UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA CÍNTIA MORAES DE SÁ ATUAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA COM A UTILIZAÇÃO DA PEEP ATRAVÉS DO RECRUTAMENTO ALVEOLAR EM PACIENTES COM SARA RIO DE JANEIRO 2008.2 CÍNTIA MORAES DE SÁ ATUAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA COM A UTILIZAÇÃO DA PEEP ATRAVÉS DO RECRUTAMENTO ALVEOLAR EM PACIENTES COM SARA Monografia apresentada ao curso de graduação em Fisioterapia da Universidade Veiga de Almeida como requisito parcial para obtenção do título de Fisioterapeuta. Orientador: Profº. Othon Luis Brum de Almeida RIO DE JANEIRO 2008.2 CÍNTIA MORAES DE SÁ ATUAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA COM A UTILIZAÇÃO DA PEEP ATRAVÉS DO RECRUTAMENTO ALVEOLAR EM PACIENTES COM SARA MONOGRAFIA OBJETIVOS: este estudo visa demonstrar a importância do diagnóstico e tratamento precoce da SARA, buscando melhorar o quadro de insuficiência respiratória com a manobra de recrutamento alveolar e uso de PEEP durante a ventilação mecânica para assim minimizar ao máximo as seqüelas dessa doença. UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA CURSO DE FISIOTERAPIA DATA DE APROVAÇÃO: ____/____/____. _________________________________________________________ Profº. Othon Luiz Brum de Almeida UVA Especialista _________________________________________________________ Marcus Antonio Sena Pereira Fisioterapeuta HSVP _________________________________________________________ Profª. Ione Moezia de Lima UVA Mestre Dedico este trabalho aos meus pais Maria Gonçalo de Moraes de Sá e Domício Nonato de Sá, que me apoiaram durante todos os momentos de minha vida e batalharam muito juntos para me proporcionar realização. esse momento de AGRADECIMENTOS A Deus, fonte de tudo, benção da vida e que me proporcionou chegar até aqui. Em especial ao meu irmão Felipe Moraes de Sá, que torce por mim e vibra com as minhas conquistas. A todos os meus familiares que compreenderam as minhas ausências, e torceram mesmo que distantes por minha conquista. Ao Henrique Prado Sousa, pelo carinho, compreensão e pelo jeito de compartilhar, com amor, um momento tão feliz, importante e rico na minha vida. Ao meu orientador Profº. Othon Luiz Brum de Almeida pela orientação, apoio, paciência e por passar tranqüilidade nos momentos mais difíceis. Ao meu supervisor de estágio Marcus Antonio Sena Pereira pela disponibilidade, orientação precisa, por me guiar no caminho das pedras e por ter contribuído para o desenvolvimento e principalmente para o enriquecimento deste trabalho. As professoras Cléa Gois e Silva e Nelzir Trindade Reis, por estarem sempre à disposição e ceder um ombro amigo nos momentos de angústia e ansiedade. Em especial aos meus amigos, que sempre estão ao meu lado nos momentos alegres e tristes, me alegrando com a beleza da amizade. A todos que de alguma maneira, seja ela direta ou indiretamente, contribuíram para a confecção desse trabalho o meu MUITO OBRIGADA! “Quanto maior o desafio, maior é a necessidade de se trabalhar em equipe”. (JOHN C. MAXWELL) RESUMO A Síndrome da angústia respiratória aguda (SARA), no adulto é uma patologia que acomete os pulmões levando a um edema agudo pulmonar não cardiogênico, o que causa um estado de insuficiência respiratória aguda. Essa patologia tornou-se uma grande preocupação para toda a equipe de terapia intensiva, pois esses pacientes necessitam de cuidados especiais para evitar ou minimizar as morbidades que possam surgir e até mesmo a mortalidade. Este trabalho visa demonstrar através de artigos científicos e da revisão na bibliografia, a atuação fisioterapêutica com o uso de recrutamento alveolar e a intitulação da PEEP ideal visando à melhora do quadro respiratório destes pacientes, bem como demonstrar a importância da realização do tratamento por uma equipe multidisciplinar. Palavras-chave: Fisioterapia, SARA, Recrutamento alveolar, PEEP, hipoxemia. ABSTRACT The acute distress respiratory syndrome (ADRS) in the adult it’s a pathology that attacks the lungs taking to an edema lung sharp non cardiogenic, what causes a state of sharp breathing inadequacy. That pathology became a great concern for the whole team of intensive therapy, because those patients needs special cares to avoid or to minimize the morbidities that can appear and even the mortality. This work aims to demonstrate through scientific papers and the bibliographic review, the performance physiotherapy with the use of alveolar recruitment and the entitlement of ideal PEEP seeking to the improvement of the breathing picture of these patient ones, as well as to demonstrate the importance of the accomplishment of the treatment by a multidisciplinary team. Key-Words: Physiotherapy, ADRS, Alveolar recruitment, PEEP, hypoxemia. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..............................................................................................................12 1. ANATOMIA PULMONAR......................................................................................15 1.1. Sistema respiratório............................................................................................15 1.3. Alvéolos, surfactante e tensão superficial...........................................................16 1.4. Músculos ventilatórios .......................................................................................17 2. FISIOLOGIA ............................................................................................................18 2.1. Relações estrutura-função ..................................................................................18 2.2. Mecânica ventilatória .........................................................................................18 2.2.2. Expiração: ...................................................................................................19 2.2.3. Pressão intapleural: .....................................................................................19 2.3. Volumes e capacidades pulmonares...................................................................19 2.4. Ventilação alveolar e trocas gasosas ..................................................................20 2.5. Controle da ventilação .......................................................................................21 2.6 . Controle químico da respiração .........................................................................22 2.7. Controle neural do músculo liso da via aérea ....................................................22 3. FISIOPATOLOGIA..................................................................................................24 4. CAUSAS DA SARA ................................................................................................27 5. CONSEQÜÊNCIAS DA SARA ...............................................................................29 6. QUADRO-CLÍNICO ................................................................................................30 7. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS ...............................................................................32 8. TRATAMENTOS .....................................................................................................34 8.1. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO ............................................................34 8.1.1. Corticóides ..................................................................................................34 8.1.2. Suporte Nutricional .....................................................................................35 8.1.3. Aporte Hídrico e o uso de Diuréticos...........................................................35 8.1.4. Antibióticos .................................................................................................36 8.1.5. Heparina .......................................................................................................36 8.1.6. Vasodilatadores ...........................................................................................36 8.1.7. Sedação e Curarização ................................................................................36 8.1.8. Óxido Nitroso..............................................................................................37 8.2. TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO..........................................................38 8.2.1. Suporte Ventilatório ....................................................................................38 8.2.2. Cuidados realizados antes e durante o recrutamento alveolar ....................39 8.2.3. Recrutamento Alveolar ...............................................................................40 8.2.3.1. Cálculo da PEEP Ideal .............................................................................43 8.2.3.2. Conceito open Lug ...................................................................................44 8.2.4. Secreção e Aspiração Traqueal ...................................................................44 CONCLUSÃO ................................................................................................................45 REFERÊNCIAS..............................................................................................................46 ANEXOS ........................................................................................................................50 LISTA DE FIGURAS Figura 1– Apresenta o diagrama dos segmentos broncopulmonares e as variações entre o pulmão direito e o esquerdo. ........................................................................................50 Figura 2 – Mostra um alvéolo normal sendo comparado com apresentando SARA (acima); Depois mostrando um alvéolo na fase de reparação após a SARA (abaixo)....51 Figura 3 – Escore de Murray...........................................................................................51 Figura 4 – Ilustrando a diferença entre