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GLOBAL SCIENCE AND TECHNOLOGY (ISSN 1984 - 3801)
ÓLEOS ESSENCIAIS EM DIETAS PARA LEITÕES RECÉM-DESMAMADOS
Patricia de Azevedo Castelo Branco do Vale1*, Rita da Trindade Ribeiro Nobre Soares1,
Anilce de Araújo Brêtas1, Natália de Oliveira Cabral1, Flávio Medeiros Vieites2, Talita
Pinheiro Bonaparte1, Tânia Mota1
Resumo: Esta pesquisa foi conduzida para avaliar o efeito de óleos essenciais (OE) sobre o
peso dos órgãos digestivos e histologia intestinal de leitões recém-desmamados. Foram
utilizados 60 leitões em delineamento em blocos casualizados com cinco tratamentos (T1:
controle - ração basal; T2: antimicrobiano - basal + Trissulfin (0,2%); T3, T4 e T5: basal +
0,02; 0,04 e 0,06% de TH –Tecnaroma Herbal, respectivamente), com quatro repetições e três
animais por unidade experimental. O experimento durou 42 dias. Foi observado aumento do
peso (P<0,05) do fígado, intestino delgado (ID) e intestino grosso (IG) com a inclusão de
0,06% de TH e os animais do tratamento controle foram os que apresentaram os menores
pesos. Na histologia intestinal, foram observados efeito significativo dos tratamentos em
todas as variáveis, com exceção da profundidade de cripta no jejuno. A utilização de OE em
rações de leitões recém-desmamados pode alterar beneficamente a histologia intestinal destes
animais.
Palavras-chave: aditivos, promotores de crescimento, morfometria.
ESSENTIAL OILS IN DIETS FOR WEANING PIGS
Abstract: This trial was conducted to evaluate the effect of essential oils (EO) on the weight
of digestive organs and intestinal histology of weaning pigs. It was used a total of 60 piglets,
in a randomized block design, with five treatments (T1: Control - basal, T2: antimicrobial basal + Trissulfin (0.2%), T3, T4 and T5: basal + 0.02, 0.04 and 0.06% of TH-Tecnaroma
Herbal, respectively) four replications and three animals each. The experiment lasted 42 days.
Weight increase of the liver, small intestine (ID) and large intestine (LI) was observed (P
<0.05) with the inclusion of 0.06% in TH and control group animals were those with lower
weights. On intestinal histology, there were significant effects of treatments in all variables,
except the crypt depth in jejunum. The use of OE in diets for weaning pigs can beneficially
alter the intestinal histology of these animals.
Keywords: additives, growth promoters, morphometry.
___________________________________________________________________________
.Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), Av. Alberto Lamego, 2000 - Campos dos
1
Goytacazes (RJ) – CEP.: 28013-600. *E-mail: [email protected]. Autor para correspondência.
. Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Av. Fernando Corrêa da Costa, 2367 - Bairro Boa Esperança.
Cuiabá (MT) – CEP.: 78060-900.
2
Recebido em: 06/04/2010. Aprovado em: 24/08/2010.
Gl. Sci. Technol., v. 03, n. 03, p.75– 83, set/dez. 2010.
P. A. C. B. Vale et al.
INTRODUÇÃO
O período mais crítico para criação de
suínos confinados vai do nascimento ao final
da creche. O conhecimento da fisiologia e da
morfologia do aparelho digestório de leitões
recém-desmamados é de grande importância,
visto que o estresse decorrente da desmama,
comumente realizada entre 21 a 28 dias de
idade, somado à mudança de dieta e
ambiente, é um grande desafio aos leitões e
aos nutricionistas. Normalmente, há queda de
desempenho nos dias posteriores à desmama,
devido a desafios com os quais o animal se
depara, que incluem estresse ambiental
(decorrente da separação da mãe e
reagrupamento
social),
imunológico
(ausência da proteção advinda do leite
materno e pela presença de potenciais
patógenos, como Salmonella, Rotavírus) e
nutricional (mudança de alimentação líquida
para sólida) (PLUSKE et al., 1997).
