ARTETERAPIA NO CAPS: UMA NOVA FORMA DE CUIDAR GISELE APARECIDA MEZABARBA MENDONÇA 1 Orientadora: Profª Esp. Rosane Maria Souza dos Santos 2 Trabalho apresentado para a conclusão do curso de Pós-Graduação em Atenção Psicossocial na Saúde Mental: ênfase em dependência química da Faculdade de Filosofia, Ciências e letras de Alegre – FAFIA em março/2013. RESUMO A arteterapia proporciona ao indivíduo com transtorno mental, inúmeras oportunidades, como a liberdade de expressão, sustentação da sua autonomia criativa, ampliação do seu conhecimento sobre o mundo adequando seu desenvolvimento emocional e social. Baseando-se nos argumentos supracitados, objetivou-se, com este trabalho, relatar o adentrar da arteterapia no Brasil, contextualizando sua entrada com o surgimento dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), dentro de uma perspectiva de desinstitucionalização da loucura, que remonta à reforma psiquiátrica. Para tanto, foi realizada uma revisão bibliográfica acerca do tema, apontando as principais contribuições na literatura sobre o referido assunto. Verificou-se que a utilização da arteterapia nos CAPS vem ganhando espaço e torna-se uma ferramenta de fundamental importância no tratamento dos usuários do programa. Palavras-chave: Saúde mental. Terapia pela arte. Reforma psiquiátrica. INTRODUÇÃO 1 Pós-graduanda em Saúde Mental com ênfase em dependência química pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre. E-mail: [email protected] 2 Coordenadora do Curso de pós-graduação em Saúde Mental com ênfase em dependência química, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre. Email:[email protected] 1 Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), segundo Rabelo (2006), são considerados locais de atendimento em níveis de alta complexidade em saúde mental e objetivam reduzir a gravidade do transtorno mental, visando estabelecer um programa de reabilitação psicossocial, com a possibilidade de acolhimento, cuidado, construção de vínculos, bem como proporcionar maior grau de sociabilidade ao sujeito em sofrimento psíquico. As equipes são constituídas por uma gama de profissionais, formando um grupo multiprofissional que avalia o quadro do usuário. Dessa forma, Rabelo (2006) aponta que as ações realizadas nos CAPS visam à potencialização e valorização de formas de livre criação dos usuários, melhora da autoestima, desenvolvimento do equilíbrio emocional e minimização dos efeitos negativos da doença mental. Além do tratamento medicamentoso e psicológico, o CAPS conta ainda com o auxílio de oficinas, tais como as oficinas de arteterapia, que vem se firmando como uma terapia de promoção, preservação e recuperação da saúde, pois, de acordo com Ciornai (2004), permite ao usuário a liberdade de expressão, a autonomia criativa, proporcionando seu desenvolvimento emocional e social. De acordo com Philippini(2004) a arteterapia consiste em um dispositivo terapêutico que reúne conhecimentos de diversas áreas, constituindo-se como uma prática transdisciplinar, propondo resgatar o homem em sua totalidade por meio de métodos de autoconhecimento e transformação. Para compreendermos a inserção da arteterapia e o contexto de criação dos CAPS no Brasil, segue uma breve revisão histórica da Reforma Psiquiátrica, para ilustrar, sucintamente, a história da luta pela saúde mental e seus incrementos. Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica acerca do tema, buscando referenciais teóricos que façam a correlação entre a utilização da arteterapia e a forma de trabalho no CAPS. Com isso, objetiva-se verificar os resultados dessa prática e seus desdobramentos. A REFORMA PSIQUIÁTRICA E O SURGIMENTO DO CAPS 2 É oportuno nesse tópico, um breve resumo da reforma psiquiátrica e o contexto no qual surge o primeiro CAPS no Brasil. As expressões “reforma” e “psiquiatria” andam juntas desde o nascimento da própria psiquiatria, quando os líderes da revolução francesa incumbiram a Pinel a tarefa de humanizar e dar um sentido terapêutico aos hospitais gerais, onde os alienados encontravam-se recolhidos ao lado dos marginalizados da sociedade (AMARANTE, 1995). Delgado (1992) aponta que as iniciativas reformadoras prosseguiram ao longo do século XIX objetivando oferecer orientação