FESURV – UNIVERSIDADE DE RIO VERDE FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES IN VIVO EM TEMPO FIXO (TETF) ALEXANDRE PROTO CONTE Orientadora: Profª. Drª. VIVIAN ALONSO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Medicina Veterinária da Fesurv - Universidade de Rio Verde, como parte das exigências para obtenção do título de Médico Veterinário. RIO VERDE-GO 2010 FESURV – UNIVERSIDADE DE RIO VERDE FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES IN VIVO EM TEMPO FIXO (TETF) ALEXANDRE PROTO CONTE Orientadora: Profª. Drª. VIVIAN ALONSO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Medicina Veterinária da Fesurv - Universidade de Rio Verde, como parte das exigências para obtenção do título de Médico Veterinário. RIO VERDE-GO 2010 ALEXANDRE PROTO CONTE TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES IN VIVO EM TEMPO FIXO (TETF) Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Medicina Veterinária da Fesurv – Universidade de Rio Verde como parte das exigências para obtenção do título de Médico Veterinário. APROVADO EM: 15/06/2010. Profª. MSc. Amanda Carla Acipreste MSc. Paulo Vinícius da Costa Mendes Galvão Profª. Drª. Vivian Alonso (Orientadora) DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a minha mãe Neide Proto dos Santos por ter me proporcionado a oportunidade de realizar o meu maior sonho, ser Médico Veterinário. Ao meu avô Adésio Ferreira dos Santos que me ensinou a ser a pessoa quem sou hoje, minha avó Anelita Proto dos Santos que sempre me amou com todo seu amor e a meus queridos e amados avós Benedita Zanoni e Irio Conte (in memorian). Ao meu padrinho Ricardo Conte (in memorian), que apesar da distância sempre foi um exemplo para minha vida. A todos os meus familiares e amigos que sempre estiveram ao meu lado, me dando forças para seguir em frente nos momentos de dificuldades. Ao amor da minha vida, Taize Lúcia de Oliveira! Meus sinceros agradecimentos a todos! AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus familiares por me proporcionarem a educação e caráter que tenho para seguir minha caminhada. A minha mãe Neide, meu pai Sergio e aos meus queridos avós Adésio, Anelita, Benedita e Irio (in memorian). A todos os meus professores que tiveram paciência, compreensão e dedicação para passar um pouco de seu conhecimento, nos dando base para nos tornarmos Médicos Veterinários. Ao Fernando Proto Leão e a Ana Mônica, que ao final das tardes, sempre tinham aquela cervejinha gelada para acabar com o estresse do dia a dia. Aos meus amigos de alojamento da Sucupira Fazenda Show 2010/1 durante meu estágio curricular, Osny (Delegado), José Felipe (Zé Mijão), Eleonora (Leo Locaaaa), Luiz Fernando (Mineiro), Raimundo Nonato (Coca 600), Rafael Kerkhoff (BT), Andrei Fidelis (meu Patrão), Heitor (Boca) e ao Oscar (Farofa e/ou Carcaça). Ao Dr. Ricardo Alamino Figueiredo, por me proporcionar a oportunidade de estágio na EMBRAPA. Ao Médico Veterinário Paulo Vinícius. A minha professora, coordenadora e orientadora Vivian Alonso. Ao meu calouro eterno Caio (Tatu). Ao quarteto fantástico, meus grandes amigos e irmãos Diego Neves Ribeiro, Juarez Furtado Lima e Pedro Ferreira Leão Neto e a todos os meus amigos de faculdade, vulgo Feios que não poderei escrever todos os nomes aqui porque a Vivian me disse que já tem muitos nomes. RESUMO CONTE, Alexandre Proto. Relatório de estágio curricular supervisionado obrigatório na área de reprodução animal. 2010. 46f. Monografia (Graduação em Medicina Veterinária) – Fesurv - Universidade de Rio Verde, Rio Verde, 20101. O presente relatório tem como objetivo descrever as atividades realizadas durante o Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária realizado na Empresa Nacional de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) – Campo Experimental Sucupira Assis Roberto de Bem (CES), localizado no Distrito Federal, cidade satélite Riacho Fundo II, na área de Reprodução Animal. Dentre as atividades desenvolvidas foi colocada em destaque a transferência de embrião in vivo em tempo fixo (TETF), onde a técnica tem como objetivo um maior aproveitamento de fêmeas doadoras, de alto valor genético e de um macho reprodutor, melhorando a dissipação de animais geneticamente melhorados além da preservação de animais em extinção. PALAVRAS-CHAVE Bovinos, biotecnologia, reprodução, hormônio(s). 1 Banca Examinadora: Profª. Drª. Vivian Alonso (Orientadora); Profª. MSc. Amanda Carla Acipreste Galvão; MSc. Paulo Vinícius da Costa Mendes. LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 Estágios de desenvolvimento embrionário em bovinos.............................. 27 FIGURA 2 Protocolo adotado para superovulação e sincronização de doadoras.......... 32 FIGURA 3 Protocolo adotado para sincronização de receptoras.................................. FIGURA 4 Coleta de embriões utilizando-se sistema fechado...................................... 33 FIGURA 5 Rastreamento dos embriões........................................................................ FIGURA 6 Palheta para transferência de embrião......................................................... 37 33 35 LISTA DE TABELAS TABELA1 Biotécnicas reprodutivas em fêmeas da espécie bovina e eqüina........................ 14 TABELA 2 Biotécnicas reprodutivas em machos da espécie bovina e eqüina....................... 14 TABELA 3 Procedimentos cirúrgicos e pós-cirúrgicos nas espécies suína, ovina e casqueamento de ovinos...................................................................................... 15 TABELA 4 Protocolos de inseminação artificial em tempo fixo (IATF)............................... 15 TABELA 5 Hormônios utilizados para a indução do cio e da ovulação................................. 19 TABELA 6 Protocolo Ovsynch............................................................................................... 21 TABELA 7 Classificação dos embriões segundo a qualidade................................................ 28 TABELA 8 Classificação dos embriões segundo estágio de desenvolvimento...................... 28 LISTA DE ABREVIATURAS BBGA – Banco Brasileiro de Germoplasma Animal. BSA – Bovine Serum Albumin. Bi – Blastocisto inicial. Bl – Blastocisto. Bx – Blastocisto expandido. Bn – Blastocisto em eclosão. Be – Blastocisto eclodido. CES – Campo Experimental Sucupira. CT – Centro Treinamento. CENARGEN - Centro Nacional de Pesquisa de Recursos Genéticos e Biotecnologia. CL – Corpo Lúteo. D0 – Dia 0. D5 – Dia 5. D6 – Dia 6. D7 – Dia 7. D8 – Dia 8. D9 – Dia 9. D14 – Dia 14. D16 – Dia 16. EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. EUA – Estados Unidos da América. eCG/PMSG - Gonadotrofina sérica da égua prenhe. FSH – Hormônio folículo estimulante. GnRH – Hormônio liberador de gonadotrofinas. IA – Inseminação artificial. IATF – Inseminação artificial em tempo fixo. IETS – International Embryo Transfer Society. LH – Hormônio luteinizante. Mo – Mórula. Mc – Mórula compacta. P4 – Progesterona. PGF2α – prostaglandina. PBS – phosphate-buffered saline. S.B.T.E – Sociedade Brasileira de Tecnologia de Embriões. SP – São Paulo. SOV – Superovulação. SFB – Soro fetal bovino. SVC – Soro de vaca em cio. TE – Transferência de embrião. US – Ultrassonografia e/ou Ultrasom. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 12 2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS.................................................................................. 14 3 REVISÃO DE LITERATURA: Transferência de embriões in vivo em tempo fixo (TETF)................................................................................................................................... 16 3.1 Histórico.......................................................................................................................... 