DPOC - Uma revisão bibliográfica Autora: Samira Pires Dario - Fisioterapia Professor Orientador: Ms. Carlos Roberto Pagani Junior* RESUMO A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é caracterizada por limitação de fluxo aéreo que não é totalmente reversível. Esta doença é a quinta maior causa de mortalidade no país e quarta no mundo. Apesar disso, a doença ainda é pouco conhecida pela população em geral. Este estudo teve como finalidade apontar as principais causas e conseqüências da doença, esclarecer os métodos utilizados para a avaliação e diagnóstico da mesma e relatar os métodos de tratamento dos portadores da DPOC. Os resultados deste estudo mostraram que a definição, classificação e critérios de diagnóstico da doença estão bem definidos, o bem como as causas e conseqüências, sendo o tabagismo a principal delas. Os resultados ainda demonstraram alteração na qualidade de vida dos doentes. Fator importante de ser ressaltado é o acompanhamento de equipe multiprofissional no tratamento deste doente, que pode ser beneficiado por terapêuticas medicamentosas e não medicamentosas. Palavras-chave: DPOC, GOLD, tratamentos, qualidade de vida. INTRODUÇÃO Segundo GOLD 2003, a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica é caracterizada por limitação do fluxo aéreo que não é totalmente reversível. A limitação do fluxo aéreo é geralmente progressiva e associada a uma resposta inflamatória anormal do pulmão a partículas ou gases nocivos1. A obstrução das vias aéreas dificulta a entrada e saída de ar dos pulmões, prejudicando a ventilação pulmonar, promovendo a retenção de ar nos bronquíolos e nos alvéolos, processo denominado de hiperinsuflação pulmonar, dificultando desta maneira as trocas gasosas, ou seja, absorção do oxigênio do ar e eliminação do gás carbônico produzido pelo organismo, causando desconforto ao respirar2,3. Os sintomas comuns da doença incluem a tosse crônica, a produção de escarro, chiados, dificuldade respiratória tipicamente ao esforço, má tolerância ao exercício e troca gasosa prejudicada. A sensação de falta de ar freqüentemente é lenta e progressiva no início e ocorre tardiamente na evolução da doença, caracteristicamente no final da sexta ou na sétima década de vida. Uma exceção notável é a deficiência de alfa1antitripsina, na qual a sensação de falta de ar começa mais cedo (média de idade aproximadamente de 45 anos)4. Os dois fatores de risco mais comuns são o tabagismo (responsável por 90% de todas as mortes relacionadas com a DPOC) e a deficiência da alfa1antitripsina. Foi observado que a incidência da DPOC aumenta de 19,7% em homens que nunca tinham fumado para 87,7% em fumantes de mais de dois maços de cigarro/dia. Dito de outra forma, o perigo de desenvolver DPOC em um grupo de fumantes de dois maços de cigarros/dia é aproximadamente 4,5 vezes maior que para os não-fumantes. A exposição repetida ao cigarro resulta em inflamação crônica, além de tosse produtiva5. A DPOC é um grande problema de saúde pública mundial, sendo a quarta causa de morte no mundo, e a quinta no Brasil, além de ser responsável por intensa morbidade 6,7. A partir de dados do DATASUS se pode ter uma noção do impacto desta doença sobre a população brasileira, onde o número de internações (SUS) de indivíduos com mais de 40 anos em 2004 foi de 191.681 pacientes, onde 34.857 evoluíram a óbito e gerando um gasto com as internações (SUS) de 86 milhões de reais. Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente 2006 • 11 *Bolsista FUNADESP Faculdade Comunitária de Santa Bárbara DPOC - Uma revisão bibliográfica Um estudo multicêntrico foi realizado em cinco centros da América Latina (Projeto Platino): São Paulo, Cidade do México, Montevidéu, Santiago e Caracas. Neste estudo, foram avaliados adultos de 40 anos ou mais com espirometria pré e pós broncodilatador. O estudo revelou prevalência de DPOC na grande área metropolitana de São Paulo de 15,8%, utilizando como definição de DPOC a relação fixa: VEF1/FVC < 70% após broncodilatador. Outro trabalho, realizado em Pelotas (RS), com adultos de 40 anos ou mais, em amostra de base populacional, mostrou prevalência de DPOC, segundo o critério da relação fixa sem o uso do broncodilatador, semelhante