Gestão tecnológica - Etica Professor : Edson Jacinski I

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
CAMPUS PONTA GROSSA
GERÊNCIA DE ENSINO E PESQUISA
COORDENAÇÃO DO CURSO SUPERIOR DE AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL
Unidade Curricular: Gestão tecnológica - Etica
Professor : Edson Jacinski
I - A QUESTÃO ÉTICA
A) Experiência primordial do ser humano:
Senso moral, consciência, caráter, responsabilidade, virtudes X vícios, moral/ética,Valores
morais, códigos morais, ético X anti-ético (bem X mal), ética profissional, moral e bons
costumes, felicidade, dignidade, justiça, honradez, dilemas morais, desafios éticos ...
B) Presente em diferentes campos das atividades humanas (ética aplicada):
político: crise política (interesses públicos X interesses privados); crise das relações de poder
na sociedade...
social: desigualdade / exclusão social - digital/ violência urbana e agrária... /ética na mídia;
direitos humanos, movimento pró-qualidade de vida, direito das crianças e adolescentes /
idosos /
cultural: interculturalidade;
diversidade e conflito cultural, étnico, religioso;direito das minorias...
econômico/ profissional: ética profissional /ética nos negócios / responsabilidade social das
empresas /emergência do Terceiro Setor...
Sites relacionados:
www.ethos.org.br
www.ibase.org.br
www.balancosocial.org.br
www.dieese.org.br
www.idec.org.br
www.responsabilidadesocial.com
científico/tecnológico: bioética/ciberética/questão dos transgênicos/engenharia genética;
biopirataria ;responsabilidade social do pesquisador...
ecológico: relação ser humano X natureza ,consciência ecológica,sócio-ambiental,
desenvolvimento sustentável ...
II - QUESTIONANDO O SER ÉTICO
A) Concepção individualista
sociedade da competição, compromisso com o sucesso, hegemonia da tecnocracia ou
da racionalidade instrumental (Escola de Frankfurt)
percepção predominantemente individualista das relações humanas: “A minha
liberdade termina onde começa a do outro”
consciência moral narcísica/ “o eu mínimo” (Jurandir Freire Costa)
B) concepção autoritária
moralismo/dogmatismo/fundamentalismos/legalismo/
preconceitos sociais/culturais....
(restringe a ètica ao campo da ética normativa ou seja às regras morais estabelecidas...)
Ex. dessa visão autoritária:
Assim se prova que os índios são inferiores
(segundo os conquistadores dos séculos XVI e XVII)
Suicidam-se os índios das ilhas do Mar do Caribe?
Porque são vadios e não querem trabalhar.
Andam desnudos, como se o corpo todo fosse a cara? Porque os selvagens não têm pudor.
Ignoram o direito de propriedade, tudo compartilham e não têm ambição de riqueza?
Porque são mais parentes do macaco que do homem.
Banham-se com suspeitosa freqüência? Porque se parecem com os hereges da seita de
Maomé, que com justiça ardem nas fogueiras da Inquisição.
Acreditam nos sonhos e lhes obedecem as vozes? Por influência de Satã ou por crassa
ignorância.
É livre o homossexualismo? A virgindade não tem importância alguma? Porque são
promíscuos e vivem na ante-sala do inferno.
Jamais batem nas crianças e as deixam viver livremente?
Porque são incapazes de castigar e de ensinar.
Comem quando têm fome e não quando é hora de comer?
Porque são incapazes de dominar seus instintos.
Adoram a natureza , considerando-a mãe, e acreditando que ela é sagrada? Porque são
incapazes de ter religião e só podem professar idolatria
(GALEANO, Eduardo. De pernas pro ar: a escola do mundo ao avesso.
S.Paulo: L&PM,1999)
Outro exemplo pode ser visto no filme “Filadélfia”, que narra a luta judicial/ética de um
advogado contra sua demissão injusta, baseada no preconceito sexual...
maquiavelismo: “o fim justifica os meios” política desvinculada da ética
Ex.: Hiroshima/Nagazaki - ditadura militar no Brasil, etc.
razão iluminada / ética como campo dos especialistas (crítica de Jacques
Derrida – texto Ética e Linguagem) ou dos que se acham “a ética”
- pressupõe uma consciência moral heterônoma, ou seja que se submete passivamente a
qualquer norma moral, denominada pelo filósofo alemão Nietzche de“moral de rebanho”
C) A ética como marketing
moral como mera imagem social profissional/ ou estratégia econômica e política
visando fins econômicos, políticos,etc. Nesse sentido ela tem muito há ver com uma visão
“farisaica” da ética ou torna-se meramente retórica(discurso sem prática ou efetividade).