fase inicial e tardia da SARA em Raio-x e TC .52 Figura 5 – Critérios para diagnóstico de LPA e SARA ..................................................52 Figura 6 – Mostrando raio-x que diferencia ICC de SARA............................................52 Figura 7 – APACHE II....................................................................................................53 Figura 8 – Sistema de estratificação para lesão pulmonar aguda (GOCA).....................54 Figura 9 – Avaliação da sedação (escala de Ramsay).....................................................54 Figura 10 – Demonstra a comparação entre ventilação mecânica comum e ventilação mecânica protetora. .........................................................................................................54 Figura 11 – Tabela com informações dos protocolos de recrutamento alveolar de diversos autores...............................................................................................................55 Figura 12 – Esquema teórico das quatro fases inspiratórias e expiratórias da curva P-V .........................................................................................................................................56 Figura 13 – Sonda para aspiração em circuito fechado (Trake care)..............................56 Figura 14 - Raios-X apresentando SARA por pancreatite ..............................................56 Figura 15 – Tomografia computadorizada demonstrando um pulmão sem recrutamento e com recrutamento alveolar ...........................................................................................57 Figura 16 – Cortes tomográficos representando o estudo realizado por GATTIONONI com PEEP de 0, 5, 10 e 20. Podemos observar como houve melhora significativa com a utilização de PEEP para o recrutamento. ........................................................................57 INTRODUÇÃO Atualmente apesar dos inúmeros avanços no que se trata de cuidados gerais dentro da terapia intensiva, as grandes alterações na fisiologia respiratória fazem com que os pacientes com a Síndrome da angústia respiratória aguda no adulto, continuem apresentando mortalidade bastante elevada. Isso explica a grande necessidade de mais estudos com o intuito de melhorar este quadro. A SARA é uma patologia caracterizada por um quadro de insuficiência respiratória aguda, devido a uma intensa resposta inflamatória pulmonar, que pode ocorrer frente a diversos agentes agressores, sendo esses diretos como aspiração, infecção pulmonar difusa, quase afogamento, inalação de gases tóxicos, contusão pulmonar, ou indiretos como, sepse, politraumatismo, intoxicação por drogas, pancreatite, embolia gordurosa, entre outros. Essa insuficiência respiratória se dá devido à alteração na permeabilidade da membrana alvéolo-capilar, causando uma condição de edema pulmonar agudo não hidrostático, em que o pulmão passa a não atender de forma normal à sua principal função que é a de troca gasosa a fim de oxigenar adequadamente o sangue e eliminar o gás carbônico em excesso proveniente do metabolismo do organismo. Na literatura existem relatos que descrevem uma situação de colapso pulmonar agudo em feridos durante a Primeira Guerra Mundial. Na década de 20, Osler descreveu sua fase inicial, no entanto os estudos não foram aprofundados. No final da Segunda Guerra Mundial, Burford, relatou achados de edema agudo de pulmão e insuficiência respiratória em soldados que tinham sido feridos durante o combate. Já Jenkins, em 1950, descreveu pela primeira vez um quadro compatível com o de SARA em vítima de acidente. Foi apenas em 1967 que Asbaugh e Petty descreveram mais detalhadamente uma Síndrome de angústia respiratória aguda no adulto, que era caracterizada por insuficiência respiratória aguda com hipoxemia progressiva grave, refratária à oxigenioterapia, associada a infiltrados pulmonares bilaterais e queda na complacência pulmonar, um quadro que se instala após algumas horas de agressão a um pulmão previamente normal. 13 Atualmente já temos grandes progressos na compreensão dos mecanismos fisiopatológicos, com o desenvolvimento de modelos experimentais em animais o que propiciou o entendimento do que realmente acontecia a nível do epitélio pulmonar. De acordo com a Conferência de Consenso Européia-Americana, a Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (SARA) ou Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA) é definida como, uma síndrome de insuficiência respiratória com instalação aguda, caracterizada por infiltrado pulmonar bilateral visto em radiografia de tórax, compatível com edema pulmonar, apresentando hipoxemia grave, definida como relação PaO2/FIO2 ≤ 200; pressão de oclusão da artéria pulmonar ≤ 18 mmHg ou ausência de sinais clínicos ou ecocardiográficos de hipertensão atrial esquerda e a presença de um fator de risco para lesão pulmonar. É sugestão também deste Consenso o uso de forma indistinta dos termos SARA ou SDRA, uma vez que esta tem sido a realidade no cotidiano das nossas especialidades. A instalação do edema pulmonar não cardiogênico levará a uma diminuição da complacência pulmonar, aumento do shunt, com conseqüente hipoxemia refratária à administração de oxigênio. Embora a alteração de permeabilidade da membrana alvéolo-capilar na SARA seja difusa, estudos recentes de tomografia computadorizada na SARA mostram que esta é uma doença bastante heterogênea, com as áreas dependentes de gravidade, principalmente nas áreas do pulmão que ficam junto ao leito. A incidência de SARA ainda é bastante discutida e incerta, foi estimada inicialmente em cerca de 150.000 pacientes por ano nos Estados Unidos, mas esse numero foi logo questionado, pois ainda são escassos estudos epidemiológicos mesmo após a Conferência do Consenso de 1994 onde os critérios diagnósticos foram redefinidos e várias estratégias foram discutidas em relação ao tratamento da SARA, passando a incidência ser considerada supostamente menor, em torno de 20.000 a 30.000 casos por ano. No momento, está em andamento um estudo populacional nos EUA para determinar a incidência da síndrome. Em unidades de terapia intensiva, a freqüência geralmente gira em torno de 2 a 26% do total de internações. De acordo com o III Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica, a incidência de SARA foi estimada em 79 casos por 100 mil habitantes ao ano, com variações sazonais nítidas, sendo mais freqüente no inverno. Também se observou que a incidência é crescente com a idade, chegando a 306 casos por 100 mil habitantes/ano, na faixa dos 75 aos 84 anos. 14 Os pacientes que sobrevivem acabam tendo uma permanência prolongada na unidade de terapia intensiva (UTI), apresentam significantes limitações funcionais, o que acaba afetando principalmente a atividade muscular, e reduz a qualidade de vida podendo persistir por, pelo menos, um ano após a alta hospitalar. 15 1. ANATOMIA PULMONAR 1.1. Sistema respiratório A respiração é um processo bastante complexo e que compreende, de forma simplificada, na captação de oxigênio (O2) para unir os diversos tecidos do corpo e na eliminação de dióxido de carbono (CO2) que resulta do metabolismo celular. Como a maioria dos tecidos do corpo humano necessitam de oxigênio, principalmente como fonte de energia, o processo de captação deve ser efetuado durante toda a vida. Desta forma pode-se dizer que o oxigênio é o “combustível da vida”. No entanto, não podemos esquecer que a eliminação do dióxido de carbono também é de extrema importância, uma vez que o acúmulo anormal de CO2 pode ter como conseqüência o aumento do pH sanguíneo e até mesmo a morte. O sistema respiratório é composto por: pulmões, caixa torácica, músculos ventilatórios, vias aéreas superiores (que inicia no nariz e vai até a traquéia) e inferiores (que tem início na traquéia e vai até os alvéolos). (PRESTO, 2007) As vias aéreas são constituídas por uma série de tubos ramificados que vão estreitando-se e se curvado cada vez mais, além de tornarem-se mais numerosos à medida que penetram mais profundamente em direção ao pulmão. (WEST, 1978) 1.2. Pulmão e pleuras Os pulmões estão situados no tórax e estão separados pelo coração e por outros conteúdos mediastinais como a traquéia e as estruturas hílares. Estão envolvidos pelas pleuras parietal e visceral, além de protegidos dentro da caixa torácica por ossos e músculos. (GRAY, 1995) São órgãos em forma de cone, os quais enchem completamente os espaços pleurais, estendendo-se do diafragma até a uma altura de 13 cm acima da clavícula. A parte do pulmão acima da clavícula é chamada de cúpula. A superfície medial de cada pulmão é côncava em volta do mediastino. Os brônquios principais e as artérias pulmonares entram de cada lado do pulmão numa fenda chamada hilo, via raiz dos pulmões. (JACOB,1990) 16 Os pulmões apresentam um ápice superior, uma base inferior e duas faces, costal e medial. A base descansa sobre o diafragma, músculo que separa, inteiramente, o tórax do abdome, e por esta razão, ela é conhecida também como face diafragmática. Os pulmões se subdividem em lobos cujo número, embora possam existir variações, é de três para o direito e de dois para o esquerdo, no homem (como mostra a Figura 1 em anexos). Os lobos do pulmão direito, superior, médio e inferior, são separados entre si por fendas profundas, as fissuras oblíqua e horizontal. Já o pulmão esquerdo, com seus dois lobos superior e inferior, apresenta apenas a fissura oblíqua. (DANGELO & FATTINI, 2005) Cada pulmão é revestido (e fechado) por um saco pleural seroso que consiste em duas membranas contínuas, as pleuras. A pleura visceral (pleura pulmonar) reveste os pulmões, incluindo as faces dentro das fissuras horizontal e oblíqua; ela não pode ser separada dos pulmões. A pleura parietal reveste as cavidades pulmonares. A cavidade pleural é um espaço potencial entre as duas pleuras que contêm uma lamina de liquido pleural seroso, que lubrifica as faces pleurais e permite às laminas da pleura