Saturômetro – Dispositivo para Medir a Curva de Magnetização de Transformadores Janaina M. S. C. Costa, Mateus D. Teixeira, Pedro A. B. Block, André E. Lazaretti, Marcio R. Sans, Luiz Felipe R. B. Toledo, Victor S. Borges e Ricardo C. Scholz Resumo – Este artigo apresenta o desenvolvimento do projeto de P&D PD-0048-029/2006 – “Saturômetro – Dispositivo para Medir a Curva de Magnetização de Transformadores”. Os resultados e análises são baseados numa metodologia desenvolvida para permitir a obtenção da curva de magnetização de transformadores de potência a partir do registro das formas de onda das correntes e tensões durante manobras de energização e desenergização de transformadores da CHESF. Toda metodologia é detalhada e são apresentados os resultados de monitoramentos realizados em campo da energização de transformadores de potência conectados ao sistema CHESF. Desta forma, é comparada a curva de saturação fornecida pelo fabricante do transformador com a curva levantada pela aplicação da técnica proposta. Em posse dos resultados é possível validar o modelo computacional do transformador em questão usado nos estudos de transitórios eletromagnéticos, objetivando aumentar a precisão das recomendações operativas e assim assegurar melhor desempenho do sistema elétrico. Serão apresentados a metodologia desenvolvida, os resultados e a aplicabilidade no setor elétrico. Palavras-chave – Curva de magnetização, Inrush, Saturação, transformador, transitórios eletromagnéticos, ensaios de campo, P&D. I. INTRODUÇÃO Modelos matemáticos implementados computacionalmente têm se tornado cada vez mais necessários para subsidiar o planejamento e a operação do sistema elétrico. No caso de transformadores, a curva de magnetização tem um importante papel na modelagem desses equipamentos, principalmente para os estudos de transitórios eletromagnéticos onde a magnitude e duração das sobretensões e sobrecorrentes transitórias impostas ao sistema por faltas e manobras, dependem, dentre outros fatores, das características magnéticas desses equipamentos. Adicionalmente, é importante avaliar nos estudos pré-operacionais os níveis das correntes de energização dos transformadores para definir os ajustes das proteções intrínsecas. . Para pequenos transformadores a curva de saturação é facilmente determinada, no entanto, para os de maior porte o processo é muito dispendioso dado Este trabalho foi desenvolvido no âmbito do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico do Setor de Energia Elétrica regulado pela ANEEL e consta dos Anais do VIII Congresso de Inovação Tecnológica em Energia Elétrica (VIII CITENEL), realizado na Costa do Sauípe/BA, no período de 17 a 19 de agosto de 2015. Janaina M. S. C. Costa trabalha na CHESF (e-mails: [email protected]). Mateus D. Teixeira, Pedro A. B. Block, André E. Lazaretti, Marcio R. Sans, Luiz Felipe R. B. Toledo, Victor S. Borges e Ricardo C. Scholz trabalham no Institutos Lactec (e-mail: [email protected]). à estrutura laboratorial requerida. Além disso, nem sempre é possível atingir as regiões de alta saturação do núcleo magnético, uma vez que nos laboratórios dificilmente há equipamentos com a potência elétrica necessária para levar o equipamento aos níveis de saturação desejados. Dada à importância das características magnéticas dos transformadores, encontra-se na literatura nacional e internacional [1-7] diferentes abordagens para a determinação das curvas de magnetização. As principais dificuldades impostas pela maioria dos métodos utilizados para determinar a curva de magnetização consiste na necessidade de ensaios laboratoriais, ou utilização de grandes fontes de tensão em campo, atividades estas que são muito onerosas e de difícil execução. Adicionalmente, é desejável que seja possível determinar a curva de magnetização até a região de saturação profunda do transformador, a fim de uma representação mais fidedigna do comportamento do equipamento. Dentro deste contexto, a CHESF identificou uma oportunidade de desenvolver uma metodologia baseada na corrente de energização de transformadores, a qual não requer a utilização de fontes externas e possibilita a medição da