Ficha formativa sobre falácias Verifique se os argumentos seguintes cometem alguma falácia e identifique-a, justificando a sua opção. 1. Durante séculos, procurou-se em vão encontrar uma forma de fazer da astrologia uma ciência. Por conseguinte, a astrologia não é uma ciência. R: Argumenta-se que algo é falso (que a astrologia seja uma ciência) com base no facto de que não se conseguiu provar que é verdadeiro. Mas é discutível que se trate de um apelo à ignorância falacioso porque, se a premissa for verdadeira e existirem padrões que qualificam uma disciplina como científica ou não científica, então, não manifestando tais padrões, não há qualquer razão para considerar a astrologia uma ciência. 2. Durante séculos, procurou-se desacreditar a astrologia, mas ninguém conseguiu mostrar de forma clara e evidente que a astrologia não é uma ciência. Logo, a astrologia é uma ciência. R: As premissas do argumento afirmam que nada se conseguiu provar quanto ao estatuto não científico da astrologia. Desta indefinição tira-se uma conclusão bem definida (a astrologia é uma ciência) quando, como é óbvio, não há qualquer fundamento para isso. Apelo à ignorância falacioso. 3. A vaga para o lugar de professor de Matemática no colégio Logaritmo deve ser dada ao Francisco. Com efeito, ele tem seis filhos para educar e alimentar e a sua mulher está também desempregada. R: Omite-se o que seria relevante, a competência de Francisco para ocupar o lugar, e invocam-se os problemas financeiros e familiares, irrelevantes. Argumento que apela à piedade de modo falacioso. 4. Deve ler a última novela de Carlos Baleia. Já vendeu um milhão de cópias e quase todos os habitantes da sua rua falam dele. R: O gosto da maioria funciona como critério de validade artística de uma obra e pretende-se obter a adesão a essa obra com base na ideia de que devemos ser como os outros. Da obra em si mesma nada se diz para a promover. Falácia ad populum (apelo à maioria). 5. A filosofia de Nietzsche não vale o papel que se gastou a imprimi-la. Nietzsche era um imoralista, que, antes de morrer, ficou completamente louco por ter contraído sífilis na juventude. R: O facto de uma doutrina pôr em causa os nossos valores morais em nada diminui a sua grandeza intelectual. Não se colocam, neste caso, objecções à doutrina, mas ataca-se o autor de modo soez. Ad hominem falacioso. 6. Sei que muitos de vós se opõem à nomeação de David Cole para novo director de vendas. Contudo, tenho a certeza de que o considerarão bem qualificado para o cargo. Tenho a dizer-vos que, caso ele não seja nomeado, seremos obrigados a reduzir significativamente o número de trabalhadores deste departamento. R: Argumento ad baculum — apelo falacioso à força. 7. Membros do júri, ouviram o advogado de acusação argumentar contra o réu. Contudo, não há provas suficientemente convincentes de que o réu tenha cometido o crime. Por isso mesmo, e cumprindo a lei, devem declarar que o réu não é culpado. R: Trata-se de um apelo à ignorância não falacioso, habitual nos tribunais. A conclusão «não culpado» deve entender-se do seguinte modo: nenhuma prova convincente de culpa do réu foi apresentada, pelo que, embora não se exclua a possibilidade de ele ter cometido o crime, não pode ser legalmente condenado. O argumento é, por isso, válido, ou seja, o apelo à ignorância não é falacioso. 8. Toda a gente sabe que a Terra é plana. Por isso, não faz sentido continuares a pensar o contrário. R: Falácia ad populum. A premissa, se enunciada séculos atrás, permitiria concluir que o seu auditório deveria apresentar razões muito fortes para a sua posição ser considerada. 9. Torne-se assinante de O Anarca, o semanário mais lido em todo o país, e fique tão bem informado como os seus vizinhos. R: Falácia ad populum. 