3. A Oferta de Moeda e a Política Monetária 3.1. As Operações do Banco Central e a Base Monetária 3.2. O Multiplicador da Moeda e a Oferta de Moeda 3.3. A Oferta Monetária e a Restrição Orçamentária Governamental 3.4. O Equilíbrio no Mercado Monetário 3.5. A Política Monetária 3.6. A Moeda e as Taxas de Câmbio e de Juros Anexo: O Papel da Política Monetária (Milton Friedman) 3.1. As Operações do Banco Central e a Base Monetária Os três tipos de operações mais comuns usados pelas autoridades monetárias para alterar o estoque da base monetária são operações de open market, operações de redesconto e operações de câmbio. As Operações de Open Market As transações dos bancos centrais de compra e venda de títulos no mercado aberto são conhecidas como operações de open market. A compra de instrumentos financeiros pelo banco central, no seu papel de autoridade monetária, resulta num aumento da base monetária em poder do público. O motivo deve ser claro: o banco (central) compra os ativos com moeda, que então é colocada em circulação. Por outro lado, uma venda de títulos feita pelos bancos gera uma redução na base monetária. (Sachs & Larrain, p.286) A Janela de Redesconto Outra forma pela qual o banco central pode influir na oferta monetária são os empréstimos aos bancos. A taxa de juros utilizada é conhecida como a taxa de redesconto. Os bancos privados usam essa opção de crédito para dois propósitos diferentes: (1) ajustar as suas reservas de dinheiro para o caso de ficarem abaixo do nível desejado ou exigido pelas regulamentações do banco central e (2) para obter fundos que o banco possa emprestar aos clientes, se as condições de mercado forem favoráveis para isso. As operações de redesconto levam a alterações na oferta de moeda. Um empréstimo por meio da janela de redesconto produz um aumento na base monetária no mesmo valor do empréstimo. Para aumentar seu controle sobre a base monetária, o banco central, às vezes, usa a política do open market para compensar os efeitos monetários das suas operações pela janela de redesconto. (Sachs & Larrain, p.292) As Operações de Câmbio O banco central também influi na oferta monetária quando compra e vende ativos em moeda externa. No caso mais simples, o banco central compra ou vende moeda estrangeira em troca de moeda nacional. Em outros casos, o banco central compra ou vende um ativo remunerado em moeda estrangeira, normalmente um título do Tesouro de outra nação. Assim como nas operações de open market, essas transações têm efeito direto sobre a quantidade de moeda em circulação na economia. (Sachs & Larrain, p.294) Uma Equação Fundamental das Alterações no Estoque Monetário Agora, podemos deduzir uma equação para as variações no estoque de base monetária. Seja Dg o estoque de títulos governamentais em poder do banco central; B*C o estoque de reservas estrangeiras; e LC o estoque de empréstimos concedidos aos bancos por meio da janela de redesconto. Além disso, E é a taxa de câmbio, medida em unidades de moeda nacional por unidade de moeda estrangeira, de modo que E(B*C) é igual ao valor das reservas estrangeiras em moeda nacional. Portanto, podemos escrever as alterações na base monetária como: (Mh - Mh-1) = (DgC - DgC-1) + E(B*C - B*C-1) + (LC - LC-1) Traduzindo, qualquer alteração no estoque de base monetária é um resultado de uma ou mais das seguintes causas: aumento (ou declínio) da dívida governamental em poder do banco central, um aumento (ou queda) no estoque de reservas internacionais, e uma alteração no valor do crédito fornecido aos bancos comerciais pela janela de redesconto. (Sachs & Larrain, p.296) 3.2. O Multiplicador da Moeda e a Oferta de Moeda Agora, dado o nível de Mh (base monetária), precisamos ver como M1 é determinado. Isso nos leva à atuação do banco central, do setor bancário e dos agentes privados na determinação da oferta monetária. A base monetária é formada pela soma de todo o dinheiro (papel-moeda e moedas metálicas) em circulação na economia (MC) e das reservas bancárias (R). Essa relação é expressa pela equação: Mh = MC + R As reservas ( R ) são compostas por depósitos mantidos no banco central, mais os valores monetários que os bancos mantém em caixa. Agora, vamos pensar num balanço simples de um banco comercial. Este banco recebe depósitos e concede empréstimos ao público em geral. Uma fração dos depósitos é mantida como reservas ( R ). Essa fração entre reservas e depósitos é designada como rd = (R/D) e, portanto, R = rdD. Essa proporção é definida pelo banco central, que estipula as reservas necessárias que o banco deve ter como fração da sua base de depósitos. Além delas, o banco pode optar por manter reservas adicionais no banco central para ter maior liquidez e para evitar que fique abaixo da proporção exigida se houver uma variação inesperada da base de depósitos. A oferta de moeda, agora ampliada para M1, é a soma da moeda em circulação (MC) e dos depósitos à vista em poder do sistema bancário (Dv). Por essa definição, podemos escrever a oferta de moeda como: M1 = MC + Dv Então, qual é a relação entre a oferta monetária (M1) e a base monetária (Mh)? Em especial, como um determinado estoque de base monetária pode sustentar um valor mais alto de M1? A explicação é o processo de criação de moeda pelo sistema bancário e a preferência do público quanto aos vários instrumentos financeiros. Para simplificar a análise, vamos restringir as opções que as empresas privadas e as pessoas têm para deter dinheiro: só podem mantê-lo em seu poder ou nos depósitos à vista. Indicamos a proporção entre dinheiro e depósitos como cd , isto é, (cd = MC/Dv) ou Mc = cdDv. Ao mesmo tempo, os bancos detêm uma certa fração dos depósitos como reservas, tanto por causa das exigências legais como também porque querem ter liquidez suficiente para atender às necessidades dos clientes. Vamos chamar a proporção entre reservas e depósitos de rd , isto é, (rd = R/Dv). Para deduzir a expressão do multiplicador monetário, vamos dividir a equação (M1 = MC + + Dv) pela (Mh = MC + R) e depois dividiremos o numerador e o denominador da expressão resultante pelo valor dos depósitos à vista, Dv: M1 (MC + Dv) (MC/Dv + Dv/Dv) (cd + 1) ---- = --------------- = ----------------------- = ------------- Mh (MC + R) Onde: (MC/Dv + R/Dv) (cd + rd) cd = Mc / Dv Rd = R / Dv Numa forma ligeiramente diferente, temos: (cd + 1) M1 = ------------ . Mh = .Mh (cd + rd) onde: = (cd + 1) / (cd + rd) A equação anterior mostra que a oferta monetária é um múltiplo do estoque de base monetária, e o fator de proporcionalidade é dado por , o multiplicador monetário. (Sachs & Larrain, p.298) Exemplo: Cd = 0,07 rd = 0,45 Mh = $ 100.000 M1 = ? M1 = (0,07 + 1) / (0,07 + 0,45) Mh = 1,07/ 0,52 Mh = 2,06 (100.000) = 206.000 3.3. A Oferta Monetária e a Restrição Orçamentária Governamental Quando o orçamento governamental está em déficit, o Tesouro levanta dinheiro para pagar as contas do governo emitindo títulos. Quem são os compradores potenciais desses títulos? Em essência, há quatro tipos de compradores: estrangeiros (do setor privado ou público), famílias e empresas, o sistema bancário doméstico e o banco central da nação. Em muitas economias, o banco central é o principal comprador de títulos do Tesouro e, também, o financiador mais automático. A compra de dívida pública pelo banco central geralmente é chamada monetização do déficit público. A compra de títulos do Tesouro pelo banco central, em essência, permite que o governo adquira bens e serviços simplesmente imprimindo dinheiro. Na realidade, a dívida que o Tesouro tem para com o banco central não precisa ser paga; ela representa apenas um direito de uma parte do governo em relação a outra. Portanto, o efeito final é que o governo gera um déficit orçamentário, que paga aumentando a oferta de moeda em poder da população. Como sai barato imprimir dinheiro, o governo pode obter bens e serviços a custo direto baixo. A monetização do déficit orçamentário geralmente traz inflação. Portanto, o governo financia essencialmente sua compra de bens e serviços por meio de uma taxa inflacionária. Agora, vamos analisar a idéia da monetização do déficit mais formalmente. A restrição orçamentária do governo pode ser expressa como: Dg - Dg-1 = P(G + Ig - T) + iDg-1 O termo do lado esquerdo (Dg - Dg-1) é a variação da dívida governamental entre o período atual e o anterior. Também é o montante de títulos do Tesouro que precisam ser vendidos para cobrir a diferença entre despesas e receitas do lado direito da equação. Lembre-se de que os títulos do Tesouro podem ficar em poder da população, interna e externa, e do banco central. Portanto, um aumento da dívida governamental tem dois componentes: um aumento da dívida do Tesouro para com o público (DgP - DgP-1) e um aumento do estoque da dívida com o banco central (DgC - DgC-1), isto é: (Dg – Dg-1) = (Dgp – Dgp-1) + (Dgc – Dgp-1) Portanto, a variação da dívida mantida pelo banco central é igual à variação total da dívida menos a variação da dívida em poder do público: (DgC - DgC-1) = (Dg - Dg-1) - (DgP - DgP-1) Agora, podemos combinar a equação anterior com a equação (Mh - Mh-1) = (DgC - DgC-1) + E(B*C - B*C-1) + (LC - LC-1), que descreve a variação da base monetária. Ignorando a janela de redesconto, sabemos desta equação que: (Mh - Mh-1) = (DgC - DgC-1) + E(B*C - B*C-1) Então, substituindo a expressão (DgC - DgC-1) na equação anterior e alterando a expressão resultante, encontramos: (Mh - Mh-1) = (Dg - Dg-1) - (DgP - DgP-1) + E(B*C - B*C-1) (Dg - Dg-1) = (Mh - Mh-1) + (DgP - DgP-1) - E(B*C - B*C-1) A equação anterior é muito importante. Ela nos diz que, essencialmente, existem três modos de financiar um déficit orçamentário, (Dg - Dg-1): (1) por meio de uma aumento da base monetária, (Mh - Mh-1); (2) por meio de um aumento de títulos do Tesouro em poder da população, (DgP - DgP-1); (3) por meio de uma redução de reservas em moeda estrangeira no banco central, E(B*C - B*C-1). Em resumo, o governo pode “imprimir dinheiro”, tomar empréstimos e reduzir as reservas externas. Devemos notar, rapidamente, alguns resultados desta conclusão. O Tesouro começa a financiar seu déficit apenas tomando empréstimos. Mas, à medida em que o banco central compra títulos do Tesouro, na realidade o governo está financiando seu próprio déficit, aumentando a oferta monetária. Se o banco central subseqüentemente vender moeda estrangeira para compensar o aumento da oferta monetária, na realidade estará financiando seu próprio déficit reduzindo as reservas em moeda externa. Em essência, não é suficiente analisar como o Tesouro financia o déficit - sempre o faz por meio de títulos. Também precisamos saber quem os compra e quais são as políticas monetárias acionadas. Nas nações com alta inflação, o público tipicamente não compra novas dívidas governamentais e o banco central geralmente tem um nível baixo de reservas. O governo, portanto, não tem outra opção a não ser financiar o déficit mediante a emissão de dinheiro, (Mh - Mh-1). (Sachs & Larrain, p.307). Observação: a única forma de, em países de alta inflação, o público adquirir títulos do governo é estes serem indexados à inflação. Ex. a ORTN de 1964 e seus sucedâneos, criados no Brasil quando este optou em conviver com a inflação, em lugar da estabilidade. 