16 3.2 Vantagens e desvantagens da TE.................................................................................... 17 3.3 Seleção de doadoras........................................................................................................ 17 3.4 Seleção de receptoras...................................................................................................... 18 3.5 Escolha do reprodutor/sêmen.......................................................................................... 19 3.6 Sincronização do ciclo estral de receptoras..................................................................... 19 3.6.1 Sincronização de cio com PGF2α................................................................................ 20 3.6.2 Ovsynch........................................................................................................................ 21 3.6.3 Sincronização de ovulação com GnRH, estrógeno, progesterona e eCG para TETF.. 21 3.7 Superovulação de doadoras.......................................................................................... 22 3.8 Inseminação das doadoras............................................................................................. 25 3.9 Coleta de embriões........................................................................................................ 25 3.9.1 Classificação embrionária.......................................................................................... 27 3.10 Inovulação..................................................................................................................... 29 4 RELATO DA ATIVIDADE E DISCUSSÃO: TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES IN VIVO EM TEMPO FIXO (TETF)......................................................................................... 31 4.1 Seleção de doadoras........................................................................................................ 31 4.2 Seleção de receptoras...................................................................................................... 31 4.3 Superovulação e indução de ovulação múltipla.............................................................. 32 4.4 Coleta de embriões.......................................................................................................... 33 4.5 Manipulação dos embriões.............................................................................................. 34 4.6 Exame e avaliação de embriões....................................................................................... 36 4.7 Lavagem dos embriões utilizando meio Holding............................................................ 37 13 4.8 Envase dos embriões....................................................................................................... 37 4.9 Inovulação..................................................................................................................... 38 5 CONCLUSÕES.................................................................................................................. 39 REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 40 1 INTRODUÇÃO O presente relatório tem como objetivo descrever as atividades desenvolvidas durante o estagio curricular supervisionado, onde sua primeira etapa foi realizada na EMBRAPA – Campo Experimental Sucupira Assis Roberto de Bem (CES), localizado no Distrito Federal, cidade satélite Riacho Fundo II, no período de 08 de março a 14 de maio de 2010, perfazendo um total de 296 horas, sob a orientação da Médica Veterinária Vivian Alonso e supervisão do Médico Veterinário Ricardo Alamino Figueiredo. Faz parte da fazenda o Banco Brasileiro de Germoplasma Animal (BBGA) que possui cerca de 57 mil doses de sêmen e de embriões conservados em nitrogênio líquido, e cerca de 192 animais de diversas espécies como bovinos, bubalinos, ovinos, caprinos, suínos, asininos e eqüinos que estão alojados na fazenda devido ao risco de extinção, para preservação das espécies e como fonte de pesquisa. Desde 1983 foi feito um trabalho no sentido de identificar os núcleos de criação desses animais rústicos, onde as informações foram coletadas por meio de contato com criadores desses animais sobre o meio em que viveram e vivem. Muitos deles foram encontrados em lugares isolados. Os pesquisadores da EMBRAPA estão coletando sêmen e embriões desses animais para serem congelados e preservados para as gerações futuras. A biotecnologia neste caso é usada como uma ferramenta de preservação, ao contrário das outras linhas de pesquisas que visam principalmente, o melhoramento genético animal. A fazenda Sucupira, conta com dois laboratórios, sendo um de biotécnicas reprodutivas da fêmea, que conta com um Médico Veterinário responsável pela realização das atividades, da EMBRAPA – CENARGEN, o Centro de Treinamento (CT) que é o laboratório do macho onde são feitos experimentos relacionados ao macho como coleta, avaliação e criopreservação de sêmen, sendo este de responsabilidade de um Técnico em Laboratório, além dos alunos de mestrado, os quais desenvolvem projetos de pesquisa, estagiários de várias partes do país e funcionários terceirizados pela empresa Planalto Service, os quais realizam todas as atividades referentes ao manejo agrícola, zootécnico, veterinário e administrativo. Junto ao CT encontra-se o laboratório do BBGA. As instalações contam com três currais para manejo dos animais, sendo um próximo a cada laboratório de biotecnologia e 13 outro para treinamento e manejo geral dos animais. Outra parte do CES é a caprinocultura, suinocultura e ovinocultura que se localizam na mesma área e contam com exemplares de animais dessas espécies objetivando a preservação de animais em extinção e projetos de pesquisa. Na fazenda encontram-se três clones bovinos sendo eles a Vitória da raça Simental que nasceu no dia 17 de março de 2001 com 50 quilos, gerada a partir da célula de um embrião que não nasceu (primeiro clone brasileiro), a vaca Lenda da raça Holandesa nascida em 4 de setembro de 2003, que representou mais um marco para a história da ciência no Brasil: o desenvolvimento do primeiro clone no Brasil a partir de um animal que já estava morto e Potira (in memorian) e Porã da raça Junqueira os últimos clones de sucesso da Embrapa Recursos Genéticos que podem representar uma chance de salvação para a raça Junqueira, hoje praticamente extinta no Brasil. Os seus descendentes ficam em vitrines (piquetes). Na EMBRAPA foram produzidos também as éguas Branca e Neve que são as duas primeiras potras nascidas no Brasil pela técnica de bipartição de embriões. Elas são gêmeas idênticas geradas em úteros distintos, ou seja, foram desenvolvidas a partir de um único embrião, dividido em duas partes iguais, que foram transferidos para duas éguas receptoras, ou "mães de aluguel". "Branca" nasceu no dia 23 de dezembro de 2004 e "Neve" no dia 4 de janeiro de 2005. A escolha pela EMBRAPA-CENARGEN para realização do estágio curricular supervisionado foi devido à existência de alta biotecnologia da reprodução animal e a presença de profissionais qualificados. A segunda etapa do estágio foi realizada na Empresa Juarez Furtado de Lima e Cia afiliada a Lagoa da Serra LTDA, no período de 25 de maio a 14 de junho de 2010, perfazendo 105 horas, em Rio Verde – GO. 2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS Atividades desenvolvidas e/ou acompanhadas durante a realização do Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária, na área de reprodução animal voltada para a área de biotecnologia da reprodução e práticas de manejo em bovinos, eqüinos, caprinos, ovinos e suínos na EMBRAPA - Recursos genéticos e biotecnologia, no período de 08 de março a 14 de maio de 2010, estão descritas nas tabelas 1, 2 e 3. TABELA 1 Biotécnicas reprodutivas em fêmeas da espécie bovina e eqüina. Atividades desenvolvidas Número % Coleta de ovários em abatedouro (número de