FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EXECUTIVO PAPÉIS DE MARKETING EM UM SISTEMA DE CANAL DE DISTRIBUIÇÃO: ESTUDOS DE CASOS SOBRE DIFERENTES COMPOSIÇÕES ORGANIZACIONAIS DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE JOSÉ FRANCISCO NOGUEIRA Rio de Janeiro 2003 FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EXECUTIVO TITULO PAPÉIS DE MARKETING EM UM SISTEMA DE CANAL DE DISTRIBUIÇÃO: ESTUDOS DE CASOS SOBRE DIFERENTES COMPOSIÇÕES ORGANIZACIONAIS. DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA POR: JOSÉ FRANCISCO NOGUEIRA E APROVADOEM2r /02 /:20.:;3 PELA COMISSÃO E~ADORA EDUARDO ~ TEIXEIRA AYROSA DOurOR EM ADMThI1STRAÇÃO DELANE BOTELHO DOurOR EM ADMThI1STRAÇÃO DE EMPRESAS DOUTOR EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃ,q AGRADECIMENTOS Ao professor Eduardo Ayrosa, meu otimista orientador, que me fez perceber que pode haver convivência da paz com a realização, aos professores Delane Botelho e Paulo César Lopes pelas ricas críticas, e aos demais amigos que ao longo do projeto ajudaram-me a manter a consistência teórica conectada com a prática diária. II Aos meus pais pela insistência em manter-me vivo, aos meus filhos pela lembrança diária de que sempre podemos melhorar, à Damaris, esposa e amiga, que continuamente contribui para o meu processo de crescimento e à Luana, neta que confirma que tudo isto vale a pena. III RESUMO Este projeto tem o objetivo de identificar os papéis de marketing existentes nos componentes da cadeia de distribuição de Tecnologia da Informação (TI), com ênfase na observação das atividades orientadas para melhoria do relacionamento da organização com o usuário corporativo e na consolidação da marca do integrante da cadeia, independente da tecnologia ou marca do fabricante representado. Este projeto centrou a observação em casos de representações no Brasil, embora um dos casos analisados atue multinacionalmente. Para manter certa homogeneidade na avaliação, foram escolhidos casos integrantes de um único canal de um fabricante de TI internacional. Estes casos foram selecionados por estarem inseridos num ambiente freqüentemente mutável e de alta competitividade. As empresas pesquisadas, que ocupam espaços específicos na cadeia de relacionamento do canal, diferenciam-se também no tamanho e na abrangência de mercado, considerando-se o tipo, a quantidade e a dispersão geográfica dos usuários. As observações efetuadas indicam que poucas atividades e papéis de marketing são comuns aos casos pesquisados. Além disto, foi identificado que o conjunto básico de atividades necessárias para um adequado relacionamento com o usuário final, embora contido em toda a cadeia ou sistema do canal, não está estruturado como um todo, ocorrendo eventualmente ineficiência de determinadas atividades e papéis de marketing ou superposição de outros. IV ABSTRACT The purpose of this work is to identify the inforrnation technology (IT) component distribution channel marketing roles, emphasizing this observation on market oriented organization activities to enhancement the relation with corporate customer, and correct positioning of wich component channel brand, whatever brand and technology represented by these companies. To maintain better homogeneity of this evaluation, this study focused all observation on components channel cases that has established on Brazilian country that represented by same brand and manufacturer. The researches comparues have different sizes, In terrn of annual amount sales and dimensions of market share, as quantity and geographic customer dispersion. The observations indicated that few marketing roles and activities are commons to researched cases. Besides, the study also indicated that basic marketing roles set to ideal customer reIatíonsrup aIthough contaíned on system chaín, ís not strategíc organízed. AIso as oóserved that eventually there are useless of some roles or superposition of others. v SUMÁRIO 1. O PROBLEMA ............................................................................................................ 01 1.1. Introdução ............................................................................................................. 01 1.2. Formulação ............................................................................................................ 02 1.3. Objetivos ............................................................................................................... 02 1.4. Objetivo final ........................................................................................................... 02 1.5. Objetivos intermediários ...................................................................................... 02 1.6. Expectativas adicionais deste estudo .................................................................... 02 1.7. Delimitação do Estudo ......................................................................................... 02 1.8. Relevância do Estudo ........................................................................................... 03 ~ 2. REFERENCIAL TEORICO...................................................................................05 2.1. Introdução ............................................................................................................. 05 2.2. Conceito de Marketing......................................................................................... 06 2.3. Cultura Organiz.acionaI .......................................................................................... 0_8 2.3.1. Conceituação............................................................................................... 08 2.3.2. Correntes de pensamento & modelo de Deshpandé e Webster..............09 2.3.3. Atributos predominantes da cultura.....•................................................. 12 2.3.4. Visão crítica ................................................................................................. 13 2.4. Orientação para o mercado .................................................................................. 14 2.4.1. Co-nce"ifuãçáo ............................................................................................. 14 2.4.2. A relação da orientação para o mercado e a cultura organizacional.. .. 17 2.4.3. Proposta estruturada de mudança .......................................................~18 2.5. Inteligência de mercado e a orientação para o mercado ...................................22 2.5.1. Co-nceituação .............................................................................................. 22 2.5.2. Formas de implementação ........................................................................ 22 2.6. Marketing de relacionamento .•••.........••.•...............••••........•................•..•.........•...24 2.6.1. Estruturação conceitual de relacionamento ............................................. 25 2.6.2. N etwork e demais abordagens ................................................................... 25 2.6.3. Rede de relacionamento industrial. .......................................................... 26 2.6.4. O relacionamento no processo de captação da informação.................... 27 VI 2.7.. Gestão .................................................................................................................... 28 2.7.1. Gestor de marketing.......•..........................................................................30 2.7.2. Diferenças entre a gestão do marketing tradicional e a do ampliado ...31 2.7.3. Influências do ambiente externo. ...............................................................35 2.7.4. A ótica humanÍstica.. ...................................................................................36 2.7.5. Gestão na realidade brasileira...................................................................37 2.7.6. Implementação da nova gestão do marketing..........................................39 2.8. Estruturas Organizacionais de Marketing.......................................................... 41 2.8.1. Conceito e principais correntes............................................................... ~41 2.8.2. Atividades de marketing............................................................................45 2.8.2.I.Gestor principal da conta .................................................................... 46 2.8.2.2.Gestor de negócios- nível nacional ou regional (conj. de países). .... 46 2..8.2.3.Gestor de produtos ............................................................................... 46 2.8.2.4.Gestor da inteligência de Marketing................................................... 46 2.8.2.5.Gestor da interfuncionalidade organizací<ffial................................... 47 2.8.2.6.Gestor da coordenação da relação externa........................................50 2.8.3. Canais de marketing na cadeia de relacionamento do fabricante~.51 2.9. Estruturação conceitual. .......................................................................................59 2.9.1. Co-nvergên cias .............................................................................................. 59 3. METODOLOGIA ....................................................................................................... 62 3.1. Metodologia escolhida........................................................................................... 62 3.2. Escolha do tipo de organização a ser pesquisada...............................................62 3.3. Planejamento de trabalhõ .................................................................................... 63 -3.4. Processo de seleção de casos.................................................................................64 3.5. Processo de observação (conjunto referencial)............................................... 65 3.5.1. Processo de observação dos papéis e atividades de marketing...............66 3.6. Ptocesso de observação (visitas e contatos) .........................................................67 4. CASOS OBSERVADOS...............................................................................................69 4.L Ingram Micro......................................................................................................... 69 4.1.1. Descritivo da corporação Intemacional.. ..................................................69 4.1.2. Descritivo da Ingram Micro no Brasil ...................................................... 69 4.1.3. Descritivo da U.N. SUN Microsystem....................................................... 71 VII 4.1.4. Observações realizadas ..•............................••.•.........••••..•........................•.. 72 4.1.5. O Marketing corporativo e a U.N ....................•......•..•...................•.•........ 72 4.1.6. O Mãrketing da U.N ................................................................................ 75 4.1.7. O Marketing do fabricante na visão da U.N .•.•.......••...•............•........•... 76 4.2. Caso 11 .................................................................................................................... 79 4.2.1. Fabricantes representados .........................•..........•.•...........•.....................79 4.2.2. Departamento de Vendãs ...........................................................................80 4.2.3. Cobertura de mercado ............................................................................... 82 4.2.4. Administração da resposta do cliente.......................................................82 4.2.5. Inteligência de mercado ..............................•..............••..............................83 4.2.6. Relàcio-namento 1nterfuncional................................................................. 83 4.2.7. Desenvolvimento de produto.••.••.....•...•....•..••.......••.••....•.•.•••........••.........••84 4.2.8. Relacionamento com o mercado .................•.............................................84 4.2.9. Propaganda ................................................................................................. 85 5. CONCLUSOES............................................................................................................86 5.1. Visão geral das obsenrações................................................................................. 86 5.2. Atividades observadas no caso do Distribuidor ................................................87 5.3. Atividades observadas no caso da Revenda Corporativa ................................88 5.4. Resumo final. .........................................................................................................89 , 6. GLOSSARIO ................................................................................................................ 92 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................95 8. ANEXOS....................................................................................................................... 99 8.1. Carta-convite para os potenciais casos de marketing..•....•...............................99 8.2. Resumo do projeto (anexo da carta-convite) .....•.............•............................... 100 8.3. Roteiro de entrevistas ..................................................................... ____ ...--.-1.01 VIII ÍNDICE DE FIGURAS E QUADROS Figura I VISualização do conceito dos "cinco Cs"•............•.........•........••...........•................. 07 Figura 11 Perspectivas de influ~ncias (exógena e endógena) de cultura organizacionaL .. 10 Quadro I Paradigmas organizacionais..................................•.....................•..................•...... 11 Quadro 11 Modelo de tipos de cultura...............................•.......•............................................. 13 Figura 111 Fluxo das relações da organização........................................................................ 19 Figura IV Formando relacionamento..•.....................•...•................••...................................... 27 Figura V O espectro do relacionamenló.....•.......................................................................... 28 Figura VI Relação entre as dimensões: ambiente e orientação de mercado.........................32 Figura VII Abrangência da gestão do UM".............................................................................35 Figura VIII Perspectivas de relação com o consumidor de Lehmann & Winer......................36 Figura IX Lógica da implantação da orientação para o mercado........................................ 40 Figura X Desenhos organizacionais de marketing............................................................... 42 Quadro 111 Níveis de dimensão ambiental & tipologias organizacionais.......................•.......il4 Quadro IV Consolidação das principais atividades de marketing...•......................................45 Figura XI Mecanismos de coordenação...........•.....•...•...................•......••.......•.........•........•.... 48 Quadro V Diferentes processos de troca. •...................................•.......................................... 52 Quadro VI Exemplo de organização de parcerias.................................................................. 54 Figura XII Variáveis que sugerem estratégias (ótica dos canais).......................................... 56 Figura XIII Influência múltipla e papéis do centro de compras.............................................. 57 Figura XIV Exemplos de temas parafonnação de grupos de usuários.................................. 58 Quadro VII Principais convergências do referencial teórico••.....•.•......................................... 60 Quadro VIII Atividades referenciais de marketing.................................................................... 66 Figura XV Posiçilo dos casos pesquisados na cadeia de relacionamentos............................ 67 Figura XVI Modelo de Negócio Ingram Micro........................................................................ 70 Figura XVII Organograma do marketing corporativo da Ingram Micro ................................. 73 Figura XVIII Organograma simplificado do caso 11 ................................................................. 80 Figura XIX Resumo das observações....................................................................................... 86 1 1. O PROBLEMA 1.1 Introdução A mudança é um ônus, pois requer da pessoa rever a sua maneira de pensar, agir, comunicar, inter-relacionar-se e de se criar significados para a própria vida. Motta, 2000. Após recentes pesquisas, Homburg, Workman e Jensen (2000) afirmam que a nova forma de se fazer negócio está pressionando as organizações para que as atividades de marketing sejam objeto de mudanças. Para Kohli e Jaworski (1990), uma das formas mais efetivas de mudança organizacional, no contexto de marketing, é orientação para o mercado, pois esta orientação é a própria implementação do conceito de marketing. Para Deshpandé e Webster (1989), a orientação para o mercado é a essência do marketing. Além disto, Narver e Slater (1990) constataram que, por mais de 40 anos, profissionais e estudiosos de marketing afirmam que uma empresa que reforça sua orientação para o mercado, melhora a sua performance. Mais recentemente, pesquisas, entre as quais de Day (1999), observam que empresas orientadas para o mercado são efetivamente mais rentáveis que as rivais não orientadas. Era razoável, portanto, imaginar que esta fosse uma prática freqüente, mas como afirma Day (1999), em muitos casos esta proposta de mudança não passa de discurso. O próprio Day (1999), encarrega-se de listar um conjunto de regras básicas que, se não determinam o sucesso da estratégia, pelo menos identificam os focos e prioridades do processo. Uma delas é a necessidade de criação de uma cultura de marketing que seja disseminada por toda a organização. Autores como Kohli & Jaworski, Narver & Slater, e Deshpandé, validam esta tese, mas freqüentemente sugerem em seus respectivos textos, a convivência desta cultura com uma estrutura funcional de marketing, agindo como depositária da experiência deste, contribuindo no exercício de mudança organizacional e atuando nas atividades específicas e tradicionais da área. Aqui se encontra o cerne deste estudo: observar casos inseridos em mercados de alta competitividade para identificar quais são as atividades de marketing existentes. Esta observação será realizada considerando-se duas dimensões "organizacionais". Uma no sentido restrito do termo, isto é, em cada uma das empresas observadas. Outra em uma "dimensão geral" observando os papéis de marketing distribuídos por todo o sistema de canal, buscando detectar sob este ângulo, possíveis influências destes papéis no marketing da "dimensão restrita". 2 1.2 Formulação O objetivo central deste estudo portanto é a identificação de papéis de marketing que de alguma forma contribuam para melhor relacionamento do canal, através dos intermediários observados, com o consumidor final considerando especialmente que: • estes papéis podem estar distribuídos ao longo de uma cadeia de organizações nos níveis de intermediação entre o fabricante e o consumidor final. • os componentes do canal de distribuição observados exercem diferentes funções dentro do sistema de distribuição. 1.3 1.3.1 Objetivos Objetivo Final Identificar, com base na análise de casos e da literatura sobre o tema, quaIS as atividades e papéis fundamentais de marketing presentes nas organizações observadas e no sistema do canal como um todo. 1.3.2 Objetivos Intermediários 1. Identificar e analisar os conceitos de marketing, orientação para o mercado, marketing de relacionamento, gestão de marketing e cultura organizacional no processo de mudança visando interpretar adequadamente as atividades de marketing contidos nos casos analisados. 1.3.3 Expectativas adicionais deste estudo 1. Identificação da ausência de algumas atividades de marketing, tidas pelo referencial teórico como importantes para o relacionamento adequado com o usuário final; 2. Identificação de duplicidade de determinadas atividades de marketing ao longo do sistema de distribuição; 3. Identificação de novas questões que possam ser contributivas para melhor entendimento do tema. 1.4 Delimitação do Estudo O estudo de casos, que será utilizado para testar a questão básica deste trabalho, está restrito ao ambiente de atuação de canais de distribuição de fabricantes de tecnologia da informação TI. O "canal de distribuição" que Kotler (1999) também denomina "canal de marketing" tem o papel de intermediar o fabricante de TI com o público alvo final, restrito 3 neste estudo ao usuário corporativo. Esta intermediação, embora feita por diferentes modelos de empresas, é exatamente a referência de delimitação do campo deste estudo. Portanto, ações dos fabricantes e reações dos usuários finais às atividades e papéis pesquisados não são alvo prioritário deste projeto. As duas empresas envolvidas no processo de entrevistas e de acompanhamento estão relacionadas a uma referência comum de atuação no Brasil, embora uma delas também inclua atuação e matriz no exterior. No aspecto teórico, a análise estará relacionada exclusivamente à estrutura organizacional e às atividades de marketing, embora estas pertençam à estrutura organizacional como um todo. Mesmo quando a avaliação envolver a distribuição das atividades de marketing por toda a organização, o objetivo deste estudo será o foco nas atividades e papéis previstos pela concepção de marketing apresentada no contexto teórico deste estudo, ainda que não necessariamente na forma tradicional de organização do marketing funcional. 1.5 Relevância do Estudo Para Deshpandé e Webster (1989), a intensa competitividade e as profundas mudanças organizacionais para acompanhar as necessidades do consumidor cada vez mais exigente estão contribuindo para uma revisão na forma de praticar o marketing. Neste sentido, uma parte considerável da energia dos estudiosos do tema está voltada para a cultura organizacional e para a identificação de maneiras facilitadoras de condução da organização, visando o mercado como um todo. A agenda do Marketing Science Institute (MSI) propõe pesquisas para entender algumas das importantes implicações entre a gestão do departamento de marketing e o marketing como instrumento de toda a organização (Deshpandé e Webster, 1989:9). Para muitos estudiosos, entre eles Harris e Piercy(1999), há um importante conjunto de barreiras para a implantação da orientação para o mercado. Estes obstáculos, considerando uma perspectiva comparativa com outros temas da disciplina, ainda não foram estudados em profundidade. Os recentes estudos de Deshpandé (1999) evidenciando a necessidade de estudos mais aprofundados sobre os papéis de marketing - cultura (organizacional e externa) e interfuncionalidade- sugerem esforços e pesquisas neste sentido. Deshpandé e Webster (1989), diante destas preocupações relacionadas à atuação de marketing frente aos inúmeros desafios atuais, sugerem prioridade para o tema. Isto é referendado pelo Marketing Science Institute (MSI), especialmente nos centros de 4 desenvolvimento de estudos de marketing. Além disto, temos no Brasil um importante conjunto de canais dos mais variados ramos de negócio, especialmente de fabricantes do exterior que podem e devem contribuir para a melhoria da qualidade do exercício do marketing. 5 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Introdução o conceito de marketing é a base deste referencial teórico e, portanto, é o primeiro bloco analisado. Como o foco deste estudo está na organização de marketing, esta análise busca também nas ciências que contribuem freqüentemente com o marketing, como a sociologia, antropologia e psicologia, importantes fundamentações para a compreensão do funcionamento do processo desta disciplina a partir da atuação das pessoas na organização. Desta forma, o segundo bloco teórico apresentado neste estudo é o da cultura organizacional. Através desta análise, observamos uma importante e atual correlação da cultura organizacional com a estratégia de orientação para o mercado, escolhida como terceiro bloco de análise. Reconhecidos estudos nesta área como os produzidos por Narver e Slater, Koh1i e Jaworski, Day,.. Webster e Deshpandé são analisados neste terceiro bloco e uma das constatações é a importância da informação do mercado na administração de marketing. Assim, o outro bloco analisado é a correlação entre a inteligência de marketing e a orientação para o mercado. Por outro lado, uma adequada captação das informações do mercado depende do relacionamento da organização com este mercado, razão suficiente para a inclusão do quinto bloco teórico que é o marketing de relacionamento. Ainda sob a ótica de uma análise com a perspectiva das pessoas que formam a organização, dedicamos um capítulo teórico, ainda que sucinto, ao gestor e à gestão. Em seguida, temos o conjunto teórico com a análise de alguns estudos organizacionais de marketing que, pela abrangência e atualização, contribuem para o entendimento mais adequado do tema base desta proposta de análise. Embora estes assuntos estejam separados em blocos, trata-se basicamente de uma distribuição didática pois os estudos estão obviamente interligados, o que permite uma consistência maior na observação dos casos práticos analisados após estes capítulos teóricos. Além disto, a interação da maioria dos estudos analisados é constantemente relembrada pelos autores, o que reforça esta necessária integração conceitual. 6 Neste sentido, o referencial teórico é frnalmente sintetizado com a estruturação conceitual, último bloco teórico apresentado. 2.2 Conceito de Marketing O conceito de marketing começou a partir de algumas carências na produção e na caracterização dos produtos como aspectos não previstos pelas disciplinas da administração e de finanças. Em seguida, ampliou sua atuação com a distribuição fisica e os aspectos legais e econômicos das negociações para depois preocupar-se com os aspectos mais amplos da distribuiçãO'. Esta ampliação de abrangência significou o começo do processo de autonomia de marketing da disciplina econômica (Bartels, 1974:73). Nos anos 50, o conceito de marketing tomou um impulso decisivo com a chamada teoria dos "4 Ps", produto, preço, praça e promoção. Além da autonomia completa, o tema sugeriu inúmeros debates que ajudaram na consolidação da execução das funções de marketing (Bartels, 1974). Kotler e Levy em 1969 afirmaram que nenhuma empresa atua sem as atividades básicas do marketing, mesmo que algumas delas não saibam disto. Marketing, então, era visto com uma função na empresa que mantinha uma relação constante com o consumidor, observando suas necessidades, desenvolvendo produtos para atender a estas necessidades e construindo um programa de comunicação que expressasse esta proposta (Bartels, 1974 :73). Entre os anos 50 e 70 a intensa prosperidade do mercado norte-americano, associada a um revolucionário instrumento de propaganda como a televisão, criou uma inédita relação com o consumidor. Os produtores criaram e reforçaram marcas e nelas, ampararam a confiança do consumidor (Brady e Davis, 1993) A proposta dos "4 Ps" e sua característica marcantemente funcional não resistiu à amplitude de desafios do marketing, principalmente pela impossibilidade de captar a inovação e passou a ser usada apenas como referência (Day e Montgomery, 1999: 3). Deshpandé (1999) afirma que o conceito de marketing só alcança unanimidade quando identifica seu fundamento básico de atender o consumidor. Desde Drucker em 1954, afirmando ser marketing o negócio sob o ponto de vista do cliente, até recente proposta de Deshpandé (1999) do "Customercentricity", algo como centralidade no consumidor, a referência da disciplina de marketing está no usuário do bem ou serviço disponibilizado. 