científica aos estabelecimentos especializados. No Brasil, nos anos de 60 e 70, com a consolidação da estrutura manicomial do Estado na Era Vargas, teve-se um desafio reformista, dando início ao movimento da psiquiatria comunitária. Ainda de acordo com o supracitado autor, a expressão reforma psiquiátrica passa então a exigir uma qualificação precisa, dando início no Brasil da restauração democrática, um movimento voltado à cidadania de sujeitos obrigatoriamente tutelados. A reforma psiquiátrica brasileira é recente, com pouco mais de trinta anos, como relata Vasconcelos (1992) e tem como marca característica e basilar a luta pela cidadania do louco, ainda que trazendo exigências políticas, administrativas, técnicas e teóricas bastante novas, a reforma insiste num argumento originário: os direitos do doente mental e sua cidadania. Ainda de acordo com Vasconcelos (1992), foi a partir do reclame da cidadania do louco que surge o atual movimento da reforma psiquiátrica brasileira desdobrandose em um amplo e diversificado escopo de práticas e saberes. A reforma é principalmente um campo heterogêneo, que abrange a clínica, a política, o social, o cultural e as relações com o jurídico, e é obra de atores muito diferentes entre si. Ainda assim, a reforma não pode se furtar a enfrentar o problema das práticas de cuidado dirigidas aos loucos. Na década de 1970, como relata Delgado (1992), em meio ao combate ao Estado autoritário, surgem as denúncias de fraude no sistema de financiamento dos serviços e, ainda mais grave, as denúncias do abandono, da violência e dos maustratos a que eram submetidos os pacientes internados nos hospícios do país. Não se censuravam as pressuposições do hospital psiquiátrico e da psiquiatria, mas seus excessos ou desvios. 3 Combinando reivindicações trabalhistas e um discurso humanitário, em 1978 é criado o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), que conseguiu grande repercussão e, nos anos seguintes, comandou os acontecimentos que fizeram progredir a luta até seu caráter decididamente antimanicomial (AMARANTE, 1995). Marcada pela chegada dos protagonistas e do programa do movimento sanitário, a década de 1980 é assinalada por uma gestão de serviços e políticas públicas. Amarante (1995) aponta que esse movimento sanitário se confunde com o próprio Estado e, assim, as ações ganhavam um crio institucionalizante, no sentido de apostarem no aperfeiçoamento tanto da instituição psiquiátrica quanto da gestão pública. De acordo com Leal (2000), as ações palpáveis não resultaram em mudança expressiva, ainda que no plano das formulações oficiais, tenha se diagnosticado com acuidade a prevalência nociva do modelo asilar. Basicamente, as iniciativas foram a racionalização, humanização e moralização do asilo, com a criação de ambulatórios, visando uma alternativa à internação. Todavia, segundo Delgado (1992), a concepção de ambulatórios não apresentou contribuição significativa para a qualidade do atendimento aos pacientes. O Movimento pela Reforma Psiquiátrica Brasileira teve como ponto de virada dois eventos de grande importância no ano de 1987, a I Conferência Nacional de Saúde Mental e o II Encontro Nacional dos Trabalhadores em Saúde Mental. Bezerra (1994) relata que a realização desse encontro foi decidida durante a I Conferência, pela verificação de que a expectativa sanitarista de agrupar as propostas reformistas nas políticas oficiais vinha sendo anulada pela obstinação passiva ou ativa da iniciativa privada, da estrutura manicomial, da burocracia estatal e do conservadorismo psiquiátrico. A I Conferência simboliza, portanto, o início da direção de desconstruir no cotidiano das instituições e da sociedade as formas enraizadas de lidar com a loucura. É a chamada desinstitucionalização. Assim, é instituído o dia 18 de maio como Dia Nacional da Luta Antimanicomial, visando a potencializar o poder de aglutinação de maiores parcelas da sociedade em torno da causa. Não se trata de aprimorar as estruturas tradicionais (ambulatório e hospital de internação), mas de arquitetar novos dispositivos e novas tecnologias de cuidado, substituir uma 4 psiquiatria centrada no hospital por uma psiquiatria sustentada em dispositivos diversificados, abertos e de