CULTIVO E ANTIBIOGRAMA BACTERIANO DE AMOSTRAS DE URINAS DE CÃES CULTURE OF URINE AND ANTIBIOGRAM IN DOGS Ricardo Lima Salomão1; Lucas Alécio Gomes2; Alexandre Martini de Brum3; Giorgio Queiroz Pereira4 Resumo: O presente trabalho tem por objetivo identificar quais os microorganismos responsáveis por infecção de trato urinário (ITU) em cães e o perfil de resistência aos antimicrobianos. Foram coletadas 80 amostras de urina que apresentaram resultados positivos de animais com ou sem suspeita clínica de ITU. Foi observado que as fêmeas apresentam maior número de infecções em relação aos machos. As amostras foram identificadas e submetidas a antibiograma, sendo 52,32% das infecções presentes causadas por Escherichia coli, 17,44% Proteus mirabilis, 23,25% Staphylococcus spp., e 6,97% para Klebsiella sp. Os grupos de antibióticos que apresentaram melhores resultados de sensibilidade foram as quinolonas, os aminoglicosídeos e as cefalosporinas de terceira geração. Palavras-chave: cães; antibiótico; cistite; urocultura. Summary: This paperaims to identifythe microorganisms responsible for urinary tract infection (UTI) in dogs and the profileof antimicrobial resistance. Were collected 80 urine samples that showed positive results in animals withor without clinical suspicion of UTI. It was observed that females have a higher number of infections when compared to males. The samples were identified and subjected to sensitivity, being 52.32% of these infections caused by Escherichiacoli, Proteusmirabilis 17.44%, 23.25% Staphylococcusspp., and 6.97% for Klebsiellasp. The groups of antibiotics that showed the best sensitivity results were quinolones, aminoglycosides and third-generation cephalosporins. Keywords: dogs, antibiotics, cystitis, urine culture. Infecções bacterianas do trato urinário (ITU) são relativamente comuns em cães. Estimativas apontam que 14% dos cães desenvolvem a infecção do trato urinário durante a sua vida segundo Spinola e Carvalho (2007) e cerca de 10% dos animais atendidos por médicos veterinários apresenta a infecção além da queixa principal (PAPPALARDO et al, 2007). As ITUs se apresentam na forma aguda ou crônica e podem se localizar nos rins, bexiga urinária, próstata ou mais de um órgão (BARSANTI e JOHNSON, 1990). A urocultura é indicada para que se possa identificar o agente causador e, posteriormente, realizar o antibiograma permitindo o tratamento correto. O tratamento das ITUs varia conforme sua classificação. Nos casos não complicados, a antibioticoterapia é suficiente para a resolução do quadro. A escolha do antibiótico deve ser realizada conforme o resultado do teste de sensibilidade do agente (POLZIN, 1997).Material e método: foram utilizadas amostras de urina de 80 cães, sendo 50 fêmeas (62,5%) e 30 machos (37,5%) com urocultura positiva, oriundos de dois Hospitais Escolas Veterinários. Foram incluídos animais com ou sem suspeita de infecção do trato urinário. Estes foram divididos em quatro grupos de acordo com o resultado obtido (agente) por meio de cultivo de urina. São descritos a seguir: Grupo 1 - pacientes positivos para Staphylococcusspp.; Grupo 2 - pacientes com urocultura positiva para Proteusmirabilis; Grupo 3 - cães portadores de cistite bacteriana por Escherichia coli; Grupo 4, animais com infecção urinária por Klebsiella spp.O exame físico-químico da urina. Para a sedimentoscopia, após centrifugação o material foi analisado a _______________________ 1 .Aluno de Mestrado em Ciência Animal, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande – MS; . Prof. Dr. Clínica e Terapêutica de Pequenos Animais – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Campo Grande – MS; 3 . Professor Titular Universidade de Franca, Franca – SP; 4 . Médico Veterinário Autônomo – Clínica Saúde Animal, Balneário Camboriú – SC. 2 fresco empregando-se objetiva seca com