7 Para Day e Montgomery (1999), o conceito de marketing na última década foi ditado principalmente por duas correntes: a) uma visão funcional e b) uma visão ampliada e em desenvolvimento a partir da relação original e intrínseca da disciplina com o consumidor. A primeira, numa avaliação do conceito de marketing sob a ótica das atividades, (produto, promoção, praça e preço) encontra dificuldades em sustentar-se com a crescente competitividade e ampliação da sofisticação de interesses e direitos do novo consumidor. Além disto, não tem a abrangência estrutural para interpretar e responder a aspectos como as diferentes características de nichos sociais, diferenças geográficas, religiosas, econômicas e políticas, para citar algumas. A segunda, fixa o papel de marketing como organizador e líder de um processo de cruzamento de disciplinas, culturas e funções tendo por alvo, o consumidor. O conceito de "'4 Cs" (cross-disciplinary, cross-cultural, cross-funcional e customercentric) amplia o conceito original do marketing para uma abrangência inédita. Para Deshpandé (1999) nenhum dos conceitos está inteiramente absorvido e muito menos validado, o que reforça um ambiente contemporâneo rico de indagações e de buscas. A Figura I busca representar a ampliação do papel de marketing proposto por Deshpandé (1999) e inclui a contribuição de Day (1999) com o "'quinto "'C", concorrência. Na representação simbólica desta Figura temos a organização com diferentes áreas "'A" e a área de marketing, tendo o consumidor como foco. À direita da Figura temos a representação do ambiente externo e a descrição dos cinco "'Cs" Organização Ambiente Externo DISCIPLINAS !__________ .... __ ._ .. 1 / © nterrelaçio cultural (cross-culJuraJfocus) ©Interdisciplinaridade (cross-disciplinlIl)' focus) OConcorrênt:iaJeooperaçio (coopetitionfocus) I ©Centralidade no consumidor (customercentric focus) ......... _©Interfuncionalidade (cross-functionaJfocus) Figura I - Visualização do conceito dos "cinco Cs", adaptado de Deshpandé e Day (1999). A ampliação da fronteira de marketing, por outro lado, cna a necessidade de freqüentes empréstimos de outros campos teóricos, em especial da psicologia, sociologia e antropologia (Day e Montgomery, 1999:11). Para Araujo e Easton (1996), a acusação de 8 empréstimos da ciência social, embora com evidências que não convencem, ocorre de fato. Day e Montgomery (1999) também constatam que a área de marketing tem sido vista por outras disciplinas complementares como intrusa, utilizando demasiadamente conhecimentos "alheios" com conseqüente "inchaço artificial" da atividade de marketing. No Brasil a academia produziu durante a década de 90, 272 artigos relacionados com a disciplina onde os principais aspectos estudados foram comportamento do consumidor (18,8%), serviços (10,3%) e estratégias de mercado (9,9%), enquanto o conjunto de estudos sobre os aspectos envolvendo as ciências auxiliares ao marketing atingiram 10,7%. Somente 6,3% dos trabalhos tiveram o objetivo da análise teórica (Vieira, 1999 : 6). O conceito de marketing, essência da disciplina de marketing, pode ser entendido como uma filosofia de negócios, e a implementação desta filosofia revela o comportamento de uma organização, afirmam Kohli e Jaworski (1990). Isto sugere a introdução de nova seção deste estudo que busca entender o ambiente cultural onde a estrutura e a cultura de marketing se inserem. 2.3 Cultura Organizacional 2.3.1 Conceituação Embora não seja um conceito novo, tendo sido discutido inicialmente em 1938, a reflexão sobre a cultura organizacional ficou, durante muitas décadas, ofuscada pela visão racional da organização, afirmam Bolman e Deal (1991) e destacam que hoje o tema ocupa importante espaço tanto na academia como no discurso da nova gestão. Day (1999) é contundente na questão da cultura organizacional quando afirma que não há orientação para o mercado com uma cultura superficial e vai além, dizendo que uma forte cultura representa uma organização que partilha crenças, visões, atitudes e entendimentos e define quais os comportamentos apropriados e inapropriados. Para Bolman e Deal (1991) o conjunto de crenças, valores e práticas reflete para os membros de uma organização, quem eles são e como eles fazem as coisas. Para estes autores, a cultura organizacional é, ao mesmo tempo, produto e processo. Produto por ser a incorporação dos membros que formam a organização e processo na medida em que ela vai sendo continuamente renovada e recriada, eventualmente até pelos novos membros. Símbolos e mitos servem também de referência cotidiana para materializar as crenças e comportamentos que compõem a cultura organizacional (Bolman e Deal, 1991:257). Para 9 alguns, a cultura fonna a maneira de pensar do líder gestor e para outros, mesmo em condições difíceis, é o gestor quem define a cultura (Bolman e Deal, 1991 :268). 2.3.2 Correntes de pensamento & modelo de Deshpandé e Webster Pela variedade de correntes sobre a cultura organizacional, Deshpandé e Webster (1989) consolidaram cinco importantes correntes em um modelo. Nele temos a relação de cada corrente a um dos paradigmas organizacionais. Pela importância de cada visão teórica para a compreensão da realidade organizacional e pela usual utilização delas pelos diferentes pesquisadores da organização~ faremos um breve relato de cada uma. a) Funcionalismo: o pesquisador parte de influências culturais externas à organização interferindo no desenvolvimento e reforçando o conjunto de crenças e valores dentro da organização. Isto ocorre freqüentemente em estudos que avaliam o desempenho e o funcionamento de organizações em diferentes países. b) Funcionalismo Estrutural: onde a cultura é vista como uma variável interna da organização, onde são criados as crenças e os valores que fonnam a cultura. Nesta perspectiva, as métricas e fonnas de acompanhamento dos resultados são fortemente influenciadas pelos valores, crenças, identidades e acordos dos membros da organização. Confonne demonstra a Figura lI, a gestão comparativa baseada na teoria funcionalista, analisa a cultura organizacional sob a perspectiva externa. Em outras palavras, a cultura organizacional é intervencionista na medida em que é efeito da realidade externa. A gestão contigencial, por sua vez, observa a cultura da organização a partir das suas subculturas. Na opinião de Deshpandé e Webster (1989), estas visões de cultura organizacional refletem a motivação de entender a cultura como ferramenta da gestão, ou seja, alavancas que o gestor usa para ajustar ou conciliar estratégia e cultura para atingir os objetivos organizacionais. Smircich (1983), cujo estudo contribuiu para as análises de Deshpandé e Webster (1989), afinna que o tipo de conversa da organização que usa a gestão contigencial ( que ela chama corporativa) tem um estilo freqüentemente otimista ou messiânico, reflexo da visão do líder. A autora ainda observa que o interesse por estas duas perspectivas de análise de cultura organizacional vem principalmente da intenção de controle e aperfeiçoamento da gestão organizacional. Deshpandé e Webster (1989) identificam a forte correlação dos estudos e pesquisas de marketing existentes com estes dois primeiros modelos. Por outro lado, observam que é 10 fundamental que os novos gestores da relação com o consumidor se apressem em conhecer as novas perspectivas em função das novas características organizacionais, em especial aquelas relacionadas a mudanças sugeridas pela orientação mercadológica. É importante observar também a diferenciação que Deshpandé e Webster (1989) fazem entre cultura e clima organizacional. Vêem a cultura organizacional como um conjunto distribuído de definições e entendimentos sobre a organização e clima, como a percepção e expectativa dos membros da organização. ~-....... ~ ORGANIZAÇÃO E SUA CULTURA ORGANIZAÇÃO E SUA CULTURA (nógena) (endógena) cc cc C cc c c c c c cccc c ccccccc c ccc cc ccc c cc cccccc SISTEMA SOCIAL- OBJETIVOS SISTEMA SOCIOCUL TURAL SISTEMA ADMINISTRATIVO TECNOLOGIA - ESTRUTURA ~ CULTURAL Gestdo compaFatiWl SISTEMAS DE PRODUÇÃO CONTEXTO CULTURAL ~ contigencial Figura 11 - Perspectivas de influências (exógena e endógena) de cultura organizacional adaptado de Smircich (1983) As três próximas abordagens, que Deshpandé e Webster (1989) consideram maneiras provocativas de pensar sobre cultura organizacional, são mais influenciadas pela teoria antropológica do que pela sociologia. Os autores afirmam que os teóricos da linha antropológica vêem a cultura não como uma variável mas como a raiz metafórica da própria organização: "cultura não é algo que a organização tem mas o que ela é". Neste sentido, as organizações não são vistas ou entendidas somente sob o ponto de vista econômico mas também sob as perspectivas cognitivas, simbólicas e estruturais/psicodinâmicas. c) Etnociência: nesta perspectiva o pesquisador busca entender as regras que servem como guia do comportamento, da distribuição do conhecimento e dos sistemas de crenças e valores que é a maneira como os membros da organização percebem seu mundo. Gestor e organização fazem parte do sistema de conhecimento. A referência é a gestão do processo de informação e a visão organizacional como um sistema de conhecimento. Esta teoria está relacionada ao cognitivismo organizacional. 11 d) Simbolismo: sob esta visão, o pesquisador vê a organização como um sistema de entendimentos e padrões como símbolos. Os membros organizam e interpretam suas experiências, sempre transformando seus comportamentos que não estiverem adequados ao padrão. e) Estruturalismo e Psicodinâmica: esta última perspectiva analisa a cultura da organização sob a ótica de padrões inconscientes de comportamento. Neste caso, os pesquisadores vêem oportunidades de identificar no inconsciente organizacional, soluções para os problemas de relacionamento. A gestão neste caso é vista como uma combinação entre pensamento, sentimento, intuição e consciência. O Quadro I apresenta um sumário do modelo apresentado. Deshpandé e Webster (1989) alertam porém que este modelo não se aplica a uma organização na sua totalidade. Ele foi criado para ajudar a demonstrar a característica cultural dominante e também para alertar os estudiosos organizacionais quanto à sofisticação do tema, ou seja, ao mesmo tempo que cultura organizacional é fator fundamental para se entender a organização, o assunto é complexo e exige conhecimento. Mais recentemente, Deshpandé, Farley e Webster (1993), em uma nova pesquisa, destacam que dos cinco paradigmas analisados, o cognitivismo organizacional - relacionado à etnociência - foi o de maior desenvolvimento em relação aos outros modelos de análise da cultura organizacional, quer quanto ao processo de trabalho quer na especificação das variáveis e na operacionalização das medições. Quadro I - Paradigmas organizacionais Paradigmas organizacionais 1. Gestão comparativa 2. Gestão contigencial 3. Cognição organizacional 4. Simbolismo 5. Perspectiva estrutural e psicodinâmica Características cbave das teorias Funcionalismo (Malinowski - 1961) teoria clássica de gestão Funcionalismo estrutural (RadcliffeBrown - 1952) e teoria contingencial (Thompson - 1967) Etnociência (Goodenough - 1971) e teoria da organização cognitiva (Weick1979) Simbolismo antropológico (Geertz 1973) e simbolismo organizacional (Dandridge, Mitroff e Joyce - 1980) Estruturalismo (Levi-Strauss - 1963) e teoria de transformação organizacional (Tumer-1983) Localização da cultura Variável independente exógena Variável independente endógena Cultura como metáfora por sistema de conhecimento organizacional Cultura como metáfora por distribuição de símbolos e entendimentos Cultura como metáfora de inconscientes mentais Extraído de Deshpandé e Webster: 7,1989. 12 Para eles, a interpretação da informação cultural dentro das organizações é feita pela leitura do arquétipo individual dos membros da organização. Neste sentido, Deshpandé e Webster (1989) evoluíram do modelo com as cinco correntes culturais, que avaliamos, para um detalhamento das características individuais das lideranças, especialmente na corrente da cognição pois afIrmam que a interpretação da informação cultural, dentro das organizações, é feita pela leitura do arquétipo individual dos membros da organização. 2.3.3 Atributos predominantes da cultura Nesta perspectiva, Deshpandé, Farley e Webster (1993) associaram duas dimensões analíticas de performance (a perspectiva do sistema estrutural e do custo das transações), para criarem um painel de diferentes formas de gestão organizacional que, pela forte relação com o nosso estudo, detalharemos a seguir. Conforme compacto do Quadro 11, os autores identifIcaram quatro tipos culturais predominantes (atributos dominantes, estilo de liderança, obrigação e ênfase estratégica) distribuídos em quadrantes que defInem caraterísticas marcantes da cultura organizacional a partir da visão individual das lideranças. Ainda conforme o Quadro IL notamos que o contínuo vertical vai do processo mecanicista com absoluto controle (topo do Quadro) até o outro extremo orgânico e com ênfase na flexibilidade (parte inferior do Quadro). No sentido horizontal, observamos os extremos: manutenção interna, (à esquerda da tabela) até o posicionamento externo, (à direita do Quadro) respectivamente com ênfase na integração, enquanto na outra ponta uma prioridade na competição, por exemplo. No quadrante inferior à direita (MERCADO), focado na cultura de mercado, as transações são governadas pelo mercado. O quadrante superior à direita, (IMEDIATO) sumaria que a flexibilidade e a tolerância são importantes crenças, termos básicos de procura de novos mercados e novas direções de crescimento. No quadrante inferior esquerdo (HIERARQUIA), as transações estão sob absoluto controle de avaliação e direção. A efetividade do negócio é defInida pela consistência e clareza dos objetivos. Finalmente, o quadrante superior esquerdo (CLÃ) consolida um foco na coesão e participação do grupo. A satisfação dos membros da organização é colocada como prioridade. Deshpandé, Farley e Webster (1993) sugerem que uma avaliação mais criteriosa deve, ao invés da visão macro organizacional, observar especialmente os grandes grupos da organização, como por exemplo, as unidades de negócio. 13 Quadro 11 - Modelo de tipos de cultura - Extraído de Deshpandé, Farleye Webster, 1993: 25. PROCESSO ORGÂNICO (FLEXIBILIDADE E EXPONTÂNEIDADE) TIPO cLà ATRIBUTOS OOMINANTES: Coesão, participação, equipes de trabalho e sentido de família ESTILO DE LIDERANÇA: Mentor, facilitador, paternalista. OBRIGAÇÃO: Lealdade, tradição e coesão interpessoal. ÊNFASE ESTRATÉGICA: Direcionado para desenvolvimento de recursos humanos, compromisso e moralidade TIPO HIERARQUIA ATRIBUTOS DOMINANTES: Ordem, regras e regulamentos e uniformidade. ESTILO DE LIDERANÇA: Coordenador e administrador. OBRIGAÇÃO: Regras, políticas e procedimentos. ÊNFASE ESTRATÉGICA: Direcionado para a estabilidade, predição e operação estabilizada.. TIPO L~IEDIA TO ATRIBUTOS OOMINANTES: Realizador, criativo e adaptável. ESTILO DE LIDERANÇA: Realizador, inovador e que assume riscos. OBRIGAÇÃO: Realização, tle.xibilidade e risco ÊNFASE ESTRATÉGICA: Direcionado para inovação, crescimento e novos recursos. TIPO MERCADO ATRIBUTOS DOMINANTES: Competitividade e focado em objetivos ESTILO DE LIDERANÇA: Decisivo e orientado para atingimento de objetivos. OBRIGAÇÃO: Resultado, produção e competição. ÊNFASE ESTRATÉGICA: Direcionado para as vantagens competitivas e superioridade de mercado. PROCESSO MECANICISTA (CONTROLE, ORDENAMENTO E ESTABILIDADE) o valor do modelo foi reforçado mais recentemente por Day (1999) que salienta as vantagens da análise do ambiente de mudança organizacional a partir da compreensão da cultura organizacional existente. 2.3.4 Visão crítica Harris e Ogbonna (1999) divergem da forma como a cultura organizacional é freqüentemente vista pelos estudiosos de marketing. Eles identificam que a cultura não é um conceito unitário, pelo contrário, é marcantemente pluralista. Observam que os estudos de cultura organizacional são freqüentemente classificados em uma das seguintes categorias: integração, diferenciação ou fragmentação. Para eles, estas três categorias culturais estão simultaneamente presentes na organização. A perspectiva integrativa observa uma consistência cultural de toda a organização. A diferenciação atua na dicotomia dos conflitos subculturais e a fragmentação é a visão sob a perspectiva de ambigüidade e complexidade. '"O completo entendimento de uma cultura organizacional é altamente improvável sem a análise de cada uma destas perspectivas" (Harris e Ogbonna ,1999: 183). Estes autores observam ainda que, embora os estudos de cultura organizacional, promovidos por marketing, aceitem o pluralismo cultural, freqüentemente sugerem que uma 14 subcultura (marketing) conduza todo o processo de mudança. Isto pode configurar a dominação de uma subcultura sobre as demais subculturas da organização. Autores como Felton (1959), Kelley (1992), Messikomer (1987), Payne (1988) e Webster (1994), citados por Harris e Ogbonna (1999), contemporizam a questão afirmando que a dominação cultural depende exclusivamente da habilidade do gestor. Neste sentido, Harris e Ogbonna (1999) questionam: "assumindo que é teoricamente possível, quais os fatores que influenciam a probabilidade de dominação da cultura de marketing?". Entendem que a dominação de uma subcultura vai revelar aspectos como a inexistência de outra sub cultura em condições de contrapor a esta dominação ou a existência de uma fraca composição das sub culturas a ponto de aceitar tal dominação. Neste contexto, vale lembrar que a cultura organizacional pode ter um papel ideológico: "Teorias funcionalistas fundadas em pressupostos positivistas, ideologicamente comprometidas apenas com os interesses do capital, trouxeram (para o Brasil) técnicas e modelos (de mudanças organizacionais) desinteressados em resolver problemas humanos "(Villardi e Leitão, 2000:54). Campos (2000) reforça a preocupação com a realidade nacional quando identifica que os inúmeros modelos de gestão importados podem aumentar os conflitos inerentes à própria cultura organizacional. Além disso, a cultura obsessivamente pragmática e voltada para o curto prazo não favorece a efetivação de uma mudança significativa e transformadora, afirmam Villardi e Leitão (2000). A complexidade do tema fica ainda mais evidenciada pela identificação de Motta (1997) de que grande parte da prática da mudança organizacional presume forte identidade dos agrupamentos sociais que os avanços da virtualidade tendem a dispersar. Por outro lado, ele também acredita na viabilidade de um novo modelo de relação entre a organização e o consumidor, menos técnico e mais baseado nas escolhas humanas, que colocará as pessoas no centro da produção. 2.4 Orientação para o Mercado 2.4.1 Conceituação A fragmentação e a diferenciação da demanda por mercadorias e serviços é uma característica da economia ocidental (Gay e Salaman, 1992:617). Os autores acrescentam 15 que a pressão dos consumidores, especialmente causada pela diferenciação da demanda, está forçando radicais mudanças organizacionais que estão se tornando uma norma. Para Kohli e Jaworski (1990), a organização orientada para o mercado é uma ação consistente com o conceito de marketing. Para Narver e Slater (1990), a expressão "orientação para o mercado" utilizada neste estudo, envolve aspectos culturais e de clima organizacional visando criar valor superior para o consumidor. De acordo com Day (1999), a empresa que é orientada para o mercado demonstra, acima de tudo, uma habilidade superior de entender, atrair e manter consumidores importantes, considerando que este conceito tem o objetivo de fazer com que a empresa esteja mais próxima do consumidor que o competidor. Além disso, um conjunto expressivo de pesquisas confirma que as empresas orientadas para o mercado são normalmente mais rentáveis que as rivais não orientadas. A capacidade organizacional de responder a questão sobre as influências da orientação para o mercado significa entender claramente o papel do conceito de marketing, ou seja, compreender que a organização existe para atender específicas necessidades de pessoas. Para Narver e Slater (1990), orientação para o mercado é certamente o coração da moderna gestão e estratégia de marketing. Responder às questões sobre o modelo de gestão de marketing para implementar a orientação para o mercado pressupõe não só entender D conceito de marketing, mas também entender seus papéis e responsabilidades. Não somente as responsabilidades tradicionais de gestão do processo de troca entre a organização e o mercado, mas principalmente as novas responsabilidades de gestão do relacionamento de toda a organização com as necessidades do mercado. Para Kohli e Jaworski (1990), o conceito de marketing é essencialmente uma filosofia de negócios. Orientação para o mercado é composta pela orientação para o consumidor, orientação para a concorrência e uma coordenação interfuncional. Orientação para o consumidor e orientação para o competidor significam todo o conjunto de informações sobre o mercado, incluindo oportunidades, tendências, riscos e barreiras reais ou potenciais. A coordenação interfuncional significa a estruturação de esforços dentro da organização no sentido de organizar e disseminar as informações para que isto reflita como valor diferencial para o consumidor. Isto ultrapassa a abrangência da gestão característica da área de marketing (Narver e Slater, 1990). Das qualidades mais importantes de uma organização orientada para o mercado destacam-se: 16 a) uma cultura orientada para fora, entendendo continuamente o ambiente externo para prover uma resposta superior ao consumidor; b) uma capacidade distinta na sensibilidade sobre o mercado e no pensamento estratégico antecipatório, e c) uma organização envolvida completamente com a continuidade de respostas e capacidade de mudança conforme o movimento do mercado (Day, 1999:7). A expressão "orientação para o mercado" foi utilizada nos estudos iniciais sobre o tema como orientação de marketing. Para Kohli e Jaworski (1990), a troca de rótulo pode refletir algumas intenções dos principais envolvidos no desenvolvimento do assunto, considerando que a orientação para o mercado pressupõe o envolvimento de toda a organização,. independentemente de departamentos, e que é mais razoável politicamente convencer a organização sem inflar a importância do departamento de marketing Para Harris e Ogbonna (1999), os termos orientação de marketing ou de mercado são usados sem uma explícita consideração na maioria dos estudos. Eles completam que os principais teóricos de marketing e gestão usam as expressões cultura orientada para o mercado e cultura de marketing como conceitos similares. Para Deshpandé, Farley e Webster (1993), orientação para o mercado e orientação para o consumidor também são usados indistintamente, enquanto que para Narver e Slater (1990), a orientação para o consumidor está contida na orientação para o mercado. Para Gay e Salaman (1992), clientes e consumidores têm a mesma conotação. Sob esta perspectiva, usamos neste estudo as expressões orientação para o mercado ou para o consumidor com o mesmo sentido, assim como, cliente, consumidor ou usuário final, variando apenas em função do contexto ou da referência original utilizada. Mais recentemente, Deshpandé e Farley (1998), em função dos avanços dos estudos sobre a implantação desta estratégia de mudança, ajustaram a definição de orientação para o mercado: "... conjunto de processos funcionais inter-relacionados e atividades diretamente relacionadas com criação e satisfação dos consumidores através de uma contínua avaliação das necessidades. " Para estes autores, outro ponto importante é o fato de que a orientação para o mercado tem relação com o grau de proximidade do mercado e o investimento. Em outras palavras, quanto mais conhecimento se quer ter do consumidor, mais investimento será necessário. 17 2.4.2 A relação da orientação para o mercado e a cultura organizacional A questão sobre a influência da cultura, por sua vez, permeia todo o processo. Deshpandé e Webster (1989) deixam claro que o conceito de marketing define uma distinta cultura, uma distribuição de um conjunto fundamental de valores e crenças que colocam o cliente no centro do pensamento estratégico e operacional da organização. Para eles, modelos de organização que não incluem a questão da cultura como uma específica variável organizacional são incompletos. Narver e Slater (1990) reforçam que orientação de mercado é em si, uma cultura criadora de comportamentos que se preocupam em gerar valor superior nas soluções para o mercado. Ainda em Deshpandé e Webster (1989) encontramos uma das diversas correlações entre a orientação para o mercado e a cultura organizacional. Eles afirmam que o conceito de marketing define uma distinta cultura organizacional que coloca o consumidor no centro do pensamento organizacional e operacional. No mesmo artigo, os autores demonstram a preocupação com uma inadequada criação de modelos de cultura organizacional pelos profissionais que atuam com o consumidor. Na visão destes autores, isto ocorre ou pela sofisticação e novidade do tema ou pela forma inapropriada de aplicação dos conceitos de cultura, próprios de disciplinas específicas. Para Kohli e Jaworski (1990), organização orientada para o mercado é uma ação consistente com o conceito de marketing. A empresa que é orientada para o mercado demonstra, acima de tudo, uma habilidade superior de entender, atrair e manter consumidores importantes, considerando que este conceito tem o objetivo de fazer com que a empresa esteja mais próxima do consumidor do que o competidor. Além disso, um conjunto expressivo de pesquisas confirma que as empresas orientadas para o mercado são normalmente mais rentáveis que as rivais não orientadas (Day,1999:13). "Nós vemos a orientação para o mercado como um conjunto de crenças que põe o interesse do consumidor em primeiro lugar, não excluindo os dos acionistas, proprietários, gestores e funcionários, para desenvolver um processo duradouro de lucrativo empreendimento" (Deshpandé, Farleye Webster, 1993:27). Estes mesmos autores reforçam que orientação para o mercado faz parte de um todo e fundamentalmente de uma cultura organizacional. Não basta apenas um simples foco nas informações do mercado. É preciso uma preocupação profunda com as raízes do conjunto de crenças da organização que podem inclusive, reforçar a orientação para o mercado. 18 Uma das preocupações no estudo de Deshpandé, Farley e Webster (1993) foi sincronizar a visão dos gestores com a dos consumidores quanto ao grau de foco da organização na orientação para o mercado. Alertam inclusive para o fato de que, quando a observação da organização é isolada, freqüentemente os gestores acreditam ser orientados para o mercado sem necessariamente uma coincidência de visão por parte deste mercado, o que reforça ainda mais o distanciamento entre a estratégia e a implementação. Dentro do contexto de complexidade da implementação, Day (1999) afirma que a mudança ameaça as pessoas e provoca resistências. Organizações que tiveram sucesso no passado têm maiores dificuldades. Nas palavras de Kotler "gestores arrogantes podem superavaliar sua performance e posição competitiva, ouvir pouco e aprender lentamente" (Day, 1999:224). Os efeitos podem ser letais para o processo de mudança. Apenas a decisão estratégica de implementação de orientação para o mercado não é suficiente para o sucesso da empreitada. Kohli e Jaworski (1990) reforçam que este sucesso é também reflexo das atividades e comportamentos da organização e complementam que esta mudança organizacional tem que ser liderada pelos principais executivos desta organização. Em linha com este raciocínio, Day (1999) identifica seis condições básicas para evitar os riscos de um processo de mudança: 2.4.3 Proposta estruturada de mudança Os seis passos propostos por Day (1999) refletem uma importante contribuição para a infra-estrutura cultural da mudança. Demonstração de compromisso de liderança( existe a definição de) • Quem percebe a necessidade de mudança de orientação? • Quem está compromissado com esta mudança? • Quem faz com que o mercado seja a prioridade? • Quem se dispõe a investir tempo e recurso? • Quem tem definido objetivos agressivos de melhoria? • Quem tem estabelecido um senso de urgência? Entendimento da necessidade de mudança (os implementadores) • Têm o entendimento do que significa a orientação para o mercado e quaIS são as mudanças necessárias? • Conhecem as barreiras das mudanças? • Vêem como o programa de mudanças vai beneficiá-los e aos negócios? 