natureza comunitária. Vasconcelos (1992) descreve que em 1989 o deputado Paulo Delgado apresentou o projeto de lei nº 3.657/89, mais conhecido como a Lei da Reforma Psiquiátrica, que consistia em um projeto simples, com três artigos de conteúdo: o primeiro impedia a construção ou contratação de novos hospitais psiquiátricos pelo poder público; o segundo previa o direcionamento dos recursos públicos para a criação de recursos não-manicomiais de atendimento; e o terceiro obrigava a comunicação das internações compulsórias à autoridade judiciária, que deveria então emitir parecer sobre a legalidade da internação. A década de 1980 foi palco ainda do surgimento de experiências institucionais bem sucedidas de um novo tipo de cuidados em saúde mental. Ao menos duas delas são consideradas marcos inaugurais de uma nova prática de cuidados no Brasil: o Centro de Atenção Psicossocial Professor Luiz da Rocha Cerqueira, em São Paulo; e a intervenção na Casa de Saúde Anchieta, realizada pela administração municipal de Santos/SP, iniciando o processo que se constituiria no complexo e exemplar Programa de Saúde Mental daquela cidade. O CAPS Luiz Cerqueira e os CAPS que nele se guiaram, de acordo com Goldberg (1994), partem da verificação de que a especificidade clínica da clientela-alvo, sobretudo no que diz respeito às dificuldades de vida gerada pela doença e às possibilidades de expressão subjetiva do psicótico grave, demanda muito mais do que uma consulta ambulatorial mensal ou mesmo semanal. Assim, os CAPS motivam-se na ideia de que o tratamento dos pacientes psiquiátricos graves exige condições terapêuticas que inexistem nos ambulatórios e hospitais psiquiátricos. Ainda de acordo com Goldberg (1994), o atendimento-dia, que proporciona ao paciente o comparecimento todos os dias da semana se necessário, articula-se a outras particularidades, como a oferta de atividades terapêuticas variadas e a constituição de uma equipe multiprofissional. Busca-se ofertar ao paciente a maior heterogeneidade possível, tanto no que diz respeito às pessoas com quem que ele possa se relacionar, quanto no que diz respeito às atividades em que possa se engajar. 5 Dessa forma, percebemos que a oficina de arteterapia se encaixa nesse contexto, e veremos adiante como se deu essa inserção. HISTÓRIA DA ARTETERAPIA A partir da Reforma Psiquiátrica, notam-se mudanças relacionadas ao tratamento das doenças mentais, surgindo uma nova concepção de cuidado com tais doentes, visando uma melhor qualidade de vida para tais pessoas, bem como a sua retirada do ambiente manicomial, proporcionando sua reinserção na sociedade. Rissato et al (2008), aponta que nesse contexto extra-hospitalar, a arte passa a ter um papel de grande importância, possibilitando a reabilitação e inclusão sóciofamiliar dos doentes mentais, priorizando o tratamento do indivíduo como um todo. Cabe ressaltar que, segundo Ciornai (2004), o uso terapêutico das artes remonta às civilizações mais antigas. Contudo, só em meados do século XX a Arteterapia se apresentou com um corpo próprio de conhecimento e atuação, determinada pela crise da modernidade, em meio às mudanças que marcaram essa época. Tommasi (2005) destaca que a arte sempre esteve vinculada à existência humana, como meio de diálogo, interação social, registro histórico, desenvolvimento da estética, do belo e harmônico. A importância da arte, sobretudo do desenho e da pintura, incide na relação do homem com o mundo, e de como os estímulos externos agem no imaginário humano. De acordo com Ciornai (2004), Margareth Naumburg – artista plástica, educadora e psicóloga americana – foi quem primeiro interessou‐se pelo elo entre o trabalho desenvolvido na sua escola, onde utilizava‐se o método Montessori e o campo da psiquiatria e da psicoterapia. Naumburg, apesar de não ter sido a primeira a empregar o termo arteterapia, ficou conhecida como “mãe” da técnica por ter sido a primeira a diferenciá‐la claramente como um campo específico, estabelecendo os fundamentos teóricos sólidos para seu desenvolvimento. A referida autora afirma ainda que em suas palestras, livros e doutrinas, Naumburg sempre deixou clara sua crença na seriedade da atividade criativa e expressiva para o desenvolvimento pleno de cada ser humano