deslizar suavemente uma contra a outra durante a respiração. (MOORE, 2001) 1.3. Alvéolos, surfactante e tensão superficial Os alvéolos são bolsas de paredes finas que fornecem coletivamente ampla área respiratória, constituindo uma barreira mínima para a troca gasosa entre a atmosfera e o sangue dos capilares que se situam próximos de sua superfície de revestimento. (GRAY,1995) Os alvéolos nos pulmões são cobertos com uma substância ativa em superfície, o surfactante (uma lipoproteína na qual os componentes ativos são fosfolipídios), que diminui a tensão superficial à medida que o raio do alvéolo diminui. A tensão superficial nos pulmões (resultante da contração na fina camada de água que umedece as superfícies alveolares na interface ar-água) é uma força poderosa, respondendo por cerca de metade a dois terços da retração elástica do pulmão. (JACOB, 1990) A superfície alveolar é composta, basicamente, por células conhecidas como pneumócitos tipo I (célula epitelial escamosa). Essas células são extremamente finas e, conseqüentemente, possibilitam uma difusão gasosa rápida. Os pneumócitos tipo II são maiores que as células tipo I e estão dispersas na superfície alveolar, possuem como 17 função a secreção de surfactante, além de mecanismos de defesa, resposta inflamatória e reparação alveolar. (PRESTO, 2007) 1.4. Músculos ventilatórios Durante a inspiração em repouso ou forçada os músculos ventilatórios são os responsáveis pela variação das pressões pulmonares possibilitando a movimentação dos gases pelas vias aéreas. Na expiração em repouso não há contração muscular, na verdade a energia potencial armazenada durante a inspiração é utilizada como fonte de energia para o processo de expiração. Os principais músculos inspiratórios são: diafragma e intercostais internos, na inspiração em repouso; já na inspiração forçada, alem dos músculos já citados, há contração também do ECOM, trapézio (fibras superiores) e da maioria dos músculos os quais possuem inserção na caixa torácica com os pontos fixos em outros ossos (ex: peitoral maior, com ponto fixo no úmero etc). (PRESTO, 2007) Na inspiração, o volume da cavidade torácica aumenta e o ar é conduzido aos pulmões. O aumento do volume é dado em parte pela contração do músculo diafragma, que produz sua decida, e em parte pela ação dos músculos intercostais, que elevam as costelas, desta forma aumentando a seção transversa do tórax. (WEST,1978) Os músculos da respiração são músculos esqueléticos. A estrutura e função deles são idênticas às de outros músculos esqueléticos; isto é, a força de contração aumenta quando distendidos, e diminui quando mais curtos. Desta forma, a força de contração dos músculos da respiração eleva-se com o aumento do volume pulmonar. (BERNE, 2004) 18 2. FISIOLOGIA 2.1. Relações estrutura-função O pulmão existe para as trocas gasosas. Sua principal função é permitir que o oxigênio passe do ar ao sangue venoso e que o dióxido de carbono saia. O pulmão também tem outras funções. Filtra material tóxico da circulação, metaboliza alguns compostos e atua como um reservatório para o sangue. Mas a sua função cardinal é a de troca gasosa. (WEST, 1978) O pulmão tem três funções principais: troca de gases, defesa do organismo e metabolismo. A função primária baseia-se na troca gasosa, entrada de O2 e saída de CO2, além da toca gasosa, o pulmão também funciona como uma barreira entre o meio externo e o meio interno do organismo. E finalmente o pulmão é um órgão metabólico, que sintetiza e metaboliza diversos compostos. (BERNE, 2004) 2.2. Mecânica ventilatória A mecânica pulmonar consiste no estudo das propriedades mecânicas do pulmão e da parede torácica. A mecânica estática corresponde às propriedades mecânicas do pulmão, cujo volume não varia com tempo. A interação entre o pulmão e a parede torácica determina o volume pulmonar, que possui papel importante na toca gasosa e no trabalho respiratório. (BERNE, 2004) A ventilação adequada depende da capacidade dos pulmões de se expandir normalmente. A maioria do trabalho respiratório vem da resistência da elasticidade dos pulmões e da expansão da caixa torácica. Uma alta complacência significa uma maior facilidade de distensão pulmonar, assim com uma baixa complacência exige mais da musculatura inspiratória para distender os pulmões. (SILVERTHORN, 2003) Os pulmões podem ser expandidos e contraídos por dois mecanismos: pelo movimento de subida e descida do diafragma, que alarga ou encurta a cavidade torácica, e pela elevação e abaixamento das costelas para aumentar e diminuir o diâmetro ânteroposterior da cavidade torácica. (GUYTON, 1998) 19 A respiração, em repouso, é realizada pela contração e relaxamento alternados do diafragma e dos músculos intercostais externos. A maior parte da movimentação do ar é realizada pela ação do diafragma. 2.2.1. Inspiração: Quando o diafragma se contrai, ele abaixa e alonga a cavidade torácica. A contração dos músculos intercostais externos levanta as costelas na borda esternal. Essa ação força o esterno para fora, aumentando o diâmetro ânteroposterior do tórax. Além disso, à medida que as costelas se movem para cima, o diâmetro lateral do tórax aumenta. (JACOB, 1990) 2.2.2. Expiração: É passiva durante a respiração normal. O pulmão e a parede torácica são elásticos, e tendem a retornar à sua posição de equilíbrio após a expansão ativa da inspiração. Os músculos mais importantes da expiração são aqueles da parede abdominal, incluindo os retos abdominais, músculos oblíquos internos e externos e os transversos do abdome. Quando esses músculos se contraem, a pressão intra-abdominal é elevada e o diafragma é empurrado para cima. Eles também se contraem fortemente durante situações como a tosse. Na expiração ativa, os músculos intercostais internos se contraem puxando as costelas para baixo e para dentro, diminuindo assim o volume torácico. (WEST, 1978) 2.2.3. Pressão intapleural: A pressão pleural é a pressão do líquido no espaço estreito entre as pleuras visceral e parietal. É um vácuo sutil, que significa pressão levemente negativa. No início da inspiração essa pressão é de aproximadamente -5 centímetros de água, que é a intensidade do vácuo necessário para manter os pulmões distendidos no seu nível de repouso. Durante a inspiração, a expansão torácica puxa a superfície dos pulmões com força ainda maior e cria ainda mais pressão negativa, abaixo da média de cerca de -7,5 centímetros de água. (GUYTON, 1998) 2.3. Volumes e capacidades pulmonares Todos os volumes pulmonares constituem uma subdivisão da capacidade pulmonar total (CPT) e são medidos em litros. O volume total de ar expirado, a partir de uma inspiração máxima até a expiração máxima, é capacidade vital (CV). O volume residual (VR) consiste no volume de ar que permanece nos pulmões após uma expiração máxima. Este volume é estabelecido durante as primeiras incursões respiratórias após o nascimento. A capacidade pulmonar total (CPT) constitui a soma da CV com o VR; isto 20 é, o volume total de ar encontrado nos pulmões e inclui o volume de ar capaz de ser movimentado (CV) e o volume de ar sempre presente no pulmão (VR). (BERNE, 2004) O volume corrente é o volume de ar inspirado ou expirado em cada respiração normal; o volume corrente médio durante a respiração em repouso de um adulto é de aproximadamente de 500 mililitros. O volume que é inspirado além do volume corrente é denominado volume de reserva inspiratória que em um homem de 70 Kg, é cerca de 3.000 ml, seis vezes maior do que o volume corrente normal. (SILVERTHORN, 2003) Já o volume de reserva expiratória é a quantidade de ar expirada forçadamente ao final da expiração do volume corrente normal; normalmente é de 1.100 mililitros. Existe ainda o volume residual que é o volume de ar que permanece nos pulmões após uma expiração vigorosa. Este é de aproximadamente 1.200 mililitros. (GUYTON, 1998) 2.4. Ventilação alveolar e trocas gasosas A importância fundamental do sistema de ventilação pulmonar é a renovação contínua do ar nas áreas pulmonares de troca gasosas onde o ar está em estreito contato com o sangue pulmonar. Estas áreas incluem os alvéolos, sacos alveolares, os ductos alveolares e os bronquíolos respiratórios. (GUYTON, 1998) A troca gasosa é o encontro de duas circulações: alveolar e capilar pulmonar, sendo, também, uma janela com o meio exterior. A ventilação alveolar representa o volume de ar que, por minuto, chega efetivamente aos alvéolos. Subentende-se que parte do ar inalado é perdida em termos de troca, pois este ar fica retido nos espaços mortos. (ADER, 2005) Embora a ventilação e o fluxo sanguíneo pulmonar (perfusão) sejam importantes componentes na função primária do pulmão, a relação entre ventilação e perfusão representa o maior determinante da troca gasosa normal. A ventilação alveolar começa com ar ambiente e este representa uma mistura de gás composto principalmente de nitrogênio e oxigênio com quantidades mínimas de dióxido de carbono, argônio, e outros gases inertes. (BERNE, 2004) Existem duas causas relativamente simples de insuficiência de troca gasosa, são elas: hipoventilação e “shunt”. Ambas as situações citadas, resultam em hipoxemia, que é a PO2 anormalmente baixa no sangue arterial. O nível de PO2 alveolar é determinado por um equilíbrio entre a velocidade de remoção de O2 pelo sangue, e a velocidade de reposição de O2 pela ventilação alveolar, as causas incluem drogas como a morfina e 21 barbitúricos, lesão da parede torácica ou paralisia dos músculos respiratórios e uma alta resistência à respiração. Já o shunt refere-se ao sangue que atinge o sistema arterial sem passar através de áreas ventiladas do pulmão. (WEST, 1978) É importante lembrar que os alvéolos possuem uma interdependência entre si devido a existência de ventilação colateral, promovida através da existência dos poros de Kohn, que são comunicações interalveolares com diâmetro igual a 3 µm, canais de Lambert, que são conexões broncoalveolares com diâmetro em torno de 30 µm e canais