3.4. O Equilíbrio no Mercado Monetário No equilíbrio, a oferta de moeda deve ser igual à demanda por moeda. Podemos expressar o equilíbrio como: MD = Pf(i, Y) = Mh = MS MS P MD A P0 MD M Lembre-se de que a demanda por moeda é uma demanda por saldos reais. Portanto, é proporcional ao nível de preços ou, em outras palavras, um aumento em P gera um aumento na mesma proporção em MD. Por outro lado, a oferta monetária que deduzimos é uma oferta da base monetária nominal. Assim, é conveniente representar o equilíbrio do mercado monetário num gráfico (com moeda nominal no eixo vertical). Em nosso esquema simples, a oferta monetária é representada como uma reta vertical, porque independe do nível de preços. A demanda por moeda, por sua vez, é uma reta que começa na origem. A reta significa que o valor real dos saldos monetários desejados permanece inalterado quando há variação de preços. Pode parecer estranho que uma curva da demanda seja crescente, mas lembre-se de que estamos descrevendo a demanda por moeda, e preços mais altos significam maior demanda por saldos monetários nominais. Naturalmente, ao descrever a demanda por moeda estamos supondo que a taxa de juros e o nível de renda são constantes. As variações de i e Y deslocariam a curva da demanda por moeda. O ponto de equilíbrio é A, a intersecção das duas retas. Em A, a demanda por moeda é igual à oferta de moeda. Veja que o ponto A também determina o nível de preços de equilíbrio. Vamos supor que o banco central faz uma compra de títulos no mercado aberto, o que acarreta um aumento da base monetária. No nível inicial de preços, taxa de juros e renda, haveria um excesso de oferta de moeda. Como o mercado voltaria ao equilíbrio? A resposta, na realidade, é muito complexa, porque se poderia chegar ao novo equilíbrio pelo menos de quatro modos: (1) um aumento nos preços, o que elevaria a demanda até ficar igual à oferta; (2) uma queda na taxa de juros, que também elevaria a demanda reduzindo a velocidade de circulação da moeda; (3) um aumento na renda, que elevaria a demanda por moeda; ou (4) uma queda endógena da oferta de moeda, que traria a oferta de volta ao equilíbrio anterior. Finalmente, poderia ocorrer alguma combinação desses acontecimentos, com resultados mistos, uma parte elevando a demanda por moeda e outra reduzindo a oferta ao nível original. (Sachs & Larrain, p.310) 3.5. A Política Monetária A política monetária pode ser definida como o controle da oferta de moeda e das taxas de juros, no sentido de que sejam atingidos os objetivos da política econômica global do governo. Esta definiçäo admite, implicitamente, que as autoridades monetárias podem exercer o controle da oferta de moeda, sendo esta dada como variável exógena. Admite, ainda, que o conceito de moeda, objeto do controle oficial, seja operacionalizável, isto é, a adoçäo de um conceito de moeda que possa ser submetido ao controle de um organismo central. Por mais acentuada que possa ser a tendência monetarista da política econômica, esta interage com as políticas fical, de rendas e cambial. A política fiscal é constituída pelas diferentes formas de tributaçäo e de dispêndios do governo. A política de rendas é constituída pelos controles diretos exercidos sobre as remuneraçöes dos fatores (salários, depreciaçöes, royalties, lucros e dividendos) e sobre os preços dos produtos finais e intermediários. A política cambial é constituída pela administraçäo da taxa de câmbio e pelo controle das operaçöes cambiais. Instrumentos de Política Monetária a) fixaçäo da taxa de reservas; b) realizaçäo de operaçöes de redesconto ou empréstimos de liquidez; c) realizaçäo de operaçöes de mercado aberto; d) controle e seleçäo do crédito; Objetivos da Política Monetária 1. promoçäo do crescimento ou do desenvolvimento econômico; 2. promoçäo do mais alto nível possível de emprego e manutençäo de sua estabilidade; 3. estabilidade dos preços; 4. equilíbrio nas transaçöes econômicas com o exterior (uma taxa de câmbio adequada); Portanto, entre as metas fundamentais ou finais da política macroeconômica, normalmente incluem-se a estabilidade dos preços e da taxa de câmbio, o crescimento do emprego e da renda e a consecução de um equilíbrio razoável das transações com os demais países. Para alcançar essas metas, as autoridades do país recorrem a diferentes políticas, entre estas a política monetária. Nos modelos teóricos mais utilizados nos países desenvolvidos, considera-se que a política monetária exerce controle integral sobre todos os agregados monetários do país, ou seja, os agregados monetários são considerados como instrumentos da política monetária. Nos países em desenvolvimento, a política monetária nem sempre tem uma meta específica de controle sobre os agregados monetários. Por exemplo, o principal objetivo da política monetária de alguns países, especialmente dos países da América Latina, vinha sendo o financiamento do déficit do setor público. Observa-se, entretanto, que esta subordinação da política monetária à política orçamentária não se limitou aos países latino-americanos. Os bancos centrais da maioria dos países, inclusive os desenvolvidos, foram criados fundamentalmente como “bancos de Estado” ou lhes foram outorgados privilégios de emissão de notas, em troca de sua transformação em bancos centrais. Isto ocorreu inclusive com o Banco da Inglaterra. Goodhart, C. (1988). Esta subordinação da política monetária à política orçamentária não leva em conta a importância que a variação dos agregados monetários e da disponibilidade de crédito tem sobre a demanda agregada, nem tampouco os prejuízos ocasionados pelo alto nível de inflação ou a exclusão, pelo setor público, do acesso do setor privado ao crédito. Entretanto, nos últimos anos, o papel da política monetária tem mudado muito nos países em desenvolvimento, pois um número crescente destes países vem reconhecendo os enormes prejuízos que podem advir de uma taxa de inflação alta e da exclusão do setor privado. O crescimento tem que ser visto pelo lado da economia real. 3.6. A Moeda e as Taxas de Câmbio e de Juros Até aqui, ao analisar o mercado monetário isolado do resto da economia, só pudemos falar sobre um equilíbrio parcial, sem considerar os efeitos do mercado monetário sobre as outras partes da economia. A fim de analisar a repercussão da política monetária sobre a economia, precisaremos fazer uma análise geral do equilíbrio. Vamos continuar adotando um modelo clássico muito simples, em que a produção sempre está em pleno emprego. Em geral, também vamos supor que o capital tem movimentação livre e, portanto, que a taxa interna de juros é igual à externa, que a economia produz um único bem que pode ser importado e exportado a um preço internacional constante, P*. Com a análise da demanda e da oferta de moeda e com um pouco da teoria geral do equilíbrio, poderemos compreender melhor como a taxa cambial, o nível de preços e a oferta monetária são determinados levando-se em conta todos os mercados. (Sachs & Larrain, p.319) 3.6.1. Os Arranjos de Câmbio As Operações de um Regime Cambial Fixo Num sistema cambial fixo, o banco central fixa o preço da moeda nacional em rrelação a uma moeda estrangeira. Esse preço fixo, às vezes, é chamado paridade da moeda. Entretanto, em certos casos, a paridade tem pouco significado econômico, porque, mesmo havendo um valor cambial oficial, não se consegue vender ou comprar a moeda por esse valor. Por exemplo, quando o banco central não quer, ou não pode, converter dólares em moeda local ao preço cotado. Neste caso, dizemos que a moeda é inconversível. Contudo, a maior parte da nossa análise restringe-se ao caso da moeda conversível, em que a taxa cambial fixada é de fato o preço ao qual a moeda nacional pode ser convertida em moeda estrangeira. O termo “taxa cambial fixa” geralmente é usado para simbolizar uma série de preços inalteráveis entre moedas, sem possibilidade de variação. Uma “taxa cambial ancorada” indica que o preço da moeda é definido pelo banco central, mas pode ser alterado se as circunstâncias exigirem. Em geral, a taxa de câmbio é definida como o número de unidades em moeda doméstica necessário para adquirir uma unidade em moeda estrangeira. Como se define uma determinada taxa de câmbio num sistema de câmbio fixo? Um certo país, que, vamos convencionar, é o doméstico, pode definir uma taxa de câmbio “ancorando” o valor da sua moeda no valor da moeda de outra nação, e depois se dispõe a comprar e vender a moeda estrangeira à taxa escolhida. Ou, então, as nações cujas moedas vão estar relacionadas fazem um arranjo. A âncora unilateral é típica nas nações em desenvolvimento, que fixam o valor da moeda nacional em relação à moeda de uma nação industrializada. Neste caso, a primeira nação assume total responsabilidade de manter a taxa cambial no valor