Milena Nunes Alves de Sousa* Silvia Lamara de Lima Moraes** André Luiz Dantas Bezerra*** RESUMO Introdução: o câncer de próstata é atualmente a neoplasia maligna mais frequente no homem e a segunda maior causa de óbito entre eles. Objetivo: identificar os conhecimentos e as dificuldades referentes à prevenção do câncer de próstata entre homens de Cajazeiras-PB. Metodologia: tratou-se de uma pesquisa exploratório-descritiva, com abordagem quantitativa. Os dados foram coletados no domicílio dos homens cadastrados na Unidade Básica de Saúde da Família João Bosco Braga Barreto. Os sujeitos de pesquisa responderam ao questionário estruturado, cuja análise dos dados ocorreu de forma descritiva. Resultados: foi evidenciado que 83% dos homens pesquisados já ouviram falar em câncer de próstata, mas apresentam conhecimento inadequado, 58% já realizaram o exame preventivo e 40% afirmaram não enfrentar nenhuma dificuldade para prevenção da neoplasia, contudo entre os que relataram entraves, destaque para vergonha (32,5%) e preconceito da população (20%). Conclusão: a pesquisa possibilitou verificar o baixo conhecimento de homens e as dificuldades enfrentadas por eles quanto a prevenção do câncer de próstata. O quadro, por sua vez, demanda a adoção de medidas educativas para promover a saúde desta população. Palavras-chave: Câncer. Câncer de Próstata. Prevenção. Conhecimento. Dificuldades. 162 relatos de pesquisa CÂNCER DE PRÓSTATA E PREVENÇÃO: conhecimentos e dificuldades na percepção de homens *Enfermeira. Mestre em Ciências da Saúde. Doutoranda pelo Programa Strictu Sensu em Promoção da Saúde pela Universidade de Franca, Franca, São Paulo. Docente Faculdade Santa Maria e Faculdades Integradas de Patos. Email: [email protected] **Enfermeira graduada pela Faculdade Santa Maria (FSM), Cajazeiras-PB, Brasil. Especialista em Saúde do Trabalhador e Enfermagem do Trabalho pela FSM. E-mail: [email protected] ***Enfermeiro e Cirurgião Dentista pela Universidade Estadual da Paraíba/UEPB. Especialista em Saúde da Família pelas Faculdades Integradas de Patos/FIP. Mestrando em Saúde Pública pela Universidade Três Fronteiras/UNINTER. Assunção, Paraguai. E-mail: [email protected] C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 162-174, jul./dez. 2013 Milena Nunes Alves de Sousa, Silvia Lamara de Lima Moraes, André Luiz Dantas Bezerra 1 INTRODUÇÃO possa chegar a 80% dos homens com mais O câncer problema de é importante aproximadamente anos. 22% Representa de todas as neoplasias malignas, com incidência mais responsável por mais de seis milhões de alta entre negros e mais baixa em óbitos asiáticos (FELTEN, 2005). cada ano pública, 80 sendo a saúde um de representando, aproximadamente, 12% de todas as Diante do quadro, este estudo causas de morte no mundo. Entre as busca responder a seguinte questão- tipologias oncológicas mais comuns, o chave: quais os conhecimentos e as câncer de próstata tem recebido atenção dificuldades referentes à prevenção do pelo aumento crescente no número de câncer casos atendidos em Unidade Básica de Saúde desde a década de 1960 (GUERRA; GALLO; MENDONÇA, 2005). Segundo dados do Instituto de próstata entre homens da Família (UBSF) do município de Cajazeiras-PB? Nacional de Câncer (INCA), o número de A escolha pela temática, bem como casos novos diagnosticados de câncer de pelo lócus e público-alvo deve-se ao fato próstata no mundo é de aproximadamente da baixa presença masculina nos serviços 543 mil casos por ano, representando de Atenção Primária à Saúde (APS), fato 15,3% de todos os casos incidentes de exacerbado câncer em países desenvolvidos e 4,3 % masculina dos casos em países em desenvolvimento desvalorização (GOMES et al., 2008a). No Brasil, o preocupação incipiente com a saúde. Por número de casos novos desta patologia outro lado, afirma-se que, tais sujeitos em 2010 foi de 52.350, o que corresponde preferem utilizar outros serviços de saúde, a um risco estimado de 54 casos novos a como farmácias ou prontos-socorros, que cada 100 mil homens (BRASIL, 2010). responderiam mais objetivamente às suas É a neoplasia maligna mais pelo estar do fato da identidade associada autocuidado à e à demandas. Nesses lugares, eles