Projeto de um Sistema de Medição e Circuitos de Interface Integrados para Caracterização de Células de Memória de Corrente Chaveada Adriano M. Pereira1, Robson L. Moreno1, Alberto Martins Jorge2, Edgar Charry R. 3 1- Grupo de Microeletrônica - Escola Federal de Engenharia de Itajubá (EFEI) Caixa Postal 50 - CEP 37500-000 - Itajubá, MG - Brasil 2- DEMIC - Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação - UNICAMP Caixa Postal 6101 - CEP 13081-970 - Campinas, SP - Brasil 3- Divisão de Microeletrônica, CPqD - Telebrás Caixa Postal 1579 - CEP 13088-061 - Campinas - SP - Brasil entrada e o dispositivo de saída de um espelho. Abstract - Dynamic current mirrors, or SI memory cells, are widely used in analog signal processing circuits, which can be implemented using any standard cell metodology, if an SI cell´s library is available. Aiming the creation of that library, this work presents the project of the measuring system and the interface circuits (on chip) necessary to test the SI cells, having a precision of 450ppm and a clock rate of 3MHz. Measurements performed on the prototypes of the interface circuit (V/I converter) show a 68dB signal-tonoise ratio and a total harmonic distortion of 0.04%. Ib S2 S3 Iin φ1 Iout φ2 S1 φ1 M1 1- Introdução Clock Phases Em espelhos de corrente convencionais, há a necessidade de pelo menos dois transistores. No transistor de entrada, conectado como diodo, é aplicada uma corrente Iin, a qual gera uma tensão gatesource de referência. Esta tensão é aplicada ao gate do transistor de saída, o qual drena uma corrente Iout. Se os dois transistores tiverem a mesma área e forem perfeitamente casados, a corrente Iout será igual a Iin. Portanto, os espelhos convencionais dependem muito das variações no processo de fabricação e geralmente exigem transistores grandes para um bom casamento. Isto, além de aumentar a área do circuito, também diminui a máxima frequência das correntes a serem espelhadas, devido ao aumento das capacitâncias dos transistores. Nos transistores MOS existe um isolamento quase perfeito no eletrodo de gate. Por isto, estes dispositivos tem a capacidade de armazenar temporariamente alguma informação analógica nos capacitores de gate. Esta propriedade é a base para o funcionamento do espelho de corrente dinâmico, ou célula de memória de corrente chaveada (célula SI). A Fig. 1 mostra a célula de memória básica. O seu funcionamento consiste em aplicar os sinais de clock φ1 e φ2, de forma que o transistor M1 seja sequencialmente conectado como o dispositivo de φ1 φ2 Figura 1 : Célula de memória de corrente básica e sinais de controle. Na célula básica (Fig. 1), inicialmente as chaves S1 e S2 estão fechadas (φ1 em nível alto), fazendo com que a capacitância gate-source (CGS) de M1 se carregue com uma tensão tal que a corrente de dreno de M1 seja igual a Iin. Após isto, as chaves S1 e S2 se abrem e S3 se fecha (φ1 em nível baixo e φ2 em nível alto), conectando o transistor M1 como dispositivo de saída. A tensão que foi memorizada na primeira fase faz com que M1 drene uma corrente Iout igual a Iin. Assim, utilizando o mesmo transistor como dispositivo de entrada e de saída, o problema de casamento ou linearidade de capacitores ou transistores desaparece, ou seja, há uma insensibilidade às variações de processo. Como nas células de memória de corrente chaveada (SI) o único componente requerido é o transistor MOS, os circuitos SI são totalmente compatíveis com processos CMOS digital padrão. Por estas e outras vantagens, as células SI são muito utilizadas em aplicações na área de processamento de sinais. As que tem sido reportadas na literatura, enfatizam que os circuitos possuem pequena área e baixo consumo [1,2,3]. Os fatores limitantes à precisão desses espelhos são, principalmente, a injeção de carga e o clock feedthrough no capacitor de memorização do gate e a condutância de saída das células SI. A injeção de carga é minimizada usando chaves cuidadosamente projetadas e controlando algumas tensões de gate [4,5,6]. O efeito da condutância de saída é reduzido com estruturas cascode [7,8] ou conveyor de corrente [6]. Utilizando-se destas e de outras técnicas para corrigir as não idealidades da memorização da corrente, é possível obter células SI com precisão da ordem de 50ppm [6]. 