ovários) 720 45,71 Punção (aspiração) folicular em ovários de abatedouros 60 3,81 Coleta de embriões bovinos por lavagem uterina (número de estruturas) 70 4,44 Coleta de embriões por laparotomia (número de animais) 02 0,13 Número de embriões coletados por laparotomia 16 1,02 Transferência de embriões cirúrgica 02 0,13 Classificação e manipulação de embriões 79 5,02 Coleta de sêmen (bovino) utilizando vagina artificial 87 5,52 Coleta de sêmen (bovino) utilizando eletroejaculador 19 1,21 Inseminação Artificial 37 2,35 Criopreservação de sêmen 73 4,63 Coleta (D7) e re-coleta (D14) de embriões 30 1,91 Superovulação (número de animais) 45 2,86 Protocolo de Sincronização de Receptoras de Embriões 60 3,81 Treinamento de inovulação de embriões em vacas/novilhas 51 3,24 Treinamento com US do aparelho reprodutivo de fêmeas bovinas 93 5,90 Treinamento com US do aparelho reprodutivo de fêmeas eqüinas 69 4,38 Diagnóstico de gestação por palpação retal em éguas 27 1,71 Avaliação de dinâmica folicular em éguas por US 35 2,22 TOTAL 1575 100% TABELA 2 Biotécnicas reprodutivas em machos da espécie bovina e eqüina. Atividades desenvolvidas Número % Coleta de sêmen (bovino) utilizando vagina artificial 87 39,37 Coleta de sêmen (bovino) utilizando eletroejaculador 19 8,60 Criopreservação de sêmen 73 33,03 Acompanhamento de monta natural por garanhão eqüino 42 19,00 TOTAL 221 100 15 TABELA 3 Procedimentos cirúrgicos e pós-cirúrgicos nas espécies suína, ovina e casqueamento de ovinos. Atividades desenvolvidas Número % Casqueamento de ovinos (número de animais) 115 80,98 Necropsia em suínos e jumentos 04 2,83 Tratamento de linfadenite (ovinos) 15 10,56 Tratamentos pós-cirúrgicos 08 5,63 TOTAL 142 100 Atividades desenvolvidas e/ou acompanhadas durante a realização do Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária, na área de reprodução animal voltada para a área de biotecnologia da reprodução na Empresa Juarez Furtado de Lima e Cia. afiliada ao CRV Lagoa – Genética a toda prova, no período de 25 de maio a 14 de junho de 2010, estão descritas na tabela 4. TABELA 4 Protocolos de inseminação artificial em tempo fixo (IATF). Atividades desenvolvidas Número Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) 387 TOTAL 387 3 REVISÃO DE LITERATURA: Transferência de embriões in vivo em tempo fixo (TETF) 3.1 Histórico De acordo com VAN DE VELDE et. al. (2000), a busca pelo maior aproveitamento dos gametas femininos impulsiona as pesquisas no âmbito das biotecnologias reprodutivas e procuram desenvolver sistemas cada vez mais eficientes objetivando uma maior produção e maior qualidade dos embriões. A primeira transferência de embriões foi realizada com êxito em coelhas, no ano de 1890. Em bovinos, a primeira coleta de embriões se deu nos anos de 1930, só que, a primeira transferência de embrião (TE) realizada foi relatada por Willet et al., em 1951, citada por Hafez, 1988. Segundo BREVE (1988), sua exploração comercial foi intensificada no final dos anos 70 e começo dos 80. Para DE BEM et. al. (1995), nas últimas décadas a embriologia dos mamíferos apresentou um enorme progresso científico em especial na espécie bovina. Pesquisas nos campos celulares, moleculares e genéticos impulsionaram o desenvolvimento tecnológico da pecuária, principalmente na área de reprodução animal. Dentre as biotécnicas destaca-se a transferência de embriões como uma das mais modernas biotecnologias da reprodução empregadas a campo. De acordo com COSTA e SILVA (2004), a TE aliada à inseminação artificial (IA) possibilita ganhos genéticos em grande escala em programas de melhoramento animal, onde a seleção é mais rápida e precisa, diminuindo o intervalo entre gerações pela obtenção de várias crias de doadoras de alto valor genético comprovado. Para REICHENBACH et. al. (2002), a TE consiste na obtenção de embriões de uma fêmea doadora que posteriormente serão transferidos para fêmeas receptoras, que levarão a gestação a termo. Sua importância básica para a produção animal está na possibilidade de uma fêmea de alto valor genético (doadora) produzir um número de descendentes muito mais elevado ao que seria possível fisiologicamente durante sua vida reprodutiva. 17 3.2 Vantagens e desvantagens da TE Para ANDRADE et. al. (2002), a TE oferece muitas vantagens para a seleção zootécnica, a qual terá reflexo sobre a produção animal, como: seleção de mães de touros para inseminação, melhor aproveitamento genético de doadoras e reprodutores (maior número de descendentes por animal), redução do intervalo entre gerações, aumento da velocidade do melhoramento, maior controle para problemas genéticos e sanitários, facilidade no transporte e armazenamento do material genético, maior número de novilhas para reposição de plantel sendo essas filhas de animais de elevado valor genético, melhor eficiência de programas de melhoramento animal, sexagem embrionária, segurança no teste de progênie e o transporte de embriões. Segundo FERNANDES (2001), obteve-se grandes avanços na transferência de embriões, mas ainda, a técnica é pouco difundida, devido ao custo relativamente elevado e pela variação nos resultados. De acordo com FONSECA et. al. (2001), em função do importante papel econômico e social dos rebanhos zebuínos na pecuária brasileira e do interesse nacional e internacional na aquisição e multiplicação de animais de elevado valor genético, o mercado de embriões ampliou-se bastante nos últimos anos. 3.3 Seleção de doadoras Para REICHENBACH et. al. (2002), a seleção de doadoras é um dos pontos mais importantes no processo de transferência de embrião, onde deve-se utilizar animais que não apresentem patologias reprodutivas, que estejam ciclando normalmente, em bom estado nutricional e em boas condições de bem estar, pois em situações de estresse não respondem bem ao tratamento superovulatório. As novilhas púberes devem ser incluídas num programa de TE desde que tenham adquirido massa muscular próxima do seu peso adulto e apresentem desenvolvimento corporal e fisiológico que permita resposta as estimulações hormonais e procedimentos necessários para coleta de embriões. Para ANDRADE et. al. (2002), apesar das novilhas mostrarem resposta satisfatória ao tratamento superovulatório, algumas vezes existe dificuldade de introduzir o cateter por via transcervical, o que pode comprometer a eficiência da TE em alguns casos, mesmo assim, a utilização de novilhas em programas de TE é estimulado porque reduz o intervalo entre gerações e acelera o melhoramento genético. 18 De acordo com WILLIAMS (2001), a inclusão das doadoras num programa de TE nunca deve ser inferior aos 60 dias pós-parto e mesmo assim, deve ser precedida de rigorosa observação da regularidade de pelo menos dois ciclos estrais consecutivos. Para RUMPF et. al. (2003), o controle sanitário é de fundamental importância e as principais doenças que influenciam o sucesso da TE são: campilobacteriose, leptospirose, brucelose, tricomonose, leucose, rinotraqueíte infecciosa bovina, diarréia bovina a vírus, neosporose, parasitoses e outras consideradas exóticas de acordo com a legislação sanitária de cada país. 3.4 Seleção de receptoras Para WILLIAMS (2001), as receptoras são de fundamental importância em um programa de TE, pois são elas que vão manter a gestação até o final. As fêmeas que apresentam atividade cíclica regular, as primíparas e pluríparas que tenham parido há mais de 60 dias e que o puerpério tenha decorrido normalmente e que estejam livres de patologias ou anomalias do trato reprodutivo, podem ser selecionadas como receptoras. Para SCARPELLI (2003), o ideal é que sejam utilizadas fêmeas oriundas da mesma propriedade, pois se sabe o histórico reprodutivo de cada indivíduo, evitando assim a introdução de possíveis patologias dentro da propriedade. Segundo PALHANO (2008), deve-se optar por novilhas púberes, que tenham atingido peso adequado para conceber, ou vacas jovens. De acordo com ANDRADE et. al. (2002), apesar de não ser exigida uma avaliação zootécnica da receptora é fundamental que alguns critérios de seleção sejam estabelecidos, como: possuir tamanho compatível com a raça do embrião a ser transferido, o que garantirá gestação e parto normal, livre de auxílio obstétrico. Para VALENTIM e GOFERT (2005), a fêmea deve apresentar boa habilidade materna e rusticidade. Para REICHENBACH et. al. (2002), a escolha final de uma fêmea receptora deve ocorrer somente no dia da transferência do embrião, baseado nos sinais de estro após a sincronização e a avaliação do corpo lúteo presente. 