10. Onze membros do júri decidiram que o senhor Strumpf era culpado. Só o Smith se absteve. Há, sem dúvida, algo de errado com este indivíduo porque não consegue ver que o veredicto é óbvio. R: Falácia ad populum ou também ad hominem. 11. «O nosso jornal merece o apoio de todos os Alemães. Continuaremos a enviar exemplares para a sua casa e esperamos que não queira sujeitar-se a consequências desagradáveis no caso de deixar de ser nosso assinante.» R: Falácia ad baculum (convencer pela força ou pela ameaça). 12. Negar a possibilidade de a América ter sido descoberta por Africanos só porque estes navegadores são "desconhecidos" é sinal de arrogância e de irresponsabilidade. Se não temos conhecimento de um evento, significa isso que ele nunca aconteceu? R: Falácia ad ignorantiam. Com base neste argumento falacioso, poderia defender-se um número indeterminado de "descobertas" não reveladas. Se a premissa lança uma dúvida — orientada apesar de tudo —, não é legítimo concluir com uma certeza que serve, além do mais, para censurar quem se lhe opõe. 13. Não deve voltar a caluniar-me porque, caso contrário, terei de o levar a tribunal. R: Este argumento não é falacioso, porque apresenta uma boa justificação para que aceitemos a conclusão. Este argumento pode ser apresentado na sua forma canónica da seguinte maneira: Se voltar a caluniar-me, terei de o levar a tribunal. Não quer que o leve a tribunal. Logo, não deve voltar a caluniar-me. O argumento apresenta boas razões para que uma determinada pessoa não volte a caluniar uma outra, razões essas perfeitamente aceitáveis. 14. Apesar do calor, não deves ir para a rua com vestuário tão reduzido. Fora da praia, isso é nudez e a nudez, como todos sabem, é imoral. Não queres, com certeza, esfriar as relações com vizinhos e amigos que não gostarão de saber que se dão com pessoas desavergonhadas! R: Este argumento é falacioso, apresentando a falácia do apelo à força. A falácia do apelo à força é aquela que informa acerca das consequências desagradáveis de não se aceitar aquilo que o autor afirma ou defende. Apresenta-se como uma ameaça para a pessoa que não aceitar aquilo que o autor defende. 15. Eva: - Mas porque devemos obedecer a Deus? Adão: - Porque é assim que se deve fazer! Eva: - Isso é falácia! É o mesmo que dizer que devemos obedecer porque devemos obedecer! Adão: - Não é falácia nenhuma! Como podes dizer isso se todos fazem assim!? R: Este argumento é falacioso, apresentando-se como uma falácia do apelo ao povo. A falácia do apelo ao povo é aquela que sustenta que uma proposição é verdadeira porque a maioria das pessoas da sociedade aceita essa mesma proposição ou considera a proposição verdadeira. 16. Ninguém provou que os fantasmas não existem. A maioria das pessoas, ao longo dos tempos, aceitou a sua existência. Só os extravagantes do clube dos filósofos, como tu, podem negar a sua existência. R: Este argumento é falacioso. Podemos dizer que a sua principal falácia é a do apelo à ignorância (se bem que possua ainda outras duas falácias, a falácia do apelo ao povo e a falácia do ataque pessoal, que se encontram respectivamente na segunda e última frases do argumento). A falácia do apelo à ignorância é aquela que defende P por ainda não se ter provado não P ou que defende não P por ainda não se ter provado P. 17. É fácil ver o que os defensores da eutanásia pretendem. Muito simplesmente, querem ter o poder de matar todos os que estiverem seriamente doentes. É por isso que sou contra a legalização da eutanásia. R: Este argumento é falacioso, apresentando-se como uma falácia do ataque pessoal. Esta falácia é aquela que ataca a pessoa ou grupo de pessoas em vez de procurar razões que justifiquem aquilo que pretende defender. Ataca-se a pessoa pelo seu carácter, raça, nacionalidade, religião ou mesmo, como neste caso, pelos interesses da própria pessoa em praticar uma certa acção. 