Veterinária e Zootecnia ISSN 0102-5716 EFEITO DO TRATAMENTO EM DOSE ÚNICA OU MÚLTIPLA COM IVERMECTINA EMERGÊNCIA DE Haematobia irritans (L.) (DIPTERA: MUSCIDAE) 410 NA Luiz Gustavo Ferraz Lima I Silvia HelenaVeturoli Perri' Ângelo Pires do Prad02 RESUMO o uso da ivermectina no controle das helmintoses bovinas pode atingir espécies invertebradas que dependem exclusivamente das fezes para se desenvolver, especialmente Haematobia irritans (L.). Esse estudo foi realizado com o intuito de se avaliar a emergência da mosca-dos-chifres, em fezes bovinas provenientes de dois esquemas de tratamentos anti-helmínticos. No experimento I, 15 animais foram tratados mensalmente com ivermectina injetável (0,2 mg/kg), no período de fevereiro de 2002 a fevereiro de 2003. A partir do segundo mês de aplicação, suas fezes foram colhidas após 7, 15, 21 ou 30 dias pós inoculação (OPT). No experimento lI, em 2004, 15 bovinos receberam apenas uma dose do mesmo medicamento (0,2 mg/kg) e as fezes foram colhidas nos dias 1,3,7, 14,21,28,35 e 42 OPTo Quinze bovinos não tratados serviram como controle para ambos os grupos. Para se avaliar o efeito dos esquemas de aplicação foram depositados 30 ovos, para eclosão e penetração das larvas (L I) nas respectivas fezes, mantidas em temperatura controlada (28°C) ou ambiental até o desenvolvimento da mosca. Considerou-se como resultado dos testes o número de moscas adultas emergidas. No experimento I, não se observou o aparecimento de moscas nas amostras fecais, contudo no experimento 11,fi. irritam; surgiu no 28° dia. Neste estudo foi possível inferir que o uso continuado da ivermectina interfere de forma negativa sobre a emergência in vitro da Haematobia irritans. Palavras-chave: mosca-dos-chifres; ivermectina; dose única; tratamento múltiplo. EFFECT OF TREATMENT WITH SINGLE OR MULTIPLE DOSE OF IVERMECTIN ON THE EMERGENCY OF Haematobia irritans (L.) (DIPTERA: MUSCIDAE) ABSTRACT The use of ivennectin to control bovine helminthiasis may affect some invertebrates as Haematobia irritans (L.) that mainly depend on bovine feces for development. This study was conducted to evaluate the emerging of horn fly in bovine feces from animaIs under two kinds of anthelmintic treatment: in experiment I, 15 animaIs received 0.2 mg/kg of injectable ivermectin monthly from February, 2002 to February, 2003. After the second application its excrements were harvested after 7, 15, 21 or 30 days post-treatment (OPT). 1n experiment lI, performed in 2004, 15 bovines received a 0.2 mg/kg single dose of the same injectable ivermectin. Fifteen not treated bovines were control for both groups. To evaluate the effect of the application protocols a pool of these anirnals ' excrements were experimentally infected with 30 eggs for hatching and larvae (L I) penetration. Sarnples were kept either under controlled temperature (28°C) ar in the environment for the development of the fly. Results were based on the number of ernerged adult flies. In experiment [, the emerging of the flies in the fecal samples was not observed, however in experiment ll, adults fi. irritans appeared on the zs" day. Were concluded that the continued use of ivermectin interferes negatively on the in vitro emerging of adults Haematobia irritans. Key words: horn fly; ivennectin; single dose; multiple treatment. Departamento de Apoio, Produção e Saúde Animal, Curso de Medicina Veterinária, UNESP, Rua Clóvis Pestana 793, CEP 16-050-680 Araçatuba, SP, Brasil. (18) 3636-1350 [email protected]; [email protected] c