CÉREBRO TURBINADO

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CONHECENDO MELHOR O SEU CÉREBRO
CÉREBRO
TURBINADO
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PÍLULAS PARA TURBINAR O CÉREBRO.
ONDE ESTAMOS E ONDE PODEMOS CHEGAR?
POR DR. RICARDO A. TEIXEIRA
J
á existem no mercado diferentes
medicações que têm o poder de melhorar
o desempenho de memória e concentração, e os
médicos costumam prescrevê-las a pacientes
com disfunções neuropsiquiátricas. Entretanto,
nos últimos tempos podemos perceber que a
prescrição dessas medicações tem sido estendida
a outras situações, como é o caso de indivíduos
que trabalham em turnos noturnos, militares, e
até mesmo a pessoas que simplesmente querem
“turbinar” o cérebro para o trabalho, com a
intenção de melhorar a atenção e a memória.
Onde é que vamos chegar com isso? Além dos
se de efeitos colaterais e um terço das pessoas
prós e contras dessas medicações sobre nossa
adquiriam as medicações pela internet, sem
saúde a longo prazo, certamente há uma grande
necessidade de receita médica. Para se ter
questão ética a ser discutida. Tais medicações
idéia da complexidade da discussão, vejam
têm sido cada vez mais usadas em todo o
o que um cientista americano de 66 anos de
mundo, cada vez em idades mais precoces. Uma
idade respondeu à pesquisa: “Como cientista,
recente pesquisa realizada pela revista britânica
é minha missão usar todas as ferramentas ao
Nature envolvendo 1400 leitores (cientistas e
meu alcance para o benefício da humanidade.
estudantes) de 60 diferentes países revelou que
Se essas drogas podem contribuir para esse
20% das pessoas que responderam à pesquisa
fim, então é minha tarefa usá-las. “
já tinham usado medicações com a intenção de
melhorar o desempenho cerebral por razões não
No consultório de neurologia, freqüentemente
médicas, 25% desses com consumo diário. O
atendo jovens querendo uma medicação para
uso não foi diferente entre as diversas faixas
esse fim. Recentemente uma paciente que
etárias, sendo que 50% das pessoas queixaram-
fazia curso preparatório para concurso público
CONHECENDO MELHOR O SEU CÉREBRO
disse que o próprio professor, um juiz federal,
para reduzir as conseqüências das desigualdades
a orientou a procurar um neurologista com o
sociais?
seguinte apelo: “já existem medicações que
podem melhorar seu desempenho”. Posições
A ciência tem muito que investir na
radicais como “Oh que horror!” não costumam
avaliação do custo-benefício dessas drogas
colaborar muito. É hora sim de aprofundarmos
neuromoduladoras em indivíduos sem queixas
essa discussão com a participação de diversas
ou diagnósticos neuropsiquiátricos. Já existem
áreas do conhecimento.
estudos sendo conduzidos ao redor do mundo,
inclusive no Brasil, buscando saber se o uso de
Já existem medicações que permitem que
antidepressivos usados por indivíduos saudáveis
o indivíduo fique até três dias sem dormir
não poderiam deixá-los mais saudáveis
e “disposto”, e pouco conhecemos sobre
ainda. Ainda sabemos pouco. E quem disse
seus efeitos a médio e longo prazo. Será
que as pílulas têm mais poder de provocar
que chegaremos ao ponto de criar políticas
alto desempenho cerebral do que uma vida
anti-doping no caso de concursos públicos?
saudável com tudo aquilo que sabemos que
Chegaremos a viver numa sociedade que
faz bem ao cérebro: educação, alimentação
não relaxa e não dorme, já que as vantagens
e sono adequados, atividade física, equilíbrio
evolutivas da nossa tão falada sociedade da
emocional, etc. Minha aposta é que as pílulas
informação são muito mais cerebrais do que
não ganham a disputa.
musculares e sexuais? Será que os pais ao
verem inúmeros colegas de seus filhos usando
Jul 2008
medicações para o vestibular vão deixar de usar
tais hipotéticas armas de competição? É difícil
alguém se imaginar cometendo um neurodoping ao consumir 10 xícaras de café por dia
nos meses que antecedem um concurso. Com
pílulas deveria ser diferente? Será que essas
pílulas poderiam nos oferecer mais do que uns
cafezinhos durante o dia? Um indivíduo nascido
rico e com boa nutrição no seu desenvolvimento
tem inequívocas vantagens competitivas do
ponto de vista cerebral quando comparado
a outro que passou a infância desnutrido.
“Medicações espertas” podem um dia contribuir
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