifesta em forma de ansiedades e traumas. “Os histéricos sofrem principalmente de reminiscências inconscientes, ligadas a um afeto insuportável” (KAUFMANN, 1996, p 248). Nesses casos, conforme Michels (2001, p.35), em relação às mulheres, ...qualificá-las de histéricas, com efeito, não deixava de ter uma conotação pejorativa; o que obrigatoriamente não mudou desde então. Apesar de tudo, tal diagnóstico, tornado freudiano, mostra-se melhor e às vezes até mesmo ostensivo. Para alguns, ele serve para designar a melhor estrutura possível (portanto relação do sujeito com o desejo) que há, para opô-la a estruturas menos nobres; outros se tornaram verdadeiros militantes da histeria. Ponto de partida da psicanálise, ela parece também ter se tornado seu término; assim somos levados, no rastro de Lacan, a defini-la como uma histerização do discurso. 12 A psicanálise abre a possibilidade de arrancar lembranças do passado às cenas que foram traumáticas impedindo a pessoa de ser. A análise traz, à pessoa histérica, a possibilidade de falar de seus sintomas. Ao analista cabe ajudá-la, tornar-se unificada e reconhecer-se como o sujeito da ação pela possibilidade de assumir a responsabilidade nas suas inter-relações humanas. Segundo Israel (1995, p.29), a histeria é uma neurose, e, enquanto tal, ela é marcada por situações repetitivas, mas como o que se poderia entender através do sentido de um sintoma. Esse sentido é particular a cada paciente e não pode de modo algum ser inventado pelo médico. Ele só pode ser descoberto com ajuda do sujeito.(...). A neurose não implica somente o organismo do sujeito. (...). A histeria não apenas se modifica em função do meio, e consequentemente do médico, mas ela ainda concerne esse meio e o arrasta à sua revelia (...). Daí a impossibilidade de estudar a histeria como uma doença que envolve uma única pessoa. Já, para Calligaris (2004, p. 38), os fatos de nossas vidas agem em nós pela história em que se integrou, ou melhor, pela história em que conseguimos ou não integrá-los. Duas razões, então, para que façamos o esforço de evocar o passado, em cada cura: para reinventar o sentido de uma história e para amenizar o peso do futuro, devolvendo assim, quem sabe, seu justo lugar ao presente de nossas vidas. Contudo, considera Julien (1997, p.61), “só a memória do trauma, partilhada na palavra, permite, ao levantar o segredo, engendrar um novo futuro”. Por isso, aquele que sofre, ao dizer do seu sofrimento, abandona a sua posição de inocência e se depara com um saber que não sabia e com um novo desejo de saber. Para definir este quadro ainda é preciso um ato analítico que o questione sobre aquilo de que ele se queixa, para que se efetive o diagnóstico de histeria e a pessoa entre em análise. Contudo, 13 a representação da castração é penosa; nas neuroses a histeria, fobia ou obsessão, a defesa (...), organiza-se substituindo a representação insuportável por outra representação mais aceitável pelo eu: o fracasso desse mecanismo de substituição dá lugar aos sintomas tipicamente neuróticos” (NASIO, 2003, p.152). Discernida em 1859, na Medicina e situada na Psiquiatria por Charcot4, a histeria possibilitou a Freud, na virada do século dezenove para o século vinte, a descoberta do inconsciente e da origem sexual dos sintomas neuróticos. Dentre as neuroses, ela é o único tipo clínico que procede da estrutura de linguagem do inconsciente descoberta pela psicanálise. Por isso, a histeria pode ser formalizada em um matema5. O sujeito da histeria é o próprio sujeito do inconsciente em exercício: sujeito em falta de ser e sexo, desejoso de saber sem, no entanto querer saber, transferido com o mestre para reinar sobre ele, enigma e pitonisa, esfinge e decifração. O dispositivo da psicanálise promove a histerização do sujeito, condição do ato analítico. A função do analisante é sempre histérica, assim, psiquiatras, médicos, psicólogos e fisioterapeutas e, sobretudo, psicanalistas, continuam recebendo na clínica cotidiana as mais variadas formas de histeria, desde as mais antigas até às pós-modernas. Mais uma vez, "a histeria é representada pelas fantasias do homem, aqui do médico" (ISRAËL, 1995, p 19). Essencial recordar, como refere Ogilvie (1991, p.66), que Lacan não concebe o sujeito como uma estrutura passiva, mas sim como uma estrutura reacional, uma estrutura que se produz e se desenvolve em um dado meio, ou seja, "um sistema de relações, de significações e de elementos que formam uma totalidade". 4 Jean-Martin Charcot se propôs, em seu trabalho clínico, descrever e definir exaustivamente a manifestação do fenômeno histérico assemelhando-o às patologias neurológicas, afirmando “a autenticidade e a objetividade dos fenômenos histéricos contra os preconceitos e a suposição de que era apenas uma simulação dos doentes” (QUINET, 2003, citado por BURSZTYN, 2008, p.128). 5 Matema quer dizer ensino, elaboração de construção. Nota da autora. 