com o qual se comprometeu. Em outros casos, a taxa de câmbio fixa é uma responsabilidade compartilhada pelas nações envolvidas. Chamamos esse sistema de arranjo cambial cooperativo (...). Esse tipo de arranjo é característico de economias médias e grandes, como as dez nações da Europa Ocidental integrantes do mecanismo cambial do Sistema Monetário Europeu no final de 1990. (Sachs & Larrain, p.328) As Operações de um Regime de Taxas Flexíveis de Câmbio Num regime cambial flexível, ou flutuante, a autoridade monetária não tem compromisso algum para apoiar uma determinada taxa. Todas as flutuações na demanda e na oferta de moeda estrangeira se acomodam por meio da alteração de preço da moeda estrangeira em relação à nacional. O banco central define a oferta monetária sem se comprometer com uma taxa cambial específica e, depois, permite que ela flutue em resposta aos distúrbios econômicos. Se o banco central não intervir de modo algum no mercado cambial, comprando ou vendendo moeda estrangeira, dizemos que a moeda nacional tem uma flutuação limpa. As nações que operam com taxas flexíveis freqüentemente tentam influenciar o valor da sua moeda realizando operações no câmbio de moeda estrangeira. Isso é chamado flutuação suja. Neste ponto, precisamos definir uma terminologia que nos ajudará a analisar a taxa cambial. E é o preço da moeda estrangeira, medida como o número de unidades de moeda nacional que pode ser adquirida por unidade da moeda estrangeira (ou número de unidades de moeda nacional necessário para adquirir uma unidade da moeda estrangeira). Um aumento de E é chamado desvalorização da moeda se ocorrer num sistema de câmbio fixo, e depreciação se ocorrer num sistema de câmbio flutuante. Da mesma forma, uma queda de E é chamada valorização num sistema de câmbio fixo e apreciação num sistema de câmbio flutuante. (Sachs & Larrain, p.329) 3.6.2. A Base de um Modelo de Equilíbrio Geral Quando tivermos um modelo teórico da economia que determine o valor de equilíbrio do nível de preços (P), da taxa cambial (E) e da quantidade de moeda (M), ele será usado para avaliar as conseqüências de determinadas políticas sobre estas variáveis. Começaremos introduzindo dois fatores no modelo do equilíbrio geral: a paridade do poder de compra e a paridade dos juros. Estes conceitos nos permitem relacionar os preços e as taxas de juros internos ao preços e taxas de juros internacionais. (Sachs & Larrain, p.328) A Paridade do Poder de Compra A paridade do poder de compra, ou PPC, é um conceito antigo, cuja origem remonta à escola de Salamanca, na Espanha, no século XVI, e ao trabalho de Gerrard de Malynes, na Inglaterra, no início do século XVII. Mas só foi na segunda década do nosso século que o economista sueco Gustav Cassel cristalizou este conceito e o popularizou. Desde então, o nome de Cassel está associado à PPC. A idéia em que o conceito se baseia é a lei do preço único, ou seja, que qualquer mercadoria num mercado integrado tem um único preço. Se supusermos que um mercado interno e um mercado estrangeiro estão suficientemente integrados (ou seja, uma série de mercadorias pode ser facilmente comercializada entre os dois mercados), a lei do preço único diz que o preço destes produtos deve ser o mesmo nos dois países. Mas aí surge uma complicação: um mesmo produto terá um preço na moeda nacional no país produtor e um preço na moeda do país comprador. Pela lei do preço único, os dois preços devem ser iguais quando expressos numa moeda comum. Portanto, para aplicar esta lei precisamos de uma taxa de câmbio para converter a moeda estrangeira em nacional, e vice-versa. Suponha que o preço da mercadoria no país comprador seja P*. Quando o preço for expresso em moeda nacional, o preço será simplesmente P* multiplicado pela taxa cambial. A lei do preço único afirma que o preço interno P deve ser igual a EP*: P = EP* Portanto, se o ouro na Alemanha custa 700 marcos a onça, e a taxa cambial é de 3 francos franceses por marco alemão, o preço em francos do ouro na Alemanha, evidentemente, é de 2.100 francos por onça: 2.100 francos/onça = 3 francos/marco x 700 marcos/onça. A hipótese da lei do preço único é que, se houver comércio livre de ouro entre Alemanha e França, o preço do ouro na França também será de 2.100 francos por onça. Arbitragem é o processo que garante que a lei do preço único vai ocorrer. Suponha que o preço do ouro na França seja 2.500 francos. Haveria uma oportunidade de obter lucro importando-se ouro da Alemanha para que fosse vendido na França. A concorrência entre os importandores baixaria o preço para 2.100 francos. Ou, então, os franceses não comprariam o ouro na França porque seria mais barato comprá-lo no exterior. Como a lei do preço único deve poder vigorar em todas as mercadorias do comércio internacional, também deve vigorar para o índice de preços interno (P), que é uma média ponderada dos preços das mercadorias isoladas. E este deve ser igual ao índice de preços mundial (P*) vezes a taxa cambial (E). Contudo, (a PPC), como muitas outras hipóteses, simplifica demais a realidade. A relação apresentada só é válida em algumas condições irreais, como: (1) não há barreiras naturais ao comércio, como de transporte e seguros; (2) não há barreiras artificiais ao comércio, como tarifas e cotas; (3) todos os produtos são comercializados internacionalmente; e (4) os índices domésticos e estrangeiros incluem os mesmos produtos e a mesma ponderação. (Sachs & Larrain, p.331) Uma medida de competitividade geral de uma nação no mercado internacional (por exemplo, o interesse pelos produtos que exporta em comparação com os de outros países) é o preço dos seus produtos em comparação com opreço destes produtos nas nações concorrentes. O termo “taxa real de câmbio”, às vezes, é aplicada à taxa e = EP*/P. Quando e aumenta, os produtos estrangeiros ficam mais caros que os nacionais e, neste caso, falamos de uma depreciação na taxa de real de câmbio; por outro lado, quando e cai, falamos de uma apreciação da taxa real de câmbio. É claro que a hipótese básica de PPC é que e seja constante ou, pelo menos, quase constante, no decorrer do tempo. (Sachs & Larrain, p.332) A Arbitragem Internacional de Juros A arbitragem deve garantir que a taxa de juros sobre títulos nos Estados Unidos e sobre títulos franceses seja igual, supondo-se que não haja barreiras ao comércio internacional de ativos financeiros. Se, por exemplo, o ativo francês oferecer maior taxa de retorno, todos os investidores vão querer adquiri-lo, reduzindo desta forma a taxa de juros francesa e elevando a taxa de juros dos Estados Unidos. Portanto, num tipo de lei de preço único para ativos financeiros, podemos afirmar que: (1 + i) = (E+1/E) (1 + i*) Esta expressão pode ser reescrita como a seguinte aproximação: i = i* + (E+1 - E) / E Isto porque: (E+1 /E)(1+ i*) é igual a: 1+ i* + (E+1 - E)/E + i*[(E+1 - E)/E]. Como i*[(E+1 - E)/E geralmente corresponde a valores pequenos, seu produto é muito pequeno e pode ser ignorado. Portanto, temos que: 1 + i = 1 + i* + (E+1 - E)/E ou i = I* + (E+1 - E)/E. A equação i = i* + (E+1 - E) / E, mostra uma relação extremamente importante, chamada arbitragem dos juros. Na equação i = i* + (E+1 - E) / E vemos que a taxa de juros interna deve ser igual à externa mais a taxa de depreciação da taxa cambial. Naturalmente, os controles de capital podem destruir a relação anterior. (Sachs & Larrain, p.336) 3.6.3. O Equilíbrio Geral de Preços, Taxa de Câmbio e Moeda Agora, estamos prontos para reunir as três relações básicas que acabamos de analisar, para ver como se atinge o equilíbrio nesta economia. Vimos que a condição de equilíbrio no mercado monetário pode ser escrita como: MD = PY/V(i) = M Aqui, M é a oferta de moeda. A demanda por moeda MD é dada por PY/V(i), onde V(i) é a velocidade da moeda e, por hipótese, é uma função crescente da taxa de juros. Para chegarmos a uma caracterização total do equilíbrio, precisamos acrescentar duas relações. Uma é a paridade do poder de compra, (...), P = EP*. A outra é a arbitragem os juros que acabamos de deduzir na equação i = i* + (E+1 - E) / E. Por enquanto, vamos nos limitar a uma condição de equilíbrio em que os preços, a taxa cambial e as outras variáveis permanecem constantes, de modo que E = E+1. Neste caso, a equação anterior fica reduzida a sua forma mais simples, em que as taxas de juros interna e externa são iguais: i = i* Como a taxa interna de juros é igual à taxa mundial i* (que, por definição, é fixa), a velocidade da moeda, que depende da taxa de juros, também é fixa. Agora, vamos juntar todas as peças, encontrando uma relação simples entre oferta monetária e taxa cambial. Usando o equilíbrio do mercado monetário da equação MD = PY/V(i) = M, a paridade do poder de compra da equação P = EP* e a expressão simplificada de arbitragem de juros (i = i*), encontramos a seguinte relação básica: MV(i*) = EP*Y A relação entre M e E é mostrada na figura seguinte. Note que, quando E aumenta, a demanda por moeda M também aumenta. Uma depreciação (ou seja, um aumento) de E leva a um aumento dos preços internos e, portanto, a maior demanda por saldos monetários. MD E ângulo = V(i*)/P*Y M Figura - A relação de equilíbrio entre M e E. A equação MV(i*) = EP*Y pode ser usada para descrever M como função de E, ou de E como função de M. No primeiro caso, temos M = (EP*Y)/V(i*). No segundo caso, E = [(MV(i*)]/(P*Y). O lado pelo qual queremos ver a equação MV(i*) = EP*Y depende do tipo de sistema cambial administrado pelo banco central. Se a taxa cambial for fixada pelo banco central, a equação MV(i*) = EP*Y deve ser reescrita na forma que mostra M como função do nível de E escolhido pelo banco central: M = (EP*Y) / V(i*) Com a taxa fixa de câmbio, o estoque de moeda da economia se ajusta automaticamente, ou endogenamente, de modo que a equação anterior se mantém para o valor de E escolhido pelo banco central. Vamos ver como isto acontece na próxima seção. Por outro lado, se a taxa de câmbio for flexível, a equação MV(i*) = EP*Y deve ser reescrita na