seriam frequente no homem e a segunda maior atendidos mais rapidamente e causa de óbito entre eles (VIEIRA et al., conseguiriam expor seus problemas com 2006). Dados baseados em necropsia mais facilidade (FIGUEIREDO, 2005). sugerem que a incidência desta neoplasia C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 162-174, jul./dez. 2013 163 Câncer de próstata e prevenção: conhecimentos e dificuldades na percepção de homens Assim, objetivou-se identificar os conhecimentos e as dificuldades de Cajazeiras-PB, no alto sertão paraibano. referentes à prevenção do câncer de A população constituía-se de 260 próstata entre homens de Cajazeiras-PB. homens com idade a partir de 40 anos Diante do propósito, espera-se que este cadastrados na UBSF citada. A amostra, estudo possa contribuir para a prática da contudo, caracterizou-se como do tipo enfermagem na APS, no sentido de que não-probabilístico por conveniência. Na esta categoria profissional possui um mesma, n unidades são reunidas em uma grande contingente de trabalhadores de amostra saúde atuando neste nível de atenção e pesquisador tem fácil acesso a essas que ideologia unidades (VIEIRA, 2008). Logo, após hegemônica de culpabilização do homem considerar o tipo de amostragem, bem e estranha a participação destes na rotina como os critérios de inclusão e exclusão, dos serviços de saúde. Portanto, acredita- 40 sujeitos participaram da coleta de se que este estudo possa chamar a dados. ainda reproduz a atenção dos profissionais e acadêmicos da enfermagem incluídos o homens cadastrados na UBSF João Bosco Braga humanizado ao homem, como também se Barreto, com 40 anos ou mais, residentes espera na zona urbana e que concordaram em essas um Foram porque cuidado levar para simplesmente informações a sociedade e a população masculina, participar da procurando uma melhor compreensão Termo destes (BEZERRA, 2010). Esclarecido. de pesquisa, assinando Consentimento Livre o e A coleta de dados foi realizada no 2 METODOLOGIA domicílio dos homens, os quais foram contactados via Agente Comunitário de A pesquisa foi do tipo exploratório- Saúde e os mesmos responderam a um descritivo, com abordagem quantitativa. questionário Foi realizada com homens atendidos na teste piloto e aplicado no mês de maio de UBSF Barreto, 2012. Após a coleta, os dados foram localizada na zona urbana do município analisados mediante uso da estatística João Bosco Braga descritiva 164 estruturado, que se validado encarrega em do C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 162-174, jul./dez. 2013 Milena Nunes Alves de Sousa, Silvia Lamara de Lima Moraes, André Luiz Dantas Bezerra levantamento, organização, classificação e descrição dos dados em tabelas, gráficos ou outros recursos visuais, além do cálculo de parâmetros representativos dos dados (ARANGO, 2009). Por fim, de acordo com Brasil (1996), foi levado em consideração para realizar a pesquisa, a Resolução 196/96 do Conselho preconiza Nacional estudos Saúde envolvendo que seres humanos; defendendo os interesses dos sujeitos pesquisados em sua integralidade e dignidade e contribuem no desenvolvimento da pesquisa dentro dos padrões éticos. Assim sendo, o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Santa Maria, CAEE 03962112.4.0000.5180. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Tabela 1 – Apresentação dos dados sócio e demográficos Variável N % Idade 40 a 49 anos 11 27,5 50 a 59 anos 9 22,5 60 a 69 anos 10 25,0 70 ou mais 10 25,0 Estado civil Solteiro 5 12,5 Casado 23 57,5 Viúvo 8 20,0 Divorciado 3 7,5 Outros 1 2,5 Grau de escolaridade Analfabetos 22 55,0 Alfabetizados 1 45,0 8 Renda familiar Menos de 1 salário mínimo 5 12,5 De 1 a 2 salários mínimos 31 77,3 De 3 a 4 salário mínimos 4 10,0 Hábito Tabagista Sim 20 50,0 Não 20 50,0 Histórico de câncer na família Sim 8 20,0 Não 32 80,0 TOTAL 40 100 Fonte: Dados da Pesquisa (2012) A tabela 1 demonstra que 27,5% (n=11) dos homens predisponente ao A partir deste momento tem-se a os resultados e análise da proposta do estudo, segmentada em perfil social e demográfico e os dados referentes ao objeto de pesquisa. câncer de próstata encontravam-se na faixa etária de 40 - 70 anos. O câncer prostático