19 3.5 Escolha do reprodutor/sêmen De acordo com RUMPF et. al. (2003), para o sucesso de um programa de TE, devese atentar para a seleção de uma fêmea considerada superior, a qual deverá ser coberta ou inseminada com sêmen de um touro de alto valor genético direcionados para características produtivas e reprodutivas, levando a combinação de genes que elevarão a qualidade da geração futura. O touro é um componente multiplicativo de fundamental importância no desempenho reprodutivo e produtivo. Segundo PALHANO (2008), em um programa de TE deve-se utilizar sêmen proveniente de touros que demonstrem os melhores pedigrees, que tenham alta fertilidade e que sejam melhoradores para as características fenotípicas e genotípicas em que as doadoras sejam mais fracas. 3.6 Sincronização do ciclo estral de receptoras De acordo com PALHANO (2008), para aperfeiçoar os resultados da TE, deve-se sincronizar o estro das receptoras com as doadoras, para que as mesmas apresentem o mesmo estágio do ciclo estral. A sincronização é importante para que o útero da receptora esteja em condições adequadas e semelhantes em relação à doadora para que possa receber o embrião. É importante observar, em relação à sincronia da doadora com a receptora que os embriões apresentam uma pequena variação em seu estágio de desenvolvimento (24 – 36 horas), tendo um grau de sincronia de 24 horas em média da doadora em relação à receptora, permitindo selecionar a receptora mais compatível com o estágio de desenvolvimento do embrião (TECNOPEC, 2006). De acordo com JAINUDEEN et. al. (2004), os principais hormônios utilizados para indução do cio e da ovulação estão descritos na tabela 4. TABELA 5 Hormônios utilizados para a indução do cio e da ovulação. Tipo de Hormônio Gonadotrofinas Método de administração eCG ou PMSG Injeção única FSH Injeção única/múltipla “...continua...” Atividade biológica Mimetiza o FSH e estimula o crescimento folicular, meia vida longa Estimula o crescimento folicular, meia-vida curta 20 “Cont...” hCG Injeção única Mimetiza ovulação o LH e induz a Injeção única Induz à liberação de LH e FSH da hipófise anterior, recrutamento e seleção do novo folículo dominante Agonista do hormônio liberador de Gonadotrofinas aGnRH-buserilim Progestágenos Progesterona Progestágenos sintéticos Inibe a secreção do CL Oral, implante subcutâneo, Inibe a dispositivo secreção intravaginal/pessário do CL Injeções múltiplas ovulação suprindo a de LH; mimetiza a ação ovulação suprimindo a de LH; mimetiza a ação Estrógenos Conjugados estradiol Injeção, implante Prostaglandinas PGF2α ou análogos Injeção sintéticos Induz regressão prematura do CL e intensifica a resposta aos progestágenos Induz a regressão do CL durante fases responsivas Fonte: JAINUDEEN et. al., 2004. 3.6.1 Sincronização de cio com PGF2α Para SARTORI et. al. (2002), entre os protocolos mais utilizados e eficientes para concentração de cio com PGF2α, consiste na aplicação de duas injeções de PGF2α com 11 a 14 dias de intervalo em fêmeas que estejam ciclando normalmente, com posterior observação de cio após a segunda aplicação. Espera-se que a maioria das receptoras manifeste cio entre dois a quatro dias após a aplicação da PGF2α. Ocorre, no entanto, uma dispersão com estro ocorrido antes ou após esse estágio, onde alguns animais não apresentam sinais de cio. Segundo WENKOFF (1987), uma das principais vantagens desta técnica é a aceitável taxa de detecção de cio das receptoras, boas taxas de concepção e baixo custo com hormônios, tendo como principal desvantagem a necessidade de observação de cio, ser ineficiente em fêmeas anovulatórias (que não apresentem CL), não sincronizam fêmeas com CL jovem (< 6 dias), pois estes não respondem a PGF2α. 21 3.6.2 Ovsynch Para PURSLEY et. al. (1995), o protocolo Ovsynch consiste na aplicação de duas doses de GnRH (D0 e D9) e uma dose de PGF2α (D7), como mostra a tabela 5, onde a administração de GnRH induz a liberação de FSH e LH. O LH liberado irá induzir a ovulação ou a luteinização de folículos presentes no ovário no momento do tratamento. Com a ovulação do folículo dominante, tem-se a liberação de FSH, iniciando uma nova onda folicular, num intervalo médio de dois dias. Com a administração de PGF2α sete dias após a primeira aplicação do GnRH, ocorre a indução da luteólise. Após, dois dias, aplica-se outra dose de GnRH com a intenção de induzir um pico de LH para promover a ovulação do folículo dominante, sincronizando a onda folicular. TABELA 6 Protocolo Ovsynch D0 D7 D9 GnRH PGF2α GnRH Fonte: PURSLEY et. al. (1995). 3.6.3 Sincronização de ovulação com GnRH, estrógeno, progesterona e eCG para TETF Para BRAGANÇA (2007), o GnRH controla a secreção de gonadotrofinas (FSH e LH). Sua freqüência e amplitude variam durante os estágios reprodutivos. Quando administrado em estágios aleatórios do ciclo estral, o GnRH determina a ovulação do folículo dominante com mais de 9 mm ou a sua atresia, e induz a emergência de uma nova onda de crescimento folicular dentro de 2 a 3 dias em vacas e 1 a 2 dias em novilhas após o tratamento. Segundo MADUREIRA (2000), os implantes de progestágenos oferecem alta porcentagem de animais em estro, num período bastante curto. Se isto ocorre é porque o padrão folicular, no final do tratamento é bastante homogêneo entre os animais (doadoras e receptoras), o que possibilita a sincronização da ovulação mediante a aplicação de drogas que desencadeiam um pico pré-ovulatório de LH. Para MOREIRA (2002), o tratamento com estrógeno e progestágeno tem sido cada vez mais empregado em programas de sincronização do estro em bovinos. O tratamento consiste na inserção de um dispositivo contendo progestágeno e na administração de 22 estrógeno no dia 0, para emergência de uma nova onda de crescimento folicular e prevenção de folículos persistentes, na administração de PGF2α no momento da retirada do dispositivo nos dias 7, 8 ou 9 para indução da luteólise, e subseqüente aplicação de reduzida dose de estradiol (0,5 a 1,0 mg) após 24 horas ou de GnRH após 48 a 54 h para a sincronização da ovulação. O estrógeno pode agir como um agente sincronizador da ovulação e induzir um pico de LH através de um feedback positivo ao GnRH. De acordo com HAFEZ (1995), tem sido utilizada para a sincronização da ovulação a gonadotrofina coriônica eqüina (eCG/PMSG). Esta gonadotrofina está circulante na égua prenhe entre 40º e o 130º dias da gestação e estimula o desenvolvimento de folículos ovarianos. Este possui ações biológicas de LH e FSH sendo dominantes as ações do FSH. O eCG/PMSG foi uma das primeiras gonadotrofinas disponíveis comercialmente sendo utilizada para induzir superovulação. Segundo MOREIRA (2002), a vantagem de utilizar o eCG/PMSG nos protocolos de sincronização, é que este hormônio é administrado no momento da remoção do implante de progestágenos, evitando assim um trabalho a mais de manipulação quando comparado a outros protocolos. 