forma que mostra o nível de E consistente com o nível de M escolhido pelo banco central: E = [M(V(i*)] / P*Y Em resumo, se a taxa de câmbio for fixada pelo banco central, E passa a ser uma variável exógena na equação M = (EP*Y) / V(i*), ou seja, E é determinado por fatores externos ao modelo (neste caso, pelas preferências políticas do banco central). M, por outro lado, é uma variável endógena, determinada pelas condições de equilíbrio na economia. Se a taxa de câmbio flutua, E é uma variável endógena na equação E = [M(V(i*)] / P*Y e M passa a ser uma variável exógena. (Sachs & Larrain, p.338) 3.6.3. A Política Monetária sob Diferentes Regimes Cambiais Há diferentes maneiras de ajustar os mercados monetários nas economias com diferentes regimes cambiais. Numa economia fechada ou numa economia com taxas de câmbio flexíveis, as autoridades monetárias podem exercer uma influência considerável sobre a determinação do montante nominal de liquidez da economia, mas, nas economias abertas, com taxas de câmbio fixas (ou muito pouco flexíveis), as autoridades monetárias praticamente não exercem qualquer influência sobre o montante nominal de liquidez da economia, pois este é determinado pelo comportamento do público. Portanto, nas economias abertas, tanto o montante real, quanto o montante nominal de liquidez são determinados pelo público, pois este ajusta sua demanda à oferta de agregados monetários através do balanço de pagamentos. Nas economias abertas com taxas de câmbio fixas, as autoridades monetárias não têm influência alguma sobre os agregados monetários, mas podem controlar a expansão do crédito interno. Além disso, cada vez que a expansão do crédito interno (determinada pelas autoridades monetárias) difere da expansão da demanda de agregados monetários (determinada pelo público), ocorrem variações no balanço de pagamentos (e/ou no nível de preços), que produzem os ajustes necessários para equilibrar o mercado monetário. Nessas condições, para se obter um determinado saldo do balanço de pagamentos e um determinado nível de demanda agregada, é preciso partir de um nível específico de crédito interno. Conseqüentemente, esse nível específico de crédito interno representa a meta por meio da qual é possível controlar a demanda agregada e o balanço de pagamentos. Esta relação entre o crédito interno e o balanço de pagamentos constitui a essência da chamada “abordagem monetária do balanço de pagamentos”. (FMI) Quando o banco central faz uma compra de títulos no mercado aberto, sabemos que inicialmente o estoque da base monetária aumenta, com: Mh - Mh-1 = DgC - DgC-1 O lado direito desta expressão, o aumento da dívida governamental em poder do banco central, mede o tamanho da operação no mercado aberto. A base monetária inicialmente aumento no mesmo valor da compra de títulos. Mas as famílias verificam que têm mais dinheiro do que desejam manter a essa taxa de juros, a esses preços e a esse nível de renda. Portanto, tentarão converter parte do dinheiro excedente em outras formas de riqueza, B e B*. Mas a demanda por B não consegue absorver a moeda doméstica excedente, porque a compra de B pelas famílias com excesso de dinheiro simplesmente vai produzir um excedente em dinheiro para as famílias que venderam os títulos. As variações na taxa de juros também não poderão absorver o excedente na oferta monetária porque a arbitragem internacional faz com que i seja igual i*. Portanto, o excedente na oferta de moeda leva, ao menos parcialmente, a um aumento de demanda por B*, o ativo estrangeiro.1 As famílias tentam comprar moeda estrangeira com a moeda nacional para comprar os títulos estrangeiros. Desta forma, o excedente da oferta de moeda começa a elevar o preço da moeda estrangeira, ou seja, M maior gera uma depreciação incipiente da taxa de câmbio. Agora vamos ver o que acontece, primeiro com taxas cambiais fixas e, depois, com taxas flutuantes. (Sachs & Larrain, p.339) Taxas Cambiais Fixas Como E é constante num regime de taxa fixa de câmbio, o banco central vai estar disposto a intervir no mercado para evitar que E sofra uma depreciação. Em especial, o banco central vai vender reservas em moeda estrangeira para evitar que o preço da moeda estrangeira suba (ou seja, que E seja depreciado). A venda de reservas ao público faz com que o estoque da base monetária caia, e o aumento na oferta monetária decorrente da operação original de mercado aberto é reabsorvido. No entanto, enquanto M continuar maior do que antes da operação no mercado aberto, a oferta maior de moeda vai continuar. O banco central vai precisar ficar vendendo reservas até M voltar ao nível inicial. Portanto, se o banco central realizou a compra no mercado aberto com o objetivo de aumentar a oferta monetária, não o atingiu.2 No final, o banco central perde em reservas exatamente o valor do aumento original da oferta monetária. Encontramos: E(B*C - B*C-1) = - (DgC - DgC-1) Quando a poeira baixar, o balancete do banco central vai mostrar menos reservas estrangeiras, compensadas exatamente pelo valor do aumento de títulos internos, e o valor total do ativo permanece inalterado. A quantidade de moeda, por outro lado, continua a mesma: Mh - Mh-1 = DgC - DgC-1 + E(B*C - B*C-1) = 0 No prazo muito curto, a taxa interna de juros pode cair em comparação com as taxas externas, mas isto levaria rapidamente a um deslocamento da demanda para o ativo estrangeiro, reduzindo o pr eço do título nacional (e, portanto, aumentando a taxa interna de juros) até que i = i* seja restaurado. A idéia de que uma expansão monetária se traduz numa perda de reservas cambiais é um resultado básico da abordagem monetária ao balanço de pagamentos, um esquema que remonta ao trabalho de David Hume no século XVIII. Essa observação nos leva a um resultado verdadeiramente notável: num regime de taxa cambial fixa com movimentação livre de capital, o banco central não consegue afetar a quantidade de moeda. Qualquer tentativa, como, por exemplo, por meio de uma operação no mercado aberto, dá origem somente a uma perda de reservas internacionais. Portanto, o estoque monetário é endógeno, e não é controlável pelo banco central. (Sachs & Larrain, p.340) Taxas Cambiais Flexíveis Num regime de taxas flexíveis de câmbio, o governo não intervém quando há depreciação na taxa de câmbio. À medida em que a depreciação continua, os preços internos vão aumentando na mesma proporção, de acordo com a paridade do poder de compra (ou seja, a depreciação aumenta o preço em moeda nacional dos produtos estrangeiros, o que também aumenta o preço interno dos produtos nacionais). Por sua vez, o aumento de preço corrige o excesso de oferta de moeda, reduzindo a sua quantidade real. Repare que, como M/P fica mais alto depois da compra no mercado aberto, continua havendo um excesso de oferta monetária, e isto continua a empurrar a taxa cambial e os preços para cima. Num certo ponto, os preços vão ser aumentados na mesma proporção do aumento no estoque monetário, de modo que M/P terá voltado ao nível inicial. Portanto, o excedente de oferta monetária é resolvido por meio de um aumento nos preços internos, e os saldos monetários reais voltam ao nível original antes da operação no mercado aberto. Neste caso, a moeda e os preços aumentaram na mesma proporção. Podemos resumir a análise feita até aqui: com taxas de câmbio fixas, o estoque monetário é endógeno e a taxa de câmbio é exógena. Com taxas flexíveis, ocorre o inverso: a taxa cambial é a variável endógena e o estoque de moeda é exógeno. (Sachs & Larrain, p.341) 3.6.5. As Metas Monetárias nas Economias com Taxas de Câmbio Flexíveis Com o desaparecimento das taxas de câmbio fixas, os países puderam controlar a oferta monetária e começaram a utilizar metas intermediárias mais relacionadas com o mercado interno. A seguir são examinadas as variáveis que estão sob o controle das autoridades monetárias e as que não estão. Este exame pode explicar o motivo pelo qual algumas variáveis importantes, como as taxas de juros e o nível de preços, não são metas apropriadas de política monetária. Depois são discutidos alguns aspectos do uso dos agregados monetários como metas ou objetivos intermediários de política monetária. Finalmente, são examinados os efeitos das inovações financeiras e a integração mundial dos mercados financeiros com as metas adequadas de política monetária. Variáveis controláveis e variáveis não-controláveis Alguns modelos monetários de tradição keynesiana para países industrializados supõem que as autoridades monetárias possam controlar a taxa de juros. Supõem, outrossim, que as variações da taxa de juros afetam de forma previsível o investimento e o consumo (poupança) e, portanto, a renda monetária. Embora a taxa de juros seja de fato uma variável muito importante, que influi sobre a despesa e a renda, estas últimas dependem também das expectativas a respeito das variações futuras, inclusive das variações das taxas de juros. Além do mais, não é certo que as autoridades monetárias possam controlar a taxa de juros, exceto a prazo muito curto. É provável, além disso, que as medidas tomadas para controlar a taxa de juros desestabilizem a economia. Impossibilidade de controlar a taxa de juros a longo prazo A impossibilidade de controlar a taxa de juros a longo prazo e a possibilidade de que as tentativas de fazê-lo desestabilizem a economia, se devem a que os efeitos a curto prazo da política monetária sobre as taxas de juros diferem dos efeitos a prazo médio. Por exemplo, a prazo muito curto, um aumento imprevisto da oferta monetária cria um excesso de oferta de dinheiro, que tende a reduzir a taxa de juros. Este é o efeito de “liquidez”, fundamental na teoria keynesiana. Não obstante, a curto e médio prazos, as variações resultantes dos gastos afetarão a renda real e os preços. Este efeito de renda fará com que a procura de dinheiro aumente, desaparecendo com isto o excesso anterior de oferta e as taxas de juros tenderão a retornar ao seu nível inicial. Se o público começasse a prever o aumento da oferta monetária e os