estudo da competitividade da carne de frango brasileira

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XLIII CONGRESSO DA SOBER
“Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial”
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA CARNE DE FRANGO BRASILEIRA NO
MERCADO INTERNACIONAL: 1990-2002
Maria Lúcia Bahia Lopes
Economista e Doutoranda em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa
(UFV)
Professora da Universidade Federal da Amazônia (UNAMA) e do Instituto de Estudos
Superiores da Amazônia (IESAM)
Rua Elvira Santana, 565A – CEP 36.570-000 – Clélia Bernardes – Viçosa-MG
CPF: 150.067.602-06
E-mail: [email protected]
Gisalda Carvalho Filgueiras – sócia da SOBER
Engenheira Agrônoma e Mestre em Economia
Doutoranda em Ciências Agrárias pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
Técnica do Banco da Amazônia
Av. Presidente Vargas, 800 - CEP: 66.017-000, Centro - Belém/PA
CPF: 053.487.302-20
E-mail: [email protected]
Vera Cecília Alves da Rocha
Economista e Mestre em Economia pela Universidade da Amazônia (UNAMA)
Av. Dr. Freitas, 3079 - CEP: 66.095-110, Marco - Belém/PA
CPF: 069.089.772-34
E-mail: [email protected]
Ricardo Bruno Nascimento dos Santos
Economista Especialista em Estatística
Mestrando em Ciências Florestais pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
Professor da Universidade Federal do Pará
Passagem Castro Alves, 81 – CEP: 66815-530, Icoaraci – Belém/PA
CPF: 609.817.762-72
E-mail: [email protected]
Área Temática: Comércio Internacional
Forma de Apresentação: Apresentação com presidente da sessão e sem debatedor
2
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA CARNE DE FRANGO BRASILEIRA NO
MERCADO INTERNACIONAL: 1990-2002
Resumo:
Este estudo teve como objetivo principal fazer uma analise ex-post da competitividade da
carne de frango no período 1990-2002 a partir da aplicação do modelo Constant-MarketShare (CMS), visando identificar os fatores que influenciam no desempenho do setor avícola
no mercado internacional à luz do modelo de competitividade de Porter. Os resultados
obtidos do modelo CMS revelaram que no sub-período 1990/96 a 1997/02, a participação
média do Brasil no total mundial aumentou de 11,32% para 15,32%. Os efeitos tamanho de
mercado e competitividade atuaram de forma conjunta para promover a expansão das
exportações brasileiras de carne de frango. Desse aumento, 42,25% está relacionado ao
efeito tamanho do mercado e 57,95% ao efeito competitividade. Dentre os fatores que,
possivelmente, influenciaram nesse desempenho estão: diversificação dos mercados,
principalmente, para a União Européia e a Ásia; os problemas sanitários que atingiram a
Europa e a Ásia; a coordenação da atuação de marketing institucional; à agressividade
comercial da avicultura de exportação do Brasil; a combinação entre os avanços
tecnológicos e o processamento industrial que fez do frango brasileiro um dos mais saudáveis
do mundo; ao menor custo de produção do mundo; e a elevação do volume de exportações de
partes, possibilitando ao Brasil concorrer competitivamente, alcançando preços mais
elevados.
PALAVRAS CHAVE: competitividade, market share, carne de frango.
Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005
Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rura
3
Estudo da competitividade da carne de frango brasileira no mercado internacional:
1990-2002
1 INTRODUÇÃO
O Brasil ocupa o terceiro lugar na produção mundial de carnes de frango. Em 2004 1 ,
produziu um volume de 7,825 milhões de toneladas, ficando atrás dos Estados Unidos,
responsáveis pela produção de 14,920 milhões de toneladas e da China com 10,129 milhões
de toneladas, respectivamente (ANUALPEC, 2004; ABEF, 2004). Vale destacar que a
abertura comercial da China transformou-a em uma região avícola relevante. Segundo
Franchini (2001) a China pode acirrar ainda mais a disputa pelo mercado externo quando se
estima um aumento na participação mundial das exportações desse país. Assim, além de uma
grande consumidora de carne de frango, está se transformando também em grande país
produtor.
