4 Câncer de próstata e prevenção conhecimentos e

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Milena Nunes Alves de Sousa*
Silvia Lamara de Lima Moraes**
André Luiz Dantas Bezerra***
RESUMO
Introdução: o câncer de próstata é atualmente a
neoplasia maligna mais frequente no homem e a
segunda maior causa de óbito entre eles.
Objetivo: identificar os conhecimentos e as
dificuldades referentes à prevenção do câncer de
próstata entre homens de Cajazeiras-PB.
Metodologia: tratou-se de uma pesquisa
exploratório-descritiva,
com
abordagem
quantitativa. Os dados foram coletados no
domicílio dos homens cadastrados na Unidade
Básica de Saúde da Família João Bosco Braga
Barreto. Os sujeitos de pesquisa responderam ao
questionário estruturado, cuja análise dos dados
ocorreu de forma descritiva. Resultados: foi
evidenciado que 83% dos homens pesquisados já
ouviram falar em câncer de próstata, mas
apresentam conhecimento inadequado, 58% já
realizaram o exame preventivo e 40% afirmaram
não enfrentar nenhuma dificuldade para prevenção
da neoplasia, contudo entre os que relataram
entraves, destaque para vergonha (32,5%) e
preconceito da população (20%). Conclusão: a
pesquisa
possibilitou
verificar
o
baixo
conhecimento de homens e as dificuldades
enfrentadas por eles quanto a prevenção do
câncer de próstata. O quadro, por sua vez,
demanda a adoção de medidas educativas para
promover a saúde desta população.
Palavras-chave: Câncer. Câncer de Próstata. Prevenção.
Conhecimento. Dificuldades.
162
relatos de pesquisa
CÂNCER DE PRÓSTATA E PREVENÇÃO:
conhecimentos e dificuldades na percepção
de homens
*Enfermeira. Mestre em Ciências da
Saúde. Doutoranda pelo Programa
Strictu Sensu em Promoção da
Saúde pela Universidade de Franca,
Franca,
São
Paulo.
Docente
Faculdade
Santa
Maria
e
Faculdades Integradas de Patos. Email: [email protected]
**Enfermeira
graduada
pela
Faculdade Santa Maria (FSM),
Cajazeiras-PB, Brasil. Especialista
em Saúde do Trabalhador e
Enfermagem do Trabalho pela FSM.
E-mail: [email protected]
***Enfermeiro e Cirurgião Dentista
pela Universidade Estadual da
Paraíba/UEPB.
Especialista
em
Saúde da Família pelas Faculdades
Integradas de Patos/FIP. Mestrando
em Saúde Pública pela Universidade
Três
Fronteiras/UNINTER.
Assunção,
Paraguai.
E-mail:
[email protected]
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 162-174, jul./dez. 2013
Milena Nunes Alves de Sousa, Silvia Lamara de Lima Moraes, André Luiz Dantas Bezerra
1 INTRODUÇÃO
possa chegar a 80% dos homens com
mais
O
câncer
problema
de
é
importante
aproximadamente
anos.
22%
Representa
de
todas
as
neoplasias malignas, com incidência mais
responsável por mais de seis milhões de
alta entre negros e mais baixa em
óbitos
asiáticos (FELTEN, 2005).
cada
ano
pública,
80
sendo
a
saúde
um
de
representando,
aproximadamente, 12% de todas
as
Diante do quadro, este estudo
causas de morte no mundo. Entre as
busca responder a seguinte questão-
tipologias oncológicas mais comuns, o
chave: quais os conhecimentos e as
câncer de próstata tem recebido atenção
dificuldades referentes à prevenção do
pelo aumento crescente no número de
câncer
casos
atendidos em Unidade Básica de Saúde
desde
a
década
de
1960
(GUERRA; GALLO; MENDONÇA, 2005).
Segundo
dados
do
Instituto
de
próstata
entre
homens
da Família (UBSF) do município de
Cajazeiras-PB?