aumentos resultantes de preços, também preveria a subida das taxas de juros. Este último efeito de “expectativas” ou “efeito de Fisher”, explica porque, contrariamente ao que postula a doutrina keynesiana ortodoxa, os países com altas taxas de crescimento da oferta monetária, como por exemplo a Argentina e o Brasil, têm taxas de juros muito altas, enquanto os países com baixas taxas de crescimento da oferta monetária, como por exemplo a Suiça, têm taxas de juros baixas. Os três efeitos acima também explicam o motivo pelo qual os países não podem estabelecer metas para as taxas de juros, salvo por um prazo muito curto, porque, se o fizerem, serão obrigados a aumentar a oferta monetária acima do previsto, o que, além de contraproducente a médio prazo, teria consequências desestabilizadoras. Nem a taxa de desemprego, nem a taxa de inflação, podem ser metas de política monetária. Em primeiro lugar, as autoridades monetárias não controlam diretamente a taxa de desemprego nem a taxa de inflação, porque as variações dessas taxas dependem das mudanças de múltiplas variáveis e não somente das modificações da política monetária. Em segundo lugar, os efeitos das modificações da política monetária sobre essas duas taxas não são previsíveis, porque ocorrem com defasagens longas e variáveis, segundo as expectativas do público sobre a inflação, a produção, a taxa de câmbio etc. Os agregados monetários como metas intermediárias de política monetária Nas décadas de setenta e oitenta, muitos países começaram a utilizar os agregados monetários como meta apropriada da política monetária. Em primeiro lugar, os agregados monetários estão sob controle direto das autoridades monetárias nos países com taxas de câmbio flexíveis. Isto é, ao modificar a base monetária (e outros instrumentos), as autoridades podem neutralizar os efeitos de mudanças inesperadas de comportamento dos agentes econômicos, para conseguir o valor nominal desejado do agregado monetário (evidentemente, não podem controlar o valor real desses agregados, nem do crédito real). Em segundo lugar, existe uma grande quantidade de dados empíricos que sugerem a existência de uma procura estável dos agregados monetários e, portanto, de relações previsíveis entre os agregados monetários e a renda nominal. Obviamente, ninguém pode prever se estas relações serão estáveis a prazo muito curto, pois isto também depende da evolução de variáveis reais, “perturbações reais”, que afetam a taxa de juros e/ou os gastos do setor privado, e das expectativas dos agentes econômicos. Mas, supõe-se, que esses efeitos se equilibram dentro de um ano ou de vários anos. Dada esta relação entre a renda nominal (ou o PIB nominal) e algum agregado monetário, o que se busca mediante a seleção de um agregado monetário como meta intermediária é a obtenção dos níveis desejados de renda nominal (PIB) a prazo médio. Isto é, a seleção de um agregado monetário como meta intermediária não é um fim em si mesmo, mas um meio de atingir um fim. Em terceiro lugar, hipóteses novas, como a das “expectativas racionais”, colocaram em dúvida o mérito da estratégia anterior das autoridades monetárias, de “remar contra a maré”, ou seja, de procurar estabilizar as taxas de juros, a taxa de desemprego etc. Se as expectativas são “racionais”, no sentido de que se baseavam nas melhores teorias e informações existentes, os esforços das autoridades monetárias para mudar essas expectativas estavam fadados ao fracasso. Consequentemente, as autoridades monetárias de muitos países industrializados, em vez de empenharem-se em modificar as expectativas, começaram a anunciar os valores que pretendiam para os agregados monetários, resumindo assim, adequadamente, sua política. O principal objetivo era facilitar o processo de decisão e aumentar a confiança do setor privado, já que esta política reduzia a possibilidade de decisões errôneas baseadas em expectativas incorretas. No Quadro são apresentados alguns dos agregados monetários adotados para indicar a política monetária, em países selecionados. Agregados Monetários Selecionados como Metas Intermediárias em Oito Países Industrializados País Agregado Monetário Alemanha Base monetária (dinheiro primário) (1) Canadá M1 (2) Estados Unidos M1, M2, M3 (3) França M3 (4) Itália Crédito interno Japão M2 + Certificados de depósito Reino Unido Base monetária, M3 Suiça Base monetária, M1 (1) Definida como a soma da moeda em circulação mais reservas obrigatórias (2) Até 1981 (3) M1 foi abandonado como meta intermediária em 1987 (4) M3 inclui M2 mais os certificados de depósito, mais títulos de curto prazo emitidos pelo sistema financeiro. Antes de 1986, a meta era o crédito interno, como na Itália. Evolução recente dos agregados monetários como metas de política monetária Nos últimos anos, as circunstâncias obrigaram vários países industrializados a modificar suas metas intermediárias de política monetária. Os Estados Unidos abandonaram sua meta de M1 em 1987, o Canadá suspendeu a adoção de metas monetárias em 1981 e a Alemanha substituiu sua meta anterior por um novo M3, que inclui moeda em circulação, depósitos à vista, depósitos a prazo de menos de 4 anos e depósito de poupança institucional. Os principais motivos destas modificações foram as inovações baseadas em avanços técnicos e as novas normas regulamentares, que eliminariam algumas das vantagens de se ater a uma meta anunciada de um agregado monetário como objetivo da política monetária. Em especial, o progresso tecnológico nas áreas de comunicação e registro de transações (computadores etc) diminuiram o custo das transações financeiras. Esta redução dos custos das transações incentivou a criação de novos instrumentos financeiros e o aparecimento de novos intermediários financeiros. Isto, por sua vez, levou à desregulamentação dos intermediários e ao fortalecimento da concorrência, à inovação e ao aumento da eficiência dos mercados financeiros. Um efeito imediato destas inovações foi um maior grau de substituição entre os vários tipos de ativos financeiros. Nos Estados Unidos, por exemplo, os depósitos em conta corrente, que agora pagam juros, cresceram rapidamente, às expensas de outros tipos de depósitos. Por isto, a relação entre M1 e a renda é completamente distinta da relação anterior. Outra mudança estrutural do mercado financeiro foi a estreita integração dos mercados financeiros internacionais, especialmente nos países industrializados. Esta integração se deveu, em parte, à queda do custo das transações e à desregulamentação dos mercados nacionais, com a qual se procurou aumentar a concorrência internacional. Outro fator da modificação das metas monetárias - talvez o mais importante - foi o surgimento de substanciais flutuações das taxas de câmbio. Estas flutuações levaram as autoridades monetárias de muitos países industrializados a dar maior importância ao equilíbrio externo, em detrimento dos objetivos internos. Efetivamente, o empenho dos países do G-7 em reduzir a instabilidade das taxas de câmbio fez com que esta taxa voltasse a se converter numa meta importante da política dos grandes países industrializados, que suplanta, quando necessário, as metas monetárias. Não obstante, mesmo com todas estas mudanças imprevistas e perturbações, poucos países abandonaram a política de anunciar o nível desejado de crescimento dos agregados monetários como meta intermediária de política monetária. Muitos economistas e autoridades nacionais crêem que um enfoque nitidamente discricionário debilitaria a confiança do público. Em alguns países, as autoridades monetárias complementaram as metas monetárias com algumas medidas discricionárias, numa tentativa de suavizar as repercussões de mudanças imprevistas e de outras perturbações. 3.6.6. Política Monetária e Desenvolvimento Econômico A percepção da função que a política monetária desempenha no desenvolvimento econômico mudou durante as duas últimas décadas. Nas décadas de cinquenta e sessenta, alguns países - especialmente os do Cone Sul - adotaram uma estratégia monetária de estimular os gastos, baseando-se na idéia de que o aumento da demanda agregada aumentaria a produção. Esta idéia supunha um excesso generalizado de capacidade na economia, um tanto semelhante à situação dos países industrializados durante a Grande Depressão. A inflação resultante era considerada uma consequência inevitável do processo de desenvolvimento. Esta estratégia correspondia à escola “estruturalista” e não se estendia a outros países, que temiam o alto custo da inflação. A outra estratégia para evitar a inflação propugnava a disciplina monetária. É a estratégia da escola “monetarista”, que os estruturalistas tachavam de “anti-crescimento”. A experiência dos países que adotaram políticas monetárias expansionistas durante os anos cinquenta e sessenta convenceu as autoridades de que a expansão inflacionária dos agregados monetários nominais reduz o crescimento, em lugar de fomentá-lo. Ao mesmo tempo, as novas proposições teóricas e os estudos empíricos produziram outra estratégia monetária para aumentar o crescimento econômico. A nova estratégia insistia em que a intermediação financeira promovia o aumento da poupança real e a eficiência do investimento. As idéias básicas desta abordagem são as seguintes: i) a intermediação bancária aumenta os recursos financeiros; ii) os recursos financeiros representam poupança transferível e a produtividade desta poupança pode aumentar se, em vez de ser reinvestida nas unidades com superavit de recursos, ela for transferida para as unidades que têm projetos produtivos; iii) os recursos financeiros que contam são os recursos financeiros reais, determinados pelo público; não obstante, as autoridades monetárias podem influir no volume de recursos financeiros reais, modificando a “qualidade” dos ativos monetários disponíveis; iv) numa situação de concorrência e ausência relativa de distorções, o uso de recursos financeiros pelos agentes econômicos será mais eficiente. A adoção desta estratégia produziu mudanças importantes na organização