2-Biblioteca de células de memória SI para utilização em circuitos analógicos de processamtento de sinais As células de memorização de corrente apresentam uma enorme gama de aplicações, tais como redes neurais [9], filtros[10], conversores D/A [2] e A/D [6,9,11], sendo a célula SI o circuito principal nestes casos. Em tais circuitos o sucesso do projeto depende basicamente do bom desempenho da célula de memória em relação a precisão DC, distorção harmônica, frequência de chaveamento, etc. Para realizar simulações elétricas destes circuitos que utilizam várias células, toma-se muito tempo e surgem muitos problemas de convergência, devido ao chaveamento das correntes. Além disso, o principal problema da célula de memória, a injeção de cargas, não é bem modelado pelo simulador, tornando difícil prever a precisão da célula através de simulações. Se considerarmos a célula de memória previamente caracterizada, é possível utilizá-la como um bloco de uma biblioteca, tal como um flip-flop ou uma porta lógica, em um circuito standard cell. Tornase possível, desta forma, o projeto de circuitos mais complexos (p. ex. um ADC) utilizando quase que somente um simulador funcional (HDLA). Com isto, há um aumento da probabilidade de sucesso de um projeto na primeira tentativa, bem como uma redução da complexidade e do tempo de projeto. Para que seja viável criar uma biblioteca de células de memória de corrente, seria necessário: 1.1) Investigar os problemas que acarretam erros na memorização da corrente, definir alternativas para minimizá-los e criar uma metodologia de projeto (um conjunto de equações e recomendações), tal que, dada uma série de especificações iniciais para uma determinada célula, seja possível um projeto rápido. 1.2) Uma vez projetada a célula, deve-se projetar e montar um sistema de medição que permita a completa caracterização da célula, para verificar se o projeto atingiu as especificações iniciais. O item 1.1 foi abordado em um outro trabalho, também submetido ao XII Congresso da SBmicro. Neste trabalho pretende-se abortar o item 1.2. Nos itens posteriores, serão vistas as dificuldades de se caracterizar uma célula de memória, bem como o projeto e os resultados experimentais dos circuitos adicionais (integrados) necessários na realização das medições para a caracterização. Também será visto a montagem do sistema de medição e os procedimentos para a caracterização de células de memória de corrente operando a frequência de até 3MHz e precisão da ordem de 450ppm (~ 11 bits). 3-Settling time da célula de memória e soluções para a medição das correntes de entrada e de saída A célula SI faz a memorização da corrente de entrada através da carga do capacitor do gate do transistor conectado como diodo. Se a carga do capacitor não se completar durante a fase de amostragem (chave S1 e S2 fechadas na Fig. 1), o capacitor gate-source do transistor M1 armazenará um valor de tensão errado e, consequentemente, gerará um erro de corrente. Isto significa que, dado um valor de erro máximo para a tensão de memorização do capacitor, a duração da fase de amostragem (φ1 da Fig. 1) deve ser tal que permita não ultrapassar este erro. A equação que relaciona a duração da fase de amostragem (Tφ1), o erro de memorização (εT) e a constante de tempo para a carga do capacitor (TS) é mostrada abaixo [6]. Tφ1=[(ln(2/εT) + ln(1+ln(2/εT))].TS (1) Considerando-se a célula operando no regime sobre-amortecido (relação de amortecimento maior que 1), os polos da célula de memória serão reais e podem ser aproximados pelas equações 2 e 3 [5,6]. gm 1 p 1 = – ---- ≅ -------------------τ d Cg + Cd (2) 1 gx ⋅ ( Cg + Cd )p 2 = – ---- ≅ ------------------------------------Cg ⋅ Cd τp (3) Referindo-se a Fig. 1, gx representa a condutância da chave de amostragem fechada (S1), sendo que gx é muito maior que a impedância de saída da célula; gm é a transcondutância do transistor M1; Cd é a soma de todas as capacitâncias parasitas no nó de entrada da corrente amostrada (inclusive capacitâncias das chaves) e Cg a soma das