Departamento de Parasitologia, Instituto de Biologia, UN1CAMP, Distrito Barão Geraldo, CEP 13-083-970, Campinas, SP, Brasil. [email protected] 1 Lima, L.G.F. Efeito do tratamento em dose única ou múltipla com ivermectina na emergência de Haematobia irritans (L.) (Diptera: Muscidae). Veto e Zootec., pAI 0-418, v.16, 11.2,jUI1., 2009. Veterinária e Zootecnia ISSN 0102-5716 EFECTO DEL TRA TAMIENTO CON SOLA DOSI O MÚLTIPLE DE IVERMECTlN APARECIMENTO DEL HAEMATOBIA irritans (L.) (DÍPTERO: MUSCIDAE) 41 1 SOBRE EL RESUMEN EI uso de ivermectina en el contrai de Ias helmitosis bovinas puede afectar especies invertebradas que dependen exclusivamente de Ias heces para desarrollarse, especialmente Ia Haematobia irritans (L.). Este estudio fue conducido para evaluar el aparecimiento de Ia mosca dos cuemos en heces bovinas provenientes de dos tratamientos con antihelmínticos: En el experimento I, 15 animales fueron tratados mensualmente con iverrnectina inyectable (0,2 mg/kg), dei febrero de 2002 ai febrero de 2003. Después dei segundo uso sus excrementos fueron cosechados en 7, 15,21 030 días después dei tratamiento (DPT). En el tratamiento 11, realizado en 2004, 15 bovinos recibieron dosis única dei mismo tratamiento (0,2 mg/kg). Quince bovinos non tratados fueron controles para ambos grupos. Para evaluar el efecto de Ias protocolos de Ia aplicación Ias excrementos de estas animales fue infectada experimental con 30 huevos para tramar y Ia penetración de Ias larvas (L I). Las muestras fueron mantenidas a temperatura controlada (28°C) o ambiental hasta el desarrollo de Ia mosca adulta. Se consideró como resultado de Ias test el número de moscas que emergieron de Ias heces. En el experimento I, el aparecimiento de moscas en Ias muestras fecales no fueron observados, no obstante en el experimento 11,H. irritans aparecieron a partir de Ias 28 días DPT. Fueron concluidos que el uso continuo dei ivermectina interferí negativamente en emerger in vitro de Ias adultos dei H. irritans. Pala bras-claves: mosca de Ias cuemos; ivermectina; dosis única; múltiple tratamiento. INTRODUÇÃO Os helminticidas são usados intensivamente nos tratamentos antiparasitários de ruminantes (REINECKE, 1994; BRESCIANI et a!., 2003; BORGSTEEDE et a!., 2008). Aproximadamente 98% da ivermectina aplicada é excretada rapidamente do organismo por meio das fezes, aderindo-se fortemente ao solo (HALLEY et a!., 1989; SANTOS et a!., 2003; GOKBULUT et a!., 2005). No ambiente pode ser fotodegradada pela ação luminosa ou decomposta pela ação microbiana do solo e por outros fatores bióticos e abióticos (HALLEY et a!., 1989; LUMARET et a!., 1993). Em fezes de bovinos tratados por formulação injetável, pour-on e bolus foram detectados potenciais tóxicos para os invertebrados (LANCASTER et a!., 1991; HERD et aI., 1996). Segundo Barth et a!. (1994), os tratamentos prévios com ivermectina não causaram impactos na população da mosca, contudo foram relatados impactos ecotoxicológicos na coprofauna (MADSEN et a!., 1990; SOMMER et a!., 1992; KRJGER et a!., 2005), principalmente em Coleópteros e Dípteros (STRONG, 1993). Os efeitos podem ser diversos, deprimindo a colonização, impedindo o desenvolvimento dos invertebrados, inviabilizando a degradação e a incorporação das fezes (RIDSDILL-SMITH e HA YLES, 1990; LUMARET e KADIRI, 1995; KOLLER et aI., 1999). Dependendo da dosagem e da suscetibilidade da espécie invertebrada, a comunidade coprófila pode ser afetada pela presença da droga por 30, 35, 45 e 63 dias (FINCHER 1992; WARDHAUGH e MAHON 1998; FLOATE et a!., 200 I; IGLESIAS et a!., 2003). Segundo Farkas et a!. (2003), o efeito larvicida em fezes bovinas foi prolongado, de três a quatro semanas, após única dose terapêutica de ivermectina (0,2 mg/kg). Objetivou-se avaliar a emergência de mosca-das-chifres em fezes bovinas, em temperatura constante (28°C) ou ambiental, após sucessivos tratamentos, bem como por único tratamento de ivermectina na dose recomendada de 0,2 mg/kg. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi desenvolvido na Chácara Nossa Senhora de Aparecida, município de Araçatuba, São Paulo, Brasil (50° 26' longitude Oeste e 21° 12' latitude Sul), entre 2002 e 2004. Os dados da temperatura ambiente foram obtidos junto ao Instituto Agronômico de Campinas-SP. Lima, L.G.F. Efeito do tratamento em dose única ou múltipla com ivennectina na emergência de Haematobia irritans (L.) (Diptera: Muscidae). Veto e Zootec., pAI 0-418, v.16, n.2, jun., 2009. Veterinária e Zootecnia ISSN 0102-5716 412 Utilizaram-se três lotes de bovinos machos, mestiço nelore, Bos indicus, com aproximadamente 18 meses de idade: 15 no experimento 1, no período de fevereiro de 2002 a fevereiro de 2003; 15 no experimento 11,no ano de 2004; e 15 no grupo controle para ambos os experimentos. Os animais foram pesados, identificados e mantidos em piquete predominantemente formado por Brachiaria decumbens, ingestão hídrica e de minerais ad libitum, sem tratamento endectocida 90 dias prévio. No experimento I, os animais foram tratados mensalmente com ivermectina injetável (0,2 mg/kg), no período de fevereiro de 2002 a fevereiro de 2003. A partir do segundo mês de aplicação, dez amostras de suas fezes foram colhidas em períodos de 7, 15,21 ou 30 dias pós tratamento (DPT). No experimento lI, em 2004, os bovinos receberam apenas uma dose do mesmo medicamento (0,2 mg/kg) e, oito amostras de suas fezes foram colhidas nos dias 1,3, 7, 14,21,28,35 e 42 DPT. No grupo controle, amostras das fezes dos animais mantidos sem tratamento foram colhidas nos respectivos períodos dos experimentos I e 11. Para se avaliar o efeito dos esquemas de aplicação, bioensaios foram realizados no Laboratório de Parasitologia, do Curso de Medicina Veterinária, Unesp, Araçatuba-SP. Utilizaram-se tréplicas de placas fecais (500g) provenientes dos experimentos I, 11e controle, depositadas em pratos de alumínio com o fundo coberto por terra (::::1,5cm). Em cada placa fecal foi depositado um papel de filtro quadricular (5x5cm) contendo 30 ovos de moscas, mantidos em seguida a 28 DC para a ec1osão das larvas. Após 12 horas verificou-se a presença do conteúdo dos ovos por meio do microscópio estereoscópio (40x) e pinça histológica, para a constatação do número de larvas (L 1) eclodidas e subseqüente penetração espontaneamente nas fezes. As placas fecais dos grupos tratados e não tratados (controle), dos experimentos I e 11foram colocadas na estufa (28 DC) e no ambiente (piquete), para aguardar o desenvolvimento e a emergência das moscas. No ambiente, os pratos ficaram protegidos das chuvas, por meio de uma cobertura plástica. Para impedir a ação de insetos visitantes e conter as moscas emergidas, os pratos com as amostras fecais foram colocados dentro de um saco de tecido de malha fina. Considerou-se como resultado dos testes o número de moscas adultas emergidas. Foi realizada análise descritiva com o cálculo da porcentagem, da média e do desvio padrão de larvas eclodidas e das moscas emergidas nos dois experimentos. No experimento 11 (2004), para comparar os grupos não tratado e tratado, em estufa e ambiente, foi aplicado o teste t. Os dados foram analisados pelo programa Statistical Analysis System, versão 8.2. (SAS inc 1999). RESULTADOS As temperaturas médias do ambiente, nos períodos dos experimentos I e II estão demonstradas na Tabela 1. TABELA Experimento 1. Temperatura média ambiental correspondente às coletas dos experimentos I e 11. Temperatura (DC) I 2 3 4 5 6 7 8 9 10 I 22,1 28,6 20,6 25,1 28,7 29 21 17,4 15,2 18,1 II 28,6 30 26,1 27,8 28,9 29,5 26,1 25,4 Experimento Média 22,5 27,7 I A eclodibilidade média de larvas L 1 foi de 25,1 (±2,4) e 26,9(±2,4) no grupo não tratado, 24,9(±2,9) e 26,1 (±2,0) no grupo tratado, respectivamente na estufa e no ambiente (Tabela 2). Nas fezes dos animais não tratados, na estufa, houve maior porcentagem de moscas emergi das 81, 7%(± I,8), comparativamente as emergidas em temperatura ambiente 69,8%(± 7,7) (Tabela 2). Não houve emergência de moscas nas fezes dos bovinos tratados. Lima, L.G.F. Efeito do tratamento em dose única ou múltipla com ivennectina na emergência de Haematobia irritans (L.) (Diptera: Muscidae). Veto e Zootec., pAI 0-418, v.16, n.2, jun., 2009. Veterinária e Zootecnia ISSN 0102-5716 413 TABELA 2. Número de larvas eclodidas e de moscas emergidas em fezes de bovinos não tratados (controle) e tratados, na estufa e no ambiente, no experimento 1(Araçatuba-SP 2002/2003). Experimento 1 Coleta Estufa Ambiente Experimento Dias póstratamento Fezes bovinas não tratadas Larva Mosca % Fezes bovinas tratadas Larva Mosca % 1 07 22 18 81,8 20 O O 2 07 24 20 83,3 21 O O 3 07 28 23 81,0 27 O O 4 15 21 17 80,9 27 O O 5 21 26 21 80,7 27 O O 6 21 28 22 79,5 25 O O 7 21 25 20 80,4 27 O O 8 30 27 22 81,4 25 O O 9 30 24 20 83,3 22 O O 10 30 26 22 84,6 28 O O Média 25,1 20,5 81,7 24,9 O O Desvio padrão 2,4 1,9 1,8 2,9 O O 07 28 23 82,1 26 O O 2 07 28 17 60,7 27 O O 3 15 30 23 76,7 23 O O 4 15 27 17 63,0 23 O O 5 15 22 15 68,2 27 O O 6 21 26 16 61,5 27 O O 7 30 28 21 75,0 27 O O 8 30 27 20 74,1 28 O O 9 30 29 18 62,1 29 O O 10 30 24 18 75,0 24 O O Média 26,9 18,8 69,8 26,1 O O Desvio padrào 2,4 2,8 7,7 2,0 O O II No grupo nào tratado eclodirarn em média 24,0 (±4,0) e 25,5(±2,3) larvas LI, e no grupo tratado 26,0(±2,8) e 26,1 (±2,0), respectivamente na estufa e no ambiente. Emergiram 80,3%(±4,6) e 78,4%(±8,1) moscas das fezes dos animais não tratados, e 87,3%(±6,8) e 77,7%(±3,2) dos animais tratados, na estufa e no ambiente, respectivamente (Tabela 3). As emergências das moscas ocorreram nas amostras 6, 7, e 8, com médias de 93,9%, 80,2%, 87,6% na estufa (Figura 1), e 74,1 %, 80,2% e 78,8 % no ambiente (Figura 2), correspondentes ao 28º, 35º e 42º DPT, respectivamente (Tabela 3). Não houve diferença significativa entre o número médio de moscas emergi das a partir do dia 28 DPT, nas fezes dos animais não tratados 80,3%(±4,6), 87,3%(±6,8), e tratados 78,4 (±8,1), 77,7(±3,2) na estufa e no ambiente (P= 0,0788, P= 0,8848 respectivamente) (Tabela 4). Lima, L.G.F. Efeito do tratamento em dose única ou múltipla com ivermectina na emergência de Haematobia irritans (L.) (Diptera: Muscidae). Veto e Zootec., pAI 0-418, v.16, n.2, jun., 2009. Veterinária e Zootecnia ISSN 0102-5716 414 TABELA 3. Número de larvas eclodidas e de moscas emergidas em fezes de bovinos não tratados (controle) e tratados, na estufa e no ambiente, no experimento II (Araçatuba-SP. 2004). Experimento II Dias póstratamento Amostra Estufa Ambiente Fezes bovinas não tratadas Larva Mosca % Fezes