Influência de posições das cápsulas na planta sobre a qualidade

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Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.15, n.4, p.431-439, 2013
ISSN 1517-8595
431
INFLUÊNCIA DE POSIÇÕES DAS CÁPSULAS NA PLANTA SOBRE A QUALIDADE DAS
SEMENTES DE GERGELIM
Vicente de Paula Queiroga1, Rosa Maria Mendes Freire1, Paulo de Tarso Firmino1, Daise Ribeiro
Farias Marinho2, Ayicé Chaves Silva2, Willams Teles Barbosa3, Diego Antonio Nóbrega
Queiroga3
RESUMO
A operação de colheita é considerada uma das mais importantes na produção de sementes de
gergelim, devido à qualidade do produto depender do modo e do momento em que é realizada.
Este trabalho teve como objetivo avaliar a influência de três posições das cápsulas na planta
sobre a qualidade de sementes do gergelim, cultivar BRS Seda, produzidas na Estação
Experimental da Embrapa Algodão de Patos, PB, safra agrícola de 2011. O presente estudo
envolveu as sementes colhidas de três posições das cápsulas na planta: a) terço inferior; b) terço
médio; e c) terço superior. Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado com quatro
repetições. Os testes de laboratório estudados foram: germinação, vigor (primeira contagem de
germinação, comprimento de plântula e condutividade elétrica), pureza física, teor de água, teor
de óleo, proteína, cinza, fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca) e enxofre (S). Com base nos
resultados obtidos, as seguintes conclusões foram estabelecidas: 1) Dependendo da colheita do
gergelim, quando realizada em total ausência de chuvas, apenas alguns componentes
fisiológicos, químicos e minerais das sementes sofreram alterações significativas, mesmo diante
da influência das sementes provenientes de diferentes posições de cápsulas na planta; e 2) Em
geral, há uma tendência para as sementes da parte superior da planta apresentar qualidade
inferior aos demais tratamentos estudados.
Palavras-chave: Sesamum indicum, colheita, qualidade fisiológica, composição química
THE INFLUENCE OF THE PLANTS CAPSULES POSITION ON THE QUALITY OF
SESAME SEEDS
ABSTRACT
The harvesting operation is considered the most important in the production of sesame seeds,
due to product quality depending on the mode and time is performed. This work aimed to
evaluate the influence of three positions of the capsules on the plant on the quality of the sesame
seeds, cultivar BRS Seda, produced at the Experimental Station of Embrapa Algodão, Patos,
PB, and agricultural harvest of 2011. This study involved the seeds collected from three
positions of the capsules on the plant: a) the lower third; b) the middle third, and c) the upper
third. We used a completely randomized design with four replications. Laboratory tests were:
germination, vigor (first count of germination, seedling length and electrical conductivity),
physical purity, moisture content, oil content, protein, ash, phosphorus (P), potassium (K),
calcium (Ca) and sulfur (S). Based on these results, the following conclusions were established:
1) Depending on the harvest of sesame, when performed in a total absence of rain, only a few
physiological components, chemicals and minerals of the seeds have undergone significant
changes, despite the influence of seed from capsules of different positions in the plant, and 2)
generally, there is a tendency for the seeds of the upper canopy to be lower quality than other
treatments studied.
Keywords: Sesamum indicum, seeds, harvest, physiological quality, chemical composition
Protocolo 14-2012-90 de 02/11/2012
1
Pesquisadores da Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz, no 1143, CEP 58.428-095 Campina Grande, PB. E-mail:
[email protected], [email protected], [email protected]
2
Analistas da Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz, no 1143, CEP 58.428-095 Campina Grande, PB. [email protected],
[email protected]
3
Estagiários da Embrapa Algodão de Campina Grande, PB. [email protected], [email protected]
432
Influência de posições das cápsulas na planta sobre a qualidade das sementes de gergelim
INTRODUÇÃO
Como existe uma demanda real por
produtos orgânicos na Europa, a Embrapa
Algodão passou a incentivar, ainda em pequena
escala, o cultivo do gergelim orgânico em
comunidades organizadas dos estados do Piauí
(principal produtor com mais de 50 ton.),
Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
Além da importância sócio-econômica dessa
cultura, a qual gera emprego e renda no meio
rural, o plantio desta oleaginosa é tradicional no
semiárido brasileiro por ser de fácil cultivo e
bem adaptada ao clima da região (Queiroga et
al., 2011ab).