e de cada comunidade social. Muitos 6 foram seus seguidores, culminando na fundação da Associação Americana de Arteterapia (AATA) em 1969. De acordo com Achterberg (2000), na década de 1980, a arteterapia chega ao Brasil por Selma Ciornai, psicoterapeuta gestáltica com formação em Arteterapia em Israel e nos Estados Unidos, que a apresentou a São Paulo, criando o primeiro curso de Arteterapia do país, no Instituto Sedes Sapientiae. A Associação Brasileira de Arteterapia (2009) define essa técnica como um estilo de trabalhar empregando a linguagem artística como alicerce da comunicação clienteprofissional. Seu cerne seria a criação estética e a elaboração artística a favor da saúde. De acordo com Ferraz (1988), dois psiquiatras se destacaram por suas contribuições na fundamentação teórica da arteterapia no Brasil: Osório César, em 1923, e Nise da Silveira, em 1946. Osório César trabalhou com arte no hospital do Juquery, em São Paulo, sob a influência da Psicanálise. Tommasi (2005) destaca que Osório Cesar trabalhou por 40 anos no Complexo Hospitalar de Juquery. Em seu artigo intitulado “A arte primitiva dos alienados” (1925), apresentou informações sobre a arte dos doentes mentais. Osório Cesar adquiriu grande conhecimento por meio da observação, sem caráter científico, dos pacientes trabalhando de forma espontânea. Averiguou que o material produzido tinha natureza própria, com deformações e distorções figurativas, de caráter simbólico. A produção artística dos pacientes incitou Osório Cesar a fundar a Escola Livre de Artes na década de 50, que tinha como desígnio expor habilidades plásticas e musicais. A Escola Livre de Artes funcionou por 20 anos. Durante este período foram realizadas várias exposições, que acenderam polêmicas em torno dessa nova técnica terapêutica. Em 2001, segundo Tommasi (2005), movida pela pesquisa de doutorado, Sonia Maria Bufarah Tommasi ofereceu à Dra. Maria Tereza Gianerini Freire, diretora do complexo Hospitalar de Juquery, uma proposta de montar um ateliê de arteterapia, para atender pacientes graves. O material produzido no ateliê, em 2 anos de trabalho, foi analisado por Sonia Maria que verificou que a participação dos pacientes nas oficinas do ateliê lhes proporcionou que expressassem conteúdos de intensa relação com as experiências pessoais de vida de cada um. Assim, a 7 pesquisa comprovou a hipótese de que as afinidades entre saúde mental e arte podem cooperar para a melhoria dos serviços de saúde e para o incremento de tratamento mais humano aos doentes mentais. Outra figura que se destacou por sua contribuição no desenvolvimento da arteterapia no Brasil foi Nise da Silveira. Segundo Silveira (1981), ela desenvolveu um trabalho no Centro Psiquiátrico Dom Pedro II, no Rio de Janeiro sob a influência junguiana, procurando compreender as imagens produzidas pelos pacientes. Tommasi (2005) destaca que Dra. Nise era inteiramente contra os métodos de tratamento exercidos na época, tais como eletro choque e lobotomia, fator este, decisivo para sua luta em favor dos pacientes, possibilitando outras formas de tratamento. Dra. Nise percebeu na linguagem não verbal instigada por intervenção das expressões artísticas como desenho, pintura, modelagem e dança, a possibilidade para penetrar no mundo psíquico dos pacientes. Os pacientes, no ateliê, podiam expressar conteúdos internos, afirmando a si e aos outros, que mesmo estando internamente desorganizados, apresentavam aspectos conservados e intactos em sua estrutura psíquica. De acordo com Silveira (1981), em 1952 foi criado o Museu do Inconsciente, na cidade do Rio de Janeiro, por Dra. Nise, que reuniu trabalhos realizados pelos pacientes do Centro Psiquiátrico Dom Pedro II. O Museu do Inconsciente é considerado um acervo de grande estima nacional e internacional. Em 1981, de acordo com Tommasi (2005), Dra. Nise escreveu o livro “Imagens do Inconsciente”, expondo sua metodologia de trabalho, a sua análise, o respeito e cuidado com o ser humano, reconhecendo que a doença e o doente mental estão arraigados no contexto social, cultural e econômico. Assim, percebemos a importância da utilização da arte como forma de expressão para doentes mentais, uma vez que possibilita ao indivíduo a manifestação de sentimentos