Ver monografia crítica: “O negócio da ética” no site www.ethos.org.br
D) Relativismo moral
impossibilidade de existir referências éticas universais e o relativismo histórico e
cultural das regras morais.
tal questão está sempre presente num mundo cada vez mais globalizado e que leva`a
necessidade de saber como conviver com as diferentes culturas.
pressupõe a necessidade de debater a ética nos seus fundamentos (metaética)
III – ÉTICAS EM EMERGÊNCIA (metaética)
A) Ética da solidariedade e do cuidado
Sentido metafórico de ética: Ethos: morada humana/ cuidado com a nossa casa
(natural/física/psíquica /familiar / social...) (Leonardo Boff)
supõe outra forma de perceber o mundo,a partir da sua complexidade , diversidade
e interatividade indissolúveis(Edgar Morin) e o desenvolvimento de uma grande
sensibilidade para com os outros (familiares, amigos, colegas de profissão,clientes...), a
sociedade (consciência política), o meio ambiente (consciência ecológica).
-TAL VISÃO ÉTICA une
-o aspecto social ( - ethos {vogal longa} - mos moris(moral) significam costumes de
um povo);
e
o aspecto pessoal
(ethos {vogal breve} - significa temperamento, caráter)
- pressupõe a recuperação da visão grega do ser humano que não separa o pessoal e o social;
o público e o privado:
“o homem é um animal político”
(Aristóteles)
Estimula a ética como vivência social e política , em que as questões pessoais fazem parte de
um contínuo debate e questionamento público...
- Contrapõe-se à ética na perspectiva individualista.
B) Ética da resistência
espaço político de questionamento dos valores sociais, materializados nas decisões
econômicas, políticas, jurídicas, culturais consideradas injustas ou inadequadas...
demanda o exercício da cidadania no sentido mais amplo e variado, incluindo a
militância nos movimentos sociais, ecológicos, instituições políticas, religiosas, culturais,
ONGs ...
- pressupõe uma consciência moral autônoma (Kant), crítica e dialógica, ou seja, disposta a
questionar e dialogar com o “status quo” social, profissional, cultural,etc. quando se
apresentam como injustos ou inadequados. Ex. o reconhecimento profissional/ institucional
do tecnólogo na atualidade....
“a ética não pode reduzir-se ao político (e jurídico), assim como o político (e jurídico ) não
podem reduzir-se à ética”(Edgard Morin)
(é importante problematizar as diferenças e semelhanças entre ética/moral e direito; a ética
vai muito além das questões legais ou burocráticas...)
C) Ética do debate
Ética como campo de incerteza ou indecidibilidade(J. Derrida no texto Ética e
Linguagem): não temos balizas morais seguras e definitivas para resolver os conflitos e
dilemas éticos do cotidiano...
demanda um espaço(público) de argumentação e negociação ; a adesão às normas
necessita passar pela reflexão e interlocução com os outros ou ainda pelo debate público.
(chamada de razão comunicativa pelo filósofo J.Habermas...)
só é possível de se realizar num ambiente democrático , que possibilite a livre
manifestação da sociedade, dos grupos sociais, etc.
D) Ética da alteridade / responsividade / responsabilidade
O senso ético surge a partir da experiência primordial e inevitável da alteridade
(Emmanuel Levinas)
A emergência dos vários outros (familiares, amigos, colegas de profissão, clientes,
sociedade, entidades sociais...) com os quais convivemos nos impõe a necessidade de a eles
responder...(esse é um dos sentidos básicos da questão da responsabilidade moral)
O poema de Paulo Leminski(abaixo) ajuda a pensar sobre a nossa condição humana
de interatividade permanente com os outros:
Contra-narciso
Em mim eu vejo o outro e outro e outro...
Enfim dezenas, trens dezenas,trens passando ,
vagões cheios de gente,centenas ....