14 Isso significa que o corpo histérico, como sujeito reacional, é um palco de sofrimento, é o corpo-dor que simboliza não só a divisão do sujeito em relação ao sexo (homem/mulher), mas também a impotência do prazer absoluto, a paralisia diante do desejo do outro, as cicatrizes de gozo deixado pelos traumas, as marcas de saudade do prazer que nunca adveio. O sujeito histérico encena para o outro o drama do gozo da privação. É um corpo que clama deciframento, um corpo-leito de escrita cifrada, cuja anatomia é sui generis e não obedece aos livros médicos. Cada sujeito tem a sua. (JULIEN, 1997, p.42). Para Freud (1993, p.356), o sintoma é tecido de linguagem e os órgãos, ou partes do corpo, anexados pelo sintoma, são conduzidos a desempenharem um papel de zona erógena para o qual não foram destinados. Se a cena traumática deixa uma marca mnêmica impressa no corpo histérico com uma representação simbólica recalcada, pode-se aceitar a função orgânica do corpo como submetida ao campo da linguagem. No entanto, mais do que a vivência, a fala tem valor total e na palavra fundamenta o fato e faz registrar a história. Lacan (1998, p.255) destaca que a descoberta de Freud sobre a importância da fala presente, que testemunha na realidade atual e que fundamenta a realidade atual, decorre do acontecimento traumático, como núcleo patogênico na neurose, que se modifica ao nele incidir esta fala. Para este autor, o inconsciente é "estruturado como uma linguagem", entendendo que como "ser de linguagem" a pessoa se constitui no campo da linguagem por meio de elementos simbólicos, os significantes, que não portam um sentido em si constituído, fato no qual a experiência analítica estrutura seu dispositivo clínico: a fala do analisante, apropriando-se da associação livre como via de acesso ao inconsciente. 15 Assim, sintoma e fala são homogêneos, ambos são feitos da mesma matéria: a linguagem. Nesta perspectiva o sintoma seria uma fala aprisionada, porém, mesmo ao libertá-la não damos conta do sintoma. Há algo nele que resiste à significação. Diante desta dificuldade, Lacan vai postular que o sintoma tem uma vertente de sentido, mas tem também a sua face de gozo. É este conceito de gozo em Lacan que vai reconciliar o sintoma como mensagem à pulsão freudiana. O sintoma seria uma conexão real entre o significante e o corpo, donde a parte significante seria passível de interpretação, enquanto o gozo que se liga ao corpo exigiria mais que a produção de sentido. (MACHADO, 2004). Ora, nesta realidade, somente a fala dá testemunho desta parte do passado que foi afastada em cada cruzamento em que o acontecimento se deu, logo, “... é o mundo da palavra que cria o mundo das coisas...” (LACAN, 1998, p.256). Já, para Foucault (2001, p.101), “o sintoma — daí seu lugar de destaque — é a forma como se apresenta a doença: de tudo que é visível, ele é o que está mais próximo do essencial; e da inacessível natureza da doença, ele é a transcrição essencial.” Ou seja, é o sintoma que fala a verdade do sujeito. É o sintoma que faz sofrer, é o que faz com que as coisas não funcionem. Sobre este assunto, reflete Kaufmann (1996, p.245), nenhum sintoma pode ser dito típico, uma vez que seu contrário estará igualmente presente. No tocante ao humor: risos e choros, depressão e euforia, frieza de sentimentos e veemência da linguagem. Na memória amnésias e recordações detalhadas. Nos sinais sensoriais: afasia e volubilidade, atração pelos rumores, cegueira e alucinação, anorexia e bulimia, amenorréia e hipermenorréia. No tocante aos distúrbios motores: entre outros a paralisia, a contratura, estão presente. Os sintomas não mais traduzem o mau funcionamento do organismo, ou de parte dele. Eles agora exprimem uma mensagem que se dirige a um destinatário ainda que tanto este quanto o conteúdo da mensagem não sejam conhecidos pelo emissor. Um paradoxal absurdo que resiste a qualquer explicação simples e clara. 16 Nestas condições, o espírito é obrigado a se manifestar e os sintomas neurológicos são as consequências, os testemunhos do que se passa em um lugar desconhecido, do qual a atividade consciente, a única que é acessível à pessoa, é apenas um pálido reflexo. Diante disto, o sintoma não mais sinaliza uma lesão anatômica ou uma perturbação biológica, mas passa a expressar o que se desenrola neste lugar desconhecido (ISRAEL, 1995, p.30). As manifestações mais conhecidas da histeria são os acessos agudos de agitação, "os ataques", as "crises". Para Nasio (2003, p 91.), é o sentimento íntimo de ser uma pessoa que é ferido, logo, esse ferimento profundo desencadeia a reação fulminante da raiva. Assim, continua o autor, é possível definir o ódio impulsivo como reação instintiva do eu, um reflexo desesperado para fazer um curativo na própria imagem ferida, de acalmar a dor da afronta veste o ser esse ódio um concentrado de violência contra aquele que humilhou, e, ao humilhar, desestabilizou a base da identidade da pessoa visada. Portanto, odiar o outro é “o derradeiro sobressalto para consertar a imagem de si mortificada”, reitera Nasio (2003, p 92). Portanto, interessa a este estudo o saber sobre a causa pensável do sofrimento que a norteia, pois de acordo com Rosa (2000, p.63), cala-se o que faz sofrer para esquecer a existências dos males, dor, morte, ridículo, loucura, franquezas, origens humildes e sórdidas. Cala-se sobre o ódio. E sobre o amor. Há não ditos tanto para evitar castigo justo quanto para satisfazer o desejo de romper com um passado ultrapassado e trágico. Freud descobriu, antes de qualquer coisa, a existência de um vínculo simbólico entre o sintoma somático e sua causa, isto é, um traumatismo de ordem psíquica. Que esse traumatismo psíquico, causa da histeria, é uma experiência 17 sexual prematura que surpreendeu o sujeito. De fato, esta não foi desejada, mas sofrida em decorrência de uma intervenção sedutora de um adulto (na maioria das vezes, o pai) junto à criança, quase sempre, da menina. A pessoa com histeria ama o pai pelo que ele não dá, buscando, dessa maneira, encontrar o espaço que lhe cabe junto dele e assumindo a vocação de ampará-lo em sua incapacidade assinalada, marcada, e por isso, supostamente sabida. A posição da pessoa histérica é a de refazer questionamentos e de