capacitâncias no gate de M1. Considerando a soma Cg+Cd igual CI (capacitância de entrada da célula), a constante de tempo da célula pode ser aproximada pela equação 4. A constante de tempo é que vai definir a duração mínima do sinal φ1 para uma dada precisão da célula SI, de acordo com a equação 1. CI Ts1 ≅ τ d ≅ -----gm (4) No projeto da célula SI, na fase de simulação elétrica, são consideradas apenas as capacitâncias intrínsecas aos transistores da célula e algumas parasitas devido a layout, obtendo-se, desta forma, a frequência de operação da célula especificada. No entanto, na caracterização das células, são introduzidas as capacitâncias dos instrumentos e pontas de prova, os quais são utilizados para realizar as medições e definir a precisão (AC e DC) da célula SI. Assim, na fase de caracterização, é preciso tomar alguns cuidados para aplicar ou medir a corrente de entrada ou de saída da célula, evitando aumentar a constante de tempo. A Fig. 2 mostra o circuito equivalente de uma célula de memória SI (em termos de capacitância e impedância) na fase de amostragem, considerando que vai se aplicar a corrente diretamente na célula. Na Fig. 2, CF representa a capacitância de saída da fonte Iin e CP as capacitâncias de conexões, encapsulamento e do pad de entrada. Desta forma, a constante de tempo passaria a ser: C I + CP + C F Ts 2 ≅ τ d ≅ ------------------------------gm (5) Vdd Iin CHIP Pad CF CP CI 1/gm Figura 2: Circuito equivalente da célula de memória na fase de amostragem Esta nova constante de tempo inviabilizaria a operação da célula a altas frequências. Por exemplo, para uma precisão da célula de 250ppm, a duração da fase φ1 seria de 11.5 vezes a constante de tempo Ts2 (equação 1). Adotando-se gm=100µA/V, CP=1pF, CF=8pF e CI=2pF, a duração mínima de φ1 seria de 1.265µs. Para φ2 igual a φ1, a frequência máxima de operação da célula seria de 395 KHz. Para medir a corrente de entrada, poderia-se utilizar um amperímetro, mas este aumentaria o nível de ruído da célula . Uma solução melhor é a utilização de um resistor no caminho da corrente de entrada. Convertida para tensão, pode-se medi-la utilizando-se voltímetros ou osciloscópios, altamente precisos, calibrados e com a capacitade de fazer a média do sinal de entrada, o que reduziria as variações do sinal devido ao ruído. Apesar disso, ambas montagens provocariam a redução da frequência máxima de operação da célula, devido ao aumento da constante de tempo. A solução para não aumentar a constante de tempo, quando se aplica ou se mede a corrente de entrada, está na utilização de um conversor tensãocorrente (V/I) integrado, como mostrado na Fig. 3. VM1 R1 VB Vin V/I S4 φ2 Iin IB S3 S2 φ1 φ1 S1 Iout φ2 MN CHIP VM2 R2 Figura 3: Solução para aplicar e medir a corrente de entrada Na Fig. 3, VM1 e 2 são voltímetros, R1 e R2 são resistores de precisão e MN, juntamente com as chaves e IB, formam uma célula de memória de corrente chaveada (SI). A célula SI opera com correntes de entrada positivas e negativas, o que leva a necessidade de projetar o conversor V/I com um estágio de saída push-pull. Aplicada uma determinada tensão DC na entrada do conversor V/I, para medir a corrente de entrada basta subtrair a corrente de R1 (leitura de VM1 dividida por R1) da corrente de R2 (leitura de VM2 dividida por R2). Se os voltímetros possuirem controle do tempo de integração, pode-se reduzir a influência do ruído na medida. Deve-se notar que, para utilização dos voltímetros ao invés de osciloscópios, a corrente deve ser constante no estágio push-pull, daí a necessidade de utilizar a chave S4 e o bloco VB, que formam um caminho para a corrente quando a chave de entrada da célula está aberta. Para se medir a corrente de saída, pode-se também utilizar um resitor, ligado entre a saída da célula SI e uma fonte DC. A Fig. 4 ilustra o procedimento. Ao contrário da corrente de entrada, não há como se manter a corrente de saída sempre fluindo, daí a necessidade do osciloscópio para monitorar a variação de tensão naquele ponto. Os efeitos das capacitâncias parasitas discutidos até aqui, acarretam o aumento da duração da fase de amostragem (φ1). De forma análoga, elas afetam