de Martin que comunicam dois bronquíolos entre si, desta forma os alvéolos normalmente ventilados, quando distendidos, promovem a abertura das unidades vizinhas o que permite um melhor enchimento pulmonar. (PRESTO, 2007 e ULTRA, 2008) As distribuições da ventilação e da perfusão aumentam das partes superiores às partes inferiores dos pulmões. De um modo geral pode-se descrever três zonas pulmonares: zona superior, onde a relação ventilação-perfusão é muito elevada porque a ventilação existe, mas a perfusão é fraca; zona média do pulmão, onde a relação ventilação-perfusão é ideal; a zona inferior, onde a perfusão é superior à ventilação e a relação ventilação-perfusão é baixa. (ADER, 2005) 2.5. Controle da ventilação O controle da ventilação diz respeito à geração e a regulação do ritmo da respiração pelo centro respiratório localizado no tronco cerebral, e sua modificação através da chegada de informações a partir dos centros encefálicos superiores e receptores sistêmicos. O objetivo da respiração é do ponto de vista mecânico diminuir o trabalho e do ponto de vista fisiológico, manter os gases sanguíneos, especificamente, regular a PCO2 arterial. (BERNE, 2004) Os mecanismos neurogênicos que controlam a respiração estão localizados na substância reticular do bulbo e da ponte. A área do bulbo é geralmente referida como centro respiratório. As áreas de controle respiratório na ponte são conhecidas como centros pneumotáxico e apnêustico. O ritmo básico da respiração é estabelecido pelo centro respiratório bulbar. Contudo, o ritmo normal, automático e alternado – habitualmente uma fase inspiratória de dois segundos e uma fase expiratória de três segundos – depende grandemente da ação reguladora de influxos inibitórios ao centro 22 respiratório partindo dos pulmões à medida que se expandem e a partir do centro pneumotáxico. (JACOB, 1990) Além dos mecanismos neurais que operam totalmente no tronco cerebral, os sinais nervosos reflexos oriundos dos pulmões também ajudam no controle da respiração. Os mais importantes, localizados nas paredes dos brônquios e bronquíolos, são receptores de estiramento que transmitem os sinais através dos nervos vagos para o grupo respiratório dorsal que está localizado no bulbo. Estes sinais afetam a inspiração da mesma forma que os sinais do centro pneumotáxico. (GUYTON, 1998) 2.6 . Controle químico da respiração Sobre condições normais, o primeiro regulador da ventilação pulmonar são as alterações na concentração de dióxido de carbono no sangue, que é acompanhado das alterações de pH. Nos níveis sanguíneos normais, o oxigênio tem somente um leve efeito sobre a ventilação. O local primário de ação do dióxido de carbono e íons de hidrogênio é o centro respiratório no bulbo. Um aumento dessas concentrações causam o aumento da ventilação e uma queda a deprime. (JACOB, 1990) Células quimiorreceptoras especializadas (quimiorreceptores periféricos) localizadas na croça da aorta (corpúsculos aórticos) e na bifurcação das artérias carótidas interna e externa no pescoço captam a PO2 , a PCO2 e o pH do sangue arterial. Essa informação é transmitida de volta aos núcleos de integração do impulso no bulbo através dos nervos cranianos. A informação dos corpúsculos aórticos se dirige para o sistema nervoso central através do nervo vago. Os quimiorreceptores localizados imediatamente abaixo da superfície ventrolateral do bulbo, quimiorreceptores centrais, identificam as mudanças na PCO2/pH do líquido intersticial do tronco cerebral. (LEFF, 1996) 2.7. Controle neural do músculo liso da via aérea O sistema nervoso autônomo tem um importante papel na regulação e/ou modulação do calibre das vias aéreas seja em indivíduos normais ou com doença pulmonar. Além de regular o tônus da musculatura lisa, os nervos autônomos podem influenciar na secreção de muco pelas glândulas submucosas, no transporte de fluido 23 através do epitélio alveolar, na permeabilidade e no fluxo sanguíneo da circulação brônquica, assim como a libertação de mediadores a partir dos mastócito. 24 3. FISIOPATOLOGIA A lesão pulmonar aguda a qual dá origem à SARA é caracterizada pela injúria do endotélio e epitélio pulmonar e, conseqüentemente, com a lesão da membrana alvéolocapilar. Existe uma série de mediadores circulantes (humorais ou celulares), que são acusados de serem os causadores e perpetuadores da síndrome, mas, em geral, sua patogênese consiste em duas vias: a) os efeitos diretos de uma lesão nas células pulmonares; e b) uma resposta inflamatória, sistêmica, aguda, que pode incluir componentes celulares e humorais. A resposta celular envolve neutrófilos, macrófagos/monócitos e linfócitos, os quais têm um papel importante no processo que inclui a adesão, a quimiotaxia e a ativação dos leucócitos. (ANTONIAZZI, 1998) Nesta síndrome existe um processo inflamatório que acarreta aumento da permeabilidade capilar pulmonar em resposta a uma série de anormalidades clínicas, radiológicas e fisiológicas. Com um fator de predisposição à SARA já instalado, ocorre a liberação de mediadores inflamatórios e conseqüente alteração da membrana alvéolocapilar. Estes compõem um verdadeiro arsenal tóxico para a membrana celular, alterando a estrutura secundária das proteínas e lípides, gerando lesão tecidual. Neste local ocorre a liberação de prostaglandinas e leucotrienos, que ocasionam broncoconstrição e vasoconstrição. Os últimos ainda estimulam os neutrófilos, que alteram a membrana alvéolo-capilar, deixando-a mais permeável. (ULTRA, 2008) Para a função pulmonar normal, há necessidade de alvéolos patentes, intimamente associados a capilares adequadamente perfundidos. O capilar pulmonar normal apresenta endotélio seletivamente permeável, onde as proteínas permanecem no intravascular, enquanto os fluidos atravessam as membranas, como resultado do balanço entre forças hidrostáticas e gradientes oncóticos. Três mecanismos existem, para impedir a formação de edema intersticial: Proteínas intravasculares mantêm um gradiente osmótico favorável à reabsorção de líquido; Os linfáticos intersticiais podem drenar grande quantidade de líquido para a circulação; Junções intercelulares firmes, entre as células epiteliais alveolares, previnem o enchimento dos espaços aéreos. (GALHARDO & MARTINEZ, 2003) Independente da causa da insuficiência respiratória, a lesão pulmonar parece ser devido a uma resposta inflamatória e ocorre de uma maneira difusa, heterogênea. O 25 quadro anatomopatológico depende da fase de evolução. A primeira fase é denominada exudativa ou secretora: caracterizada por edema intersticial e alveolar, bem como pela formação de membranas hialinas; ocorre entre 24 e 96 horas; fase proliferativa: caracterizada pela resolução do edema pulmonar, pela proliferação de pneumócitos do tipo II, infiltração intersticial por miofibroblastos e deposição de colágeno; fase fibrótica: ocorre em pacientes com doença prolongada, caracterizada por alteração da arquitetura pulmonar normal, fibrose difusa e formação de cistos (conforme ilustrado na Figura 2). (FALCÃO, 2006) A lesão epitelial alveolar envolve a membrana basal e os pneumócitos tipo I e tipo II, levando à redução da quantidade e à alteração da funcionalidade do surfactante, com o conseqüente aumento da tensão superficial alveolar, ocorrência de atelectasias e redução da complacência pulmonar. (III consenso de Ventilação mecânica na SARA, 2007) Embora a pressão em cunha usualmente permaneça normal, a resistência vascular periférica aumentada e algum grau de hipertensão pulmonar extrema é sinal de um prognóstico muito ruim. A infiltração pulmonar difusa com uma pressão em cunha normal pode ser observada em outros problemas, como no edema pulmonar relâmpago e na insuficiência cardíaca parcialmente tratada. (MARINI, 1999) Dentro das paredes alveolares, os fíbroblastos crescem em número e se dirigem através das aberturas da membrana basal, em encontro ao exsudato alveolar. Estas células levam, por deposição de colágeno, a transformações mais permanentes do parênquima, agravando ainda mais a mecânica ventilatória. Com o avanço dos dias sob suporte ventilatório mecânico e tratamentos outros, estes paciente, que sobrevive às fases iniciais da doença, tem seu pulmão muitas vezes totalmente transformado pela fibrose, característica da terceira fase. Este momento, resultado da perpetuação da SARA pela sua não reversão, é considerado o estágio final desta síndrome (CRESPO, 1995). De modo geral, ocorrem alterações da mecânica pulmonar e na relação ventilaçãoperfusão. Embora a disfunção pulmonar à radiografia de tórax seja difusa, ela ocorre de maneira heterogênea levando a um grave desequilíbrio entre a ventilação-perfusão, havendo áreas ventiladas e não perfundidas, caracterizando aumento de espaço morto. Outra característica da SARA é a hipoxemia, que nesses casos é refratária à administração de O2 suplementar e, mesmo quando utiliza FiO2 = 100%, a PaO2 do paciente não se altera. (FALCÃO, 2006) 26 Os doentes no qual a insuficiência respiratória prolonga-se por mais de duas semanas desenvolvem lesão pulmonar crônica, caracterizada microscopicamente por fibrose pulmonar difusa, obliteração da arquitetura alveolar normal e desenvolvimento de áreas de enfisema. Esta fase é denominada fase fibrótica (COIMBRA, 2001). A principal alteração da mecânica respiratória é uma importante redução da complacência pulmonar provocando um aumento do trabalho respiratório, além da taquipnéia que funciona como um fator multiplicador. Essas alterações determinam que 25 a 50% do consumo de oxigênio do organismo seja despendido no trabalho respiratório desses pacientes (KNOBEL, 2004). É preciso enfatizar ainda que, além das alterações já citadas, o comprometimento da vascularização pulmonar é um aspecto crucial na SARA, que se estende desde os estágios iniciais até as fases terminais. Essas lesões incluem alterações trombóticas, fibroproliferativas e obstrutivas que, a exemplo das lesões parenquimatosas, também se correlacionam com a fase