fazer um voto para que o amor pelo pai funcione substituto, escrevendo a relação sexual, ou seja, para a pessoa histérica "não passa de impotência provisória proveniente desse pai". (FREUD, 1973, p.41). Enfim, sugere Calligaris (2004, p.44), uma análise deve ser sustentada pelo desejo analítico em que o analista faz semblante à de objeto causa de desejo para o sujeito e assim conduzi-lo a uma satisfação possível, o gozo a algo além de sua satisfação, saindo do regime da pura demanda e tornando-se capaz de ocupar o lugar de desejante. E, reafirma este autor, que menos gozo e mais desejo certamente lhe cobrará mais trabalho e menos lamentações, mas tornará possível substituir sua miséria histérica por um sofrimento comum. O que se pode entender no que foi até aqui discutido é que o próprio termo, histeria, ultrapassa o uso médico, pois pertence à linguagem corrente, embora a histeria cotidiana não corresponda plenamente à histeria médica. Médico ou não, cada pessoa está pronta a descobrir inúmeras e diversas histerias. Visto assim, entende-se que o médico não tem como englobar a totalidade das histéricas; na realidade ele somente conhece histéricas fracassadas ou doentes. Isso parece indicar que podem existir histéricas bem sucedidas, ou pelo menos, histéricas que fogem dos parâmetros impostos pela medicina. Fato que não deve ser 18 desconsiderado quando se trata de generalizar a histeria como característica de mulheres fracassadas e doentes. O sofrimento incorporado e a relação com a histeria são discutidos a seguir. 2.2 SOFRIMENTO INCORPORADO E A HISTERIA A histeria6 teve seu diagnóstico rejeitado pela comunidade científica sendo substituída por novas classificações diagnósticas dos transtornos dissociativos, transtornos de personalidade, transtorno bipolar ou síndromes psicóticas, aumentando o risco do completo abandono dos ensinamentos da psiquiatria clássica, em especial no que se refere à etiologia da neurose histérica, comprometendo os instrumentos terapêuticos que, às vezes invasivos e ineficazes, visam apenas à suspensão de alguns sintomas e deixam de ouvir o dizer da pessoa sobre seu adoecimento e sofrimento psíquico (BURSZTYN, 2008, p.126). Como relatado, a histeria tem sido mencionada desde a Antigüidade, geralmente associada à condição feminina, e mais recentemente, acompanhando os estudos de Freud, tem sido vinculada à sexualidade reprimida. De acordo com Doretto (1998, p.43), nessa classificação agora usada, os distúrbios estão relacionados a queixas vagas e imprecisas, sem causas orgânicas evidentes, embora com etiologia localizada na esfera psíquica. Consequentemente, frente à ausência de uma etiologia orgânica correspondente, é comum ao profissional da saúde associar tais sintomas a crises nervosas deixando de levar em conta a complexidade do problema, tratando-o sem a consideração que merece, tornando a intervenção, quando existe, inadequada (RIBEIRO, 1996, p.67). 6 Isto pode ser verificado nos Manuais de Diagnóstico: DSM-IV (1995) ou CID-10 (1995). 19 Para Silveira (2000, p.113), os sintomas de histeria podem ser apresentados como um sofrimento generalizado que se manifesta com uma variedade de sintomas fisiológicos, físicos e psíquicos inespecíficos na classificação nosológica, ou seja: Tonteiras, palpitações, vista escura, desmaios, esquecimentos, insônias, medo (...), dormência nas pernas, cansaço, falta de apetite (...), tremores no corpo (...), dores de cabeça (...), dores difusas, irritabilidade, crises de choro (...), impaciência (...), crises de nervos, etc. (COSTA, 1987, p. 15). Ansiedade, angústia. Agitação (...), sensações corporais diversas (...), vontade de morrer (...), falta de vontade de comer (...), perturbações no sono (...), instabilidade emocional,... (SILVEIRA, 2000, p. 114). Essa variedade de sintomas pode ser considerada como característica da histeria apontando para um problema que atinge vários aspectos da vida cotidiana, embora sejam em tudo semelhantes aos descritos no Manual de Diagnóstico DSMIV (1995) para diagnosticar outras alterações, como a ansiedade generalizada e a depressão, por exemplo. Ainda assim, um estudo mais profundo mostra que esta é uma situação bem mais complexa. Para Finkler (1989, p.72), a histeria pode funcionar como uma via de expressão, social e culturalmente aceita, das preocupações diárias e das dificuldades do cotidiano. É um sofrimento que se manifesta no corpo porque é nele que se depositam as frustrações, os conflitos e os percalços do dia-a-dia, e, nesse sentido é incorporado justamente porque modifica toda a fisiologia orgânica, ou ainda conforme Finkler (id.), "é todo o corpo representando ou atuando nas suas difíceis condições de existência". Dessa maneira, o sofrimento da pessoa histérica pode ser expresso por meio de múltiplos sintomas físicos e psíquicos, os quais podem ser experimentados tanto como causa quanto como conseqüência desse sofrimento. Esse confinamento do sofrimento no corpo pode, por fim, funcionar como uma tentativa da pessoa em 20 legitimá-lo como doença buscando ajustar-se ao modelo biomédico, que prioriza no componente físico a origem de todo e qualquer transtorno de saúde (ROZEMBERG, 1994, p.306; SILVEIRA, 2000, p.115). Como consequência, observa-se a ocorrência de uma forma de medicalização do próprio sofrimento psicossocial, isto é, de transformar uma dificuldade real em uma doença que se expressa no corpo (LOW, 1989, p. 40). Diante de eventos estressantes as pessoas mostram diferentes reações, as quais estão relacionadas aos seus recursos internos e externos para resolver a situação. As crises