Carga Tributária e Produto Interno Bruto: Razões de Crescimento no Brasil e em Goiás Marcelo Mesquita Lima ¹ Paulo Borges Campos Jr. ² Resumo: Este artigo analisa a expansão econômica da economia 2008, tantos os indicadores econômicos do Brasil como brasileira e da economia goiana, nos anos de 2006 e 2007, expressa os de Goiás recrudesceram. através do PIB, e também da arrecadação de ICMS do país e deste Estado. Ao mesmo tempo, chama a atenção para o fato de que a curva de crescimento desta arrecadação está acima da curva de crescimento da economia, apontando algumas hipóteses as quais possam explicar tal quadro. Palavras-chave: Crescimento; Arrecadação; Economia; PIB; ICMS. Introdução O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística / IBGE divulgou o resultado do produto interno bruto / PIB do Quadro 1: BRASIL E GOIÁS: Variação Real do PIB Período Brasil Goiás 2004 5,71% 5,22% 2005 3,16% 4,18% 2006 3,97% 3,12% 2007¹ 5,67% 6,4% Fonte: SEPLAN-Go. Adaptado pela Assessoria Econômica da SEFAZGO. (1) O ano de 2007 para Goiás foi estimado pela Seplan-GO com base na tendência da série histórica do PIB goiano. Gráfico 1: BRASIL: Evolução e variação ICMS país no ano de 2007,dentro de uma nova base de 9,06% cálculo, apontando para um crescimento de 5,67%,em 12,24% brasileiras, confirmava este otimismo econômico: muitos carros novos, novos shoppings, expansão do crédito, supermercados cheios, forte crescimento imobiliário, queda nos indicadores de desemprego, além de outras externalidades 172.058.673,00 cidades 155.164.347,00 economia do Brasil. O que se via, à época, nas ruas das 138.249.445,00 2,6 trilhões, o que atestou uma franca expansão da 187.645.267,00 relação a 2006,com um valor monetário de mais de R$ 10,89% de riquezas. Em Goiás, esta realidade não era diferente. De acordo com estimativas recentes da Seplan-Go (2008), dentro desta nova metodologia de cálculo do IBGE, este Estado cresceu 6,4% em 2007 (vide gráfico 1). Contudo, com a crise financeira internacional de 2004 2005 2006 2007 Fonte: CONFAZ/COTEPE. 2009 Quando se observa o comportamento da arrecadação tributária de ICMS do Brasil, de acordo com o gráfico 1, percebe-se também que a mesma estava também em ──────────────── grande expansão. Contudo, há um dado que tem Auditor Fiscal da Receita Estadual de Goiás. [email protected] 2 Economista, Professor Universitário e Gerente da Assessoria Econômica da Sefaz-Go. [email protected] chamado a atenção daquelas que estudam o assunto: 1 se o PIB brasileiro cresceu 5,67% em 2007, por que a 25 arrecadação de ICMS, no mesmo período, aumentou podem ser levantadas, a fim de se tentar responder tal em 9,06%? No estado de Goiás, esta arrecadação, que questão: é o principal tributo aqui recolhido, cresceu em termos reais 8,75% em 2006 e 9,9% em 2007, para um crescimento do PIB de 3,12% e 6,4%%, respectivamente em 2006 e 2007. 8,75% 10,00% 9,90% 6,40% variação % petróleo, etc. São setores que já tem grande faturamento e um pequeno aumento de alíquota gera porque pagamos 29% de ICMS sobre energia elétrica e isentamos as obras de arte. 8,00% 5,22% 4,18% 2. Com a crescente formalização da economia, está ficando mais difícil comprar, vender e movimentar mercadorias sem nota fiscal pelo país e pelo Estado. 3,12% 4,00% Não apenas pela eficiência da fiscalização, mas pela necessidade de controle dentro das empresas. Com a 2,00% 0,69% -0,55% expansão da economia e consequentemente dos 0,00% 2004 2005 2006 2007 -2,00% negócios, já não é operacional ter muitos controles paralelos na contabilidade. Com a nota fiscal, a empresa ganha eficiência, diminui os volumes de PIB ICMS desvios internos e abre a possibilidade de melhorar a Fonte: Sefaz-Go. Seplan-GO. Adaptado pela gerência da assessoriaeconômica da Sefaz-Go O PIB de 2007 foi estimado pela Seplan-GO (2) Os dados foram deflacionados pelo IPCA do IBGE. Gráfico 3: Participação do ICMS no PIB(%) e taxa de crescimento real PIB 10,00% sua gestão, pois têm dados bem mais confiáveis. 