Nacional de Câncer (INCA), o número de
A escolha pela temática, bem como
casos novos diagnosticados de câncer de
pelo lócus e público-alvo deve-se ao fato
próstata no mundo é de aproximadamente
da baixa presença masculina nos serviços
543 mil casos por ano, representando
de Atenção Primária à Saúde (APS), fato
15,3% de todos os casos incidentes de
exacerbado
câncer em países desenvolvidos e 4,3 %
masculina
dos casos em países em desenvolvimento
desvalorização
(GOMES et al., 2008a). No Brasil, o
preocupação incipiente com a saúde. Por
número de casos novos desta patologia
outro lado, afirma-se que, tais sujeitos
em 2010 foi de 52.350, o que corresponde
preferem utilizar outros serviços de saúde,
a um risco estimado de 54 casos novos a
como farmácias ou prontos-socorros, que
cada 100 mil homens (BRASIL, 2010).
responderiam mais objetivamente às suas
É
a
neoplasia
maligna
mais
pelo
estar
do
fato
da
identidade
associada
autocuidado
à
e
à
demandas. Nesses lugares, eles seriam
frequente no homem e a segunda maior
atendidos
mais
rapidamente
e
causa de óbito entre eles (VIEIRA et al.,
conseguiriam expor seus problemas com
2006). Dados baseados em necropsia
mais facilidade (FIGUEIREDO, 2005).
sugerem que a incidência desta neoplasia
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 162-174, jul./dez. 2013
163
Câncer de próstata e prevenção: conhecimentos e dificuldades na percepção de homens
Assim, objetivou-se identificar os
conhecimentos
e
as
dificuldades
de
Cajazeiras-PB,
no
alto
sertão
paraibano.
referentes à prevenção do câncer de
A população constituía-se de 260
próstata entre homens de Cajazeiras-PB.
homens com idade a partir de 40 anos
Diante do propósito, espera-se que este
cadastrados na UBSF citada. A amostra,
estudo possa contribuir para a prática da
contudo, caracterizou-se como do tipo
enfermagem na APS, no sentido de que
não-probabilístico por conveniência. Na
esta categoria profissional possui um
mesma, n unidades são reunidas em uma
grande contingente de trabalhadores de
amostra
saúde atuando neste nível de atenção e
pesquisador tem fácil acesso a essas
que
ideologia
unidades (VIEIRA, 2008). Logo, após
hegemônica de culpabilização do homem
considerar o tipo de amostragem, bem
e estranha a participação destes na rotina
como os critérios de inclusão e exclusão,
dos serviços de saúde. Portanto, acredita-
40 sujeitos participaram da coleta de
se que este estudo possa chamar a
dados.
ainda
reproduz
a
atenção dos profissionais e acadêmicos
da
enfermagem
incluídos
o
homens
cadastrados na UBSF João Bosco Braga
humanizado ao homem, como também se
Barreto, com 40 anos ou mais, residentes
espera
na zona urbana e que concordaram em
essas
um
Foram
porque
cuidado
levar
para
simplesmente
informações
a
sociedade e a população masculina,
participar
da
procurando uma melhor compreensão
Termo
destes (BEZERRA, 2010).
Esclarecido.
de
pesquisa,
assinando
Consentimento
Livre
o
e
A coleta de dados foi realizada no
2 METODOLOGIA
domicílio dos homens, os quais foram
contactados via Agente Comunitário de
A pesquisa foi do tipo exploratório-
Saúde e os mesmos responderam a um
descritivo, com abordagem quantitativa.
questionário
Foi realizada com homens atendidos na
teste piloto e aplicado no mês de maio de
UBSF
Barreto,
2012. Após a coleta, os dados foram
localizada na zona urbana do município
analisados mediante uso da estatística
João
Bosco
Braga
descritiva
164
estruturado,
que
se
validado
encarrega
em
do
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 162-174, jul./dez. 2013
Milena Nunes Alves de Sousa, Silvia Lamara de Lima Moraes, André Luiz Dantas Bezerra
levantamento, organização, classificação
e descrição dos dados em tabelas,
gráficos ou outros recursos visuais, além
do cálculo de parâmetros representativos
dos dados (ARANGO, 2009).
Por fim, de acordo com Brasil
(1996), foi levado em consideração para
realizar a pesquisa, a Resolução 196/96
do
Conselho
preconiza
Nacional
estudos
Saúde
envolvendo
que
seres
humanos; defendendo os interesses dos
sujeitos
pesquisados
em
sua
integralidade e dignidade e contribuem no
desenvolvimento da pesquisa dentro dos
padrões éticos. Assim sendo, o estudo foi
aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Faculdade Santa Maria,
CAEE 03962112.4.0000.5180.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 1 – Apresentação dos dados sócio e
demográficos
Variável
N
%
Idade
40 a 49 anos
11
27,5
50 a 59 anos
9
22,5
60 a 69 anos
10
25,0
70 ou mais
10
25,0
Estado civil
Solteiro
5
12,5
Casado
23
57,5
Viúvo
8
20,0
Divorciado
3
7,5
Outros
1
2,5
Grau de escolaridade
Analfabetos
22
55,0
Alfabetizados
1
45,0
8
Renda familiar
Menos de 1 salário mínimo
5
12,5
De 1 a 2 salários mínimos
31
77,3
De 3 a 4 salário mínimos
4
10,0
Hábito Tabagista
Sim
20
50,0
Não
20
50,0
Histórico de câncer na
família
Sim
8
20,0
Não
32
80,0
TOTAL
40
100
Fonte: Dados da Pesquisa (2012)
A tabela 1 demonstra que 27,5%
(n=11) dos homens predisponente ao
A partir deste momento tem-se a os
resultados e análise da proposta do
estudo, segmentada em perfil social e
demográfico e os dados referentes ao
objeto de pesquisa.
câncer de próstata encontravam-se na
faixa etária de 40 - 70 anos. O câncer
prostático está associado ao processo de
envelhecimento, porque menos de 1%
dos casos ocorre antes dos 50 anos
(OTTO, 2002).
Relacionado ao estado civil, 57,5%
3.1 Caracterização da amostra
(n=23) eram casados. O estado civil é
fator preponderante para a busca pela
assistência à saúde. Homens casados
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 162-174, jul./dez. 2013
165
Câncer de próstata e prevenção: conhecimentos e dificuldades na percepção de homens
parecem procurar mais o serviço de
mudanças
saúde,
homens (FONTES et al., 2011).
já
que
suas
esposas
os
influenciam. De acordo com Schraiber,
de
comportamento
Considerando
hábito
dos
tabagista,
Gomes e Couto (2005) o mais comum é
50% (n=20) dos homens eram fumantes.
que
da
O cigarro é um fator de risco pra
mulher no cuidado a saúde, resultando
desenvolver não só o câncer de próstata
que, para eles, o casamento é fator de
mais todos os outros tipos de câncer
proteção de uma variedade de doenças.
(OTTO, 2002).
homens
casados
dependam
Quanto ao grau de escolaridade
Sobre o histórico de câncer na
este é um facilitador favorável relacionado
família, 80% (n=32) relataram não possuir
no
assim
e 20% (n=8) que sim. A Sociedade
ajudando na sua prevenção. A pesquisa
Brasileira de Urologia, por sua vez,
revelou
dos
recomenda que os homens que têm
entrevistados são analfabetos, fato esse
acima de 50 anos e os que têm 40 anos,
que interfere na prevenção, pois homens
com histórico familiar de câncer de
menos esclarecidos podem participar com
próstata, devem buscar anualmente o
menos freqüência às consultas ou mesmo
profissional urologista para realizar um
nem irem a UBSF por desconhecerem a
check-up da próstata, mesmo que não
importância
da
apresente
possuírem
informações
conhecimento
que
da
doença
55,0%
(n=22)
consulta,
e
assim
insuficientes
sobre a doença (GOMES et al., 2008a).
Dos homens entrevistados, 77,3%
destacam que o componente genético e
familiar é um sinal de alerta para homens
(RHODEN;
dois
GONÇALVES;
mínimos.
O
nível
socioeconômico é um determinante na
urinária
(GOMES et al., 2008b). Afinal, estudos
(n=31) possuíam uma renda entre um e
salários
sintomatologia
AVERBECK,
2010;
PADOVANI;
POPIM,
2008).
saúde do homem, influenciando sobre sua
qualidade de vida, pois classes sociais
mais
baixas
apresentam
menor
proximidade e acessibilidade aos serviços
de
166
saúde,
e
maior
dificuldade
nas
3.2 Dados relacionados ao objetivo da
pesquisa
Inicialmente
indagou-se
aos
homens se eles já tinham ouvido falar em
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 162-174, jul./dez. 2013
Milena Nunes Alves de Sousa, Silvia Lamara de Lima Moraes, André Luiz Dantas Bezerra
câncer
de
próstata.
Os
resultados
evidenciaram que 83% (n=33) afirmou
que sim, contrariamente, 18% (n=7) que
não. O dado reflete certa orientação por
parte de um grupo, em contrapartida,
cuidar
Já ouvir falar mais não entendo
nada sobre a doença
É uma coisa que o homem tem
que fazer cirurgia
O homem tem que fazer o
exame
TOTAL
Fonte: Dados da Pesquisa (2012)
6
18
1
3
12
37
33
100
também elucida aspecto crítico, com
homens
atendidos
desconhecendo
considerada
um
em
tal
problema
UBSF
enfermidade,
de
saúde
pública nacional.
Os
dados
revelam,
entre
os
participantes que já ouviram falar em
câncer de próstata, que 37% (n=12) deles
homens revelaram que só sabem que tem
Assim, o dado é injustificável, já
que “a Política Nacional de Atenção
que realizar o exame e 24% (n=8)
disseram ser uma doença perigosa.
Integral à Saúde do Homem aponta para
Tais resultados indicam que os
uma perspectiva de buscar qualidade de
pesquisados possuem insuficiência em
vida e promoção da integralidade do
seus conhecimentos sobre a enfermidade
cuidado
objeto deste estudo.
na
população
masculina”
(OLIVEIRA et al., 2013). Tal política,
O saber sobre a patologia e o
implantada em 2009 pelo Ministério da
acesso aos serviços preventivos e de
Saúde, fundamenta-se no enfoque sobre
diagnósticos são considerados pontos
os enfermidades de risco para o sexo
chaves para a prevenção do câncer de
masculino, de modo integral, como ações
próstata. Afinal, conhecer sobre os sinais
em nível de APS, secundária e terciária
e sintomas, a respeito do quadro evolutivo
(BRASIL, 2008).
e dos métodos de diagnóstico precoce,
Outro dado levantado considerou o
somados
ao
acesso
aos
serviços
são
fatores
entendimento dos homens sobre o câncer
médicos-laboratoriais,
prostático.
colaboradores para a detecção precoce
Tabela 2 – Entendimento sobre câncer de próstata
Entendimento sobre câncer
N
%
de próstata
Doença muito perigosa
8
24
Doença que só acomete os
1
3
homens
Doença silenciosa
2
6
É importante o homem se
3
9
da neoplasia e de melhores prognósticos
(MIRANDA et al., 2004).
Considerando
a
relevância
do
diagnóstico precoce, buscou-se identificar
se a população-alvo desta pesquisa já
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 162-174, jul./dez. 2013
167
Câncer de próstata e prevenção: conhecimentos e dificuldades na percepção de homens
havia procurado por serviços de saúde
avalie o tamanho, formato e consistência
para solicitar a realização do exame de
da próstata. Observa-se sensibilidade à
próstata ou mesmo para conhecer mais
dor na próstata à palpação, assim como a
sobre a neoplasia. Foi verificado, então,
presença e consistência de qualquer
que 58% (n=23) dos homens já haviam
nódulo. Embora esse exame possa ser
procurado a UBSF para solicitar o exame
embaraçoso para o paciente, é um
ou conhece-lo um pouso mais.
importante
Estudos
sobre
os
sintomas
instrumento
de
triagem
(SMELTZER et al., 2009).
evidenciam que, em geral, os pacientes
Assim
sendo,
o
Ministério
da
com essa neoplasia têm descoberto o
Saúde afirma que, a não procura pelos
nódulo, por acaso, durante exames de
serviços de APS faz com que o indivíduo
rotina
PADOVANI;
fique privado da proteção necessária à
POPIM, 2008). Deste modo, percebe-se
preservação de sua saúde e continue a
que é de fundamental importância à
fazer
procura de tais indivíduos pelos serviços
desnecessários se a procura pela atenção
de saúde para obter informações gerais
houvesse ocorrido em momento anterior.
ou para solicitar o exame preventivo.
Muitos agravos poderiam ser evitados
(GONÇALVES;
Pesquisas sugerem que a triagem
caso
uso
os
de
homens
procedimentos
realizassem,
com
de homens por meio do exame retal digital
regularidade, as medidas de prevenção
(ERD) e do antígeno prostático específico
primária (BRASIL, 2008).
(PSA) diminuiu a incidência de doença
tardia
com
influência
nas
taxas
Outra questão levantada referiu-se
de
a realização do exame de próstata entre
mortalidade, na medida em que o câncer
os pesquisados. A investigação revelou
de próstata pode ser curável, desde que
que 58% (n=23) dos homens já haviam
diagnosticado precocemente (MIRANDA
realizado o exame de próstata. Ressalta-
et al., 2004).
se que quando a neoplasia é detectada
O ERD é recomendado como parte
precocemente, a probabilidade de cura é
de exame regular de saúde para todos os
alta (SMELTZER et al.,2009; MIRANDA et
homens com 40 anos de idade ou mais, e
al., 2004).
inestimável na triagem para o câncer de
Entre os 42% (n=17) dos indivíduos
próstata. Possibilita que o examinador
que ainda não haviam realizado o exame
168
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 162-174, jul./dez. 2013
Milena Nunes Alves de Sousa, Silvia Lamara de Lima Moraes, André Luiz Dantas Bezerra
preventivo do câncer prostático, muitas
problema de saúde e a ausência para
foram as razões alegadas por eles, como
tratamento médico possam prejudicá-los,
se observa na tabela 3.
resultando em uma perda do posto de
trabalho. Ainda, não se pode negar que
Tabela 3 – Razões para não realização de exame
para detectar câncer de próstata
Razões
N
%
Vergonha
4
24,0
Porque não precisa
9
52,0
Porque não tem a doença
1
6,0
Não tenho tempo
2
12,0
Porque não quer realizar
1
6,0
o exame
TOTAL
17
100
Fonte: Dados da Pesquisa (2012)
na preocupação masculina a atividade
laboral
tem
um
lugar
destacado,
sobretudo em pessoas de baixa condição
social
o
que
reforça
o
papel
historicamente atribuído ao homem de ser
responsável pelo sustento da família
(BRASIL, 2008).
A tabela 3 revela que 52% (n=5)
Para
prevenir
o
câncer,
a
por não precisar realizar o exame, 24%
população deve ser informada sobre os
(n=4) por vergonha, 12% (n=2) porque
comportamentos de risco, sinais de alerta
não ter tempo, 6% (n=1) por que não ter a
e a frequência da realização dos exames
doença e 6% (n=1) se recusa a realizá-lo.
de prevenção (VANZIN; NERY, 1997).
Segundo Gomes, Nascimento e
Araújo
(2007),
a
vergonha
de
Assim
sendo,
buscou-se,
também,
ficar
verificar se os homens tem adotado
exposto a um outro homem ou a uma
condutas que possibilitem a prevenção do
mulher é uma explicação para a não
câncer de próstata.
busca de cuidados médicos por parte dos
homens.
Outro
fator
é
a
falta
de
Foi verificado que 58% (n=23)
afirmaram
fazer
algo,
destacando
o
informação dos mesmos, ao alegarem
exame preventivo, a mudança no hábito
que não precisam ou não tem a doença.
alimentar
e
atividade
física
com
A falta de tempo também está entre
regularidade. De acordo com Rhoden e
as razões, já que alegam que o horário do
Averbeck (2010) sabe-se que a melhor
funcionamento dos serviços de saúde
forma de prevenção para o câncer de
coincide com a carga horária do trabalho.
próstata
é
a
realização
do
exame.
Schraiber, Gomes e Couto (2005)
Também, há evidências de que uma dieta
destacam que a impossibilidade de deixar
rica em frutas, verduras, legumes, grãos e
as atividades ou o medo da revelação do
cereais integrais, e pobres em gordura,
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 162-174, jul./dez. 2013
169
Câncer de próstata e prevenção: conhecimentos e dificuldades na percepção de homens
principalmente as de origem animal, não
Quanto as dificuldades enfrentadas
só ajuda a diminuir o risco de câncer,
para prevenção do câncer de próstata, a
como também o risco de outras doenças
tabela 4 explicita os resultados.
crônicas
não transmissíveis
(BRASIL,
2002).
Assim sendo, alguns estudos tem
enfatizado
a
associação
do
câncer
prostático com componentes dietéticos
específicos, como maior risco associado
ao
consumo
de
gorduras
e
carnes
(GUERRA; GALLO; MENDONÇA, 2005).
Tabela 4 – Dificuldades enfrentadas para
prevenção do câncer de próstata
Dificuldades
N
%
Nenhuma
16
40,0
Vergonha
13
32,5
Preconceito da população
4
10,0
Desconhecimento sobre a
4
10,0
doença
Escassez de profissionais
1
2,5
qualificados
Falta de tempo
2
5,0
TOTAL
40
100
Fonte: Dados da Pesquisa (2012)
No mais, estudos epidemiológicos
Conforme a tabela, 32,5% (n=13)
fornecem inúmeras evidências de que a
atividade
física
com
regularidade
é
destacaram a vergonha, 10% (n=4) pelo
importante para a prevenção e tratamento
preconceito
do
(PEDROSO;
desconhecimento da doença, cada. A
ARAÚJO; STEVANATO, 2005). Assim,
falta de falta de tempo foi determinada por
conforme
nas
5% (n=2) e 2,5% apontaram como maior
diferentes fases da doença e de sua
dificuldade a escassez de profissionais
terapêutica. No período de diagnóstico e
qualificados. Destaca-se, outrora, que
pré-tratamento,
na
40% (n=16) enfatizou não apresentar
condição física o suporte para enfrentar a
nenhum entrave para realizar o exame
terapia.
preventivo de câncer de próstata.
câncer
de
os
Na
próstata
autores,
o
atuam
indivíduo
reabilitação,
tem
favorece
a
da
população
e
preservação das capacidades físicas e a
A Política Nacional de Atenção
retomada das atividades cotidianas. É
Integral a Saúde do Homem (BRASIL,
durante o tratamento que a atividade
2008) destaca que os aspectos culturais
parece ter maior importância, atenuando a
são
fadiga crônica e a caquexia, aumentando
dificultosos para que o homem busque
a eficiência metabólica e energética do
por assistência à saúde de qualidade e
corpo, reduzindo assim a ação dos
resolutiva. Esta evidência também foi um
carcinógenos.
dos entraves enfrentados pela população-
170
alguns
dos
elementos
mais
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 162-174, jul./dez. 2013
Milena Nunes Alves de Sousa, Silvia Lamara de Lima Moraes, André Luiz Dantas Bezerra
alvo deste estudo, visto que a vergonha e
provenientes
o preconceito estão entre os aspectos
ocupacional, com exposição a agentes
mais apontados. Também é destacado na
químicos, físicos ou biológicos e; a
política os elementos institucionais, entre
poluição do ambiente geral (BRASIL,
estes a baixa qualidade da equipe de
2002).
saúde.
sol;
a
exposição
Ante aos fatores de riscos, é
Outro
tratou
do
da
questionamento
evidência
necessário
sensibilizar
a
população
fatores
masculina para a adoção de hábitos
cancerígenos em que os homens se
saudáveis de vida (dieta rica em fibras e
encontram
frutas
submetidos.