são as manifestações mais conhecidas da histeria, são acessos agudos de agitação. De acordo com Agustín-Ozamiz (1992) citado por Traverso-Yépez e Medeiros (2004, p.93) e Israel (1995, p.34), essas reações podem acontecer em três pródomos ou estágios: a) psíquico ou do transtorno psicológico; b) visceral ou da desordem psiquiátrica; c) neurológicos ou do comportamento psicopatológico. No primeiro, a pessoa histérica apresenta um estado geral de mal-estar com alterações psicofisiológicas, com alterações do comportamento como modificações no humor, irritabilidade, alucinações visuais, auditivas, táteis e, sobretudo, genitais. (ISRAEL, 1995, p.34). No segundo, apresenta alterações geralmente diagnosticadas como neurose ou psicose; consistem no "bolo histérico, anorexia, náuseas, meteorismo, todos acompanhados por poliúria, ptialismo" e aliados a uma debilidade muscular associada a tremores, abalos, contraturas, pequenos acessos epilptóides, "um fragmento do grande ataque" (ISRAËL, 1995, p.34). 21 No terceiro estágio aparecem as paralisias e anestesias; a pessoa histérica se mostra suscetível de tentativas de suicídio e impulsos violentos. Israel (1995, p.40) relata a preocupação dos médicos com a relação dos sintomas permanentes com as crises de histeria. O autor esclarece que as paralisias aparecem frequentemente como uma seqüela das crises, têm numerosos pontos em comum e são difíceis de descrever, pois podem ser encontradas em todas as formas descritas nas síndromes neurológicas, com ou sem contratura, afetando qualquer grupo muscular: ...elas constituem, como todo sintoma histérico, uma representação de um corpo imaginário ao qual faltaria, talvez, uma função com relação ao corpo real, mas (...) também não se trata de um corpo desembaraçado de certas funções ou atividades impostas ao corpo real (ISRAËL, 1995, p.41). Esse corpo permite ler outros sinais, mais evidentes nas anestesias, que também são impossíveis de serem descritas, como registra Israel (1995, p.42): "qualquer parte do corpo, qualquer modo, todos os graus são possíveis...". O mesmo autor relata, ainda, que as anestesias parciais "são perfeitamente limitadas, não em função de um distribuição nervosa", mas em recortes, em locais escolhidos porque representa "um encolhimento do corpo", envolvendo as grandes articulações (pulsos e tornozelos), a cintura e, especialmente, o pescoço, "local de eleição de toda uma série de sintomas histéricos". Essa variabilidade de sintomas, principalmente no que tange à etiologia da histeria, definem o uso de instrumentos terapêuticos muitas vezes invasivos e ineficazes em seu tratamento, pois visam tão somente à suspensão dos sintomas percebidos. Como decorrência dessa situação observa-se o uso indiscriminado de medicamentos, especialmente psicotrópicos, no intuito de alcançar a supressão dos 22 sintomas, pois a conversão do sofrimento psicossocial em uma doença orgânica cria, de imediato, a necessidade de um agente químico capaz de eliminá-la. Ou seja, localizado o sofrimento no corpo, acredita-se no medicamento como única forma de cura, uma vez que este vai agir sobre a parte deste corpo que está doente. Neste contexto, o medicamento tem sido usado para amenizar o sofrimento, bem como para a prevenção do aparecimento dos sintomas e de possíveis crises (ROZEMBERG, 1994, p.306; SILVEIRA, 2000, p. 77). É preciso levar em consideração, contudo, que o medicamento é apenas uma ajuda paliativa para mascarar os reais problemas da pessoa histérica, quase sempre relacionados às suas condições de vida, às suas dificuldades em lidar com os problemas do cotidiano, transformando a necessidade de uma mudança estrutural em um sintoma passível de alívio. Essa posição torna inaudível o dizer da pessoa histérica sobre seu adoecimento, sobre o seu sofrimento. 2.3 A PRIORIDADE FEMININA No estudo da histeria a constatação é evidente: a maioria das pessoas com queixas que remetem à histeria são mulheres, de maneira que se torna de relevante importância considerar as relações de gênero envolvidas, sem deixar de alertar que tal constatação refere-se ao sexo social e não às diferenças biológicas entre os sexos, logo, "o sexo social – portanto, o gênero – é uma das relações estruturantes que situa o indivíduo no mundo e determina, ao longo de sua vida, oportunidades, escolhas, trajetórias, vivências, lugares, interesses” (LAVINAS, 1997, p.16). 23 É a cultura7 das normas sociais diferenciadas que são impostas aos homens e mulheres: desde o nascimento e durante o seu processo de socialização, o menino aprende a ser homem, a menina, a ser mulher, com toda uma carga de comportamentos esperados para o papel que cada um deve cumprir, embora as diferenças biológicas entre eles e elas normalmente funcionam como justificativas sociais e ideológicas para a dominação, o preconceito e a opressão que permeia o universo feminino (HARDEY, 1994, p.33). Assim, cabe a ela, como "papel natural”, cuidar da casa, dos filhos e do marido enquanto a ele cabe trabalhar fora e prover a família. Ao assumir esse papel na família, a mulher tende a prestar uma atenção maior às sensações corporais, a se preocupar com os sinais e sintomas da doença, possivelmente uma das razões pela qual tendem a adoecer mais do que os homens e a procurar com maior freqüência os serviços de saúde (HARDEY, 1994). O foco da socialização dos papéis está no fato de que as diferenças psicossociais entre meninos e meninas são absorvidas praticamente desde o nascimento pela influência continuada dos agentes socializadores, usando expectativas, reforços, disposições, atitudes e