3.7 Superovulação de doadoras Para RUMPF et. al. (2009), na produção in vivo de embriões é utilizada a técnica de SOV ou indução múltipla da ovulação. A superovulação (SOB) é um dos pontos principais na biotecnologia de embriões e o sucesso de um programa de produção de embriões está intimamente ligado ao número e a qualidade dos embriões produzidos e coletados de uma doadora. De acordo com RUMPF et. al. (2003), a principal meta do programa de transferência de embriões é a superovulação, obtendo-se um número alto e satisfatório de embriões viáveis por doadora, através do aumento do número de oocistos liberados após administração de hormônios exógenos, e posterior transferência dos embriões obtidos para o trato reprodutivo de receptoras levarem a gestação a termo. Para REICHENBACH et. al. (2002), nos bovinos o desenvolvimento folicular consiste de duas ou de três ondas de crescimento folicular, onde cada é onda formada por um grupo de folículos com diâmetro maior ou igual a 4mm. Destaca-se que a emergência da terceira onda folicular está associada a uma fase luteínica mais prolongada. O aproveitamento mais racional desses folículos que posteriormente se tornariam atrésicos pode ser obtido por meio da superovulação. A superovulação pode ser definida, portanto, como um método de 23 estimular diversos folículos terciários desenvolverem até o estágio de pré-ovulação, com subseqüente ovulação. De acordo com BÓ (2002), o tratamento superovulatório deve ser realizado no começo de uma onda folicular, antes da seleção do folículo dominante, para obter-se a melhor resposta possível. Antes de iniciar o tratamento hormonal para induzir a superovulação é recomendável verificar a identificação correta da doadora e obter uma amostra de sangue para tipificação, necessária para uma posterior comprovação da descendência. Nesse sentido é necessário inseminar as doadoras somente com sêmen de touros comprovados (REICHENBACH et. al., 2002). De acordo com MAPLETOFT et. al. (2002), em um protocolo de SOV, busca-se a estimulação de um maior número possível de folículos em uma mesma onda folicular, garantindo, pela aplicação de hormônios, o desenvolvimento e a ovulação dos folículos que foram recrutados. Então, é importante que a SOV seja iniciada antes da dominância folicular estar estabelecida. Segundo ALVAREZ et. al. (1998), dois fatores muito importantes agem na variação da resposta ovariana: tratamento com gonadotrofinas por protocolo e condição ovariana e tempo de tratamento com gonadotrofinas. Para JAINUDEEN et. al. (2004), injeções de FSH exógeno ou eCG são amplamente utilizadas em programas de ovulação múltipla para transferência de embriões, aumentando o fornecimento de embriões de animais de qualidade genética. Aplicações intramusculares de eCG ou FSH estimulam o crescimento de folículos adicionais. O hormônio mais utilizado atualmente para tratamentos superovulatórios em bovinos é o FSH. O hormônio FSH tem função essencial para o desenvolvimento dos folículos. A administração de FSH exógena induz a superovulação. Normalmente, encontram-se folículos em vários estágios de desenvolvimento nos ovários e diferentes estágios de evolução. Grupos consecutivos de folículos emergem, maturam e se degeneram e/ou ovulam. Atualmente o hormônio mais utilizado para estimulação do crescimento ovariano é o FSH. O FSH exógeno evita a atresia de folículos acima de 1,7mm (BÉNYEI & BARROS, 2000). Segundo BARROS et. al. (2008), resultados preliminares de estudos recentes em vacas da raça Nelore demonstraram a possibilidade do uso com êxito e até de um incremento na produção embrionária com a associação de FSH e eCG na SOV em relação à SOV somente com FSH, onde são administradas seis doses de FSH seguidas de duas aplicações de 200 UI de eCG com 12 horas de intervalo. 24 De acordo com JAINUDEEN et. al. (2004), injeções intramusculares de eCG ou FSH estimulam o crescimento de folículos adicionais, os quais ovulam espontaneamente sem a necessidade de LH ou hCG. Como a meia vida do FSH é mais curta do que o eCG, geralmente é necessário dividir a dose total e injetar com intervalos de 12 horas em 12 horas por três a quatro dias, para que os níveis séricos dessa gonadotrofina sejam mantidos para permitir a ação superovulatória desejada. Para VISINTIN et. al. (1999), animais de raças zebuínas são mais sensíveis aos medicamentos, ou seja, apresentam melhores respostas em menores concentrações em comparação com os das raças européias. Animais zebuínos possuem ovários, folículos e corpos lúteos menores, o que pode estar relacionado à exigência de menor concentração de FSH para a indução da superovulação. A maioria dos protocolos de superovulação empregando FSH indica oito aplicações de 12 em 12 horas por quatro dias em doses decrescentes por via intramuscular. No quarto dia do tratamento, necessita-se administrar PGF2α, visando regredir o corpo lúteo presente, sendo que as doadoras evidenciam estro, em média 48 a 72 horas após a aplicação. Nas doadoras sincronizadas com dispositivos intravaginais ou auriculares, os mesmos devem ser retirados no quarto dia do tratamento do FSH, sendo recomendada à aplicação de PGF2α ao mesmo tempo, para um melhor efeito de sincronização. Nesse caso as doadoras mostram sinais de estro em média 12 horas antes, ou seja, 36 a 60 horas após a retirada do implante e administração de PGF2α (REICHENBACH et. al., 2002). Para THATCHER et. al. (2001), o emprego de progestágenos em doses elevadas pode suprimir o suporte de LH para o folículo dominante, induzindo assim atresia do folículo. De acordo com BÉNYEI & BARROS (2000), o LH excessivo durante o tratamento de superovulação causa a ativação prematura dos oocistos. Em vacas superovuladas com FSH, a alta concentração de LH resultou em baixa taxa de fecundação. Segundo DINIZ et. al. (1999), o tratamento superovulatório não promove o desenvolvimento folicular e sim fornece para aqueles folículos que normalmente se tornariam atrésicos, um meio hormonal adequado para que continuem o processo de crescimento e maturação, culminando com a ovulação. 25 3.8 Inseminação das doadoras Não existem padrões de qualidade de sêmen para uso em TE, por isso em muitos programas com doadoras utiliza-se no mínimo duas doses por inseminação, a cada 12 horas (ASBIA, 2006). Segundo REICHENBACH et. al. (2002), as doadoras são inseminadas duas a três vezes em intervalos de aproximadamente 12 horas. Aquelas fêmeas que não expressarem os sinais de estro também devem ser inseminadas, preferencialmente, após 48 e 60 horas da aplicação de PGF2α ou 36 e 48 horas depois da retirada do dispositivo intravaginal ou implante auricular de P4. 3.9 Coleta de embriões De acordo com PALHANO (2008), a coleta de embriões geralmente é realizada entre o 6° e o 8° dia após a IA e é realizada por três métodos diferentes: • Coleta cirúrgica; • Coleta semi-cirúrgica ou transvaginal; • Coleta não-cirúrgica ou transcervical; Os dois primeiros métodos não são mais utilizados a nível comercial, por apresentarem risco de contaminação e posterior ocorrência de aderências devido ao pósoperatório (PALHANO, 2008). Segundo JAINUDEEN et. al. (2004), para muitas aplicações, as técnicas nãocirúrgicas de colheita de embriões são desejáveis, uma vez que as técnicas cirúrgicas possivelmente levam à formação de aderências e, além disso, há um menor risco de vida e de saúde para a doadora quando se utiliza métodos não-cirúrgicos. De acordo com GAMBARINI (2004), antes da coleta, a resposta ovariana ao estímulo superovulatório deve ser avaliada por palpação retal através do auxílio de US, a coleta deve ser iniciada com a preparação da doadora, inicialmente com a limpeza do reto, posteriormente lavagem cuidadosa da região perineal com água e sabão neutro, em seguida realiza-se o bloqueio anestésico epidural com lidocaína a 2% de 3 à 6ml no 1° ou 2° espaço intervertebral das vértebras coccídeas com prévia tricotomia e anti-sepsia com álcool iodado. Em caso de animais muito nervosos, pode ser feito uma leve sedação com acepromazina. A coleta pelo método transcervical é realizada através de dois métodos (PALHANO, 2008): 26 • Sistema aberto: consiste