19 Comprometimento de mobilização (os responsáveis pela mudança) • Têm experiência e credibilidade? • Reconhecem quem mais precisa ser compromissado para que a mudança ocorra? • Sabem como formar uma coalizão de colaboradores e vencer as resistências? • Têm os recursos de que necessitam? Construção de visão (todos os funcionários) • Entendem como será criado valor superior para o mercado? • Sabem o que precisam fazer de diferente? • Estão motivados com os resultados prometidos? Alinhamento da estrutura, sistemas e incentivos (existe plano confiável para) • Modificar a estrutura e sistemas da organização? • Recrutamento, desenvolvimento e desdobramento para as pessoas na nova estrutura? • Desenvolvimento de sensibilidade para o relacionamento com o mercado? • Encorajamento e recompensa por um comportamento direcionado para o mercado? Sustentação da mudança (os responsáveis pela mudança) • Sabem como começar e garantir um rápido sucesso? • Têm referências de progressivas medições? • Têm um plano de focar a atenção no programa de mudança? Embora de grande abrangência, estes seis passos captados por Day (1999) indicam duas preocupações fundamentais para o sucesso de uma implementação: a garantia de que as pessoas envolvidas no processo de mudança saibam o que, porque e como fazer e sobretudo, estejam motivadas para isto. Em outras palavras, deve haver consistência da liderança no incentivo, apoio e retaguarda. MERCADO + RELAÇÃO INTERDEP ART AMENTAL RELAÇÃO ENTRE AS LIDERANÇAS + ROGRESSO DAS RELAÇÓES DENTRO DA ORGANIZAÇÃO, f','UM PROCESSO DE MUDANÇA. S PESQUISAS DE HOMBURG, WORKMAN e JENSEN (2000) DAY (1999) E DESHPANDÉ e WEBSTER, ENTRE OUTROS, MOSTRAM PONTOS DE FREQÜENTES RISCOS DE BARREIRAS NESTE PROCESSO DEFINiÇÃO DOS NOVOS LíDERES Figura IH - Fluxo das relações da organização 20 A Figura IH demostra que desde a decisão organizacional sobre as lideranças do processo (freqüentemente definidos pelo diretor geral), até a total implementação e manutenção da estratégia de mudança~ existe um conjunto de novas relações que efetivamente regulam todo o comportamento da organização. "À medida que se assumiu a inovação como um fator de progresso, a resistência à mudança ganhou novas formas de tratamento. A aceleração tecnológica, a alta competitividade empresarial, a maior demanda por serviços públicos e a democratização do trabalho introduziram a visão da resistência diferente de perturbação da ordem ou contestadora da autoridade. Passou-se a focalizar a resistência primeiramente por características pessoais e posteriormente em função dos interesses organizacionais." (Motta, 1997: 189). Ainda em Motta, encontramos o aspecto da recusa ao ônus da transição. Ele identifica que a mudança, de fato, é uma promessa de uma situação geral melhor, porém sair de um ponto ao outro exige muitos sacrificios. Mais do que isto, nesta fase~ conflitos adormecidos ou administrados surgem e impactam praticamente toda a organização. As resistências são freqüentes. A implantação da nova gestão de marketing portanto, dá ênfase ao entendimento geral e ao comprometimento com a mudança. Desde a liderança forte ao mais recente colaborador, não pode haver dúvida sobre as razões e o firme interesse de todos neste processo. Kohli e Jaworski (1990) observam que uma mudança organizacional pode ocorrer por exemplo, com a troca de um sistema financeiro (lucro, vendas) para um sistema baseado no mercado (satisfação do consumidor, inteligência de mercado). Isto significaria que executivos de formação financeira fariam parte da nova gestão para a orientação para o mercado, mas sem ter necessariamente perfil, motivação e conhecimento para tal. Uma conseqüência da orientação para o consumidor, detectada por Lucas e FerreI (2000), é que uma grande ênfase na orientação para o mercado aumenta a introdução de novos produtos e reduz o volume de produtos recic1ados. Em outras palavras, entendem que a orientação para o mercado é fonte para uma inovação marginal. Além das ferramentas tradicionais de identificação de necessidades, como observação dos clientes, experimentação de mercado, grupos focados e pesquisas, a relação mais próxima com o consumidor IlBUOTECA MARIO HENRIQUE SIMONSEJI PUNDACAO GETUUO VARGAS 21 (sugerida pela orientação para o mercado), permite questionar o próprio cliente sobre as novas necessidades. Lucas e FerreI (2000) acrescentam que uma demasiada ênfase no competidor tem o efeito inverso, ou seja, o aumento de lançamento de produtos reciclados e diminuição dos produtos inovadores. Concluem neste caso que a orientação para o competidor é fonte para a imitação de produtos. Deshpandé, Farley e Webster (1993), Narver e Slater (1990) e Kohli e Jaworski (1990) estabelecem consensualmente que a orientação de mercado é efetivamente uma cultura organizacional. Além disso, a mais eficaz e eficiente para criar um valor diferencial para o consumidor. Harris e Ogbonna (1999) observam que o conceito da orientação para o mercado é bem aceito pelas corporações e a cultura organizacional é bem vista pelos praticantes e teóricos da gestão organizacional. Não surpreende, afirmam, que haja uma forte integração dos conceitos e que os estudos acabem por criar uma "cultura de orientação para o mercado" Harris e Ogbonna (1999). Mais recentemente, Deshpandé e Farley (1998), sobre a comprovação do conceito. Considerando o pluralismo cultural, Harris e Ogbonna (1999) entendem porém que provavelmente esta conceitualização de "cultura de orientação para o mercado" desenvolvida pelos teóricos de marketing, ou é incompleta ou errada. O aspecto do domínio de uma subcultura, no caso a "cultura de orientação para o mercado" sobre as demais subculturas da organização, reforça este erro. Numa pesquisa nacional registrada em recente artigo de Colbari, DeveI e Santos (2001), os autores identificam uma "cultura orientada para o mercado usada como instrumento de coação". Aspas, neste caso, porque para os autores, o conceito tem conotação ideológica. As empresas pesquisadas, afirmam, incorporam o artificio segundo o qual todos os funcionários devem posicionar-se como clientes, fazendo com que a organização toda se veja como um conjunto de consumidores. Os autores identificaram nas duas organizações pesquisadas que esta conotação da predominância da cultura do mercado interfere nas relações sociais, padrões de gestão e no processo de formação profissional. O mercado externo é uma permanente referência ameaçadora de sobrevivência da organização. Além disso, citam Neuville (1999) para lembrar que um consumidor típico tem, em teoria, várias opções de fornecimento, enquanto que como cliente de outro departamento, não existe alternativa. Os profissionais da organização, sob o discurso de uma "cultura de orientação para o cliente" de fato estão sob o domínio de uma subcultura. Além disto, como 22 clientes (internos) que só possuem um único fornecedor, são vítimas de um "monopólio", avaliam Colbari, DeveI e Santos (2001). Harris e Ogbonna (1999) destacam que uma cultura orientada para o mercado dependente de alguma forma de dominação terá imensas dificuldades de implementação. Neste ponto, faremos uma breve investigação sobre a importância da correta administração das necessidades do consumidor e sua correlação com a orientação para o mercado. 2.5 Inteligência de Mercado e a Orientação para o mercado 2.5.1 Conceituação A conceituação de inteligência de marketing, segundo Kohli e Jaworski (1990), congrega as necessidades e preferências do consumidor, o que significa a análise de como eles são afetados por aspectos externos como regulamentos governamentais, tecnologias, competidores e outras forças ambientais. Acrescentam, baseados em pesquisas com executivos, que uma efetiva inteligência de marketing congrega não só as necessidades atuais dos clientes mas também as futuras. Narver e Slater (2000) entendem que a inteligência é UllLdo&- ativos rnai.& valiosos do negócio. Reforçam que, como qualquer ativo, a inteligência pode ser depreciada com o tempo, devido à dinâmica do mercado e à própria disseminação da inteligência pelo mercado. Para Day (1999), quando o conhecimento é distribuído por toda a organização, passa a ser um ponto referencial comum e um conjunto de pressupostos que assegura que a estratégia está correta, ao invés de uma série de atividades desconectadas. A distribuição deste conhecimento por toda a organização é tão importante, que ele sugere para as organizações com dificuldade na implementação, um processo impostü decim.aparabaixo. O que conta para ele é a criação de um sistema de análise da competição abrangente que possa orientar todos os estudos internos sobre as necessidades do mercado. O desafio está, portanto, em desenvolver contínua geração de nova inteligência. 2.5.2 Formas de implementação Diversos autores, e entre eles Day (1999) afirmam que a estratégia de orientação para o mercado leva muito tempo para ser construída e implantada, mas pode ser desmontada em 23 alguns meses. Day (1999) salienta que uma forte orientação para o mercado é a interligação entre a estrutura da organização, a capacidade de suporte de informações de negócios, controle e um sistema de recompensa. Em outras palavras, a orientação para o mercado precisa ter uma forma estruturada de captar informações relevantes do mercado e utilizá-la adequadamente. A esta forma estruturada ele dá o nome de inteligência de mercado. Narver e Slater (2000) recentemente apresentaram um estudo sobre a relação entre a geração da inteligência e o valor superior que a orientação para o mercado pressupõe para o consumidor. Neste estudo, observam que uma organização tem alta capacidade de aprendizado quando: a) indivíduos adquirem inteligência; b) indivíduos trocam a inteligência com a organização; c) os membros da organização atingem a distribuição da interpretação da inteligência e d) a organização considera mudanças no comportamento dos seus membros baseada na distribuição de inteligência. Em outras palavras, a inteligência de mercado está totalmente relacionada com o comportamento da organização, quer por ser necessariamente um processo de inter-relação abrangente e duradouro, quer porque a sua implementação é resultante da configuração da cultura organizacionaL Para Narver e Slater (2000), o processamento da informação pode influenciar o comportamento da organização em pelo menos três aspectos: 1) ação orientada para o uso, ou seja, quando a aplicação da inteligência está diretamente relacionada para resolver problemas ou explorar oportunidades; 2) melhoria do conhecimento que pode servir de base para uma futura mudança de comportamento, e 3) o uso da inteligência para o principal objetivo que é o aumento da satisfação do mercado. Em Kohli e Jaworski (1990), observamos que a geração da inteligência de marketing não está fundamentada apenas em pesquisas dos consumidores mas num conjunto de mecanismos. Envolve a coleta de dados primários ou a consulta secundária de outras fontes e pode ser formal ou informal. Os mecanismos incluem reuniões e discussões com clientes e parceiros, análise de relatórios de vendas, análise de relatórios abrangentes, além dos relatórios específicos de satisfação de clientes entre outros. 24 Os processos de captação de informações são variados, mas Day (1999) dá atenção especial àqueles manifestados pela linha de frente da própria organização: "a parte natural da pequena empresa é o relacionamento" (Day,.1999:78). Por outro lado, somente captar a informação não significa muito. Day (1999) explica que antes de usar a informação, a empresa precisa classificá-la, separá-la até simplificá-la a padrões coerentes para toda a organização. Para ele, o que distingue uma organização orientada para o mercado é um profundo e atualizado conhecimento do consumidor que alavanca a antecipação de oportunidades mercadológicas, permitindo que a organização atue antes do seu concorrente. Pela importância do conceito de relacionamento para este estudo e pela estreita relação deste conceito com a disciplina de marketing, faremos uma breve avaliação desta linha de pensamento. 2.6 Marketing de Relacionamento Relacionamento de mercado não é um tema novo. Para Healy et aI (2001), o tema já vinha sendo tratado desde os anos setenta, simultaneamente, mas independentemente por autores europeus e norte-americanos .. Antes mesmo de Levitt em 1985, Berry (1983) fazia referência à fidelização como forma de atingir a satisfação do cliente e melhores resultados diante da concorrência. Durante um período, marketing de relacionamento foi entendido como o estudo da relação entre o vendedor e o comprador, como reforçam Levitt (1985) e o próprio Berry (1983). Posteriormente, autores como Morgan (1994) e Hunt (1995), entre outros, ampliaram significativamente este conceito. Este novo enfoque considera que muitos outros tipos de relacionamentos interferem na satisfação do cliente, como por exemplo, relacionamentos com fornecedores, com os concorrentes, com o governo e ainda o conjunto de relacionamentos internos da organização. "Marketing de Relacionamento se refere a todas as atividades dirigidas a estabelecer, desenvolver e manter as trocas relacionais de sucesso" (Hunt e Morgan: 1995). Morgan e Hunt (1994) buscam na teoria sociológica da rede de relacionamentos, o embasamento para a ampliação do espectro do relacionamento de marketing. As fronteiras entre D marketing de relacionamento e a teoria de rede de relacionamento são freqüentemente avaliadas por inúmeros estudos, entre eles, Matlsson e Coviello, conforme afirmam Healy et aI (2001). Estes autores reforçam as superposições, as similaridades e os aspectos de subordinação entre os temas. Embora estes artigos sejam importantes para a 25 análise, Healy et aI (2001) admitem que há uma lacuna sobre as efetivas fronteiras entre os temas na literatura. 2.6.1 Estruturação conceitual de relacionamento Para Healy et aI (2001), esta diversidade conceitual mereceu uma análise de estruturação que culminou com uma proposta de três blocos que dão sustentação a um conceito geral: relacionamento de marketing, neo-relacionamento de marketing e a teoria da cadeia de relacionamentos. O relacionamento de marketing representando o conceito em sua origem, ou seja a relação entre vendedor e comprador. O neo-relacionamento de mark.eting por sua vez, indo além da relação vendedor e comprador para incluir as atividades de marketing como responsável pelo sucesso da troca entre estes dois atores. Por ~ arede de relacionamentos envolvendo três ou mais atores numa complexa estrutura. 2.6.2 Network e demais abordagens Para Araujo e Easton (1996), a rede de relacionamentos tem sido divulgada e difundida especialmente pela comunidade envolvida com o paradigma organizacional da cognição, apresentado no Quadro I - página 15 - deste estudo. Eles identificam que a rede de relacionamentos tem sua fundamentação nas disciplinas e suas subdivisões disciplinares da sociologia, sociologia da ciência e tecnologia, teoria das organizações, política social, ciência política, marketing industrial e compras, geografia econômica, estudos de empreendedorismo e estudos comparativos, e sistemas econômicos. Através de um conjunto de dimensões, Araujo e Easton (1996) caracterizam diversas abordagens diferentes de rede de relacionamentos. Assim, a partir de dimensões como, por exemplo, a natureza dos atores envolvidos (indivíduos, grupos, empresas) a natureza da relação ou através de que fluxo a relação se processa (recursos econômicos, amizade, informação) ou a orientação metodológica, os autores selecionam dez diferentes tipos de rede de relacionamentos. Para os próprios autores, porém, dos dez tipos diferentes de abordagens identificadas, duas são mais significativas: a rede de relacionamento social e a rede de relacionamento industrial. A primeira pela própria originalidade, na medida em que esta é a teoria básica em que estudos de relacionamento de marketing foram alimentar-se. A segunda pela sua origem em estudos orientados para a relação dos mercados industriais, internacionais e canais de distribuição. Além disto, a rede de relacionamentos industriais tem uma correlação importante com as abordagens das transações econômicas, de relações 26 contratuais e a teoria interorganizacional. Em outra palavras, é a abordagem mais especializada e mais próxima da realidade do relacionamento organizacional, quer com outras orgà.ilizàções~ quer Com o próprio mercado e neste sentido, com importante relação para este estudo. 2.6.3 Rede de relacionamento industrial Araujo e Easton (1996) identificam nos estudos de Hakansson, de1982, e de Tumbull & Valia, de 1986, as raízes desta teoria. Em especial, com as avaliações sobre a interação entre o vendedor e o comprador no mercado industrial e a classificação sob o tipo de abordagem de interação. Afinnam que a base da análise foi originalmente sobre a caraterística econômica da troca entre os atores comprador e vendedor. Segundo Araujo e Easton (1996) identificam-se naqueles trabalhos um conjunto de padrões complexos de diferentes níveis em cada evento de relacionamento entre o vendedor e o comprador. De fato, estes estudos revelam, na opinião de Araujo e Easton (1996), uma micro ação de toda uma complexidade relacional identificada na teoria das relações sociais denominada conectividade das relações sociais. Esta conectividade, aplicada ao conceito de relacionamento de negócios dá a dimensão da abordagem de rede de relacionamentos industrial Embora o conceito de rede de relacionamentos venha sendo usado de manelra variada, Araujo e Easton (1996) preferem utilizar a abordagem de Hakansson & Johanson, de 1992, que congrega o conceito de rede de relacionamento industrial em tomo de um modelo que envolve atores, recursos e atividades. "O objetivo principal desta revisão é contextualizar a noção de rede de relacionamento no sentido de sua utilização nas atividades de marketing entre organizações" Araujo e Easton (1996). Para Allee (2000: 36) o maior desafio estratégico é reconfigurar o negócio saindo da cadeia de valor e indo para a cadeia de relacionamentos. A idéia central, na proposta da rede de relacionamento industrial é agregar a marketing a importância de observar as interações de mercado além da simples relação de quem vende com quem compra, afinnam Araujo e Easton (1996). Convém relembrar neste ponto, que a preocupação e a estruturação do interrelacionamento contido na proposta de rede de relacionamento industrial rapidamente avaliada neste projeto, também envolve as relações entre os atores internos da organização. 27 2.6.4 O relacionamento no processo de captação da informação Day (1999) reforça que todas as áreas que contatam o cliente preCIsam ter a sensibilidade de ouvir e trazer a infonnação para a organização. Beneficios mútuos _ _ _ ompromlsso _ _ ~C . --Vendedor ou produtor Usuário final comprador Confiança Formas de conexão~ OInrormação DSocial Dprocesso Extraído de Day, 1999, p. 135 Figura IV - Fonnando relacionamento A fonnação de relacionamento, fundamental para a sustentação de fluxo adequado de infonnações para manter a inteligência de mercado não é algo simples. Day apresenta duas razões para justificar dificuldades na implementação: a primeira quando o processo de troca é feito rapidamente. O cliente raramente estará com tempo e disposição para falar sobre sua visão do produto ou serviço prestado. A segunda é o custo envolvido na criação de um relacionamento estreito com o cliente, embora esta relação freqüentemente traga resultados positivos para a organização. Day observa que a relação entre a organização e o mercado ocorre com quatro facetas diferentes que podem identificar a sustentabilidade do sistema ou sua fraqueza confonne demonstrado na Figura IV. Beneficios mútuos: refletem a extensão da distribuição das vantagens para ambos, definidas em um compromisso contratual. Num nível mais baixo de compromisso existe o cliente que é atraído por esta modalidade de comprometimento para conseguir incentivos em preços e é vulnerável à competição, sempre que esta oferecer maiores vantagens. Um exemplo típico deste tipo de relacionamento é o programa de milhagem das companhias aéreas, que têm a característica de serem facilmente copiados. No nível mais alto de compromisso está a relação de parceria, freqüentemente fonnada a partir de interesses comuns e com contratos que servem basicamente para reforçar a relação. Confiança: esta é a verdadeira base do relacionamento. Exige que cada parte envolvida creia que a outra está interessada na vantagem mútua. Esta relação é típica 28 em serviços, especialmente pela sua intangibilidade e envolvimento com mão de obra intensiva. Day (1999) demonstra certo pessimismo na plenitude desta relação pela realidade do mercado onde faltam credibilidade e integridade. Formas de conexão: as formas de relação entre quem vende e quem compra são diversas e podem ser distribuídas em algumas dimensões típicas como troca de informações por um canal de comunicação como, por exemplo, a internet ou um sistema eletrônico de troca de dados; a relação entre grupos SOClaIS, como por exemplo, associações de usuários da solução fornecida. As dimensões de beneficios mútuos, compromissos, confiança e formas de relação, indicam para Day (1999) que a combinação de níveis e intensidade varia para cada dimensão no que chama de continuo de relacionamento. TrQcas transacionais r~------A...._----.,,\ Trocas CQm valores agregados r~-----..A...._----.,,\ • Troca co laborativa r~------A...._----.,,\ • Colaboração completa e integração do fornecedor com o consumidor ou canal parceiro Transação anônima compra automática Figura V - O espectro do relacionamento - extraído de Day, 1999: 137. A linha de troca apresentada na Figura V demonstra um contínuo entre uma simples transação até o outro extremo onde se encontra a colaboração forte nas duas direções, ou seja comprador e vendedor compartilhando beneficios da transação. Entre estes dois extremos estão as trocas de valor agregado onde se encontram as empresas que estão saindo da fase de captar clientes para manter clientes. Observamos nesta Figura que o marketing de relacionamento está no extremo direito do espectro apresentado. Trata da necessidade de um relacionamento duradouro com o mercado. Assim, passamos a avaliar o papel do gestor que representa a organização; é seu interlocutor, resume a influência da organização, é o resultado da visão organizacional e ao mesmo tempo, influencia o processo de interação interna 2.7 Gestão Para Motta (2001) é um termo genérico que sugere dirigir e decidir. Por outro lado, afirma, este termo busca eliminar ou reduzir a conotação preconceituosa que os termos 29 administração, gerência e direção acabaram assimilando no Brasil, na medida em que estes termos foram vítimas de ambigüidades e incompreensões, típicas de um campo de conhecimento novo. o conceito da gestão concentra um dos mais importantes paradoxos da organização pOIS desde a fase inicial da industrialização, a administração reflete duas contradições básicas: uma interna, na medida em que o empregador busca o maior lucro reduzindo ao máximo seus custos, incluindo neste caso, a folha salarial, e uma externa, que é o objetivo de crescimento máximo da organização, incluindo aí qualquer ação para ser o líder no ramo de negócios. O reflexo destas contradições atinge diretamente o modo de ser e de atuar do gestor (Aktouf, 1996: 112). A complexidade da realidade organizacional contemporânea molda o gestor moderno, afirma Motta (2000). "A produtividade mais elevada convive com a ansiedade quanto ao emprego e à própria sobrevivência. Reforçam-se os valores da riqueza material e do consumismo e ao mesmo tempo proclama-se a espiritualidade humana e o trabalho como status social. "(Motta, 2000). Funcionalmente, o gestor se apoia num conjunto de saberes que o guiam na atuação organizacional, planti ando , organizando, dirigindo e controlando junto aos colaboradores, empregados, fornecedores, clientes, sociedade e natureza (Aktouf, 1996: 148). Motta (2001) complementa que alguns gestores compartilham angústias e frustrações diante da obrigatoriedade de adoção de comportamentos organizacionais nem sempre compatibilizados com seus comportamentos. Isto ocorre porque a gestão é legitimada no próprio cotidiano da organização. Dentro deste contexto, é razoável admitir que as contradições da atividade podem provocar importantes desvios no clima da organização, no seu plano estratégico e, por conseqüência, nos seus resultados. Bolman e Deal (1991) declaram o interesse e a esperança pela descoberta de um novo perfil de gestor, mais compromissado com o humano, mais flexível e versátil, mais artista que analista e que crie novas oportunidades e questionamentos pela aplicação da experiência pessoal. Motta (2001), diante das recentestendêncÍas-d~revisão da ação do gestor..-resume: "Possivelmente, a descrição do ilógico e do irracional na decisão gerencial não fosse tão enfática se não tivessem sido também, no passado, tão exageradas as propostas para a racionalidade organizacional. " 30 Outro aspecto fundamental identificado por Motta (2001) é a questão do jogo do poder, onde o gestor está totalmente envolvido. Resume que toda a tradição de racionalidade da organização esbarra na atuação humana e em especial no aspecto do poder. Quanto maior a organização, mais poder haverá e quanto mais poder, maior será a cobiça pela capacidade de influência na organização. Motta (2001), citando Walsh e Petigrew, destaca que onde existem subunidades existe não só a necessidade de interdependência mas também interesses grupais baseados na própria divisão. A gestão está também relacionada com a questão do prazo: "Por que os empresários aceitarão mudar sua VISao de maximização de lucro a curto prazo sem maiores preocupações com responsabilidade social, pela lucratividade a longo prazo que incorpore beneficios a seus vários públicos? "(Vil/ardi e Leitão, 2000:68). É exatamente na questão do lucro a longo prazo onde reside uma das maiS importantes barreiras iniciais à mudança. A configuração de uma nova gestão e portanto de um novo papel do gestor está absolutamente subordinada a uma decisão estratégica de mudança comprometida com o longo prazo. A complexidade da função está portanto na soma de suas idiossincrasias com as necessidades e interesses do capital a que ele serve. Da abrangência de atuação do gestor genericamente falando, vale neste ponto, um pouco de foco no gestor de marketing e nos eventuais aspectos que o diferenciam. 2. 7.1 Gestor de Marketing Já em meados da década de 50 notava-se que a gestão de marketing não era uma função separada, antes disto, fazia parte de todo o negócio sob o ponto de vista do consumidor. O conceito de marketing portanto define uma cultura organizacional específica que partilha crenças e valores e que coloca o consumidor como centro de toda a estratégia e operação da organização (Deshpandé e Webster, 1989:3). Na visão do acionista, a gestão integral do inter-relacionamento com o consumidor, (cadeia de suprimentos, disponibilização de serviços.