283 Percepção Etnoentomológica por Alunos do

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III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014
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Percepção Etnoentomológica por Alunos do Ensino Médio do
Município de Alegre-ES
T. A. Alves1*, A. S. Santana1, L. Souza1 & F. G. Lacerda1
1Universidade Federal do Espírito Santo Centro de Ciências Agrárias – CCAUFES.
*Email para correspondência: [email protected]
Introdução
A etnoentomologia é um ramo da etnozoologia que estuda as interações entre os seres
humanos e os insetos, ou seja, é o estudo do modo como esses animais são percebidos,
identificados, classificados e utilizados pelo homem (Costa-Neto e Carvalho 2000).
Os insetos são animais que apresentam 3 pares de pernas, 1 par de antenas, são alados,
salvo algumas exceções, além de apresentarem corpo dividido em cabeça, tórax e
abdômen. É a classe de animais que apresenta maior número de indivíduos. Segundo
Erwin (1997), os insetos constituem provavelmente 75% da vida animal da terra. A enorme
diversidade de insetos foi resultado, principalmente, de sua extraordinária adaptação. Seu
sucesso pode ser atribuído a uma série de fatores como estrutura corpórea dos artrópodes,
resistência à dessecação, vôo e desenvolvimento holometábolo. Assim, esses animais
conquistaram os diversos ambientes, sejam eles, terrestres, aquáticos ou aéreos. Acreditase que essa adaptação foi proporcionada pela sua capacidade de voar, sendo que a classe
Insecta foi a primeira a adquirir essa aptidão dentre todos os animais. Dessa forma, o voo
concedeu aos insetos a oportunidade de explorar os vários tipos de ambiente (BARNES,
1996).
Os insetos são animais de grande importância ecológica, cultural e econômica. Eles são
utilizados em alguns locais como fonte alimentícia por serem ricos em proteínas. Além
disso, podem produzir alimentos, inclusive, para o homem, como é o exemplo das abelhas
que produzem o mel. Ademais, são indispensáveis na polinização de plantas, na ciclagem
de nutrientes, além de fazerem o controle populacional de outros insetos, uma vez que
alguns insetos são predadores. Ao mesmo tempo, são considerados pragas agronômicas por
destruírem grandes áreas de plantações, pondo em risco colheitas inteiras. Considerando
que estamos em um país de clima tropical, somos privilegiados com uma maior
diversidade da classe, porém esse fato pode não representar uma vantagem para o setor
agrícola que busca incessantemente, sem economizar nos gastos, por métodos eficazes no
controle dos insetos-praga (Barnes, 1996; Ulysséa, 2010).
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O presente estudo foi realizado no município de Alegre, ES, tendo como objetivo avaliar o
nível de conhecimento dos alunos do Ensino Médio de uma escola pública e outra
particular em relação aos Insetos por meio de entrevistas.
Material e Métodos
Após a aprovação do modelo do questionário semiestruturado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal do Espírito Santo, os questionários
foram aplicados em sala de aula para alunos que cursavam o 1° ano(39 alunos) e o 3° ano
(49 alunos) do ensino médio na escola pública, sendo que na escola particular apenas os
alunos do 3º ano (5 alunos) foram entrevistados, uma vez que esta não possuía o 1º ano.
Essas séries foram escolhidas visando comparar o conhecimento dos alunos das séries
iniciais do Ensino Médio. Sendo que esse aprendizado foi formado em sua maioria a partir
das aulas ministradas durante o Ensino Fundamental, com o dos estudantes que já estavam
finalizando o Ensino Médio, já que estes estudaram o Filo Arthropoda que normalmente é
ministrado no 2º ano desta etapa de ensino.
Os dados foram coletados em novembro e dezembro de 2012. Das questões referentes ao
conhecimento sobre os insetos, uma delas era constituída por uma lista de 40 animais em
que o aluno deveria assinalar apenas aqueles que eram insetos. Em outra questão, os alunos
responderam sobre as fontes de seus conhecimentos em relação aos insetos, cujas opções
eram: escola, livros, televisão, revistas e internet. Houve também uma questão sobre as
sensações dos alunos ao verem um inseto que poderiam ser medo, nojo, curiosidade,
beleza, ou outras sensações.
Os alunos responderam os questionários individualmente e sem consulta. Os dados de
cada turma entrevistada foram analisados individualmente, por meio de uma análise
estatística descritiva e pelo teste Qui-quadrado, realizado no programa past. Para verificar
se os resultados observados diferiram dos esperados, ou seja, se os animais que são insetos
realmente foram marcados como tais e se os animais de outros grupos taxonômicos foram
reconhecidos como não insetos e consequentemente não marcados no questionário.