A União Européia possui uma parcela significativa da produção de carne de frango,
ocupando a quarta posição com 5,900 milhões de toneladas em 2004. No que diz respeito ao
México observa-se que sua produção vem aumentando paulatinamente, produzindo, um
volume de 2,412 milhões de toneladas, no mesmo período (ANUALPEC, 2004).
Segundo Bittencourt (1995), o Brasil tem se destacado na produção e na exportação
de frango nos últimos anos graças à rapidez na assimilação da tecnologia advinda de países
desenvolvidos, além da tecnologia nacional, e à rápida e progressiva resposta aos
investimentos realizados nos parques industriais, principalmente nos estados do sul do país.
Os principais estados produtores e exportadores de carne de frango são, conforme a ordem de
importância: Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais.
As exportações brasileiras de carne de frango começaram na metade da década de
70, com apenas 3.469 toneladas por ano, mas foram alcançando níveis bem maiores, iniciando
a década de 80 com cerca de 165.000 toneladas, ou seja, um volume exportado 47,5 vezes
maior do que o verificado em 1975 (BITTENCOURT, 1995).
Atualmente o Brasil é o maior exportador de carne de frango do mundo, desde o ano
2000 o Brasil ocupava a segunda posição, sendo superado apenas pelos Estados Unidos. Em
2004, o volume exportado pelo Brasil foi da ordem de 2,4 milhões de toneladas com uma
receita de US$2,4 bilhões e pelos Estados Unidos 2,2 milhões de toneladas (ABEF, 2005).
Segundo Franchini (2001), no período de 1980-1999 os Estados Unidos obtiveram
um aumento nas suas exportações na ordem de 643%, graças ao protecionismo adotado
através do “Export Enhancement Program”, criado em 1986, que promoveu às vendas
externas de carne de frango, consolidando sua hegemonia no mercado internacional já no
início dos anos 90. No período de 1990-2002 a taxa de crescimento das exportações
americanas foram da ordem de 15,35% a.a.
Em 2004, a produção brasileira de carne de frango ultrapassou as 7,6 milhões de
toneladas, sendo destinados ao mercado interno aproximadamente 6 milhões e exportados 1,6
milhões de toneladas e teve como destino principal o mercado externo, distribuídos para o
Oriente Médio com 30,73%, seguido pela Ásia com 26,0% e em terceiro lugar está a União
1
Dados de previsão fornecidos pela ANUALPEC, 2004, p: 254-257. Outras informações relativas ao mercado
de frango, também foram obtidas no site da ABEF.
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Européia com 11,5%, em quarto a Rússia, com 8,1% e quinto a África, com 7,4%. Os demais
países somam em importação 16,3%, segundo os dados da Associação Brasileira dos
Produtores e Exportadores de Frangos – ABEF, 2005.
Em 2004, a liderança do Brasil no mercado internacional de carne de frango foi
obtida tanto com a ampliação dos mercados destinos, que atualmente totalizam 130 países,
quanto pela rentabilidade da venda. Isto é, o preço médio por tonelada cresceu 16%, graças
principalmente a um aumento na participação das exportações de cortes de frango (ABEF,
2005).
Pelo exposto, por ser a avicultura um dos setores que mais investem em
equipamentos, tecnologia, inovação, manejo e sanidade, e pela importância que representa
para a economia brasileira, se torna imprescindível o desenvolvimento de estudos que possam
acompanhar o desempenho do setor e, ao mesmo tempo, fornecer subsídios para a tomada de
decisão dos agentes econômicos envolvidos no setor avícola.
