DESCAPIROTIZANDO A MATEMÁTICA EM DEZ TEMPOS

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DESCAPIROTIZANDO A MATEMÁTICA EM DEZ TEMPOS
Lourimara Farias Barros Alves 1
Janir Gomes da Silva 2
RESUMO
Este artigo relata as atividades desenvolvidas durante o projeto de extensão intitulado
“Descapirotizando a Matemática em Dez Tempos”, aplicado no Centro de Ensino
Médio Dom Daniel Comboni na cidade de Balsas-MA, pelos alunos e professores de
Matemática da escola, juntamente com alunos estagiários do Curso de Matemática
Licenciatura do Centro de Estudos Superiores de Balsas. O objetivo é explorar o teatro
como forma de desmistificar o estudo da Matemática no Ensino Médio e dar
oportunidades aos alunos de conhecerem outras formas matemáticas para construir
nosso cotidiano engajadamente com a sociedade. A metodologia utilizada é de caráter
qualitativo e descritivo, recorrendo a notas de campo e observações para coleta de
dados. Os resultados nos permitem inferir que as vivências oportunizadas pelo teatro
possibilitam a redução da dificuldade de escrita em Matemática na medida em que os
alunos ampliam a interpretação e organização do pensamento matemático.
Palavras-chave: Ensino Médio. Matemática. Teatro.
INTRODUÇÃO
Neste estudo dialogamos sobre as vivências oportunizadas, durante o
desenvolvimento do projeto intitulado “Descapirotizando a Matemática em Dez
Tempos”, a professores de Matemática e alunos do Centro de Ensino Médio Dom
1
Mestre em Matemática (UNICAMP, Campinas/SP). Doutoranda em Educação em Ciências e
Matemática (REAMEC/UFMT- Pólo UFPA). Professora da SEEDUC – MA e da Universidade
Estadual do Maranhão (CESBA/UEMA). e-mail: [email protected]
2
Especialista em Matemática (UFLA – Lavras/MG). Especialista em Administração Escolar (UNASP –
Artur Nogueira/SP). Professor da SEEDUC – MA. e-mail: [email protected]
2
Daniel Comboni – CEDDC, alunos estagiários do Curso de Matemática Licenciatura do
Centro de Estudos Superiores de Balsas-CESBA/UEMA na cidade de Balsas-MA.
O objetivo é explorar o teatro como forma de desmistificar o estudo da
Matemática no Ensino Médio e dar oportunidades aos alunos de conhecerem outras
formas matemáticas para construir nosso cotidiano engajadamente com a sociedade.
Utilizamos como texto de campo para coleta de dados, notas de campo, forma
que temos de registrar os pedacinhos de nada que preenchem nossos dias. Textos sem os
quais não podemos contar histórias de nossas histórias de experiências (CLANDININ e
CONNELLY, 2011), juntamente com observações durante todo o desenvolvimento do
projeto.
A Matemática é simples e cotidiana, pois foi construída a partir da necessidade
humana de sobreviver e dessa forma deve ser tratada pelos professores e transmitida aos
alunos. Para tornar a aprendizagem Matemática mais prazerosa e significativa, faz-se
necessária a contextualização do ensino, considerando os “saberes” dos alunos, numa
perspectiva sócio-histórica-cultural onde o professor deve possibilitar ao educando
ações que culminem na internalização do novo conhecimento.
É comum ouvirmos dos alunos relatos e experiências traumáticas quando o
assunto em foco é a Matemática. A maioria dos alunos só entende a disciplina como um
processo de fazer cálculos, entendimento este, que dificulta a aprendizagem e cria
obstáculos ao conhecimento matemático. Então começamos a nos questionar assim
como Gadelha (2014) quando diz: “seria possível estudar Matemática de uma forma
alternativa e atraente, tornando-a inteligível para os alunos e eficiente para o professor?”
Para esse questionamento nossa resposta é sim, precisamos descobrir como fazer isso.
Observando que encenações de histórias clássicas estimulam as habilidades de
comunicação dos alunos, aprimoram o vocabulário e a produção textual, questionamonos, por que não usá-las como alternativa para melhorar o ensino-aprendizagem de
matemática?
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Com o auxilio do teatro, a criança vai perder o medo da Matemática e passar
a ter uma nova visão sobre a disciplina, pois a linguagem teatral tem o poder
de despertar os nossos sentimentos e emoções. Dessa forma, após vivenciar
no palco o que sempre foi considerado enfadonho, o aluno vai ter mais
sensibilidade para aplicar a Matemática no seu cotidiano (GADELHA, 2014).