ao de São Paulo (15,2%), apesar de apenas parte da amostra ter realizado espirometria (22%)5. Antigamente, o sexo masculino era considerado como o maior risco para desenvolver DPOC. Hoje já se sabe que os números de prevalência e mortalidade são muito próximos, independente do sexo, principalmente porque as mulheres passaram a consumir mais tabaco nos últimos anos. Nem todos os fumantes desenvolvem DPOC clinicamente. A exposição passiva á fumaça de cigarro também pode contribuir para sintomas respiratórios e para a DPOC. Embora menos importantes que o cigarro, as exposições suficientemente intensas e prolongadas à poeira, produtos químicos ocupacionais (gases, fumaça, irritantes) e poluição intra e extra domiciliar tem sido considerado como fator de risco para o desenvolvimento da DPOC. Um problema importante é a informação incompleta sobre as causas e a prevalência da DPOC, especialmente em países em desenvolvimento1. Para ratificar tal afirmação, um dado interessante extraído do Estudo Platino foi que apenas um terço dos pacientes diagnosticados durante o estudo através da espirometria como portadores de DPOC tinham recebido previamente o diagnóstico dessa enfermidade. Dado que mostra o subdiagnóstico significativo da doença. OBJETIVOS Os objetivos deste estudo foram apontar as principais causas e conseqüências da doença, esclarecer os métodos utilizados para a avaliação e diagnóstico da mesma e relatar os métodos de tratamento dos portadores de DPOC. MÉTODOS Para tal realizamos uma revisão bibliográfica acerca do assunto, mediante análise de artigos científicos nacionais dos últimos seis anos na base de dados LILACS (palavras chaves: DPOC, GOLD, tratamentos e qualidade 12 • Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente 2006 vida), livros e sites especializados. RESULTADOS E DISCUSSÃO Atualmente a DPOC é considerada como uma doença inflamatória crônica das vias aéreas, parênquima dos vasos pulmonares com repercussões sistêmicas. A ativação das células inflamatórias libera uma variedade de mediadores inflamatórios: interleucina (IL-8), fator de necrose tumoral (TNF-alfa), leucotrieno B4 (LT-B4), entre outros, são capazes de agredir as estruturas pulmonares e manter a inflamação de origem neutrofílica. Estresse oxidativo e desequilíbrio entre proteinases e antiproteinases também são alterações fisiopatológicas presentes6. A grande causa da agressão pulmonar e do desenvolvimento do processo inflamatório é a exposição a partículas e gases inalados, principalmente provenientes da fumaça do cigarro. Entretanto, existe uma alteração genética de uma proteína (alfa -1- antitripsina) que determina a ocorrência de uma minoria dos casos da doença. Um modelo explicativo a deficiência é que a elastina pulmonar, uma importante proteína estrutural que suporta as paredes alveolares dos pulmões, normalmente é protegida pela alfa-1-antitripsina, uma proteína que se opõe à ameaça de degradação da elastase dos neutrófilos. A eslatase dos neutrófilos é uma proteína que existe no interior dos neutrófilos e que é liberada quando eles são atraídos aos pulmões durante uma inflamação ou infecção. Sob circunstâncias normais de uma quantidade adequada de alfa-1-antitripsina, a elastase dos neutrófilos é neutralizada de modo a não digerir a elastina pulmonar. No entanto, em face de uma deficiência severa de alfa1-antitripsina, a elastase dos neutrófilos pode não ser controlada e provocar a ruptura da elastina e acarretar a dissolução das paredes alveolares 4,8,9. (Egan 2000) (http://www.respirefacil.com.br) (http://www.medicina tual.com.br). As alterações patológicas nos pulmões acabam por levar a alterações funcionais que caracterizam a doença: hipersecreção mucosa, disfunção ciliar, limitação ao fluxo aéreo, hiperinsuflação pulmonar, alterações nas trocas gasosas, hipertensão pulmonar e cor pulmonale. Elas geralmente se desenvolvem nessa ordem durante o curso da doença1,6. A hipersecreção mucosa e a disfunção ciliar levam a tosse crônica e a produção de expectoração. Tais sintomas podem se fazer presentes durante muitos anos, antes que outros sintomas ou anomalias fisiológicas se desenvolvam. A limitação do fluxo aéreo expiratório, melhor medida por meio da