comportamentos típicos para cada sexo, definindo o que é ser homem ou ser mulher e o que, como tal, devem esperar, permitir, consentir e/ou excluir (NEGREIROS; FÉRES-CARNEIRO, 2004, p.35). Por isso, falar em histeria masculina parece uma antinomia8, pois a própria raiz da palavra impede seu uso em relação ao homem. Por isso, os homens histéricos estão escondidos, segundo Israel (1995, p.85), "sob uma outra etiqueta 7 8 A cultura é um produto coletivo, uma das condições que diferenciam os seres humanos dos demais seres vivos; nas sociedades de classe seu controle/benefícios não pertencem a todos porque as relações entre seus membros são marcadas pelas desigualdades e sua apropriação comum se faz em função dos interesses que dominam o processo social (SANTOS, 1985, p.85). "conflito entre duas afirmações demonstradas ou refutadas aparentemente com igual rigor" (AURÉLIO, 1994, p.48). 24 diagnóstica": reconhecidos os sintomas de histeria, há que se buscar uma etiologia aceitável para tal diagnóstico, como "uma neurose traumática", isto é, "a constituição de sintomas e de uma personalidade neurótica após um tratamento psíquico". Consequentemente, o maior índice de morbidade entre mulheres também é associado como decorrente da atribuição dos diferentes papéis entre homens e mulheres, da socialização diferenciada, das diferenças na expressão das emoções, do efeito dos maus tratos infantis, das estratégias de enfrentamento diferentes e da sua posição desfavorável no mercado de trabalho. Na literatura pesquisada se pode constata que a sociedade brasileira ainda sofre com os resquícios do modelo patriarcal, no qual as iniqüidades de gênero são comuns, embora se denuncie a falácia da igualdade, contextualizando historicamente a condição de subordinação das mulheres e apontando a discriminação social, política e cultural sofridas (MURARO, 2001, p.121). Contudo, é bom enfatizar a interdependência que existe entre gênero e classe social, considerando que valores, papéis, atribuições e normas de interação entre os sexos dependem muito do contexto sócio-cultural em que os processos de subjetivação acontecem, destacando que o processo de construção e reconstrução das categorias de gênero comporta especificidades segundo a classe social, com a qual relaciona-se de forma complexa, exacerbando ou atenuando aspectos de uma relação que se caracteriza pela desigualdade e hierarquia (PINHEIRO, 2001, p. 47). Cumpre destacar que é nesse sentido, que apesar do exercício ocupacional estar perpassado pela divisão sexual do trabalho, é a classe social que realmente influencia essa divisão e, ainda que as mulheres de classes média e alta estejam ganhando espaços pelo exercício de uma profissão (bem) remunerada, nas 25 camadas populares, quando esse trabalho fora de casa existe, é mal pago e geralmente ocorre em condições precárias (VAITSMAN, 1994, p.7). Mérchan-Hamman e Costa (2000, p.41) reportam que o trabalho doméstico tem sido uma das dimensões que mais contribuem para o adoecer das mulheres, principalmente nas camadas populares, nas quais a depreciação desse tipo de ocupação fica em evidência, visto que, nesse contexto, no qual a maioria das mulheres não tem acesso à educação formal e suas expectativas são restritas, a ocupação remunerada mais próxima de suas realidades é o de empregada doméstica. Assim, continuam os autores, tendem a ser duplamente desvalorizadas: dentro e fora de casa. Alia-se a essa situação o fato de as mulheres (principalmente das classes populares) estarem mais expostas à violência doméstica, desde os diversos tipos de abusos físicos como os abusos emocional, psicológico, social e econômico, contribuindo para a diminuição da auto-estima e da autonomia, favorecendo sentimentos de inadequação e menos-valia, isolamento social e a própria histeria. Essa relação entre o sofrimento e os acontecimentos do cotidiano transforma os acontecimentos banais em acontecimentos de grande significação, agravando o sofrimento psicossocial “crônico”, acarretando o que Finkler (1989, p.81) denomina de "perda do senso de coerência", isto é, uma certa desestruturação interna. As condutas histéricas, relata Israel (1995, p.118), sempre surpreendem e transformam. Será possível observar este processo no estudo do caso descrito na sequência e que faz parte do procedimento metodológico deste estudo. 26 3 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO 3.1 DEFINIÇÃO DA METODOLOGIA Pesquisa de natureza qualitativa que “envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada” (LUDKE;ANDRÉ, 1986, p.13). O estudo de caso permite aprofundar o problema com o objetivo de compreender melhor como e porque determinado evento ocorre nesses contextos (YIN, 1994, p.112). Em psicanálise, o estudo de caso está intimamente ligado à experiência clínica, primeiro, com o atendimento clínico e, em seguida, com a construção do sentido daquilo que ocorrera na clínica do caso, de modo que a teoria psicanalítica vai se construindo seguindo o caminho do pathos dos pacientes. (GUIMARÃES; BENTO, 2008, p.92). Os instrumentos utilizado na coleta de dados são a entrevista, a observação e a interação no contato individual com a pessoa que constitui o estudo de caso, na Clínica de Psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná. A entrevista permite “saber do entrevistado sua opinião, explorar suas atividades e motivações, [permitindo à pessoa entrevistada] discorrer livremente, nas suas próprias palavras, em relação a temas que o analisando coloca para iniciar a interação”, explica Richardson (1999, p. 209). Os dados obtidos no referencial teórico, fundamentados nos escritos de Freud, Lacan e outros teóricos, permitiram a análise das interações da paciente e a 27 comparação qualitativa dos sintomas observados com os relatos das entrevistas e a observação da estagiária de psicologia. A observação, “é o meio mais direto de estudar uma ampla variedade de fenômenos”, assegura Richardson (1999, p.263). Já, para Ludke e André (1986, p.26) “a observação é o contato direto e um contato direto do pesquisador com o fenômeno é, sem dúvida, o melhor teste de verificação e comprovação de um determinado fenômeno”. 