inconscientes, bem como a organização de tais sentimentos que podem ser expressos por desenhos, pintura, modelagem, entre outras formas de aplicação de materiais em oficinas e ateliês de arteterapia. É dentro dessa perspectiva que os CAPS vêm desenvolvendo um trabalho articulado à arte na saúde mental, propondo-se a viabilizar e dinamizar os processos em grupos terapêuticos, empregando as variadas expressões artísticas, sendo 8 executado por artistas, arteterapeutas, arte-educadores e profissionais de saúde mental com formação em arteterapia. Dessa forma, a arteterapia é inserida no CAPS como forma de tratamento. Há várias formas de conceituá-la, mas para Philippini (2004), trata-se de um método terapêutico que se utiliza de modalidades expressivas distintas, que servem a materialização de símbolos. Essas criações simbólicas representam níveis profundos e inconscientes da psique, possibilitando o confronto, no nível da consciência, destas informações, propiciando “insights3” e posterior transformação e expansão da estrutura psíquica. Em outras palavras, trata-se de terapia através da Arte. Segundo Carvalho (2001), a arteterapia é um meio de estimulação à expressão artística, proporcionando que os pacientes possam se auto-observar, gerando reflexões sobre o desenvolvimento pessoal, aptidões, preocupações e conflitos. Para Gehringer (2005) não se trata apenas da junção da arte com a psicologia, mas de uma abordagem fundamentada num corpo teórico e metodológico próprios, envolvendo conhecimentos em história da arte e dos pioneiros e contemporâneos de maior proeminência na arteterapia; dos processos psicológicos gerados tanto no decorrer da atividade artística como na observação dos trabalhos de arte; das relações entre processos criativos, terapêuticos e de cura e das propriedades terapêuticas dos diferentes materiais e técnicas. O trabalho em Arteterapia pode ser desenvolvido individualmente ou com um grupo de pessoas. Para Tommasi (2005) a tarefa do arteterapeuta incide em estimular e auxiliar o paciente e/ou grupo a empregar técnicas expressivas, podendo ser verbais ou não-verbais, por interferência do corpo, ou ainda, com materiais expressivos tais como lápis coloridos, papel de variados tipos, tintas de várias cores, tela, massa de modelar, argila. Todo o processo tem grande importância, desde a escolha do material até o produto final. O resultado não habita na beleza do trabalho e sim no 3 De acordo com o Dicionário de Psicologia, Mesquita & Duarte (1996), insight ou intuição é um termo criado por W. Kõhler em A Mentalidade dos Macacos, para designar a solução súbita de um problema, em contraste com a aprendizagem por tentativa e erro. Atualmente a utilização deste termo refere-se à possibilidade de se estabelecerem novas relações ou conexões para encontrar uma ideia ou compreender um problema. 9 processo como um todo. O paciente, ao desenhar, escrever e pintar, utiliza desses recursos para travar um diálogo que o conduzirá ao autoconhecimento. A arte está presente nos diversos CAPS do país, com a criação de grupos de arteterapia e de acordo com diversos estudos (COQUEIRO, 2010; SILVA, 2011; MARANHÃO, 2010) vêm apresentando excelentes resultados quanto à promoção do ser humano como um todo, o que inclui aspectos psíquicos e sociais, respeitando as suas individualidades e os ajudando a restabelecer relações. O eixo central é a influência mútua organismo-meio e essa interação acontece por meio de dois processos concomitantes: a organização interna e a adaptação ao meio. O processo de criação provoca essa reorganização interna de sentimentos e pensamentos e a partir desse ponto é possível estabelecer uma linguagem com o externo, a realidade. Dessa forma, notamos a aplicabilidade da arteterapia no contexto do CAPS, bem como a sua relevante contribuição para a melhora do quadro dos usuários, uma vez que proporciona um desenvolvimento no autoconhecimento e enriquecimento na expressão de sentimentos e emoções que podem contribuir com a saúde mental do paciente. CONSIDERAÇÕES FINAIS A arteterapia vem ganhando espaço cada vez maior no campo da saúde mental, apresentando-se como uma das ferramentas fundamentais para amenizar os efeitos negativos da doença mental. É central a promoção