18 - Como uma determinada pena dissuade um potencial criminoso tornando a perspectiva do crime menos atractiva, pode afirmar-se que quanto mais severa for a punição menos atraente será o crime e menos provável a sua realização. Sendo a morte considerada pelos potenciais criminosos como a punição mais severa, a pena de morte é provavelmente a força mais dissuasora. R: O argumento, apesar de discutível, não comete falácia alguma. O argumento defende o apelo à força provavelmente mais dissuasora do crime – a pena de morte –, mas não recorre a ameaças ou chantagens para se impor. 19 – Os gatos e as pessoas reagem de modo semelhante aos medicamentos que contêm lidocaína. Os gatos reagiram mal a este novo medicamento com lidocaína Logo, as pessoas vão reagir mal a este novo medicamento. R: Não se comete a falácia da falsa analogia porque é provável, dada a informação das premissas, que a conclusão venha a revelar-se acertada. Contudo, a indústria farmacêutica sabe que a conclusão de um argumento analógico bom é provável, mas não necessariamente verdadeira. Por isso se testam novos medicamentos também em pessoas. 20 – A neve nunca foi observada na Guiné. Por isso, se for à Guiné, não verá neve a cair. R: Bom argumento indutivo. 21 – Na aula estão todos aborrecidos. Ninguém está a ouvir a lição porque quem está aborrecido não ouve. R: Argumento dedutivo válido. Quem está aborrecido não ouve a lição. Na aula estão todos aborrecidos. Ninguém está a ouvir a lição 22 – A melhor maneira de dirigir uma empresa é ser duro, implacável, ser temido pelos trabalhadores. Assim trabalharão como deve ser. Se os tratares amavelmente, aproveitam-se da tua simpatia para trabalhar o menos possível e levar-te à ruína. R: Falso dilema. 23. O que é mais útil? O Sol ou a Lua? A Lua é mais útil porque nos dá luz durante a noite, quando está escuro, ao passo que o Sol só brilha de dia, ou seja, quando há luz. R: Falácia da falsa causa, na modalidade confusão entre causa e efeito. Não é a luz que faz o Sol brilhar. É o Sol que faz a luz brilhar ou que possibilita a luz. 24. Num filme, alguns ladrões discutem acerca da divisão de sete pérolas. Um deles dá duas pérolas ao homem que está à sua esquerda e duas ao que está à sua direita. Fica com as outras. Um dos outros homens pergunta: «Com que direito ficas com mais pérolas?» Ele responde: «Porque sou o chefe». «E por que és o chefe?». Resposta do homem que ficou com mais pérolas: «Porque tenho mais pérolas». R: Argumento circular ou petição de princípio. 25 – A noite vem sempre depois do dia. Logo, é por causa do dia que há noite. R: falácia da falsa causa. Neste caso, nenhuma coisa referida é causa da outra. 26 – Dez miligramas da substância Z foram dadas a quatro ratos e, no espaço de 2 minutos, aqueles sofreram convulsões e morreram. Esta quantidade da substância Z é fatal, tudo o indica, para todos os ratos que a ingerirem. R: Argumento indutivo – previsão – válido. 27 – Os advogados de defesa têm a possibilidade, na defesa dos seus casos, de consultar livros. Os médicos também o fazem sem qualquer restrição. Por isso mesmo, devia ser permitido aos estudantes a consulta de livros durante os exames. R: Falsa analogia. 28 – Benjamim Fernandez, concorrente à nomeação como candidato do Partido Republicano à presidência dos EUA, nasceu numa mísera barraca em Kansas City, há 35 anos. Quando lhe perguntaram por que razão era republicano, respondeu que, quando andava num colégio da Califórnia, alguém lhe disse que o PR era o partido das pessoas ricas. «Eu disse: Inscreve-me nesse partido, já estou farto de ser pobre». R: Anedota que ilustra a falácia da falsa causa. O PR é o partido a que em geral aderem as pessoas ricas e não o partido que torna ricas as pessoas que a ele aderem. Confusão da causa com o efeito. 29 – As mulheres não devem tourear porque o toureiro é e deve ser o homem. R: Petição de princípio.