A retirada da dieta líquida (leite
materno), altamente digestível e rica em
gordura, lactose e caseína, e o início do
consumo de uma ração seca, menos palatável,
contendo amido, óleos e proteínas vegetais,
associada à imaturidade do sistema digestivo,
justificam parcialmente a queda no
desempenho posteriormente à desmama.
Outro fator que contribui para esse quadro é a
limitada capacidade física de ingestão de
alimentos. Mesmo que o animal ingira
quantidades
satisfatórias,
a
secreção
insuficiente de enzimas digestivas, ácido
clorídrico, bicarbonato de sódio e muco não
permite uma digestão e absorção de
nutrientes adequada (BRANCO et al., 2006).
A ingestão insuficiente de alimentos,
a digestão incompleta e, na maioria dos
casos, a presença de farelo de soja, que
contém fatores alergênicos nas rações, levam
a alterações na estrutura do epitélio intestinal.
Em apenas 24 horas pós-desmama, há uma
redução drástica na altura das vilosidades em
todos os segmentos do intestino delgado,
devido a maior descamação dos enterócitos.
As vilosidades deixam de apresentar formas
alongadas, semelhantes a dedos e passam a se
76
assemelhar com línguas ou folhas (PLUSKE
et al., 1997). Em resposta a este processo,
acelera-se a diferenciação celular voltada a
criptogênese, causando aprofundamento das
criptas (PLUSKE et al., 1996; HEDEMANN
et al., 2003).
O encurtamento das vilosidades e o
aprofundamento das criptas acarretam perdas
na atividade de algumas enzimas da borda em
escova dos enterócitos, tais como isomaltase,
sacarase, lactase. As peptidases também
apresentam
queda
de
atividade,
principalmente na porção proximal do
intestino delgado, onde a atrofia das
vilosidades
é
mais
pronunciada
(HEDEMANN et al., 2003).
Assim, a redução do período
lactacional, associado à imaturidade digestiva
dos leitões, fez com que técnicos e produtores
utilizassem controladores sintéticos de
microorganismos, com características de
promotores de crescimento sendo os aditivos
antimicrobianos (antibióticos) os de uso mais
generalizado (MENTEN, 2001).
Entretanto, o amplo uso destes
agentes tem sido alvo de restrições. Na União
Européia, desde 2006, está proibida a
utilização
de
antibacterianos
como
promotores de crescimento na produção
animal (BUTAYE et al., 2003; BRUGALI,
2003). Tais regulamentações têm forçado a
busca de alternativas que garantam o máximo
crescimento dos animais sem afetar a
qualidade do produto final. As principais
alternativas incluem prebióticos, enzimas,
ácidos orgânicos e extratos vegetais
(MILTEMBERG, 2000; JEAUROUND et al.,
2002).
A inclusão de extratos vegetais às
rações animais requer ausência de toxicidade
e os óleos essenciais (OE), tradicionalmente
utilizados como condimentos ou temperos,
enquadram-se neste perfil (BRUGALI,
2003). Os OE constituem-se em complexas
misturas de substâncias voláteis, geralmente
lipofílicas (SIMÕES & SPITZER, 1999),
cujos componentes incluem hidrocarbonetos
terpênicos, álcoois simples, aldeídos, cetonas,
fenóis, ésteres, ácidos orgânicos fixos, etc.
Gl. Sci. Technol., v. 03, n. 03, p.75– 83, set/dez. 2010.
Óleos essenciais...