a duração da fase φ2 (fase de retenção) na medição da corrente de saída. Se a célula utiliza circuitos regulated cascode [7], a impedância de saída da célula é muito maior que Rout (Fig. 4). Desta forma, pode-se mostrar que a constante de tempo que limita a fase φ2 é dada por: Ts φ2 ≅ C P ⋅ Rout (6) IB Iin S3 S2 φ1 φ1 S1 φ2 MN Iout Rout VoutDC Osciloscópio CHIP Figura 4: Medição da corrente de saída Principalmente para valores mais altos de Rout (necessário para correntes menores), a constante de tempo aumenta, fazendo com que a duração da fase φ2 aumente também (equação 1). Desta forma, é necessário o projeto de um circuito de interface (como um conveyor de corrente), para tornar possível medir a corrente de saída. No entanto, este circuito não é tão simples como o conversor V/I para a corrente de entrada. Isto porque o circuito de interface para a corrente de saída, deve operar na frequência de chaveamento da célula (MHz) e não na frequência do sinal de entrada (DC ou KHz). Como pretende-se caracterizar células de memória operando a frequência de até 3MHz e precisão de 11 bits (item 2), seria extremamente complexo desenvolver um conveyor de corrente para operar nestas condições, principalmente em um processo CMOS digital padrão. Nas aplicações onde a célula SI é utilizada, a corrente é passada de uma célula para outra, ou seja, a fase φ2 de uma é a fase φ1 da outra. Desta forma, a duração das fases deve ser a mesma, sendo que esta duração é definida pela fase φ1 (tempo de carga do capacitor de memorização). Portanto, na caracterização da célula, o importante é definir a duração de φ1. Pode-se, então, dispensar a interface para medição da corrente de saída e fazer a duração de φ2 maior que φ1, sem comprometer a medição da frequência máxima de operação da célula. Infelizmente, esta simplificação na medição da corrente de saída minimiza o erro devido a impedância de saída da célula SI. Isto porque a impedância diminui com o aumento da frequência do sinal de saída e a frequência de φ1 é maior que a de φ2. Desta forma, para não gerar um erro na medição da corrente de saída, deve-se corrigi-la, somando o erro devido a impedância da célula na frequência de φ1. Para isto, basta levantar a curva do erro devido a impedância da célula em função da frequência (item 4). 4- Sistema de medição Para utilizar a célula como um bloco de uma biblioteca, como visto no item 2, é preciso caracterizála através da medição de pelo menos as seguintes grandezas: consumo, precisão DC, distorção harmônica (THD), relação sinal/ruído, frequência máxima de chaveamento (para um determinado erro), impedância de saída e compliância da tensão de saída. Para realizar estas medidas, é necessário realizar um sistema de medição e seguir uma sequência de procedimentos que serão descritos neste item. O sistema de medição deverá ser capaz de caracterizar células operando a frequência de até 3MHz e precisão de 450ppm. Para medição das correntes de entrada e de saída da célula, deve-se utilizar as recomendações do item 3. Um sistema que permite a medicão de todas as grandezas necessárias para a caracterização da célula de memória de corrente (mencionadas anteriormente), é mostrado na Fig. 5. Na figura, VM1 e 2 são voltímetros, Oscilos. 1 e 2 são osciloscópios, Gerador 1 e 2 são geradores de sinais senoidais e DC variáveis, V/I é um conversor tensão-corrente integrado com estágio de saída push-pull, R1 a R3 são resistores de precisão de diversos valores e MN, juntamente com as chaves e IB, representa a célula de memória de corrente chaveada (SI) a ser caracterizada. A linha pontilhada representa a separação dos elementos que estão fora e dentro do chip a ser caracterizado. VM1 R1 VB Gerador AC-DC 1 S4 φ2 Iin V/I IB φ1 φ1 S1 CHIP VM2 S3 S2 Iout φ2 MN R3 Gerador AC-DC 2 Oscilos. 1 Buf R2 Oscilos. 