Dadas às considerações expostas, o presente trabalho tem como objetivo fazer uma
analise ex-post da competitividade da carne de frango no período 1990-2002 a partir da
aplicação do modelo Constant-Market-Share (CMS), visando identificar os fatores que
influenciam no desempenho do setor avícola no mercado internacional.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Os Clássicos formaram o primeiro arcabouço teórico sobre competitividade entre
países. Inicialmente, Adam Smith, em 1776, com a teoria da vantagem absoluta.
Posteriormente, Torrens (1815) e Ricardo (1817), aperfeiçoaram as idéias de Smith no que
ficou conhecido como a teoria da vantagem comparativa (CAMPOS, 2004).
Entretanto, essas abordagens não são suficientes para explicar os padrões do fluxo
do comércio em mercados imperfeitos, visto que não atribuem papel às estratégias das
empresas, às melhorias nos produtos e processos, ao processo de melhoramento e criação de
fatores, à diferenciação de produtos, à globalização da economia que possibilita empresas a
participarem de cadeias produtivas dentro de uma perspectiva internacional.
Neste contexto, surgiu um novo paradigma denominado teoria da vantagem
competitiva, que reflete uma concepção mais profunda da competição, associando
conceitos da teoria do comércio internacional com a teoria da organização industrial.
Dentro desse novo paradigma está o que Porter (1993) denomina de "diamante"
que são os efeitos interativos das condições da demanda do produto, das condições da
oferta de fatores, da estrutura do mercado e da rivalidade entre as empresas, do
desenvolvimento de indústrias correlatas e de apoio. Para ele as combinações desses
quatro elementos modelam o ambiente econômico no qual as empresas operam,
promovendo ou impedindo a criação da vantagem competitiva.
De modo geral, as empresas que obtêm lideranças tecnológicas, associadas
com economias de escala ou com alto grau de diferenciação de produtos, são aquelas de
melhor desempenho competitivo.
Atualmente, o conceito de competitividade sistêmica é o mais abrangente
para efeito de análise, pois enfatiza que o desempenho empresarial é influenciado por
fatores situados fora do âmbito das empresas e da estrutura industrial a que estão atreladas,
como os fatores de ordem macroeconômica, as infra-estruturas que geram externalidades,
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o sistema político-institucional e as características socioeconômicas dos mercados
nacionais (SANTOS, 2002).
Santana (2000) propõe uma abordagem alternativa para analisar a
competitividade sistêmica, tomando por base um conjunto de estudos desenvolvidos pela
Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 1992), e adaptados
por Esser et al. (1999). Essa abordagem difere das demais sob dois aspectos: primeiro, os
conjuntos de fatores determinantes da competitividade encontram-se agregados em quatro
níveis de abrangência: metanível, macronível, mesonível e micronível; segundo, a análise
é conduzida por meio de uma associação entre os elementos da inovação industrial e
econômica e da sociologia industrial, visando identificar as características e padrões de
governança e os fenômenos que resultam das negociações, contemplando variadas formas
de cooperação e/ou de formação de alianças em torno das políticas industriais nos âmbitos
econômico, social e institucional.
Nessa abordagem, os níveis meta e meso são adicionados aos níveis micro e
macro, e que de modo geral, são contemplados nas demais abordagens teóricas. A idéia
central presente no modelo é que a competitividade emerge da interação sinérgica,
simultânea e intertemporal dos fatores agrupados nestes quatros níveis estruturais.
O modelo competitivo de “Porter” na agroindústria de frango de corte.
No caso da avicultura, os fatores agrícolas, industriais, comerciais e o governo
interagem de modo a criar um sistema com relações dinâmicas, independentes e
mutuamente influenciadoras. A estrutura do mercado avícola, a predominância da
integração agroindustrial e a forte especialização dos agentes envolvidos nas diferentes
etapas do processo produtivo exigem que o estudo da competitividade passe pela análise
de cada segmento envolvido na atividade (CANEVER et al, 1997).