- conhecimen.t.n sobre produto e mercado) é contributiva para o valor de marketing na organização. Além disso, as questões financeiras precisam ser integradas aos aspectos de relacionamento com o consumidor como retenção, satisfação e fornecimento de produtos e serviços e o veículo adequado é o marketing. Independentemente da fase e característica organizacional, ou seja, esteja a 31 organização próxima ou não de completar um processo de total engajamento na orientação para o mercado, a gestão do marketing tem o papel de gerenciar toda a relação funcional entre o consumidor e o processo de negócio, além de contribuir na disseminação das vantagens da orientação para o mercado. (Deshpandé, 1999: 165). Normalmente, profissionais de marketing influenciam no diálogo da estratégia corporativa, dão confiabilidade aos dados da inteligência de mercado e às previsões de despesas (Day, 1999:206). Como a pedra fundamental do marketing é o negócio sob o ponto de vista do consumidor, a evolução de correlação das funções de marketing que estão surgindo, como por exemplo, a ampliação na relação com outras culturas, disciplinas e funções, amplia a expectativa sobre os profissionais de marketing na renovaçãodesuagestão_Estaampliação é tão significativa e premente que pode ser implementada sem o próprio envolvimento do marketing tradicional (Deshpandé, 1999: 167) A agenda do Marketing Science Institute (MSl} propõe pesquisas para entender algumas das importantes implicações entre a gestão do departamento de marketing e este como instrumento de toda a organização (Deshpandé e Webster, janeiro de 1989:9). 2.7.2 Diferenças entre a gestão do marketing tradicional e a do ampliado Para Deshpandé (1999), a associação das funções básicas de marketing como captação, satisfação e retenção de clientes associadas à centralidade no cliente, interfuncionalidade, interdisciplinaridade e à inter-relação cultural compõe a base de investigação da nova dimensão do marketing. Esta proposição de Deshpandé (1999), apoiada na sua própria proposta dos 4C,s apresentada na Figura I, tem dimensões acentuadamente externas à organização. Em outras palavras, ela identifica as inter-relações que a disciplina precisa ter em especial com o cliente, com as diferentes atuações em diferentes etnias ao redor do globo, com as múltiplas disciplinas que interagem com marketing, como a sociologia e a antropologia, e uma dimensão genuinamente interna que é a inter-relação com as demais funções da organização. A relação interfuncional dentro das organizações tem sido vista por muitos estudiosos da disciplina de marketing como sendo uma das grandes questões das empresas que se reorganizam para melhor fornecimento de produtos e serviços aos consumidores (Workman, Homburg e Gruner, 1998:21). 32 Muito embora a orientação para o consumidor seja uma tarefa possível apenas quando todas as áreas da organização estão envolvidas, é a área de marketing que tem originalmente as regras para a relação com o consumidor. O processo de transição da ação exclusiva do departamento de marketing com o consumidor para uma ação conjunta de toda a organização não pode demonstrar ou reforçar privilégios das ações para a área de marketing, sob pena de provocar a impressão de posicionar os demais departamentos num segundo nível de atuação junto ao consumidor. (Kohli e Jaworski, 1990:16). Estes autores percebem a movimentação da fronteira de marketing especialmente, como vimos anteriormente, quando separam marketing em duas perspectivas: como grupo funcional e como um conjunto de atividades. Uma significativa parte das pesquisas de marketing na organização tem adotado uma perspectiva funcional (Workman, Homburg e Gruner , 1998:21). Para estes autores, a maioria das pesquisas sobre organização de marketing focam dimensões específicas como estrutura, interação ou poder e não apresentam uma estrutura de trabalho que considere como o marketing é estruturado em diferentes organizações. Fatores Externos Mercado Incerto Tecnologia Incena Ramo de Negócio Contexto Societário Dimensão Estrutural Fatores da Organização Dimensão Não Estrutural Estrutura com Departamento de Marketing e Vendas Tamanho das Empresas Relacionamento das Tarefas de Marketing e Vendas entre as Unidades Dispersão das Atividades de Marketing pela Interfunção F onnalização e centralização OI Subunidades do Poder de Marketing Interações Interfuncionais Localização Estrutural de Marketing eVendas fJltores das Unidades de Negócio / ./ Orientação Estratégica Orientação de Marketing Concentracão de Clientes Figura VI - Relação entre as dimensões: ambiente e orientação para o mercado Workman, Homburg e Gruner (1998) A Figura VI consolida uma ampla visão das diferentes dimensões de marketing e do ambiente. Esta visão permite uma compreensão das principais variáveis que movimentam a fronteira da gestão de marketing dentro de diferentes tipos de organizações. A dimensão estrutural, proposta por Workman, Homburg e Gruner (1998) trata dos aspectos da estrutura, ou seja, relatórios dos relacionamentos e as dimensões burocráticas como centralização~ fonnalização e padronização. A dimensão não estrutural tem recebido crescente atenção na literatura de marketing porque tem sido foco dos gestores com os times interfuncionais e formas organizacionais mais adaptadas para ambientes de rápida mudança. Observa-se nesta distribuição de dimensões, que as combinações organizacionais possíveis revelam, como afirmam e demonstram Workman, Homburg e Gruner (1998), uma enorme variedade de possibilidades de configurações. Somente pesquisas localizadas podem demonstrar qual é a predominância de modelos de um ramo de negócio ou uma área geográfica. As funções de marketing estão sendo modificadas e realocadas a partir das mudanças radicais que a organização vem sofrendo~ afirma Webster (2000) e as. fronteiras ficam cada vez menos distintas. Estudos recentes, como os de Day e Montgomery (1999) e de Deshpandé (1999) clamam por pesquisas para identificar as fronteiras das responsabilidades e papéis de marketing diante do novo contexto organizacional de mudança acelerada. Day e Montgomery (1999), por exemplo, questionam qual deve ser o papel de marketing nos times multifuncionais, ou como são coordenados os processos e alinhamentos de mudanças requeridas pelo mercado. Onde e quando as respostas ao mercado deverão ser dadas são indagações para as quais a academia deve criar mecanismos de resposta com urgência, afirmam. Deshpandé (1999) é otimista com relação a todo o processo de reformulação da atuação do marketing a partir das exigências crescentes do mercado: Hé um importante momento para reflexão de todos que estão envolvidos nas conversas sobre o que marketing foi, é e pode ser". Sua proposta passa, como já vimos, pela aceitação de que existem diferentes funções na organização, diferentes culturas internas e externas e múltiplas disciplinas suportando a realidade organizacional que precisam ser respeitadas e entendidas por marketing. Além disto, o discurso da orientação para o mercado consumidor precisa ser implementado sob o princípio do conceito de marketing, ou seja, todo o negócio deve ser desenvolvido sob a perspectiva do mercado consumidor. Colbari, Davel e Santos (2001) avaliam casos de organizações que, a pretexto de atenderem as necessidades dos clientes, criam uma cultura tal que sustenta uma forma de coordenação e governança nas empresas. As dificuldades dos funcionários acabam sendo 34 racionalizadas por eles próprios, pelo argumento da necessidade do cliente. O conceito de marketing precisa ser utilizado por profissionais conscientes. Como afirma Aktouf (1996), o gestor tem a função de representar e implementar com a organização os objetivos do capital mas ao mesmo tempo, deve estar consciente de que esta implementação ocorre com as demais pessoas da organização. As intrigantes questões do papel da nova gestão de marketing para o aspecto da interrelação cultural, enfatizado por Deshpandé(1999), podem e devem ser alvo também de pesquisas da universidade no Brasil, especialmente para que as respostas possam ser aplicadas mais adequadamente à nossa realidade. Na busca da síntese adequada para este tópico (diferenças entre a gestão do marketing tradicional e a do ampliado), encontramos a palavra interfuncionalidade como uma importante referência. A orientação para o mercado propõe a toda a organização observar, captar, interpretar e atender as necessidades de mercado. Marketing tem novos papéis de integração, orientação e condução da empresa para atividades que ela ainda desconhece. Papéis que extrapolam a fronteira tradicional da disciplina de tal maneira, que aumentam significativamente a requisição de mais pesquisas sobre o assunto. Quando a organização está se movimentando de uma estrutura tradicional para uma no modelo orientado para o mercado, a gestão do marketing pode ocupar três categorias distintas: a) gestão separada e específic~ principalmente quando o ramo de negócios onde a organização se insere já é orientada pelo consumidor; b) uma função subordinada, no caso de organizações orientadas pela tecnologia e composta por equipes de processos e projetos, e c) uma orientação central onde o marketing é responsável pela articulação dos processos relacionados com os produtos e serviços, pelas informações de mercado, pelas oportunidades e avaliação de resultados. E também pela orquestração geral, convergindo esforço e ampliando a coerência de todo o movimento organizacional na orientação para o mercado (Day, 1999:205). A centralização organizacional no consumidor sugere unLgrand.e "M" de marketing, exercido por toda a corporação enquanto que o "m" de marketing compreende os processos de negócios como captação, satisfação e retenção de clientes (Deshpandé, 1999: 167). A Figura VII demonstra a amplitude e os diversos aspectos da gestão sob a ótica ampliada do marketing. O consumidor está no centro da ênfase do gestor, porém o consumidor só pode ser compreendido e atendido a partir da compreensão e atuação 35 adequada com as camadas da cultura (onde o consumidor está ou estará), da interdisciplinaridade e da interhmcionalidade. CULTURAS (ÓTICA EXTERNA À ORGANIZAÇÃO) FUNÇÓES (INTERNA DA ORGANIZAÇÃO) AMBIENTES DE ATUAÇÁO +--;f-----,f-+--+- CONSUMIDOR SIMUL TÁNEA DO GESTOR SOB A CULTURA DE MARKETING DlSOPLlNAS (PSICOLOGlA, ANTROPOLOGIA, SOCIOLOGIA, ENTRE OUTRAS) Figura VII - Abrangência da gestão do "M" Ao estudar a literatura existente sobre o papel de gestor, percebe-se uma preocupação especial e cada vez maior com pelo menos duas habilidades essenciais: a) capacidade de interpretar as diferentes visões e interesses (cúpula organizacional, profissionais e consumidores) para transformá-los em soluções que interpretem adequadamente o interesse coletivo; b) visão holística que ultrapasse o desejo do lucro imediato e o remeta para o interesse pelo humano em sua plenitude. A cultura organizacional, lembram Deshpandé e Webster (1989), como padrões distribuídos de valores e crenças, que contribuem para que seus membros possam entender a própria organização e criar instrumentos para conduzi-la, têm influência direta no clima organizacional porque a leitura e a reação que as pessoas tem diante da mudança estão relacionados à própria cultura reinante. 2.7.3 Influência do ambiente externo Convém identificar aqui, o aumento de complexidade da gestão do marketing quando esta estrutura atua com o cliente sob perspectivas diferentes, conforme apresentado na Figura VIII, adaptada de Lehmann e Winer (1997:377). Embora a Figura represente apenas três níveis (fabricante, membro do canal e consumidor),em muitos casos, temos mais níveis intermediando o fabricante e o usuário, o que significa maior complexidade no processo de relacionamento. Muitos canais podem estar no negócio apenas corno intermediários dos 36 fabricantes, porém outros, como afirmam Lehmann e Winer (1997:377), podem até tomar-se competidores. Este ambiente de alta complexidade e dinamismo, ora abordado sob a perspectiva da gestão de marketing, será retomado adiante sob a perspectiva da formatação da organização de marketing, e mais especificamente no tópico, "Canais de marketing". FABRICANTE I FABRICANTE II FABRICANTE III Membro do canal Membro de Membro de canal I ................... III Figura VIII - Perspectivas de relação com o consumidor de Lehmann & Winer (1997). Para completar a visão da gestão de marketing, temos uma breve análise dos aspectos humanísticos envolvidos no processo de interação promovidos pelo gestor. 2. 7.4 A ótica humanística Como afirma Aktouf (1996), o gestor tem a função de representar a organização e implementar os objetivos do capital, mas ao mesmo tempo, deve estar consciente de que esta implementação ocorre com as demais pessoas da organização. Para Aktouf os gestores demonstram cada vez mais a necessidade de um melhor balanço entre as ações de gestão unicamente técnicas e ações mais voltadas para o componente humano. A industrialização praticamente eliminou todos os resquícios de comunidade e solidariedade que o sistema sócio-político anterior, baseado no feudalismo e na aristocracia, cultivavam (Aktouf, 1996: 102). Como visto anteriormente, o gestor tem a função de representar e implementar com a organização, os objetivos do capital, mas ao mesmo tempo, esta implementação ocorre com as demais pessoas da organização que, em anos mais recentes, demonstram cada vez mais a necessidade de um melhor balanço entre as ações de 37 gestão unicamente técnicas e ações mais voltadas para o componente humano (Aktouf, 1996:149). "A ideologia autoritária do capital, a quem a teoria serve, marginaliza os interesses humanos, considerados satisfatoriamente resolvidos pela lei do mercado e pela lógica do lucro, enquanto os problemas relacionados ao conflito e demais aspectos do bem-estar e da realização pessoal no trabalho permanecem marginais à teoria e à prática organizacionaf' (Villardi e Leitão, 2000 :53). Se por um lado, ° gestor tradicional está mais relacionado ao funcional e conseqüentemente aos riscos de distanciamento ou até exclusão do humano, também ocorre que a nova realidade de mercado impõe novo posicionamento organizacional mais centrado no sujeito, seja ele produtor, fornecedor ou consumidor. Como reflexo destes novos caminhos propostos para a organização, a gestão é cada vez mais um conjunto de princípios e habilidades com o sentido de produzir qualitativamente com todas as pessoas da organização em harmonia e cooperação. De fato, o novo gestor deverá ter, além da competência das técnicas, a vivência e o exemplo pessoal para criativamente suscitar o interesse das pessoas da empresa (Aktouf, 1996:158). 2.7.5 Gestão na realidade brasileira No Brasil, a mudança do rumo da gestão enfrenta questões significativamente importantes que poderiam ser simplificadamente resumidas em dois pontos avaliados no artigo de Campos (2000): a) a característica da cultura brasileira, que privilegia hierarquia, personalismo, malandragem, sensualismo e aventureirismo, e b) o comportamento da economia brasileira atada às decisões do estado com suas variações freqüentes e imprevisíveis. Campos (2000) observa ainda que o capitalismo "à brasileira" por um lado, tem características muitas vezes cartorial e oligopolísta e por outro, vê nas ameaças e oportunidades do ambiente, o combustível para as mudanças organizacionais, o que significa que enquanto as barreiras organizacionais internas são resistentes, sob a ótica externa, motivos para as mudanças não faltam. O gestor, neste contexto, nem sempre preparado adequadamente para as decisões e implementação da mudança, nem sempre livre o suficiente para agir, pode ser, ao invés de agente de mudança, mero multiplicador do status quo da estratégia do curto prazo. Além disto, os componentes do chamado 'jeitinho brasileiro" freqüentemente reduzem a importância da preparação e do perfil das lideranças 38 para a mudança, considerando que apenas a "criatividade" pode resolver. Ainda na análise de Campos (2000), citando Srour, encontramos a afirmação de que as práticas gerenciais mais avançadas estão impactadas pela falta de cidadania na organização brasileira. Para Day (2000) muito do conhecimento essencial do relacionamento com o mercado, e do perfil que coloca este conhecimento em uso, é tácito e disperso. Em função disto, muitos gestores têm sido pressionados a responderem questões do tipo li Quão segura é a sua relação com as suas contas chave?" ou ainda" Qual é o conhecimento usado?" Day sugere três maneiras não excludentes de melhorar a distribuição do conhecimento de marketing. Pela assimilação da experiência dos profissionais aproveitando o conhecimento interno, criando condições para a troca e evitando a perda freqüente de profissionais experientes. Sugere também um processo adequado de registro e distribuição do conhecimento e por fim, um processo específico de troca de informações com toda a organização dos profissionais que lidam com o mercado. Day e Montgomery (1999), quando elaboram uma avaliação sobre as responsabilidades gerais de gestão no processo de orientação para o mercado, levantam questões como "onde há na organização o especialista com experiência e conhecimento sobre o mercado e que possa fazer o repasse estruturado desta informação para toda a organização? " Esta questão, trazida para a realidade brasileira, carrega ao mesmo tempo uma carga de desafio e de preocupação Campos (2000), citando Claudio de Moura Castro, reforça que o grande gargalo da nossa economia e do nosso desenvolvimento é a educação. Villardi e Leitão (2000), avaliando um processo de mudança organizacional, relembram que aprender, conhecer e mudar são fenômenos complexos e associados e que não podem ser impostos por leis. Campos (2000), citando Possas, é contundente: o baixo grau de competitividade dos mercados habituados ao protecionismo; a reduzida capacitação tecnológica e o insuficiente esforço para lográ-la; o uso predatório dos recursos humanos e naturais, levando tanto à degradação do meio ambiente, quanto à dependência extrema da capacidade competitiva da empresa ao baixo custo da mãode-obra, criando-se uma perversa e desnecessária oposição entre competitividade e equidade. " H ••• Inferimos neste ponto do estudo que, considerando o imediatismo típico de algumas organizações contemporâneas e a defasagem teórica de uma parte das universidades 39 brasileiras na formação de profissionais de marketing, a questão de Day e Montgomery (1999) fica revestida de mais importância para este estudo. A responsabilidade por entender, organizar e definir novos processos que permitam implementar a nova gestão de marketing é, em grande parte, da academia. Deve-se reforçar a prioridade em uma agenda que inclua por exemplo, o conhecimento conectado da economia, a globalização, a convergência e a consolidação dos ramos de negócio, a fragmentação dos mercados, a crescente valorização do consumidor e do seu comportamento e a capacidade de adaptação das organizações (Day e Montgomery, 1999:9). A academia tem, entre outras prioridades, o objetivo de entendimento do novo processo de gestão do marketing com melhores métricas, formas de inferir e calibrar processos, além de maneiras de gerir e entender os interfaces funcionais. Métricas para, por exemplo, identificar com maior precisão a lealdade à marca ou o conhecimento sobre o mercado e no caso dos interfaces funcionais, os desafios não são menores, considerando a reação de outras disciplinas quanto a uma possível "apropriação indevida". Uma das alternativas pode ser uma avaliação de possíveis contribuições que o marketing possa ter como contrapartida para estas outras disciplinas, especialmente sociologia, psicologia e economia (Day e Montgomery, 1999:9). Day e Montgomery (1999) reforçam que, para amparar as novas direções de marketing, é fundamental melhorar o relacionamento entre a academia e os gestores organizacionais. Lembram que somente com a boa vontade dos gestores serão possíveis pesquisas que permitirão, entre outros pontos, descobrir quais são os novos perfis e conhecimentos necessários para os novos desafios de mudança organizacional focada no mercado. 2.7.6 Implementação da nova gestão do marketing A complexidade no ambiente comportamental de gestão e certamente na sua modelagem, está na simultaneidade de causas importantes como o debate sobre o modelo de lucro imediatista, o aumento gradativo de massa críÜca do consumidor, o aumento da competitividade, a tentativa de imposição de uma cultura organizacional desconectada com a realidade das pessoas da organização e o medo do desconhecido que a mudança sugere. Homburg, Workman e Jensen (2000) reforçam com veemência que os artigos de mudanças organizacionais envolvendo marketing não enfatizam a implementação. Principalmente por isto, a proposta de uma seqüência lógica de implementação da gestão de 40 marketing dentro de um processo de mudança organizacional voltado para a orientação para o mercado é resultado da somatória de algumas perspectivas estudadas. Citamos especialmente as pesqUisas de Deshpandé (1999), sobre o marketing na cultura organizacional, Webster (1992) e Day (1999), no aspecto estratégico de marketing e Koh1i e Jaworski( 1990), além de Narver e Slater (1990), na análise do papel de marketing na orientação para o mercado. Mesmo considerando a multiplicidade de variáveis num processo de mudança desta envergadura, a lógica apresentada resume a interpretação das coincidências da literatura existente. ô ~ SUGESTÃO DE SEQUÊNCIA LÓGICA DE IMPLANTAÇÃO SOB A PERSPECTIVA DA GESTÃO DE MARKETING (MERCADO) [ lMPLANT AÇÃO & ~'IIUTENÇÃO I ~ :~a=~~~;';4~'O *- UTILIZAÇAO DAS INFORMAÇÕES DE MERCADO EM FAVOR DE CRIAR E MANTER UM ALTO VALOR NA RELAÇÃO COM O CLIENTE *- L1 .---::G.... E?=TÁ-;".O DO MARKE-TIN-G---' +- PROCESSO DE DEFINIÇÃO E PREPARAÇÃO DAS NOVAS LIDERANÇAS DEFINIÇÃO DO PERFIL, HABIUDADES E RESPONSABILIDADES DA GESTÃO DO MARKETING EFETIVAMENTE ORIENTADO PARA MERCADO o ~--~-~ I~_ _-..., CULTURA ORGANIZACIONAL Decisão estratégica consciente +- +- A>'1ÁUSE DA CULTURA E DO CLIMA E INSERÇÃO DAS LIDERANÇAS PREPARADAS PARA REFORMULAÇÃO DOS VALORES. CRENÇAS E PARÀMETROS DE MEDIÇÃO DISPOSIÇÃO DE MUDANÇA E COMPROMISSO DA LIDERANÇA GERAL Figura IX - Lógica da implantação da orientação para o mercado A Figura IX apresenta este esforço de adaptação de uma "lógica seqüencial". Sob a perspectiva da mudança para a orientação para o mercado, Narver e Slater (1990) afirmam que é a cultura organizacional que cria o ambiente propício para oferecer solução de valor superior. Este conceito, defendido originalmente por Deshpandé e Webster (1989), é fundamental para entendermos uma das raízes do sucesso deste processo de mudança. Day (1999) identifica que conforme o modelo de negócio da organização, a cultura da orientação para o mercado estará mais próxima ou mais distante. Significa dizer que a formação de uma cultura realmente focada no consumidor será um desafio personalizado por organização. Isto nos ajuda a evitar a tendência de construir "receitas de bolos" prontas para serem utilizadas, independentemente da organização. Como já vimos, ele também 42 geral de marketing. Isto se aplica especialmente quando existem vários produtos diferentes, porém pertencentes à mesma categoria e distribuídos pelos mesmos canais. _~tjvjdades de Marketing Desenvolvimento de Pr~ Organização por atividades distribuídas ( pela empresa) Inteligência de mercado Planejamento e implementação da estratégia Precificação Organização funcional (atividades de marketing ordenadas numa única função) Propaganda e Promoção Estratégia e Gestão de canais Vendas lt--------_------~ Segmentado por Produto Organização "integrativa" associando o modelofuncional e por atividades .................................. Segmentado por Mercado Organização produto/produto, mercado/mercado e produto mercado Figura X - Desenhos organizacionais de marketing- Lehmann e Winer (1997) o segundo modelo apresentado por Lehmann e Winer (1997) é a organização por atividade. Nele os autores identificam uma estrutura de marketing distribuída em várias gerências de marketing especializadas, isto é, a gerência de produto, de inteligência de mercado, de propaganda, de vendas e assim por diante. O terceiro modelo indicado por Lehmann e Winer (1997) é a distribuição por mercado. Esta, a exemplo da organização por produto, tem o desenho de unidades autônomas de negócio, neste caso sob a perspectiva do mercado, como por exemplo, mercado internacional e mercado industrial. Por outro lado, estes autores entendem que a atividade de vendas agregou variações a estes modelos. Desta forma, temos as organizações produto/produto, produto/mercado e a mercado/mercado, sintetizadas na Figura X. A lógica destas variações está na duplicidade de organização, considerando marketing e vendas como atividades paralelas. Assim, produto/produto seria uma organização com uma gerência de marketing com respectivas unidades de negócio por produto atuando paralelamente a uma gerência de vendas também subdividida em unidades específicas por produto. 43 No caso da organização produto/mercado, temos paralelamente, as gerências de marketing, distribuídas por unidades de produtos e a gerência de vendas, distribuída por atuação em mercados específicos. Por último, a organização mercado/mercado distribui as atividades por mercado, pelas gerências paralelas de marketing e vendas. No projeto de pesquisa sobre organizações típicas de marketing, realizada por Workman, Homburg e Gruner (1998) os autores revisaram a bibliografia organizacional sobre o tema e identificaram três abordagens específicas para as organizações de marketing: a funcional, a baseada nas atividades e uma hfbrida que envolve os dois modelos. A funcional baseia-se numa visão tradicional de organização de marketing com autonomia, atividades específicas, independência de atuação e fronteiras claramente estabelecidas dentro do corpo organizacional. A baseada em atividades tem ênfase clara na atividade de marketing distribuída considerando-se especialmente o momento organizacional, as prioridades estratégicas e os perfis dos grupos envolvidos. Finalmente, os autores observam um modelo híbrido com uma associação de distribuição das atividades convivendo com uma organização de marketing definida. A este modelo, Workman, Homburg e Gruner (1998) dão o nome de integrativo. A pesquisa de Workman, Homburg e Gruner (1998) identificou cinco tipos de organizações de marketing que, de certa maneira, conservam os conceitos básicos identificados por Lehrnann e Winer (1997), até porque avaliam uma nova dimensão. São elas: a) a unidade de negócios autônoma com uma organização de marketing própria, incluindo o departamento de vendas, b) a unidade de negócio com organização de marketing própria e com venda compartilhada com outra unidade, c) corporação e unidade de negócio com organizações de marketing próprias, d) a unidade de distribuição com uma estrutura de vendas e marketing próprias e por fim, e) uma estrutura de marketing e vendas da organização. Vale ressaltar que para os autores, unidade de negócio D.N. é, por definição, a estrutura que retém separadamente da corporação os grupos de marketing e vendas. Neste caso, o marketing corporativo tem uma função estratégica de coordenação dos planos das diversas O.N.s, especialmente com pesquisa de marketing e negociação com a mídia. Para Workrnan, Homburg e Gruner (1998) as principais responsáveis pelos cinco modelos apresentados são as dimensões ambientais: a) as tarefas de marketing e vendas que são relacionados com todas as D.N.s, 44 o tamanho da organização, c) a orientação globalizada e d) a orientação para o mercado. Quadro IH - Níveis de dimensão ambiental & tipologias organizacionais de marketing e vendas Extraído de Workman, Homburg e Gruner (1998) Dimensões Organizacionais Tarefas de Orientação Tamanho Orientação para0 Marketing e da Empresa Globalizada Mercada Vendas Tipolo2ias Or2anizacionais Autonomia da U. N. em Marketing e Vendas Marketing e Vendas na Unidade e na Corporação Marketing na U.N. partilhando Vendas com outras Unidades Marketing e Vendas na Unidade de Distribuição Marketing e Vendas na Organização o Quadro 111 consolida os Baixa Médio Baixa Alta Moderada Médio Moderada Moderada Moderada Grande - Moderada - Grande Alta Baixa Alta - - Baixa fatores que interferem na formatação da organização de marketing identificados pelos autores. Esta grade demonstra claramente a grande variedade de possíveis formatações organizacionais de marketing e vendas, mas para efeito específico deste estudo, vale observar mais atentamente as tendências organizacionais orientadas para ° mercado. A coluna de orientação para o mercado identifica dois modelos de alto nível de orientação: a) organização com V.N.s autônomas com marketing e vendas, e b) organização que, além de estruturas de marketing e vendas nas V.N.s, também possui marketing e vendas no nível corporativo. Os dois tipos de organizações, com uma alta orientação para o mercado, indicam uma característica comum de autonomia de marketing e vendas com estruturas mais descentralizadas ou mais próximas do mercado. Outra observação importante da pesquisa de Workman, Homburg e Gruner (1998) para este estudo é a noção de unidade de distribuição. Para eles, este tipo de V.N. é uma estrutura que possui marketing, vendas e serviços para clientes de um determinado grupo, como por exemplo, um segmento geográfico. Afirmam ainda que estas estruturas não possuem pesquisa e desenvolvimento de produtos ou manufatura. A ênfase da gerência geral desta unidade está prioritariamente na performance do negócio. Não há uma clara alusão dos autores a um canal de distribuição, embora a atividade se assemelhe. Por outro lado, como confirma a pesquisa destes autores, uma estrutura avançada da mesma organização (unidade de distribuição), atuando em um segmento geográfico, como por exemplo, um país, 45 freqüentemente possui uma estrutura de marketing, o que não é necessariamente verdadeiro no caso de canais de marketing ou distribuição. 