espirometria, é a alteração fisiológica típica da DPOC e o elemento fundamental para o DPOC - Uma revisão bibliográfica diagnóstico da doença. Ela se deve, primeiramente, a obstrução fixa das vias aéreas e ao conseqüente aumento na resistência das mesmas. A destruição de conexões alveolares, que inibe a habilidade das pequenas vias aéreas de se manterem desobstruídas, desempenha um papel de menor importância1. Na DPOC avançada, a obstrução das vias aéreas, a destruição parenquimatosa e as anomalias vasculares pulmonares reduzem a capacidade do pulmão de realizar trocas gasosas, produzindo hipoxemia e, mais tarde, hipercapnia. A hipertensão pulmonar, que se desenvolve tardiamente no curso da DPOC (estádio III: DPOC grave), é a principal complicação cardiovascular da DPOC e está associada ao desenvolvimento de cor pulmonale e a um prognóstico ruim. A prevalência e a historia natural de cor pulmonale na DPOC ainda não estão claras1. Os fatores de risco da DPOC incluem tanto os fatores do hospedeiro quanto as exposições ambientais e a doença geralmente surge da interação entre esses dois tipos de fatores. O fator do hospedeiro melhor documentado é a deficiência hereditária de alfa-1antitripsina, já citado anteriormente, entretanto, a hiperresponsividade das vias aéreas, que é distúrbio complexo relacionado ao número de fatores genéticos e ambientais e o crescimento pulmonar, este relacionado aos processos que ocorrem durante a gestação, ao peso ao nascimento e às exposições durante a infância, também é documentada. Os principais fatores ambientais são a fumaça do tabaco, como descrito previamente, a exposição excessiva às poeiras e produtos químicos ocupacionais, a poluição do ar intra/extra domiciliar, infecções e o status socioeconômico1. Dentre as exposições citadas acima, descrevemos: - Fumaça do tabaco: os fumantes de cigarro possuem uma maior prevalência de anomalias relacionadas à função pulmonar e de sintomas respiratórios, uma maior taxa anual de declínio em VEF1 e taxas mais elevadas de morte por DPOC do que os não fumantes. Os fumantes de cachimbo e de charuto possuem taxas mais elevada de morbidade e mortalidade por DPOC do que os não fumantes, embora suas taxas sejam mais baixas quando comparadas àquelas de fumantes de cigarro1,5,10. A exposição passiva a fumaça de cigarro também pode contribuir para sintomas respiratórios e para a DPOC, mediante o aumento do impacto total de partículas e gases inalados pelos pulmões. O tabagismo durante a gravidez também pode apresentar risco ao feto, prejudicando o crescimento pulmonar e desenvolvimento no útero e possivelmente o amadurecimento do sistema imunológico. - Poeiras e produtos químicos ocupacionais: quando as exposições são suficientemente intensas ou prolongadas, as poeiras e produtos químicos ocupacionais podem causar a DPOC independentemente do tabagismo e aumentar o risco da doença na presença simultânea do mesmo. A exposição às matérias minúsculas, irritantes, poeiras orgânicas e agentes sensibilizadores podem causar um aumento na hiperresponsividade das vias aéreas, especialmente nas já acometidas por outras exposições ocupacionais, fumaça de cigarro ou asma. - Poluição do ar intra/extra domiciliar: o papel da poluição do ar extra -domiciliar e o aparecimento da DPOC é obscuro, mas parece ser pequeno quando comparado ao tabagismo. A poluição do ar intradomiciliar proveniente do combustível de biomassa, utilizado para cozinhar e aquecer residências pouco arejadas tem sido considerado um fator de risco para o desenvolvimento da DPOC. - Infecções: uma história de infecção respiratória grave na infância tem sido associada à função pulmonar reduzida e a sintomas respiratórios aumentados na fase adulta. - Status sócio-econômico: há evidências de que o risco de desenvolvimento é inversamente proporcional ao status socioeconômico, não estando claro se este padrão reflete exposições a poluentes do ar intra e extradomiciliar, a aglomerações, a má nutrição ou a outros fatores1. O estereótipo do portador de DPOC é aquele individuo com idade superior a 40 anos e tabagista por longa data, que apresenta os seguintes sintomas respiratórios5: - Tosse: geralmente produtiva, com expectoração mucóide, eventualmente