Dentre as operações desenvolvidas com
esta cultura, a colheita é uma operação de
grande relevância, visto que a qualidade do
produto depende, em grande parte, da forma
cuidadosa (sem areia) e do momento exato do
corte manual das plantas. Esse momento exato
do corte das plantas de gergelim é definido
pelas plantas de gergelim colhidas mais tarde,
quando os frutos da base das hastes começam a
abrir-se, produzem sementes em maior número
e de maior tamanho (Beltrão; Vieira, 2001;
Lago et al., 2001; Queiroga et al., 2009; 2010).
Este é o momento exato da colheita, pois daí
em diante a deiscência dos frutos progride
rapidamente, chegando àqueles localizados no
topo da planta.
De modo geral, a batedura dos feixes
ocorre aos 8, 15 e 22 dias após o corte das
plantas de gergelim nas diferentes comunidades
do Piauí. A terceira batedura destina-se a coleta
das sementes do ápice das plantas. Devido a sua
baixa qualidade (sementes imaturas e palhas),
recomenda-se separá-las das demais sementes,
obtidas da primeira e da segunda batedura,
razão da determinação do ponto de colheita do
gergelim ser dificultada pela grande
desuniformidade de maturação dos frutos
descentes (Mazzani, 1983).
Por ser a cultivar BRS Seda super
precoce, supostamente a qualidade das
sementes da parte apical da planta pode ser
prejudicada por estas ainda não teriam atingido
a maturidade fisiológica que se caracteriza
como o período em que a semente para de
receber nutrientes da planta (sementes imaturas)
(Queiroga et al., 2007; 2008; 2009; 2010,
2011ab). Portanto esta situação mostra cada
vez mais a necessidade de se realizar estudos
sobre a colheita e as condições de
Queiroga et al.
beneficiamento, visando elevar a qualidade do
gergelim.
Por outro lado, existe o paradoxo
admitido por Mazzani (1999), de que a perda de
até 10% de sementes durante os processos de
corte, secagem dos feixes, batedura dos feixes,
peneiração e ventilação de sementes é
considerado, na cultura do gergelim, que tal
colheita foi realizada com eficiência.
Costumeiramente, o produtor tenta prevenir a
caída das sementes (deiscência dos frutos), mas,
ao antecipar a colheita, aumenta a produção de
sementes imaturas com menor teor de óleo, que
influencia no rendimento da cultura (perdas
invisíveis) (Queiroga et al.; 2009). Como
exemplo, no ano agrícola 88/89, a antecipação e
o retardamento do corte das plantas em apenas
cinco dias em relação à faixa ótima (100-105
dias) causaram perdas de produção na ordem de
33,2% e 24,6%, respectivamente (Lago et al.,
1994).
Segundo Weiss (1983), as sementes de
gergelim perdem rapidamente a qualidade
quando manipuladas e armazenadas sem os
devidos cuidados. Colheita fora de época (o
ideal é planejar essa colheita na ausência de
chuvas), danos mecânicos na batedura, secagem
inadequada (alta umidade) e temperatura de
armazenamento, parecem ser os principais
fatores que afetam as qualidades alimentícias
das sementes armazenadas (Culbertson et al.
(1961); Franco (1970); Justice; Bass (1978).
Qualquer que seja o método de secagem, o mais
importante é não alterar as qualidades das
sementes, tais como sua integridade física
(elevada pureza), sabor e características
químicas (Queiroga; Silva., 2008).
O presente trabalho teve como objetivo
avaliar as diversas posições das cápsulas na
planta, com a finalidade de estudar suas
influências sobre a qualidade das sementes.
MATERIAL E MÉTODOS
As pesquisas foram conduzidas nos
Laboratórios de Análise de Sementes e de
Química de Campina Grande-PB e na Estação
Experimental de Patos, PB (colheita e
beneficiamento), pertencentes a Embrapa
Algodão. Apenas foram utilizadas sementes da
cultivar BRS Seda, safra agrícola de 2011.