Assim, um modelo que se adequou perfeitamente à análise do setor foi o
“diamante” de Porter, que analisa os fatores determinantes da competitividade,
englobando as condições de demanda e de fatores, as indústrias correlatas e de apoio, a
estrutura, estratégia e rivalidade das empresas e a ação governamental (Figura 1).
Neste estudo serão discutidas apenas as condições de demanda a partir da análise
do Market-Share.
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CONDIÇÕES DE FATORES
INDÚSTRIAS CORRELATAS E DE
APOIO
Grãos
Transportes
Mão-De-Obra
Energia Elétrica
Instalações
Equipamentos
Genética
Rações
Produtos Biológicos
GOVERNO
Tributação
Bioseguridade
ESTRATÉGIA, ESTRUTURA E
RIVALIDADE DAS EMPRESAS
CONDIÇÕES DE DEMAMDA
As inter-relações da demanda
Formas de consumo
Estratégias mercadológicas
Market share
Concentração geográfica
Concentração industrial
Economias de escala
Figura 1 – Inter-relações do sistema avícola de corte.
Fonte: Canever et al., 1997
3 METODOLOGIA
Neste tópico serão apresentados o modelo analítico Constant-Market-Share (CMS),
o mercado de destino e a fonte de dados, através dos quais será traçado o procedimento que
permitirá alcançar os objetivos propostos.
3.1 O Modelo Analítico
O presente trabalho estará pautado no estudo da competitividade segundo uma
abordagem ex-post, que é avaliada a partir dos resultados obtidos por indicadores de marketshare.
A forma mais simples do Método CMS define a parcela de mercado (S) de um país
A como função de sua competitividade relativa 2 .
2
Ver o desenvolvimento do modelo completo em Carvalho (1995); Stalder (1997) e Figueiredo (2004).
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Uma formulação mais complexa leva em consideração a estrutura das exportações do
país, que, mesmo na ausência de mudanças na competitividade relativa, pode estar afetando o
comportamento das exportações ao longo dos anos. As exportações podem estar concentradas
em mercadorias cuja demanda está crescendo mais rapidamente ou destinando-se
prioritariamente a regiões de crescimento mais dinâmico e vice-versa.
Na formulação específica, considera-se como variável básica o valor das
exportações, tendo a seguinte expressão do modelo CMS para um tipo particular de
mercadoria e uma região particular de destino:
V *ij −Vij ≡ rijVij + (V *ij −Vij − rijVij )
(1)
em que
Vij = valor das exportações da mercadoria i do país A para o país j, período 1;
V*ij = valor das exportações da mercadoria i do país A para o país j, período 2; e
rij = incremento percentual das exportações mundiais da mercadoria i para o país j do período
1 para o período 2.
Da mesma forma, esta equação pode ser agrupada em:
V * − V ≡ rV +
∑ (r
i
− r )V i . +
i
(a)
∑ ∑ (r
ij
i
(b)
j
− ri )V ij +
∑ ∑ (V
i
(c)
* ij − V ij − rij V ij )( 2 )
j
(d)
Essa identidade permite decompor a taxa de crescimento das exportações do país
A em quatro efeitos. Os dois primeiros estão relacionados com fatores externos e os dois
últimos refletem a influência de fatores internos:
a) Efeito-crescimento do comércio mundial: incremento observado se as exportações do
país A tiverem crescido à mesma taxa de crescimento mundial, isto é, crescimento das
exportações do país A devido ao crescimento mundial das exportações.
b) Efeito-composição da pauta: mudanças na estrutura da pauta com concentração em
mercadorias com crescimento de demanda mais ou menos acelerado, isto é, crescimento
devido à composição dos bens na exportação do país A, e, ainda, se aumentarem às
exportações mundiais da mercadoria i mais que a média mundial de todas as mercadorias
exportadas, (ri – r) é positiva e tornará forte esse efeito, se Vi for relativamente grande, ou
seja, o efeito-composição da pauta será positivo se as exportações do país A estiverem
concentradas em mercadorias de maior expansão ou quando a taxa de crescimento for
superior à mundial.