3.2 DESCRIÇÃO DO ESTUDO DE CASO H., sexo feminino, 42 anos, segundo grau incompleto, relata como queixa principal a dificuldade familiar: tem um filho de 13 anos com paralisia, cerebral, separada com uma filha adolescente, comentou sobre uma fobia social o quanto não se sente bem quando se depara com o público, fica nervosa, também mencionou de uma paralisia no braço direito que não pode trabalhar e que iria fazer uma cirurgia, para rapar os nervos do braço.Mencionou no final da sessão que gostaria de ter mais liberdade na vida fazer suas coisas até namorar um pouco. Na primeira entrevista assume a condição de fazer uma análise pela transferência. Primeira sessão: 16 de abril de 2007 H. falou que já teve problema no estomago e que fez endoscopia, sofreu desmaios e tem seis calcificações no cérebro, sofre de enxaqueca e vem fazendo tratamento para aliviar as dores com um psiquiatra. Acha-se estressada e começou com uma paralisia no braço direito e depois no esquerdo, (o braço imobilizado por uma faixa) acredita que foi desde que J. baixou hospital com uma parada respiratória. Para Julien (1997, p.61), ”só a memória do trauma, partilhada na 28 palavra, permite, ao levantar o segredo, engendrar um novo futuro". Aquele que sofre, ao dizer do seu sofrimento, abandona a sua posição de inocência e se depara com um saber que não sabia e com um novo desejo de saber. É preciso um ato analítico que o questione sobre aquilo de que ele queixa, para que entre em análise. Segunda sessão: H. chegou comentando como ela teve uma semana difícil, pois o seu filho J. fez uma luxação no pé esquerdo e, ficou uma semana em casa. E — “Onde ele costuma ficar?” H — “Ele fica brincando, e não quer saber de nada". E —"O que ele quer te dizer se comportando dessa maneira?” H —“Mais liberdade”. E —“E você quando veio aqui pela primeira vez me disse que queria o que?” H —"Mais liberdade”. E —"E o que é liberdade?" H—“Poder fazer as coisas, mas, eu não consigo, estou tendo muita dificuldade na escola, quando leio um texto não entendo nada, às vezes parece que não consigo ouvir direito, não entendo. Já fui fazer exame do ouvido foi retirada cera, e o médico me disse que tenho o canal fininho, mas não pode ser isso”. E —"O que você acha que pode ser?” H—"Não sei. Eu às vezes sou muito direta, tenho certeza que fico prejudicada“ E —"Como assim?“ 29 H —"Eu estou aprendendo pintar pano de prato, a professora me perguntou o que você acha dessa folha, eu disse estão boas, mas não estavam boas. Eu tenho medo de desagradar às pessoas, não consigo falar o que realmente sinto“. E —” É difícil falar a verdade!” H—“É, podia dizer que não estava gostando, que queria melhorar a folha, mas não falei". E —"Quando você não fala o que sente, a quem você desagrada?" H —"Eu mesma, há!, há! Nunca havia pensado assim. Para Foucault (2001, p.101), o sintoma — daí seu lugar de destaque — é a forma como se apresenta a doença: "de tudo que é visível, ele é o que está mais próximo do essencial; e da inacessível natureza da doença, ele é a transcrição essencial". Ou seja, é o sintoma que fala a verdade do sujeito. É o sintoma que faz sofrer, é o sintoma que faz com as coisas não funcionem. Sétima sessão: H. chega e continua com o braço imobilizado e disse estar tranqüila, mas que quer falar sobre o ex-marido que nunca foi um pai igual para os dois filhos. E—"Como poderia sê-lo se os filhos são diferentes, nasceram em época diferente e são de sexos diferentes?" H —"É mesmo! Eu nunca pensei assim". E —"Assim como?" H—"Que os filhos são diferentes". Depois exclamou: — “Mas foi um casamento difícil! E como é difícil achar uma pessoa certa! Por isso hoje penso muito, mas não digo que gosto de dar uma saidinha de vez enquanto, conhecer uma 30 pessoa nova, mas morar junto, não! A pessoa certa é aquela que possibilita vivermos o encontro! São aqueles momentos da saidinha". Ela sorri! Para Nasio (2003, p.91), é o sentimento intimo de ser uma pessoa que é ferido, logo, esse ferimento profundo desencadeia a reação fulminante da raiva. Assim, continua o autor, é possível definir o ódio impulsivo como reação instintiva do eu, um reflexo desesperado para fazer um curativo na própria imagem ferida, de acalmar a dor da afronta veste o ser esse ódio um concentrado de violência contra aquele que humilhou, e, ao humilhar, desestabiliza a base da identidade da pessoa visada. Portanto, reitera Nasio (2003, p92), "odiar o outro é o derradeiro sobressalto para consertar a imagem de si mortificada”. Décima primeira sessão: H. sempre estava no horário marcado para ser atendida, esperava abrir a porta e sorria esperando o convite para entrar na sala e também para deitar no divã. Faço uma observação sobre seu braço imobilizado e H. responde contando que o pai brigava muito com a mãe, a cada gravidez ele queria um menino, mas quando nascia era menina, ele voltava do hospital e não falava mais com a mãe, porque achava que ela era culpada por não fazer um menino. H. conta que foram seis filhas e na ultima, a mãe chegou a mentir dizendo que era um menino, mas logo ele descobriu e foi à mesma historia. E — “Por que você acha que aconteceu isso?” H.