3. A realização dos IPO3, ou seja, o uso da bolsa de valores como forma de captação de capital para as empresas, as obriga a manter um índice de transparência incompatível com o descontrole e a 8,00% 8,63% 8,36% 8,28% 8,62% 8,74% 6,40% 4,00% 2,00% aumentar a alíquota de atividades onde é mais fácil grande arrecadação. Isto explica (mas não justifica) 12,00% 6,00% caminho fácil para aumentar a arrecadação, basta fiscalizar, tais como energia elétrica, telecomunicações, Gráfico 2: GOIÁS: Comportamento Real do ICMS e do PIB 2004-2007 6,00% 1. Os governos, e seus legisladores, têm descoberto um 4,32% 5,22% 4,18% 0,00% 2003 2004 2005 ICMS PIB 3,12% 2006 sonegação fiscal. 4. A oligopolização de alguns setores da economia. Em muitas áreas, as fusões, aquisições e incorporações 2007 PIB vêm acontecendo em um ritmo muito forte. Pequenas empresas familiares, com alto grau de informalidade Fonte: Sefaz-GO. Seplan-GO. vêm sendo adquiridas por multinacionais e por outras Crescimento da Arrecadação Tributária e do PIB: gigantes nacionais. Na prática, este fenômeno vem razões para o entendimento aumentando o grau de formalização de várias cadeias Com a finalidade de se buscar entender as razões pelas produtivas. quais a arrecadação tributária cresceu, em níveis 5. O desenvolvimento e a maturação de novas superiores ao crescimento do PIB, no período tratado, ferramentas de aumento da eficiência fiscal do Estado, tanto no Brasil como em Goiás, algumas hipóteses ──────────────── 3 IPO- Initial Publica Offering (oferta pública inicial de ações) 26 através dos investimentos realizados na máquina fiscal, a melhoria nos indicadores de desenvolvimento, com têm permitido que o Fisco (federal, além dos estaduais destaque para um maior acesso da população a e municipais) esteja efetivamente melhorando seus educação, o que leva a predominância de uma controles e diminuindo os índices de sonegação. Bons sociedade mais exigente e consciente de seus direitos. exemplos disto são o Sintegra e a implantação da Nota Fiscal Eletrônica, fortes aliados da chamada inteligência fiscal. O Brasil, assim como Goiás, podem estar caminhando para uma situação onde muito mais pessoas e empresas estarão pagando tributos e talvez por isto, 6. Outra questão interessante é que, em alguns casos, todos possam pagar menos. Esta realidade pode ser ocorre um descompasso entre o investimento, o enquadrada como uma das condições ideais para uma crescimento econômico e a tributação. Como o país Reforma Tributária decente e que permita mais operava com alguma capacidade ociosa há alguns crescimento e mais distribuição da carga de impostos, anos, foi possível atender a demanda do mercado criando um ciclo virtuoso no país. interno e externo sem que tivéssemos inflação. O que Referências Bibliográficas demonstra que algum crescimento econômico veio resultado de investimentos anteriores, o que gerou tributação sem um correspondente aumento na conta investimentos. Em outro caso, alguns investimentos são fortemente tributados antes de gerarem efetivo crescimento econômico. Um bom exemplo disto é a importação de um equipamento para a indústria onde antes mesmo de ser instalado, já ocorreu a incidência do IPI, II, PIS/COFINS e ICMS. MONTIBELLER – FILHO, Gilberto. O Mito do desenvolvimento sustentável. Florianópolis: UFSC, 2001. REZENDE, Fernando. Finanças Públicas. 2. ed. São Paulo: ATLAS, 2001. SEPLAN-Go.Revista “Economia & Desenvolvimento” . Diversas edições. Goiânia: SEPLAN/Go, s/d. __________ Estudos da SEPLAN. A Competitividade Considerações Finais A medida que a economia cresce, as empresas tendem a se tornarem mais competitivas o que exige delas modelos gerenciais mais complexos e competentes, da economia goiana. Goiânia. 2002. _________ Conjuntura econômica goiana. Boletim trimestral. Diversas edições. Goiânia: SEPLAN-Go. com fortes indicadores de controle, que podem ser SOUZA, Nali de Jesus. Desenvolvimento Econômico. incompatíveis com a sonegação fiscal. Outro aspecto é 4. ed. São Paulo: Atlas, 1999. 27