2.8.2 Atividades de marketing Mesmo não havendo consenso sobre a amplitude do conjunto de funções de marketing, como Day e Montgomery (1999) deixam claro, o conjunto de atividades requer conhecimento e perfil específicos. No entendimento de Webster (1992), a aplicação formal de uma análise técnica rigorosa nos problemas de marketing requer especialistas de vários tipos. Os típicos departamentos de marketing, continua, incluem especialistas funcionais em vendas, propaganda e promoção, distribuição e pesquisa de marketing e em alguns casos, gerentes de serviços a clientes e preços. Quadro IV - Consolidação das principais atividades de marketing Gestà&de Marketing Atendimento às Contas Atendimento aos Negócios Desenvolvimento de Produtos Inteligência de Mercado Interfuncionalidade Principais Ambientes Envolvidos Mercado Consumidor Região ou País Organização, Parceiros Tecnológicos e Fornecedores Todos Dentro da própria Organização Parcerias potenciais ou efetivas, Concorrentes, Relações Externas Comunidades, Fornecedores e Entidades de ClasSé. Os poucos estudos existentes sobre a tendência da organização de marketing não destacam o aspecto de como esta organização pode ser mudada, afirmam Homburg, Workman e Jensen (2000). O Quadro IV consolida o conjunto das principais atividades do marketing contemporâneo, composto a partir especialmente dos estudos de Homburg, Workman e Jensen (2000), Day e Montgomery (1999), Lehmann e Winer (1997) e Kohli e Jaworski (1990). Além disto, este Quadro indica a seqüência de tópicos que detalham, a partir de agora, o referencial teórico destas atividades de mark.eting. 46 2.8.2.1 Gestor Principal da ÜJnta Uma das significativas contribuições da recente pesquisa que Homburg, Workman e Jensen (2000) realizaram, foi a identificação de uma crescente ênfase na atividade do Key Account Manager ou Gestor Principal da Conta. Para eles, esta atividade consolida os objetivos organizacionais para os principais clientes da empresa. Por um lado, observam, está sendo exigida maior senioridade e por outro, uma forte necessidade da habilidade de relacionamento organizacional que complementa este papel. 2.8.2.2 Gestor de Negócios - nível nacional ou regional (conjunto de países) Ainda em Homburg, Workman e Jensen (2000:465) encontramos a indicação da importância do Country Manager, ou Gestor de Negócios do país, para os casos de organizações internacionais que têm o papel de condutor geral do negócio numa determinada localidade. 2.8.2.3 Gestor de Produlos Finalizando este conjunto inicial proposto por Homburg, Workman e Jensen (2000:465) temos a atividade tradicional de marketing que é a gestão de produtos. Esta atividade tem a responsabilidade de coordenação de importantes atividades como propaganda, vendas, pesquisa e desenvolvimento, manufatura e com outros grupos funcionais da organização para total disponibilização do produto 2.8.2.4 Gestor da Inteligência de Marketing Kohli e Jaworski (1990), por sua vez, em função da importância da inteligência de mercado, identificam a necessidade de uma coordenação geral na organização. Uma coordenação da geração e disseminaçãu da informação sem.aqua.4 aorganização poderá até ter acesso à realidade do cliente mas provavelmente de maneira desestruturada, inconstante e sobretudo mal distribuída. Para Narver e Slater (2000) a evidência empírica sugere que o aprendizado, realizado a partir de um foco no mercado, está fortemente relacionado ao sucesso de novos produtos. 47 A troca que cria valor mútuo continuará a ser o princípio básico para entender as conseqüências das escolhas do consumidor mas a escolha de processos de troca provavelmente terá que ser exercitada de novas maneiras. O~ consumidores têm maiores oportunidades, são melhor informados pela mídia cada vez mas abrangente e têm mais maneiras de adquirir suas escolhas. Além disto, muitos consumidores têm pouco tempo e por isto estão dispostos a pagar um pouco mais pelo esforço do fornecedor e pelo tempo ganho. Estas são algumas das características do novo mercado. Monitorá-lo passou a ser a essência da sobrevivência da organização (Day e Montgomery, 1999:8). Homburg, Workman e Jensen (2000) mencionam algo fundamental para este estudo: o aspecto da intangibilidade de processos de mudança. No caso da estratégia da orientação para o mercado, a organização toda é orientada e encorajada para a flexibilidade, adaptabilidade e troca de informações entre as diferentes funções da empresa o que freqüentemente representa mais um risco de desagregação da responsabilidade do marketing tradicional. É importante observar que Kohli e Jaworski (1990) reforçam que a responsabilidade da gestão de marketing é de todos, quando afirmam que "virtualmente todos os departamentos - não apenas marketing- participam na resposta das tendências de mercado e na organização orientada para o mercado." Por outro lado, Day(1999) afirma que se marketing é responsabilidade de todos, não é de ninguém. Além disto, Day e Montgomery (1999) destacam que há uma rica herança em marketing para aplicar adequadamente à teoria e à prática e com isto, moldar um esforço organizacional para definir valor superior ao mercado. Além destas atividades específicas da área, a característica de interfuncionalidade da orientação para o mercado agrega novas responsabilidades à área de marketing como por exemplo, a gestão da inter-relação com outras áreas como produção, finanças, suprimentos, desenvolvimento & pesquisa e recursos humanos. 2.8.2.5 Gestor da Interfuncionalidade Organizacional Neste contexto, Day e Montgomery (1999) sugerem com ênfase que "marketing precisa prover o papel de liderança para o sucesso da gestão do relacionamento interfuncional" e destacam que se marketing não assumir esta responsabilidade, não poderá reclamar se outras disciplinas buscarem soluções sem o seu envolvimento. 48 Deshpandé (1999) também é enfático no tema quando afirma que as organizações estão seguindo o caminho da interfuncionalidade, mas isto não tem sido objeto importante da análise dos profissionais de marketing e sobretudo da academia Sua sugestão é de inclusão deste tipo de pesquisa nas prioridades da universidade. Uma estruturação importante neste sentido é feita por Mintzberg (1995) quando identifica quatro fatores situacionais que interferem no meio organizacional: estabilidade, complexidade, diversidade de mercado e hostilidade. Para Mintzberg (1995:139) a estabilidade é referenciada na prática pelos exemplos da atividade do entalhador de madeira que faz a atividade há décadas contraposta com a atividade de um investigador que a cada caso tem uma nova situação. Instabilidade governamental, mudanças na economia, mudanças nos prazos de entrega dos produtos pedidas pelos consumidores, mudanças rápidas de tecnologias, são alguns exemplos citados. A complexidade está relacionada à complexidade de produção da solução. Conforme a variação teremos distintas organizações. A diversidade de mercado, que pode variar desde um mercado integrado até um diversificado, como por exemplo uma mineradora de ferro que vende seu único produto para uma única siderúrgica ou uma exportadora que promove muitos produtos para todo o mundo. Finalmente Mintzberg apresenta o fator hostilidade que vana de um ambiente magnânimo até a alta hostilidade_ A hostilidade é influenciada pela competição, pelas relações da organização com sindicatos, governo e outros grupos externos. As organizações são afetadas por este fator, principalmente na questão da velocidade de resposta ao mercado. A Figura XI demonstra as tendências de concentração de coordenação, efeitos da complexidade ou estabilidade do ambiente. Padronização dos processos de trabalho Crescente burocratização, encorajada pela maior estabilidade do ambiente Padronização dos resultados Padronização das habilidade Supervisão direta Figura XI - Ajustamento mútuo Crescente descentralização, encorajada oela maior complexidade do ambiente Mecanismos de coordenação - Extraído do Mintzberg, (1995: 142). 49 Workman, Homburg e Gruner (1998), ao entrevistarem diferentes gestores, observaram que existem significantes variações entre as empresas e entre as responsabilidades e atividades de marketing. Reforçam que, especialmente em função da característica da solução, mais ou menos complexa, tecnologicamente falando, as configurações de responsabilidade de gestão de marketing têm distribuições distintas. Assim, em uma indústria química altamente especializada, o gestor de marketing entrevistado queixa-se de uma distribuição excessiva das responsabilidades a ponto de não saber exatamente quem faz o que. Por outro lado, organizações que atendem a mercados altamente dinâmicos precisam aproximar áreas como Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) do consumidor. Maltz e Kohli (2000) afirmam que o uso de times interfuncionais reduz.esle tipo de conflito que, para eles, é observado com freqüência envolvendo marketing com áreas como P&D, Manufatura, Finanças, entre outras. A literatura sobre os antecedentes de uma implantação de orientação para o mercado ainda é pequena, como afirmam Kohli e Jaworski (1990), mas eles próprios sugerem, a partir de pesquisas de campo, três fatores que podem impedir ou alavancar uma implementação bem sucedida: a) fator individual b) a dinâmica interdepartamental c) fator organização. O fator individual revela a importância da liderança de um "gerente geral" que represente efetivamente uma força na organização. Convém lembrar as palavras de Motta (2000) para o conceito de força: "O uso efetivo do poder baseia-se menos na autoridade do cargo, nas ordens ou persuasão e mais nos recursos dos liderados: resulta em menor submissão e consentimento e maior aliança ". Kohli e Jaworski (1990) deixam claro que o fator individual é apenas para conceituação de concentração de liderança, pois também é válido para o comitê executivo da organização ou toda a alta gerência. A idéia básica é de uma liderança que dê força política equivalente ao desafio da mudança, seja ela representada por uma pessoa ou um conjunto de pessoas. Reforçam ainda que o Gerente ou a Gerência Geral precisa emitir sinais claros da nova estratégia e orientação. Toda a organização estará disposta aos riscos inerentes à mudança na medida em que a liderança tenha e demonstre esta mesma disposição. 50 o fator da dinâmica interdepartamental é a interação fonnal e infonnal entre os departamentos da organização. Kohli e Jaworski (1990), recorrendo inclusive a diversos estudos anteriores, reforçam que os conflitos interdepartamentais podem ser a causa de inúmeros insucessos de implementação do conceito de marketing. A infonnação fica prejudicada pelo conflito o que significa dizer que a disseminação da inteligência de mercado fica igualmente obstruída e portanto, a base da estratégia, totalmente comprometida. Homburg, Workman e Jensen (2000) realçam que as fronteiras funcionais tradicionais estão sendo desmontadas pela crescente habilidade organizacional de trabalhar através de times interdepartamentais. Kohli e Jaworski (1990) são categóricos: "quanto maior o conflito interdepartamental, menor será a orientação organizacional para o mercado". Ao contrário, o reforço que a organização possa dar à infonnalidade e à flexibilidade para conectar os diversos departamentos, sobretudo para avaliar os interesses do cliente, vão contribuir para a saúde da estratégia, afinnam. O fator da organização é o terceiro elemento que pode restringir ou contribuir para uma perfonnance da estratégia de orientação para o mercado. Ainda em Kohli e Jaworski (1990) encontramos uma consolidação de três aspectos do fator da organização que podem comprometer a implementação de um comportamento inovador de mudança: a departamentalização, a fonnalização e a centralização. A medição da perfonnance deve estar sintonizada e dar prioridade para a relação com o mercado e não para o departamento ou para o processo fonnal. Estes mesmos autores, citando Porter, Allen e Angel (1981), identificam o chamado comportamento político organizacional como uma potencial obstrução para a orientação de marketing. Comportamento político, entendido como pessoas que promovem o interesse próprio e de grupos. Pelo que foi observado, o papel de fazer fluir a interfuncionalidade organizacional visando o não comprometimento da captação e atendimento adequado do mercado é um dos mais novos desafios de marketing. 2.8.2.6 Gestor da Coordenação da Relação Externa Finalmente, uma outra atividade relevante na implementação de mudança é a relação externa da organização, já visto anterionnente. Vale reforçar uma das observações captadas na pesquisa de Homburg, Workman e Jensen (2000) que é a tendência de parcerias e 51 alianças externas das organizações contemporâneas. As freqüentes e necessárias relações com terceiros passam a ser feitas por diversas áreas da organização e em muitos casos, isto interfere na função e responsabilidade original de marketing. Conforme vimos, o conjunto proposto de novas responsabilidades congrega funções tradicionais com funções novas. Por outro lado, mesmo no caso das funções conhecidas, como por exemplo a gestão de produtos, a perspectiva da responsabilidade foi modificada. Enquanto a gerência tradicional de produtos focava a identificação de necessidades, o desenvolvimento e a disponibilização do produto, a nova gerência de produto é responsável por responder aos questionamentos de toda a organização, na medida em que a organização como um todo passa a se responsabilizar pelas necessidades de mercado. O próximo tópico reúne um conjunto de informações que consolida a última parte do capítulo "Organizações de marketing": canais de marketing. Pela estreita relação deste tópico com o alvo deste estudo, acrescentamos neste caso, informações da realidade mercadológica que forma o ambiente de atuação deste tipo de organização. 2.8.3 Canais de marketing na cadeia de relacionamento do fabricante A maioria dos grandes fabricantes internacionais de equipamentos e programas de computador de TI prefere não praticar a venda direta. Kotler (1999) afirma que o uso de intermediários aumenta a eficiência da distribuição de bens tornando-os acessíveis. O maior foco da gestão do canal de marketing é a distribuição. É apenas pela distribuição que as mercadorias podem ser usadas ou consumidas (Stern, Ansary e Coughlan, 1996:2). Para os mesmos autores, muitas organizações estão preparadas para gerar suas mercadorias e serviços, mas não necessariamente para distribuir sua produção de forma adequada. Além disto, segundo Kotler (1999), a experiência, a escala de operação e o contato próximo do usuário final, são fatores importantes observados pelos fabricantes na decisão pela venda por meio do canal. A venda direta é praticada apenas em casos especiais, que, com freqüência, estão relacionados à posição superior do usuário corporativo na "pirâmide" de mercado. Os canais, conhecidos pelo senso comum como intermediários, podem ser ordenados sob uma perspectiva do processo econômico: a) canais que crescem no processo da troca, porque agregam eficiência a este processo; 52 b) canais que ajustam a discrepância do sortimento pela performance de cada espécie de produto; c) canais que facilitam o processo de procura do produto; d) canais que contribuem para melhorar a rotina de pedidos, de entrega, de valores e formas de pagamento, além dos prazos mais adequados. Para 10hn, Weiss e Dutta (1999), é possível classificar o canal pelo volume de gasto que o cliente faz. Assim, conforme Quadro V, temos seis níveis diferentes de processo de troca. o licenciamento da experiência (a), que de fato é o próprio coração do negócio do fabricante, tem um preço mais alto para o canal. Neste caso, 10hn, Weiss e Dutta (1999) identificam pesquisas que indicam um volume de vendas inferior a 1%. Os processos de trocas utilizados mais freqüentemente são os que transferem o produto/serviço na forma mais finalizada possível, isto é, como componente (c), subsistema(d), e como sistema (e). Quadro V - Diferentes processos de troca - extraído de John, Weiss e Dutta (1999) + transação com maiores investimentos a) Vender ou licenciar o conhecimento e a experiência do produto e da tecnologia. b) Vender protótipo ou prova de conceito c) Vender um componente d) Vender um subsistema e) Vender um sistema t) Operar um bureau de serviço - transação com menores investimentos Stem, Ansary e Coughlan (1996) observam que de fato o canal compõe um subsistema envolvendo os fabricantes, grandes distribuidores e os varejistas. Neste conjunto de interações, os autores identificam muitas atividades que se distribuem ao longo da cadeia. São elas, manutenção do inventário, geração de demanda, vendas, distribuição, pós venda e crédito. Em síntese, este conjunto representa uma parte substancial das atividades marketing. de 53 A maioria dos fabricantes e respectivos canais visualizam os usuários em camadas que consideram basicamente, o volume potencial de negócios e a respectiva importância estratégica deste usuário,junto ao mercado. Freqüentemente, a base da pirâmide de mercado é constituída por potenciais clientes relacionados a pequenos escritórios e médias empresas. Esta camada tem um volume grande de potenciais usuários, porém uma expectativa de negócio individual comparativamente pequena. Por isto, são visitados com menor freqüência. Numa faixa logo acima e intermediária, observam-se potenciais usuários como médias e grandes empresas, geralmente cadastrados individual e detalhadamente, conhecidos nominalmente e visitados pelos canais com freqüência mensal ou bimensal. A ponta superior da pirâmide tem um volwne comparativamente reduzido de usuários (reforçando o formato de pirâmide), com alto volume potencial de negócio. O número de intermediários entre o fabricante e o usuário final no segmento de bens industriais pode variar. É o caso do fabricante que vende para um distribuidor, que revende para um integrador de sistema que, por sua vez, revende para o usuário final. Para efeito deste estudo, usamos como referência, material encontrado nas publicações próprias e nos sites eletrônicos de alguns fabricantes como Compac, Sun Microsystem, HP, entre outros (www.intel.com.br, www.compac.com.br, www.sun.com). As referências encontradas na literatura, como por exemplo em Kotler (1999) e Rosenbloom (2002), confirmam esta lógica porém com terminologias que, provavelmente pelo processo de tradução, pela não especificidade em TI e certamente pela ausência de conhecimento da realidade brasileira, apresentam nomenclatura inadequada. Por isto, a nomenclatura utilizada no Quadro VI, - do fabricante Sun Microsystem - reflete melhor a realidade dos estudos de casos analisados. Apenas para ilustrar, identificamos uma proposta de formatação de canais feita pela empresa Compac, logo após um acordo internacional com outros dois fabricantes de TI: "A Compac está criando um novo modelo de vendas para o mercado corporativo, a partir de um elaborado Plano de Integração. A nova Compac, que surgiu da fusão com a Digital e a Tandem, vai combinar o que há de melhor das três companhias - todas com operações no Brasil......... A filosofia de vendas da empresa é baseada no relacionamento com o cliente por meio de parceiros capacitados a fornecer a melhor resposta. São 40 revendas corporativas, 6 distribuidores, 8 integradores de sistemas, 50 revendas para o mercado So-Ho (Small Office/Home Office) - pequeno escritório e escritório 54 residencial - e de pequenas e médias empresas, além de 100 canais de varejo." www.compac.com.br (outubro, 1998) Um exemplo mais recente e mais próximo do nosso estudo é o conjunto de parceiros da SUN Microsystems: Quadro VI - Exemplo de organização de parcerias (extraído da publicação SUN Network, junho, 2002) Nomenclatura das !FORCE CHANNEL organizações parceiras DEYELOPMENT conforme o papel esperado PROYIDER Tradução livre Quantidades Brasil o IFORCE lNTERPRISE !FORCE SOLUTlON SYSTEM PROVIDER INTEGRATOR Desenvolvedor de Provedor de sistemas Canais corporativos 2 14 Integrador de solução lNTERPRlSE SER VICE STRATEGlC PROYIDERS Provedor de serviços 8 estratégicos 6 Quadro VI demonstra a idéia geral da organização de um fabricante de TI. Sua distribuição de parcerias é feita especialmente - mas não exclusivamente - pela função esperada de cada braço da cadeia de relacionamentos. Neste caso específico,.-como alguns canais assumem mais de uma função na cadeia, o total de empresas parceiras é de 24. Cada fabricante utiliza estratégias específicas e sazonais de relacionamento com canais variando, por exemplo, conforme o volume de negociações versus plano, fusões e aquisições de novos fabricantes, ações da concorrência, tendências mercadológicas, enfim, os fatores típicos que interferem naturalmente nas estratégias de marketing. Por outro lado, a maioria dos modelos de relacionamentos são concretizados considerando-se especialmente os seguintes aspectos: • reciprocidade compromissada, • relação importante do canal com algum prospecto que interesse ao fabricante, • nível de projeção (relação) do canal com algum concorrente, • abrangência de território de vendas do canal e • estrutura de suporte potencial ou real do canal. Ainda com o objetivo de ilustração, especialmente dos acordos de distribuição formais e estruturados, podemos observar alguns trechos do Programa de Canal da Intel (o Programa) descrito no endereço eletrônico www.intel.com.br. "As exigências de volume de compras variam conforme o programa de marketing e a região geográfica". A Intel, (www.intel.com.br). assim como a maioria dos grandes fabricantes de TI, define diferentes graus de relacionamento, normalmente conforme níveis de fidelização e/ou atuação 55 contratualmente acordados e convencionados. Assim, neste caso, temos o Genuine Intel Dealer (GID), o Intel Product Integrator (IPI) e o Intel Product Dealer (IPD). Para outros fabricantes, a variação pode ter identificações com outras referências, como por exemplo, níveis ouro, prata e bronze. Mesmo para fabricantes que não especificam termos para estas variações, o conceito é o mesmo. No caso das relações formais, termos e condições constituem um acordo jurídico celebrado entre o canal e o fabricante, como é o caso do programa citado da Intel. "Para poder participar do Programa, você deve aceitar todos os termos, condições e avisos aqui contidos sem quaisquer alterações. " (www.intel.com.br). Acordos desta natureza estabelecem regras, vantagens, direitos e deveres dos canais envolvidos. Participação em eventos especiais, como por exemplo treinamento, podem ser exclusivos para tipos específicos de canais, como podemos observar: "A Intel patrocina o evento Intel Channel ConJerence (ICC) duas vezes ao ano para membros do Programa. Como participante IPD/IPI/GID, é necessário que, no mínimo, um representante de sua região comercial compareça a esse treinamento e disponibilize todos os materiais de treinamento fornecidos pela Intel a todo o pessoal técnico e de vendas de sua região. " (www.intel.com.br) Ainda no caso das agregações ao relacionamento dado pelos fabricantes, vale observar o destaque dado pelo programa de canais da HUA WEI: "A companhia busca revendas reconhecidas no mercado brasileiro e oferece capacitação, treinamento, certificação, ações de marketing e suporte pós-venda. A relação que estabelecemos com o canal de vendas privilegia o aumento de market share e de lucratividade de nossos . " parceiros, observa Johnson Hu, diretor-geral da Huawei do Brasil (www.support.huawei.com).Acordos mais "liberais" entre alguns fabricantes e canais como, por exemplo, uma relação pontual para uma determinada negociação, também podem ocorrer. Estas situações podem ser motivadas por desejo expresso do usuário corporativo que, tendo eventualmente forte relacionamento com um determinado canal, precisa de um produto não representado por este. Este fato dificilmente é publicado em função do seu caráter provisório, razão pela qual, neste caso, não temos referência documental. Esta ocorrência foi observada nos casos analisados. A lógica da estratégia de relacionamento, típica dos grandes fabricantes de TI de porte internacional, está centrada na ampliação do market share ou participação de mercado. A ênfase em vendas do fabricante tem, freqüentemente, um correspondente esforço deste na 56 atualização constante da tecnologia, no reforço da própria marca, na criação e implantação de estratégias agressivas de penetração nos diversos segmentos de mercado e na contínua busca de canais que possam operacionalizar esta ênfase. Embora o foco deste estudo esteja na configuração das atividades de marketing do canal, é importante identificar algumas das variáveis que ocorrem nos extremos da cadeia, que sugerem diferentes orientações estratégicas destes canais e, por conseqüência, freqüentemente interferem na configuração da sua organização. Na Figura XII temos a representação de algumas destas variáveis que servem como referência de análise na construção da estratégia de relacionamento do canal com o usuário corporativo. Embora elas não formem necessariamente um conjunto padrão e muito menos definitivo, servem como base para identificar uma parte da lógica do processo de relacionamento ou de sua proposta. Neste contexto, o canal bem posicionado é aquele que consegue identificar e trabalhar os valores percebidos pelos usuários. Estes valores podem estar sob responsabilidade direta do canal ou na dependência da marca e tecnologia do fabricante. De maneira mais completa, Rosenbloom (2002) afirma que dentre todas as variáveis internas e externas possíveis, o canal deve poder equilibradamente administrar as variáveis de mercado, de produto, da empresa, dos intermediários, ambientais e comportamentais. l PIilliOPAIS VARIÁVEIS QUE PODEM INTERFERIR NA LSTRA TEGIA DE RELAClONA,'lENTO DO CANAL I t 1 PODER DA MARCA ATUALIZAÇÃO TECNOLÓGIC.