evolutiva da lesão alveolar difusa. Na SARA, o “shunt pulmonar” é o principal mecanismo gerador de hipoxemia e suas principais causas incluem: edema alveolar, trombos na microcirculação, adesividade celular e microatelectasias. (ANTONIAZZI, 1998) 27 4. CAUSAS DA SARA Os fatores desencadeantes podem definir a SARA como primária ou secundária. A primeira advém de causas que podem lesar diretamente o epitélio das vias respiratórias. E a secundária é classificada quando a lesão ocorreu através do endotélio vascular. Ainda podem ser classificadas como pulmonares e extra-pulmonares. (ULTRA, 2008) Há muitos fatores predisponentes ligados ao desenvolvimento de SARA. Entre eles, há os que lesam diretamente o pulmão e os que levam à lesão por mecanismos indiretos, através da liberação hematogênica de mediadores inflamatórios, como Sepse grave, traumatismo importante e aspiração do conteúdo gástrico. (CHEHUEN NETO ET AL., 2007) Foram identificados múltiplos fatores de risco no desenvolvimento da SARA. A síndrome de Sepse parece ser a mais comum, mas existem fatores globais para o seu desenvolvimento, como idade avançada e fumo são associados aos fatores de risco, já o consumo de álcool não parece ter nenhuma influência. (KAHDI, 2003) Injúria indireta Injúria direta • Síndrome séptica • Aspiração • Politraumatizado • Infecção pulmonar, difusa (bacteriana, • Politransfusão viral, pneumocystis e outros) • Choque • Afogamento • Grandes queimados • Inalação tóxica • Pancreatite • Contusão pulmonar • “By-pass” cardiopulmonar • Embolia gordurosa • Intoxicação exógena • Toxicidade pelo oxigênio • Coagulação intravascular, disseminada • Excesso de fluidos 28 A probabilidade de um paciente desenvolver a síndrome aumenta a medida que um ou mais fatores de risco estão presentes. Por esta razão, é de fundamental importância identificar o paciente com o risco de desenvolver a síndrome, pois, quanto mais precocemente se intervém na causa básica, melhor será o prognóstico. (ANTONIAZZI, 1998) A Sepse juntamente com a pneumonia de desenvolvimento fora do hospital são as causas mais comuns da síndrome do desconforto respiratório agudo. Aproximadamente, um terço dos pacientes hospitalizados, que aspiram conteúdo gástrico, subseqüentemente, desenvolvem a síndrome, pois aparentemente, o pH baixo, as enzimas gástricas e as partículas de alimentos contribuem para a lesão pulmonar. A hemotransfusão de mais de quinze hemoconcentrados também é um fator de risco importante para o desenvolvimento de SARA, mesmo na ausência de trauma. O quadro também pode resultar de overdose de várias drogas, incluindo aspirina, cocaína, opióides, fenotiazídicos e antidepressivos tricíclicos. Reações idiossincrásicas também podem ocorrer com certas drogas, como quimioterápicos, nitrofurantoína e contraste radiológico. (GALHARDO, 2003) Ainda existem distúrbios que podem ser associados à síndrome do desconforto respiratório agudo. Tais como: Alterações hematológicas (coagulação intravascular disseminada, transfusão sanguínea maciça, reações de leucoaglutinação), aspiração (conteúdo gástrico, água potável ou salgada, hidrocarbonetos), choque (raro no cardiogênico ou embólico; incomum no hemorrágico puro), distúrbios metabólicos (pancreatite, uremia e diabetes mellitus parecem contribuir para outros fatores de risco), inalação de toxinas (oxigênio, fumo, substancias químicas corrosivas como NO2, CL2, NH3, fosgênio), infecção (sepse por Gram positivo ou Gram negativo, pneumonia bacteriana, viral ou fúngica), reações ou overdose de substâncias) ácido acetilsalicílico, heroína, plaquenil, propoxifeno, paraquat), sistema nervoso central (trauma, anoxia, convulsões, pressão intracraniana aumentada), trauma (embolia gordurosa, contusão pulmonar, by-pass cardiopulmonar). (CECIL, 1997) 29 5. CONSEQÜÊNCIAS DA SARA A mortalidade da SARA é alta, estimada entre 34% e 60%. Os pacientes que sobrevivem têm uma permanência prolongada na unidade de terapia intensiva (UTI) e apresentam significantes limitações funcionais, afetando principalmente a atividade muscular, que reduzem a qualidade de vida e persistem por, pelo menos, um ano após a alta hospitalar. (AMATO, 2007) Na evolução do quadro da SARA, a oxigenação tende a melhorar assim que ocorrer a resolução do edema pulmonar. Entretanto, mesmo assim, a maior parte dos pacientes permanece em ventilação mecânica pela persistência da hipoxemia, necessidade de altos volumes/minutos e baixa complacência pulmonar. Os infiltrados radiológicos, também, podem tornar-se menos densos, refletindo a resolução do edema pulmonar, enquanto as marcas intersticiais permanecem. É a fase em que pode ocorrer o desenvolvimento de enfisema intersticial e de cistos pulmonares. Fibrose pode ocorrer na fase proliferativa refletindo-se como hipertensão pulmonar e faveolamento, ao exame radiológico de tórax. (GALHARDO, 2003) 30 6. QUADRO-CLÍNICO A Síndrome da angústia respiratória aguda, no adulto, caracteriza-se por edema pulmonar resultante do aumento da permeabilidade capilar pulmonar com pressão hidrostática normal e que se caracteriza radiologicamente pela presença de infiltrado pulmonar bilateral, o que diferencia do edema pulmonar agudo de origem cardiogênica. (COIMBRA, 1998) As manifestações clínicas da doença dependem da sua etiologia, apresentam-se em geral em algumas horas ou com até dois dias de intervalo após sua desencadeante. (ANTONIAZZI, 1998) O quadro clínico inicial apresentado pelos pacientes portadores de SARA pode apresentar apenas por taquipnéia e alcalose respiratória, sem hipoxemia ou alteração radiológica. Já com a evolução do quadro para insuficiência respiratória pode ser súbita. O principal e um dos mais importantes sintomas da SARA é a dispnéia. (GAMBAROTO, 2006) Os sinais clínicos apresentados são reflexos da hipoxemia e do edema pulmonar, e incluem taquicardia, taquipnéia com batimentos das asas do nariz e cianose. Na SARA, o “shunt pulmonar” é o principal mecanismo gerador de hipoxemia e suas principais causas incluem: edema alveolar, trombos na microcirculação, adesividade celular e microatelectasias. Quando o grau de “shunt” é muito elevado, a hipoxemia é refratária à administração de oxigênio, mesmo em altas concentrações. Na ausculta pulmonar podemos observar roncos e estertores pulmonares bilaterais e difusos. Dentre as alterações funcionais mais importantes, destacam-se a diminuição da complacência pulmonar (variação de volume pulmonar/pressão), devido ao edema pulmonar, aos infiltrados inflamatórios e às atelectasias, ou fibrose, que diminuem a distensibilidade do pulmão. Já capacidade residual funcional está diminuída (é uma alteração importante na SARA) devido às atelectasias e à exsudação de líquido para dentro dos espaços alveolares. Outro distúrbio característico da síndrome é o desequilíbrio da relação ventilação/perfusão, onde existem áreas perfundidas e não ventiladas, denominadas de “shunt pulmonar”. (OLIVEIRA, 2006) 31 Os achados radiológicos variam de acordo com a fase, geralmente a radiografia de tórax mostra infiltrados pulmonares bilaterais e difusos, na maioria dos casos assimétricos, sem evidência de cardiomegalia, confirmando o edema pulmonar não cardiogênico. Inicialmente infiltrado intersticial e posteriormente infiltrado alveolar. (SCANLAN, 2000) Estudos em tomografia computadorizada de pacientes com SARA mostraram que apesar da patologia ser difusa, apresenta uma distribuição heterogênea pelo parênquima pulmonar (Figura 4). Ainda na tomografia podemos observar imagens do pulmão com áreas de colapso pulmonar (condensações), tecido pulmonar normal e regiões com alvéolo hiperdistendidos. Essas observações nos fazem pensar quanto a quantidade de volume corrente dado ao paciente durante a necessidade de ventilação mecânica uma vez que implicará o desvio preferencial desse gás para regiões mais complacentes, o que pode levar à hiperdistensão alveolar e lesão pulmonar das regiões previamente sadias. (GAMBAROTO, 2006) 32 7. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS A SARA ficou bastante conhecida, porém, não havia critérios bem estabelecidos para o seu diagnóstico. Em 1988, foi criado um escore de lesão pulmonar com a finalidade de se diagnosticar e avaliar sua gravidade, levando em conta quatro parâmetros: radiografia de tórax, hipoxemia através da relação entre a pressão parcial de oxigênio arterial e a fração inspirada de oxigênio, complacência pulmonar e valor da pressão positiva ao final da expiração (PEEP). Apenas em 1994, a American-European Consensus Conference on ARDS estabeleceu critérios diagnósticos para a SARA, definindo-a como uma “síndrome de inflamação e aumento da permeabilidade capilar pulmonar associada a uma constelação de anormalidades clínicas, radiológicas e fisiológicas não causadas por hipertensão capilar pulmonar, porém podendo coexistir com a mesma”. Nessa ocasião, também ficou definida para SARA a relação entre a pressão parcial de oxigênio arterial e a fração inspirada de oxigênio for menor ou igual a 200, com o quadro de insuficiência respiratória aguda com infiltrado bilateral na radiografia de tórax, ausência de hipertensão atrial esquerda (pressão capilar pulmonar menor ou igual a 18 mmHg) e hipoxemia (Figura 5). Existem várias definições para os critérios clínicos de SARA, ainda não aceitas uniformemente. Originalmente, a maioria dessas definições incluíam quatro critérios clínicos básicos, que podemos encontrar como Escore de Murray (Figura 3): 1) Instalação aguda, ocorre de forma súbita e rápida com grande comprometimento das trocas gasosas, sendo refratária ao us de O2; 2) Relação PaO2/FiO2 (P/F) menor que 200, o que representa uma lesão pulmonar com comprometimentos da troca gasosa e a necessidade para manter uma PaO2 adequada um uso elevado de FiO2; 3) Infiltrado pulmonar bilateral, podendo ser confundido com outras patologia como pneumonia e embolia pulmonar, porém, a SARA gera uma hipotransparência difusa no raio-x de tórax; 4) Pressão capilar pulmonar menor