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em diferentes concentrações, nos quais, um MATERIAL E MÉTODOS
composto farmacologicamente ativo é
Para avaliar o peso dos órgãos
majoritário, sendo denominado “princípio
ativo”. Assim, por exemplo, o princípio ativo digestivos e a histologia intestinal de leitões
no orégano é o carvacrol (3 a 17%), no alimentados com rações, contendo o produto
tomilho, o timol (40%) e, na canela, o Tecnaroma ZTA Herbal Mix® (TH) como
cinamaldeído (75%). No âmbito do consumo um aditivo sensorial natural composto por
de rações destinadas a aves e suínos, há nítida oito tipos de óleos essenciais (tomilho, limão,
preocupação
pela
substituição
dos eucalipto, alho, aniz, aniz-estrelado, ginepro e
antibacterianos, denominados promotores de orégano), um experimento foi conduzido no
crescimentos por agentes não menos efetivos, Setor de Suinocultura da Unidade de Apoio à
mas de origem natural (MENTEN, 2001; Pesquisa em Zootecnia do Laboratório de
Zootecnia e Nutrição Animal do CCTAMILTEMBERG, 2000).
Os OE mostram atividade antiséptica UENF.
Foram utilizados 60 leitões mestiços
e antimicrobiana com as várias bactérias
patogênicas mesmo aquelas que são somente (machos castrados e fêmeas) com média de
antibióticos resistentes. Os OE de plantas 21 dias de idade e peso inicial de 7,2 ± 1,3
aromáticas como a santoreggia, canela, timo, kg, distribuídos em um delineamento em
cravo, lavanda e eucalipto são os de atividade blocos ao acaso, com cinco tratamentos,
antiséptica mais marcante. A atividade quatro repetições e três animais por unidade
Os leitões foram
antimicrobiana deve-se ao fato de que a experimental (baia).
atividade dos seus componentes principais, alojados em baias de piso de cimento,
como, por exemplo, os fenóis que agem nas equipadas com comedouros de concreto e
membranas bacterianas, os álcoois que lesam bebedouro tipo chupeta. Água e rações foram
as paredes celulares e favorecem a fornecidas à vontade durante todo o período
desnaturação das proteínas e as cetonas que experimental.
Os tratamentos consistiram de: T1:
têm atividade lipolítica (KALEMBA &
KUNICKA, 2003). Além disso, os OE Ração basal (controle) (C); T2: Ração basal +
extraídos de orégano, tomilho, canela, 0,2% antibiótico; T3: Ração basal + 0,02%
eucalipto e anis, entre outros, têm potencial Tecnaroma Herbal (TH1); T4: Ração basal +
antimicrobiano significativo (JEAUROUND 0,04% Tecnaroma Herbal (TH2); e T5: Ração
et al., 2002; KALEMBA & KUNICKA, basal + 0,06% Tecnaroma Herbal (TH3).
O Tecnaroma Herbal é um aditivo
2003).
Embora alguns efeitos tenham sido sensorial à base de óleos essenciais
demonstrados,
há
ainda
grande aromáticos, extratos de plantas e ervas
desconhecimento dos mecanismos envolvidos aromáticas, composto por timo ou tomilho,
nos processos. Essas substâncias apresentam orégano, alho, aniz, aniz estrelado, ginepro e
atividade de modificação da microbiota eucalipto.
O antibiótico utilizado foi o
intestinal, de melhora na digestibilidade e na
absorção dos nutrientes, de modificações Trissulfim®, produto à base de bromexina,
morfo-histológicas do trato gastrintestinal e sulfonamidas e trimetoprima.
As rações experimentais foram
de melhora da resposta imune (BRUGALLI,
formuladas à base de milho e farelo de soja e
2003).
Esta pesquisa foi conduzida para suplementadas com vitaminas, minerais e
avaliar o efeito de níveis de OE, comparado aminoácidos para atender às exigências
ao efeito de antimicrobianos sobre a nutricionais dos suínos na fase inicial, de
morfometria dos órgãos e histologia do acordo com Rostagno et al. (2005), conforme
epitélio intestinal de leitões dos 21 aos 63 a Tabela 1.
dias de idade (fase de creche).
Tabela 1 - Composições centesimal e nutricional das rações basais
Gl. Sci. Technol., v. 03, n. 03, p.75– 83, set/dez. 2010.