aumento de 10 a 40x em microscópio óptico. As urinas foram semeadas eapós 24 horas em estufa à 37oC, foi realizada identificação e quantificação das colônias. As bactérias foram classificadas como gram-negativas ou positivas, conforme a coloração de Gram, após visualização em microscopia óptica com aumento de 100 X. Dependendo de sua classificação, foram submetidas a provas bioquímicas que incluem: Tríplice Açúcar Ferro (TSI), Trifeniltetrazolio, Citrato de Simmons, Indol, Fenilalanina, Uréia, Catalase, Coagulase, Bile Esculina e NaCl 6,5%. Após a identificação, as bactérias foram enriquecidas em caldo Triptona Soja e semeadas com swabs em placas com meio agar Mueller-Hinton para a realização de teste de sensibilidade a antimicrobianos com disco para antibiograma, pelo método de Kirby-Bauer, utilizando os antibióticos descritos na tabela 2. Resultados: das 80 amostras positivas, 74 (92,5%) apresentaram um único agente (puras) e 6 (7,5%) apresentaram mais de um agente (infecção mista), perfazendo total de 86 culturas. Em relação ao sexo, 30 amostras (37,5%) foram provenientes de cães machos e 50 (62,5%) foram de fêmeas, sendo que, destas 45 (52,32%) foram positvas para Escherichia coli, 15 (17,44%) para Proteusmirabilis, 20 (23,25%) para Staphylococcusspp e 6 (6,97%) para Klebsiella sp. A idade média dos animais foi de 8,29 anos. Apenas 10 (12,5%) dos animais eram gonadectomizados. As bactérias E. coli e o Staphylococcus sp. foram responsáveis por 33,3% das infecções (cada um dos agentes) nos machos, enquanto que Proteuse Klebsiella corresponderam a 16,6% (cada um dos agentes) das infecções. Nas fêmeas, E. colifoi responsável por 63,63% das causas de infecção. Staphylococcussp e Proteus corresponderam a 18,18% (cada um dos agentes) e a Klebsiellaa 1,81% das ITUs (tabela 1.)Ao se analisar o conjunto de bactérias quanto à sensibilidade aos antimicrobianos testados, observou-se que tanto a amicacina quanto a cefotaxina apresentaram percentuais iguais, se identificando sensibilidade em 100% dos casos. As bactérias estudadas apresentaram 100% de resistência à cefoxitina, eritromicina, metronidazol, oxacilina, rifampicina e bacitracina. Considerando-se os demais fármacos, houve diferença entre as amostras resistentes e sensíveis.Os maiores números de amostras sensíveis foram obtidos com a ampicilina sódica (92%), ceftriaxona (92,85%), enrofloxacina (85,45%), nitrofurantoína (91,37%), sulfazotrim (75%), kanamicina (64,91%), tetraciclina (59,47%), gentamicina (69,84%), ciprofloxacina (68,25%), cloranfenicol (59,64%), norfloxacina (57,5%) e neomicina (55,55%).As E.coli isoladas apresentaram altos índices de resistência para os seguintes antimicrobianos: clindamicina, bacitracina, eritromicina, cefalotina e metronidazol (100%), doxiciclina (83,33%), cefalexina (47,05%). Quanto ao ácido nalidíxico e norfloxacina, houve 50% das amostras com bactérias resistêntes. Os antibióticos que apresentaram maior eficiência foram amicacina, nitrofurantoína, tetraciclina e ampicilina sódica (100%), enrofloxacina (84,61%), ceftriaxona (84,61%), sulfazotrim (75%), sulfonamidas (60,60%) e gentamicina (62,5%), ciprofloxacina (60,60%), cloranfenicol (57,14%). Já a kanamicina apresentou 50% de sensibilidade e (50%) intermediário (Tabela 3).Os maiores números de amostras resistentes foram obtidos com os seguintes antimicrobianos respectivamente: ácido nalidíxico (66,66%), cefalotina (65,38%),clindamicina (77,19%), doxiciclina (60,86%), sulfonamidas (55,38%), penicilina G (50%) resistentes e sensíveis nos examesProteusmirabilis apresentou resistência de 100% para ácido nalidíxico, bacitracina, clindamicina, doxiciclina, tetraciclina e cloranfenicol,Sulfonamida e nitrofurantoína apresentaram-se resistentes em 64,28% das amostras, já a cefalexina foi resistente em 33,33% dos casos de cistite por Proteusmirabilis. Os medicamentos