As sementes de gergelim (Sesamum
indicum L.) foram provenientes do campo de ½
hectare de produção de sementes da cultivar
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Influência de posições das cápsulas na planta sobre a qualidade das sementes de gergelim
BRS Seda, instalado na Estação Experimental
da Embrapa Algodão em Patos, PB, o qual foi
plantado no inicio de março de 2011 em regime
de sequeiro no espaçamento de 90 cm entre
fileiras, deixando 12 plantas por metro linear.
Durante a condução do campo, o controle das
plantas invasoras foi realizado aos 15 dias após
emergência das plântulas, com apenas uma
capina manual, em razão de ser o gergelim uma
planta alelopática. Com relação ao controle de
pragas, não foi detectado nenhum problema
Queiroga et al.
433
fitossanitário na área cultivada dessa
oleaginosa. Em resposta a regularidade e
distribuição de chuvas durante o ciclo da
cultura (90 dias), a sua produtividade alcançada
de 842 kg/ha de sementes de gergelim foi
altamente satisfatório para as condições de
sequeiro da microrregião do seridó paraibano.
As precipitações pluviométricas mensais
observadas de janeiro/2011 a julho/2011 na
região de Patos, PB estão expostas na Figura 1.
Precipitação Pluviométrica de Patos, PB (2011)
225
200
175
150
125
100
75
50
25
0
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Figura 1. Precipitação pluviométrica ocorrida na região de Patos, PB no período compreendido entre
janeiro a julho de 2011.
Fonte: Dados obtidos na Estação Meteorológica do Campo Experimental de Patos, PB, pertencente a Embrapa Algodão.
O corte da base das plantas de gergelim
foi realizado com facão afiado na altura da
inserção dos primeiros frutos (30 cm de altura
do solo). As cápsulas da base, na cultivar
deiscente BRS Seda, abrem-se mais cedo, o que
indica o momento exato para se iniciar a
colheita (corte no início de junho). Por ocasião
dessa colheita, efetuaram-se numa pequena
parcela do campo de gergelim de ½ ha as
seguintes etapas: cortar as plantas e agrupá-las
em feixes, com 30 cm de diâmetro para cada
feixe, amarrá-los com barbantes e, finalmente,
fazer a disposição dos mesmos nas cercas de
arame para secagem. Para atingir o rigoroso
padrão de qualidade exigido pelo mercado
(pureza de 99,96 %), durante o processo de
batedura dos feixes de gergelim, as
extremidades da lona encerada de polietileno
foram amarradas em vários piquetes de 1 metro
de altura, evitando assim a contaminação das
sementes com areia. Uma vez executada a
operação de batedura nos feixes com auxílio de
um pequeno porrete, as sementes foram
submetidas aos processos de limpeza, através
de uma peneira circular, e de ventilação. Em
seguida, as sementes foram ensacadas em saco
de
papel
multifoliado-valvulado
com
capacidade de 25 kg.
Este trabalho envolveu as sementes
colhidas de três posições das cápsulas na planta:
a) terço inferior; b) terço médio; e c) terço
superior. Ou seja, com auxilio de uma tesoura
de poda, as hastes frutíferas de cada planta de
gergelim eram cortadas em três terços iguais,
conforme sua posição na planta. Esta
subdivisão da haste foi realizada logo após o
corte da planta na parte basal. Em seguida,
essas cápsulas nas hastes de cada posição foram
submetidas separadamente ao processo de
secagem ao sol. Uma vez completada a
secagem dos frutos, as sementes de cada
tratamento foram submetidas aos distintos
processos de peneiração e ventilação. Essa
quantidade de sementes por cada tratamento foi
de 1 kg.
Para cada posição de cápsulas na planta
(tratamento), foram realizados os seguintes
testes de laboratório: germinação, testes de
vigor (primeira contagem de germinação,
comprimento de plântula e condutividade
elétrica), análise de pureza, teor de água, teor de
óleo, teor de proteína, cinza e composição
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Influência de posições das cápsulas na planta sobre a qualidade das sementes de gergelim
mineral (P, K, Ca e S). Estes testes foram
efetuados nos Laboratórios de Sementes e de
Química da Embrapa Algodão de Campina
Grande-PB, para realização dos seguintes
procedimentos:
Germinação
O teste de germinação foi realizado de
acordo com as Regras para Análise de Sementes
(BRASIL, 2009). Utilizou-se 200 sementes em
quatro repetições de 50 sementes, semeadas em
substrato de filtro umedecidos com água
destilada, na proporção de 3 vezes o peso do
papel seco, organizado cada repetição em caixa
de gerbox. A incubação foi conduzida no
germinador a 25 ºC. Duas contagens foram
realizadas: a primeira, no terceiro dia após a
colocação das sementes no germinador, e a
segunda no sexto dia.