c) Efeito-destino das exportações: mudanças decorrentes das exportações de mercadorias
para mercados de crescimento mais ou menos dinâmicos, isto é, crescimento devido à
distribuição do mercado de exportação do país. Essa parcela será positiva se A concentrar
suas exportações em mercados que experimentarem maior dinamismo no período
analisado e negativa se concentra-las em mercados mais estagnados; e
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d) Efeito-residual, representando competitividade: o resíduo reflete a diferença entre o
crescimento efetivo das exportações e o crescimento que teria ocorrido nas exportações do
país A se a porcentagem de exportação de cada bem, em cada país, tivesse sido mantida.
Este fato está relacionado com mudanças nos preços relativos, o que pode significar que,
quando um país deixa de manter sua parcela no mercado mundial, o efeito
competitividade é negativo e indica preços crescendo para o país A, proporcionalmente
maior que os preços de seus competidores.
Neste trabalho não será analisado o efeito da composição da pauta, tendo em vista
que estamos considerando apenas um produto, carne de frango.
Existem algumas críticas à utilização do modelo CMS como indicador de
competitividade, que é a mesma feita aos demais indicadores de desempenho, ou seja, estes
indicadores não avaliam as causas das variações no grau de competitividade. Além disso,
estes indicadores seriam influenciados por variáveis que estão relacionadas ao comércio
exterior e não à competitividade (PINHEIRO et al, 1992).
3.2 O mercado de destino
O mercado de destino foi selecionado levando-se em consideração os países de
maior participação na pauta de importação de carne de frango do Brasil. Os 10 países
escolhidos (Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Hong
Kong, Japão, Kuwait, Países Baixos e Rússia) representam 81,66% em média, das
exportações brasileiras de carne de frango no sub-período 1990/96.
3.3 Os dados
Os dados utilizados neste trabalho foram obtidos Ministério da Agricultura, Indústria
e Comércio Exterior (MDIC/SECEX), que forneceu séries de valores das exportações de
carne de frango, em US$ 1000,00 Free on Board (FOB) do Brasil, para cada país de destino
selecionado; a Associação brasileira de exportadores de frango (ABEF e ANUALPEC),
fornecendo as quantidades e valores das exportações; e Food Agricultural Organization
(FAO), com a produção mundial.
Os períodos de análise foram determinados da seguinte forma:
a) 1990 a 1996 – Por representar os primeiros anos da abertura do comércio internacional e,
de acordo com a literatura consultada foi um período em que o Brasil estava sofrendo
restrições dos Estados Unidos e União Européia, e mesmo assim ainda obteve uma taxa de
crescimento de 10,68% a.a.
b) 1997 a 2002 – período que representa um salto no crescimento das exportações brasileiras
de carne de frango, com uma taxa de crescimento de 31,45% a.a.
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
No período estudado o Brasil apresentou uma taxa de crescimento das exportações,
da ordem 13% a.a. Entretanto, para o sub-período de 1990-1996 essa taxa se reduz para
10,68% e no sub-período 1997-2002 a taxa de crescimento se eleva para 31,45%. Um fator
que pode ter corroborado para o resultado do primeiro sub-período foi o fato das exportações
brasileiras terem sido prejudicadas pela política econômica de sobrevalorização da moeda
nacional, elevando os preços dos produtos brasileiros no mercado internacional, tornando-os
menos competitivos, desestimulando as exportações. Além disso, com a estabilização dos
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preços, a elevação do poder aquisitivo da classe de renda baixa provocou uma expansão do
consumo interno.
A Figura 2 mostra o comportamento das exportações brasileiras de carne de frango
no período 1990 a 2002, comparativamente com EUA e China. É possível visualizar a
tendência de crescimento das exportações brasileiras no período em análise.