do sistema financeiro de alguns países, as denominadas “reformas financeiras”. Em termos mais gerais, o estímulo ao crescimento econômico converteu-se num objetivo a mais da política econômica num número maior de países. Para alcançar estes objetivos, os países reformaram seus sistemas de controle monetário, desde os controles diretos - sobre a expansão do crédito dos vários bancos ou sobre a taxa de juros - aos instrumentos de mercado. Referências Bibliográficas Friedman, Milton (1968). O papel da política monetária. In Shapiro (1978), Análise Macroeconômica - Leituras selecionadas. Ed. Atlas. Fundo Monetário Internacional, Instituto do FMI, Política de Taxa de Juros e Reforma Financeira (apostila). Sachs, Jeffrey D. e Larrain, Felipe B. Macroeconomia, Makron Books, São Paulo, 1995. ANEXO - Resumo de Texto O Papel da Política Monetária (Milton Friedman) Nota: Reimpresso do American Economic Review (março de 1968), pp. 1-17, com permissão do autor e do editor. Milton Friedman é professor catedrático da Universidade de Chicago. Discurso presidencial, feito na 80a. Conferência Anual da American Economic Association, Washington, D.C., 29 de dezembro de 1967. Existe ampla concordância a respeito dos objetivos principais da política econômica: taxa elevada de emprego, preços estáveis e crescimento rápido. Há menos acordo quanto a que esses objetivos sejam mutuamente compatíveis, ou que o sejam aqueles que os consideram incompatíveis, quanto aos termos em que poderão e deverão ser substituídos um pelo outro; há muito menos concordância a respeito do papel que os vários instrumentos de política poderão e deverão desempenhar para a realização das diversas metas. Meu tema para esta noite será o papel de um dos instrumentos: a política monetária. Com o que ela poderá contribuir e como deverá ser conduzida a fim de contribuir ao máximo? As opiniões sobre essas questões variaram amplamente. No primeiro rojão de entusiasmo sobre o recém-criado Sistema de Reserva Federal, muitos observadores atribuíram a relativa estabilidade dos anos 20 à capacidade do Sistema de promover uma sintonia precisa para se empregar um termo moderno adequado. Foi largamente aceito que havia chegado uma nova era, em que os ciclos econômicos se haviam tornado obsoletos, em virtude dos avanços da tecnologia monetária. (…) A Grande Contração destruiu essa atitude ingênua. As opiniões transportaram-se para o outro extremo. A política monetária era uma corda. Poder-se-ia puxá-la a fim de estancar a inflação, mas não se poderia empurrá-la para interromper a recessão. Alguém poderia levar um cavalo para beber água, mas não o poderia forçar a bebê-la. Keynes ofereceu simultaneamente uma explicação para a impotência presumida da política monetária em estancar a depressão, uma interpretação não-monetária da depressão e uma alternativa à política monetária, para fazer frente à depressão, e sua oferta foi avidamente aceita. Se a preferência pela liquidez for absoluta ou quase absoluta, como Keynes acreditava ser provável em épocas de elevado desemprego, as taxas de juros não poderão ser reduzidas pelas medidas monetárias. Se o investimento e o consumo forem pouco afetados pelas taxas de juros, como Hansen e muitos dos outros discípulos norteamericanos de Keynes acreditavam, as taxas de juros mais baixas, mesmo que pudessem ser alcançadas, resolveräo muito pouco. (…) A retraçäo posta em movimento sob este ponto de vista, por meio de um colapso do investimento ou por uma escassez das oportunidades de investimento ou uma parcimônia teimosa, näo poderia, argumentava-se, ser estancada por medidas monetárias. Mas havia uma alternativa disponível: a política fiscal. O dispêndio governamental poderia compensar o investimento privado insuficiente. As reduçöes dos tributos poderiam minar a parcimônia teimosa. A larga aceitaçäo desses pontos de vista no seio dos economistas significava que, por duas décadas, a política monetária seria considerada por todos, menos uns poucos espíritos reacionários, como tendo-se tornado obsoleta, em virtude do novo conhecimento econômico. A moeda näo tinha importância. Seu único papel era aquele desprezível de manter baixas as taxas de juros, a fim de auxiliar o dispêndio governamental a manter um alto nível de procura agregada. Essas visöes produziram uma adoçäo generalizada de políticas, que receberam um choque rude quando essas políticas falharam de país para país, quando os bancos centrais, um após o outro, foram forçados a abandonar a pretensäo de que poderiam manter indefinidamente a taxa de juros a um nível baixo. A inflaçäo, estimulada pelas políticas de moeda barata, e näo a depressäo de pós-guerra amplamente anunciada, foi que se tornou o assunto do dia. O resultado foi o início de um ressurgimento da crença na potência da política monetária. O renascimento da crença na potência da política monetária foi também amparado por uma reavaliaçäo do papel que a moeda havia desempenhado de 1929 a 1933. Keynes e a maioria de outros economistas acreditavam que a Grande Depressäo nos Estados Unidos ocorreu apesar das políticas expansionistas agressivas por parte das autoridades monetárias, que haviam feito de tudo e, no entanto, näo foi suficiente. Estudos recentes demonstraram que os fatos säo exatamente o inverso: as autoridades monetárias dos Estados Unidos seguiram políticas altamente deflacionárias. A quantidade de moeda nos Estados Unidos havia caído em um terço no decorrer da retraçäo. E ... caiu porque o Sistema de Reserva Federal forçou ou permitiu uma reduçäo profunda na base monetária, porque falhou em exercer as responsabilidades a ele atribuídas na Lei da Reserva Federal, de fornecer liquidez ao sistema bancário. A Grande Depressäo é uma testemunha trágica do poder da política monetária, e näo uma prova de sua impotência, como Keynes e muitos de seus contemporâneos acreditavam. Desacostumado como sou em denegrir a importância da moeda, realçarei, portanto, como primeira tarefa, o que a política monetária näo poderá fazer. Depois, tentarei delinear o que poderá realizar e como poderá dar sua contribuiçäo da melhor maneira ao estado atual de nosso conhecimento ou ignorância. A - O Que a Política Monetária Näo Poderá Fazer. Do universo infinito da negaçäo, selecionei duas limitaçöes da política monetária a serem discutidas: (1) näo poderá determinar as taxas de juros em mais que períodos bastante limitados; e (2) näo poderá determinar a taxa de desemprego em mais que períodos bastante limitados. (…) 1. Determinaçäo da Taxa de Juros Esta limitaçäo provém de um aspecto sobremodo mal compreendido da relaçäo entre a moeda e as taxas de juros. Imaginemos que o governo decida manter baixas as taxas de juros. Como tentará fazer isso? Naturalmente adquirindo títulos mobiliários. Isso eleva seus preços e reduz seus retornos. No processo, também aumenta a quantidade de reservas disponíveis aos bancos, daí a soma de crédito bancário e, finalmente, o montante total de moeda. É por isso que os bancos centrais em particular e a comunidade financeira de modo mais amplo, geralmente acreditam que um aumento na quantidade de moeda tenderá a diminuir a taxa de juros. Os economistas acadêmicos aceitam a mesma conclusäo, mas por diferentes razöes. Vêem na funçäo preferência pela liquidez uma inclinaçäo negativa. Como poderäo as pessoas ser induzidas a guardar uma soma maior de moeda? Somente baixando a taxa de juros. Ambos estäo corretos, até certo ponto. O impacto inicial de se aumentar a quantidade de moeda a uma taxa mais rápida do que aquela em que estava aumentando será a reduçäo das taxas de juros, em um período, a um ponto mais baixo do que seria de outra forma. Mas isso é somente o começo do processo, e näo o fim. A taxa mais rápida do crescimento monetário estimulará o dispêndio, quer através do impacto sobre o investimento das taxas de juros mais baixas do mercado, quer por intermédio do impacto sobre os outros dispêndios...Mas as despesas de um homem seräo a renda de outro. A renda crescente elevará a funçäo preferência pela liquidez e a procura de empréstimos; poderá também elevar os preços, o que reduziria a verdadeira quantidade de moeda. Esses três efeitos inverteräo a pressäo decrescente inicial sobre as taxas de juros de uma maneira bastante imediata, digamos em pouco menos que um ano. Juntos, tenderäo, após um intervalo mais ou menos longo, digamos um ou dois anos, a fazer com que a taxa de juros retorne ao nível que de outro modo teria tido. Na verdade, a tendência da economia de exagerar provavelmente elevará temporariamente a taxa de juros além daquele nível, pondo em movimento um processo cíclico de ajustamento. Um quarto efeito, caso venha a funcionar, irá mais longe e significará, realmente, que uma taxa mais alta de expansäo monetária corresponderá a nível mais alto, e näo mais baixo, de taxa de juros...Imaginemos que a taxa mais alta de crescimento monetário produza preços em ascensäo e que o público venha a esperar que os preços continuem a subir. Os tomadores de empréstimos estaräo dispostos a pagar e os emprestadores, entäo, exigiräo taxa de juros mais elevadas, como Irving Fisher salientou décadas atrás. Esse efeito de expectativas de preços é de lento desenvolvimento e demora também para desaparecer. Esses efeitos subsequentes explicam porque todas as tentativas para manter as taxas de juros a um nível baixo forçaram a autoridade monetária a se engajar em sucessivas e cada vez maiores aquisiçöes no "open market". Explicam porque, historicamente, as elevadas e crescentes taxas de juros nominais têm sido associadas com o crescimento rápido da quantidade da moeda, como no Brasil ou no Chile e nos Estados Unidos, em anos recentes, e porque taxas de juros baixas e decrescentes têm sido associadas com o crescimento lento na quantidade de moeda, como na Suíça de agora ou nos Estados Unidos de 1929 a 1933. Como uma matéria empírica, as taxas de juros baixas säo um sinal de que a política monetária tem sido apertada, no sentido em que a quantidade de moeda cresceu lentamente; taxas de juros altas säo um indício de que a política monetária tem sido fácil, no sentido em que a quantidade de moeda cresceu rapidamente. Os fatos mais amplos da experiência correm exatamente na direçäo oposta àquela em que a comunidade financeira e os economistas acadêmicos acreditavam fosse verdadeira. Paradoxalmente, a autoridade monetária poderia assegurar taxas baixas de juros nominais, mas, para fazê-lo, teria que iniciar pelo que parece ser a direção oposta, empenhando-se numa política monetária deflacionária. De forma semelhante, poderia assegurar taxas altas de juros nominais, empenhando-se numa política inflacionária e aceitando um movimento temporário das taxas de juros na direçäo oposta. Essas consideraçöes näo apenas explicam porque a política monetária näo poderá determinar as taxas de juros, mas também porque as taxas de juros säo um indicador täo enganoso do fato de a política monetária ser "apertada" ou "fácil". Para isso, será muito melhor observar a taxa de mudança da quantidade de moeda. 