Para facilitar este entendimento, aplicamos o Projeto “Descapirotizando a
Matemática em Dez Tempos”, onde discutimos de forma dramatizada e humorada dez
momentos que a matemática se faz presente na vida das pessoas. Título este, instigado
pela fala de um aluno durante uma aula: “Matemática é difícil demais, parece coisa do
capiroto”. A Matemática precisa ser “descapirotizada”, ou seja, desvinculada a algo
ruim, difícil e que cause espanto, e nosso pensamento era encontrar como fazer isso.
Bicudo e Borba (2012, p. 102) destaca que uma solução que parece indicada
para resolver certa situação é buscar fazer os alunos verem a Matemática da vida real,
trazer a vida real para as aulas de Matemática, e acreditamos que com o teatro, o
objetivo principal de nosso projeto será atingido. Com a realização desse projeto,
estamos convictos de uma contribuição de forma significativa para a desmistificação e
ruptura de dogmas que giram em torno da Matemática.
RELATO DE PRÁTICA
O pensar matemático vai além dos números, dos cálculos e de resolução de
problemas e para mostrar isso elencamos dez momentos matemáticos: conceber,
planejar, localizar, selecionar, combinar, medir, calcular, explicar, jogar e construir,
pelos quais o ser humano passa na construção do conhecimento. Para envolver toda a
escola no projeto, cada uma das dez turmas ficou responsável pela criação de uma peça
teatral, envolvendo um contexto social e um dos momentos matemáticos mencionados
acima, de forma que a matemática apareça nas falas dos personagens, no enredo ou até
mesmo no cenário. Os alunos, da 1a a 3a séries do CEDDC, transformaram a
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Matemática tradicional de sala de aula em roteiros criados ou adaptados em situações
reais conseguindo fazer uma perfeita relação entre a Matemática e a vida.
A atitude de contextualizar e globalizar é uma qualidade fundamental do
espírito humano que o ensino parcelado atrofia e que, ao contrario disso,
deve ser sempre desenvolvida. O conhecimento torna-se pertinente quando é
capaz de situar a informação em seu contexto e, se possível, no conjunto
global no qual se insere. (MORIN, 2013)
Inicialmente cada professor trabalhou em suas turmas o momento matemático
escolhido para as mesmas, com abordagens históricas, conhecimentos e saberes prévios
de nossos alunos. Assim, abrimos espaço para manifestações diversas tornando as aulas
de Matemática mais atraente, ampliando assim, a motivação e o interesse dos alunos
pela disciplina, posteriormente relacionar um contexto social com o tempo matemático
da sua sala. Para entender o significado de cada tempo foi feita uma pesquisa em três
dicionários diferentes para ser observado o intrincamento de significados matemáticos
que possuem essas palavras.
Os tempos matemáticos são os percursos do pensamento humano, onde o aluno
é capaz em seu todo, constituir um processo de descobertas do qual emergem novas
compreensões relacionadas aos conhecimentos matemáticos utilizados, e agregado ao
teatro favorece o desenvolvimento da leitura e escrita, além da oralidade, expressão
corporal, interpretação e imaginação.
Os alunos com todo empenho e dedicação construíram os textos das encenações
orientados pelos professores e estagiários, e os ensaios e construção dos cenários que
seriam utilizados aconteciam no contra turno. Usaram materiais como: papelão, isopor,
alguns móveis da própria escola etc, pois precisavam ser rápidos entre uma
apresentação e outra. As peças também foram apresentadas aos professores para que
fossem feitas quaisquer contribuições antes das apresentações. Toda essa dinâmica pode
ser observada na Figura 1.
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Figura 1: Ensaios das peças e apresentação aos professores
Fonte: Próprios autores
Um momento a ser destacado é o fechamento do projeto que aconteceu no
auditório da escola na forma de seminário, onde estavam presentes todos os alunos,
professores e colaboradores da escola como mostra a Figura 2. A abertura foi feita com
uma música e durante todo o seminário fomos agraciados por belíssimas apresentações
musicais que aconteceram intercalando as encenações das turmas.
Figura 2: Apresentações das peças no Seminário.
Fonte: Próprios autores
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Enquanto os alunos apresentavam, os professores os avaliavam utilizando
critérios pré-estabelecidos, mostrados no Quadro 1.
Quadro 1: Ficha de avaliação usada pelos professores.
Fonte: Quadro organizado pelos autores
Os textos das encenações contemplam os tempos matemáticos explorando
conhecimentos matemáticos relacionados, e as peças foram apresentadas de forma
convincente, comovente e humorada.