curva de magnetização até elevados valores de correntes, resultando na elaboração e execução do projeto de P&D PD-0048029/2006 “Saturômetro – Dispositivo para Medir a Curva de Magnetização de Transformadores”. Assim, o presente artigo apresenta os desenvolvimentos metodológicos que resultaram em um dispositivo e uma ferramenta computacional capazes de levantar a curva de magnetização de transformadores de potência a partir dos registros de tensão e corrente de energização e desenergização de transformadores de potência em operação. Também traz os resultados de medições realizadas no decorrer do projeto, empregadas para validar a metodologia e o equipamento desenvolvido, comparando as curvas estimadas com aquelas fornecidas pelos fabricantes dos transformadores. II. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA Nos estudos de transitórios eletromagnéticos desenvolvidos pelos agentes do setor elétrico o conhecimento das curvas de magnetização é de suma importância para reproduzir a resposta transitória dos transformadores de potência presentes no sistema. Estes estudos tem o objetivo de definir condições operativas seguras, preservar a vida útil dos equipamentos e evitar atuações indesejadas da proteção. Conforme mencionado anteriormente, existem alguns métodos para obter a curva de saturação de grandes transformadores. Estes métodos baseiam-se em: Dados de Projeto; Tensão Contínua (CC); Tensão alternada em regime; Medições sem o núcleo magnético; Corrente de Energização. Frente a todos os métodos de medições ou estimação da curva de saturação de transformadores de potência supracitados, foi escolhido o método baseado na medição da corrente de inrush que alia alta precisão na medição com praticidade. A grande vantagem do método está na não necessidade da utilização de fontes para aplicação de sinais elétricos, seja em CA ou CC e a praticidade de não ser necessário deslocar os transformadores para laboratórios, uma vez que o levantamento da curva de magnetização pode ser feito em campo, durante manobras de energização do transformador. Destaca-se também que não é demandado o conhecimento prévio das dimensões do ferro e dos enrolamentos dos transformadores, consequentemente, viabilizando um método livre de cálculos e algoritmos complexos. Ao medir a corrente de entrada de um transformador e calcular o integral da tensão de energização, a fim de obter o fluxo magnético, a curva de magnetização é obtida traçandose um gráfico do fluxo magnético (φ) em função da corrente, como mostra a Figura 1. Este método permite alcançar as regiões mais elevadas de saturação do transformador, uma vez que a corrente de entrada pode atingir valores superiores a quatro vezes a corrente nominal. Além disso, é possível estimar a curva para todos os enrolamentos, considerando também a interação entre eles. ria permitir a determinação da curva de saturação do transformador. No entanto, como pode ser visto a partir da Figura 2, a corrente máxima de irrupção de um transformador só é conseguida no pico (positivo ou negativo) do primeiro ciclo de energização. Consequentemente, para efeitos de medição da curva de saturação, deve ser usado apenas o primeiro quarto de ciclo da forma de onda de corrente de energização. Figura 2. Inrush current waveforms. Como resultado, a medição do fluxo magnético como indicado por [7], é resultado da aplicação e medição de uma tensão sinusoidal no enrolamento primário do transformador enquanto o enrolamento secundário é mantido aberto. Para tanto a seguinte e expressão é válida: v1 r1i0 l1 Onde: di0 d N1 dt dt (1) r1i0 é a tensão no enrolamento primário; di0 é a queda de tensão devido ao fluxo concadt tenado no enrolamento primário, e d é a força eletromotriz induzida no enrolaN1 dt mento primário. l1 Uma vez que o primeiro termo de (1) pode ser desprezada, e supondo que, no momento da energização a tensão é V1m sen(t ) , onde α é qualquer ângulo em t = 0. Assim, a equação (1) é reduzida a: Figura 1. Fluxo magnético e forma de onda da corrente de inrush utilizados para determinar a curva de saturação [10]. Nos itens seguintes a metodologia desenvolvida será melhor detalhada. A. Medição