P. A. C. B. Vale et al.
Ingredientes (Kg)
Milho comum
Farelo de soja
Leite pó
Açúcar cristal
Óleo de soja
Fosf. Bicálcico
Calcário
Sal
S. vit. e min.1
L-Lisina HCl
DL-Metionina
L- Treonina
Inerte (areia)2
TOTAL
ED (kcal/kg)
PD (%)
Ca (%)
Pt (%)
78
Ração Pré-inicial (1 – 21 dias)
Ração Inicial (22 – 42 dias)
50,40
64,45
33,30
30,00
5,00
5,00
1,00
2,30
1,40
1,80
0,70
0,85
0,25
0,25
0,50
0,50
0,30
0,30
0,15
0,15
0,10
0,10
0,60
0,60
100,00
100,00
Nível nutricional calculado
3400,00
3300,00
20,00
19,5
0,85
0,85
0,70
0,70
1
Nineis de garantia por kg do produto: Vit. A – 3.500.000 UI; Vit. D3 – 500.000 UI; Vit. E – 5.000 mg; Vit. K –
1.000 mg; Vit. B1 – 400 mg; Vit. B2 – 1.600 mg; Vit. B6 – 500 mg; Vit B12 – 11.000 mcg; Ácido Fólico – 350
mg; Biotina – 10 mg; Niacina – 14000 mg; Pantotenato de cálcio – 6.000 mg; Co – 9.000 mg; Fe – 48.000 mg; I
– 125 mg; Mn – 25.000 mg; Se – 75 mg; Antioxidante – 2000 mg; Veículo q.s.p. – 1.000 g
2
Os microingredientes testados foram adicionados às rações basais em substituição parcial e/ou total ao inerte.
No 42º dia de experimento, um animal
de cada baia foi abatido e eviscerado para
coleta dos órgãos digestivos. Após incisão
longitudinal da cavidade abdominal, os
órgãos digestivos (trato gastrintestinal total,
estômago cheio, pâncreas, fígado, intestino
delgado cheio, intestino grosso cheio) e nãodigestivos (baço e rins) foram retirados e
pesados.
Imediatamente após a retirada e
pesagem do intestino delgado, segmentos de
cerca de 5 cm de comprimento do duodeno
(até 15 cm do esfíncter estomacal), jejuno (1,5
m da junção do íleo com o intestino grosso) e
íleo (20 cm da junção com o intestino grosso)
foram retirados e acondicionados em formol.
As amostras foram retiradas imediatamente
após o abate para não prejudicar a integridade
do epitélio intestinal. Posteriormente, as
amostras foram emblocadas em historesina e,
após a secagem dos blocos, foram feitos os
cortes de três µm em micrótomo automático.
A confecção das lâminas para as análises
morfométricas foi realizada seguindo a técnica
descrita por Junqueira e Junqueira (1983), com
algumas adaptações.
As
análises
estatísticas
foram
realizadas,
utilizando-se
o
programa
computacional SAEG - Sistema de Análises
Estatísticas e Genéticas (UFV, 1997) e as
médias dos tratamentos foram comparadas
pelo Teste Student Newman-Keuls.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O peso do fígado foi maior (P<0,05)
nos animais que receberam o tratamento com
0,06% de TH, quando comparados com os
animais que receberam os tratamentos
controle (C) e com antibiótico (A) (Tabela 2).
O peso do intestino delgado dos animais que
receberam 0,06% TH foi superior (P<0,05)
ao peso nos demais animais que receberam
dieta controle e 0,02 e 0,04% TH. Com
relação ao intestino grosso, somente os
animais que receberam dieta controle
apresentaram os menores (P<0,05) valores de
peso, comparado com os outros tratamentos.
Gl. Sci. Technol., v. 03, n. 03, p.75– 83, set/dez. 2010.
Óleos essenciais...