está associado ao processo de envelhecimento, porque menos de 1% dos casos ocorre antes dos 50 anos (OTTO, 2002). Relacionado ao estado civil, 57,5% 3.1 Caracterização da amostra (n=23) eram casados. O estado civil é fator preponderante para a busca pela assistência à saúde. Homens casados C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 162-174, jul./dez. 2013 165 Câncer de próstata e prevenção: conhecimentos e dificuldades na percepção de homens parecem procurar mais o serviço de mudanças saúde, homens (FONTES et al., 2011). já que suas esposas os influenciam. De acordo com Schraiber, de comportamento Considerando hábito dos tabagista, Gomes e Couto (2005) o mais comum é 50% (n=20) dos homens eram fumantes. que da O cigarro é um fator de risco pra mulher no cuidado a saúde, resultando desenvolver não só o câncer de próstata que, para eles, o casamento é fator de mais todos os outros tipos de câncer proteção de uma variedade de doenças. (OTTO, 2002). homens casados dependam Quanto ao grau de escolaridade Sobre o histórico de câncer na este é um facilitador favorável relacionado família, 80% (n=32) relataram não possuir no assim e 20% (n=8) que sim. A Sociedade ajudando na sua prevenção. A pesquisa Brasileira de Urologia, por sua vez, revelou dos recomenda que os homens que têm entrevistados são analfabetos, fato esse acima de 50 anos e os que têm 40 anos, que interfere na prevenção, pois homens com histórico familiar de câncer de menos esclarecidos podem participar com próstata, devem buscar anualmente o menos freqüência às consultas ou mesmo profissional urologista para realizar um nem irem a UBSF por desconhecerem a check-up da próstata, mesmo que não importância da apresente possuírem informações conhecimento que da doença 55,0% (n=22) consulta, e assim insuficientes sobre a doença (GOMES et al., 2008a). Dos homens entrevistados, 77,3% destacam que o componente genético e familiar é um sinal de alerta para homens (RHODEN; dois GONÇALVES; mínimos. O nível socioeconômico é um determinante na urinária (GOMES et al., 2008b). Afinal, estudos (n=31) possuíam uma renda entre um e salários sintomatologia AVERBECK, 2010; PADOVANI; POPIM, 2008). saúde do homem, influenciando sobre sua qualidade de vida, pois classes sociais mais baixas apresentam menor proximidade e acessibilidade aos serviços de 166 saúde, e maior dificuldade nas 3.2 Dados relacionados ao objetivo da pesquisa Inicialmente indagou-se aos homens se eles já tinham ouvido falar em C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 162-174, jul./dez. 2013 Milena Nunes Alves de Sousa, Silvia Lamara de Lima Moraes, André Luiz Dantas Bezerra câncer de próstata. Os resultados evidenciaram que 83% (n=33) afirmou que sim, contrariamente, 18% (n=7) que não. O dado reflete certa orientação por parte de um grupo, em contrapartida, cuidar Já ouvir falar mais não entendo nada sobre a doença É uma coisa que o homem tem que fazer cirurgia O homem tem que fazer o exame TOTAL Fonte: Dados da Pesquisa (2012) 6 18 1 3 12 37 33 100 também elucida aspecto crítico, com homens atendidos desconhecendo considerada um em tal problema UBSF enfermidade, de saúde pública nacional. Os dados revelam, entre os participantes que já ouviram falar em câncer de próstata, que 37% (n=12) deles homens revelaram que só sabem que tem Assim, o dado é injustificável, já que “a Política Nacional de Atenção que realizar o exame e 24% (n=8) disseram ser uma doença perigosa. Integral à Saúde do Homem aponta para Tais resultados indicam que os uma perspectiva de buscar qualidade de pesquisados possuem insuficiência em vida e promoção da integralidade do seus conhecimentos sobre a enfermidade cuidado objeto deste estudo. na população masculina” (OLIVEIRA et al., 2013). Tal política, O saber sobre a patologia e o implantada em 2009 pelo Ministério da acesso aos serviços preventivos e de Saúde, fundamenta-se no enfoque sobre diagnósticos são considerados pontos os enfermidades de risco para o sexo chaves para a prevenção do câncer de masculino, de modo integral, como ações próstata. Afinal, conhecer sobre os sinais em nível de APS, secundária e terciária e sintomas, a respeito do quadro evolutivo (BRASIL, 