na introdução do líquido através do cateter com auxilio de uma seringa que posteriormente será retirado pela mesma abertura através de massagem uterina e gravidade. • Sistema fechado: consiste na introdução de um cateter com duas vias, onde o líquido será introduzido por uma via e retirado por outra, ambos por gravidade. Para RUMPF et. al. (2003), a coleta propriamente dita consiste na perfusão uterina com PBS (phosphate-buffered saline), com adição de 1% de soro fetal bovino (SFB) ou soro de vaca em cio (SVC) em uma temperatura média de 37°C. O cateter é introduzido na vagina e atravessa a cérvix onde o balão é inflado com PBS ou ar no corpo do útero ou em um dos cornos uterinos. O líquido é introduzido por gravidade variando de 50 a 150ml, onde o volume irá variar devido ao tamanho do útero. Deve-se utilizar um volume total de 500 a 1.000ml e a recuperação também será feita por gravidade. Segundo JAINUDEEN et. al. (2004), no método transcervical de coleta de embriões, feita com o catéter de Foley e com o mandril no seu interior é guiado através do cérvix por palpação retal, onde o cateter pode ser posicionado no corpo uterino ou em um dos cornos. De acordo com GAMBARINI (2004), após o posicionamento da sonda em um dos cornos, o balão é inflado injetando-se 10 a 20ml de ar, quantidade suficiente para fechar a abertura cervical e fixar a sonda. Por conseguinte, o mandril é retirado e inicia-se a coleta dos embriões através da lavagem uterina. Para REICHENBACH et. al. (2002), o meio de lavagem introduzido no corno uterino é recolhido através de um sistema composto por dois tubos de plástico flexíveis, sendo que um é o recipiente contendo o meio de coleta e o outro, um filtro para a obtenção dos embriões. Esse meio de coleta deve fluir por gravidade através do tubo acoplado ao recipiente, bem como através do cateter em direção ao corno uterino, sendo necessário que o recipiente seja posicionado cerca de um metro acima da garupa do animal. Após a lavagem dos cornos uterinos, o meio de coleta retorna através do outro tubo para o filtro acoplado nesse tubo retendo os embriões juntamente com o meio de lavagem. Segundo GAMBARINI (2004), após a lavagem, o balão é desinflado e a sonda é retirada. Ao término de cada coleta recomenda-se a aplicação de PGF2α para se evitar gestação indesejada. De acordo com SARTORI et. al. (2003), a taxa de coleta, ou seja, o número de embriões produzidos em relação ao número de CL presente é em média de 60%. 27 3.9.1 Classificação embrionária Para PALHANO (2008), os embriões são avaliados e classificados através de exame morfológico que é realizado através do auxílio de uma lupa (no aumento de 50 a 100x), que segue padrões impostos pela IETS (International Embryo Transfer Society), como mostra a figura 2. Os embriões são classificados de acordo com grau de qualidade em: I (excelente ou bom), II (regular), III (pobre) e IV (degenerado ou não fecundado) e grau de desenvolvimento como: mórula (M), mórula compacta (Mc), blastocisto inicial (Bi), blastocisto (Bl), blastocisto expandido (Bx) e blastocisto eclodido (Bec). De acordo com BEM et. al. (1995), essa classificação é feita avaliando o grau de desenvolvimento do embrião no dia da coleta. Fonte: http://www.mcguido.vet.br FIGURA 1 - Estágios de desenvolvimento embrionário em bovinos, considerando-se os códigos recomendados pela Sociedade Internacional de Transferência de Embriões (IETS) (1998). Código 1: célula (dia 1) - Pró núcleos feminino e masculino (zigoto); Código 2: 2 células (dia 2); Código 2: 4 células (dia 3); Código 3: Mórula inicial (dia 4-5) -13 a mais de 32 blastômeros - até 16 células consegue-se boa separação mecânica; Código 4: Mórula (dia 6); Código 5: Blastocisto inicial (dia 7): Código 6: Blastocisto (dia -7-8): Código 7: Blastocisto expandido (dia 8-9); Código 8: Blastocisto eclodido (dia 9); Código 9: Blastocisto eclodido/expandido (dia 9-10). 28 Segundo MAPLETOFT e STOOKEY (1999), os embriões não devem ser mantidos em meio original de coleta por um tempo maior que o necessário, em média de 20 a 30 minutos, pois, podem existir substâncias presentes no líquido de lavagem uterina, que podem inibir o desenvolvimento do embrião. Segundo REICHENBACH et. al. (2002), o rastreamento dos embriões deve ser feito com auxílio de uma micropipeta de vidro, onde os embriões encontrados vão sendo transferidos para placa de Petri com diâmetro de 3,5 cm contendo o PBS acrescido de 10 a 20% de SFB ou Bovine Serum Albumin (BSA) (200 mg/50 ml de PBS), para posteriormente serem separados em viáveis e não viáveis. De acordo com RUMPF et. al. (2003), a avaliação morfológica dos embriões ou a classificação embrionária determina padrões morfológicos que avaliam a forma, porém não avalia a vitalidade do embrião, como está descrito nas tabelas 6 e 7. TABELA 7 Classificação dos embriões segundo a qualidade. Classificação Características morfológicas Embriões simétricos e esféricos, com blastômeros apresentando I (excelente ou tamanho, coloração e densidade uniformes. Presença de poucas células de extrusão no espaço perivitelínico, com cerca de 85% do material bom) celular intacto Embriões apresentando irregularidades moderadas no formato ou tamanho, na cor e densidade dos blastômeros. No míniimo 50% do II (regular) material celular devem estar intactos Grandes irregularidades no formato ou tamanho do embrião, com alterações evidentes na coloração e densidade dos blastômeros. No III (pobre) mínimo 25% do material celular devem estar intactos IV (degenerado ou Sem forma definida, com estágio de desenvolvimento pouco evidente e grande desorganização celular ou oócitos não fecundados. não fecundado) Fonte: Manual de transferência e Micromanipulação de embriões nas espécies Bovina e Eqüina. TABELA 8 Classificação dos embriões segundo estágio de desenvolvimento. Estágios Mórula (M) Características morfológicas Massa com no mínimo 16 células ocupando quase todo o espaço perivitelínico Mórula compacta Massa compacta de blastômeros ocupando 60 a 70% do espaço perivitelínico (Mc) Blastocisto inicial Início da blastocele e da diferenciação entre trofoblasto e embrioblasto, com o zigoto ocupando 70 a 80% do espaço perivitelínico (Bi) Diferenciação entre trofoblasto e embrioblasto, embrioblasto Blastocisto (Bl) compactado, blastocele proeminente, com o zigoto ocupando a totalidade do espaço perivitelínico “...continua...” 29 “Cont...” Blastocisto expandido (Bx) Blastocisto eclodido (Bec) O embrião aumenta 1,2 a 1,5 o seu diâmetro e a zona pelúcida diminui sua largura 1/3 O embrião inicia sua eclosão ou já está totalmente fora da zona pelúcida Fonte: IETS. Para GAMBARINI (2004), o filtro coletor deve ser lavado em jatos de PBS oriundo de uma agulha acoplada a uma seringa de 20ml até a tela filtrante ficar limpa e livre de muco. O conteúdo do filtro é transferido para uma placa de Petri com diâmetro de 12 cm. Para MAPLETOFT e STOOKEY (1999), deve-se usar um conjunto individual de placas e pipetas para manipulação dos embriões de cada doadora, prevenindo a mistura errônea e a contaminação dos embriões. A identificação criteriosa das placas e pipetas ajudará a manter esta individualização. Os embriões considerados viáveis são classificados de um a três e devem ser lavados dez vezes no meio de cultivo impedindo a transmissão de agentes infecciosos. Os banhos podem ser realizados em dez placas de Petri com diâmetro de 35 mm, ou em dez gotas colocadas em uma só placa ou em placas multi-cavas utilizando um micropipetador e pipetas de vidro descartáveis de 20µl, as quais devem ser substituídas entre cada lavagem do embrião (REICHENBACH et. al., 2002). De acordo com STRINGFELLOW (1999), existem alguns princípios essenciais para lavagem adequada dos embriões, como: lavar juntos apenas embriões de uma mesma doadora, lavar de uma só vez dez ou menos embriões, lavar somente embriões com zona pelúcida intacta, lavar apenas embriões isentos de material aderente, realizar no mínimo dez lavagens, utilizar uma nova micropipeta estéril cada vez que os embriões são passados de um banho para outro. 