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Tabela 2 - Peso dos órgãos digestivos de leitões dos 21 aos 63 dias de idade submetidos a
dietas com diferentes aditivos
Peso absoluto dos órgãos (kg)1
Tratamentos2
Rins
Baço
Fígado
Estômago
Int. delg.
Int. grosso
C
0,085
0,023
0,362 c
0,188
0,693 b
0,857 b
b
ab
A
0,0762
0,027
0,457
0,259
0,745
0,985 ab
TH1
0,082
0,026
0,427 b
0,241
0,665 b
1,139 ab
bc
b
TH2
0,075
0,022
0,404
0,195
0,660
0,975 ab
TH3
0,090
0,027
0,552 a
0,237
0,865 a
1,234 a
CV (%)
14,982
18,541
6,559
19,062
11,807
14,112
1
Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna, dentro de cada variável, diferem entre si pelo Teste SNK
(P<0,05).
2
C – controle; A – Antimicrobiano; TH1 - 0,02% Tecnaroma Herbal®; TH2 - 0,04% Tecnaroma Herbal®; TH3 0,06% Tecnaroma Herbal®.
Os animais que receberam o TH3
apresentaram fígado mais pesado do que
aqueles que receberam os tratamentos
controle (C) e com antibiótico (A). Sabe-se
que o fígado é o órgão principal do
metabolismo, principalmente em se tratando
da glicose. Assim, o maior peso observado
pode ser devido ao aumento do metabolismo
hepático, já que encontramos na literatura
dados de aumento na atividade de várias
enzimas, na digestibilidade e absorção de
nutrientes. Embora não seja possível
esclarecer o motivo desse aumento, vale
ressaltar que, em outro experimento, frangos
aos 21 dias de idade, recebendo 100 ppm de
timol na dieta também apresentaram aumento
no peso do fígado em relação ao tratamento
controle (LEE et al., 2003).
O aumento do peso do intestino
delgado e grosso, com a inclusão de 0,06%
de TH, pode ser devido ao maior consumo de
ração (773 g/dia – 0,06% TH x 633 g/dia C)
dos leitões que receberam o tratamento
contendo este nível de inclusão de OE, uma
vez que a ingestão é o principal fator que
influencia a massa intestinal (BURRIN et al.,
2001). Outra possível explicação seria a
menor taxa de descamação do epitélio
intestinal, proporcionada pela inclusão de OE
na dieta dos animais que receberam este
tratamento.
A descamação, em geral, é provocada
por agentes agressores. Isso quer dizer que,
provavelmente, este tratamento foi o que
provocou menos agressão à mucosa intestinal
dos animais, refletindo em um maior peso
absoluto dos órgãos.
Um dos modos de ação dos agentes
antimicrobianos está relacionado à redução
na quantidade de microrganismos produtores
de toxinas aderidos ao epitélio intestinal e,
consequentemente, à redução da espessura da
parede intestinal (ANDERSON et al., 1999).
Esse efeito proporciona economia de
nutrientes pelo animal para manutenção dos
tecidos do trato gastrintestinal (LIMA, 1999),
favorecendo seu desempenho. Esse modo de
ação sobre os microrganismos presentes no
intestino de leitões pode proporcionar menor
fermentação microbiana e diminuir a
produção de ácidos graxos voláteis que
fornecem boa parte da energia exigida para o
desenvolvimento dos enterócitos (LIN &
VISEK, 1991). No cólon, até 60-70% da
energia utilizada pelas células epiteliais
provém dos produtos da fermentação
microbiana
(CUMMINGS
&
MACFARLANE, 1991). Assim, a menor
produção de ácidos graxos voláteis pode
acarretar menor taxa de replicação celular no
epitélio intestinal de leitões que recebem
antimicrobianos na dieta, ocasionando
redução dos pesos relativos dos intestinos
delgado e grosso, apesar desse efeito não ter
sido significativo nos animais do presente
experimento.