da corrente de inrush e do fluxo magnético É de amplo conhecimento que a curva de saturação de transformadores está relacionada com o fluxo magnético e a corrente elétrica (φ x i), como representado na Figura 1. Da mesma forma, a energização do transformador de potência pode resultar num fluxo magnético elevado no núcleo, o que resulta na saturação de uma ou mais colunas do núcleo magnético. Por conseguinte, pode maximizar a corrente de magnetização. A partir destas observações, pode ser visto que a corrente de entrada frequentemente atinge a região de saturação de transformador de potência. Assim, a medição de tal corrente e a correlação com o fluxo magnético correspondente deve- di0 d (2) N1 dt dt O qual é discretizado pela regra trapezoidal como [7]: ∆𝑡 ∅ 𝑡 = 𝑉1 𝑡 + 𝑉1 𝑡 − ∆𝑡 2𝑁 v1 V1m sen(t ) l1 − 𝑙1 𝑖 𝑡 − 𝑖0 𝑡 − ∆𝑡 𝑁 0 +∅(𝑡 − ∆𝑡) (3) Onde, ∆t é o período de amostragem. Assim, a fim de se obter a saturação do fluxo magnético para uma dada curva de transformador em que φ0 = 0, apenas é necessário medir a tensão aplicada aos terminais do transformador durante a sua energização e integrar o seu valor a partir de t = 0 a t = 4,1667 ms. No entanto, há um aspecto prático aspecto crítico que têm impacto sobre a forma da curva de saturação: a determinação do instante de energização. B. Determinação do instante de energização Tal como mostrado no item anterior, a variação que ocorre na forma de onda de tensão, devido à transição entre dois eventos (energização ou desenergização) é um dos pontos críticos para estimar a curva de saturação. A principal dificuldade no método proposto é a visualização do transiente de energização e desenergização devido à localização do transformador de potencial (TP), quando este está instalado a montante do disjuntor (Figura 3). Assim, a identificação exata do instante de energização (ou desenergização) é difícil, porque sempre haverá tensão no primário TP. relação ao esforço computacional. Através da aplicação do filtro de Kalman e do processo de segmentação proposto em [9], foi possível obter o transitório inicial do sinal de tensão e, consequentemente, o instante de tempo relacionado com a energização do transformador. É importante salientar que a identificação do instante de chaveamento é muito importante na determinação do fluxo magnético. C. Determinação da corrente de delta É de conhecimento que a forma da ligação dos enrolamentos de um transformador altera seu comportamento durante sua energização [7]. Durante a comutação, a tensão não é equilibrada, porque os tempos de comutação de cada fase são diferentes (devido a aspectos mecânicos na operação do disjuntor) e há uma queda de tensão na impedância de dispersão do enrolamento primário. Assim, haverá um fluxo de corrente confinado ao enrolamento Delta durante este período. Assim, a corrente primária correspondente deve ser determinada e subtraída da corrente de magnetização, representado em (4) [7]: 𝑖𝑚𝑗 = 𝑖𝑝𝑗 − Figura 3. Esquema de monitoração Neste sentido, o processo de detecção da energização e desenergização envolve a identificação do transitório de chaveamento na forma de onda tensão, como representado na Figura 4. Existem vários métodos para a detecção de transitórios de forma de onda de tensão. Geralmente, estes métodos são agrupados de acordo com a natureza de pré-processamento aplicado aos sinais em análise. Os principais grupos são [9]: Análise de variações no domínio do tempo; Filtragem de domínio de frequência; Análise no domínio do tempo e frequência; Análise de estimação espectral dos resíduos mais proeminentes; Métodos de aprendizagem de máquina. Figura 4. Processo de detecção. Neste projeto, utilizou-se o método de estimação espectral baseada no filtro de Kalman [9], uma vez que têm frequentemente utilizado em estudos recentes que envolvem a detecção de eventos, com o melhor desempenho global em 𝑁 𝑑∅𝑗 − 𝑖𝑑𝑒𝑙𝑡𝑎 (4) 𝑟𝑚𝑗 𝑑𝑡 Onde Idelta é calculado a partir da equação para o delta fechado no secundário do transformador de acordo com: 𝑁. 𝑑∅𝑗 /𝑑𝑡 = 3. 𝑟𝑠𝑗 . 𝑖𝑑𝑒𝑙𝑡𝑎 + 𝑙𝑠𝑗 . 