Os estágios enquanto momento de formação e prática para o exercício profissional do ensino de Filosofia e Ciências Sociais O que constitui o fazer pedagógico dos estagiários e do professor responsável do acompanhamento e avaliação dos estágios em Filosofia e Ciências Sociais na UFES?1 A prática do professor em revista . Antes de tudo é necessário dizer que o ensino de Filosofia apresenta uma característica própria e uma natureza pedagógica polêmica e difusa. A literatura acerca desse ensino nesse momento, em plena expansão, apesar de não ser abundante, já expressa uma dupla complexidade: uma complexidade enquanto campo cientifico e uma complexidade de torná-la objeto das ciências da educação. Na grade curricular das escolas, a Filosofia e a Ciências Sociais não têm um estatuto de disciplina, não possuem um eixo temático ou mesmo uma proposta curricular unificada. Tanto uma quanto a outra não são consideradas disciplinas obrigatórias para as escolas. Além disso, geralmente, não podem reprovar e raramente são colocadas na grade curricular com duas aulas semanais para cada uma. Isso ocorre tanto na rede pública quanto na rede privada de ensino. Essas disciplinas, quando adotadas pelas escolas, funcionam, geralmente, com uma única aula por semana. Temos, portanto, uma situação com muitas especificidades, o que gera algumas dificuldades para operacionalização do estagio curricular supervisionado para o curso de licenciatura nas ciências aqui mencionadas. Assim, mesmo que a escola seja grande, o orientador de estágio - UFES terá que contar com outras escolas, geralmente, distantes para desenvolver seu trabalho com os estagiários. E importante destacar que, mesmo em face dessas dificuldades, as atividades desenvolvidas na disciplina Estagio Supervisionado em Filosofia e em Ciências Sociais têm procurado adaptação a esse contexto de valorização do trabalho de estagio, por meio de um projeto que prioriza o mergulho do estagiário no campo escolar. Como o número de oportunidades junto ao aluno é reduzido, o estágio torna-se, necessariamente, mais lento, assim como as oportunidades de reunião com o professor na escola mais raras. Levando em consideração esses problemas, o acompanhamento se faz na modalidade individual ou por duplas. Mas o trabalho escrito sobre uma situação identificada pelo estagiário é individual e sempre acompanhado de estudo bibliográfico. Esse trabalho precede ao relatório final individual. Apresentamos a seguir um quadro que resume as etapas e a distribuição da carga horária de 120 horas nas duas disciplinas de Estágio Supervisionado : 1 Professor João Assis Rodrigues Mestre em Educação ufes, Mestre em educação Louvain e doutorando em educação Louvain Bélgica. 1 Organização das atividades de estágio em filosofia e/ou ciências sociais Periodo/ Semestr Mês 1 32 horas Semanas 1° e 2° semanas 3° e 4° semanas Mês 2 32 horas 4 semanas Mês 3 32 horas 4semanas Mês 4 24 horas 1° e 2° semanas 3° semana Atividades na Ufes Aulas instrumentalização na UFES Definição da escola prep. do plano de trabalho Uma reunião quinzenal na UFES visitas agendadas aos estagiários Uma reunião quinzenal na UFES visitas agendadas aos estagiários Seminários avaliação Ufes Entrega e avaliação dos relatórios Atividades na Escola Visita de conhecimento e definição da escola. Encontro com os responsáveis pedagógicos O estagiário se consagra plenamente ao seu trabalho na escola Consagração plena ao estagio na escola Atividades finais de encerramento dos estágios Nos casos onde coincide de o aluno já trabalhar com a disciplina, adotamos para esses alunos a modalidade de formação continuada. Nesse caso, a lógica formativa é diferente. Não existe um programa a priori. E o aluno quem coloca as necessidades, prepara seu projeto e gere seu processo. O papel do professor orientador de estágio consiste em acompanhar e intervir no sentido de elevar o nível de exigência no domínio dos conceitos, de situações práticas e de pertinência teórico-prática. Não são raros os casos em que temos que enfrentar. Um deles por exemplo, o abandono da escola por parte do professor responsavel pela disciplina na escola, o campo nos obriga a interromper o estágio na escola pois não permitimos que o aluno estagiário substitua o profissional. Porque ele é um aprendiz. O que os alunos dizem apos a passagem pelo período de estágio.? “O estágio não é experimentação, nem observação, nem aplicação. Ele é muito mais que isso”. “O espaço de estagio nunca esta pronto é algo a ser construído.” “O estágio é um período de vivência de forte aproximação e vivência do profissional. E’ co-responsabilidade”. “A carga horária de 120 horas não prepara o profissional.” Dessa forma, os estágios em Filosofia e em Sociologia vêm se firmando devagar e conquistando espaço dentro de uma conjuntura escolar ainda “alérgica” a esses conhecimentos. Os sistemas escolares e também o mercado de trabalho ainda não se abriram criando uma demanda real a esses conhecimentos. Esses conhecimentos ainda não experimentaram a “democracia brasileira”. Se o campo das experiências é limitado, é preciso, ainda, considerar a especificidade do ensino noturno considerando as condições de operacionalização do estágio noturno. Pensamos que o período de experiência profissional do estagiário, tanto