3.000.000
QUANT. (Mt)
2.500.000
2.000.000
EUA
1.500.000
Brasil
1.000.000
China
500.000
19
90
19
91
19
92
19
93
19
94
19
95
19
96
19
97
19
98
19
99
20
00
20
01
20
02
0
ANOS
Figura 2 – Exportações brasileiras de carne de frango, no período de 1990 a 2002.
Fonte: Food Agricultural Organization (FAO)
Os resultados obtidos do modelo CMS permitem analisar a decomposição dos efeitos
e a influência de cada um no desempenho das exportações brasileiras de carne de frango, nos
dois sub-períodos considerados, desagregando-os entre os componentes: tamanho de mercado,
distribuição do mercado e competitividade.
Para o primeiro sub-período (1990/96), os dez países selecionados importaram juntos
cerca de 82% do total da carne de frango comercializada pelo Brasil, evidenciando grande
concentração das exportações brasileiras, sendo que os maiores países importadores foram
Argentina, Arábia Saudita e Kuwait, com percentual médio de 90,36%; 59,75% e 34,91%,
respectivamente.
De um modo geral, todos os países elevaram suas importações, exceto a Argentina
que reduziu sua parcela de 90,36% para 33,12%. A justificativa, talvez, para esta redução está
no fato de uma das grandes empresas brasileiras ter entrado no mercado local daquele país.
Entretanto, observa-se que houve uma elevação no montante das suas importações no
mercado mundial.
Vale destacar a expansão significativa das exportações para os Países Baixos, Rússia
e Espanha, cujas participações eram 6,96%, 1,44% e 23,30% no sub-período 1990/96,
passando para 40%, 14,79% e 41,62%, respectivamente, no período subseqüente (1997/02).
A Tabela 1 demonstra origem das mudanças nas exportações brasileiras de carne de
frango, evidenciando que, no sub-período 1990/96 a 1997/02, a participação média do Brasil
no total mundial comercializado aumentou de 11,32% para 15,32%. Esse crescimento das
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exportações totais do Brasil em relação ao total das exportações mundiais repercutiu em quase
todos os mercados desagregados no modelo CMS.
As informações sugerem que os efeitos tamanho de mercado e competitividade
atuaram de forma conjunta para promover a expansão das exportações brasileiras de carne de
frango. Desse aumento, 42,25% está relacionado ao efeito tamanho do mercado e 57,95%, ao
efeito competitividade. Estes dois efeitos mais do que compensam o efeito negativo devido à
distribuição do mercado de exportação.
Tabela 1 - Origem das mudanças na média anual das exportações brasileiras de carne de
frango nos sub-períodos de 1990/96 e 1997/02
(em US$ 1000 FOB)
TOTAL MUNDIAL
Fluxo de comércio (efetivo)
1990/96
1997/02
Importação mundial
4.776.213,7
6.442.636,2
Exportação do Brasil
540.624,8
Market-share (%)
(A)
987.109,0
(B)
11,32%
15,32%
EXPORTAÇÕES POTENCIAIS DO BRASIL
Variação
Exportações
Mantendo market-share mundial em 1990/96
188.624,2
(C)
729.249,0
(D)
Mantendo market-share em cada país em 1990/96
187.740,3
(E)
728.365,1
(F)
Market-share potencial para 1997/02 - média mundial (%)
11,32%
Market-share potencial para 1997/02 - média países (%)
11,31%
NATUREZA DAS VARIAÇÕES
Efeitos
Proporção
Variação efetiva (B - A)
446.484,2
100,00%
Tamanho de mercado (D - A)
188.624,2
42,25%
-883,9
-0,20%
258.743,9
57,95%
Distribuição de mercado (F - D)
Competitividade (F - B)
Soma dos efeitos
100,00%
Fonte: Dados da pesquisa.