—“Puro egoísmo da parte dele. Meu pai levava algum tempo para gostar da criança que nascia, depois conversava, brincava com ela e não batia, só me bateu uma vez, que me deu uma surra danada, me colocou no chão, colocou o pé nas costas e me bateu com uma cinta. Eu não chorava, ele ficava turrão comigo, batia, batia e eu não chorava”. 31 E — “Sabe por que você não chorava?” H. —“É como se eu fosse mais forte. Ele agarrava no meu cabelo e dizia ‘agora você vai fazer o que eu quero’, eu respondia 'não vou'. A minha mãe tinha que entrar no meio. Só depois quando estava no quarto que eu chorava muito, mas não na frente dele”. E —“Chorar para você significa o que?”. H. —"Chorar para mim é símbolo de fraqueza, eu queria mostrar para ele que não era fraca”. E —“Por que você tinha essa necessidade de mostrar a sua força?”. H.— “Eu o culpava”. E —“O culpava de que?”. H.—“Nós vivíamos escondendo, não podíamos contar para ninguém o que nós vivíamos dentro de casa porque era muito pessoal”. Freud descobriu, antes de qualquer coisa, a existência de um vínculo simbólico entre o sintoma e sua causa, isto é, um traumatismo de ordem psíquica. Que esse traumatismo psíquico, causa da histeria, é uma experiência sexual prematura que surpreendeu o sujeito. De fato, esta não foi desejada, mas sofrida em decorrência de uma intervenção sedutora de um adulto (na maioria das vezes, o pai) junto à criança. A pessoa histérica ama o pai pelo que ele não dá, buscando, dessa maneira, encontrar o espaço que lhe cabe junto dele, assumindo a vocação de ampará-lo em sua incapacidade assinalada, marcada, e por isso, supostamente sabida. A posição da pessoa histérica é a de relação sexual, ou seja, para a pessoa histérica “não passa de impotência provisória proveniente desse pai” (FREUD, 1973, p.41). 32 H.—“Eu também quando ficava sozinha tinha medo do meu pai. Será que estou pecando? Mas a minha mãe alertava: 'tomem cuidado!'. Dentro de casa onde deveria ser um lugar seguro, lá era o lugar que nós mais não podíamos confiar. O jeito de ele olhar dava medo, certa vez ele passou a mão no meu seio e eu reagi, dizendo que iria quebrar tudo. Meu pai disse: ‘você é muito briguenta’. Certa vez eu escutei o irmão do meu pai dizendo que ele não criava as filhas para o mundo, mas para ele. A nossa família não tem estrutura, todos nós tivemos problemas com traição e maus tratos”. E —“Você me disse que tem dificuldade para manter um companheiro?” H. —“Sim, o meu filho não fala, por isso não pode me contar o que acontece e eu tenho uma filha moça, já pensou? Não vou mais dormir tranqüila". E —“Como assim?” H. —“De viver em insegurança em casa". Para Finkler (1989, p.72), “é todo o corpo representado ou atuando nas suas difíceis condições de existência”. È um sofrimento que se manifesta no corpo porque é nele que se depositam as frustrações, os conflitos e os percalços do dia-a-dia, e modifica a fisiologia orgânica. Décima segunda sessão: H.chegou com a mão direita imobilizada e comentou que o nervo está lesionado e quando força sente imediatamente e única maneira de conter a dor é imobilizando. Mencionou que começou com 16 anos e que depois que teve o filho J. o problema piorou e os médicos falam que é uma tendinite que já afetou a coluna. Não tem como trabalhar e por isso está procurando se aposentar, pois já trabalhou como confeiteira e também lixava móveis. 33 H. ao comentar a sua vida usou a palavra imobilizada. A estagiária repetiu a palavra e disse: —"Você se encontra imobilizada!" H. respondeu: —"Sim, e eu preciso arrumar alguma coisa para trabalhar. Gosto de fazer as coisas em casa, eu ajudei o ex-marido construir a nossa casa. Não gosto do lugar porque é nos fundos da casa do meu ex-sogro. Ali, eu não posso fazer nada no quintal ou usar a garagem dele, nem plantar ou pegar nada da horta. A lei do quintal é do meu sogro ele planta, mas ninguém pode mexer. Eu odeio isso!" E —“Você está imobilizada fora de casa e também dentro de casa com a tendinite?”. H.—“É mesmo! Não havia pensado assim”. E —“Não havia pensado em que?” H. —“Como eu estou imobilizada!” Como diz Julien (1997, p.61), a pessoa que sofre, ao narrar seu sofrimento, deixa de lado sua inocência “e se depara com um saber que sabia e com um novo saber”. Décima terceira sessão: H. chegou com o braço sem a faixa. Disse que o braço está parando de doer, que não precisa usar a faixa e está conseguindo movimentar a mão. Para Israel (1995, p.30), os sintomas são uma mensagem emanada do inconsciente, a expressão que se manifesta multiplicada em suas formas e manifestações. “Duas razões, então, para que façamos o esforço de evocar o passado, em cada cura: para reinventar o sentido de uma história e para amenizar o peso do futuro, devolvendo assim, quem sabe, seu justo lugar ao presente de nossas vidas” (CALLIGARIS, 2004, p.138). 34 Enfim, uma análise deve ser sustentada pelo desejo analítico, em que o analista faz semblante à de objeto causa de desejo para o sujeito e assim conduzi-lo a uma satisfação possível, o gozo capaz de ocupar, um lugar de desejante. Menos gozo e mais desejo. Certamente, lhe cobrará mais trabalho e menos lamentações. Como predisse Freud (1973), tornará possível substituir sua miséria histérica por um sofrimento comum. 