2 Figura 5: Sistema de medição para caracterização de células de memória de corrente chaveada Para medição de cada uma das grandezas para caracterização da célula SI, deve-se seguir os procedimentos abaixo. - Erro devido à impedância de saída: Mesmo com a utilização de circuitos regulated cascode [7], a impedância de saída da célula não é infinita e, portanto, as variações na tensão de saída da célula, provocam um erro de corrente. Como a impedância varia com a frequência, o erro deve ser medido em função dela. A curva resultante desta medida é também importante para correção da corrente de saída (item 3). Este erro deve ser medido na fase de retenção (φ2), mas não se pode travar a célula nesta fase (para não descarregar o capacitor de memorização). A solução é aumentar a duração da fase φ2 e utilizar o Gerador 2 (Fig. 5) para variar a tensão de saída em uma determinada frequência e medir a corrente (Oscilos 1). Inicialmente, a frequência deve ser menor que 1/Cp.Rout (equação 6). Aumentando-se a frequência, a diferença observada na corrente de saída é o erro devido a impedância da célula nesta nova frequência. Pode-se, também, traçar a curva da impedância da célula em função da frequência (a partir de valores maiores que 1/Cp.Rout Hz). Se a amplitude da tensão de saída for 1V (Gerador 2), a variação observada na corrente de saída é a própria condutância de saída da célula. se ter a amplitude de corrente máxima na saída do conversor V/I (voltímetros VM1 e 2). O Gerador 2 deve ser ajustado em 2.5V e o valor de R3 deve ser tal, que a queda de tensão não seja maior que compliância da tensão de saída. O osciloscópio 1 (Oscilos. 1 da Fig. 5) deve ser substituido por um analisador de sinais, conectado ao mesmo ponto, para calcular as harmônicas do sinal de saída da célula SI. Estas harmônicas devem ser comparadas com o espectro da corrente de saída ideal (sem erros), para calcular a distorção introduzida pela célula SI. Isto ocorre porque mesmo que a distorção introduzida pela célula fosse zero, o analisador de sinais mostraria várias harmônicas, pois a corrente de saída não é constante (retorna para zero durante a fase φ1 alta). - Compliância da tensão de saída: A compliância da tensão, ou faixa dinâmica, deve ser medida para valores DC. Portanto, pode-se utilizar o mesmo procedimento descrito para medição do erro devido a impedância da célula. Porém, no Gerador 2, deve-se aplicar um valor DC e variar sua amplitude de 0V a 5V. Dentro de uma faixa central, as variações na corrente de saída devem ser praticamente zero. Fora desta faixa, ocorrerá um aumento do erro. A compliância será a faixa de valores para a tensão de saída, na qual a variação da corrente é desprezível. - Relação sinal/ruído: A relação sinal/ruído (SNR), juntamente com a distorção harmônica, definem a precisão AC da célula SI. Assim como no caso da distorção harmônica, a relação sinal/ruído do conversor V/I deve ser maior que a relação a qual se pretende medir na célula SI, ou seja, maior que 68dB. O procedimento para a medição pode ser o mesmo utilizado para a distorção harmônica, sendo que, neste caso a SNR pode ser calculada diretamente do analisador de sinais. - Precisão DC: A precisão DC da célula, que é uma das grandezas mais importantes a serem medidas, consiste em se medir as correntes de entrada e saída da célula, para calcular o erro entre elas. O cálculo do erro deve ser feito para uma determinada frequência de chaveamento e para toda a faixa da corrente de entrada da célula. Conforme explicado do item 3, não é possível aplicar uma fonte de corrente diretamente a célula SI. Por isso a necessidade do conversor V/I (dentro do chip) para fazer a interface de entrada. Aplicando-se uma tensão DC no Gerador 1, pode-se medir a corrente pelos voltímetros VM1 e 2. A medição da corrente de saída deve ser corrigida, conforme mencionado no item 3, somando-se o erro devido a impedância de saída. O valor da tensão de saída (Gerador 2), deve ser setado para cada valor da corrente de entrada, de forma que as variações no ponto de ligação do Oscilos. 1, fiquem em torno 2.5V. A precisão (%) será: [(Iout-Iin)/Iin].100 - Distorção harmônica: A distorção introduzida pela célula SI é um fator importante em muitas aplicações [9,10,12]. Como pretende-se caracterizar células com precisão da ordem de 450ppm, a distorção harmônica total (THD) introduzida pelo conversor V/I, deve ser menor ou igual a 0.04%, para não comprometer a medida da THD da célula SI. Para medir a distorção da célula, deve-se ajustar um nível DC no Gerador 1, de forma a Outra medição interessante que pode ser realizada é o erro devido a injeção de carga. Isto pode ser válido para determinar a eficiência da compensação utilizada. A medição pode ser feita utilizando-se um seguidor de tensão de ganho AC unitário (Buf da Fig. 5). O offset do seguidor não causa problemas, pois o importante é a variação AC observada em Oscilos. 