Primeira contagem de germinação
Este vigor obtido pelo teste de primeira
contagem de germinação (%) obedeceu o
mesmo critério do teste padrão de germinação
descrito
no
item
anterior,
conforme
recomendação de Vieira e Carvalho (1994). Os
resultados obtidos foram expressos em
porcentagem.
Comprimento de plântulas
Queiroga et al.
Teor de água
O teor de água das sementes foi
determinado pelo método de estufa a 105 ºC,
por 24 horas, segundo as Regras para Análise
de Sementes (BRASIL, 2009). O teor de água
foi calculado pela fórmula:
Mf  Mi
100  TAi
100  TAf
em que:
Mf – massa final da amostra, g
Mi – massa inicial da amostra, g
TAi – teor de água inicial das sementes (% b.u);
TAf – teor de água desejado das sementes (% b.u).
Óleo
A determinação do óleo foi feita com a
extração em solvente, obedecendo aos seguintes
roteiros: Inicialmente, foi preparado o material,
colocando-se os balões de vidro na estufa, por
uma hora, e meia hora no dessecador, para a
obtenção da tara; depois, pesou-se 2 g da
amostra, transferindo-as para os cartuchos
próprios de extração, e em cada balão foi
adicionado 50 mL de hexano, os quais foram
acoplados nos extratores (RANDALL, 1974).
Proteína
Este teste de vigor foi realizado de
acordo com as Regras para Análise de Sementes
(BRASIL, 2009). Utilizou-se 40 sementes em
quatro repetições de 10 sementes, semeadas em
substrato de papel germitest umedecidos com
água destilada, na proporção de 3 vezes o peso
do papel seco, organizados em forma de rolos e
mantidos em recipientes plásticos, na posição
de 450 em relação a vertical. Apenas as
plântulas normais foram medidas no quarto dia
após a colocação das sementes no germinador.
A determinação do teor de proteína foi
obtida multiplicando-se o nitrogênio total pelo
fator 6,25, segundo a metodologia descrita por
Le Poidevin e Robinson (1964). O nitrogênio
foi determinado pelo método MicroKjeldahl.
Cinzas
As determinações das cinzas das
sementes inteiras de gergelim foram efetuadas
de acordo com o método descrito pela
American Oil Chemists Society (1974).
Condutividade elétrica
Composição mineral (P, K, Ca e S)
Para a avaliação da condutividade
elétrica, foi empregado o método de massa
(AOSA,
1983),
utilizando-se
quatro
subamostras de 10 g de sementes previamente
pesadas, imersas em 70 mL de água deionizada,
permanecendo em incubadora BOD, a 25°C por
24 horas. Após este período, realizou-se leitura
da condutividade elétrica no equipamento
condutivímetro, sendo os resultados expressos
em µS.cm-1.g-1 de semente.
As determinações do fósforo, potássio,
cálcio e enxofre foram efetuados de
conformidade com o método indicado pela
Association of Official Analytical Chemists
(1980).
O delineamento utilizado foi o
inteiramente casualizado com dois tratamentos
(duas colheitas parceladas) na primeira etapa e,
na segunda etapa, com três tratamentos (três
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Influência de posições das cápsulas na planta sobre a qualidade das sementes de gergelim
posições de cápsulas na planta) e quatro
repetições. Os dados obtidos foram tabulados
em fichas próprias, digitados e analisados pelo
software SAS/STAT (2000) e, as médias
comparadas pelo teste de Tukey a 1% e 5% de
probabilidade (SANTOS et al. 2003).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Qualidade fisiológica
Na Tabela 1, encontram-se os resultados
das análises de variância e os coeficientes de
variação correspondentes aos testes de
Queiroga et al.