~ ESTRATÉGIA A,DEQUADA DE POSIClONA,\fENTO CAPACIDADE DE CONGREGAÇÃO DE ALIADOS (USUÁRIOS) ESCOLHA E RELACIONAMENTO COM OS CANAIS BASE INSTALA,DA RELAÇÃO CUSTO BEN EFiClO RELACIONAMENTO COM O USUÁRIO CORrORA TlVO LSTRATÉGIA A,DEQUADA DE POSICIONAMENTO RELACIONAM!:NTO COM O FABRlCANT!: i 1 I CANAL ~----------------~---------------"TROCA. COL,\BOfU nv Ao Figura XII - Variáveis que sugerem estratégias (ótica dos canais)Rosenbloom (2002) 57 Em McCarthy e Perreault (1997), observamos a expressão compra múltipla e sua influência. A Figura XIII organiza visualmente este conceito e espelha a realidade dos contatos típicos de negócios de TI, que especialmente nos casos de sofisticação do objeto de compra, tem um envolvimento organizacional abrangente. Um exemplo desta sofisticação é um projeto de redes que freqüentemente ultrapassa a dimensão da área de TI, interferindo nos processos de outras áreas da organização. Vale notar que, neste caso, os diversos agentes influenciadores da área de compras não estão necessariamente alinhados, o que significa uma potencial transferência de conflitos para esta área. Conforme nos lembra Kotler (1999), a compra tem momentos diferentes de acordo com a fase do ciclo de vida do produto CVP da mercadoria que está sendo adquirida. Assim, estes conflitos serão menores na medida em que uma determinada compra seja apenas reposição de tecnologia já utilizada, e será maior, quanto mais inédita for a tecnologia a ser adquirida. Figura XIII- Influência Múltipla e papéis do centro de compras - extraído de McCarthy e Perreault, 1997 "A análise do vendedor (canal) foca fatores econômicos, mas comprar nas organizações pode também envolver muitas dimensões comportamentais..... muitos compradores desejam evitar assumir riscos que possam refletir negativamente em suas decisões ....... Os profissionais de marketing (canal) que podem ajudar o comprador a evitar assumir riscos são altamente considerados. De fato, isto pode fazer a diferença entre um composto de marketing bem-sucedido e outro malsucedido". McCarthy e Perreault (1997: 136). o relacionamento com o fabricante tem, em grande parte, uma relação direta com a cultura tecnológica do usuário ou, em outras palavras, a formação tecnológica dos especialistas do usuário corporativo. O envolvimento destes profissionais técnicos com o 58 fabricante/tecnologia tende a moldar seus perfis e seus planos profissionais. Ao longo do tempo, estes profissionais envolvidos com os projetos de TI tendem a reforçar certas especializações que freqüentemente têm relação com marcas de fabricantes, mesmo em casos onde a tecnologia não é exclusiva. Congressos, cursos e certificações, entre outros, orientam e valorizam Ounto à comunidade tecnológica) a carreira especializada e esta variável pode ter influência na decisão de continuidade de um relacionamento. Em outras palavras, a cultura da área de tecnologia e especialmente dos influenciadores na negociação e na manutenção de uma determinada negociação pode orientar a organização para uma determinada marca/tecnologia de fabricante. GRUPOS DE usuÁRIOs POR FABRICANTE I""":'-I~ TECNOLOGIAS TÍPICAS DE 11 I I { IUNGU~GENS I SOnwARE Figura XIV - Exemplos de temas para formação de grupo de usuários Na Figura XIV, observamos algumas sugestões de formação de grupos de usuários identificados nos sites específicos dos fabricantes (wwwibm.com, www.sun.com. www.dell.com e de grupos específicos como Grupo de usuários Java, Grupo de Usuários Linux). Destaca-se um texto de Ricardo Rangel (2002) onde, com certa irreverência, ele descreve as origens desta natureza "tribal" das especializações tecnológicas de TI: "A empresa ( onde trabalhava nos anos 80) sempre usara sistemas Burroughs, agora rebatizada Unisys, mas, como fora absorvida por um banco adepto de IBM, estava em curso um esforço de migração. A turma do Burroughs detestava a IBM, com sentimentos não muito diferentes do que a turma do Linux nutre hoje pela Microsoft. As tribos de mainframe desprezavam-se entre si, mas desprezavam mais ainda a turma do microcomputador que consideravam um brinquedo ridículo - para eles, computadores eram aqueles monstros que viviam em um lugar gélido, chamado Centro de 59 Processamento de Dados. Nós, "micreiros", achávamos que o futuro eram os micros. O próprio termo CPD nos dava arrepios; usar Cobol nos micros, então, uma linguagem que era a cara do mainframe, só podia ser traição ou estupidez. Os "cobo/eiros" acabavam sendo alvo de desprezo de ambos os grupos." Ricardo Rangel, Caderno de informática de O Globo, 16/12/2002. Quer pela enorme abrangência e variedade do tema (segmentos tecnológicos influenciadores), quer pela ênfase deste estudo, não temos a pretensão de criar nenhuma referência definitiva. A Figura XIV, portanto, é apenas ilustrativa de parte deste ambiente. Neste caso, o objetivo é apenas demonstrar que todo este movimento de relevância cultural, onde a rede de relacionamento de canais de TI atua, tem importantes conseqüências na opção que o usuário corporativo faz do canal, da tecnologia e da marca. Embora a ênfase neste ponto seja a influência da cultura tecnológica no prosseguimento das relações de negócio - canal com o usuário corporativo- percebemos que a sincronização dos discursos tecnológicos - fabricante & canal - têm outros efeitos na cOIitinuidade do relacionamento entre canal e usuário corporativo. Apenas como exemplo, esta evidência de relacionamento pode ajudar também, quando um usuário tem que optar pela compra através de dois ou mais canais da mesma tecnologia e que possuam, pelo menos em tese, as mesmas condições de preço, suporte, entre outros aspectos. Portanto, esta variável de adoção tecnológica analisada é basicamente uma das maiores contribuições do fabricante/marca para a manutenção da relação do canal com o usuário. O assunto "canal" foi abordado aqui, sob a ótica do referencial teórico, porém será mais detalhado à frente de maneira mais prática em função do foco nas observações do estudo de casos deste projeto. 2.9 Estruturação conceitual 2.9.1 Convergências Pelo conjunto teórico observado, alguns pontos comuns dos estudos são convergentes, mesmo considerando as diversas correntes de pensamento representadas. A Tabela VII identifica os principais temas e respectivos autores que corroboram com estes. A estreita relação entre as dimensões de cultura e a estratégia de mudança precisa permear toda a avaliação sobre a gestão do mercado, como demonstram Homburg, Workman e Jensen (2000).Homburg, Workman e Jensen (2000) também apontam que o 60 modo como este aumento de responsabilidade e redesenho de influência das ações de marketing será absorvido e implementado, poderá causar novos problemas organizacionais. As atividades de marketing estão sendo modificadas e realocadas a partir das mudanças radicais que a organização vem sofrendo, afirma Webster (2000) e as fronteiras funcionais ficam cada vez menos distintas. Quadro VII - Principais convergências do referencial teórico TEMA Há uma correlação estreita entre a orientação para o mercado e a cultura organizacional A orientação para o mercado amplia a responsabilidade de gestão do consumidor para a organização inteira A natural correlação funcional da orientação para o mercado e a atividade de marketing é potencial fonte de conflitos organizacionais A Inteligência de Marketing é importante para a sobrevivência da organização. As atividades funcionais de marketing devem conviver com os papéis impostos pela cultura organizacional de marketing I A área de marketing deve liderar a fonnação de uma cultura organizacional de marketing, mesmo reconhecendo riscos intrinsecos AUTORES CONVERGENTES Homburg, Workman e Jensen (2000), Bolman e Deal (1991), Deshpandé (1999), Day (1999) e Day e Montgomery (1999) Kohli e Jaworski (1990), Deshpandé e Webster (1989) e Narver e Slater (1990). Homburg, Workman e Jensen (2000), Deshpandé (1999) e Day (1999) Kohli e Jaworski (1990), Narver e Slater (1990). ), Deshpandé e Webster (1989) e Day (1999) Deshpandé e Webster (1989), Day (1999), Deshpandé (1999) e Workman, Homburg e Gruner (1998) Deshpandé (1999), Day (1999) e Deshpandé e Webster (1989) Daye Montgomery (1999), Webster (2000), As atividades do marketing tradicional não atendem as Deshpandé (1999), Narver e Slater (1990) e), atuais necessidades do mercado Deshpandé e Webster (1989) O marketing tem sido pesquisado mais intensamente Day e Montgomery (1999), Webster (2000), nas questões funcionais, em detrimento às questões Homburg, Workman e Jensen (2000) e Deshj)andé (I 999) como estrutura, interação das áreas ou~oder As atividade de marketing estão sofrendo Daye Montgomery (1999), Deshpandé modificações e realocações em função das mudanças (1999), Homburg, Workman e Jensen (2000) organizacionais Narver e Slater (1990),Day (1999), Aktouf Há um relação de causa e efeito entre o sucesso do (1996), Motta (1997) Kohli e Jaworski processo de implantação de mudança, e a visão de (1990), Brunsson e Olsen (1993) e longo prazo Deshl~andé (1999) Em estudos recentes, Day e Montgomery (1999) e Deshpandé (1999) propõem prioridade às pesquisas para identificar as fronteiras das responsabilidades e papéis de marketing diante do novo contexto organizacional de mudança acelerada. Day e Montgomery (1999) questionam qual deve ser o papel de marketing nos times multi funcionais, ou como são coordenados os processos e alinhamentos de mudanças 61 requeridas pelo mercado. Eles afirmam que a academia deve criar mecanismos de resposta para a configuração clara de onde e quando as respostas ao mercado deverão ser dadas dentro da organização. Deshpandé (1999) é otimista com relação a todo o processo de reformulação da atuação da empresa a partir das exigências crescentes do mercado: "é um importante momento para reflexão de todas que estão emrolvidos nas camrersas sabre a que marketing foi, é e pode ser". Sua linha de proposta passa, como já vimos, pela aceitação de que existem diferentes funções na organização, diferentes culturas internas e externas e múltiplas disciplinas que suportam a realidade organizacional, que precisam ser respeitadas e entendidas por marketing. Homburg, Workman e Jensen (2000) mencionam o aspecto da intangibilidade de processos de mudança. No caso da estratégia da orientação para o mercado, a organização toda é direcionada e encorajada para a flexibilidade, adaptabilidade e troca de informações entre as diferentes funções da empresa. Freqüentemente isto representa mais mn risco de conflitos e desagregação entre a área tradicionalmente responsável pela relação com o consumidor e os demais departamentos que incorporarão esta responsabilidade. O próximo capítulo detalha o processo metodológico desenvolvido para estas observações. 62 3 METODOLOGIA 3.1 Metodologia escolhida A metodologia básica deste trabalho é o estudo de caso. Seu objetivo é permitir a observação de situações reais em duas empresas, para identificar com qual conjunto de papéis e atividades de marketing elas buscam implementar uma estratégia de orientação para o mercado. Conforme Yin (2001), estudo de caso é uma alternativa preferida, quando o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos, quando o foco é sobre eventos contemporâneos e, além disto, quando se colocam questões do tipo "como" e "por que". Esta é uma descrição compatível com este estudo. Além disso, ainda segundo Yin (2001), "a estratégia de estudo de caso pode ser utilizada para 'explorar' aquelas situações nas quais a intervenção que está sendo avaliada não apresenta um conjunto simples e claro de resultados. " (Yin, 2001 :34). Preferimos portanto, ao invés de um processo quantitativo de levantamento das atividades de marketing, o estudo de caso duplo (múltiplo conforme Yin, 2001) onde buscamos no contato e no cotidiano entender na ótica dos entrevistados, quais eram as atividades de marketing existentes ou percebidas nas duas empresas observadas. 3.2 Escolha do tipo de organização a ser pesquisada A escolha de teste recaiu sobre empresas que estão inseridas num mercado complexo, instável, diversificado e hostil, considerando a estruturação feita por Mintzberg (1995), quando afirma que estes fatores situacionais interferem significativamente no meio organizacional. Desta forma, optou-se por empresas que estão no segmento de tecnologia da informação TI, que contempla estabilidade, complexidade, diversidade de mercado e hostilidade, os quatro elementos identificados por Mintzberg (1995) . A escolha recaiu sobre o canal de distribuição ou canal de marketing, na definição clássica de Kotler(1999).Buscouse assim, organizações que estão por um lado, direta ou indiretamente relacionadas aos usuários corporativos - portanto necessitadas de uma excelência na orientação_ para o mercado - e por outro, numa situação aparentemente indefinida de papéis de marketing, considerando especialmente, a influência da marca e da atuação de marketing do fabricante representado, e a distância ou quantidade de níveis de intermediação entre o fabricante e o usuário corporativo. Além disto, buscamos homogeneizar o estudo trabalhando com casos de empresas que intermediam a comercialização e a distribuição de TI de um mesmo 63 fabricante, mesmo considerando que este modelo de empresa freqüentemente representa simultaneamente várias marcas e tecnologias. 3.3 Planejamento de trabalho A questão básica levantada por este estudo, "quais os papéis de marketing que os componentes do canal de distribuição observados exercem, de acordo com a posição destes dentro da cadeia de distribuição", nos orientou para a seguinte estruturação de processo de trabalho: 1. seleção das empresas - componentes do canal de marketing - identificadas através de levantamentos em documentos (revistas especializadas, internet, publicações das próprias organizações, relatórios anuais, entre outros. 2. definição de plano de entrevistas tendo como público alvo principal, • lideranças da organização, • responsáveis por atividades que sejam reconhecidas no plano teórico deste estudo como sendo de marketing e responsáveis por atividades que sejam reconhecidas pela empresa como sendo de marketing. 3. definição prévia dos objetivos básicos que devem ser alcançados nas entrevistas, visando: • identificar a percepção da organização testada sobre a orientação para o mercado, • identificar o grau de entendimento sobre os papéis de marketing para uma sintonia com as necessidades do cliente e movimentos do mercado, • identificar, se possível, a percepção da empresa quanto ao nível de satisfação dos clientes, com suas soluções, • identificar, se possível, a percepção dos resultados obtidos com a organização de marketing própria adotada, 4. identificação de informações sobre o segmento pesquisado; 5. identificação de estrutura organizacional de marketing, incluindo objetivos estratégicos de marketing das empresas representadas pelos canais escolhidos; 64 6. identificação de infonnações gerais sobre as empresas testadas, como por exemplo, estrutura geral, fabricantes representados, fonnato dos acordos com os fabricantes; tempo de relacionamento, abrangência geográfica de atuação, desenho básico do portfólio de produtos/soluções, entre outros aspectos. 3.4 Processo de seleção dos casos Confonne esta estruturação, identificou-se inicialmente um conjunto razoavelmente grande de potenciais empresas que poderiam fazer parte desta seleção. Para se ter uma idéia do universo potencial de empresas (canais de TI no Brasil) bastaria considerarmos que cada um dos 30 maiores fabricantes internacionais de TI são representados no Brasil por diferentes empresas, considerando apenas tecnologia de larga utilização e em usuários corporativos. Mesmo considerando que vários destas empresas participam de diferentes canais, o conjunto de empresas potenciais para a pesquisa ainda é bastante expressivo. Por isto, fez-se uma seleção para uma redução desse universo de contatos iniciais e o critério utilizado foi o de restringir a escolha de membros de canais que atuassem (exclusivamente ou não) com um determinado fabricante, escolhido aleatoriamente dentre grandes fabricantes internacionais de TI com atuação no BrasiL Buscou-se com isto, a redução do universo de empresas para uma quantidade passível de uma razoável administração, além da expectativa de redução do risco de incompatibilidade de estratégias de negócio, características de preço, sofisticação tecnológica e força das respectivas marcas, diferentes de fabricante para fabricante. Neste sentido, escolheu-se como base para seleção e convites lillClalS para participação neste estudo, empresas que representam no Brasil, o fabricante internacional de TI, SUN Microsystem. De um total de vinte e quatro empresas que representam este fabricante (Quadro VI) observam-se diferentes tipos de organizações: as que distribuem e desenvolvem membros do sistema de canal para revenda da tecnologia, as que agregam alguma outra tecnologia ou conhecimento específico a esta tecnologia, outras que simplesmente revendem, e ainda as especializadas no processo de treinamento deste conjunto de empresas integrantes do canal. Fez-se uma seleção inicial de seis empresas, priorizando aquelas que distribuem e desenvolvem os integrantes do canal e aquelas que agregam valor à tecnologia adquirida. Das seis empresas convidadas (via telefone, com eventual complementação de infonnação 65 por correIO eletrônico), quatro aceitaram entrevistas preliminares. Destas, duas organizações se dispuseram a participar de maneira integral. Como parte do processo de pesquisa, foi proposto às duas empresas entrevistadas que, se por um lado a análise só faria sentido na medida em que fosse isenta, por outro, estas empresas estariam livres para decidir-se pela publicação das respectivas identificações (empresa e entrevistados). A empresa Ingram Micro foi o primeiro caso selecionado. Após avaliar o material coletado e contribuir para ajustes de entendimentos, a empresa aprovou a publicação do caso na íntegra, incluindo identificação da empresa, tecnologia representada e respectivos entrevistados. Acreditamos que a representatividade internacional desta organização, e seu desenho organizacional no Brasil, credencia o material coletado. O outro caso pesquisado preferiu evitar a identificação. Faremos portanto, neste caso, o descritivo detalhado de todas as observações apenas preservando a identificação da marca, localização da sede e demais informações marginais para que, sem prejuízo do objetivo deste estudo, possamos atender à solicitação desta organização. Esperamos que este anonimato atenda ao objetivo proposto. 3.5 Processo de observação (conjunto referencial) Inicialmente definiu-se as fronteiras das atividades de marketing que servem de referência para as análises dos casos. Narver e Slater (1990), Day e Montgomery (1999) e Deshpandé (1999), para citar alguns autores incluídos no referencial teórico deste estudo, confirmam que apenas o aspecto funcional dos "quatro Ps" não é mais suficiente para cobrir e atender a todas as novas questões do mercado. Estes mesmos autores sugerem, com muitos aspectos comuns, propostas de uma nova organização que atue totalmente orientada para o usuário. Para Deshpandé (1999), por exemplo, "as questões das responsabilidades financeiras precisam ser totalmente integradas à gestão da relação com o usuário, especialmente na captação, satisfação e retenção deste. " Deshpandé (1999), como vimos, chega a propor um "m" e um "M" de marketing. O primeiro como um conjunto de atividades estruturadas sob a tradicional responsabilidade da função de marketing e o segundo, ainda em gestação conceitual, como um conjunto de novas responsabilidades de grande abrangência e distribuídas por toda a organização, como cultura de marketing. 66 Diante da indefrnição momentânea de uma fronteira clara entre os papéis sob a responsabilidade da função de marketing e aqueles sob a responsabilidade da cultura de marke~ que o referencial teórico demonstro~QPtou-s~como referên.c.iaparaeste estudo, um conjunto de atividades que vai além da funcionalidade dos "quatro Ps" mas que não ultrapassa a linha divisória da prática possível que o referencial teórico sugere. Quadro VIII - Atividades referenciais de marketing Atividades de marketing ATENDIMENTO AS CONTAS - (MERCADO CONSUMIDOR) NEGOCIO (REGIAO I PAIS) DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO - (ORGANIZAÇAO, PARCEIROS TECNOLOGICOS E FOR.'IECEDORES INTELlGENCIA DE MERCADO - (TODOS OS AMBIENTES,INTERI"'OS E EXTERNOS) L'ITERFUNCIONALIDADE - (INTERIOR DA ORGA.... IZAÇAO ) RELAÇAO EXTERNA - (pARCEIROS POTENCWS OU EFETIVOS, ENTIDADES DE CLASSE, SOCIEDADE) A referência deste estudo busca então, conciliar o "m" e o "M" de Deshpandé (1999), porém ainda dentro da fronteira da função de marketing como mostra o Quadro VIII. Em outras palavras, a referência de análise das observaçõeR dos casos,. considera as novas propostas abrangentes - os cinco "Cs" de Deshpandé e Day (1999)- mas sem considerar ações de marketing por áreas como finanças, produção ou pelo Executivo chefe da organização Chie! Executive Officer CEO, para citar alguns casos. O objetivo, portanto, é a observação das atividades de marketing nos casos dentro do contexto da responsabilidade da disciplina sob a ótica da organização observada. Este aspecto é importante pois o parâmetro da fronteira da função de marketing poderia ser discutível, caso aplicássemos referências externas aos casos observados. 3.5.1 Processo de observação dos papéis e atividades de marketing Utilizou-se duas premissas básicas para esta análise: a) é possível identificar numa organização orientada para o mercado, ações de marketing, mesmo que isto não aconteça de forma consciente; b) toda a organização orientada para o mercado, independentemente de seu tamanho ou objetivo deveria ter uma atuação de marketing escorada nas informações de mercado. A partir destas premissas, considerou-se para cada caso analisado algumas questões básicas: 1. quais as atividades de marketing encontradas nos casos observados; 67 2. quais as ações encontradas de inteligência de marketing; 3. quais as atividades relacionadas à inteligência de mercado são conscientes, portanto priorizadas. 3.6 Processo de observação (visitas e contatos) As observações que deram origem à construção dos casos para este projeto foram efetuadas no período de abril a dezembro de 2002 e representam uma parte da cadeia de relacionamentos entre o fabricante e o usuário corporativo de TI, conforme Figura XV . FABRICANTE 2 níveis 3 níveis 5 níveis 4 níveis CASO I 1 INGRAM MICRO usuÁRIo FINAL Figura XV - Posição dos casos pesquisados na cadeia de relacionamentos No caso Ingram Micro, o contato inicial ocorreu com a Gerente de Marketing Corporativo, Milene Lopes, para quem a exposição das propostas do projeto e de trabalho. Considerando a ênfase do estudo nas atividades de marketing no sistema de um canal sob a ótica de um único fabricante e levando-se em conta que a Ingram Micro representa diversos fabricantes através de diferentes Unidades de Negócios UN, a própria Milene Lopes sugeriu uma entrevista adicional com o diretor da UN da Sun Microsystem, Sergio Pedote. Ao cabo de cada entrevista e de cada coleta de dados (fontes eletrônicas ou publicações especializadas, identificadas no próprio caso) a Gerente de Marketing Corporativo, Milene Lopes, recebeu e validou as observações. O caso 11 foi observado de maneira diferente do anterior. A empresa foi visitada inúmeras vezes, envolvendo entrevistas e conversas com diferentes profissionais independentemente do nível hierárquico. O resultado foi uma análise de participação com diversas áreas da organização. Considerando este conjunto importante de contatos e a 68 similaridade desta organização com diversas empresas brasileiras que representam fabricantes internacionais, é de se supor que as observações deste caso devam contribuir singularmente para esta análise. 69 4 CASOS OBSERVADOS 4.1 INGRAM MICRO Este caso está sendo apresentado em dois blocos distintos: o primeiro como um descritivo da organização quanto à sua dimensão, atividades, forma de atuação, papéis, produtos representados e demais dados que refletem a estrutura fisica. Os dados deste primeiro conjunto foram levantados pelas entrevistas, pesquisa em revistas especializadas e em sites nacionais e internacionais referenciados no texto, nas situações específicas. O segundo bloco se caracteriza por um texto explicativo sobre as observações, e por uma avaliação mais ajustada aos objetivos deste estudo, isto é, buscando entender e comentar as ocorrências de atividades de marketing deste canal. 4.1.1 Descritivo da Corporação Internacional A Ingram Micro é uma distribuidora de TI de porte internacional, que atua diretamente em 34 países, com sede nos EUA, e com faturamento anual acima de U$ 25 bilhões. Ocupa a 75" posição na lista das 500 maiores empresas da revista Fortune, 2002. No Brasil desde 1997, possui aqui aproximadamente 300 funcionários, dos quais 50% direcionados prioritariamente às atividades de relacionamento com o mercado, isto é vendas, suporte a vendas, promoção de eventos, propaganda, pesquisa, inteligência de mercado, entre outros. 4.1.2 Descritivo da Ingram Micro no Brasil No Brasil, a Ingram Micro representa a maioria dos importantes fabricantes internacionais de TI e estrategicamente se posiciona como líder, pela visão de ser "mundialmente respeitada e reconhecida por valorizar o atendimento ao cliente e por sua excelência operacional" (www.ingrammicro.com). A Ingram Micro possui uma abrangente estratégia de atuação no país, considerando especialmente a característica do relacionamento de negócios. A Empresa implantou uma organização que busca atender diferentes segmentos do mercado brasileiro de TI, que vão desde aqueles com a necessidade de compra de produtos genéricos e/ou periféricos, até o suporte na construção de sofisticados projetos. Esta abrangência orientooa empresa para uma organização com diferentes unidades de negócios 70 para atender específicas tecnologias e, mais do que isto, a dois tipos específicos de negócios, conforme ilustra a Figura XVI. a) um orientado para volume; muitos e variados clientes com compras de valores relativamente baixos que, no conjunto, se justificam economicamente. b) outro orientado para valor agregado; esta modalidade tem uma perspectiva de importante participação no relacionamento entre o distribuidor e o canal de relação direta com o usuário final. Envolve tecnologias sofisticadas e está distribuída em três unidades autônomas de negócio sob a perspectiva do fabricante representado. Pela característica e objetivo deste estudo, observamos com ênfase, a atuação da orgimizàçãb de uma das unidades de negócio UN da Ingram Micro, das três relacionadas com a proposta de valor agregado, que é a U.N. do fabricante SUN Microsystem. Neste sentido, Sergio Pedote, diretor da V.N. SUN afirma: "Não faz sentido uma estrutura de vendas atuando com diferentes e sofisticadas tecnologias quando as estratégias de negócio de cada fabricante são especificas, sem contar com o fato de que os usuários finais também têm perfis próprios ". DISTRIBUIÇÃO TRADICIONAL DISTRIBUIÇÃO COM VALOR AGREGADO COMERCIAL TELEVENDAS TELEl\'IARKETlNG COMERCIAL OPER<\ÇÓES DE CAMPO E SUPORTE Serviços de suporte técnico interno e para os canais SUPORTE DE SUPORTE DE RETAGUARDA RETAGUARDA I GERENClA NACIONAL Figura XVI - Modelo de Negócio Ingram Micro 71 4.1.3 Descritivo da unidade de negócio Sun Microsystem A organização da UN atua através das chamadas operações de campo. Os quatro Gerentes de Territórios da Ingram Micro têm a responsabilidade da gestão de quatro regionais de vendas distribuídas pelo país e buscam o relacionamento contínuo com os parceiros responsáveis pela venda ao usuário final e o relacionamento com o fabricante nestes territórios. Estes Gerentes de Territórios são profissionais com perfis predominantemente orientados para a negociação. O conhecimento tecnológico necessário para entendimento funcional dos produtos é algo complementado por treinamentos internos e externos. Isto ocorre especialmente em função da proximidade estratégica e estreita da UN com o fabricante. Como reforço e garantia de habilitação nos produtos oferecidos, há um Gerente de Produtos exclusivamente direcionado para apoio a todos os Gerentes de Território. Além disto, para este fabricante, esta unidade de negócio tem simultaneamente a competência e responsabilidade no desenvolvimento de canais de vendas, recebendo por isto, não somente uma constante atualização tecnológica como também um conhecimento que permite exercer o papel de liderança na formação dos profissionais ou canais de vendas nos processos de negociação. As 45 empresas parceiras da Ingram Micro, escolhidas por fatores como bom relacionamento com o usuário final, conhecimento da tecnologia envolvida, tradição de relacionamento num determinado segmento, entre outros aspectos, recebem destes Gerentes de Território, além do suporte de informações sobre as tecnologias negociadas, a agregação da garantia de reforço da marca Ingram Micro no processo de intermediação. Neste sentido são considerados especialmente os aspectos do investimento na compra, no estoque, no transporte e nos prazos de entrega As empresas que intermediam este distribuidor industrial com o usuário final têm denominações e configurações diversas, como por exemplo: a) System Integratar SI, empresa com a função de agregar diferentes sistemas num único projeto tecnológicO; b) Consultorias, empresas especializadas em grandes e abrangentes projetos que buscam nos "distribuidores industriais" suporte tecnológico e logístico de que não dispõem e nem possuem perfis para tal; 72 c) Profissionais autônomos que, freqüentemente, atuam em clientes específicos onde desenvolveram importante nível de relacionamento; d) VARs ou revendas de valor agregado,. na medida em que revendem ao mesmo tempo diversas tecnologias e disponibilizam lojas, serviços personalizados e profissionais de negócio próximos aos usuários. 4. }. 4 Observou-se que a Observações realizadas "Divisão Corporativa SUN" da Ingram Micro possui três diferentes fontes de atividades de marketing disponíveis: o marketing corporativo, o marketing da própria estrutura da unidade e o marketing do fabricante. Cada conjunto destas funções de marketing tem características próprias: a) o marketing corporativo atuando na estratégia macro da corporação com ênfase no institucional da marca Ingram Micro e atendendo a todas as unidades de negócio na coordenação do equilíbrio dos resultados; b) o marketing do fabricante, chamado de "marketing cooperado" atuando na qualificação dos profissionais de negócio, nas práticas de vendas, nas condições de negociação e na interação com os clientes, especialmente os de grande porte; c) o marketing da própria U.N. atuando nos processos de suporte direto aos gerentes de contas, especialmente nas cotações, configurações complexas e acompanhamento de todo o fluxo interno do pedido. Estas funções, chamadas pela Ingram Micro de Sales Cal! ou Central de Chamados e Atendimento de Vendas, atuam como um braço operacional do gerente de negócios. 4.1.5 O marketing corporativo e a UN A estrutura corporativa de marketing visualizada na Figura XVII, é a área responsável pela comunicação institucional e corporativa da empresa e por todas as ações promocionais e de incentivo para vendedores, fabricantes e revendedores. Os contatos mais freqüentes ocorreram com a gerente desta área, Milene Lopes. Em conversas iniciais, pelos menos três fatos chamaram a atenção: a) trata-se de profissional que demonstra interesse pelo que faz, b) tem consciência ampla do papel de marketing e sobretudo, c) não tentou encobrir eventuais dificuldades encontradas no desempenho de marketing da organização. Pelo contrário, sugeriu que "quanto mais abertura nas informações, mais válido será o estudo". Estas características certamente facilitaram e valorizaram as observações. 73 "O faturamento da minha UN está crescendo e eu também sou avaliado por isto mas o crescimento isolado dela de nada adiantaria. " Sergio Pedote. Figura XVII - Organograma do Marketing corporativo da lNGRAM MICRO "Como gerente do marketing corporativo busco garantir que as UNs atendam equilibradamente os clientes." Milene Lopes. Milene Lopes observa também que, embora o conjunto de atividades de marketing de seu departamento seja grande e seu staff reduzido (três pessoas), a descentralização de algumas atividades de marketing é uma ajuda importante, sobretudo aquelas mais voltadas ao suporte direto e diário de vendas, que ocorrem na própria U.N. As atividades do marketing corporativo relatadas nas entrevistas foram a fonnatação e realização de campanhas institucionais, a criação e implantação de promoções de incentivo para vendedores lngram Micro, revendas e usuários finais; divulgações diversas através da mídia com anúncios em jornais, revistas, mídia especializada entre outros; produção do catálogo geral de produtos "Mundo Ingram"~ realização de eventos diverso~ como treinamentos para vendedores e para revendas; lançamentos de novas linhas de produtos e suporte às feiras e exposições; assessoria de imprensa (para divulgação de matérias não pagas na mídia) e confecção de brindes e materiais promocionais/produto diversos. Além disto, segundo a entrevistada, o marketing corporativo também é responsável pelo relacionamento com as gerências de produtos, fabricantes, agência de propaganda e assessoria de imprensa e pelo desenvolvimento e realização do programa de beneficios da área comercial, administração das verbas promocionais dos fabricantes e campanhas realjzadas pelo departamento dc- marketing ou- confonne solicitações- da área- dC- produtos. Cabe ainda ao marketing corporativo a garantia de padrões visuais da lngram Micro junto a todos os associados, a formatação, divulgação das campanhas internas dos fabricantes e divulgações internas ou externas, que são enviadas via correio eletrônico e a formatação das 74 mensagens eletrônicas semanais em programas como "Eflash" e "Ingram Now". Os programas de segmentação de mercado e atuação de suporte ao departamento de vendas para melhoria do atendimento e de comunicação corporativa completam o conjunto principal de atuação. Observamos aqui, parte do conjunto clássico de atividades de marketing como o Marketing Institucional, Serviços de Marketing, Propaganda, Promoções e Vendas. Esta última na forma de U.N. autônoma, porém diretamente correlacionada ao marketing corporativo. No caso das gerências de produtos, estas também são autônomas na definição e desenvolvimento dos produtos (numa relação estreita com os fabricantes) mas, de maneira integrada, passam a responsabilidade do lançamento para o marketing corporativo. O marketing corporativo está diretamente.- conectadQ à- direção gera,4 conforme demonstra a Figura XVII. Isto sugeriu a seguinte indagação para a gerente Milene: "Existe autonomia do marketing corporativo para definir e priorizar atividades de marketing, considerando o poder das UN. e dos respectivos fabricantes? Obtivemos a seguinte resposta: "A autonomia é total pois as áreas envolvidas entendem os respectivos papéis" Na opinião da entrevistada, trata-se de um grupo autônomo porque, além deste reconhecimento interno dos papéis (marketing corporativo trabalha a estratégia da marca Ingram Micro, enquanto que a U.N. atua como Ingram Micro representando outras marcas), grupos interagem num processo de contribuição mútua, em atividades claras e distintas. Os fabricantes atuam numa relação direta com as U.N., estas sim, mais sensíveis às estratégias destes fabricantes. Quando este estudo de caso foi proposto para a gerente Milene, que programou uma negociação interna com o objetivo de aprovação de continuidade da pesquisa, visto que envolvia aspectos de liberação de informações eventualmente vedadas ao público externo. A continuidade do trabalho sem objeções quanto ao conteúdo das questões relativas ao marketing, indicou uma possibilidade de um departamento com razoável autonomia. Conforme exposição da entrevistada, a organização conta com sistemas, processos e suporte para outras ações de reforço do relacionamento como captação, organização e disponibilização de informações para as diversas ações de melhoria no relacionamento, aí considerados os relacionamentos que refletem a melhoria da relação da marca com o mercado. "Temos uma equipe de Inteligência de Mercado que trabalha para o levantamento de perfil dos clientes, assim como para a atualização constante da nossa base de dados, além de preparação e distribuição de relatórios e análises 75 referentes às vendas, linhas de produtos, revendas, regr.oes, etc. Além disso, trabalhamos com as informações do IMPULSE INGRAM MICRO Pulse, sistema que foi desenvolvido pela própria Ingram Micro e utilizado pelas filiais em todo mundo, com acesso a todas as informações em tempo real sistema que capta, consolida e disponibiliza informações para toda a organização sobre o mercado. Este sistema organiza e distribui informações diversas, tais como, compras/comportamento de compras das nossas revendas entre outras. Estamos em implantação de um sistema, tipo CRM, que controla e relaciona todas estas ações/informações (o projeto é denominado IMterface). Utilizamos ainda com frequência relatórios do IDC como fonte de informação, tendências de mercado, etc." (Milene Lopes Schiavo, Gerente de Marketing Corporativo da Ingram Micro). Outro papel do Departamento Corporativo de Marketing identificado no depoimento da respectiva gerente é o acompanhamento das interações das diferentes D.N.s da organização com o mercado, especialmente para que não haja conflito de interesses que eventualmente traga desconforto para a relação com o usuário final. Na opinião da entrevistada, o próprio fonnato de segmentação e distribuição de territórios pelas U.N .s, a partir do grau de relacionamento com o usuário final, já reduz este risco. "Teoricamente existiria a concorrência entre as UNs, mas como cada um formata e desenvolve seu próprio canal e o mesmo pressupõe uma certa fidelidade, terminam não tendo problemas. Ainda mais que atuam em clientes com base instalada. E geralmente quem tem uma base instalada SUN, por exemplo, continuará comprando produtos SUN" (Milene Lopes Schiavo, Gerente de Marketing corporativo da Ingram Micro) Observamos, ao longo dos contatos, a existência de uma equilibrada relação da gerência do marketing corporativo com a diretoria da D.N. da Sun Microsystem. 4.1.6 O marketing da UN A U.N. tem o papel tático de gestão das empresas responsáveis pelas vendas e atendimento aos usuários finais. Embora a relação da U.N. com estes usuários seja indireta, isto é, só ocorre através dos parceiros ou em conjunto com eles, a preocupação com estes usuários, na opinião do Gerente da Unidade Sergio Pedote, é constante. Além disto, conclui, a U.N. tem um relacionamento estreito com o fabricante, quer pela administração conjunta do território, quer pela sintonia necessária com as estratégias de vendas. Identificou-se no programa de "Gestão de Canais" desta U.N. que estão incluídas as ações de certificação dos intennediários, planos de fidelização, qualificação, escala de beneficios, reconhecimento, níveis de satisfação e comunicação. Segundo Pedote, o fabricante tem neste distribuidor e especialmente nesta U.N., a expectativa de um 76 desenvolvedor de contatos diretos com o usuário corporativo. Na visão de Pedote, isto direciona o perfil de atuação da U.N. para um papel de alto relacionamento com os canais parceiros, incrementando negócios, ampliando oportunidades,. entendendo as necessidades de mercado, pesquisando o mercado na busca de novos potenciais intermediários, entre outros. 4.1. 7 O marketing do fabricante na visão da UN Em função da proposta deste estudo, não faremos uma descrição nem análise aprofundada da estrutura de marketing da empresa fabricante representada pela Ingram Micro, Sun Microsystem. Neste caso, interessa-nos identificar as ações de marketing deste fabricante que estão direcionadas ao relacionamento com a Ingram Micro e mais especialmente, às relações com a UN que, em última análise, representa e operacionaliza as estratégias de negócio. É importante observar neste caso que a Ingram Micro é o distribuidor exclusivo desta marca para o Brasil. Sob a ótica da V.N., afirma o diretor desta unidade, Sergio Pedote, "o fabricante representado tem como principais ações junto ao distribuidor, o acompanhamento dos negócios, a disponibilização de tabelas de preços e negociações de descontos, (considerando volumes, tecnologias, modelo de negócio e usuário final envolvido) e a definição de leads, termo freqüentemente utilizado por fabricantes para referência à lista das potenciais usuárias finais par empresa componente da canal. " "Esta ação, continua, parte da estratégia de que o fabricante tem a macro visão de qual é o melhor veículo de venda para cada tipo específico de potencial usuário final. " Em outras palavras, na instância formal do processo, é o fabricante quem define os usuários finais ou potenciais para cada canal. Pedote identifica que, na informalidade do dia a dia porém esta decisão é negociada com a V.N. que, neste caso analisado, tem ferramental, liderança e nível de relacionamento para entender qual o melhor canal com os prospectos e usuários. Segundo ele, o fabricante também fornece o suporte avançado, especialmente o chamado suporte de terceiro nível, de sofisticação e grau de conhecimento apenas possível para quem fabrica o produto. O Diretor da V.N., Sergio Pedote, fala sobre o chamado "marketing cooperado" do fabricante, que identificamos no site (www .. sun.com). "Ele está mais diretamente relacionado com o aspecto institucional ou com maior ênfase nas marcas, - canal 77 distribuidor e fabricante - razão pela qual, está mais direcionado ao departamento de marketing corporativo da Ingram Micro" Como, de maneira geraL o fabricante e os membros do canal têm o objetivo de aumento da penetração de mercado e volume de negócios, fica razoavelmente subentendido que a relação do fabricante com estes membros é pautada pelo diálogo de vendas. Estes membros têm tratamentos diferenciados de prioridades, preços, suporte tecnológico (visitas), formas de pagamentos, entre outros aspectos. Neste sentido, Sergio Pedote observa que há uma variação no relacionamento entre os diferentes componentes do intermediário e o fabricante: "Dependendo das condições da empresa responsável pelo relacionamento direto com o usuário final, os preços e prazos dos produtos terão significativas diferenças. Assim, por exemplo, um pequeno integrador de sistemas (IS) que tenha um potencial negócio mas que não disponha de caixa para compra direta antecipada com o fabricante, (para obter um valor agregado de entrega rápida) terá como opção a compra através do distribuidor, que normalmente possui estoque estratégico". Neste caso, conclui; "a negociação terá dois níveis: a) do canal de relacionamento direto buscando equilibrar a necessidade de melhores prazos de entrega com preços mais próximos possíveis da tabela incentivada do fabricante; b) do distribuidor com o fabricante de uma melhor condição de negócio possível para aquele canal, incluindo treinamento, suporte, apoio logístico, agregação das marcas junto ao usuário final, entre outros aspectos". Deduzimos que esta seqüência e até as superposições de negociações são complexas porque envolvem um conjunto distinto de interesses que afetam diretamente os ganhos individuais das organizações envolvidas. O processo depende de uma coordenação segura, para que o usuário final seja mantido e mais que isto, fique satisfeito com o resultado final. Sob a ótica do consumidor, embora não seja este o foco deste estudo, este tipo de conflito tem conseqüências importantes. O entrevistado entende que, se por um lado este consumidor teoricamente corre o risco de um incremento indevido no preço final pela soma de custos dos intermediários, na prática isto não é necessariamente verdadeiro. "De fato, freqüentemente isto acaba sendo agregador para o usuário final porque, na ênfase de vendas de toda a cadeia desde o fabricante, os preços e condições são fortemente pressionados para baixo para manter a competitividade" (Sergio Pedote). "Como cada nível do canal tem, em tese, uma agregação de valor, é de se supor que o usuário final tenha mais por menos", conclui. 78 Este caso revela um formato organizacional de marketing que, quer pelo forte desenho estratégico corporativo no nível internacional - preparado para um ambiente competitivo e agressivo em termos de resultados - quer pelo nível ocupado no sistema do canal, tem na sua descrição pelos entrevistados, um conjunto importante de ações de marketing definidas no conjunto referencial de atividades organizados neste estudo. Observou-se, quer nas palavras da gerente do marketing corporativo (Milene Lopes) quer nas informações dadas pelo diretor da V.N. Sun Microsystem (Sergio Pedote), uma certa tentativa de desmistificação da concorrência. "Nossa atuação com muitas alternativas de tecnologias e fôlego financeiro para manter um estoque mínimo ou eventualmente, financiar negociações, agrega um raro valor na relação com os demais componentes de canais." (Milene Lopes). "Mesmo que uma ou outra negociação seja feita por um integrante do canal sem o nosso envolvimento, nada impede que em uma nova negociação estejamos envolvidos. Este segmento tem muito dinamismo e o usuário final, muito bem informado, sempre fará pressão para redução de custo e melhoria do atendimento e para isto, estamos preparados" (Sergio Pedote). Isto não foi observado como uma atitude presunçosa de excessiva confiança, mas de crédito na habilidade interna de negociação e suporte nas diferentes situações. O volume de vendas da U.N, conforme Sergio Pedote, está com crescimento seguro, desde que esta UN foi implantada, há dois anos" e isto seria também uma referência para esta confiança. Observou-se que as diversas dimensões internas de marketing da Ingram Micro, até pela estruturação informada pelos entrevistados, têm pressupostamente condições para perceber que a concorrência é um fato. É possível que, na medida em que os resultados planejados estejam sendo alcançados, a atuação da concorrência esteja sendo monitorada e estratégias internas sendo reforçadas para minimizar seu efeito. Pareceu-nos também, em função das respostas recebidas, que a organização Ingram Micro no Brasil provavelmente reflete o que outras multinacionais freqüentemente refletem que é o "tom e o volume" dos resultados planejados na corporação. Se a expectativa está sendo alcançada, a concorrência acaba sendo vista, mais como referência de ajuste de estratégia do que pretensa justificativa de eventual insucesso. Passamos agora aos detalhes do segundo caso observado. 79 4.2 Caso II Organização de pequeno porte com aproximadamente trinta funcionários, com atuação comercial na região sudeste e faturamento anual estimado em aproximadamente oito milhões de reais. Embora possua uma carteira de mais de uma centena de potenciais clientes, esta empresa dá ênfase especial a um pequeno número de clientes, com um relacionamento personalizado. A empresa representa, além do fabricante referencial deste estudo, outros fabricantes internacionais e de forma pontual, isto é, reforçando o relacionamento com os fabricantes," dependendo das necessidades do potencial cliente no momento específico da negociação. Atua também nas oportunidades oriundas destes relacionamentos com os fabricantes, criando alternativas de relacionamento com alguns usuários que, por razões diversas, não estejam recebendo um atendimento adequado por parte de outros canais ou até, outros membros do próprio canal. Conforme observado no capítulo da "Metodologia", esta organização pediu para que não fosse identificada. As observações sobre este caso são, sempre que possível, transcrições fiéis de inúmeras conversas realizadas com vários profissionais da organização, desde os diretores até os níveis mais operacionais," respeitando-se porém o pedido de sigilo quanto aos nomes dos envolvidos. Este componente do canal ocupa a posição de Revenda Corporativa no sistema do canal, isto é, além da revenda de tecnologia e representação de marcas consolidadas de fabricantes, este integrante tem a proposta de buscar agregar valor ao relacionamento com o usuário final, quer por sua atuação mais próxima a este usuário, quer pelo nível de experiência que busca alcançar. Além disso, busca explorar no discurso comercial, o aspecto da flexibilidade que, em tese, pelo seu tamanho organizacional, tem maior possibilidade. "Muitos clientes nos conhecem pelos serviços que prestamos e sabem que, pelo nosso desenho organizacional, podemos ser muito ágeis" afirma o diretor comercial desta organização. Ele se refere, neste caso, à necessidade razoavelmente freqüente de compras de TI, que não dependem de revisão ou recriação de projetos sofisticados e demorados. 4.2.1 Fabricantes representados Como a maioria dos canais com este formato de "integrador de soluções", este canal se envolve, simultaneamente, com pelo menos cinco ou seis diferentes fabricantes. 80 "Temos a nossa predileção tecnológica, formada pela expenencia e relacionamento com um determinado fabricante, mas nossa prioridade é fechar a venda e, se o cliente opta conscientemente por outra tecnologia, não podemos nos dar ao luxo de uma especialização de marca, e conversamos com o outro fabricante" afirma um dos gerentes de contas. o diretor comercial acha que a flexibilidade de alteração da marca representada deve ser o último recurso. "Fazemos todo o esforço para que o cliente perceba o valor de uma determinada tecnologia, dito por quem conhece o produto e o fabricante e com quem temos um relacionamento que agrega ao negócio ". 4.2.2 Departamento de vendas Pela estratégia organizacional deste integrante do sistema de canal (ainda que informal) observa-se que a ênfase quase total está na venda. "A sobrevivência da organização depende disto" afirma o diretor comercial e continua, "uma organização como a nossa, não tem fôlego financeiro para muito tempo sem vendas", referindo-se à hipótese de eventuais interrupções de trabalho para treinamentos (força de vendas). A organização já tem razoável tradição na solução apresentada, adquiridaao longo dos últimos anos. Possui também algum conhecimento do processo de negócio dos prospectos ativos também adquirido neste período. "Não temos uma grande carteira de clientes ativos, porém nossos clientes não trocam nosso relacionamento por nenhuma outra alternativa, especialmente aquelas de grande porte sem a nossa agilidade" afirma o diretor comercial. A Figura XVIII demonstra a distribuição simplificada das funções desta organização. COMEROAL OPERAÇÕES Figura XVIII - Organograma simplificado do Caso JJ o conhecimento das soluções e tecnologias oferecidas para a força de vendas pela empresa é estabelecido a partir de dois processos simultâneos: a) formação interna de profissionais a partir do envolvimento em negócios específicos e/ou treinamento 81 especializado dado pelo fabricante, e b) contratação de profissionais já formados e atualizados. "Minha experiência em projetos de TI foi fortemente reforçada pela negociação de grande porte desenvolvida com um dos nossos clientes" afirmou um gerente de contas com um ano e meio de atuação nesta organização. Para ele, a experiência através de treinamentos externos (especialmente no fabricante) não é freqüente. "Tenho participado esporadicamente de eventos de fabricantes, com o objetivo de levar clientes, porém estas apresentações não permitem conhecer bem o produto representado ". Conversamos também sobre o tema "conhecimento tecnológico e de prática de vendas" com um gerente de vendas recém-chegado: "Já atuei como fornecedor de grandes corporações com produtos similares aos representados por esta empresa". O conhecimento das técnicas de vendas está no nível intermediário caminhando para especialização, pois a organização de vendas tem basicamente duas formações diferentes: 1. profissionais que foram contratados nos últimos anos pelo conhecimento técnico e pelo relacionamento com determinada solução, já compromissada numa negociação. Em outras palavras, algumas contratações de profissionais de vendas foram subordinadas mais à preocupação da organização na prestação de um serviço qualificado já comprometido, do que a uma estratégia específica de ampliação da carteira de negócios. Observou-se que, provavelmente pela ênfase em fechamento de negócios, já comentado neste capítulo~ alguns negócios são concretizados- sem. necessariamenre disponibilização interna de todos os recursos para aquele projeto. É importante frisar que isto não é feito com leviandade, sendo freqüentemente de conhecimento do próprio cliente. A lógica, neste caso, é esperar o fechamento do negócio, para buscar no mercado alguém já preparado, às vezes até aproveitando indicação do próprio cliente e/ou do fabricante. O pequeno porte organizacional e a incerteza de fechamento de determinados negócios suportam a lógica da manutenção de um quadro reduzido. É a flexibilidade organizacional levada ao limite. 2. profissionais com perfis mais próximos e afeitos ao relacionamento personalizado e mantendo a exigência do conhecimento tecnológico específico. A propriedade de uma carteira de clientes pode, neste caso, ser uma variável decisiva para a contratação do profissional. Um Gerente de Conta contratado na semana da entrevista, afirmou: "Terei apenas que apresentar o novo cartão para o cliente (referindo-se a uma visita 82 programada para uma organização de grande porte, já conhecida). O relacionamento jáfoi desenvolvido ao longo de vários anos". 4.2.3 Cobertura de mercado Este integrante de canal possui sede no eixo Rio de Janeiro - São Paulo, onde concentra sua atuação. Eventualmente atende clientes em outras localidades, mas apenas em casos especiais, como por exemplo, cliente atendido neste segmento geográfico mas que tenha a necessidade de ampliação dos serviços contratados para outras cidades. Estrategicamente, em outros casos, em atendimento a requisitos de projetos especiais, ou por visibilidade de potencial no desenvolvimento local, a empresa ampliará sua atuação, inicialmente implantando pequenas redes utilizadas em escritórios com características residenciais ou de profissionais liberais. "Atuação para a qual estamos preparados e que não exige grande envolvimento de pessoas", afirma o gerente de suporte. O plano de visitas aos clientes segue a lógica de potencial negociação e previsão de prazos de conclusão dos negócios. Em outras palavras, potenciais clientes que, pelo momento estratégico de implantação de soluções fornecidas pelo canal, estejam mais próximos da decisão de compra, terão maior prioridade de visitas do que outros potenciais clientes cujas negociações estejam, por exemplo, em fase de manutenção do parque instalado. "A empresa estuda a possibilidade de implementar algumas segmentações específicas por ramo de negócio", afirma a analista de pré-vendas. O tema é confinnado pelo diretor comercial, porém com ressalvas. "Ainda não está claro para nós, se devemos segmentar e como. A variação de tendências de mercado é grande e a especialização pode ser muito cara e demorada". 4.2.4 Administração da resposta do cliente A empresa possui um sistema próprio de acompanhamento de negócios onde são registradas todas as fases da negociação, respectivos status e responsabilidades. O sistema, on-line, permite que o processo seja acompanhado por diversos departamentos dentro da organização. Esta organização planeja estender a aplicação deste sistema para um acompanhamento das necessidades do cliente, não relacionadas necessariamente aos processos de vendas, como níveis de satisfação, manutenção do parque instalado e tendências estratégicas do cliente~ que afetem de alguma maneiIa.os- acordos- e os- serviços 83 prestados pelo canal, entre outros dados. Observa-se que o sistema é razoavelmente funcional, considerando principalmente o tamanho da estrutura organizacional. "Quando estivermos com volume de negócios compatível com processos mais sofisticados, poderemos avaliar alternativas do mercado ", afmna o diretor de operações. 