O outro que há em mim é você, você e você
Assim como eu estou em você
eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que
estejamos a sós
Paulo Leminski

O outro não é simples e homogêneo e igual, ao contrário é complexo heterogêneo e
único em sua diferença : a interação se dá entre diversidades
(conceito de dialogicidade de Edgar Morin e M. Bakhtin – texto Etica e Linguagem –
Carlos Alberto Faraco)
 Tal visão pode ser considerada um dos fundamentos da visão ética empresarial
relacionada à Responsabilidade Social, que pressupõe a necessidade das Empresasdarem
respostas aos seus vários “outros”: funcionários, clientes, comunidade, Estado, meio
ambiente,etc.
E) Ética e linguagem
A ética da alteridade traz consigo alguns problemas relacionados à linguagem:
Nossos dizeres são polissêmicos e não temos controle racional absoluto sobre o que
significamos, nem sobre como nossos enunciados vão adquirindo significação para os outros
- Interação ética: há necessidade de adaptar nossa linguagem à diversidade dos nossos
interlocutores e nos colocarmos numa posição contínua de negociação dos significados dos
nossos dizeres,escritos,gestos,etc...
“Só a contínua sensibilidade para os outros poderá nos dar algumas balizas (incertas...) para
o dizer” (Carlos ªFaraco – texto Ètica e Linguagem)
F) Questão Nietzchiana:
“que estamos a fazer de nós mesmos?”
A ética , em última instância, está sempre relacionada à busca da felicidade que como o
próprio termo revela (feliz – cidade) não é uma busca meramente pessoal, mas coletiva.
Tais questionamentos ganham um caráter existencial:
- quais são os dizeres, as ideologias, os discursos, crenças, sonhos, desejos,etc. que
constroem nossa subjetividade? Quais os valores predominantes que norteiam nossos
passos? No que estamos apostando a construção da nossa existência?
Tal reflexão é muito bem expressa no poema abaixo:
INSTANTES
Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito. Relaxaria mais. Seria mais tolo ainda do que tenho sido.
Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério. Seria até menos higiênico. Correria mais
riscos
Viajaria mais,contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios
Iria a lugares onde nunca fui, Tomaria mais sorvete e menos mingau de aveia
Teria mais problemas reais e menos problemas imaginários
Eu fui uma destas pessoas que viveu sensata e rodutivamente cada minuto de minha vida.
Claro que tive momentos de alegria mas,se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente
bons momentos [...]
Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água
quente,
um guarda-chuva e um paraquedas
Se voltasse a viver viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver começaria a andar descalço no começo da primavera e
continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais
crianças.
Se tivesse outra vez uma vida pela frente...
(Atribuído a Borges)
Outros exemplos: música “Ouro de Tolo” (Raul Seixas) ou o filme “Office Space”
Algumas possibilidades de respostas:
- saborear a gratuidade da vida, celebrando a amizade (experiência ética genuína), o amor,
”a dor e a delícia de ser o que se é” (Gal Costa)
- percepção da impossibilidade de podermos manter tudo sob controle: a prática da
tolerância, compreensão, a terapia do riso...
Ex.: filme “ Patch Adams: o amor é contagioso”
-A ética como estética de si mesmo, em que Michel Foucault(filósofo francês) propõe que
busquemos realizar a “vida bela e boa” que, para os gregos antigos, eram inseparáveis....
- O bom combate entre as paixões tristes e as paixões alegres proposto pelo filósofo
Espinosa. Na sua visão só podemos combater o que nos deixa depressivos, estressados,etc.
com paixões alegres e positivas: a amizade, a criatividade e talento, a solidariedade,etc.
Ver textos : “Cabe a você pensar” (Fernando Savater)
Livro/filme : “A insustentável leveza do ser” de Milan Kundera
BIBLIOGRAFIA
BOFF, Leonardo. A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana. São Paulo:
Vozes, 1998.
BORGES, Maria de Lourdes et alii. Ética. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
COSTA, Jurandir Freire. A ética e o espelho da cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1995.
FARACO, Carlos Alberto. Ética e linguagem. Curitiba: UFPR, mimeo.
KOLB, Anton (org.). Ciberética: responsabilidade em um mundo interligado pela rede
digital. São Paulo: Loyola, 2001.
LIPOVETSKY, Gilles. A sociedade pós-moralista. São Paulo: Manolle, 2005.
LEISINGER, Klaus M. & SCHMITT, Karin. Etica empresarial: Responsabilidade global e
geren-ciamento moderno. Petrópolis: Vozes,2002
MORIN, Edgard. A ética do sujeito responsável. São Paulo: Palas Athena, 2000.
_____________. Ciência com consciência. 7.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Russel, 2003.
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