que 18 mmHg, esse valor nos permite realizar um diagnóstico diferencial com outras patologias, tais como, congestão pulmonar e/ou edema pulmonar cardiogênico. Considera-se SARA quando o resultado desse escore for maior que 2,5 e considera-se apenas injuria pulmonar leve à moderada quando o 33 resultado da soma for entre 0,1 a 2,5 e quando o resultado for zero não há injuria pulmonar alguma. (PRESTO, 2007) É importante salientar a diferença entre o edema agudo de pulmão de origem cardiogênica para o de origem não cardiogênica que é o caso do que ocorre na SARA, pois há grande dificuldade de diferenciação durante a avaliação inicial do paciente com insuficiência respiratória aguda (Figura 6). O edema agudo pulmonar causado por insuficiência cardíaca congestiva se dá devido às pressões hidrostáticas na vasculatura pulmonar, enquanto que o edema ocorrido na SARA é devido às respostas inflamatórias pulmonares tento as pressões hidrostáticas mantidas normais. (SCANLAN, 2000) O diagnostico de SARA tem sido feito ao longo dos anos por meio de escores, que se caracterizam por serem sensíveis, porém não específicos. Um dos grandes problemas é que não há muita especificidade desses escores quanto às causas pulmonares deixando uma margem para diagnostico falso-positivos. Para um melhor controle e conhecimento da população acometida o ideal é que seja utilizado os escores preditivos de sobrevida como o APACHE e/ou APACHE II (Figura 7), e de acordo com o último consenso Americano-Europeu sobre SARA em 1998, também ficou indicado além desses a utilização de um sistema de estratificação para a classificação da lesão pulmonar aguda, denominado de GOCA (Figura 8). 34 8. TRATAMENTOS Deve-se considerar a SARA como uma doença multissistêmica, onde o volume intravascular deve ser regulado cuidadosamente, embora a administração excessiva de líquidos claramente deva ser evitada para minimizar o edema pulmonar e melhorar a troca gasosa, a restrição severa de líquidos pode comprometer a perfusão intestinal e renal. (MARINI, 1999) O manuseio e o tratamento de pacientes com Síndrome de Angústia Respiratória Aguda (SARA) é um constante desafio para os médicos e toda equipe intensivista que atua nas unidades de terapia intensiva. Apesar dos importantes avanços tecnológicos nas últimas décadas, a mortalidade na SARA permanece elevada desde a descrição inicial da síndrome. Na abordagem terapêutica da SARA, é de fundamental importância identificar o agente etiológico, pois, com a eliminação da causa, é possível interromper a história natural da doença. É também fundamental manter um consumo adequado de O2 pelos tecidos, pois se sabe que a respiração celular depende, de um lado, do fornecimento de oxigênio aos tecidos periféricos e, de outro, da capacidade dos tecidos em extrair o O2 ofertado. (ANTONIAZZI ET AL, 1998) A monitorização não só da função pulmonar, mas também de outros órgãos vitais, como fígado, rins e aparelho circulatório, se faz importante para auxiliar na recuperação do paciente e evitar complicações. (FALCÃO, 2006) 8.1. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO 8.1.1. Corticóides O uso precoce rotineiro de corticóides não é justificado, porém, a SARA causada por uma vasculite, embolia gordurosa ou reações alérgicas diagnosticadas podem ser uma exceção à regra. Os corticóides também podem auxiliar na resolução do estagio fibroproliferativo dessa doença, mas não existe um consenso firme sobre esse ponto. (MARINI, 1999) 35 Corticóides, antiinflamatórios não-esteróides e prostaglandinas E1 são utilizados na tentativa de reduzir a lesão aguda pulmonar. Estudos clínico amplos demonstram, entretanto, que não há qualquer prova conclusiva de que esses grupos de medicamentos tenham valor benéfico no tratamento da SARA. (PIRES, 2006) FALCÃO (2006) também diz que o uso de corticóides na SARA é controverso, pois estudos demonstram que a administração precoce deste, diminui as lesões pulmonares, porém outros estudos mais recentes mostram que os corticóides não diminuem a incidência nem o tempo de recuperação da SARA. Recentemente, STEINBERG e colaboradores em estudo randomizado controlado não observaram redução de mortalidade associada ao uso de corticosteróides em pacientes com SARA. Os resultados negativos destes estudos multicêntricos colocaram novamente grandes questionamentos sobre o uso de corticosteróides em pacientes graves. (XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA INTENSIVA) 8.1.2. Suporte Nutricional O suporte nutricional é de grande importância uma vez que o estado nutricional dos pacientes com SARA pode apresentar-se muitas vezes consumido e assim faz-se necessário o suporte nutricional nas primeiras 48 a 72 horas, dando-se preferência à via enteral com o objetivo de preservar a mucosa; a via parenteral é utilizada quando há a necessidade do intestino permanecer em repouso. (FALCÃO, 2006) Para MARINI (1999), o suporte nutricional é bastante importante para todos os pacientes em ventilação mecânica ou imobilizados, para evitar a depleção nutricional do paciente. 8.1.3. Aporte Hídrico e o uso de Diuréticos Não raramente, o volume intravascular dos pacientes com SARA está reduzido por vários motivos entre eles pelo fato do paciente ter recebido diuréticos antes da suspeita de SARA, o que provoca confusão com edema pulmonar hidrostático, ou porque o inicio de ventilação com pressão positiva aumenta a pressão intratorácica e reduz o retorno venoso. Tanto a hipovolemia que pode levar à hipoperfusão tecidual e desencadear a lesão celular que se persistir pode culminar na disfunção orgânica quanto a hiper-hidratação que pode piorar a troca gasosa e a complacência pulmonar, são deletérias ao organismo. (FALCÃO, 2006) 36 8.1.4. Antibióticos São freqüentemente os casos de SARA com infecção (infecção nosocomial). Entretanto, o uso indiscriminado de antibióticos pode levar ao surgimento de cepas resistentes, de alta virulência. Deste modo, deve-se evitar a administração de drogas profilaticamente, prescrevendo-as sua utilização especifica para cada tipo de infecção caso esta surja. (PIRES, 2006) A infecção é a principal complicação na SARA deve-se a fatores como o uso prolongado de cateteres intravenosos e sondas, tubos endotraqueais e ventilação mecânica, além da queda do sistema imune do paciente devido à depleção nutricional. São usados agentes antimicrobianos para combater a infecção, além de ser fundamental a manutenção do estado nutricional do paciente. (FALCÃO, 2006) 8.1.5. Heparina É uma droga utilizada em pacientes portadores de coagulação intravascular disseminada, porém apresenta efeitos colaterais de sangramento, principalmente se administrada em pacientes politraumatizados ou recém operados. (PIRES, 2006) 8.1.6. Vasodilatadores Podem ser úteis simplesmente por provocarem diminuição na pressão microvascular pulmonar em nível capilar. Porém há como conseqüência a vasodilatação periférica diferentemente do óxido nitroso. (FALCÃO, 2006) 8.1.7. Sedação e Curarização Pacientes que se encontram em hipoxemia, geralmente ficam agitados sendo necessário a sedação, esta tem vantagens principalmente para diminuir o consumo de O2 do paciente agitado e permitir a ciclagem adequada do ventilador mecânico, além do melhor posicionamento do paciente a fim de tentar promover uma melhor oxigenação. (PIRES, 2006) Para uma ventilação mecânica eficiente destes pacientes se faz necessário uma sedação suficiente para inibir o centro respiratório e manter a adequada sincronia com o ventilador, principalmente em casos onde ocorre a ventilação com acidose hipercápnica, 37 às vezes torna-se indicada a curarização, com a paralisação dos músculos respiratórios. (GAMBAROTO, 2006) 8.1.8. Óxido Nitroso Recentemente, muita atenção tem sido dada ao papel exercido pelo óxido nítrico (NO) na SARA. Em 1987, o NO foi reconhecido como importante vasodilatador da musculatura lisa dos vasos, tendo sido denominado de “endothelium derived relaxing factor - EDRF”. O NO é sintetizado pelo endotélio vascular a partir da arginina e atua como vasodilatador local. A inalação de óxido nítrico na SARA melhora as trocas gasosas e diminui a pressão na artéria pulmonar, tendo, como resultado, um efeito benéfico sobre a hipoxemia refratária e sobre as desigualdades da relação ventilação/perfusão. (ANTONIAZZI ET AL, 1998) O óxido nitroso administrado em baixas concentrações funciona como um vasodilatador apenas pulmonar, sem qualquer vasodilatação periférica, e ainda causando uma melhora na relação ventilação perfusão. (KNOBEL, 1997) A utilização de óxido nitroso administrado por via inalatória, tem demonstrado aumento da sobrevida dos pacientes portadores de SARA. É uma técnica segura, efetiva e de fácil utilização. Associada a utilização do decúbito prono tem sido mais eficaz. (PIRES, 2006) ULTRA (2008), diz que com a experiência na utilização deste método levou à consideração dessa técnica como de resgate, observando a melhora da oxigenação, ma sendo necessário o uso das outras técnicas para manter o benefício. Os efeitos locais do óxido nitroso sobre a hipertensão pulmonar e, conseqüentemente, sobre a disfunção ventricular direita, sobre a oxigenação, a inflamação, o edema e a permeabilidade capilar o tornam atraente para ser utilizado na SARA. Rossaint et al. publicaram, em 1993, os primeiros relatos dos efeitos do óxido nitroso na SARA, demonstrando diminuição do shunt intrapulmonar e melhora da oxigenação arterial em pacientes adultos. (FIORETTO, 2003) 38 8.2. TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO 8.2.1. Suporte Ventilatório As alterações na fisiologia pulmonar e na mecânica ventilatória, levando a redução da complacência estática pulmonar e aumento do trabalho respiratório fazem com que esses pacientes necessitem de suporte ventilatório mecânico, a fim de se tentar reverter este quadro. A ventilação mecânica é crítica para a maioria dos pacientes com lesão pulmonar aguda e SARA. O suporte ventilatório está indicado principalmente de