2 (Fig. 5), portanto, o projeto deste circuito não é complexo. 5- Projeto da interface para a corrente de entrada Conforme visto nos itens anteriores, a interface para a corrente de entrada é o circuito principal necessário para a completa caracterização de células de memória de corrente. Esta interface, basicamente, consiste de um conversor tensão-corrente (V/I). Como o sistema de medição será utilizado para caracterização de células de corrente chaveada com precisão de até 450ppm (item 2), o conversor V/I terá as seguintes especificações: - Distorção harmônica total menor ou igual a 0.04%. - Relação sinal/ruído (SNR) maior que 68dB. - Operar com correntes de saída positias e negativas, de até 150µA. Para implementar este conversor V/I, optou-se por utilizar um conveyor de corrente [13], pois ele permite operar com correntes positivas e negativas (estágio de saída push-pull). A Fig. 6 mostra um conveyor de corrente básico. O conveyor é um circuito, em termos ideais, no qual a corrente aplicada no nó X é "seguida" pela corrente do nó Z, da mesma forma que a tensão do nó X segue a tensão aplicada ao nó Y. Esta última propriedade pode ser melhorada no circuito da Fig. 6, introduzindo-se um amplificador operacional no circuito [13]. Desta forma, io é igual à -ii , sendo io igual a id8 + id6 . A divisão da corrente de entrada entre os transistores M2 e M4, considerando os transistores casados, operando na região de saturação e com transcondutâncias (quiecentes) iguais, pode ser dada por [13] : id4 = (4.IB + ii )2 / (16.IB) , para ii < 4.IB (7) id2 = (4.IB - ii )2 / (16.IB) , para ii < 4.IB (8) Neste circuito, se o ganho do operacional for elevado, a corrente ii (que entra no nó X) é dada por VIN/RREF , considerando Vdd/2 como o terra analógico. De acordo com algumas simulações realizadas, para que a corrente de saída apresente uma distorção menor de 0,02%, o ganho de tensão em malha aberta do operacional deve ser maior que 55dB (na frequência do sinal Vin) e a impedância vista pelo ponto X menor que 1KΩ, No circuito completo do conversor V/I, os transistores M5, M6, M7 e M8 (Fig. 7), foram substituídos por circuitos regulated cascode [7]. Com isto, a impedância de saída do conversor V/I ficou em torno de 500MΩ. Os transistores M11 e M12 também foram substituidos por circuitos regulated cascode, para aumentar o ganho de tensão em malha aberta (Av) do operacional. Onde id2 e id4 são as correntes de dreno de M2 e M4, respectivamente. Quando a corrente de entrada é maior que 4.IB , o circuito continua funcionando corretamente, mas um dos espelhos passa a drenar toda a corrente, enquanto o outro está cortado. Vd M9 VB2 M5 M6 IB Vdd Vdd M2 M1 VB1 M15 Y ISS ii M5 M13 M14 RC VIN CC M7 Vdd/2 M2 M11 Y X M8 M10 M12 Z ii M3 M4 M6 RREF M1 Z io M3 IB X io M4 Figura 7: Circuito simplificado do conversor V/I utilizado como interface para caracterização da célula de memória SI. Figura 6: Conveyor de corrente O circuito regulated cascode possui uma impedância de saída cerca de 70 vezes maior que os circuitos cascode convencionais [7], com a vantagem de poder operar com uma tensão de saída 35% menor que a tensão mínima dos circuitos cascode convencionais (no caso de circuito NMOS) [7]. A Fig. 8 mostra o circuito regulated cascode utilizado. Dependendo da forma que é configurado, o conveyor de corrente pode ser utilizado em diversas outras aplicações além do conversor V/I, tais como amplificador de corrente, buffer de corrente, integrador, somador, etc. [13]. A Fig. 7 mostra o conveyor de corrente configurado como um conversor V/I. No circuito da Fig. 7, o amplificador operacional para melhorar a propriedade de seguidor de tensão (mencionado anteriormente), também é mostrado. Como se deseja que o conversor V/I apresente