purulenta, de pequena a moderada quantidade, de duração prolongada de dias a meses, e apresentando-se com intensidade variada ao longo do tempo. - Dispnéia: apresenta-se inicialmente aos grandes esforços, podendo progredir com o evoluir da doença, ao longo de anos, até aos mínimos esforços. - Sibilância: é relatada em intensidade variável, pode estar ausente em alguns pacientes. O diagnóstico da DPOC deve ser levado em consideração em qualquer paciente que apresente sintomas de tosse, produção de expectoração ou dispnéia e/ou uma história de exposição aos fatores de risco da doença, onde a confirmação se dá pelo exame da espirometria1. A espirometria nos permite assegurar a existência de limitação ao fluxo aéreo, fator considerado como indispensável na definição de DPOC, mediante análise dos volumes pulmonares. Ela auxilia ainda na condução dos pacientes ao permitir estadiá-los de acordo com a gravidade da obstrução, e seguir condutas Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente 2006 • 13 DPOC - Uma revisão bibliográfica específicas de acordo com tal estadiamento5,11. Os elementos mais importantes de uma espirometria são: a capacidade vital (CV) ou a capacidade vital forçada (CVF), o volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) e a relação entre eles (VEF1/CVF ou VEF1/CV). Tipicamente na DPOC teremos uma redução de todos estes elementos, embora não habitualmente, a CVF pode estar acima de 70% do previsto em pacientes com DPOC. A relação VEF1/ CVF abaixo da normalidade caracteriza a presença de obstrução e a redução do VEF1 reflete a sua intensidade 5. Neste teste há uso de broncodilatador inalado, geralmente um beta 2 adrenérgico, embora o teste possa também ser realizado com um anticolinérgico. Um aumento do VEF1 pós broncodilatador em relação ao pré broncodilatador igual ou superior a 12% e com valor absoluto desta variação Fonte: II Consenso Brasileiro sobre DPOC-2004. igual ou superior a 200 ml, caracteriza A redução da terapia, uma vez que o controle do um teste positivo. Isto indica que existe um grau de sintoma tenha sido alcançado, não é normalmente possível reversibilidade importante do distúrbio funcional, sendo na DPOC. A deterioração posterior da função pulmonar esta variação mais típica da asma, mas podendo ser geralmente requer a introdução progressiva de mais também observada em pacientes com DPOC que tratamentos, seja farmacológico ou não farmacológico, apresentem broncoespasmo reversível associado. A com o objetivo de limitar o impacto destas alterações na ausência de resposta broncodilatadora é típica da DPOC, qualidade de vida dos pacientes.(GOLD) isto não significa que o broncodilatador não terá efeito O tratamento farmacológico disponível é composto benéfico para o paciente5. basicamente de drogas broncodilatadoras: beta-2Mediante analise de fatores clínicos, valores agonistas, anticolinérgicos, metilxantinas e a terapia de espirométricos e gasométricos, podem-se estadiar a combinação entre elas, que pode aumentar o grau de doença em níveis de gravidade, com a finalidade de dar broncodilatação com efeitos colaterais e equivalentes ou uma idéia do prognóstico da doença e propor condutas de menor intensidade. Essa terapia é considerada terapêuticas de acordo com a gravidade da mesma. Tal fundamental para o tratamento sintomático da DPOC, estadiamento pode ser observado na tabela 1, conforme sendo prescrita quando necessário ou de forma regular, demonstrado no último consenso de DPOC da Sociedade preferencialmente por via inalatória. O uso apropriado Brasileira de Pneumologia e Tisiologia5. destas drogas pode diminuir a limitação ao fluxo aéreo, As metas do tratamento efetivo da DPOC visam reduzir a dispnéia, aumentar a capacidade ao exercício e impedir a progressão da doença, aliviar os sintomas, melhorar a qualidade de vida 5. aumentar a tolerância aos exercícios, melhorar a condição Os dispositivos empregados para a administração de saúde, evitar e tratar as complicações e exacerbações de medicações por via inalada se dividem basicamente e por fim reduzir a mortalidade. Essas metas devem ser em três grupos: nebulizadores, aerossóis dosimetrados alcançadas com um mínimo de efeitos colaterais ou spray (forma