3.10 Inovulação Segundo RUMPF et. al. (2003), inovulação consiste na deposição do embrião no útero de uma fêmea receptora, onde a inovulação transcervical deve seguir os seguintes passos: conter bem o animal, avaliação do ovário contendo CL, realizar anestesia epidural, introdução no corno uterino delicadamente, deposição do embrião o mais próximo da junção útero-tubárica. 30 Para BEM et. al. (1995), para realização da transferência de embriões pelo método transcervical, utiliza-se um aplicador semelhante ao de IA, conhecido como inovulador, que será o instrumento utilizado para depositar o embrião em um dos cornos uterinos. Este método requer realização de anestesia epidural. Em ambas as técnicas, o embrião deve ser depositado no terço inicial do corno uterino, ipsilateral ao corpo lúteo. Para ser feita a transferência, o embrião precisa ser colocado no centro de uma palheta de 0,25 ml, mergulhado no meio de cultivo. O envasamento do embrião na palheta é feito de modo que fique uma coluna central contendo o embrião e que esta, encontra-se separada das colunas nas extremidades por duas colunas de ar. As palhetas devem ser identificadas para se evitar transtornos no momento da transferência. Devem ser transferidos para as receptoras somente embriões de graus um e três (REICHENBACH et. al., 2002). 4 RELATO DA ATIVIDADE E DISCUSSÃO: TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES IN VIVO EM TEMPO FIXO (TETF) 4.1 Seleção de doadoras A seleção de doadoras é de fundamental importância em um programa de TE e deve ser realizada baseando-se nos seguintes parâmetros: • Genéticos: acasalamentos devem ser feitos para que os produtos sejam melhorados; • Clínico-reprodutivos: idade de doadoras entre três e dez anos, bom desempenho reprodutivo, animais com fertilidade confirmada, cíclicas e ausência de patologias nos sistemas locomotor, digestivo, urinário, circulatório e reprodutivo como alterações uterinas, ovários e ovidutos, deve ser realizado rigoroso controle sanitário e escolha de touros geneticamente superiores para que seus produtos sejam melhores que seus progenitores. O teste de progênie tem sido um dos principais enfoques para escolha de reprodutores e matrizes para um programa de TE, onde são avaliadas características zootécnicas como peso ao nascer, peso a desmama, ganho de peso, rendimento de carcaça, habilidade materna e produção. 4.2 Seleção de receptoras São de fundamental importância em um programa de TE, pois são as receptoras quem levarão a gestação até o final. Deve ser feita a seleção de fêmeas que apresentem bom estado de desenvolvimento corporal, porte compatível com doadoras, atividade cíclica regular, primíparas ou pluríparas que puerpério tenha ocorrido normalmente e a mais de 60 dias estejam livres de patologias ou anomalias do trato reprodutivo e que apresentem boa habilidade materna. 32 4.3 Superovulação e indução de ovulação múltipla A SOV é uma das principais ferramentas na biotecnologia de embriões e o sucesso de um programa de TE está diretamente relacionado ao número e a qualidade dos embriões obtidos. Para BÓ et. al. (2006), os resultados com SOV tem muita variação, relacionado ao hormônio utilizado, sua dose, nutrição e a variação individual entre doadoras. Com uma mesma fêmea superovulada, não ocorre ovulações de todos os folículos ao mesmo tempo, onde há um intervalo de até 20 horas para ovulação de todos os folículos, por este motivo recomenda-se duas IA em uma mesma fêmea doadora, com intervalo de 12 horas. Segundo RUMPF et. al. (2003), dentre as gonadotrofinas mais utilizadas para estimulação de crescimento folicular, destacam-se o FSH o eCG. O protocolo adotado para superovulação e sincronização de doadoras consiste na administração de 120mg de FSH por doadora, onde no D0 será colocado implante de progesterona (P4) mais 2ml (2mg/animal) de benzoato de estradiol (Be) pela manhã, no D5 administrar 4ml de FSH pela manhã e pela tarde, no D6 3ml de FSH pela manhã e pela tarde, no D7 2ml de FSH pela manhã e pela tarde e retirar o implante de P4 a tarde, no D8 1 ml de FSH pela manhã e pela tarde, no D9 2ml LH pela manhã e primeira inseminação artificial pela tarde, no D10 segunda inseminação artificial pela manhã. A coleta será realizada no D16, conforme mostra a figura 2. Fonte: Arquivo pessoal, 2010. FIGURA 2 – Protocolo adotado para superovulação e sincronização de doadoras. O protocolo adotado para sincronização de receptoras consiste em colocar implante de progesterona (P4) mais 2ml (2mg/animal) de Be no D0 pela manhã, no D5 2ml de eCG com o objetivo de produzir um folículo maior e conseqüentemente um CL de melhor qualidade mais 2ml de PGF2α pela manhã para lisar o possível CL existente, no D8 retirar o implante pela manhã, no D9 1ml de Be pela manhã para induzir a ovulação do folículo existente, no D10 a receptora manifestará o cio. A coleta será realizada no D17, conforme mostra a figura 3. 33 Fonte: Arquivo pessoal, 2010. FIGURA 3 – Protocolo adotado para sincronização de receptoras. 4.4 Coleta de embriões Para coleta dos embriões será utilizado sistema fechado com sonda de 16, 18 ou 20mm dependendo do porte da doadora. A sonda deve ultrapassar o cérvix onde será fixada no corpo do útero, o balão será inflado com ar ou PBS. O meio de lavagem uterina (PBS) será introduzido por gravidade em volumes variáveis de 50 a 150ml, relacionado ao tamanho do útero e tendo ao final um volume médio de 1.000ml. A recuperação do líquido também será feita por gravidade, com o auxilio do filtro de coleta, como mostra a figura 4. Fonte: Arquivo pessoal, 2010. FIGURA 4 – Coleta de embriões utilizando-se sistema fechado. Para se ter um maior aproveitamento na recuperação dos embriões deve-se atentar a alguns detalhes, como: • Contenção adequada da doadora; • Realizar anestesia epidural – 2 a 5ml de cloridrato de lidocaína a 2%; • Uso do expansor cervical; • Posicionamento correto do balão; • Regular preenchimento dos cornos por palpação; 34 • No início da coleta, segurar a junção útero-tubárica entre os dedos e evitar que se encha muito os cornos, evitando assim, que os embriões sejam empurrados para a tuba e não possam ser recuperados; • Massagear bem os cornos uterinos; • Ter tranqüilidade e segurança na execução de todos os procedimentos; • Ter um bom auxiliar. Os materiais utilizados para coleta de embriões bovino são sonda acoplada ao mandril, sistema fechado em Y, filtro de coletor, cloridrato de lidocaína, seringas, agulhas, expansor cervical, álcool 70% e álcool iodado10% e seringa de 20/10ml. 4.5 Manipulação dos embriões Para iniciar a manipulação dos embriões, antes deve-se preparar o ambiente e todo o material que será utilizado para realizar o procedimento de manipulação de embriões. Caso a realização do procedimento de coleta e transferência de embriões não seja realizado em um laboratório específico de TE, deve-se dispor de um espaço mais restrito, limpo, sem excesso de umidade, bem iluminado e ventilado. Para RUMPF et. al. (2003), a temperatura ideal para manipular os embriões antes da transferência é em torno de 20 a 30°C, evitando temperaturas extremas. A bancada deve estar bem limpa e deve ser desinfetada com álcool 70% ou utilizar tecido autoclavado ou papel toalha sobre a mesa. Os materiais que devem estar disponíveis para que seja realizada a manipulação dos embriões são: • Meios de manipulação (PBS e holding) de boa qualidade e estéril; • Filtros com poros de 0,22µ e de procedência conhecida; • Seringa (20ml) e agulhas novas ou esterilizadas (12x8mm); • Placas de Petri 100x20mm e 35x10mm (esterilizadas); • Álcool 70%; • Lamparina com álcool; • Isqueiro; • Pipetas de manipulação