2008). e dos métodos de diagnóstico precoce, Outro dado levantado considerou o somados ao acesso aos serviços são fatores entendimento dos homens sobre o câncer médicos-laboratoriais, prostático. colaboradores para a detecção precoce Tabela 2 – Entendimento sobre câncer de próstata Entendimento sobre câncer N % de próstata Doença muito perigosa 8 24 Doença que só acomete os 1 3 homens Doença silenciosa 2 6 É importante o homem se 3 9 da neoplasia e de melhores prognósticos (MIRANDA et al., 2004). Considerando a relevância do diagnóstico precoce, buscou-se identificar se a população-alvo desta pesquisa já C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 162-174, jul./dez. 2013 167 Câncer de próstata e prevenção: conhecimentos e dificuldades na percepção de homens havia procurado por serviços de saúde avalie o tamanho, formato e consistência para solicitar a realização do exame de da próstata. Observa-se sensibilidade à próstata ou mesmo para conhecer mais dor na próstata à palpação, assim como a sobre a neoplasia. Foi verificado, então, presença e consistência de qualquer que 58% (n=23) dos homens já haviam nódulo. Embora esse exame possa ser procurado a UBSF para solicitar o exame embaraçoso para o paciente, é um ou conhece-lo um pouso mais. importante Estudos sobre os sintomas instrumento de triagem (SMELTZER et al., 2009). evidenciam que, em geral, os pacientes Assim sendo, o Ministério da com essa neoplasia têm descoberto o Saúde afirma que, a não procura pelos nódulo, por acaso, durante exames de serviços de APS faz com que o indivíduo rotina PADOVANI; fique privado da proteção necessária à POPIM, 2008). Deste modo, percebe-se preservação de sua saúde e continue a que é de fundamental importância à fazer procura de tais indivíduos pelos serviços desnecessários se a procura pela atenção de saúde para obter informações gerais houvesse ocorrido em momento anterior. ou para solicitar o exame preventivo. Muitos agravos poderiam ser evitados (GONÇALVES; Pesquisas sugerem que a triagem caso uso os de homens procedimentos realizassem, com de homens por meio do exame retal digital regularidade, as medidas de prevenção (ERD) e do antígeno prostático específico primária (BRASIL, 2008). (PSA) diminuiu a incidência de doença tardia com influência nas taxas Outra questão levantada referiu-se de a realização do exame de próstata entre mortalidade, na medida em que o câncer os pesquisados. A investigação revelou de próstata pode ser curável, desde que que 58% (n=23) dos homens já haviam diagnosticado precocemente (MIRANDA realizado o exame de próstata. Ressalta- et al., 2004). se que quando a neoplasia é detectada O ERD é recomendado como parte precocemente, a probabilidade de cura é de exame regular de saúde para todos os alta (SMELTZER et al.,2009; MIRANDA et homens com 40 anos de idade ou mais, e al., 2004). inestimável na triagem para o câncer de Entre os 42% (n=17) dos indivíduos próstata. Possibilita que o examinador que ainda não haviam realizado o exame 168 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 162-174, jul./dez. 2013 Milena Nunes Alves de Sousa, Silvia Lamara de Lima Moraes, André Luiz Dantas Bezerra preventivo do câncer prostático, muitas problema de saúde e a ausência para foram as razões alegadas por eles, como tratamento médico possam prejudicá-los, se observa na tabela 3. resultando em uma perda do posto de trabalho. Ainda, não se pode negar que Tabela 3 – Razões para não realização de exame para detectar câncer de próstata Razões N % Vergonha 4 24,0 Porque não precisa 9 52,0 Porque não tem a doença 1 6,0 Não tenho tempo 2 12,0 Porque não quer realizar 1 6,0 o exame TOTAL 17 100 Fonte: Dados da Pesquisa (2012) na preocupação masculina a atividade laboral tem um lugar destacado, sobretudo em pessoas de baixa condição social o que reforça o papel historicamente atribuído ao homem de ser responsável pelo sustento da família (BRASIL, 2008). A tabela 3 revela que 52% (n=5) Para prevenir o câncer, a por não precisar realizar o exame, 24% população deve ser informada sobre os (n=4) por vergonha, 12% (n=2) porque comportamentos de risco, sinais de alerta não ter tempo, 6% (n=1) por que não ter a e a frequência da