O quadro abaixo é o resultado produzido pelos alunos em interação com os
colegas, os professores e alunos estagiários, onde no decorrer do projeto discutiam e
compartilhavam ideias, inclusive em redes sociais, e à medida que pesquisavam sobre
os conceitos dos “tempos matemáticos”, ouviam exemplificações do cotidiano e
também explicações que fizessem pontes com a matemática, ficavam maravilhados.
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OS TEMPOS
MATEMÁTICOS
01– Conceber (1º ano A–
M)
02 – Planejar (1º ano U –
V)
03 – Localizar (2º ano U –
V)
04–Selecionar (2º ano B–
M)
05– Combinar (1º ano B–
M)
06 – Medir (1º ano C – M)
07 – Calcular (2º ano A –
M)
08 – Explicar (3º ano B –
M)
09– Jogar (3º ano U – V)
10– Construir (3º ano A –
M)
Quadro 2: Relação Matemática x vida real
O CONTEXTO SOCIAL (Encenar de
forma convincente, comovente e
humorada...)
COMO CONQUISTAR UMA GAROTA
... Um garoto que tenta conquistar sua
pretendente sem sucesso por várias vezes.
No meio da noite, eis que surge a ideia
infalível.
A VIDA DO EMPRESÁRIO MATEUS
... A vida do empresário Mateus,
incluindo de forma contundente as
principais estratégias de sucesso.
O NAUFRÁGIO
... Algumas formas de busca que um
comandante de um navio e uma mãe realiza
para encontrar o filho perdido.
A SAGA DE UMA SACOLEIRA
... As árduas práticas de uma vendedora
ambulante para selecionar sua enorme
clientela.
SAÚDE TOTAL
... As discussões de um programa de TV:
jornalistas, repórteres e nutricionistas sobre
as diversas maneiras de combinar alimentos
para se ter saúde total.
À PROCURA DE UM EMPREGO
... Os bastidores de uma entrevista para
vários candidatos a uma vaga de emprego.
PENA MÁXIMA (CASO ELOÁ)
... Os mínimos detalhes das estratégias
utilizadas para defender ou condenar um
assassino.
VIDA DE PROFESSOR
... As estratégias que o professor utiliza
para que o aluno compreenda de forma
positiva um assunto abordado.
SARNEYZANDO O AMBIENTE
... As jogadas políticas feitas no
Maranhão para que nossos líderes
perpetuem-se no poder.
UM
SALTO
PARA
O
DESENVOLVIMENTO
... Os meandros da construção de Brasília.
Fonte: Quadro organizado pelos autores
CONHECIMENTO
MATEMÁTICO
Indução
Sequências numéricas
Coordenadas cartesianas
Estatística
Análise combinatória
Teoria de conjuntos
Probabilidades
Sequências numéricas
Análise combinatória
Probabilidades
e
Cálculos
numéricos
Conceitos geométricos
e
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Entendemos que projetos como este são fundamentais para a formação de nossos
alunos, pois essas vivências através do teatro contribuem para uma reflexão e
desmistificação da Matemática e reafirma a necessidade de inovar, fazer diferente o
ensino de Matemática nas escolas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao relatarmos as atividades desenvolvidas durante o projeto de extensão
intitulado “Descapirotizando a Matemática em Dez Tempos” aplicado no CEDDC,
objetivamos desmistificar o estudo da Matemática dando oportunidades aos alunos de
conhecerem outras formas matemáticas para construir nosso dia a dia.
Dessa forma, os resultados nos permitem inferir que as vivências oportunizadas
pelo teatro possibilitam a redução da dificuldade de escrita em Matemática na medida
em que os alunos ampliam a interpretação e organização do pensamento matemático.
Demonstram ainda que o teatro contribui no ensino-aprendizagem de nossos
alunos, desvinculado a imagem negativa que alunos têm da Matemática, mostrando que
a Matemática não se resume a fazer contas e resolver problemas, é algo muito mais
abrangente e encantador que está relacionada com nossa vida do dia-a-dia.
REFERÊNCIAS
BICUDO, Maria Aparecida Viggiani; BORBA, Marcelo de Carvalho( organizadores).
Educação Matemática: pesquisa em movimento. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2012.
GADELHA, Paulo Henrique. Novo olhar sobre a Matemática. Jornal da UFPA - Beira
do Rio. Disponível em: http://www.jornalbeiradorio.ufpa.br/novo/index.php/2011/124edicao-93--abril/1189-novo-olhar-sobre-a-matematica. Acesso: 02/12/2015.
MORIN, Edgar, Maria da Conceição de Almeida, Edgard de Assis Carvalho, (org);
tradução Edgard de Assis Carvalho. Educação e complexidade: os sete saberes e
outros ensaios. 6. Ed. São Paulo: Cortez, 2013.
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