𝑑𝑖𝑑𝑒𝑙𝑡𝑎 /𝑑𝑡 𝑗 =𝑎,𝑏,𝑐 Nas equações 4 e 5: rsj é a resistência de cada fase (j = a, b, c) do enrolamento secundário do transformador; rmj é a resistência de derivação para as perdas por histerese e Foucault combinadas de cada fase (j = a, b, c); lsj é a indutância de cada fase (j = a, b, c) do enrolamento secundário do transformador. D. Medição do fluxo residual Outro desafio de ordem prática do método proposto está relacionado com fluxo residual. O conhecimento do fluxo residual no instante da energização define a altura do joelho da curva de magnetização. Existem dois métodos diferentes propostos na literatura para medir o fluxo residual durante a medição do campo, e utilizada para corrigir o fluxo magnético obtido através da medição da tensão de energização. O primeiro, descrito em [7], usa a forma de onda da corrente de partida durante a energização do transformador e calcula o fluxo em cada intervalo de tempo, assumindo zero como o fluxo residual. Para a corrente de magnetização na condição sem carga, dois valores de fluxo são obtidos no primeiro ciclo, e então a média destes (φavg) é calculado. Assim, este φavg é usado para alcançar o fluxo real da curva de saturação. Outra forma de calcular o fluxo residual é proposto em [10]. Esta técnica consiste em medir a tensão durante a desenergização do transformador e, em seguida, calcular a integral desse sinal, que corresponde ao fluxo magnético, o 1000 Phase A Phase B Phase C 500 Current [A] que melhor cumpre os objetivos propostos neste trabalho. No entanto, para medir a tensão após a desenergização do transformador é necessário ter um TP em uma das conexões do transformador (CT). Desta forma, a equipe técnica deste projeto adotou um terceiro modo de obter a curva de saturação, quando não for possível medir a tensão que se mantém sob os enrolamentos do transformador, após sua desenergização. A metodologia consiste em adotar a parte linear da curva de saturação medida pelo fabricante do transformador durante os testes de corrente alternada, o que corresponde à mesma do que aquele obtido pelo método descrito na subsecção A, e modificar a região de saturação pelas medições em campo, tal como mostra a Figura 5. 0 -500 -1000 -1500 1 1.05 1.1 1.15 Time [s] 1.2 1.25 1.3 Figura 6. Corrente de inrush simulada A característica de magnetização do transformador simulado foi determinada pela metodologia para o caso em que o fluxo residual é zero. A Figura 7 apresenta a comparação entre as duas curvas de saturação transformadores, a curva levantada a partir dos dados de fabricante e a curva de saturação determinada através do método da corrente de energização. 800 Calculated Curve Theoretical Curve 750 700 Figura 5. Região linear e de saturação da curva de magnetização. Flux [Wb] 650 600 550 500 III. VALIDAÇÃO COMPUTACIONAL 450 A fim de validar o método descrito na Seção 2, foi simulado em ATP a energização de um transformador 150 MVA da SE Aquiraz da CHESF. A curva de saturação do transformador foi calculada usando o método corrente de influxo e comparado com a curva teórica usado no modelo do transformador de ATP, que é normalmente fornecida pelo fabricante do transformador. As características elétricas do modelo simulado são apresentadas na Tabela 1. TABELA I. Características Elétricas do transformador da SE Aquiraz Primário 400 0 100 200 300 Magnetizing Current [A] 400 500 Figura 7. Comparação entre a curva calculada e a curva teórica inserida no ATP. Como esperado, a Figura 7 mostra que a curva calculada através do método da corrente de inrush foi exatamente a mesma que a curva do fabricante inserida no modelo do ATP, confirmando a eficácia do método proposto. Como mencionado, nas medições do sistema real a presença de fluxo residual, se não forem consideradas nos cálculos do fluxo total, poderia causar uma diferença entre o calculado e os valores reais. Secundário Tensão Nominal [kV] 230 69 Conexão Wye Delta Resistência do enrolamento [Ω] 0.35 0.09 Reatância indutiva [Ω] 35.05 9.46 A Figura 6 mostra a corrente de inrush para cada fase da do transformador. Por ter apresentado o maior valor de pico, aproximadamente 4 vezes a corrente nominal, a fase C foi escolhida para o cálculo da curva de saturação. IV. O EQUIPAMENTO SATURÔMETRO Com base nas características técnicas