realização dos exames doença e 6% (n=1) se recusa a realizá-lo. de prevenção (VANZIN; NERY, 1997). Segundo Gomes, Nascimento e Araújo (2007), a vergonha de Assim sendo, buscou-se, também, ficar verificar se os homens tem adotado exposto a um outro homem ou a uma condutas que possibilitem a prevenção do mulher é uma explicação para a não câncer de próstata. busca de cuidados médicos por parte dos homens. Outro fator é a falta de Foi verificado que 58% (n=23) afirmaram fazer algo, destacando o informação dos mesmos, ao alegarem exame preventivo, a mudança no hábito que não precisam ou não tem a doença. alimentar e atividade física com A falta de tempo também está entre regularidade. De acordo com Rhoden e as razões, já que alegam que o horário do Averbeck (2010) sabe-se que a melhor funcionamento dos serviços de saúde forma de prevenção para o câncer de coincide com a carga horária do trabalho. próstata é a realização do exame. Schraiber, Gomes e Couto (2005) Também, há evidências de que uma dieta destacam que a impossibilidade de deixar rica em frutas, verduras, legumes, grãos e as atividades ou o medo da revelação do cereais integrais, e pobres em gordura, C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 162-174, jul./dez. 2013 169 Câncer de próstata e prevenção: conhecimentos e dificuldades na percepção de homens principalmente as de origem animal, não Quanto as dificuldades enfrentadas só ajuda a diminuir o risco de câncer, para prevenção do câncer de próstata, a como também o risco de outras doenças tabela 4 explicita os resultados. crônicas não transmissíveis (BRASIL, 2002). Assim sendo, alguns estudos tem enfatizado a associação do câncer prostático com componentes dietéticos específicos, como maior risco associado ao consumo de gorduras e carnes (GUERRA; GALLO; MENDONÇA, 2005). Tabela 4 – Dificuldades enfrentadas para prevenção do câncer de próstata Dificuldades N % Nenhuma 16 40,0 Vergonha 13 32,5 Preconceito da população 4 10,0 Desconhecimento sobre a 4 10,0 doença Escassez de profissionais 1 2,5 qualificados Falta de tempo 2 5,0 TOTAL 40 100 Fonte: Dados da Pesquisa (2012) No mais, estudos epidemiológicos Conforme a tabela, 32,5% (n=13) fornecem inúmeras evidências de que a atividade física com regularidade é destacaram a vergonha, 10% (n=4) pelo importante para a prevenção e tratamento preconceito do (PEDROSO; desconhecimento da doença, cada. A ARAÚJO; STEVANATO, 2005). Assim, falta de falta de tempo foi determinada por conforme nas 5% (n=2) e 2,5% apontaram como maior diferentes fases da doença e de sua dificuldade a escassez de profissionais terapêutica. No período de diagnóstico e qualificados. Destaca-se, outrora, que pré-tratamento, na 40% (n=16) enfatizou não apresentar condição física o suporte para enfrentar a nenhum entrave para realizar o exame terapia. preventivo de câncer de próstata. câncer de os Na próstata autores, o atuam indivíduo reabilitação, tem favorece a da população e preservação das capacidades físicas e a A Política Nacional de Atenção retomada das atividades cotidianas. É Integral a Saúde do Homem (BRASIL, durante o tratamento que a atividade 2008) destaca que os aspectos culturais parece ter maior importância, atenuando a são fadiga crônica e a caquexia, aumentando dificultosos para que o homem busque a eficiência metabólica e energética do por assistência à saúde de qualidade e corpo, reduzindo assim a ação dos resolutiva. Esta evidência também foi um carcinógenos. dos entraves enfrentados pela população- 170 alguns dos elementos mais C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 162-174, jul./dez. 2013 Milena Nunes Alves de Sousa, Silvia Lamara de Lima Moraes, André Luiz Dantas Bezerra alvo deste estudo, visto que a vergonha e provenientes o preconceito estão entre os aspectos ocupacional, com exposição a agentes mais apontados. Também é destacado na químicos, físicos ou biológicos e; a política os elementos institucionais, entre poluição do ambiente geral (BRASIL, estes a baixa qualidade da equipe de 2002). saúde. sol; a exposição Ante aos fatores de riscos, é Outro tratou do da questionamento evidência necessário sensibilizar a população fatores masculina para a adoção de hábitos cancerígenos em que os homens se saudáveis de vida (dieta rica em fibras e encontram frutas submetidos. dos oportuno Foi revelado, e pobre em gordura animal, assim, que 90% (n=36) estavam expostos atividade física e controle do peso) como a radiação solar, 50% (n=40) ao fumo, uma ação de prevenção do câncer 28% (n=11) a uma dieta rica em gordura e (BRASIL, 20% (n=8) tinham histórico familiar de primária câncer. De acordo com Wunsch Filho e alternativa Moncau fatores diagnóstico ou mesmo ao tratamento das genéticos exerçam papel fundamental neoplasias, entre as quais, a de próstata,, sobre o desenvolvimento de neoplasias, a já que apesar de embora se reconheça a ocorrência de é incapacidade de mudar a predisposição fortemente influenciada fatores genética, é possível intervir sobre os ambientais que, (2002), embora câncer em os também por conjunto, são responsáveis por cerca de 80% a 90% da demais 2002), pois destaca-se quando fatores a como prevenção a melhor comparada predisponentes ao da patologia (CESTARI; ZAGO, 2005). incidência. O Instituto Nacional do Câncer 4 CONCLUSÃO considera como principais fatores de risco para o câncer: o tabagismo; o alcoolismo; O câncer de próstata tem recebido os hábitos alimentares, principalmente em atenção especial pelo aumento de casos relação ao consumo de alimentos ricos anualmente em gordura, nitritos, alcatrão e aflatoxina; mortalidade, as radiações, sendo estas as ionizantes e imprescindível as esclarecido e informado sobre o que é a radiações ultravioletas natural, e pelas deste que altas modo, o taxas torna-se homem C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 162-174, jul./dez. 2013 de seja 171 Câncer de próstata e prevenção: conhecimentos e dificuldades na percepção de homens doença, como evita-la ou diagnosticá-la Saúde do Homem, que o direito à precocemente, pois parece ser a melhor informação forma de combater a enfermidade. acesso aos serviços de saúde, para que Considerando esta necessidade e objetivando identificar os conhecimentos e as dificuldades referentes à prevenção do e, conseguintemente, ao seja possível efetivara a prevenção da doença e promoção da saúde. As ações educativas, como câncer de próstata entre homens de palestras, oficinas, rodas de conversa Cajazeiras-PB, parecem uma alternativa plausível para foi possível verificar deficiência no saber desta população e desmistificar somando-se informação, reinantes sobre o câncer prostático e para destacam-se as dificuldades referentes a orientar a adoção de condutas saudáveis adoção pelos homens estudados de e redução de exposição a fatores de risco. a falta de as concepções ainda ações preventivas. Tais dados sugerem que a equipe de saúde atuante na APS parece não estar implementando um dos pilares da Política Nacional de Atenção Integral a ABSTRACT Introduction: prostate cancer is currently the most common malignancy in men and the second leading cause of death among them. Objective: to identify the knowledge and the difficulties related to the prevention of prostate cancer among men of Cajazeiras-PB. Methodology: it was an exploratory-descriptive research with quantitative approach. Data were collected in the homes of men enrolled in the Basic Family Health João Bosco Braga Barreto. The study subjects answered a structured questionnaire, which analysis of data was descriptively. Results: it was shown that 83% of men surveyed have heard of prostate cancer, but have inadequate knowledge, 58% had performed preventive exam and 40% said they did not face any difficulty in preventing cancer, but among those who reported barriers, especially ashamed (32.5%) and prejudice of the population (20%). Conclusion: the results allow us to check the low knowledge of men and the difficulties faced by them as the prevention of prostate cancer. The framework, in turn, demands the adoption of educational measures to promote the health of this population. 172 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 162-174, jul./dez. 2013 Milena Nunes Alves de Sousa, Silvia Lamara de Lima Moraes, André Luiz Dantas Bezerra Keywords: Cancer. Prostate Cancer. Prevention. 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