2. Emprego como um Critério da Política Econômica A segunda limitaçäo que desejo analisar vai mais contra a natureza do pensamento corrente. O crescimento monetário, como é largamente considerado, tenderá a estimular o emprego, e a retraçäo monetária a retardar o emprego. Por que, entäo, näo poderá a autoridade monetária adotar uma meta para o emprego ou desemprego, digamos de 3% de desemprego? Retrair ou näo a moeda, conforme o desemprego seja menor ou maior que a meta? (…) Graças a Wicksell, estamos todos a par do conceito de uma taxa de juros "natural" e da possibilidade de uma discrepância entre a taxa "natural" e a de "mercado". A análise precedente das taxas de juros poderá ser traduzida, de forma razoavelmente direta, em termos Wicksellianos. A autoridade monetária poderá tornar a taxa de mercado menor que a taxa natural apenas pela inflaçäo. Poderá tornar a taxa de mercado maior que a natural apenas pela deflaçäo. Acrescentamos somente uma sugestäo a Wicksell: a distinçäo de Irving Fisher entre a taxa de juros nominal e a real. Deixemos que a autoridade monetária mantenha a taxa nominal de mercado, por um tempo, abaixo da taxa natural, por meio da inflaçäo. Isso, por sua vez, elevará a própria taxa nominal natural, täo logo as antecipaçöes da inflaçäo se tornem generalizadas, exigindo, assim, uma inflaçäo ainda mais rápida para manter baixa a taxa de mercado. Essa análise possui sua contrapartida no mercado de emprego. Em qualquer momento no tempo, haverá algum nível de desemprego que possua a propriedade de ser consistente com o equilíbrio na estrutura das taxas de salários reais. Naquele nivel de desemprego, as taxas de salários reais tenderäo, em média, a crescer a uma taxa secular "normal", isto é, a uma taxa que poderá ser indefinidamente mantida enquanto a formaçäo de capital, os melhoramentos tecnológicos, etc permanecerem em suas tendências de longo prazo. Um nível mais baixo de desemprego é uma indicaçäo de que existe uma procura excessiva por trabalho, que produzirá uma pressäo ascendente sobre as taxas de salários reais. Um nível mais alto de desemprego é uma indicaçäo de que existe uma oferta excessiva de trabalho, que produzirá uma pressäo decrescente sobre as taxas de salários reais. A "taxa natural de desemprego", em outras palavras, é o nível que seria preparado pelo sistema walrasiano de equaçöes de equilíbrio geral, desde que nelas estivessem incluídas as características estruturais reais do trabalho e dos mercados de bens, inclusive as imperfeiçöes dos mercados, as variaçöes conjunturais nas procuras e ofertas, o custo de coletar informaçöes sobre vagas de empregos e disponibilidades do trabalho, os custos da mobilidade e assim por diante. Reconhecemos a semelhança íntima entre essa demonstraçäo e a famosa curva de Phillips. A análise de Phillips a respeito da relaçäo entre o desemprego e a mudança de salários é merecidamente celebrada como uma contribuiçäo importante e original. Mas, infelizmente, contém um defeito básico: a falha em distinguir entre os salários nominais e os reais, da mesma forma que a análise de Wicksell falhou em distinguir entre as taxas de juros nominais e as taxas de juros reais. Implicitamente, Phillips escreveu seu artigo para um mundo em que todos antecipassem que os preços nominais seriam estáveis e em que aquela antecipaçäo permanecesse estável e imutável, näo importando o que acontecesse com os preços e salários reais. Suponhamos, em contraste, que todos antecipassem que os preços subiriam a uma taxa de mais de 75% ao ano, como os brasileiros o fizeram há alguns anos atrás. Entäo os salários deveriam aumentar a uma taxa igual àquela, simplesmente para manter imutáveis salários reais. Uma oferta excessiva de trabalho será refletida num crescimento menos rápido dos salários nominais do que os preços antecipados, e näo num declínio absoluto dos salários. Quando o Brasil embarcou numa política para reduzir a taxa de aumento de preços e teve êxito em reduzir o aumento dos preços a aproximadamente 45% ao ano, houve um aumento inicial agudo do desemprego, porque, sob a influência de antecipaçöes anteriores, os salários continuavam a subir a um ritmo que era maior que a nova taxa de aumento dos preços, embora menor que antes. Esse é o resultado experimentado e esperado de todas as tentativas para reduzir a taxa de inflaçäo abaixo daquela largamente antecipada. Para evitar incompreensöes, deixem-me enfatizar que, usando o termo taxa "natural" de desemprego, näo quero sugerir que seja imutável e inalterável. Pelo contrário, muitas das características de mercado que determinam seu nível säo realizadas pelo homem e pela política econômica. Emprego o termo "natural" pela mesma razäo de Wicksell: para tentar separar as forças reais das forças monetárias. Vamos pressupor que a autoridade monetária tente determinar a taxa de "mercado" do desemprego, a um nível abaixo da taxa "natural". Suponhamos, hipoteticamente, que considere 3% como o objetivo de taxa, e que a taxa "natural" seja maior que 3%. Suponhamos, também, que iniciemos numa época em que os preços sejam estáveis e em que o desemprego seja maior que 3%. Consequentemente, a autoridade monetária aumentará a taxa de crescimento monetário. Isso será expansionista. Tornando as disponibilidades monetárias nominais mais altas que as pessoas desejarem, isso tenderá, incialmente, a reduzir as taxas de juros, e dessa e de outras formas, estimulará o dispêndio. A renda e o dispêndio começaräo a aumentar. Para começar, muita ou a maior parte do aumento de renda assumirá a forma de um aumento da produçäo e do emprego, e näo dos preços. As pessoas esperavam que os preços fossem estáveis e os preços e os salários foram programados para algum tempo no futuro, naquela base. Leva tempo para as pessoas se ajustarem a um novo estágio de procura. Os produtores tenderäo a reagir à expansäo inicial da procura agregada por meio do aumento da produçäo, os empregados através de um trabalho mais longo e os desempregados aceitando empregos agora oferecidos a salários nominais anteriores. Isso descreve somente os efeitos iniciais. Em virtude de os preços de venda dos produtos tipicamente reagirem a um aumento näo antecipado da procura nominal de modo mais rápido que os preços dos fatores de produçäo, os salários reais recebidos teräo caído, (...) , já que os empregados implicitamente avaliaram os salários oferecidos ao nível de preços mais antigos. Mas o declínio ex post dos salários reais logo afetará as antecipaçöes. Os empregados começaräo a ponderar sobre os preços crescentes das coisas que adquirem, e a exigir maiores salários nominais para o futuro. O desemprego do "mercado" será mais baixo que o nível "natural". Há uma procura excessiva por trabalho, no sentido em que os salários reais tenderäo a crescer na direçäo de seu nível inicial. Apesar de a taxa maior de crescimento monetário continuar, o aumento dos salários reais inverterá o declínio do desemprego, e depois levará a um aumento, que tenderá a repor o desemprego no seu nível anterior. A fim de manter o desemprego em seu nível de 3%, a autoridade monetária teria de elevar ainda mais o crescimento monetário. Como no caso da taxa de juros, a taxa de "mercado" de desemprego poderá ser mantida abaixo da taxa "natural" apenas pela inflaçäo e, também como no caso da taxa de juros, apenas pela aceleraçäo da inflaçäo. Inversamente, imaginemos que a autoridade monetária escolha um objetivo de taxa de desemprego que esteja acima da taxa natural, e que seja levada a produzir uma deflaçäo e, até mesmo, uma deflaçäo acelerada. E se a autoridade monetária escolher a taxa "natural", seja de juros ou de desemprego, como seu objetivo? Um dos problemas será que näo poderá saber qual seja a taxa "natural". Infelizmente, ainda näo descobrimos qualquer método que possa estimar precisa e prontamente a taxa natural, seja de juros ou de desemprego. E a taxa "natural", por si só, mudará de tempos em tempos. (…) Uma taxa de inflaçäo crescente poderá reduzir o desemprego, uma taxa elevada näo o fará. Para se declarar a conclusäo geral de modo ainda diferente, a autoridade monetária controlará as quantidades nominais, e diretamente a quantidade de suas próprias obrigaçöes. Em princípio, poderá empregar esse controle para determinar uma quantidade nominal, uma taxa de câmbio, o nível de preços, o nível nominal da Renda Nacional, a quantidade de moeda de uma ou de outra definiçäo, a taxa de mudança numa quantidade nominal ou a taxa de crescimento da quantidade de moeda. Näo poderá utilizar seus controles sobre as quantidades nominais a fim de determinar a quantidade real, a taxa de juros real, a taxa de desemprego, o nível da Renda Nacional real, a quantidade real de moeda, a taxa de crescimento da Renda Nacional real ou a taxa de crescimento da quantidade real de moeda. B - O Que a Política Monetária Poderá Fazer A política monetária näo poderá determinar essas magnitudes reais a níveis prédeterminados. Mas a política monetária poderá e terá efeitos