Resultados e Discussão
A maioria dos entrevistados indicou a escola como maior fonte de conhecimentos e o
sentimento mais apontado pelos entrevistados em relação aos insetos é de nojo, seguido
por curiosidade. Porém, mesmo com o aprendizado mais significativo sendo o escolar,
nota-se que muitos erros referentes aos indivíduos que compõem o grupo ocorreram, isso
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pode ser causado por uma aula ministrada sem associação do conteúdo com o cotidiano do
aluno. Esse erro também pode ser devido, ao “bloqueio” que as pessoas apresentam em
relação à classe e que acabam classificando todos os animais lhes passam a imagem de
sujeira, doença, nojo ou que não gostam por algum motivo, e associam os seres que passam
essas sensações indesejadas, como insetos (Ulysséa, 2010).
O questionário era composto de uma questão que continha uma lista com o nome de 40
seres vivos, e pedia para que o entrevistado marcasse apenas os que fossem insetos e os
demais fossem deixados em branco. Na Figura 1 e na Figura 2 encontra-se a relação com
as opções de animais e a quantidade de marcações que cada um recebeu nessa questão
entre os 49 alunos do 3º ano do Ensino Médio, na escola pública.
Figura 1. Relação dos 20 seres vivos
presentes no questionário que foram
selecionados como insetos por mais alunos
do 3º ano do Ensino Médio da escola
pública.
Figura 2. Relação dos 20 seres vivos
presentes no questionário que foram
selecionados como insetos pelo menor
número de alunos do 3º ano do Ensino
Médio da escola pública.
É importante destacar que aproximadamente 90% da população amostrada selecionou de
maneira correta, a mosca, o grilo, o mosquito e o pernilongo como insetos e 100% da
população acertaram ao não marcarem o camarão, o sapo, a cobra e o tatu-bola como
insetos, este último ilustrado na Figura 2.
No 3º ano do Ensino Médio da instituição particular estavam matriculados 5 alunos, sendo
este o número de pessoas que foram entrevistadas nesta escola. Nas Figuras 5 e 6 estão
relacionadas o número de marcações que cada ser vivo recebeu durante o preenchimento
do questionário, sendo que todos os entrevistados reconheceram corretamente como
insetos: a joaninha, o besouro, a esperança, o gafanhoto, a abelha, o louva-deus, a mariafedida, o pernilongo e o mutuca, Figura 3. Eles também não relacionaram como insetos, de
maneira correta, a aranha, o escorpião, o camarão, o caramujo, o sapo, o rato, a cobra, a
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minhoca, o tatu-bola, o calango e a lagartixa. Porém, todos os estudantes deixaram
erroneamente de selecionar o piolho como inseto, Figura 4.
Figura 3. Relação dos 20 seres
presentes no questionário que
selecionados como insetos por mais
do 3º ano do Ensino Médio da
particular.
vivos
foram
alunos
escola
Figura 4. Relação dos 20 seres vivos
presentes no questionário que foram
selecionados como insetos pelo menor
número de alunos do 3º ano do Ensino
Médio da escola particular.
No 1º ano do Ensino Médio da escola pública havia 39 estudantes na turma entrevistada. A
Figura 5 demonstra os vinte seres vivos mais marcados por estes alunos e a Figura 6
mostra os seres menos marcados como insetos pelos mesmos.
Figura 5. Relação dos 20 seres vivos
presentes no questionário que foram
selecionados como insetos por mais alunos Figura 6. Relação dos 20 seres vivos
do 1º ano do Ensino Médio da escola presentes no questionário que foram
selecionados como insetos pelo menor
pública.
número de alunos do 3º ano do Ensino
Médio da escola pública.
Observou-se que essa foi a turma com maior quantidade de erros, o que já era esperado por
estes ainda não terem estudado o grupo no Ensino Médio e o assunto em questão ser
tratado nas séries iniciais do Ensino Fundamental, desse modo, a maioria provavelmente já
esqueceu o conteúdo. Assim, nenhum animal deixou de ser considerado como inseto por
todos os estudantes e nenhum inseto foi marcado por todos dos entrevistados. Logo, eles
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não obtiveram 100% de acerto nem reconhecendo quais seres da lista eram de fato insetos,
e nem reconhecendo quais não eram.
Para cada grupo entrevistado a proporção de acertos diferiu do esperado (3º ano público:
Chi^2=195,96; gl=1; p<0,001, Figura 7; 3º ano particular: Chi^2=79,88; gl=1; p=0,005,
Figura 8; 1º ano público: Chi^2=211,5; gl=1; p<0,001, Figura 9).