mais conhecida de “bombinha”) e provenientes do tratamento, sendo que elas variam de inaladores de pó. A escolha do dispositivo mais adequado individuo para individuo e alguns tratamentos produzirão depende de vários aspectos e deve ser individualizada. A benefícios em mais de uma área. Os benefícios e riscos preferência pessoal do paciente deve ser levada em e os custos diretos e indiretos da conduta terapêutica, consideração, bem como a sua capacidade de utilizar devem ser levados em consideração1. corretamente o dispositivo, potencializando a adesão ao 14 • Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente 2006 DPOC - Uma revisão bibliográfica tratamento 5. Os broncodilatadores inalatórios de curta ação (beta-2-agonistas de curta ação e/ou ipratrópio) estão indicados como medicação de resgate ou alivio dos sintomas eventuais da DPOC. Assim, no tratamento de pacientes na fase inicial da doença (estádio I), o broncodilatador de curta ação pode ser a única medicação necessária para o tratamento desses pacientes. No entanto, o uso por mais que 4 a 5 vezes por semana pressupõe necessidade de uso contínuo, sendo necessário adicionar ao tratamento um broncodilatador de longa ação 5. Os broncodilatadores de longa ação (beta-2agonista ou tiotrópio) estão indicados para o tratamento de pacientes com DPOC que apresentam sintomas persistentes. O seu uso deve ser contínuo e não há evidência definida por qual grupo de broncodilatadores deve ser iniciada a terapêutica de manutenção, podendo ser usado o beta-2-adrenérgico ou um anticolinérgico. A associação das duas classes de broncodilatadores é recomendada para pacientes que permanecem sintomáticos apesar do uso regular de um deles5. As xantinas apresentam efeito broncodilatador inferior ao dos beta-2-agonistas e dos anticolinérgicos além de ter uma margem terapêutica muito próxima da margem tóxica. De tal forma, que são consideradas como terceira opção no tratamento broncodilatador da DPOC. Estão formalmente indicadas quando o paciente com DPOC permanece sintomático apesar do uso regular de um beta-2-agonista de longa ação e do tiotrópio. No entanto, em função do seu baixo custo, as xantinas também podem ser empregadas nas situações em que o paciente, por motivos financeiros, não pode utilizar um broncodilatador de longa ação. É importante lembrar que quando se está usando a aminofilina ou teofilina é preciso monitorizar periodicamente a teofilinemia. O mesmo não é necessário quando se está usando a bamifilina que tem base terapêutica mais ampliada5. De acordo com o GOLD, o corticóide sistêmico, seja oral ou parenteral, não deve ser usado em pacientes com DPOC estável5. O uso prolongado da medicação por esta via de administração pode levar á longo prazo ao surgimento de efeitos colaterais como: miopatia esteroide, hipertensão arterial sistêmica, osteoporose, diabete mellitus e catarata. (cibersaude). O tratamento não farmacológico da DPOC engloba a cessação do tabagismo, a oxigenioterapia, reabilitação pulmonar, cirurgia redutora de volume pulmonar ou até mesmo transplante pulmonar6. A cessação do tabagismo é a única medida mais efetiva e com o melhor custo efetividade para redução do risco de desenvolvimento de DPOC ou interrupção na progressão da mesma1. O relatório de Serviço Público de Saúde recomenda um programa para intervenção composto por cinco etapas, que fornecem uma estrutura estratégica útil para os responsáveis, pelo tratamento de saúde, interessados em ajudar seus pacientes a pararem de fumar (argua, aconselhe, avalie, auxilie e acompanhe seu paciente).Três tipos de aconselhamento são especialmente efetivos: o aconselhamento prático, o apoio social como parte do tratamento e o apoio social estabelecido fora do tratamento, além do tratamento medicamentoso1. Diante da presença do estresse oxidativo na patogênese da DPOC, estudos têm avaliado os benefícios de substâncias antioxidantes, em especial da N-acetilcisteína (NAC), no tratamento dessa doença. Recentemente, o papel da NAC no tratamento da DPOC ficou bem documentado no estudo BRONCUS, onde foram avaliados, durante três anos, pacientes com DPOC, com idade entre 40 e 70 anos, com pelo menos duas exacerbações por ano, com VEF1 entre 40% e 