bovinas tratadas Larva Mosca % 1 01 19 15 78,9 21 O O 2 03 18 15 83,3 25 O O 3 07 27 19 70,4 28 O O 4 14 24 19 79,2 24 O O 5 21 27 22 81,5 26 O O 6 28 26 21 80,8 27 26 93,9 7 35 22 18 81,8 27 22 80,2 8 42 29 25 86,2 30 26 87,6 Média 24,0 19,3 80,3 26,0 24,7* 87,3* Desvio padrão 4,0 3,4 4,6 2,8 2,3* 6,8* 1 2 19 86,4 26 03 22 25 17 68,0 22 O O O O 3 07 24 17 70,8 28 O O 4 14 26 22 84,6 25 O O 5 21 26 18 69,2 27 O O 6 28 25 20 80,0 27 20 74,1 7 35 26 23 88,5 27 22 80,2 8 42 30 24 80,0 28 22 78,8 Média 25,5 19,9 78,4 26,1 21,3* 77,7* Desvio padrão 2,3 2,7 8,1 2,0 1,2* 3,2* 01 * após 28° dia do tratamento. TABELA 4. Porcentagem média de moscas emergidas (x) e desvio padrão (S) em fezes de bovinos tratados e não tratados, na estufa e no ambiente no experimento 11(Araçatuba-SP. 2004). Grupo P (11 Fezes Não Tratadas 80,3 ± 4.6 78,4 ± 8,1 0,5887 Fezes Tratadas 87,3 ± 6,8* 77,7 ± 3,2* 0,0945 P (I) (I) Porcentagem de moscas (x ± S) Ambiente Estufa 0,0788 (I) Teste t * Após decorridos 28,35 e 42 dias do tratamento. 0,8848 Lima, L.G.F. Efeito do tratamento em dose única ou múltipla com ivermectina na emergência de Haematobia irritans (L.) (Diptera: Muscidae). Veto e Zootec., pAI 0-418, v.16, n.2, jun., 2009. Veterinária e Zootecnia ISSN 0102-5716 415 %dernoscas 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 O 1 3 7 14 21 28 35 42 nas pós-trat:arrerto 1:1Não Tratadas O Tratadas FIGURA 1. Porcentagem média de moscas emergidas em fezes de bovinos tratados e não tratados, na estufa, no experimento II (Araçatuba-SP. 2004). %demoscas 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 O 1 3 7 14 21 28 35 42 Das pós-tratamerto o Não Tratadas O Tratadas FIGURA 2. Porcentagem média de moscas emergi das em fezes de bovinos tratados e não tratados, no ambiente no experimento II (Araçatuba-SP. 2004). DISCUSSÃO E CONCLUSÃO No desenvolvimento dos bioensaios, o grande número de larvas LI eclodidas no experimento I, tanto quanto no experimento 11(Tabelas 2 e 3) sugere não ter havido influência da ivermectina sobre os ovos depositados nas amostras fecais. Entretanto, no experimento I, após penetração das larvas no bolo fecal, acredita-se que a ivennectina excretada tenha causado-Ihes a morte e interrompido a formação das moscas adultas (Tabela 2). Madsen et aI. (1990); Lancaster et aI. (1991); Fincher, (1992); Sommer et aI. (1992) e Lumaret et aI. (1993) observaram os mesmos efeitos para diferentes espécies de moscas, em períodos que variaram entre 10 e 63 dias pós-tratamento, sendo H. irritam' a mais afetada. Segundo os autores, aspectos relacionados com a veiculação do produto, a biologia e a suscetibilidade das moscas, bem como às características ambientais (KRYGER et aI. 2005) poderiam explicar os efeitos prolongados Lima, L.G.F. Efeito do tratamento em dose única ou múltipla com ivermectina na emergência de Haematobia irritans (L.) (Diptera: Muscidae). Veto e Zootec., pAI0-418, v.16, n.2,jun., 2009. Veterinária e Zootecnia ISSN 0102-5716 416 dos tratamentos. No experimento II, ainda que recebendo única dose do medicamento, do mesmo modo não ocorreu o desenvolvimento de moscas nos dias imediatamente subseqüentes, sugerindo que as concentrações da ivermectina excretada nos dois tratamentos, durante esse período, teriam sido igualmente letais (HALLEY et a!. 1989) para a H. irritans. Esses resultados diferem de Jglesias et a!. (2003), que observaram o desenvolvimento de Cyclorrapha em condições semelhantes. Embora a H. irritans seja Cyclorrapha, os autores supracitados