435
germinação, vigor (primeira contagem de
germinação, comprimento de plântula e
condutividade elétrica) e análise de pureza, em
função de três posições das cápsulas na planta
de gergelim. Todas estas variáveis foram não
significativas, exceto a variável condutividade
elétrica que acusou significância ao nível de
1%. Houve precisão na condução dos testes de
laboratório, pois o maior coeficiente de
variação dado pela variável percentagem de
germinação ficou abaixo de 8,87%, sem
considerar o elevado cv de 19,75% obtido pelo
comprimento de plântula.
Tabela 1. Análise de variância (quadrados médios) e coeficiente de variação (cv) correspondente a
qualidade fisiológica de sementes de gergelim em função de três posições das cápsulas na planta.
Campina Grande, PB, 2011.
QUADRADOS MÉDIOS
Fonte de
1ª
GL
Comprimento
Variação
Germinação Contagem
Condutividade
Pureza
de Plântula
Germinação
Posições
2
4,00ns
6,33 ns
1,04ns
483867,75**
15,94ns
Resíduo
9
44,55
63,33
0,74
272,27
4,83
CV (%)
7,37
8,87
19,75
2,82
2,74
ns
não significativo; * significativo (p < 0,05); ** significativo (p < 0,01)
Os resultados médios da qualidade das
sementes (germinação, primeira contagem de
germinação,
comprimento
de
plântula,
condutividade elétrica e pureza) de gergelim
podem ser vistos na Tabela 2. Examinando-se
os valores de germinação, vigor (primeira
contagem de germinação, comprimento de
plântula, condutividade elétrica) e pureza física
obtidos entre as três posições de cápsulas na
planta, observa-se que apenas a variável
condutividade elétrica acusou diferença
estatística. O tratamento “terço superior” diferiu
significativamente dos demais tratamentos por
apresentar maior lixiviação de eletrólitos após
as 24 horas de embebição das sementes. Houve
também uma superioridade significativa em
favor do tratamento “terço médio” em
comparação ao “terço inferior”. Provavelmente,
as sementes provenientes da parte superior da
planta de gergelim apresentem maior
percentagem de sementes imaturas na cultivar
BRS Seda em relação às sementes oriundas das
posições média e inferior da planta, pois a
época do corte da planta deiscente é
determinada pela maturação das cápsulas da
base do caule (início da abertura das primeiras
cápsulas), mesmo que as cápsulas dos ápices do
caule estejam imaturas (Queiroga et al, 2009;
2010). Essa desuniformidade de maturação da
planta deiscente de gergelim permite obter
sementes imaturas na parte apical que liberam
mais lixiviados, devido às mesmas (imaturas) se
encontrarem em fase de desenvolvimento e
maturação (Abdul-Baki; Baker, 1973). Estudos
realizados em sementes de cevada por AbdulBaki e Anderson (1970) afirmam que o
aumento da permeabilidade do tegumento da
semente está associado com a deterioração das
sementes. Apesar de não ter sido detectado
diferença significativa, verifica-se na Tabela 2
que as sementes colhidas da parte superior
apresentaram baixa percentagem de sementes
puras (77,9%), cujo valor foi superado pelos
tratamentos “terço médio” (81,0%) e “terço
inferior” (81,7%) durante a realização dos testes
de análise de sementes em laboratório. Este fato
permite reforça a hipótese de que o grau de
impurezas das sementes é bastante superior na
parte apical da planta de gergelim. Vale destacar
também que das seis amostras de sementes de
gergelim BRS Seda provenientes dos lotes de
cada comunidade de produtores familiares do
Piauí, o menor percentual de sementes puras
observado foi de 93,8% (Queiroga et al., 2008).
Além do mais as baixas condições climáticas
ocorridas no mês de marco de 2011 (Figura 1)
possivelmente tenham contribuído bastante nos
baixos resultados das análises de purezas dos
Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.15, n.4, p.431-439, 2013
432
Influência de posições das cápsulas na planta sobre a qualidade das sementes de gergelim
Queiroga et al.
tratamentos em estudo.
Tabela 2. Valores médios das variáveis germinação, 1ª contagem de germinação, comprimento de
plântula, condutividade elétrica e análise de pureza das sementes de gergelim em função de três
posições das cápsulas na planta. Campina Grande, PB, 2011.