70% do previsto e resposta broncodilatadora negativa. Entre os pacientes mais graves, com VEF1 < 50% do previsto ou com mais de duas exacerbações por ano, o tratamento com NAC, comparado com o placebo, reduziu a taxa de declínio do VEF1 e a hiperinsuflação, demonstrada pela redução na capacidade residual funcional. Entre os pacientes que não estavam usando corticóide inalado, a NAC reduziu a ocorrência de exacerbações e melhorou a qualidade de vida, avaliada pelo Questionário Respiratório St. George 5,12,13,14. Outra possibilidade de tratamento não medicamentoso é a utilização de oxigênio por estes pacientes quando necessário, onde a indicação da oxigenoterapia baseia-se em dados gasométricos e clínicos, que devem ser obtidos quando o paciente está em período estável. A oxigenoterapia deve ser mantida por pelo menos 15 horas por dia. O melhor método, e o mais barato, para se administrar oxigênio é através dos concentradores de oxigênio5. Constituem indicação para a prescrição de oxigenoterapia prolongada domiciliar a baixos fluxos os seguintes achados laboratoriais e de exame físico: PaO2 ≤ 55mmHg ou saturação ≤ 88% em repouso; PaO2 entre 56 e 59mmHg com evidências de cor pulmonale ou policitemia5. Ainda, dentro do grupo dos não medicamentos, temos a Reabilitação Pulmonar, que é um programa multiprofissional de cuidados a pacientes com alteração respiratória crônica que engloba o estabelecimento de diagnóstico preciso da doença Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente 2006 • 15 DPOC - Uma revisão bibliográfica primária e de comorbidades associadas, tratamento otimização do tratamento clinico e participação em farmacológico, nutricional e fisioterapêutico; programa de reabilitação pulmonar. • Transplante pulmonar: nos portadores de recondicionamento físico, apoio psicossocial e educação, adaptado às necessidades individuais para otimizar a DPOC o transplante deve ser reservado aos doentes com autonomia, o desempenho físico e o social destes doença grave ou muito grave que apresentam alguma pacientes, também é utilizado como tratamento da contra-indicação à cirurgia redutora de volume, ou aos que, tendo sido a ela submetidos, retornem doença. A reabilitação pulmonar está indicada a todos os progressivamente à condição de incapacidade funcional pacientes que apresentam dispnéia, reduzida tolerância por progressão da doença5. ao exercício, restrição nas suas atividades, apesar de já As orientações terapêuticas para o tratamento da estarem no máximo da terapêutica medicamentosa DPOC de acordo com os estádios da doença estão pertinente 5. Pacientes em qualquer estádio da DPOC descritos na Tabela 25. podem beneficiar-se em algum grau de reabilitação pulmonar e deveriam ser encaminhados ao programa. O habitual é o paciente ser encaminhado em uma fase avançada da doença. Os grupos especializados em reabilitação têm feito esforços para mudar esta atitude do médico e de outros profissionais da área de saúde respiratória, incentivando-os a encaminharem os pacientes na fase menos avançada da doença. O acesso a programas formais de reabilitação pulmonar pode ser difícil em determinadas localidades, de tal forma que o médico que assiste o paciente com DPOC deve entender que o simples fato de estimular o indivíduo a realizar atividades físicas regularmente (exemplo: caminhadas) trará benefícios significativos para o paciente5. Em algumas situações específicas, pode haver indicação cirúrgica como parte complementar ao tratamento clínico da DPOC: • Cirurgia de bulectomia: consiste na excisão cirúrgica de grande bolha de enfisema (bolha que comprometa mais de 50% da área pulmonar). (pneumoatual) • Cirurgia redutora de volume: é uma operação que consiste na ressecção das áreas pulmonares mais intensamente afetadas pelo enfisema, de modo a permitir que áreas remanescentes, também doentes, porém Fonte: II Consenso Brasileiro sobre DPOC-2004 menos comprometidas, possam realizar sua função. Pode ser uma alternativa para indivíduos com A Fisioterapia Pulmonar constitui componente de doença grave ou muito grave, com áreas de enfisema grande valor para o tratamento dos pacientes com concentrada nos lobos pulmonares superiores e que DPOC. O plano fisioterapêutico