e bulbos; • Papel toalha; • Caneta para escrita em vidraria; 35 • Fichas de anotações; O filtro contendo os embriões e meio de lavagem uterina deverá ser identificado com nome e/ou número da doadora e será lavado somente com PBS aquecido em média 35 a 37°C com uma seringa de 20ml acoplada a uma agulha, retirando-se todo o muco presente no filtro de coleta como mostra as figuras 7, 8 e 9 que será transferido para uma placa de Petri devidamente identificada (placa/tampa), para evitar que embriões de receptoras diferentes sejam misturados. A placa de Petri terá o fundo riscado com uma agulha, para facilitar no processo de rastreamento dos embriões com auxílio de uma micropipeta para localização dos embriões na placa aos quais serão imediatamente transferidos para uma placa de cinco/quatro poços contendo meio de manutenção holding, como mostra as figuras 10 e 11. O rastreamento dos embriões será feito utilizando um estereomicroscópio (lupa). Para GAMBARINI (2004), o filtro coletor deve ser lavado em jatos de PBS oriundo de uma agulha acoplada a uma seringa de 20ml até a tela filtrante ficar limpa e livre de muco. O conteúdo do filtro é transferido para uma placa de Petri com diâmetro de 12 cm. Para MAPLETOFT e STOOKEY (1999), deve-se usar um conjunto individual de placas e pipetas para manipulação dos embriões de cada doadora, prevenindo a mistura errônea e a contaminação dos embriões. A identificação criteriosa das placas e pipetas ajudará a manter esta individualização. Fonte: Arquivo pessoal, 2010. FIGURA 5 – Rastreamento dos embriões. 36 4.6 Exame e avaliação de embriões Somente a prática e o trabalho diário com embriões que fornecerá ao técnico o discernimento da sua real qualidade. A classificação proposta pela Sociedade Brasileira de Tecnologia de Embriões (S.B.T.E) para julgamento dos embriões é dividida em sete categorias, sendo elas: 1. Mo – Mórula: apresenta-se como uma massa de células com separação nítida entre os blastômeros ocupando a quase totalidade do espaço perivitelínico (EPV); 2. Mc – Mórula compacta: os blastômeros estão agregados entre si, formando uma massa compacta e ocupam 60 a 70% do EPV; 3. Bi – Blastocisto inicial: início da formação da blastocele e início da diferenciação entre trofoblasto e botão embrionário. O embrião ocupa 70 a 80% do EPV; 4. Bl – blastocisto: no blastocisto existe uma evidente diferenciação entre células do trofoblasto e do botão embrionário. As células do botão embrionário estão compactadas, a blastocele é predominante e o embrião ocupa a totalidade do EPV; 5. Bx – Blastocisto expandido: nesta fase do desenvolvimento, o embrião aumenta 1,2 a 1,5 vezes o seu diâmetro, distendendo a zona pelúcida, a qual diminui em 1/3 em sua espessura. É bem evidente a pressão do líquido da blastocele que pressiona o trofoblasto contra a membrana pelúcida; 6. Bn – blastocisto em eclosão: o embrião está iniciando o processo de saída da zona pelúcida; 7. Be – blastocisto eclodido: o embrião está completamente livre da zona pelúcida e ainda é nítida a presença da blastocele; 8. Estrutura não fecundada: sem nenhum contorno celular, somente pigmentado. Dentro dos padrões descritos e de acordo com sua integridade, os embriões recebem uma identificação, que segundo a S.B.T.E esta relacionado em cinco categorias: 1. Embrião I (excelente): embrião esférico com blastômeros apresentando forma bem definida, cor e textura uniformes e nenhuma extrusão celular; 2. Embrião II (bom): embrião com imperfeições sem importância, com pouca extrusão celular. Ocasionalmente há uma pequena distinção na forma e cor dos blastômeros e/ou presença de poucas vesículas; 3. Embrião III (regular): embrião que apresenta alguns blastômeros com forma e cor heterogênea, porém coesos. Presença de células no EPV e blastocele com algumas vesículas; 37 4. Embrião IV (pobre): embrião com forma e cor heterogênea entre vários blastômeros, confusa diferenciação celular, extrusão evidente com degeneração e grande número de vesículas; 5. Dg – estrutura degenerada: estrutura que não apresenta uma forma definida, sendo impossível determinar o estágio de desenvolvimento. É evidente a desorganização celular; Segundo RUMPF et. al. (2003), embriões classificados como I, II e III são aptos para transferência e os resultados, expressos em porcentagem de números de gestação variam de 30 a 60% e geralmente não diferem entre embriões classificados como excelentes e bons. 4.7 Lavagem dos embriões utilizando meio Holding A lavagem dos embriões será realizada no laboratório, com o máximo de higiene onde serão realizados dez banhos nos embriões, sendo que durante os banhos na busca dos embriões retira-se meio da próxima gota para captação do embrião na gota anterior. Os embriões considerados viáveis são classificados de um a três e devem ser lavados dez vezes no meio de cultivo impedindo a transmissão de agentes infecciosos. Os banhos podem ser realizados em dez placas de Petri com diâmetro de 35 mm, ou em dez gotas colocadas em uma só placa ou em placas multi-cavas utilizando um micropipetador e pipetas de vidro descartáveis de 20µl, as quais devem ser substituídas entre cada lavagem do embrião (REICHENBACH et. al., 2002). 4.8 Envase dos embriões Os embriões são envasados sob condições assépticas em palhetas de 0,25ml que, como mostra a figura 6. Fonte: Arquivo pessoal, 2010. FIGURA 6 – Palheta para transferência de embrião. Para ser feita a transferência, o embrião precisa ser colocado no centro de uma palheta de 0,25 ml, mergulhado no meio de cultivo. O envasamento do embrião na palheta é 38 feito de modo que fique uma coluna central contendo o embrião e que esta, encontra-se separada das colunas nas extremidades por duas colunas de ar. As palhetas devem ser identificadas para se evitar transtornos no momento da transferência. Devem ser transferidos para as receptoras somente embriões de graus um e três (REICHENBACH et. al., 2002). 4.9 Inovulação A inovulação é realizada pelo método transcervical com a deposição do embrião no terço final do corno uterino ipsilateral ao CL, com o auxílio de anestesia epidural baixa, usando de 2 a 5ml de Cloridrato de lidocaína 2%. As palhetas são montadas no aplicador usando-se “camisa sanitária” que revestirá o inovulador, evitando levar contaminações da vagina para o útero, onde a mesma será rompida antes de se transpor o primeiro anel cervical. Em seguida, a cérvix será atravessada e o embrião será depositado no corno uterino o mais cranial possível. Para BEM et. al. (1995), para realização da transferência de embriões pelo método transcervical, utiliza-se um aplicador semelhante ao de IA, conhecido como inovulador, que será o instrumento utilizado para depositar o embrião em um dos cornos uterinos. Este método requer realização de anestesia epidural. Em ambas as técnicas, o embrião deve ser depositado no terço inicial do corno uterino, ipsilateral ao corpo lúteo. 5 CONCLUSÕES A EMBRAPA – Recursos Genéticos e Biotecnologias consta com tecnologias de primeiro mundo, fornecendo base para prática em biotecnologias da reprodução. A biotecnologia da reprodução é uma área da Medicina Veterinária em destaque no mercado, sendo considerada de grande status devido ao uso das tecnologias utilizadas para aprimoramento do rebanho e obtenção de animais de alto valor genético. O estudo realizado na EMBRAPA – Recursos Genéticos e Biotecnologias é uma área que fornece bases para obtenção de melhores resultados a campo, melhorando a produção dos produtores rurais. O estágio curricular na EMBRAPA – Recursos Genéticos e Biotecnologias foi de suma importância, proporcionando a prática e aperfeiçoamento da parte teórica, adquirida no período de graduação, bem como o estágio realizado na Empresa Juarez Furtado de Lima e Cia. REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, F. 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