acordo com os níveis de saturação de O2 arterial. (PIRES, 2006) A administração de O2 através de ventilação mecânica nos pacientes com SARA busca fornecer uma adequada oxigenação tecidual (reduzindo a hipoxemia arterial) e eliminação do CO2, busca também reduzir o trabalho ventilatório dando suporte para recuperação pulmonar, bem como diminuir a demanda do consumo de oxigênio do organismo. (FALCÃO, 2006) Os principais efeitos deletérios que estão relacionados com a ventilação mecânica durante a SARA, são a toxidade de altas frações inspiradas de oxigênio (FiO2 elevada) e lesão pulmonar induzida pela própria ventilação mecânica. Sendo essa lesão pulmonar reduzida se utilizarmos uma estratégia ventilatória diferente da convencional, a modalidade pressão controlada vem sendo a mais utilizada, pois é a que permite maior controle do platô e pico de pressão inspiratório. (GAMBAROTO, 2006) A pressão positiva ao final da expiração (PEEP) deve ser sempre utilizada em pacientes com LPA/SARA, sendo grau de recomendação A no III consenso brasileiro de ventilação mecânica, para diminuir o potencial de lesão pulmonar associada ao uso de concentrações tóxicas de oxigênio inspirado e para evitar o colapso pulmonar ao final da expiração. Ainda de acordo com o III consenso não existem dados suficientes para determinar se a ventilação controlada por volume ou por pressão diminui a morbidade ou mortalidade na SARA, porém a recomendação é que sempre que possível utilizar o modo ventilatório controlado por pressão, para maior conforto e trabalho respiratório mínimo, buscando uma ventilação mecânica que promova a proteção pulmonar (Figura 8). Caso precisar utilizar o modo volume controlado, deve-se preferir a utilização de onda de fluxo decrescente para uma melhor distribuição do ar inspirado, gerando menor pressão na via aérea. (AMATO, 2007) 39 8.2.1.1. Objetivos da Ventilação Mecânica Um dos principais objetivos da ventilação mecânica na SARA é recrutar unidades alveolares lesadas e colapsadas tornando-as “funcionantes”, assim se combate o processo de atelectasia pulmonar. A PEEP ou ainda a geração de autoPEEP são os recursos disponíveis para o processo de recrutamento alveolar. (FALCÃO, 2006) Holt indica o recrutamento alveolar para melhorar a oxigenação de pacientes com hipoxemia refratária. Fisiologicamente, o uso do recrutamento é reiterado pelo incremento da ventilação colateral, composta pelos poros de Konh, canis de Lambert e os canais de Martin, que comunicam dois bronquíolos entre si e desta forma os alvéolos normalmente ventilados quando distendidos promovem das unidades vizinhas. Outro fator fisiológico à interdependência elástica auxilia na abertura das áreas colapsadas, relatos ainda descrevem que a manobra ainda estimula a produção de surfactante e melhora sua eficiência. (ULTRA, 2008) 8.2.2. Cuidados realizados antes e durante o recrutamento alveolar Antes de dar início ao recrutamento alveolar é importante observar-mos alguns cuidados. É de grande importância a monitorização do paciente, devemos realizar a monitorização ventilatória em especial as pressões utilizadas e a monitorização hemodinâmica, principalmente a pressão arterial (PA) e a saturação periférica de oxigênio (SaO2). (PRESTO, 2007) É importante que o paciente esteja sedado e curarizado, apresentando Ramsay 6 (Figura 9), para que ele não apresente drive respiratório e não inicie um ciclo no ventilador, a cabeceira deve ficar a 0º para minimizar as diferenças regionais de ventilação. Outro ponto crucial é o cuidado e a verificação de algum possível vazamento no circuito, a pressão do cuff deve estar entre 20 e 25 mmHg para evitar fuga aérea, o que poderia interferir e acabar atrapalhando na realização da manobra, o posicionamento do tubo orotraqueal deve estar a uma distância aproximada de 1 a 2 cm da Carina para evitar uma ventilação seletiva. (ULTRA, 2008) A higiene brônquica deve ser realizada antes do início da manobra para que a secreção traqueal não impeça a total expansão dos alvéolos. 40 8.2.3. Recrutamento Alveolar Temos como indicação o uso da manobra de recrutamento alveolar na fase inicial da SARA (< 72 horas), em atelectasias, situações de hipoventilação alveolar e após intervenções associadas com o derecrutamento, incluindo desconexões da ventilação mecânica e aspiração endotraqueal. (LAPINSKY & MEHTA, 2004) A utilização da PEEP nos pacientes com SARA é um recurso clássico e bastante utilizado na ventilação mecânica com a finalidade de impedir o colabamento dos alvéolos ao fim da expiração. Existe ainda outra forma de represamento de ar nos alvéolos, que consiste na modalidade ventilatória de pressão controlada com relação I/E invertida, o que acaba gerando autoPEEP. A utilização de volumes correntes baixos e PEEP elevada tem como finalidade diminuir a necessidade de FiO2 através da manutenção das unidades alveolares abertas permitindo a troca gasosa. (FALCÃO, 2006) Ainda é considerado contraditório na literatura quais os valores de PEEP que devem ser utilizados nos pacientes com a SARA. (AMATO, 2007) Devido às inúmeras pesquisas realizadas sobre a manobra de recrutamento alveolar e visando a obtenção de uma PEEP que realize o recrutamento dos alvéolos atelectasiados na SARA, autores como Luciano Gattiononi, Salvadore Grasso, Guillermo Bugedo, L. Puybasset, entre outros, estudaram e realizaram protocolos de recrutamento alveolar com o uso de PEEP (Figura 9). Podemos citar alguns desses protocolos como o de Bugedo (2003) que realizou seus experimentos em 5 pacientes com SARA em ventilação mecânica, a volume controlado com PEEP inicial de 10 a 14 cmH2O e em 5 pacientes ventilados a pressão controlada, com PEEP inicial de 10 cmH2O. No primeiro caso, a PEEP era reduzida a zero e a FiO2 aumentada para manter a saturação a cima de 90%. Em seguida a PEEP era aumentada em etapas de 5 cmH2O até 30-40 cmH2O. Já no segundo caso a PEEP foi alterada para 20 e depois 30 cmH2O. Com o auxílio de tomografia computadorizada ele pôde observar as alterações e ver o resultado que foi no primeiro grupo de aumento do volume pulmonar e queda significativa da saturação com PEEP em zero. No segundo grupo foi constatado um aumento do volume pulmonar, PaO2/FiO2 e pressão média na via aérea quando aumentada a PEEP de 20 para 30 cmH2O. Já no trabalho realizado por Gattiononi (2001) também se utilizando de 5 pacientes em ventilação mecânica desta vez apenas por pressão controlada e com pressão de platô entre 30 a 45 cmH2O. A PEEP foi aumentada de 5 em 5 cmH2O até 41 obter 20 cmH2O, sendo essa PEEP associada à uma pressão de platô de no máximo 3045 cmH2O. Tendo também a TC como meio de acompanhamento do recrutamento. Ele obteve como resultados um recrutamento completo ao nível 4-7 do pulmão com uma PI de 30 cmH2O e com PI de 35 cmH2O o recrutamento atingiu os níveis de 8-10 da região pulmonar. Em 1998, o estudo de um grupo brasileiro, controlado e randomizado em pacientes com SARA demonstrou que a PEEP titulada 2 cm H20 acima do ponto de inflexão da curva pressão-volume do sistema respiratório, associada ao uso de baixos volumes correntes (6 ml/kg) garantia melhor oxigenação, melhor complacência do sistema respiratório e maior sobrevida aos pacientes quando comparada à titulação da PEEP pelos níveis de frações inspiradas de oxigênio (FiO2) necessárias e pelas repercussões hemodinâmicas associadas a volumes correntes de 12 ml/kg. Em 2000, na tentativa de estudar os efeitos separados do volume corrente e da PEEP, o grupo americano ARDSnet realizou estudo clínico randomizado e controlado comparando 2 tipos de estratégia ventilatória na SARA de acordo com o volume corrente aplicado: volume corrente elevado (12 ml/kg) e volume corrente baixo (6 ml/kg), tentando manter os mesmos níveis de PEEP. Demonstraram impacto positivo na sobrevida nos pacientes ventilados com volumes correntes mais baixos. O racional desta estratégia consiste na tentativa de controlar um dos mecanismos geradores de lesão, a hiperdistensão alveolar. (SILVA, E., 2005) Em 2003, Lim e Jung realizaram um estudo randomizado com 28 pacientes na fase precoce da SARA e observaram que os benefícios da oxigenação alcançados por recrutamento foram parcialmente perdidos logo após o retorno para a PEEP utilizada inicialmente antes do recrutamento. (GAMBAROTO, 2006) GRASSO ET AL (2002), analisaram, em pacientes com SARA, o efeito de baixo PEEP (em torno de 9 cmH2O) e de alto PEEP (ao redor de 16 cmH2O), e no entanto, o segundo grupo obteve recrutamento alveolar significante e aumento na PaO2/FiO2. Já no primeiro grupo, o recrutamento foi mínimo e a oxigenação não obteve melhora. Apesar do recrutamento com PEEP de 16 cmH2O ter sido significante, pode não ter surtido efeito em todos os alvéolos, mas contribuiu para a melhora da oxigenação destes pacientes. Ainda em 2002 GRASSO, também realizou um protocolo e o método utilizado para acompanhar o recrutamento alveolar foi através de pneumotógrafo, ele utilizou 22 pacientes pré-selecionados e os ventilou a um volume de 6 ml/Kg e com o PEEP de 42 acordo com o ideal. A manobra de recrutamento foi realizada com uma PI de 40 cmH2O durante 40 segundos e um tempo inspiratório de 5 segundos. Os resultados obtidos após a manobra foram: após 20 minutos ocorreu um aumento da PaO2/FiO2, do volume pulmonar, diminuição da PA, porém todas essas variáveis retornaram ao valor basal após 20 minutos. AMATO ET AL (1998) estudaram um protocolo de recrutamento envolvendo altos valores de CPAP. Utilizando 40 cmH2O de pressão positiva continua (CPAP) por 40 segundos associado a um valor de PEEP setado em 2 cmH2O acima do ponto de inflexão da curva P-V, em pacientes com SARA, observou um aumento na relação PaO2/FiO2, complacência do sistema respiratório e aumento da sobrevida dos pacientes submetidos à manobra. Vale lembrar que devemos ter cuidado pois existem contra-indicações à realização da manobra de recrutamento alveolar, entre elas podemos citar: a instabilidade hemodinâmica, fistulas broncopleurais, pneumotórax não-drenado, DPOC, hipertensão intracraniana, derrame pleural não-drenado, fibrose pulmonar, agitação psicomotora e hemoptise. (ULTRA, 2008) 8.2.3.1. Benefícios do Recrutamento Alveolar Segundo JOHANNIGMAN E MILLER (2003), o recrutamento alveolar abre unidades alveolares que podem estar colapsadas durante a ventilação com baixo volume corrente. Após o recrutamento, observaram que a PEEP estabiliza o volume pulmonar e mantém às trocas gasosas. LAPINSKY E MEHTA (2004) citam, como benefício a prevenção da saída de líquido da microvasculatura e disfunção ventricular direita. Outros benefícios encontrados foram a diminuição da PEEP necessária, realçando a implementação da estratégia pulmonar protetora com manobras periódicas, melhora na troca gasosa, diminuição de shunt e do espaço morto, além da melhora na saturação parcial de oxigênio e restauração de volumes pulmonares. (GAMBAROTO. 