necessárias à realização das medições (condicionamento de sinais e transmissão de dados, etc), a equipe de técnica envolvida no desenvolvimento do Saturômetro decidiu por utilizar plataformas de hardware universais devido basicamente a redução do tempo de desenvolvimento do hardware e à experiência do LACTEC em trabalhos com plataformas universais para aplicações automotivas e de automação de ensaios elétricos e mecânicos. Neste sentido, a escolha recaiu sobre a plataforma CompactDAC® da National Instruments. Tal dispositivo une ao mesmo tempo um sistema de controle avançado e outro de aquisição de dados, os quais podem ser utilizados para aplicações diversas que exigem alto desempenho e confiabilidade. Dentre suas vantagens está o fato de possuir arquitetura de sistema aberto, ou seja, qualquer engenheiro ou projetista pode desenvolver módulos específicos para emprego conjunto com a plataforma. Também possui, frente a outros arranjos físicos e equipamentos comerciais de tamanho reduzido, robustez e flexibilidade, podendo ser usado para construção de sistemas embarcados personalizados, como o caso do Saturômetro. Após esta definição a plataforma foi fixada em uma case de polipropileno que conferiu ao equipamento robustez e maior resistência a impactos. Também foi desenvolvido o layout da tampa onde foram instalados os bornes para conexão dos cabos de tensão e alicates de corrente, assim como os terminais para o cabo de energia e de comunicação. O resultado final deste trabalho pode ser conferido na Figura 8. Figura 10. Tela de registro de medição Figura 11. Tela de calculo e apresentação da curva de saturação Figura 8. Painel frontal do Saturômetro. VI. MEDIÇÕES DE CAMPO V. FERRAMENTA COMPUTACIONAL A fim de gerenciar toda parametrização do Saturômetro, bem como realizar todas os cálculos e apresentar os resultados gráficos, foi desenvolvida uma ferramenta computacional de mesmo nome, Saturômetro, que fosse simples, Orientada à objetos (C#), fortemente tipada, que ajuda a evitar erros por manipulação imprópria de tipos e atribuições incorretas. As figuras 9, 10 e 11, mostram três telas/funções da ferramenta desenvolvida. A fim de validar toda metodologia proposta foram realizadas diversas medições em campo durante a energização de transformadores de potência da CHESF. As medições realizadas bem como as curvas levantadas para cada transformador são apresentadas neste item. A Tabela 2 apresenta as subestações e os respectivos transformadores monitorados. TABELA 2 – Transformadores do sistema da CHESF monitorados em campo para determinação da curva de magnetização Subestação Trafo SE Aquiraz II SE Pici II SE Sobral II 04T1 04T4 04T4 04T1 04T2 SE Igaporã Figura 9. Tela de cadastro de transformadores. Potência (MVA) 150 100 100 150 Tensão (kV) Conexão 230/69/13,8 230/69 230/69 Y-D-Y Y-D Y-D 230/69/13.8 Y-D-Y Para cada um dos transformadores apresentados na Tabela 2 foram monitoradas as formas de onda das tensões e correntes de energização e traçadas as curvas de magnetização dos transformadores através da metodologia discutidas nas seções anteriores. Nas subestações de Sobral II e Igaporã foi possível monitorar o desligamento dos transformadores, de forma que foi calculado o fluxo residual e assim descontado da curva de magnetização. Já para os transformadores das subestações de Aquiraz II e Pici II a curva final da metodologia foi composta entre a curva medida e a curva fornecida pelo fabricante. As Figuras 9 a 13 apresentam as curvas de magnetização determinadas pela metodologia em compara- ção à curva declarada pelo fabricante para cada um dos transformadores estudados. 