COMUNICADO DE IMPRENSA 27 fevereiro 2012 Para divulgação imediata Subverter o sistema imune favorece bactérias na corrida ao armamento contra hospedeiros Porque será que bastam cerca de 10 células de Mycobacterium tuberculosis para causar tuberculose, enquanto que são necessárias dezenas de milhões de células de Vibrio cholera para causar cólera num hospedeiro? Dois grupos de investigação, do Instituto Pasteur (França) e do Instituto Gulbenkian de Ciência e Centro de Biologia Ambiental da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, respondem a esta pergunta na última edição da revista PLoS Pathogens(*). Os investigadores caracterizam dois grandes grupos de bactérias: as que são capazes de invadir e/ou destruir células do sistema imune do hospedeiro são mais infeciosas; as bactérias com maior motilidade, que se multiplicam mais rapidamente e que comunicam umas com as outras são menos infeciosas, isto é, causam infeção apenas quando estão reunidos elevados números de células bacterianas. Estes resultados têm implicações em saúde pública, pois ajudam a identificar padrões atuais na capacidade de infeção das bactérias, e contribuem para prever a evolução da infetividade dessas bactérias no futuro. Dentro da grande variedade de mecanismos utilizados por patogéneos para tirar partido do hospedeiro humano, as equipas de Eduardo Rocha, no Instituto Pasteur (França) e Francisco Dionísio (Portugal), encontraram características partilhadas por grupos de bactérias patogénicas. Procuraram na literatura científica dados sobre 40 patogéneos diferentes. Estabeleceram relações entre várias características bacterianas (mobilidade, interações com o sistema imune, taxa de crescimento) e o valor de ID50 de cada uma – o número mínimo de células bacterianas necessárias para despoletar uma infeção em 50% (metade) dos hospedeiros infetados. Os investigadores descobriram que as bactérias que conseguem destruir ou subverter fagócitos – as células do sistema imune que ‘engolem’ bactérias – têm valores de ID50 de cerca de 250 células. As restantes bactérias têm valores de ID50 que rondam os 30 milhões de células. Estas últimas são muito móveis, multiplicam-se muito rapidamente, e comunicam entre si através do mecanismo de ‘quorum-sensing’, para conseguirem assegurar uma infeção. João Gama, estudante de Doutoramento e primeiro autor do estudo, explica, “Na ‘corrida ao armamento’ entre bactérias patogénicas e os seus hospedeiros, num extremo estão aquelas que atacam frontalmente, e no outro as que agem de forma furtiva, manipulando o sistema imune do hospedeiro. As restantes bactérias situam-se entre os extremos. Os nossos resultados sugerem que podemos classificar as bactérias com ID50 baixo (mais infeciosas) como as furtivas; as de ID50 são as que empregam ataques frontais”. 1 (*) João Alves Gama, Sophie S. Abby, Sara Vieira-Silva, Francisco Dionisio, Eduardo P. C. Rocha. (2012) Immune Subversion and Quorum-Sensing Shape the Variation in Infectious Dose among Bacterial Pathogens. PLoS Pathogens 8(2): e1002503. Colónias de bactérias, em cultura no laboratório (Imagem: João Gama e Francisco Dionísio, IGC/FCUL) (Imagem em alta resolução disponível mediante pedido) Informação suplementar O Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) é um dos principais institutos de investigação biomédica em Portugal. Foi fundado pela Fundação Calouste Gulbenkian com o objectivo de desenvolver investigação biomédica e ensino pós-graduado. O IGC funciona como instituição de acolhimento onde grupos de investigação internacionais desenvolvem os seus projetos autonomamente, usufruindo de instalações e serviços de excelência. O IGC desenvolve um programa ambicioso de ensino pós-graduado assim como um programa dedicado à comunicação de ciência e promoção da cultura científica. O Centro de Biologia Ambiental é um centro de investigação sediado na Faculdade de Ciências, e que se estende ao Museu Nacional de História Natural, ambas estruturas da Universidade de Lisboa. CBA desenvolve atividades de investigação e transferência de tecnologia nas áreas de biodiversidade, biologia ambiental e biologia evolutiva. Mais informação: Ana Godinho Comunicação de Ciência | Instituto Gulbenkian de Ciência +351 214 464 537 [email protected] Francisco Dionísio Faculdade de Ciências Universidade Lisboa: DBV e CBA & Instituto Gulbenkian de Ciência +351-21 750 03 97 / + 351 96 640 8422 [email protected] https://sites.google.com/site/dionisiolab/ 2