Nº37 Cromossomo Filadélfia: a translocação entre os cromossomos 9 e 22 leva a origem de um gene bcr-abl anormal e constitucionalmente ativo! A Leucemia Mielóide Crônica (LMC) é uma doença neoplásica que se origina das células-tronco hematopoiéticas a uma incidência de aproximadamente 2 pessoas a cada 100.000 ao ano. A idade de aparecimento da doença se situa entre 50 a 55 anos. A translocação entre os cromossomos 9 e 22, que leva a origem do Cromossomo Filadélfia, é característica desta leucemia e o sua identificação nas amostras clínicas tem importância diagnóstica nesta condição. Trata-se de uma das poucas malignidades que são desencadeadas por um único oncogene, o bcr-abl (resultante da fusão do gene bcr localizado no cromossomo 22 e o gene abl localizado no cromossomo 9 o que leva a tradução de uma tirosina quinase constitucionalmente ativa) e é por esta razão que a terapia alvo molecular apresenta excelentes resultados na LMC. Inibidores de Tirosina Quinase: uma classe de medicações de administração pela via oral empregada no tratamento de leucemias O Imatinibe foi aprovado para o tratamento de Leucemia Mielóide Crônica bcr-abl positiva em 2002 e atualmente ainda é mantida como droga de primeira linha no tratamento de pacientes na fase crônica desta doença. A monitorização hematológica e citogenética destes pacientes é fundamental, pois aproximadamente 1 em cada 4 pacientes não alcançam uma resposta citogenética satisfatória. Nestes casos a troca da terapêutica por outros Inibidores de Tirosina Quinase ( dasatinibe e nilotinibe) leva a remissão da doença na maioria dos casos. Monitoramento hematológico, citogenético e molecular do paciente em tratamento específico. Durante o tratamento com o Inibidor de Tirosina Quinase, são realizados periodicamente exames no sangue periférico e medula óssea de forma que podemos reconhecer três níveis diferentes de resposta ao tratamento, alcançados nesta ordem: Resposta Hematológica, Resposta Citogenética e Resposta Molecular. A Resposta Hematológica é acessada no sangue periférico com a realização de hemogramas a cada 3 meses. A Resposta Citogenética é pesquisada em amostras de medula óssea com a utilização da técnica de FISH (Fluorescent in Situ Hibridization) no 3º e 6º mês após o inicio de terapia com Imatinibe e então a cada 6 meses. FISH para bcrabl, exemplo de metáfase c o m a translocação 9;22: os sinais fluorescentes de cor verde e vermelho representam os genes bcr e a b l p o s i c i o n a d o s nos cromossomos normais. Quando existe a translocação, os genes posicionados lado a lado no cromossomo anormal emitem uma fluorescência combinada na cor amarela (verde + vermelho). Nº37 A Resposta Molecular é avaliada pela quantificação de transcritos bcr-abl por meio de ensaio de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) em Tempo Real a cada 3 meses. Os níveis de transcritos aferidos no sangue periférico se correlacionam bem com os da medula óssea, mesmo nas situações de baixa carga de células leucêmicas. Como a aquisição de sangue periférico é realizada por meio de um procedimento de menor complexidade e transtorno ao paciente que punção de ossos chatos para a obtenção de medula óssea, a monitorização da resposta molecular por meio de PCR em sangue periférico tem sido recomendada pelos especialistas no acompanhamento desta leucemia. O resultado do exame é liberado como relação entre quantidade de transcritos bcr-abl anormais e um gene normal (“bcr-abl ratio”), geralmente a quantidade de transcritos do gene abl normal é utilizada no denominador desta relação. Este resultado pode ser liberado em função logarítmica como ocorre com os exames de carga viral. Como observado no gráfico (ao lado), assim que o número de células tumorais entra em declínio, a contagem de leucócitos no sangue periférico passa a diminuir. A análise de medula por meio de FISH (Fluorescent In Situ Hibridization) presta ao acompanhamento da redução do número de metáfases que apresentam o cromossomo Filadélfia. Fig2: Os diferentes níveis de resposta e sua correlação com o número de células leucêmicas. Resposta Hematológica Completa (sigla em inglês CHR), Resposta Citogenética Completa (sigla em inglês CCyR), Resposta Molecular Maior (sigla em inglês MMR) e Resposta Molecular Completa (sigla em inglês CMR). Reproduzido de Dtsch Arztebl Int. 2010 February; 107(7): 114–121. Por fim, com a utilização de PCR em Tempo Real, observamos a diminuição de transcritos da Tirosina Quinase anormal no sangue periférico ou na medula óssea. Ao alcançar a Resposta Molecular Completa o paciente apresenta uma carga de células leucêmicas residual, que podem provocar o reaparecimento dos parâmetros anormais da doença caso a terapia seja descontinuada. Ou seja, a única chance de cura completa da doença seria um transplante alogênico de células-tronco hematopoiéticas (transplante de medula óssea), que por ser um procedimento complexo e de riscos consideráveis durante o procedimento e períodos imediatamente próximos, acaba sendo utilizado em poucos pacientes selecionados. A terapia com os Inibidores de Tirosina Quinase conferem bons índices de sobrevida livre de progressão da doença e sobrevida geral, com poucos efeitos colaterais registrados (mesmo efeitos colaterais potencialmente graves são raros com o uso destas terapias) e com o simples incomodo de ser uma medicação de uso contínuo e diário. A Importância da Monitorização Adequada Caso o paciente não alcance os graus de resposta em tempo oportuno a Leucemia Mielóide Crônica evolui desfavoravelmente a despeito da continuidade do tratamento com Imatinibe. Além do fato de que alguns pacientes recaem apesar de uma excelente resposta inicial ao tratamento. A meta terapêutica, que confere os melhores índices prognósticos, seria o alcance da Resposta Hematológica Completa em três meses, a Resposta Citogenética Completa alcançada em até 12 meses e a Resposta Molecular Maior conquistada em até 18 meses, assim como a manutenção destes índices ao longo do tempo. Se estas metas não forem alcançadas o paciente deve ser considerado para outros regimes terapêuticos como o aumento da dose do Imatinibe, a utilização dos novos Inibidores de Tirosina Quinase (Desatinibe e Nilotinibe que vêm sendo consagrados como drogas de segunda linha na abordagem da LMC) ou mesmo o Transplante Alogênico. Portanto a utilização destes exames em períodos adequados constituem no melhor fonte de informações a respeito da eficácia do tratamento e, em última análise, do prognóstico destes pacientes. WWW.CENTRODEGENOMAS.COM.BR - TEL. 11 5079 9593 NTO: Rua Leandro Dupré, 967 - Vl. Clementino - São Paulo / SP. ADM: Av. Dr. Altino Arantes, 1233 - Vl. Clementino - São Paulo / SP. PD&I: R. Afonso Celso, 469 - Vl. Mariana - São Paulo / SP. Todas as edições estão disponíveis para consulta e impressão no www.cartamolecular.com.br Autor: Dr. Luis Gustavo - Editoração: Natasha Vilhena - Produção: Aldeia Brasil Certificações: