Categoria - CONTO Título- O PESCADOR E OS SEGREDOS DO MAR O sol como sempre discreto, ainda não nascerana ”aldeia”, a maresia fresca irradiava no ar um cheiro intenso...tímido, o tempo se abrira, não se sabe a hora, mas as ondas batiam nas areias e cobriam as marcas dos pés a fundo...Os primeiros não haviam aparecido , pescadores ainda viriam pra o lugar, atraídos pelo cheiro do peixe, era terçafeira, “ dia de pesca e dia de pescador”, como dissera o velho cancioneiro...Ele andara até a beira da praia, pensativo, sensato, calmo, olhou pro céu, levantou as mãos ao tempo, percebeu de onde batia o vento e só, ainda só viu-se diante de um dilema, sempre meditava nesse momento, relembrara outros momentos nos quais o tempo, a rede, o barco, seus inseparáveis companheiros de aventura lhes diziam se era hora de irou voltar, quando o peixe vinha, quando a solidão era companheira e a paciência, sua libra para decisão...Muito mar, esperança de peixe bom, um dia inteiro, em meio a um oceano de agonia, tristeza, sonho, sono e a sua amada que o esperava sempre, para a refeição, o amor, o desabafo. Era um momento de decisão. Recordara também outras aventuras, as quais, sempre tivera o cuidado ao contar, pois pescador sempre fora sinônimo de mentira, mas só ele sabia e como todo pescador , tinha seus segredos, por isso sempre voltava pra casa, achava que era assim: todo aquele que conta os segredos do mar não volta pra casa. Guarda consigo essas histórias, pois o mar tem seus segredos e não podem ser divulgados. Penso que o pescador por vezes é louco, conversa com os peixes os chamando pra beira, ou fala alto pra espantar a sereia, sereia, é um dos grandes segredos do mar...disseram que ela existe, será? Quem viu não disse se viu , é uma coisa que todo mundo quer ver. Mistério!!! Será um peixe? Uma divindade? Um mulherfantasiada? Sei lá. Uma coisa que esse povo inventa, só pra dar medo aos pescadores. Deve ser por isso que os peixes fogem ou pelo contrário, toda vez que a rede enche é porque eles ficam deslumbrados com a beleza dela e se deixam envaidecer, aí a rede vem e leva, deve ser assim. Tem ouro também no fundo do mar, dizem. Mas será que valeria a pena procurar? Água fria ou quente, o fundo do mar tem segredos, sim. Talvez por isso, as explicações para toda vezem que se entregam os presentes pra o mar chove, esse não é segredo, mas se percebe, é como se a mãe das águas tivesse agradecendo e chorando de alegria pelos presentes. São flores, perfumes, doces, tudo pra agradá-la, até dinheiro colocam. Uma certa feita ele viu, era dinheiro vivo, mesmo e muito, porém ele ficou com medo de pegar, não era a sua sorte, com certeza alguém “emprestou” pra mãe das águas e com certeza queria o dobro. Não, não eraa sua sorte, pensou, e deixou que o mar o levasse pra onde deveria. Lembrou também que o marsabe falar, é , sabe mesmo. Um dia, as águas estavamtão calmas que ele acabou dormindo à espera do peixe que não vinha e de repente, no balanço das águas o barco virou, foi o vento, foi o chamado do tempo pra rede que já enchera de peixe, foi a mãe das águas chamando ou foi do sonho, não se sabe, afinal , pensa-se que as águas calmas trazem meditação para o silencio, mas em se tratando de mar, todo cuido é pouco. É por isso que se chama mágoa, magoada, magoa da água, pois é ficou assim, medo das águas calmas. Ele agora deverespeitar, por isso a consideração... A madrugada se ia, e nesse curto espaço já ouviu a voz do tempo, já foi no horizonte e voltou, saiu de si por várias vezes, olhou de lado a lado, pensou,pra que lado iria?A lua ainda não se despedira, caminhava lenta emprestando sua luz para os amantes, para os insones, para o crédulos, também os entendidos em astrologia, gente boba, essa.Queria a presença do sol, seria elea sua testemunha em mais um dia de aventuras. Abriu os braços em harmonia com o corpo, como numapreparação para um exercício. Deixou-se levar por um instante feito a vaidade de uma criança e imaginou uma rede cheia, farta, com muito pescado e, no que faria após. A mulher vai gostar do maior, que cabe numa travessa. A comadre também vai ter seu quinhão; vou vender pro português,pra garantir o pão ou se der, troca a mercadoria. Não dá pra esquecer os temperos, só o cheiro do coentro basta O azeite da quitandeira vai “dara voz” e se alguém aparecer, ah se vai, ai faz o pirão na hora, pensou. Olhou mais uma vez de um lado, esperou mais um pouco, hesitou e ao ouvir a voz do tempo , riscou o chão com os pés, fez em silêncio sua oração, benzeu-se, e a rede por extensão, caminhou para o barco e lançou-se às águas, fria nos pés, coração agitado no peito, era mais um dia de pescaria e aventuras no mar...