Oetting et al (2006) também
observaram que leitões tratados com
antimicrobiano apresentaram menor peso
relativo do trato gastrintestinal total e do
intestino delgado do que os animais do
Gl. Sci. Technol., v. 03, n. 03, p.75– 83, set/dez. 2010.
P. A. C. B. Vale et al.
tratamento controle ou com diferentes níveis
de extratos vegetais. Já UTIYAMA et al.
(2006) não observaram alterações no peso
relativo dos intestinos delgado e grosso
vazios
dos
animais
do
tratamento
antimicrobiano.
Costa et al. (2007) avaliando o efeito
de diferentes extratos vegetais sobre a
morfometria dos órgãos digestivos de leitões
na fase de creche, não encontraram diferenças
80
significativas nos pesos dos órgãos
digestivos. LEE et al. (2003), porém,
observaram menor peso do intestino de
frangos alimentados com ração suplementada
com OE.
As médias de altura das vilosidades,
de profundidade das criptas e da relação
altura de vilosidade/profundidade de cripta do
duodeno, jejuno e íleo, em função dos
tratamentos, encontram-se na Tabela 3.
Tabela 3 - Altura das vilosidades (AV), da profundidade das criptas (PC) e da relação altura
de vilosidade/profundidade de cripta (AV/PC) no duodeno, jejuno e íleo dos leitões
submetidos a dietas com diferentes aditivos
Tratamentos1,2
CV3 (%)
C
A
TH1
TH2
TH3
Duodeno
AV (µm)
304,11c
414,61a
349,52b
428,75a
424,89a
5,664
a
c
b
b
c
PC (µm)
175,55
122,21
149,12
152,61
114,98
4,801
3,40b
2,34d
2,82c
3,70a
6,750
AV/PC
1,73e
Jejuno
AV (µm)
316,77d
401,95b
337,73c
419,88a
406,58b
1,886
PC (µm)
182,10
165,96
179,75
169,17
149,41
9,994
AV/PC
1,74b
2,47a
1,88b
2,48a
2,78a
12,071
Íleo
AV (µm)
251,77c
321,56b
326,51b
378,99a
378,43a
8,293
a
ab
bc
cd
d
PC (µm)
200,64
209,82
185,46
173,26
161,98
6,770
AV/PC
1,26c
1,53b
1,76b
2,19a
2,35a
4,536
1
Médias seguidas de letras diferentes na mesma linha, dentro de cada variável, diferem entre si pelo Teste SNK
(P<0,05).
2
C=controle; A=antibiótico; TH1= tecnaroma herbal 0,02%; TH2= tecnaroma herbal 0,04%; e TH3=tecnaroma
herbal 0,06%
3
Coeficiente de variação
Houve diferenças entre os tratamentos
(P<0,05) para todas as variáveis, com
exceção da PC no jejuno. No duodeno, as
maiores AV foram observadas nos animais
que receberam as rações contendo os dois
maiores níveis de OE (0,04 e 0,06%), não
diferindo, entretanto, das observadas nos
animais alimentados com ração contendo o
antibiótico. As menores PC foram observadas
nos animais que receberam os tratamentos
com antibiótico (A) e com o maior nível de
inclusão dos OE. Para a relação AV/PC, o
maior valor foi observado nos animais que
receberam o maior nível de TH. No jejuno, as
maiores AV foram observadas nos animais
que receberam a ração contendo o nível
intermediário dos OE (0,04%) e a relação
AV/PC foram maiores nos animais que
receberam os tratamentos com antibiótico e
com os dois maiores níveis de OE. Com
relação ao íleo, os animais que receberam os
tratamentos com os dois maiores níveis de
OE apresentaram as maiores (P<0,05) AV e
AV/PC, comparado aos demais tratamentos.
As menores PC (P<0,05) foram observadas
nos animais que receberam os tratamentos
0,04 e 0,06% de TH em comparação aos
outros três tratamentos.