2006) 43 8.2.3.1. Cálculo da PEEP Ideal Atualmente, o cálculo da PEEP ideal baseia-se na curva pressão versus volume (P x V), visando encontrar níveis mínimos de pressão que previnam o colapso expiratório de unidades instáveis, já que o deslocamento do sistema respiratório durante a ventilação necessita se opor a forças restritivas (Figura 10). O objetivo da realização da curva P-V seria calcular e monitorar a complacência estática além de determinar os valores de PEEP que ficam em torno de 2 cmH2O acima do primeiro ponto de inflexão desta curva, sendo esta a PEEP ideal (Best PEEP). (ULTRA, 2008 e SCANLAN,2000) Outra forma de calcular a PEEP ideal baseia-se no método modificado de Sutter, no qual o volume corrente é preestabelecido e mantido constante, entre 6 e 8 ml/Kg e os valores de PEEP são elevados gradativamente. O nível ideal corresponde à melhor complacência estática, quando há melhor oxigenação possível sem que haja hiperinsuflação alveolar excessiva e distúrbio hemodinâmico. (FALCÃO, 2006) Nos pacientes com SARA, níveis elevados de PEEP estão associados com a melhoria da oxigenação e redução da fração de shunt, embora a PEEP ideal deva ser determinada para cada paciente, foi demonstrado em estudos que níveis de PEEP usualmente se encontravam na faixa de 8 a 15 cmH2O, também foi observado que o volume corrente deve ser diminuído sempre que a PEEP aumentar para evitar hiperdistenção alveolar, fique em torno de 4 à 6 mL/kg e ainda como estratégia ventilatória protetora preconiza-se que o uso da pressão de platô não seja maior que 35 cmH2O, alem de uma freqüência respiratória menor que 30 ciclos/minuto. (SCANLAN, 2000) Como a grande maioria dos tratamentos, existe o lado pró e contra no uso de certas terapias e com isso algumas complicações decorrentes da utilização da manobra de recrutamento alveolar com o uso de PEEP, como por exemplo, barotrauma (podendo causar pneumotórax e pneumomediastino), volutrauma (gerando hiperdistensão alveolar), hipotensão arterial (devido a diminuição do retorno venoso causado pelo aumento da pressão torácica), arritmias cardíacas, hipoventilação causando dessaturação transitória (segundo Lapinsky e Aubin, 1999), hipoxemia e produção de citocinas inflamatórias. 44 8.2.3.2. Conceito open Lung O conceito open lung tem como finalidade proporcionar um recrutamento alveolar que evite as forças de recuo elástico de pacientes com SARA, ou seja, o objetivo de recrutar as unidades alveolares colapsadas e mantê-las abertas. Devemos utilizar a estratégia ventilatória protetora, com um PEEP 8.2.4. Secreção e Aspiração Traqueal Embora a SARA freqüentemente seja vista como um problema de lesão parenquimatosa, o edema das vias aéreas, o broncoespasmo e a retenção de secreção freqüentemente contribuem para a hipoxemia. As secreções retidas representam um problema que aumenta a resistência do tubo endotraqueal, risco de infecção, risco de barotrauma e a má distribuição da ventilação. (MARINI, 1999) Após a realização da técnica de recrutamento devemos assegurar a não desconexão do paciente ao ventilador mecânico, para que com isso não haja a perda do recrutamento já realizado. Demos ressaltar ainda o cuidado na manobra de aspiração traqueal que é um fator de derecrutamento alveolar, devendo ser tomada medidas que minimizem esse efeito, como por exemplo, a utilização de circuito fechado de aspiração como Trake Care (Figura 11). (ULTRA, 2008) 45 CONCLUSÃO A SARA é uma patologia ainda muito estudada e que inspira cuidados importantes de toda a equipe multidisciplinar tornando-a interdisciplinar principalmente nas decisões a serem tomadas em prol da melhora desse paciente. Os diversos estudos propostos pelos autores citados nos mostram o quão ainda é discutida a melhor maneira de ventilar o paciente durante as fases da SARA. Esse é um critério de grande importância para a prevenção de lesão pulmonar, sendo a ventilação mecânica protetora a mais indicada. Ainda com base nesses estudos, podemos concluir que há controvérsias em relação aos valores da PEEP e a melhor estratégia ventilatória a ser aplicada, já que o valor da PEEP, apenas para efeito protetor alveolar é diferente da PEEP para recrutamento dos alvéolos atelectasiados, ficando estabelecido para o recrutamento a faixa entre 8 e 15 cmH2O e para PEEP ideal após manobra, deve-se realizar o cálculo através da curva P-V. A fisioterapia tem papel importante principalmente na fase inicial do quadro da SARA que é onde o recrutamento alveolar se mostra mais eficaz, bem como na prevenção de outras complicações que possam surgir e/ou estarem associadas a essa patologia. 46 REFERÊNCIAS 1) ADER, J. L.; CARRÉ, F.; KUBIS, N.; et al; Fisiologia; Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, RJ, 2006 2) AIRES; M. de M.; Fisiologia; 2ª Ed, Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, RJ, 1999. 3) AMATO, M.B.P.; BARBAS, C.S.V.; MEDEIROS, D.M & Colaboradores; Effect of a Protective Strategy on Mortality in Acute Respiratory Distress Syndrome. N Engl J Med, vol. 338, pp. 347 – 354, 1998. 4) ANTONIAZZI, P.; JÚNIOR, G. A. P.; MARSON, F.; ABEID, M.; Síndrome da angústia respiratória aguda (sara); Medicina, Ribeirão Preto, Simpósio: MEDICINA INTENSIVA: II. TÓPICOS SELECIONADOS 31: 493-506, Out./Dez. 1998 5) ARTIGAS, A.; BERNARD, G. R;. 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Figura 3 – Escore de Murray 52 Figura 4 – Ilustrando a diferença entre fase inicial e tardia da SARA em Raio-x e TC Figura 5 – Critérios para diagnóstico de LPA e SARA Figura 6 – Mostrando raio-x que diferencia ICC de SARA 53 a) ESCORE FISIOLÓGICO AGUDO Variáveis fisiológicas +4 +3 > 41 39-40,9 Pressão arterial média mmHg >160 139-159 110-129 70-109 Frequência cardíaca bpm > 180 140-179 110-139 70-109 55-69 Frequência respiratória irpm (ventilados ou não) > 50 35-49 25-34 10-11 6-9 >500 350-499 200-349 pH Arterial > 7,7 7,6-7,69 Sódio sérico (mEq/L) > 180 160-179 >7 6-6,9 Creatinina sérica (mg/dL) dobrar pontos se IRA > 3,5 2-3,4 Hematócrito (%) > 60 50-50,9 Número de leucócitos > 40 20-39,9 Temperatura retal (C) +2 +1 0 +1 +2 +3 +4 38,5-38,9 36-38,4 34-35,9 32-33,9 30-31,9 < 29,9 12-24 50-69 < 40 40-54 < 39 <5 Oxigenação A-aDO2 a) FiO2 > 0,5 A-aDO2 < 200 b) FiO2< 0,5 PaO2 Potássio sérico (mEq/L) >70 155-159 7,5-7,59 7,33-7,49 150-154 130-149 5,5-5,9 3,5-5,4 1,5-1,9 61-70 3-3,4 55-60 < 55 7,25-7,32 7,15-7,24 < 7,15 120-129 111-119 < 110 2,5-2,9 < 2,5 0,6-1,4 < 0,6 46-49,9 30-45,9 20-29,9 < 20 15-19,9 3-14,9 1-2,9 <1 32-40,9 22-31,9 18-21,9 Escala de Glasgow para o coma Escore = (15-escore atual) Total do escore fisiológico agudo Bicarbonato sérico (mEq/L) (usar se não coletar gasometria) > 52 41-51,9 15-17,9 < 15 b) PONTOS PARA A IDADE Pontos idade (anos) 0 2 3 5 6 < 44 45-54 55-64 65-74 > 75 C) PONTOS PARA DOENÇA CRÔNICA Se o paciente tem uma história de insuficiência grave de órgãos ou é imunocomprometido; assinale pontos como se segue: a) Para pacientes não-cirúrgicos ou pós-operatórios de emergência: 5 pontos b) Para pacientes de pós-orperatórios eletivos: 2 pontos Definições: a insuficiência de órgão ou o estado de imunodepressão deve ser evidente antes da admissão hospitalar e deve obedecer o seguinte critério: Fígado: Cirrose comprovada por biópsia, hipertensão portal documentada; episódios passados de hemorragia gastrintestinal atribuídos à hipertensão portal; episódios anteriores de insuficiência hepatíca, encefalopatia ou coma Cardiovascular: New York Association classe IV Respiratória: Doença crônica restritiva, obstrutiva ou vascular resultando em grave restrição ao exercício, isto é, incapaz de subir escadas ou fazer serviços domésticos; hipóxia crônica documentada, hipercapnia, policitemia secundária, hipertensão pulmonar grave (> 40 mmHg); dependência de prótese ventilatória Renal: Recebendo diálise cronicamente Imunocomprometido: Paciente tem reebido terapia que suprime a resistência à infecção, isto é, imunossupressores, quimioterapia, radioterapia, corticóides cronicamente ou recente em altas doses; doença que é suficientemente avançada para suprimir a resistência à infecção, isto é, leucemia, linfoma, AIDS ESCORE APACHE II = A + B + C Figura 7 – APACHE II 54 Figura 8 – Sistema de estratificação para lesão pulmonar aguda (GOCA) Figura 9 – Avaliação da sedação (escala de Ramsay) Figura 10 – Demonstra a comparação entre ventilação mecânica comum e ventilação mecânica protetora. 55 Figura 11 – Tabela com informações dos protocolos de recrutamento alveolar de diversos autores. 56 Figura 12 – Esquema teórico das quatro fases inspiratórias e expiratórias da curva P-V Figura 13 – Sonda para aspiração em circuito fechado (Trake care). Figura 14 - Raios-X apresentando SARA por pancreatite 57 Sem recrutamento Com recrutamento Figura 15 – Tomografia computadorizada demonstrando um pulmão sem recrutamento e com recrutamento alveolar PEEP 0 PEEP 5 PEEP 10 PEEP 20 Figura 16 – Cortes tomográficos representando o estudo realizado por GATTIONONI com PEEP de 0, 5, 10 e 20. Podemos observar como houve melhora significativa com a utilização de PEEP para o recrutamento.