O efeito positivo devido ao tamanho de mercado, possivelmente, foi influenciado
pelo crescimento do comércio mundial. De certa forma, isso demonstra que o Brasil está
diversificando mercados, principalmente, para a União Européia e a Ásia. Os fatores que
podem estar influenciado esse desempenho estão os problemas sanitários que atingiram a
Europa e a Ásia e a coordenação da atuação de marketing institucional. Por outro lado, o
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aumento de ocorrência de doenças e outros problemas relacionados com o consumo de carne
aumentaram a preocupação com a segurança alimentar, em termos mundiais. Tudo isso
resulta em novos padrões no que diz respeito às relações comerciais entre os países
exportadores, que podem ou não ser beneficiados, principalmente no que diz respeito às
barreiras e/ou exigências sanitárias. As empresas brasileiras têm direcionado esforços para
aumentar sua parcela no mercado externo mediante ao atendimento dessas demandas relativo
a qualidade do produto.
O mercado europeu é relevante para as exportações de carne de frango do Brasil
(inteiros e em cortes) e por isso têm demonstrado alto grau de preocupação com a qualidade
dos alimentos, tendo em vista o surgimento de doenças como o mal da “vaca louca” e a “gripe
asiática” do frango.
Sendo assim, a combinação entre os avanços tecnológicos (registrados especialmente
na produção, na criação das aves e na genética) e o processamento industrial fez do frango
brasileiro um dos mais saudáveis do mundo. Neste sentido, os subsídios americanos e
europeus, que reduziram a parcela do mercado brasileiro no mercado internacional em mais
de 47%, no período de 1985 a 1995, trouxeram benefícios para as exportações de carne de
frango brasileiras no período 1997/02, uma vez que forçou as empresas domésticas a
elevarem o padrão de qualidade do produto nacional para fazer frente à concorrência Norte
Americana e Européia.
Um outro fator que pode ter contribuído para o incremento da demanda por carne de
frango são as novas tendências de consumo, que valorizam cada vez mais as carnes brancas,
devido aos seus aspectos saudáveis e nutricionais. No Brasil, a demanda externa tem sido o
grande sinalizador nas melhorias no processo produtivo e nas formas de consumo.
A contribuição do efeito competitividade deveu-se, possivelmente, à agressividade
comercial da avicultura de exportação do Brasil e ao menor custo de produção do mundo,
segundo o International Finance Corporation (IFC), assim como, a elevação do volume de
exportações de partes, possibilitando ao Brasil concorrer competitivamente, alcançando
preços mais elevados. A grande vantagem é que produtos de maior valor agregado, como
partes, exigem maior quantidade de mão-de-obra por unidade de produto, o que favorece
aqueles países ricos em mão-de-obra (CANEVER et al., 1997).
Como se pode observar, o setor exportador brasileiro de carne de frango apresenta
um bom desempenho no mercado mundial, graças à diversificação de mercado, ao tamanho
do mercado e ao padrão de qualidade da carne de frango brasileira, fatores que contribuem
para a melhoria da sua competitividade.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo revelou que as exportações brasileiras de carne de frango apresentaram uma
tendência de crescimento positiva, da ordem 13% a.a, no período analisado. Entretanto, para o
sub-período de 1990-1996 essa taxa se reduz para 10,68% e no último sub-período 1997-2002
a taxa de crescimento se eleva para 31,45% a. a.
No primeiro período, a taxa de crescimento foi menor em virtude das exportações
brasileiras terem sido prejudicadas pela política econômica cambial de sobrevalorização da
moeda nacional, elevando os preços dos produtos brasileiros no mercado internacional,
tornando-os menos competitivos. Além disso, com a estabilização dos preços, o poder
aquisitivo da classe de renda baixa se elevou, provocando uma expansão do consumo interno.
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Os resultados obtidos do modelo CMS revelaram que no sub-período 1990/96 a
1997/02, a participação média do Brasil no total mundial aumentou de 11,32% para 15,32%.
Esse crescimento das exportações totais do Brasil em relação ao total das exportações
mundiais repercutiu em quase todos os mercados desagregados no modelo CMS.
De um modo geral, todos os países elevaram suas parcelas de importações do Brasil,
exceto a Argentina que reduziu sua parcela de 90,36% para 33,12%. Entretanto, os valores
mostram que houve um incremento do montante das suas importações no mercado mundial.