Figura 7. Valores observados e esperados
como resposta dos estudantes do 3º ano
Ensino Médio da instituição pública para
insetos e não- insetos.
Figura 8. Valores observados e esperados
como resposta dos estudantes do 3º ano
Ensino Médio da instituição particular
para insetos e não- insetos.
Figura 9. Valores observados e esperados
como resposta dos estudantes do 1º ano
Ensino Médio da instituição pública de
ensino para insetos e não- insetos.
Segundo Modro et al, os docentes não têm colaborado com o ensino formal, seja
considerando os insetos como sem importância ou até mesmo não diferenciando os
indivíduos pertencentes à este grupo taxonômico dos pertencentes a outros grupos, o que
torna o ensino nas escolas indiferenciado do da cultura local. O que não acontece na zona
rural do noroeste do Ceará, em que Braga e Araújo, citam em seu trabalho que mesmo com
dificuldade na aplicação de aulas práticas por falta de laboratórios ou matérias, os
professores abordam o conteúdo utilizando outros recursos para suprir a curiosidade dos
alunos, que diz respeito a importância dos insetos e possíveis doenças que estes podem
causar.
Segundo Vital et al, os artigos que estimulam o uso de insetos em experimentos na sala de
aula são escassos, sugerindo que essa prática ainda se encontra pouco difundida no ensino
básico. Baptista e Costa Neto em seu trabalho, ressaltam que em relação aos conteúdos
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didáticos de ciências e biologia, a classe Insecta é o grupo animal que possibilita ao
professor uma aproximação, com maior facilidade, dos alunos com os indivíduos
pertencentes ao grupo. Visto que são de fácil acesso por serem abundantes no clima
tropical e altamente didáticos no ponto de vista curricular, desta maneira facilitando os
estudantes a construírem o conhecimento referente ao grupo com eficiência e coerência,
além de ajudar a remodelar a visão que muitos desses alunos obtêm sobre insetos.
Os insetos podem ter várias finalidades, como nutrição, sendo utilizados como alimento em
alguns lugares do mundo como na China, na medicina popular, que é comum em zonas
rurais, além de decorativa como a borboleta, a libélula e da joaninha foram utilizadas na
comunidade do Ribeirão da Ilha, sendo caracterizados como elementos decorativos de
festas de aniversário de crianças, enfeites para casa, pinturas em quadros, portas retratos,
toalhas e colchas, entre outros (Ulysséa et al., 2010).
É necessária a aplicação de um ensino com maior qualidade e uma desmistificação dos
insetos, pois nota-se que grande parte da população dos entrevistados sente curiosidade
pelos mesmos, sendo esta a segunda sensação com maior índice de citação pelas turmas
entrevistadas, deixando claro que faltam informações sobre o assunto. Quando o
conhecimento referente ao mesmo é construído, possibilita observação dos aspectos
positivos dos insetos na natureza e com isso a supervalorização dos aspectos negativos
diminui, possibilitando que, talvez, com um melhor conhecimento haja uma melhor
interação da parte dos humanos para com os insetos, evidenciando sua importância para as
pessoas, plantas e ecossistema em geral.
Conclusão
A partir do trabalho conclui-se que os alunos do 3º ano do Ensino Médio apresentam maior
conhecimento referente à classe Insecta que os estudantes do 1º ano. Além disso,
observamos que o conhecimento, em sua maioria, é proveniente da escola e que grande
parte dos entrevistados sente curiosidade ou nojo ao se depararem com um inseto.
Agradecimentos
Gostaria de agradecer a Deus, aos meus pais e irmãos, ao meu namorado, a Universidade
Federal do Espírito Santo que me deu os subsídios necessários para o desenvolvimento do
presente trabalho e a minha orientadora por me incentivar a trabalhar com pesquisas
científicas.
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Literatura Citada
Baptista, G. C. S.; Costa Neto, E. Reunião de Feira de Santana: Conhecendo os insetos na
escola.
2004.
Jornal
da
Ciência,
E-mail,
2660.
Disponível
em:
<http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=23683>. Acesso em: 10 ago.
2013
Braga, P. E. T.; Araújo, A. C. M. A concepção docente sobre o estudo dos insetos no
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Costa-Neto, E. M.; Marques, J. G. W. 2000. Notas de etnoentomologia no estado de
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Modro, A. F. H.; Costa, M. S.; Maia, E.; Aburaya, F. H. Percepção entomologia por
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Silveira, A. V. T. Da; Lima Filho, G. F de. Insetos em experimentos de ecologia de
populações: um exemplo de abordagem didática. Acta Scientiarum. Biological
Sciences, Maringá, v. 26, n. 3, p. 287-290, 2004.
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