consideraram nos seus estudos, toda entomofauna local, constituída provavelmente, por espécies com diferente biologia alimentar e suscetibilidade ao produto. Outro aspecto importante que explicaria o surgimento de moscas poucos dias após o tratamento, conforme Farkas et a!. (2003), seria a variação da ocorrência do pico da ivermectina nas fezes excretadas (SOMMER et a!. 1992; LUMARET et a!. 1993; HERD et a!. 1996 e SANTOS et a!. 2003). Como não se observou o surgimento de moscas a partir do primeiro dia dos tratamentos no presente estudo, acredita-se que a ivermectina excretada tenha sido letal para as larvas da H. irritans, independentemente do período de ocorrência do pico do fármaco nas fezes. A ausência de moscas em amostras fecais obtidas 30 dias após o experimento I, na estufa e no ambiente, fundamentar-se-ia pelo acúmulo das doses ministradas mensalmente e conseqüentemente no prolongamento do efeito das concentrações ecotóxicas excretadas nas fezes. Os resultados desse estudo coincidem com os achados de Koller et a!. (1999) e Kryger et a!. (2005), que atribuíram ao uso continuado dos inseticidas, o impacto e a redução das populações das espécies coprofílicas. Em fezes expostas no ambiente, esperava-se observar efeitos minimizados do experimento I, por influência dos fatores abióticos locais (HALLEY et a!. 1989). Contudo, igualmente ao grupo estufa, não houve o desenvolvimento de moscas, possivelmente pelo curto período de permanência das fezes (1 O dias) sob ação desses fatores. Mesmo que a diminuição da concentração deste fármaco possa ocorrer a partir do terceiro dia pós-tratamento (HERD et al. 1996; FARKAS et a!. 2003), chegando a índices imperceptíveis no 12° dia, (LUMARET et a!. 1993), é improvável que o mesmo tenha ocorrido no presente estudo, uma vez que não se observou o aparecimento de formas adultas nesse tempo. Imediatamente no experimento lI, em conformidade com Koller et a!. (1999), a emergência de moscas em fezes dos bovinos tratados uma única vez, no 28 dia, na estufa e no ambiente (Figura I e 2), está provavelmente associada à redução da ivermectina excretada no bolo fecal, para esse período. Segundo Iglesias et a!., (2003) o número de larvas de Cyclorrapha obtido em fezes de bovinos tratados com ivermectina, foi significativamente inferior ao recolhido dos animais não tratados nas amostras coletadas no terceiro, dia após o tratamento. Entretanto, provavelmente não se incluiu H. irritans. Os dados obtidos corroboram com Madsen et a!. (1990), Lancaster et a!. (1991), Sommer et a!. (1992), Farkas et a!. (2003) e Iglesias et a!. (2003), que observaram o surgimento de moscas a partir do mesmo período (28 dia), divergindo dos relatos da persistência do tratamento por tempo maior (FINCHER 1992). De acordo com os resultados obtidos neste estudo, conclui-se que a administração ininterrupta de ivermectina no controle da verminose bovina impede o desenvolvimento da H. irritans e, igualmente aos dados encontrados na literatura, sugerem que os tratamentos endectocida que considerem intervalo de tempo superior a 28 dias permitem o desenvolvimento da mosca-dos-chifres, bem como, provavelmente, reduzem o impacto para outras espécies da coprofauna bovina. Q Q AGRADECIMENTOS A empresa Pecuarista D'Oeste, pelos empréstimos da chácara Nossa Senhora de Aparecida e animais; ao Instituto Agronômico de Campinas, pelo fornecimento dos dados da temperatura. REFERÊNCIAS BARTH, D.; HEINZE-MUTZ, E. M.; LANGHOLFF, W. 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