Os efeitos tamanho de mercado e competitividade atuaram de forma conjunta para
promover a expansão das exportações brasileiras de carne de frango. Desse aumento, 42,25%
está relacionado ao efeito tamanho do mercado e 57,95%, ao efeito competitividade.
O efeito tamanho de mercado, possivelmente, foi influenciado, de certa forma, pela
diversificação dos mercados, principalmente, para a União Européia e a Ásia; os problemas
sanitários que atingiram a Europa e a Ásia; a coordenação da atuação de marketing
institucional; as novas tendências de consumo, que valorizam cada vez mais as carnes
brancas, devido aos seus aspectos saudáveis e nutricionais.
A contribuição do efeito competitividade deveu-se, possivelmente, à agressividade
comercial da avicultura de exportação do Brasil; a combinação entre os avanços tecnológicos
e o processamento industrial que fez do frango brasileiro um dos mais saudáveis do mundo;
ao menor custo de produção do mundo; e a elevação do volume de exportações de partes,
possibilitando ao Brasil concorrer competitivamente, alcançando preços mais elevados.
Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005
Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rura
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Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005
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XLIII CONGRESSO DA SOBER
“Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial”
ANEXO
Tabela 1 - Exportação média anual brasileira e mundial de carne de frango nos sub-períodos 1990/96 e1997/02; participação do Brasil nas importações
de Carne de frango pelos principais importadores do comércio internacional.
1990/96
Mercado
Importações
Alemanha
Arábia Saudita
Argentina
Emirados Árabes Unidos
Espanha
Hong Kong
Japão
Kuwait
Países Baixos
Urss
Resto do Mundo
TOTAIS
mundiais (M)
(A)
610.900,90
262.407,60
33.218,30
104.378,60
85.365,30
411.958,90
885.592,10
56.406,30
143.335,10
328.017,90
1.854.632,90
4.776.213,70
Total países selecionados
2.921.580,90
Participação do Brasil mantendo
constante o Market-Share de
1990/96
Var. em
Exportações Participação Importações Exportações Participação
Variações em (Xb)
(M)
brasileiras
mundiais
brasileiras
Brasil (%)
Brasil (%) [(D)/(A)-1] (G)x(B) (0,348)x(B)
(Xb)
(M)
(Xb)
(B)
(C)
(D)
(E)
(F)
(G)
(H)
(I)
22.149,50
3,63%
497.696,80
63.394,50
12,74%
-0,19
-4.104,50 7.728,00
156.781,40
59,75%
325.646,80
208.666,70
64,08%
0,24
37.783,70 54.701,10
30.016,00
90,36%
113.258,00
37.510,20
33,12%
2,41
72.323,90 10.472,60
18.937,90
18,14%
125.701,80
37.906,00
30,16%
0,2
3.868,80
6.607,40
19.890,10
23,30%
77.026,70
32.062,10
41,62%
-0,1
-1.942,90 6.939,70
26.047,90
6,32%
681.421,50
66.520,40
9,76%
0,65
17.038,00 9.088,10
133.220,20
15,04%
742.050,10
155.962,90
21,02%
-0,16
-21.593,10 46.480,60
19.692,80
34,91%
73.390,80
36.968,10
50,37%
0,3
5.929,70
6.870,80
9.981,00
6,96%
151.901,80
60.765,00
40,00%
0,06
596,5
3.482,40
4.737,20
1,44%
350.172,90
51.778,80
14,79%
0,07
320
1.652,80
99.170,80
5,35%
3.304.368,90 235.574,30
7,13%
0,78
77.520,20 34.600,70
540.624,80
Market-share
1997/02
11,32%
6.442.636,20
987.109,00
441.454,00
3.138.267,30
751.534,70
81,66%
48,71%
76,13%
61,17%
15,32%
0,35
187.740,30 188.624,20
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