baixa distorção, torna-se necessário a utilização deste amplificador operacional. Figura 8: Circuito regulated cascode M7 M8 IB As dimensões dos transistores do amplificador operacional foram definidas com base em [14] e [15], que são estudos para se obter operacionais de baixo ruído. Isto foi feito para não comprometer a relação Sinal/Ruído do conversor V/I. As correntes de polarização do operacional e do conveyor (Iss e IB da Fig. 7), foram setadas para 80µA e 50µA, respectivamente. Com isto, o operacional apresentou as seguintes características nas simulações elétricas realizadas: Av=92dB, Margem de Fase=590, F-3dB = 1KHz e FT=16MHz. A relação de áreas dos transistores M1, M2 e M3, M4 foi de 1 para 2. Com isto, a impedância vista pelo ponto X foi de 770Ω e a distorção harmônica total (THD) do conversor V/I foi de 0,01% , para io (Fig. 7) variando de -150µA a 150µA (RREF =510Ω). A Fig. 9 mostra o layout do circuito, o qual foi enviado para fabricação na foundry AMS, utilizando processo CMOS 1.2µm. A amplitude da tensão de entrada foi ajustada para uma corrente de saída de 300µA pico a pico. Pode-se ver que as componentes harmônicas e o nível do ruído estão mais de 70dB abaixo da fundamental, e portanto, satisfazendo a relação sinal/ruído especificada (> 68dB). A distorção harmônica total (THD) média das amostras ficou em 0.04%, também satisfazendo a THD especificada. Esta distorção mantém-se aproximadamente constante até 200KHz. Comparado com as simulações, a THD medida foi bem superior, mas isto se deve ao equipamento utilizado para gerar a tensão de entrada do conversor V/I. Até o término deste trabalho, não tinha sido possível utilizar um gerador que apresentasse mais que 70dB entre a fundamental e as componentes harmônicas de distorção. O problema do aumento da distorção para frequência superior a 200KHz, também se deve, em parte, ao gerador. 7- Conclusão Figura 9: Layout do conversor V/I utilizado como interface para caracterização da célula de memória SI. 6-Resultados experimentais do conversor V/I Foram analisadas vinte amostras do conversor tensão corrente (V/I). A saída do conversor foi ligada a um resistor (Rout) de mesmo valor de RREF (Fig. 7) e Rout foi conectado a uma fonte DC de 2.5V. O espectro medido do sinal de saída (Rout.io) é mostrado na Fig. 10. Foi visto que devido a enorme gama de aplicações onde as células SI são empregadas, tais como redes neurais [9], filtros[10], conversores D/A [2] e A/D [6,9,11], torna-se interessante a implementação de uma biblioteca de células de memória de corrente chaveada. Considerando-se a célula SI como um bloco de uma biblioteca, tal como um flip-flop ou uma porta lógica, as aplicações onde ela é utilizada podem ser implementadas empregandose uma metodologia “standard cell”. Além disso, torna-se possível o projeto de circuitos mais complexos utilizando quase que somente um simulador funcional (HDLA). Para viabilizar a implementação desta biblioteca, foi visto o projeto de um sistema de medição e dos circuitos de interface necessários para caracterização de células SI com precisão de 450ppm e frequência de operação de 3MHz. Para realização deste sistema, concluiu-se que era fundamental o projeto de uma interface de entrada para caracterização das células. Medições realizadas nos protótipos do circuito de interface (conversor V/I), indicaram uma relação sinal/ruído maior que 68dB e uma THD de 0.04%. 8- Bibliografia [1] D. G. Nairn, C. A. T. Salama, “Current-Mode Algorithmic Analog-to-Digital Converters”, IEEE Journal of Solid-State Circuits, vol. 35, n. 4, August 1990. Figura 10: Espectro do sinal de saída (io=300µApp) para o sinal de entrada em 50KHz [2] D. W. J. Groeneveld, H. J. Schouwenaars, H. A. H. Termeer, C. A. A. Bastiaansen, “A Self-Calibration Technique for Monolithic High-Resolution D/A Converters”, IEEE Journal of Solid-State Circuits, vol. 27, n. 5, December 1989. [3] A. M. Cujec, D. G. Nairn, C. A. T. Salama, “An Optimized Bit Cell Design for a Pipelined CurentMode Algorithmic A/D Converter”, Analog Integrated Circuits and Signal Procesing, K. A. P., Vol. 3, n. 2, March 1993. 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