35 4 CONCLUSÃO O objetivo que se propôs para a realização desta monografia foi investigar e compreender os significados atribuídos pela pessoa em consulta à sua queixa e apontar os sintomas como possível especificidade para o diagnóstico de histeria. Para tanto, no segundo capítulo procurou-se descrever a histeria em seus vários aspectos, o sofrimento que vem incorporado à histeria e a prioridade feminina: histeria e feminilidade são uma única coisa, como postula a própria etimologia (derivadas de hystéris = útero) ou como quer Lacan, existe uma fronteira bem demarcada entre uma e outra. Há uma distinção muito categórica entre a maneira feminina e a maneira histérica, ainda que elas possam combinar. Este breve estudo permitiu entender o que é a histeria frente ao gozo. Ela se mantém por essa vontade de deixar o gozo insatisfeito. Esta insatisfação é que define, de maneira precisa, a posição histérica. Por outro lado, sua porção mulher é outra: ela quer gozar. Também conhecer sobre o sofrimento incorporado à histeria e o desenvolvimento histórico e cultural da prioridade da mulher apresentar o quadro de histeria, embora também os homens o possam apresentar, disfarçado sobre o apanágio de "trauma psicológico", permitiu entender a importância dos cuidados que o profissional da saúde deve ter ao atender uma pessoa histérica. Desde o momento em que todos os sintomas possam ser remetidos à mesma origem, os problemas colocados pela histérica não mais são de ordem diagnóstica, mas sim ponto de partida para uma reflexão que pode se útil tanto ao médico quanto ao psicanalista. No terceiro capítulo descreveu-se a entrevista com uma mulher de 45 anos cuja queixa principal era uma fobia social e dificuldades familiares, e sua fala foi transcrita e lida, permitindo a apreensão dos significados relativos à histeria, 36 permitindo entender que os sintomas, as explicações atribuídas ao problema, as formas de lidar e a evolução do discurso favorecem o entendimento do seu quadro clínico. Desta maneira, o estudo de caso aqui apresentado ratifica as considerações da histeria como um problema complexo, com um sofrimento significativo para a pessoa queixosa em um contexto de profundas limitações sócio-estruturais. Tanto a diversidade dos sintomas como a forma deles se manifestarem corporalmente corroboram a idéia de um problema que precisa ser, primeiro, compreendido, pois as queixas não podem ser consideradas apenas como um problema físico ou mental. É necessário repensar esse posicionamento, pois rejeitado o conceito de histeria e substituído por nova classificação diagnóstica de transtornos dissociativos ou transtornos da personalidade, entre outras possibilidades, põe em risco os ensinamentos da psicanálise, passando a receber apenas atenção medicamentosa direcionada aos sintomas declarados. No caso da pessoa deste estudo, com um histórico de diferentes queixas, tendo a oportunidade de conhecer o seu problema de maneira organizada de modo a poder refletir sobre o quanto suas preocupações podem se converter em sofrimento físico, ela poderá vir a ter algum controle sobre isto buscando estratégias de enfrentamento mais eficazes. Daí a importância vital do diagnóstico de histeria. Em vista do exposto, entende-se que o sentido e sua compreensão são construídos socialmente pelas pessoas na conversação, no uso da linguagem umas com as outras, de forma que as ações humanas têm lugar em uma realidade de entendimento criada por meio da construção social e do diálogo, conferindo sentido e organização à experiência de cada pessoa. 37 Daí a importância do papel do psicanalista, sobretudo no que se refere à sua permanente interdependência da dimensão orgânica e dos contextos sociais, culturais e econômicos à qual se adiciona o processo saúde-doença como um fenômeno social e histórico. Em vista disto, a pessoa histérica deve merecer uma forma de tratamento capaz de acolhê-la, deixando-a contar o que tem para dizer, pois, como diz a teoria freudiana, a conversão histérica revela que o sintoma é o tecido da linguagem e o corpo, utilizado pelo sintoma, é conduzido para uma papel ao qual não foi destinado, ou seja, a origem traumatizante da queixa vai deixar sua marca no corpo histérico usando uma representação simbólica recalcada. Conclui-se, após este breve relato, visto não ser o propósito maior do estudo esgotar a literatura a respeito, que a possibilidade de narrar suas apreensões e percepções permitem ao psicanalista apreender um sofrimento que pode evoluir para transtornos mais graves, existindo inclusive a possibilidade de que as crises de histeria possam gerar surtos psicóticos mais sérios. A precisão do diagnóstico evitará o tratamento universalista e classificatório oferecido à pessoa histérica. Deixá-la falar ensina que na escuta do sintoma histérico está a base para um resultado final positivo na evolução do seu tratamento. 38 REFERÊNCIAS AURÉLIO Buarque de Holanda Ferreira. Dicionário Aurélio básico da língua portuguesa. São Paulo: Nova Fronteira, 1995. BIBLIOMED. Histeria. (2001). Disponível em: <http://boasaude.uol.com.br/lib/Show Doc.cfm?LibDocID=5120&ReturnCatID=1712>. Acesso em: 5 jan.2009. BURSZTYN, Daniela Costa. O tratamento da histeria nas instituições psiquiátricas: um desafio para a psicanálise. Estudos e Pesquisas em Psicologia, Rio de Janeiro, UERJ, a. 8, n.1, p. 126-135, 1° sem./2008. CALLIGARIS, Contardo. Cartas a um jovem terapeuta: o que é importante para ter sucesso profissional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. COSTA, J.F. Consciência da doença como consciência do sintoma: a doença dos nervos e a identidade psicológica. Cadernos do IMS. v.1, n.1, p. 4-44, 1987. DORETTO, D. Fisiopatologia clínica do sistema nervoso: fundamentos da semiologia. 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