importantes sobre essas magnitudes. De modo algum um é inconsistente com o outro. Meus próprios estudos sobre a história monetária tornaram-me extremamente complacente com o comentário muitas vezes citado, maltratado e largamente incompreendido de John Stuart Mill: "Näo poderá (...) haver uma coisa mais intrinsecamente insignificante na economia de uma sociedade que a moeda, exceto no caráter de um dispositivo para se poupar tempo e trabalho. É uma máquina para se realizar alguma coisa de forma rápida e cômoda, que, de qualquer forma, seria feita sem ela, embora menos rápida e comodamente: e, como muitos outros tipos de maquinaria, apenas exercerá uma influência distinta e independente por si própria quando estiver descontrolada". Realmente, a moeda é apenas uma máquina, mas é uma máquina extraordinariamente eficiente. Sem ela, näo teríamos começado a alcançar o surpreendente crescimento em produçäo e nível de vida que temos experimentado nos últimos dois séculos; nem mesmo teríamos conseguido sem aquelas outras maravilhosas máquinas que se espalham pelo interior de nosso país e que nos permitem, na maior parte, simplesmente realizar mais eficientemente o que poderia ser feito sem elas a um custo täo grande em termos de trabalho. Mas a moeda apresenta um aspecto que essas máquinas näo compartilham. Em virtude de ser täo penetrante, quando se descontrolar, introduzirá um deslocamento violento no funcionamento de todas as outras máquinas. A Grande Depressäo é o exemplo mais dramático, mas näo o único. Todas as outras retraçöes deste país, ou têm sido produzidas pela desordem monetária ou bastante exacerbadas pela desordem monetária. Todas as grandes inflaçöes foram produzidas pela expansäo monetária, principalmente para fazer frente às exigências superiores da guerra, que forçaram à criaçäo de moeda a fim de complementar a tributaçäo explícita. A primeira e a principal liçäo que a história nos ensina sobre o que a política monetária poderá fazer, sendo uma liçäo da mais profunda importância, é que a política monetária poderá impedir a própria moeda de se tornar uma fonte principal do distúrbio econômico. Há, portanto, uma tarefa positiva e importante para a autoridade monetária: a de sugerir melhorias na máquina, que reduziräo as possibilidades de ela se descontrolar e de utilizar seus próprios poderes a fim de se manter numa condiçäo de bom funcionamento. Outra coisa que a política monetária poderá fazer é providenciar um fundo estável para a economia e manter a máquina bem lubrificada, para continuar com a analogia de Mill. A realizaçäo da primeira tarefa será uma grande contribuiçäo para esse objetivo, mas há mais coisas ainda. Nosso sistema econômico funcionará melhor quando os produtores, consumidores, empregadores e empregados puderem prosseguir com plena confiança em que o nível médio de preços se comportará, no futuro, de uma maneira conhecida, preferivelmente que venha a ser altamente estável. Numa época anterior, contava-se com o padräo-ouro para fornecer confiança na estabilidade monetária futura. Em seu apogeu, serviu razoavelmente bem àquela funçäo. Claramente näo o faz mais, já que säo raros os países do mundo que estäo preparados para deixar o padräo-ouro reinar livremente, sendo que existem razöes bastante persuasivas para os países näo o fazerem. Finalmente, a política monetária poderá contribuir para a neutralizaçäo dos principais distúrbios do sistema econômico, que surgem de outras fontes. Se, como agora, um orçamento federal explosivo ameaçar a ocorrência de deficits sem precedentes, a política monetária poderá manter sob controle quaisquer perigos inflacionários, através de uma taxa mais lenta de crescimento monetário do que de outra forma seria desejável. Isso significará, temporariamente, taxas mais altas de juros do que de outra forma ( a fim de propiciar ao governo tomar emprestado somas necessárias para financiar o déficit), mas, impedindo a aceleraçäo da inflaçäo, poderá muito bem significar tanto preços mais reduzidos como taxas de juros nominais mais baixas dentro de um prazo maior. Mostrei este ponto agora no fim e o declarei em termos restritos ... porque acredito que a potencialidade da política monetária em neutralizar as outras forças que compöem a instabilidade seja mais limitada que comumente se acredita. Simplesmente näo sabemos o suficiente para reconhecer os distúrbios menores quando ocorrerem, ou para prever quais seräo seus efeitos com qualquer grau de precisäo ou que política monetária será exigida para neutralizar seus efeitos. A experiência sugere que o caminho da sabedoria é o emprego da política monetária explicitamente para neutralizar os outros distúrbios, e somente quando eles mostrarem um perigo claro e presente. C - Como Deverá ser Conduzida a Política Monetária ? Esta, sem dúvida, näo é a ocasiäo para apresentar um detalhado "Programa Para Estabilidade Monetária". Restringir-me-ei aqui a duas principais exigências para a política monetária, que se seguem diretamente da discussäo precedente. A primeira exigência é a de que a autoridade monetária deve guiar-se pelas magnitudes que poderá controlar e näo por aquelas que näo poderá controlar. (…) Das várias magnitudes alternativas que poderá considerar, os guias mais atraentes para a política säo as taxas de câmbio, o nível de preços, como definido por algum índice, e a quantidade de um total monetário, moeda corrente mais os depósitos à vista ajustados, ou esse total mais os depósitos a prazo dos bancos comerciais, ou um total mais amplo. Para os Estados Unidos, especificamente, as taxas de câmbio säo um guia indesejável. Poderá valer à pena exigir que o grosso da economia se ajuste à infima percentagem constituída do comércio exterior, se isso garantisse a ausência de irresponsabilidade monetária, como poderia acontecer sob um verdadeiro padräo-ouro. Mas quase näo valerá à pena fazê-lo simplesmente para se adaptar à média de quaisquer políticas monetárias que as autoridades monetárias do resto do mundo adotarem. É muito melhor deixar o mercado, através de taxas de câmbio flexíveis, ajustar às condiçöes mundiais os 5%, mais ou menos, de nossos recursos devotados ao comércio internacional, deixando que a política monetária promova o uso eficaz dos 95%. Dos três guias relacionados, o nível de preços é, claramente, o mais importante, por direito próprio. As outras coisas sendo idênticas, seria uma alternativa muito melhor, como muitos economistas afirmaram no passado. Mas as outras coisas näo säo as mesmas. O elo entre as açöes políticas da autoridade monetária e o nível de preços, embora inegavelmente presente, é mais indireto que o elo entre as políticas da autoridade e quaisquer dos diversos totais monetários. Além do mais, as açöes levam mais tempo para afetar o nível de preços que para afetar os totais monetários e tanto o intervalo de tempo como a magnitude do efeito variaräo com as circunstâncias. Como resultado, näo poderemos prever com segurança exatamente que efeito uma açäo monetária específica terá sobre o nível de preços, e, igualmente importante, exatamente quando apresentará esse efeito. A tentativa de controlar diretamente o nível de preços, portanto, tornará provavelmente a política monetária uma fonte de distúrbio econômico, em virtude de falsas paradas e partidas. Consequentemente, acredito que um total monetário seja o melhor guia ou critério imediato atualmente disponível para a política monetária, e acredito que seja muito mais importante escolher um total específico que näo escolher nenhum. Uma segunda exigência para a política monetária é que a autoridade monetária evite oscilaçöes bruscas na política. No passado, as autoridades monetárias movimentaram-se na direçäo errada, como no episódio da Grande Depressäo, que já mencionei. Mais frequentemente elas se movimentaram na direçäo correta, embora geralmente tarde demais, porém erraram em se movimentar para longe demais. Tarde demais e demasiadamente tem sido a regra geral. A razäo para a propensäo ao exagero parece clara: o fracasso das autoridades monetárias em permitir a ocorrência de um tempo de demora entre suas açöes e os efeitos subsequentes sobre a economia. Elas tendem a determinar suas açöes pelas condiçöes do momento, mas suas açöes iräo afetar a economia somente seis, doze ou quinze meses mais tarde. Daí sentirem-se compelidos a frear ou acelerar, conforme o caso, e de forma violenta. Minha própria receita ainda é que a autoridade monetária vá até o fim para evitar tais deslocamentos, por meio da adoçäo pública de uma política para a obtençäo de uma taxa de crescimento constante num total monetário especificado. A exata taxa de crescimento, assim como o preciso total monetário, seräo menos importantes que a adoçäo de uma taxa declarada e conhecida. Eu mesmo tenho defendido uma taxa que, em média, alcança uma grosseira estabilidade dos níveis de preços dos produtos finais, que estimei em aproximadamente 3% a 5% para a taxa de crescimento anual da moeda, mais todos os depósitos dos bancos comerciais, ou uma taxa de crescimento ligeiramente menor para a moeda mais os depósitos à vista. (…) Pela autodeterminaçäo e posterior manutençäo de um curso firme, a autoridade monetária poderia fornecer uma importante contribuiçäo à promoçäo da estabilidade econômica. Tornando aquele curso em um crescimento constante mas moderado do montante de moeda, faria uma importante contribuição para evitar tanto a inflação como a deflação dos preços. Outras forças ainda afetariam a economia, exigiriam mudanças e ajustamentos e trariam distúrbios ao ritmo equilibrado de nossas maneiras. Mas o crescimento monetário constante produziria um clima monetário favorável ao funcionamento eficaz daquelas forças básicas do empreendimento, da engenhosidade, da invenção, do trabalho árduo e da poupança, que são os verdadeiros trampolins para o crescimento econômico. É o máximo que podemos pedir da política monetária, em nosso atual estágio de conhecimento. Mas esse máximo está, claramente, ao nosso alcance, e é o bastante.