Närada e Visnu - Hermes society

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Hermessociety
Närada e Visnu
Mitologia hindu
Graças a prolongadas austeridades e práticas devocionais, Närada, ganhou o favor de Visnu. O deus apareceu ao santo
no seu retiro e concedeu-lhe o cumprimento de um desejo. «Mostra-me o poder mágico da tua Mäyä (ilusão)», pediu
Närada, e o deus replicou, «Fá-lo-ei. Vem comigo»; mas, um sorriso ambíguo atravessou os seus lábios.
Abandonando a sombra agradável do pequeno bosque que protegia a ermida, Visnu conduziu Närada através de uma
extensão desértica que queimava como o metal sob o brilho impiedoso de um sol abrasador. Não tardaram ambos a
sentir sede. A alguma distância, sob a luz que cegava, perceberam os telhados de colmo de uma minúscula aldeia.
Visnu perguntou: «Poderás tu lá ir, e trazer-me água?»
«Certamente, Senhor,» respondeu o santo, e dirigiu-se para o grupo de casas. O deus ficou a descansar à sombra de
um penhasco, esperando o regresso do santo.
Ao chegar à aldeia, Närada bateu à porta da primeira casa. Uma formosa donzela atendeu-o, e o santo experimentou algo
que até aí tinha apenas imaginado: o encanto pelos olhos dela. Estes assemelhavam-se aos do seu divino Senhor.
Ficou imóvel contemplando-a. Pura e simplesmente, esqueceu-se do motivo porque ali estava. A rapariga, doce e cândida,
deu-lhe as boas vindas. A sua voz era um laço de ouro em redor do seu pescoço. Como num sonho, Närada entrou na
casa.
Os habitantes da casa saudaram-no respeitosamente, mas sem qualquer traço de timidez. Foi recebido dignamente
como um homem santo, ainda que não como um estranho; porventura, como um antigo e venerável conhecido que se
tinha ausentado por um longo período. Närada permaneceu na casa, impressionado com a alegre e nobre atitude dos
habitantes, e sentindo-se perfeitamente à vontade. Ninguém lhe perguntou o motivo da visita; ele parecia fazer parte da
família desde tempos imemoriais. E, passado algum tempo, pediu ao pai permissão para casar com a rapariga, o que era
mais do que aquilo que todos esperavam. Tornou-se membro da família e partilhou com os outros as obrigações
intemporais e os pequenos e simples prazeres de uma casa de camponeses.
Passaram doze anos; teve três filhos. Quando o seu sogro morreu, Närada tornou-se o patriarca da família, herdando a
propriedade e dirigindo-a, cuidando do gado e cultivando os campos. No décimo segundo ano, a estação das chuvas foi
extraordinariamente violenta: os rios transbordaram, as torrentes precipitaram-se pelas encostas das colinas, e a
pequena aldeia foi inundada por uma súbita cheia. As cabanas de palha e o gado foram, durante a noite, levados pelas
água, e todos os aldeões foram obrigados a fugir.
Segurando com uma mão a sua mulher, com a outra, dois dos seus filhos, e carregando o mais novo ao ombro, Närada
iniciou a fuga, a toda a pressa. Avançando na mais completa obscuridade e acossado pela chuva, caminhava sobre a
lama escorregadia, cambaleando devido às águas turbulentas. O peso que carregava era demasiado grande para as
suas forças, com a corrente puxando-lhe as pernas. Quando, numa das vezes, tropeçou, a criança escorregou do seu
ombro e caiu, desaparecendo na noite trovejante. Com um grito desesperado, Närada largou os filhos mais velhos para
segurar o mais pequeno, mas não foi suficientemente rápido. Entretanto as águas arrastaram rapidamente os outros e
antes mesmo que ele se desse conta do desastre, levaram a sua mulher, e fizeram-no perder o pé, arrastando-o de
cabeça pela torrente, como um tronco de árvore. Inconsciente, Närada veio a encalhar por fim numa pequena escarpa.
Quando voltou a si, abriu os olhos e viu uma vasta extensão de água lamacenta. Não pode fazer mais que chorar.
«Meu filho!» Ouviu uma voz que lhe era familiar e lhe cortou o coração. «Onde está a água que me tinhas ido buscar?
Estive à espera mais de meia hora.»
Närada virou-se para trás. Em vez de agua viu o deserto luminoso sob o sol do meio-dia. O deus estava de pé, junto do
seu ombro. As curvas cruéis da sua fascinante boca, ainda sorridentes, deixaram escapar suavemente uma pergunta:
«Compreendes agora o segredo da minha Mäyä (ilusão)?»
H.Zimmer citando Ramakrishna em Mitos e Símbolos na Arte e Civilização Indianas. E. Assírio & Alvim
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Criado em: 29 May, 2017, 10:59
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