que apresentaram maior sensibilidade foram amicacina, ampicilina sódica, cefalotina, cefotaxina, ceftriaxona, neomicina e kanamicina, todos apresentando 100% de sensibilidade. A enrofloxacina e gentamicina apresentaram-se sensíveis em 66,66% das amostras de Proteusmirabilis. A ciprofloxacina e norfloxacina apresentaram 50% de sensibilidade e 50 % de espectro de ação intermediário e os antibióticos nitrofurantoína e 2 sulfonamidas não apresentaram bons resultados, com apenas 33,33% das amostras sensíveis.Todas as amostras de Staphylococcusspp apresentaram-se sensíveis à ampicilina sódica, ceftriaxona, ciprofloxacina, cloranfenicol, enrofloxacina, doxiciclina, gentamicina, neomicina, nitrofurantoína, penicilina G, norfloxacina e kanamicina. Já a cefalexina e a clindamicina apresentaram 66,66% de sensibilidade e 33,33% de resistência. Os seguintes antimicrobianos apresentaram-se resistentes em todas as amostras de Staphylococcusspp: ácido nalidíxico, bacitracina, cefoxitana, eritromicina, oxacilina, sulfonamidas, tetraciclina e rifampicina. Houve apenas um exame positivo paraKlebsiellasp, que apresentou o seguinte resultado: resistência para ampicilina sódica e sulfonamida, ação intermediária para cefalotina e sensibilidade para ácido nalidíxico, amicacina, cefalexina, cloranfenicol, enrofloxacina, doxiciclina, neomicina e nitrofurantoína. Discussão e conclusões: em relação aos resultados verificou-se que a ITU foi mais freqüente em fêmeas, com idade média de 8,3 anos. Entre os animais acometidos, 72,5% apresentavam idade superior a seis anos e apenas 2,5%, idade inferior a dois anos. Estes achados estão de acordo com Kivistöet al. (1977), que consideram as cadelas adultas a idosas mais acometidas por ITUs. Ao contrário do esperado, apenas 12,5% dos animais eram gonadectomizados. Observou-se também que é de extrema importância para o tratamento correto de ITUs a utilização de urocultura e antibiograma. Apesar da E.coli ser a principal bactéria isolada a partir de amostras de urina, esta apresenta grande variedade de cepas com sensibilidades a antimicrobianos diferentes. Cabe ressaltar que, apesar do número pequeno de machos acometidos, não se obteve incidência marcante de um patógeno, sendo que tanto para Staphylococcusspp como para E. coli as incidências foram iguais. Fêmeas adultas e idosas foram mais acometidas e a castração não pareceu exercer efeito sobre a ocorrência de ITUs nos animais avaliados e nos achos, o Staphylococcusspp e E. coli apresentaram incidências iguais. As quinolonas de segunda geração, os aminoglicosídeos e as cefalosporinas de terceira geração apresentaram os melhores espectros de ação contra as principais bactérias causadoras de infecção de trato urinário nos cães avaliados, entretanto, as tetraciclinas, sulfas e cefalosporinas de primeira geração não apresentaram resposta in vitro satisfatória. Já anitrofurantoína apresentou alta eficácia nas amostras testadas, principalmente em relação a infecções por E. coli. Referências: BARSANTI, J. A., JOHNSON, C. A. Genitourinary Infections. In: GREENE, C. E. Infectious Diseases of the Dog and Cat. Philadelphia: W. B. Saunders, cap.15, p. 157-183, 1990. KIVISTÖ, A. K., VASENIUS, H, SANDHOLM, M. Canine Bacteriuria. JournalofSmall Animal Practice, v. 18, p. 707-712, 1977.PAPPALARDO, M. C. F., CAMARGO, P.L, FREITAS. J. C.& PEREIRA. G. Q.; Estudo retrospectivo de 193 uroculturas e antibiograma de cães e gatos; Acta ScientiaeVeterinarie. 35 (supl2): s596-s598, 2007. POLZIN, D. J. Tratamiento de lãs infecciones bacterianas difícilesdeltracto urinário. Waltham Focus, v. 7, n. 1, p. 13-19, 1997. SPINOLA, T. R., CARVALHO, V. M. Sensibilidade aos antimicrobianos de amostras bacterianas isoladas de infecções urinárias de cães e gatos. Waltham News. 2007, Disponível em: <HTTP:// www.pedigree.com.br/img/pdf>. Acesso em 10 abr.2008. 3