dos
oportuno
Foi
revelado,
e
pobre
em
gordura
animal,
assim, que 90% (n=36) estavam expostos
atividade física e controle do peso) como
a radiação solar, 50% (n=40) ao fumo,
uma ação de prevenção do câncer
28% (n=11) a uma dieta rica em gordura e
(BRASIL,
20% (n=8) tinham histórico familiar de
primária
câncer. De acordo com Wunsch Filho e
alternativa
Moncau
fatores
diagnóstico ou mesmo ao tratamento das
genéticos exerçam papel fundamental
neoplasias, entre as quais, a de próstata,,
sobre o desenvolvimento de neoplasias, a
já que apesar de embora se reconheça a
ocorrência
de
é
incapacidade de mudar a predisposição
fortemente
influenciada
fatores
genética, é possível intervir sobre os
ambientais
que,
(2002),
embora
câncer
em
os
também
por
conjunto,
são
responsáveis por cerca de 80% a 90% da
demais
2002),
pois
destaca-se
quando
fatores
a
como
prevenção
a
melhor
comparada
predisponentes
ao
da
patologia (CESTARI; ZAGO, 2005).
incidência.
O Instituto Nacional do Câncer
4 CONCLUSÃO
considera como principais fatores de risco
para o câncer: o tabagismo; o alcoolismo;
O câncer de próstata tem recebido
os hábitos alimentares, principalmente em
atenção especial pelo aumento de casos
relação ao consumo de alimentos ricos
anualmente
em gordura, nitritos, alcatrão e aflatoxina;
mortalidade,
as radiações, sendo estas as ionizantes e
imprescindível
as
esclarecido e informado sobre o que é a
radiações
ultravioletas
natural,
e
pelas
deste
que
altas
modo,
o
taxas
torna-se
homem
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de
seja
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Câncer de próstata e prevenção: conhecimentos e dificuldades na percepção de homens
doença, como evita-la ou diagnosticá-la
Saúde do Homem, que o direito à
precocemente, pois parece ser a melhor
informação
forma de combater a enfermidade.
acesso aos serviços de saúde, para que
Considerando esta necessidade e
objetivando identificar os conhecimentos e
as dificuldades referentes à prevenção do
e,
conseguintemente,
ao
seja possível efetivara a prevenção da
doença e promoção da saúde.
As
ações
educativas,
como
câncer de próstata entre homens de
palestras, oficinas, rodas de conversa
Cajazeiras-PB,
parecem uma alternativa plausível para
foi
possível
verificar
deficiência no saber desta população e
desmistificar
somando-se
informação,
reinantes sobre o câncer prostático e para
destacam-se as dificuldades referentes a
orientar a adoção de condutas saudáveis
adoção pelos homens estudados de
e redução de exposição a fatores de risco.
a
falta
de
as
concepções
ainda
ações preventivas.
Tais dados sugerem que a equipe
de saúde atuante na APS parece não
estar implementando um dos pilares da
Política Nacional de Atenção Integral a
ABSTRACT
Introduction: prostate cancer is currently the most common
malignancy in men and the second leading cause of death among
them. Objective: to identify the knowledge and the difficulties
related to the prevention of prostate cancer among men of
Cajazeiras-PB. Methodology: it was an exploratory-descriptive
research with quantitative approach. Data were collected in the
homes of men enrolled in the Basic Family Health João Bosco
Braga Barreto. The study subjects answered a structured
questionnaire, which analysis of data was descriptively. Results: it
was shown that 83% of men surveyed have heard of prostate
cancer, but have inadequate knowledge, 58% had performed
preventive exam and 40% said they did not face any difficulty in
preventing cancer, but among those who reported barriers,
especially ashamed (32.5%) and prejudice of the population (20%).
Conclusion: the results allow us to check the low knowledge of
men and the difficulties faced by them as the prevention of prostate
cancer. The framework, in turn, demands the adoption of
educational measures to promote the health of this population.
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C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 162-174, jul./dez. 2013
Milena Nunes Alves de Sousa, Silvia Lamara de Lima Moraes, André Luiz Dantas Bezerra
Keywords:
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