VARIÁVEIS
Posições das
1ª Contagem Comprimento Condutividade
Análise de
cápsulas na planta Germinação Germinação
de Plântula
Elétrica
Pureza
(%)
(%)
(cm)
(µS.cm-1.g-1)
(%)
Terço inferior
91,5 a
91,0 a
4,9 a
330,2 c
81,7 a
Terço médio
90,5 a
89,5 a
4,1 a
443,5 b
81,0 a
Terço superior
89,5 a
88,5 a
4,0 a
981,2 a
77,9 a
DMS
13,18
15,71
1,70
32,58
4,34
Composição química
O resumo da análise da variância para os
componentes químicos determinados nas
sementes de gergelim provenientes de três
posições das cápsulas na planta pode ser visto
na Tabela 3, na qual se verifica que o efeito
significativo de 1% esteve presente em quase
todas as variáveis, exceto a variável teor de
proteína que não apresentou significância
estatística. Em geral, os coeficientes de
variação foram baixos, apesar do valor de
4,96% para o teor de proteína.
Tabela 3. Análise de variância (quadrados médios) e coeficiente de variação (cv) correspondente à
composição química de sementes de gergelim em função de três posições das cápsulas na planta.
Campina Grande, PB, 2011.
QUADRADOS MÉDIOS
Fonte de Variação
GL
Teor de Água
Óleo
Proteína
Cinza
Posições
2
0,127**
5,597**
1,506 ns
0,216**
Resíduo
9
0,0017
0,231
1,273
0,004
0,69
0,92
4,96
1,43
CV (%)
ns
não significativo; * significativo (p < 0,05); ** significativo (p < 0,01)
Os valores médios dos componentes
químicos (teor de água, óleo, proteína e cinza)
das sementes de gergelim provenientes de três
posições das cápsulas na planta, encontram-se
na Tabela 4. Com relação ao teor de água, os
resultados obtidos pelos três tratamentos
diferem entre si, cujos valores apresentados
foram: terço inferior com 6,09%, terço médio
com 5,92% e terço superior com 5,73%. Com
base nos resultados obtidos na referida Tabela,
verifica-se que o teor de água das sementes
tende a decrescer da base para o ápice da
planta de maneira proporcional a maior
exposição das cápsulas nos feixes ao sol. Após
a colheita do gergelim, o ideal seria reduzir o
teor de água das sementes até 4,5% (Queiroga
et al., 2008; 2009; 2011a).
Tabela 4. Composição química das sementes de gergelim em função de três posições das cápsulas na
planta. Campina Grande, PB, 2011.
Posições das cápsulas
VARIÁVEIS (%)
na planta
Teor de Água
Óleo
Proteína
Cinza
Terço inferior
6,09 a
52,39 a
23,18 a
4,78 a
Terço médio
5,92 b
52,75 a
22,95 a
4,62 b
Terço superior
5,73 c
50,55 b
22,02 a
4,32 c
DMS
0,08
0,95
2,22
0,12
Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.15, n.4, p.431-439, 2013
Beltrão e Vieira (2001) admitem que
exista uma relação proporcional entre o teor de
óleo do gergelim e a maior pureza das
sementes, ou seja, as sementes imaturas
produzem menos óleo. No caso da Tabela 3,
apesar de não ter acusado significância entre os
tratamentos, constata-se que as maiores purezas
foram provenientes das sementes dos
tratamentos “terço inferior” e “terço médio” em
relação à do terço inferior, os quais
apresentaram médias de valores de 81,7%,
81,0% e 77,9%, respectivamente. Este mesmo
comportamento entre tratamentos ocorreu para
o teor de óleo (Tabela 4), sendo que nesse caso
houve uma inferioridade significativa das
sementes do terço superior em comparação aos
demais tratamentos. A percentagem entre o
maior e o menor teor de óleo, obedeceu à
seguinte ordem: terço inferior (52,39%), terço
médio (52,75%) e terço superior (50,55%).
Para a variável cinza, as sementes de
gergelim do terço inferior obtiveram a maior
concentração significativa de cinza, deixando
em segundo lugar as sementes do terço médio e,
por último, as do terço superior. Por outro lado,
não houve uma superioridade significativa no
teor de proteína das sementes de gergelim do
terço inferior em relação aos demais
tratamentos.