700 600 Fluxo Magnético (Wb) 500 400 300 200 100 0 Curva Medição Curva - Fabricante Curva - Metodologia -100 -200 0 50 100 150 200 250 Corrente de Magnetização (A) 300 350 Figura 13. Curvas de magnetização para o Trafo 04T2 – SE Igaporã Figura 9. Curvas de magnetização para o trafo 04T1 – SE Aquiraz II Através da análise das curvas apresentadas nas Figuras anteriores é possível verificar o processo de composição das curvas para os transformadores de Aquiraz II e Pici II, onde a curva azul resultante do cálculo realizado a partir dos dados das medições é composta com a curva fornecida pelo fabricante (vermelha), tendo como resultado final da metodologia a curva preta. Já nos outros casos verifica-se que a curva determinada a partir dos dados de medição representa a curva final da metodologia uma vez que foi possível descontar o fluxo residual a partir das medições dos desligamentos dos transformadores. Observa-se também que os transformadores 04T4 da SE Sobral II e 04T2 da SE Igaporã apresentaram correntes de energização muito baixas, 0.5 p.u e 0.2 p.u respectivamente, e desta forma, apesar de apresentarem um inicio de curva semelhante a do fabricante, não tornam possível a análise da região de saturação profunda dos transformadores, interesse maior desta metodologia. De qualquer forma, as curvas do fabricante e as curvas medidas pela metodologia apresentam uma diferença notável na inclinação da curva, muito embora a altura do joelho seja praticamente coincidente, mesmo para os casos onde se obteve o fluxo residual. Tal condição deve proporcionar à CHESF um refinamento de seus modelos desenvolvidos em ATP de transformadores a serem empregados nos estudos de transitórios eletromagnéticos. Figura 10. Curvas de magnetização para o trafo 04T4 – SE Pici II VII. CONCLUSÕES Figura 11. Curvas de magnetização para o trafo 04T4 - SE Sobral II 900 800 Fluxo Magnético (Wb) 700 600 500 400 300 Curva - Medição Curva - Fabricante Curva - Metodologia 200 100 0 100 200 300 400 500 600 700 Corrente de Magnetização (A) 800 900 Figura 12. Curvas de magnetização para o trafo 04T1 – SE Igaporã 1000 O presente trabalho apresentou os resultados finais do desenvolvimento do Projeto de P&D PD-0048-029/2006 “Saturômetro – Dispositivo para Medir a Curva de Magnetização de Transformadores”, que teve como objetivo principal o desenvolvimento de um dispositivo para determinação da curva de magnetização de transformadores de potência, tendo como base dados de medições das tensões e correntes de energização e desenergização destes equipamentos, cujo objetivo é aferir os modelos matemáticos desenvolvidos em ATP de transformadores de potência em operação na Chesf. Dentre os principais ganhos do projeto está aquele relacionado à possibilidade de levantar a curva em campo sem a necessidade de estrutura laboratorial para o ensaio, como grandes fontes de tensão. Também permite a avaliação dos transformadores até regiões de saturação profunda (elevadas correntes de magnetização), o que faz esta metodologia ser bastante robusta e confiável em seus objetivos. A metodologia pode ser utilizada a partir dos registros de formas de onda obtidas não só pelo Saturômetro como de qualquer oscilo, inclusive da Rede de Oscilografia da CHESF. Permite utilização on-line e off-line, ou seja, o software será disponibilizado não só no dispositivo de medição, como nos PC dos engenheiros da área de estudos elétricos da Chesf. O Saturômetro pode fazer registros da forma de onda de tensão e corrente de outros tipos de equipamentos em operação, de interesse da empresa. Estes fatores ampliam de forma significativa a aplicabilidade da ferramenta. Vale comentar que as diferenças encontradas entre joelho e Xac dos casos medidos ao longo do projeto não geraram impactos significativos nas grandezas de interesse dos estudos pré-operacionais de energização de transformadores, o que é um indicativo que as curvas fornecidas pelos fabricantes representam de maneira satisfatória o comportamento magnético de seus transformadores para esse tipo de estudo. Por fim, vale ressaltar que o projeto permitiu o desenvolvimento do primeiro equipamento dedicado ao levantamento, em campo, da curva de magnetização de transformadores de grandes potências, a partir das formas de onda da tensão e correntes de energização, de maneira sistemática, por uma empresa do setor elétrico. VIII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] DICK, E. P.; WATSON, W. Transformer Models for Transient Studies Based on Field Measurements. IEEE Transactions on Power Apparatus and Systems, v. PAS-100, p. 409-419, jan. 1981. [2] CALABRO, S.; COPPADORO, F.; CREPAZ, S. 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