Logo após o desmame, a altura das
vilosidades diminui, resultando em menor
área de absorção no intestino delgado
(HAMPSON, 1986a) e em menor absorção
de eletrólitos (NAABURS, 1995). Assim,
pode-se inferir que a utilização tanto de
Gl. Sci. Technol., v. 03, n. 03, p.75– 83, set/dez. 2010.
Óleos essenciais...
antibiótico quanto de OE favoreceram o
crescimento mais acelerado das vilosidades
quando comparados aos outros tratamentos.
Quanto maior o tamanho das vilosidades,
maior é a capacidade de absorção de
nutrientes, já que maior AV pode ser
conseqüência de maior taxa de renovação nas
criptas, provocada por estímulos provenientes
da ação dos princípios ativos dos vegetais e
seu OE.
As maiores PC foram observadas,
tanto no duodeno quanto no íleo, no
tratamento controle e as menores nos
tratamentos com OE, seguidos do tratamento
com antibiótico. A PC indica a intensidade da
descamação do epitélio intestinal. Quanto
maior for essa profundidade, maior terá sido
a descamação e, possivelmente, menor é a
capacidade absortiva das células da borda de
escova, uma vez que neste local são
produzidas
carboidrases
de
extrema
importância, principalmente para leitões
recém-desmamados.
Para
a
relação
altura
de
vilosidade/profundidade de cripta, as maiores
relações foram observadas no tratamento
TH3, nos três segmentos do intestino.
Com relação a AV/PC, é desejável
que as vilosidades se apresentam altas e as
criptas rasas, pois quanto maior a relação
AV/PC, melhor será a absorção de nutrientes
e menores serão as perdas energéticas com
a renovação celular (NABBURS, 1995).
Uma redução na altura das vilosidades é um
indicativo de maior descamação do epitélio
intestinal. O aumento da descamação leva a
um aumento na proliferação celular da cripta
(TUCCI, 2003). Criptas mais profundas
indicam maiores gastos energéticos com
renovação celular para garantir a reposição
das perdas de células da região apical dos
vilos (PLUSKE et al., 1997). As vilosidades
desgastadas e as criptas aprofundadas
apresentam menor quantidade de células
absortivas em comparação às secretoras,
ocasionando uma digestão incompleta de
carboidratos e proteínas, bem como redução
na absorção de líquidos, sódio, potássio e
cloreto, o que altera a osmolaridade do
conteúdo intestinal, podendo levar o animal a
81
uma diarréia osmótica. (NABUURS et al.,
1993).
Resultados
semelhantes
foram
notados por Oetting et al. (2006) e Utiyama et
al. (2006) que utilizaram antimicrobianos e
extratos vegetais. Os autores relataram que
maiores AV e menores PC com o uso de
antimicrobianos.
Presume-se que estes aditivos
estimulem a atividade de enzimas (sacarase e
maltase), a secreção exógena pancreática (αamilase e α-lipase) e a secreção de sais
biliares (PLATEL & SRINIVASAN, 1996),
uma vez que possuem como princípio ativo
comum a capsaicina, um agente pungente que
aumenta a secreção de saliva e suco gástrico.
Os promotores de crescimento em geral
podem alterar a histologia do epitélio
intestinal, como aumento da altura das
vilosidades e redução da profundidade das
criptas (MILTEMBERG, 2000).
CONCLUSÕES
Os animais alimentados com rações
contendo níveis crescentes de óleos
essenciais como promotores apresentaram os
maiores pesos dos órgãos digestivos,
particularmente para o peso do fígado,
intestino delgado e intestino grosso. Com
efeito mais pronunciado naqueles que
receberam rações com o maior nível do
produto testado, bem como melhores
resultados para a histologia intestinal,
sugerindo que tais compostos podem ser
usados como promotores de crescimento em
substituição ao antibiótico, pois podem
alterar beneficamente a histologia do epitélio
intestinal, como aumento da altura das
vilosidades e redução da profundidade das
criptas.
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