Composição mineral
As
análises
de
variância
correspondentes à caracterização dos elementos
minerais fósforo (P), potássio (K), cálcio (CA)
e enxofre (S), obtidos de sementes de gergelim
provenientes de três posições das cápsulas na
planta, encontram-se na Tabela 5. Com exceção
para o elemento cálcio, observa-se que existem
diferenças significativas ao nível de 1% de
probabilidade para as outras variáveis
estudadas, sendo que o maior coeficiente de
variação ficou abaixo de 10,54% para o
elemento cálcio, potássio com 2,13% e enxofre
com 3,47%, o que significa elevada precisão
experimental durante a condução dos testes de
laboratório. Para o elemento fósforo, o cv de
20,45% foi considerado bastante elevado.
Tabela 5. Análise de variância (quadrados médios) e coeficiente de variação (cv) correspondente à
caracterização dos elementos minerais de sementes de gergelim em função de três posições das
cápsulas na planta. Campina Grande, PB, 2011.
QUADRADOS MÉDIOS
Fonte de variação
GL
P
K
Ca
S
Posições
2
92708,81**
6308,33**
31744,00 ns
1132,80**
Resíduo
9
6710,96
38,88
10240,00
90,15
10,54
3,47
CV (%)
20,45
2,13
ns
não significativo; * significativo (p < 0,05); ** significativo (p < 0,01)
A composição mineral das sementes de
gergelim tem uma especial importância por sua
valorização comercial, principalmente quando o
produto elaborado é destinado à alimentação de
humanos. Na Tabela 6, observa-se a
superioridade significativa das sementes
provenientes do terço superior para os
elementos minerais fósforo (P) e potássio (K).
O contrário sucedeu para o mineral enxofre (S),
por apresentar inferioridade significativa para
as sementes do terço superior.
Tabela 6. Caracterização dos elementos minerais em sementes de gergelim em função de três posições
das cápsulas na planta. Campina Grande, PB, 2011.
Posições das
VARIÁVEIS (mg/100 g)
cápsulas na planta
P
K
Ca
S
Terço inferior
324,75 b
270,00 b
1040,00 a
283,22 a
Terço médio
300,81 b
267,50 b
976,00 a
282,74 a
Terço superior
575,65 a
337,50 a
864,00 a
253,84 b
DMS
161,79
12,31
199,85
18,75
Apesar de que para o elemento cálcio não
houve
significância
estatística
entre
os
Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.15, n.4, p.431-439, 2013
tratamentos, mesmo assim o menor valor de
864 mg/100 g ficou para as sementes do terço
superior.
Enquanto
que
as
sementes
provenientes do terço inferior apresentaram o
maior valor de 1040 mg/100 g para o mineral
cálcio (Ca), pois tal resultado significa que
essas sementes do terço inferior têm um gosto
um pouco mais amargo por apresentar maior
concentração de cálcio em relação aos outros
tratamentos (Queiroga et al, 2007).
A eliminação total do cálcio nas sementes
brancas é possível conseguir através do
processo de despeliculação. A despeliculação é
mais valorizada quando realizada com grãos
brancos, como a BRS Seda, porque se
removendo a película, elimina-se o oxalato de
cálcio e a fibra não digerível, e
conseqüentemente o grão fica mais doce, por
perder o gosto amargo que é característico da
espécie. Já nas sementes de outras cores (CNPA
G4-creme e Preta), esse gosto amargo é
eliminado parcialmente quando se remove sua
película, pelo fato do oxalato de cálcio estar
também presente no endosperma das sementes.
Uma vez completada a despeliculação das
sementes de cor branca, o produto terá melhor
preço no mercado por se elevar sua qualidade
alimentícia, podendo chegar a duplicar ou
triplicar o seu valor em relação às sementes
convencionais (QUEIROGA et al., 2007;
2011a).
CONCLUSÕES
- Houve inferioridade de destaque para
as sementes colhidas no terço superior nas
variáveis: condutividade elétrica, teor de água,
teor de óleo, teor de cinzas e para o elemento
mineral enxofre;
- As sementes colhidas no terço
superior apresentaram superioridade de
destaque para os elementos minerais fósforo e
potássio.
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