em Filosofia quanto em Sociologia, merecem uma discussão urgente e não apenas em nível dos setores institucionais que oferecem as disciplinas de fim de curso. Essa discussão deveria ter como alvo os aspectos longitudinal e integrativo que, por sua vez deveriam conduzir as reflexões no curso de 2 licenciatura em Filosofia e em Ciências Sociais, ja que a maioria dos professores e dos alunos dos dois cursos aqui mencionados têm demonstrado desconhecerem o contexto dessas experiências e o campo onde os estagiários vão atuar. Mal sabem como funcionam essas “disciplinas” na escola. Por isso promovem a formação teórica abstraída do universo ativo dos homens (destituída de realismo) e portanto sem fugir ao iluminismo tradicional. O estagio é visto pelo aluno como um momento mágico de realização da grande metamorfose. Ha ainda outros problemas muito ligados ao fato de que os nossos cursos de licenciatura, não apenas os aqui mencionados, seguem um modo de organização e funcionamento compartimentado. Assim, ha o problema da quebra dos pré-requisitos. Sera que deveriamos ignorar as etapas epistemológicas, os níveis de conhecimentos? Sera qu os estágios ofereceriam a “formula magica”. Que prontifica o estagiário-professor para o exercicio da profissão?2 Os cursos de Filosofia e Sociologia são cursos noturnos3. A quase totalidade dos alunos da graduação trabalham em profissões diversas e cerca de 50% dos alunos notadamente de filosofia, fizeram a reconciliação com o ensino superior. Esses alunos estão disponíveis a realizarem seus estágios em horário noturno (o que é óbvio). Ora, seguindo essa lógica, os coordenadores e os colegiados de curso deveriam reconhecer a peculiaridade da formação e não misturar o dia de estagio com aulas regulares do curso na UFES. A concomitância de carga horária de estágio com a carga horária de aulas na universidade tem sido um problema que obstaculiza grande parte do estagio e os Departamentos de origem ainda não se atentaram para isso. Portanto o nosso modo de tratar a formação do professor que repercute no espaço-tempo de preparação, não favorece ao realismo da formação do profissional. Além da problemática acima citada, colocamo-nos contrário a idéia de uma expansão do numero de alunos para cada turma de estágio, sem que primeiro discutamos qual filosofia da educação fundamentaria as praticas de ensino/estágio, em quais condições e como as diferentes praticas se situariam. Outras interrogações, não menos pertinentes, teriam que ser colocadas: são elas: - Até quando vamos assistir o descompasso ou a contradição entre o aumento do número de alunos combinado com a diminuição do número de professores? - Como solucionar, de uma vez por todas, o problema do grande número de professores substitutos4 que assumem a metade do volume de aulas em certos departamentos da UFES?. 2 O curso de Ciências Sociais não considera a formação didática como necessária e preparatória ao estagio. Mas ha outros cursos de licenciatura na UFES utilizando uma logica aleato’ria para a matricula dos alunos nas cisciplinas do curso de licenciatura. 3 No ano de 2000 o curso de Ciências Sociais UFES passou a oferecer o curso para turmas regulares no horário vespertino. 4 Não somos contra a existência de professores contratados, convidados o que repudiamos é o enorme desfalque, a falta de recomposição dos quadros efetivos da UFES e a política de contratação temporária mantida pelo governo federal que é, instável e que confere ao professor substituto um estatuto deplorável e um salário de fome. 3 - Sob quais elementos teórico-metodológicos apoiaremos uma educação onde a quantidade seja colocada a serviço da qualidade? Penso que estamos apontando para uma problemática que evoca antes de tudo a redefinição de paradigmas, de uma filosofia de educação institucional, de novos rumos das licenciaturas no que tange a metodologias que envolvem o fazer pedagógico num contexto de formação profissional. Nessa direção entendemos que a compreensão dessa problemática que a Universidade não esta desvinculada da redefinição dos rumos dos estágios, da definição do número de alunos, da carga horária, de parcerias para o exercício real dos estágios, bem como de requisitos necessarios que assegurem ao estagiário para que ele não caia de pára-quedas nos e consequentemente nas escolas. Acreditamos que os aspectos levantados se colocam como fundamentais para nortearem discussões e formulações de politica de formação de profissionais da educação em especial das areas de Filosofia e Ciências Sociais para termos em perspectiva, o exercício de uma educação com qualidade, articulada ao papel da Universidade. Ou seja, uma formação não divorciada da pesquisa e da extensão. Penso que é muito útil que nos reunamos com o objetivo de discutir diretrizes e parâmetros que nos levem a mudanças efetivas e não apenas remendos institucionais. Creio, também, que o nosso esforço de discussão nos impulsiona a fazer a nossa parte. Que possamos discutir mudanças, apontando novas propostas que constituam linhas norteadoras para um projeto pedagógico e institucional que contribua efetivamente na qualidade da formação do professor para atuar no ensino de Filosofia e Ciências Sociais. João Assis Rodrigues Prof do Departamento de Didática e Pratica de Ensino 4