do bem-estar da pessoa com sofrimento psíquico, uma vez que a arteterapia propicia mudanças nos campos afetivo, interpessoal e relacional, melhorando o equilíbrio emocional ao término de cada sessão. Avaliamos que, mediante a interpretação e a reflexão das experiências na relação terapêutica, a pessoa vai se ajustando aos seus próprios conteúdos, conhecendo a si mesma e se tornando sujeito ativo do processo terapêutico. A partir dessa reflexão podemos perceber que a arte e a loucura sempre estiveram juntas através da história, porém na atualidade é entendida com um novo olhar. Esse novo paradigma em Saúde Mental valoriza a multidisciplinaridade. Os novos substitutivos em saúde mental somam-se numa sugestão de um projeto terapêutico 10 que respeita as individualidades e singularidades do sujeito. Portanto não é prioridade o produto final de uma oficina, mas sim as trocas que se estabelecem e o ganho oriundo disso, uma vez que a possibilidade de criação se dá na produção de sentido para a vida e a sociabilidade. Esse novo protótipo responderá às perspectivas da desinstitucionalização, se priorizar a possibilidade de o artista constituir laços com o mundo. Dessa forma, reforçamos a importância de um profissional habilitado para trabalhar com arteterapia nos CAPS, dada a importância e relevância da técnica na melhora do quadro de pacientes com transtornos mentais. Notamos ainda, um vasto campo para profissionais em Saúde Mental, sobretudo psicólogos, que encontram uma nova porta de entrada no mercado se especializando em arteterapia. Existem no Brasil cursos de especialização em arteterapia, que proporcionam habilitação e qualificação a estes profissionais. Ressaltamos que se trata de um trabalho recompensador para o arteterapeuta, visto que possibilita aos pacientes ganhos de suma importância na qualidade de vida. Em suma, a arterapia vem ganhando espaço não só no campo da saúde mental, como também em diversas áreas, uma vez que é uma técnica indicada para crianças, adolescentes, adultos, portadores de necessidades especiais motoras ou mentais, pessoas sadias e enfermas. Tratando-se especificamente do campo da saúde mental, ressaltamos que a arteterapia apresenta um novo olhar e uma nova forma de cuidar e proporciona uma evolução no quadro de doentes mentais. ART THERAPY CAPS ON: A NEW WAY OF CARING ABSTRACT Art therapy provides the individual with a mental disorder, many opportunities, such as freedom of expression, support their creative autonomy, expanding your knowledge about the world adapting their emotional and social development. With 11 the advent of the Centers for Psychosocial Support (CAPS), with a new look at the treatment of the mentally ill, our aim was to work with this, report entering the art therapy in Brazil, contextualizing its entry with the emergence of CAPS within an overview of deinstitutionalization, which dates back to the psychiatric reform. To this end, we conducted a literature review on the subject, pointing out the main contributions to the literature on that subject. It has been found that the use of PCC in the art therapy has been gaining space and becomes a very important tool for the treatment of program users. Keywords: Mental health. Art therapy.Psychiatric reform. Data de entrega dos originais: ____ de março de 2013. REFERÊNCIAS ACHTERBERG, J. Imagética e Cura. In Revista Arteterapia: Reflexões, nº 3, 99/2000. Disponível em: <http://xa.yimg.com/kq/groups/22077492/Volume>. Acesso em: 09 mar. 2013. AMARANTE, P. Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro: SDE/ENSP, 1995. ARTETERAPIA , Associação Brasileira de. O que é arteterapia. São Paulo, 2009. Disponível em: <http://www.arteeterapia.com.br>. Acesso em: 09 mar. 2013. BEZERRA JR., B. De médico, de louco e de todo mundo um pouco: o campo psiquiátrico no Brasil dos anos 80. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994. CARVALHO, M. R. Terapia Cognitiva e Comportamental através da Arteterapia. Trabalho apresentado ao 3º Congresso das Terapias Cognitivas, São Paulo, 2001. Disponível em: <http://www.nacsantos.com.br>. Acesso em: 09 mar. 2013. CIORNAI, S. Percursos em Arteterapia. São Paulo: Summus, 2004. COQUEIRO, N. F. 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