visa oferecer o melhor apresentam baixa capacidade de exercício, mesmo após comportamento funcional do paciente, sendo útil o seu 16 • Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente 2006 DPOC - Uma revisão bibliográfica início o mais precocemente possível. Este plano, consta de exercícios respiratórios, exercícios de tosse, drenagem postural de todos os segmentos pulmonares, técnicas de percussão torácica associados à drenagem postural, prática de exercícios destinados a coordenar a atividade física com a respiração, movimentação ativa e passiva dos membros superiores e inferiores em associação com a terapêutica inalatória15. Os exercícios respiratórios têm como objetivos na DPOC melhorar o desempenho do fole torácico aproveitando as reservas ventilatórias. Eles usam, portanto, melhorar o tônus e o desenvolvimento do diafragma e de grupos musculares das porções inferiores do tórax. Esses exercícios incorporam técnicas que incluem: (1) o uso de posicionamento corporal para aumentar a vantagem mecânica do diafragma; (2) controle do padrão respiratório em repouso e durante exercício para diminuir a retenção de ar e o trabalho da respiração e (3) técnicas de relaxamento para diminuir o consumo de oxigênio e ajudar o paciente a ganhar autocontrole de seu padrão respiratório15. Estudos vêm demonstrando benefícios do treinamento da musculatura inspiratória em pacientes com DPOC, principalmente em relação ao aumento da capacidade de exercícios e redução da dispnéia. Um estudo recente (2004) avaliou os benefícios a curto e em longo prazo do treinamento da musculatura inspiratória na sua performance, na tolerância ao exercício e na percepção da dispnéia, e concluiu que pacientes portadores de DPOC submetidos a treinamento de força e resistência da musculatura inspiratória apresentaram melhora na performance dos exercícios, no teste de caminhada de 6 min e na sensação da dispnéia, sem melhoras significativas na espirometria. Os benefícios do treinamento declinam se houver suspensão dos exercícios15. A maior propensão dos músculos ventilatórios à fadiga muscular torna cabível a introdução de períodos de repouso, alternados com a fisioterapia e, eventualmente, o treinamento muscular específico. O presente estudo comprova a atuação da fisioterapia na melhora da sobrevida do paciente, aumentando a capacidade de ventilação/perfusão, reeducando postura e músculos inspiratórios e expiratórios e dando maior independência ao paciente, sendo que os resultados são ainda melhores se feitos com uma equipe multidisciplinar, para retirar a ansiedade, depressão e outras complicações do paciente portador de DPOC15. Velloso (2004) mostrou que a técnica de conservação de energia também é eficaz na diminuição do consumo de oxigênio e da sensação de dispnéia, quando associado ao programa de reabilitação pulmonar16. CONCLUSÕES O presente estudo mostrou que dentro das possibilidades causais da doença, a mais prevalente é o tabagismo e como conseqüência, a mesma acarreta em diminuição da função pulmonar, comprometimento do sistema cardiopulmonar, inflamação sistêmica periférica, sensação de dispnéia levando à alteração da qualidade de vida. O diagnóstico da doença se dá mediante análise dos valores observados no exame de espirometria pré e pós broncodilatador. Mediante análise de fatores clínicos, valores espirométricos e gasométricos pode-se estadiar a doença em níveis de gravidade. A análise da literatura mostrou que dentre os métodos de tratamento temos, os medicamentosos e os não medicamentosos, que incluem oxigeno terapia, reabilitação pulmonar, cirurgia pulmonar e fisioterapia respiratória. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. http://www.golddpoc.com.br. Acessado em 26/10/2006. 2. Goodman, CC; Snyder, T E K, Diagnóstico Diferencial em Fisioterapia, 3ª ed., Ed. Guanabara Koogan, 2002. 3. http://www.respireviva.com.br . Acessado em 17/08/2006. 4. http://www.respirefacil.com.br . Acessado em 17/08/2006. 5. http://www.pneumoatual.com.br . Acessado em 23/09/2006. 6. http://www.cibersaúde.com.br . Acessado em 03/10/2006. 7. http://www.sbpt.org.br . Acessado em 11/05/2006. 8. http://www.medicinatual.com.br . 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