4.2.5 Inteligência de mercado As informações sobre a atuação da concorrência, tendências de mercado, novas tecnologias, novos fornecedores e fatos similares são acompanhadas pela organização de maneira informal e localiza~ isto é~ dependendo de uma negociação específica ou do perfil do profissional de negócio envolvido. A organização tende também a utilizar informações de mercado fornecidas pelas marcas fabricantes, embora estas informações sejam freqüentemente organizadas sob o ponto de vista do fabricante. "O relacionamento com os nossos clientes permite entender suas necessidades. Na verdade, a maioria deles quer preço e boas condições de pagamento, na medida em que a tecnologia, freqüentemente, já está definida", afirma o diretor comercia!. Numa das conversas com os gerentes de contas, observou-se o seguinte comentário: "às vezes, somos surpreendidos com algum outro representante (representando outra tecnologia) dentro do cliente. Se temos tempo de reação, corremos atrás de informações sobre as vantagens comparativas da outra proposta". Percebeu-se que, para a maioria dos representantes de conta desta organização, havia um interesse em maiores informações, porém sem uma clareza sobre a amplitude e até sobre a natureza destas informações. 4.2.6 Relacionamento interfuncional O tamanho da organização e o processo de liderança exercido, de certa forma, facilitam o relacionamento interno e o fluxo de informações sobre o cliente. Um recente exercício de diálogo estratégico nesta empresa enfatizou o relacionamento e a participação dos diversos departamentos no foco ao usuário final. Isto ocorre de maneira informal. Esta empresa tem alguns componentes de uma cultura de organização que lembram o estilo familiar. As relações freqüentemente se sobrepõem a um eventual desenho estratégico, especialmente no contexto da comunicação interna. 84 4.2. 7 Desenvolvimento de produto A organização comercializa equipamentos, programas de computadores e serviços. Nos dois primeiros tipos de produtos não há nenhuma agregação, na medida em que são soluções fechadas, fornecidas pelos fabricantes representados. No caso de serviço, a organização está se estruturando com profissionais selecionados no mercado e com um processo de desenvolvimento interno. Este desenvolvimento freqüentemente é feito nas instalações do fabricante envolvido e custeado pelo canal analisado, o que significa, na maioria das vezes, importantes encargos com viagens internacionais, hospedagens, entre outros aspectos. O valor agregado pelo serviço, neste caso, tem para esta organização, duas óticas diferentes: a primeira de caráter imediato, que indica que o serviço toma a empresa mais competitiva para determinados negócios, e a segunda, de visão mais de longo prazo, prevendo que através de um serviço qualificado e diferenciado, há a possibilidade de um reforço da marca e da liderança num determinado nicho de mercado. Neste sentido, observa-se que as duas opiniões estão presentes na organização através de diferentes lideranças. O mercado atendido por este canal de distribuição, também tem estas duas vertentes. Uma parte dos potenciais usuários querem comprar produtos acabados mas, de preferência, através de fornecedores que tenham a competência na instalação e manutenção. Outros esperam dos fornecedores, além da disponibilização dos equipamentos, um serviço qualificado na orientação quanto ao projeto, quanto ao esclarecimento sobre os ambientes tecnológicos envolvidos, na implantação de um plano adequado, na manutenção contínua e no plano de expansão, entre outros. "Nossa organização atende de maneira personalizada e sabemos que há um nicho de mercado para isto", afirma o diretor comercial. 4.2.8 Relacionamento com o mercado As participações em eventos estão basicamente relacionadas à programação e coordenação dos fabricantes. Os custos envolvidos e a dimensão pretendida de mercado, no entender da organização, não justificam ações próprias neste sentido. Além disto, a organização não possui um processo que permita mensurar razoavelmente os resultados desta ação. "Admito que quando chegamos em alguns clientes, a maior dificuldade é falar sobre quem somos" afirmou um dos gerentes de contas. Para o Diretor Comercial, a conquista de um bom nível de relacionamento com o mercado tem que acontecer 85 associando-se duas ações: "Em alguns casos, prefiro buscar no mercado alguém já relacionado com determinado cliente potenciar'. Neste caso, o relacionamento do Gerente de Conta compensaria, em tese~ a baixa exposição da empresa no mercado. A outra alternativa é o trabalho persistente de algum Gerente de Conta a partir do relacionamento continuo com o cliente, mostrando os valores e agregações que a empresa pode oferecer. Outro ponto importante neste contexto é a penetração do fabricante num determinado mercado ou cliente específico. "Acho que o fabricante poderia nos apoiar mais nesta conta, ao invés de apoiar o lead, (outro representante, definido pelo fabricante como responsável pela conta) que não acompanha as necessidades desta conta", comentou um gerente de conta. Para a responsável pelo apoio às vendas, a lista de leads deveria ser alvo constante de reavaliação pelos fabricantes: "Às vezes, o próprio cliente demonstra que preferiria o nosso atendimento, mas o fabricante é o líder desta estratégia." Para o Diretor Comercial, o fabricante faz opções absolutamente práticas: "Quem demonstra melhor entrosamento com a cliente a ponto de ter a sua corifiança, tem a oportunidade de ser lead. " Conclui dizendo que a questão é como pode ser comprovado este melhor relacionamento. 4.2.9 Propaganda A estratégia deste componente da cadeia do canal, quer pelo conjunto concentrado de clientes, quer pela atuação direta e personalizada de vendas nos potenciais negócios, é de baixo investimento em propaganda. A exemplo do item anterior, esta ação de propaganda também não é enfatizada porque falta uma forma de comprovação de resultados. Observou-se casos isolados de aproveitamento em publicidade associada a ações do fabricante (publicações próprias). "Representamos marcas absolutamente consolidadas no mercado ", diz o diretor comerciaL Dedicamos a próxima seção ao resumo das observações feitas nos casos e sobretudo, a uma consolidação da nossa interpretação dos aspectos observados. 86 5 CONCLUSÕES As observações a seguir estão distribuídas em tópicos para facilitar a percepção sob as distintas óticas, da visão geral, de cada canal e da cadeia de relacionamentos. Três tópicos detalham as observações realizadas, e um tópico final consolida os principais pontos de contato do referencial teórico deste projeto com a prática dos casos observados. 5.1 Visão geral das observações A Figura XIX, resume as atividades de marketing observadas e busca facilitar a visualização do conjunto testado. FABRICANTE 4 níveis 3 níveis 2 níveis 5 níveis Caso I 1N~~ Gestão de CaBais/fabricante (relações externM) Produtos Inteligência de mercado InterfuncionaJidade 1 Fl/? I1 Ren~ corporattvas I I Revendas corporativas (.,... ....0 .... e) Re\le04as corporativas Il brt~ornJ de sistemas ~ \ I C...oIl Ge~tão de Negócios Contas I USUÁRIO CORPORATIVO Ro>'Cndas corporattvas I t A~nte aut6nOtno • I Figura XIX - Resumo das observações Observaram-se diferentes conjuntos de atividades de marketing entre os dois casos . A posição no eixo da cadeia, isto é, a distância entre cada empresa e o usuário final, parece determinar parte destas diferenças. É natural supor que, quanto mais próximo estiver a empresa do usuário final, mais ela estará comprometida com o foco nas vendas. Outro ponto importante observado no aspecto geral, é a presença de todas as atividades de marketing - conforme referência - em um dos casos, superando o próprio conjunto subentendido do fabricante. Devemos ter sempre em mente que esta informação é resultante da percepção dos entrevistados, e portanto está eivada da forma como os membros da empresa vêem a realidade onde operam. 87 5.2 Atividades observadas no caso do Distribuidor O conjunto referencial de atividades (Quadro VIII) está totalmente contemplado nesta organização. Esta pode ser uma indicação de conscientização- organizacional quanto à importância do marketing como instrumento de relacionamento com o mercado. Outro indicativo para isto seria a informação de que pelo menos metade das mais de três centenas de funcionários da empresa no Brasil são considerados profissionais de marketing. Vendas, neste caso, seria um componente de marketing estando subordinada à cultura de orientação para o mercado. Esta possibilidade difere da situação observada no caso 11. Para aquela Revenda Corporativa, com foco exclusivo em vendas, o marketing é tido como estágio organizacional ainda desnecessário. Embora o papel de gestor de toda a cadeia de relacionamento seja, em tese, do fabricante, como vemos em Rosenbloom (2002), observamos que este papel é exercido de fato pelo distribuidor, pelo menos com os componentes do canal que estão relacionados a ele. Como este grupo de componentes não representa a totalidade de empresas que formam o canal, fica visível a potencial validade da observação feita pela revenda corporativa - caso Il - de que há uma certa ausência do fabricante em determinados "conflitos de negócio" que envolvem dois ou mais componentes num determinado usuário. Não há dados para confirmar se esta ausência é percebida por todos os demais componentes do canal e inclusive, pelo próprio fabricante, mas a inexistência de uma grande estrutura deste fabricante no Brasil pressupõe que ele busque reforçar o apoio ao distribuidor no exercício deste papel de gestor de outros integrantes. A gestão de contas tem sua confirmação de existência facilitada via observação da atuação da V.N., detalhada em capítulo específico. A gestão de inteligência de mercado, quer pela observação dos instrumentos e processos existentes, quer pela observação da utilização prática das informações e na estratégia e tática de negócios, também foi identificada. Neste contexto, creditamos parte do funcionamento do processo de gestão da inteligência de mercado à existência da gestão do relacionamento interfuncional. Embora as observações no caso I tenham sido localizadas exclusivamente no marketing corporativo e na V.N., a existência desta prática no ambiente de marketing da organização já significaria uma realidade em metade do ambiente organizacional deste distribuidor, conforme distribuição das atividades de marketing por funcionários, dado apresentado anteriormente. 88 As atividades observadas neste caso não foram, através das entrevistas, configuradas como sazonais ou pontuais. As entrevistas e os cruzamentos de informações que fizemos sugerem que as atividades de marketing identificadas fluem estruturada e permanentemente pela organização. Atividades observadas no caso da Revenda Corporativa Nesta organização, observou-se evidências de um foco exclusivo em vendas (Gestão de conta e de negócios). Não significa que não tenham sido observadas demonstrações de interesse por outras atividades de marketing, mas as eventuais ações encontradas neste caso não são priorizadas, ou pelo menos não são evidentes a ponto de se estabelecer processos e responsabilidades que garantam a continuidade delas de maneira impessoal. O eventual sucesso do relacionamento que ocorre com esta organização, parece bastante dependente dos esforços de uma ou outra pessoa. Observamos também que a área comercial deste integrador é orientada para valorizar mais as informações dos tomadores de decisão e influenciadores dos seus consumidores corporativos, em eventual detrimento de informações mais genéricas sobre mercado, tendências tecnológicas e ações da concorrência~ para citar algumas fontes importantes. Estes temas são priorizados apenas após uma eventual constatação de que estes fatos estejam interferindo no processo de negociação com um cliente em perspectiva. Em outras palavras, inteligência de mercado não é vista como atividade estruturada e regular. Além disto, quando este tipo de gestão ocorre - sempre de maneira informal - é focalizado freqüentemente em apenas um tema e de maneira reativa. No caso da interfuncionalidade, observamos que ela ocorre quase que exclusivamente pelo relacionamento "social" e extra-organizacional de alguns de seus membros. Esta observação fica mais consistente quando nota-se que a área de vendas - com maior rotatividade média da organização - tem um relacionamento mais formal com o restante da empresa. Não é possível, portanto, afirmar que a interfuncionalidade, nos moldes previstos pelo conjunto referencial de atividades de marketing deste estudo, exista na empresa. Finalmente, no caso da atividade de relacionamento externo, também do referencial, observamos um conjunto de ocorrências pontuais, sem a constatação de uma coordenação estruturada. Cada negociação pode orientar a organização, ou parte dela, para um determinado relacionamento externo com um determinado fabricante~ considerando, por 89 exemplo, os interesses do usuário, o histórico do gestor da conta, o posicionamento comercial do fabricante e as atuações dos componentes dos canais concorrentes. Também nesta atividade de marketing, observa-se que há uma conotação provisória, situacional e sobretudo reativa. Em Deshpandé, Farley e Webster (1993) encontramos certa proximidade deste perfil de atuação com a organicidade e ênfase na flexibilidade. Por outro lado, não encontramos no trabalho destes autores, nenhuma sugestão de que flexibilidade significaria uma informalidade com a ausência de processos. A centralidade no usuário, o "customercentrismo" proposto por Deshpandé (1999), indica uma ação conjunta da organização, não apenas conceitualmente, mas de forma pragmática. Significa dizer que há a expectativa de ações paralelas reforçando esta central idade como, por exemplo, inteligência de mercado, processo não encontrado neste caso, pelo menos de forma clara e estruturada. 5.4 Resumo final As convergências de conclusões teóricas descritas no Quadro VII - Principais convergências do referencial teórico - identificam importantes pontos de conexão com os casos observados, especialmente na questão do sucesso da implantação de um processo de orientação para o mercado. No conjunto, aquelas conclusões provavelmente sustentam que ª implantação da orientação para o mercado tem mais chances de sucesso quando existe uma cultura de marketing na organização ou a possibilidade de desenvolvimento desta. A orientação para o mercado introduz a inteligência de mercado na organização e contribui para a sua manutenção contínua. Além disso, a ótica do longo prazo solidifica-se na organi~ão. Neste contexto, que contribuição as observações destes casos podem dar, considerando-se uma "dimensão restrita" do marketing em cada uma das empresas observadas e uma "dimensão geral" do marketing distribuído por todo o sistema do canal? As duas organizações observadas possuem características bastante singulares, mesmo considerando diferentes posições no sistema do canal. O caso I tem um discurso de marketing que pode estar sustentado pela razoável capacidade de investimento no conhecimento do consumidor, conforme propõem Deshpandé e Farley (1998). A falta de capacidade de investimento do caso II poderia ser uma das razões da ausência das ações 90 mais estruturadas de marketing. A cultura organizacional do caso I pode estar direcionada prioritariamente para o resultado de curto prazo mas a preocupação com a constante mutação dos ambientes mercadológicos que envolvem este negócio tem um tratamento estruturado. Além disto, observou-se neste caso traços de aceitação do marketing como referência organizacional, quer pela estrutura (metade dos colaboradores estão relacionados diretamente às atividades de marketing), quer pela linguagem interna, que privilegiaria o consumidor (usuário corporativo, neste caso). Entendemos, por outro lado, que a gama restrita de contatos destas observações pode estar privilegiando o discurso dos entrevistados - bastante comprometido com o marketing - a despeito de uma eventual priorização organizacional para o negócio, em que o cliente seria meio e não fim. O caso da Revenda Corporativa revelou uma empresa com uma única atividade de marketing: a venda (Gestão de Negócios e de Contas). Observou-se neste caso, um discurso orientado para o fechamento do negócio e uma razoável percepção da importância de marketing para que isto aconteça, porém não foi observada nenhuma ação concreta para viabilização de outras atividades da disciplina, pelo menos de forma enfática. Quando esta Revenda Corporativa busca atuar no mercado como integradora de soluções, portanto como agregadora além de representante de produto acabado, o seu papel original de revenda deveria ser revisto. Esta perspectiva poderia contribuir para uma visão mais ampla de marketing, mas há uma grande distância desta cultura organizacional com a proposta de "orientação para o mercado". O curto prazo, neste caso, é claramente um padrão para os resultados. Como exemplo desta visão, destacamos a prática corrente desta empresa de compor o quadro de vendas a partir das táticas sazonais - dependendo por exemplo de uma oportunidade detectada num potencial cliente - sem um comprometimento mais duradouro. O novo integrante da força de vendas traria informações e relacionamentos que não precisariam ser desenvolvidos internamente. No plano da "dimensão geral" também observou-se diferentes situações. O distribuidor tem um papel de organizador do marketing no nível abrangente para o grupo de componentes do canal diretamente relacionados a ele. É provável portanto que, revendas corporativas similares à observada por este estudo, enquanto componente do sistema do distribuidor, tenham neste "guarda chuva" de marketing, ferramentas para uma atuação adequada com o cliente. 91 A Revenda Corporativa na perspectiva dimensional "geral" aparentemente depende de uma estratégia de marketing da liderança do canal. As observações efetuadas permitem supor que o posicionamento da própria marc~ por exemplo, não é uma ação estruturada sob o ponto de vista de marketillg. Isto pode estar ocorrendo pela falta de algumas atividades e experiência organizacional de marketing. Novas investigações deverão ajudar a entender, por exemplo, qUaIS senam as principais razões das diferentes percepções sobre as atividades e conseqüentes papéis de marketing. O nível de investimento de cada um dos componentes do canal? A característica brasileira de pouca valorização do longo prazo como alternativa estratégica de negócio ou uma pequena familiaridade dos profissionais com o marketing? 92 6 GLOSSÁRIO Atividade de Marketing: ações específicas de marketing que no conjunto, formam a função de marketing (Workman, Homburg e Gruner, 1998). Canal de distribuição: também conhecido como canal de marketing, "é um grupo de organizações interdependentes envolvido no processo de tomar um produto ou serviço disponível para uso ou consumo por parte do consumidor final (Kotler,1995:509). Sob a ótica da estratégia organizacional é "a organização contatual externa que a administração opera para alcançar seus objetivos de distribuição." (Rosenbloom, 2002:27). No aspecto tátic%peracional "A empresa utiliza canais de distribuição para demonstrar ou entregar produtos ou serviços tangíveis ao comprador ou usuário. Há canais de distribuição fisica e canais de distribuição de serviços. Dentre eles estão os armazéns, veículos de transporte e diversos canais comerciais, como distribuidores, atacadistas e revendedores." (Kotler, 2000:35). Clientes industriais e organizacionais: quaisquer empresas que compram para revender ou para produzir outros bens e serviço - McCarthy e Perreault (1997). Composto de Marketing: conjunto de ferramentas básicas de marketing controláveis - produto, preço, praça e promoção - que a empresa coordena para produzir a resposta que deseja do mercado alvo Kotler (1999). Compra nova: situação em que o comprador deseja mais informações sobre o produto - McCarthy e Perreault (1997). Cultura Organizacional: é usualmente definida como uma espécie de "cola" que une a organização e que expressa os valores ou ideais sociais e crenças que os membros da organização querem expandir (Smircich, 1983: 340). Disseminação da informação de mercado: é uma forma de distribuição da informação do mercado para toda a empresa, através dos respectivos departamentos (Kohli e Jaworski, 1990: 6). Estratégia de Marketing: a lógica de marketing pela qual a V.N. espera atingir seus objetivos - Kotler (1999). Estudo de caso: o estudo de caso é uma das maneiras de se fazer pesquisa em 93 ciências sociais. Em geral, estudos de casos representam a estratégia preferida quando se colocam questões do tipo "como" e "por que", quando o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real (Yin, 2001). Gestão: é um termo genérico que sugere, tanto quanto seus sinônimos, (administração e gerência) a idéia de dirigir e de decidir, mas ainda pela novidade, sem revelar os preconceitos dos termos anteriores ( Motta: 1997: 16) Influenciadores: pessoas da central de compras da organização que têm influência sobre a decisão de compras. Geralmente ajudam a definir especificações e fornecem informações para a avaliação de alternativas - Kotler (1999). Marketing: o conceito de marketing define uma cultura dist.in.ta.. uma distribuição fundamental de crenças e valores que coloca o cliente no centro do pensamento organizacional em termos estratégicos e organizacionais (Deshapandé e Webster, 1989:3). Mercado-alvo~ grupo homogêneo ou similar de consumidores que uma empresa deseja atrair (McCarthy e Perreault 1997). Organização: 1)organização é uma função do problema da ordem e da regularidade. O ser humano sempre observou a ordem do universo e adotou a organização como referência de sua existência (Smircich, 1983 :341) e 2) as organizações são em essência realidades socialmente construídas que estão muito mais nas cabeças e mentes- de seus membros do que em conjuntos concretos de regras e relacionamentos (Morgan, 1996: 135) Orientação para o mercado: geração da inteligência de mercado, para toda a empresa, relativa às necessidade atuais e futuras dos clientes, disseminação da inteligência de mercado através dos departamentos e resposta da empresa a esta inteligência (Kohli e Jaworski, 1990: 6). Papel de Marketing: desempenho esperado de uma atividade ou conjunto de atividades de marketing. Responsabilidade abrangente de marketing que vai além da atividade extrapolando também, em alguns casos, a própria função de marketing (Day e Montgomery 1999). Penetração de mercado: tentativa de aumentar as vendas dos produtos de uma empresa em seus mercados atuais, geralmente através de um composto de marketing mais agressivo (McCarthy e Perreault 1997). 94 Portfólio de Produtos: conjunto de produtos disponibilizados comercialmente pela organização (Kotler 1999). Posicionamento: ato de promover e desenvolver os produtos e as ofertas de uma empresa, de modo que o mercado-alvo os identifique em relação a seus concorrentes (Kotler 1999). Segmentação:- processo agregador que reúne pessoas (neste estudo, usuários corporativos de TI) com necessidades similares em um segmento de mercado (McCarthye Perreault 1997). Unidade de Negócio U.N. ou Unidade Estratégica de Negócio U.E.N.: uma unidade da empresa com missão e objetivos separados, que pode ser planejada independentemente dos outros negócios. A U.N. pode ser uma divisão da empresa, uma linha de produtos dentro da divisão, ou, algumas vezes, um único produto ou marca (Kotler 1999). Valor agregado ao Cliente: avaliação feita pelo consumidor sobre a capacidade total do produto satisfazer suas necessidade. Diferença entre o valor total e o custo total do consumidor de uma oferta de marketing "lucro" para o consumidor (Kotler, 1999). 95 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AKTOUF, Ornar. A administração entre a tradição e a renovação. São Paulo: Atlas, 1996. ARAUJO, Luis and EASTON Geoffrey. Networks and Socioeconomic Systems - A criticai Revew in Dawn /acabucci: Network in Marketing. London: Sage, 1996. ALLEE, Vema. Reconfiguring the Va/ue Network. Joumal ofBusiness Strategy, July 1 August 2000 BARTELS Robert. The identity Crisis in Marketing. 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A fim de dar continuidade a este projeto, dado que a parte teórica já vem sendo desenvolvida há um ano, algumas empresas do setor de tecnologia da informação TI - em especial, membros de um canal de distribuição - foram escolhidas considerando especialmente, o papel de agregador de valor adicional aos produtos representados. Também levou-se em conta a escolha de empresas que tenham certa similaridade em relação a um determinado fabricante representado. A {nome da empresa) foi escolhida para fazer parte deste trabalho por ser altamente representativa no setor onde atua e além disto, por ter referências importantes para a proposta do projeto. A entrevista sena realizada consigo pessoalmente e/ou pessoas que sejam pertinentes, e duraria em média 2 horas, além de um período de visita nas áreas mais relacionadas com relacionamento com o mercado. O processo de entrevista enfatizaria questões relacionadas às funções na empresa que contribuem no sentido de valorização da marca, do desenvolvimento das soluções, do relacionamento interno e com o mercado que, em resumo, são os principais papéis de marketing. Caso tenhamos sua concordância para este processo, enviaríamos, numa etapa anterior aos contatos diretos, informações gerais e 100 públicas sobre a empresa para que fossem validadas. Estas informações seriam recolhidas por mim nas publicações e documentos disponíveis, inclusive na mídia eletrônica. Este tipo de ação poderia dar maior produtividade à(s) entrevista(s). Gostaria de assegurar-lhe que todas as informações obtidas serão mantidas confidencialmente, sendo divulgadas apenas aquelas que a empresa julgar pertinentes e, neste sentido, me disponho a assinar qualquer termo de confidencialidade que se fizer necessário. Entrarei em contato nos próximos dias para disponibilizar mais informações e responder às eventuais dúvidas com o objetivo de facilitar o processo de autorização interna necessária. Atenciosamente José Francisco Nogueira Telefones e e-mail 8.2 o Resumo do projeto (anexo da carta - convite) estudo que estamos concluindo busca entender um paradoxo que já ultrapassa décadas. Importantes pesquisadores de marketing e de planejamento estratégico afirmam desde os anos 80, que a alta competitividade do mercado praticamente impulsionou a maioria das empresas para estratégias orientadas para o mercado. Por outro lado, comprovase também que poucas são as organizações que conseguem efetivamente implantar uma relação adequada com o consumidor. Considerando que esta é uma constatação feita em mercados desenYolvidos~ é de se supor que haja uma certa similaridade com um mercado em desenvolvimento como o do Brasil e que o nosso mercado tenha alguma resposta para o fenômeno. A análise sob a ótica nacional fica mais atraente se considerarmos que os canais de integração e distribuição brasileiros atuam em mercados altamente complexos e onde a concorrência pode não ser apenas das empresas similares mas eventualmente, do próprio fabricante. Buscamos entender como um membro de canal se posiciona diante do seu mercado, considerando a sofisticação de relacionamentos do ambiente onde ele.- st!.- insere_ O foco da 101 análise portanto está na organização ou conjunto de atividades que o membro do canal construiu ou que espera construir para este relacionamento. O tema do projeto Papéis de Marketing em um Sistema de Canal de Distribuição: estudos de casos sobre diferentes composições organizacionais" está direcionado para testar se a orientação para o mercado pode ser implantada por um componente do canal de distribuição sem uma estrutura própria de marketing 8.3 Roteiro de entrevistas Percepção dos entrevistados ROTEIRO POR ASSUNTO, ATIVIDADE OU PAPEL DE MARKETING ESTRATEGIA PARA o CLIENTE TODAS AS AREAS ENVOLVIDAS LIDERANÇA CENTRALIZADA ORIENTAÇ~O VENDAS CONHECfMENTO DO PROCESSO DE NEGOCIO DO USUARIO FINAL DA SOLUÇÃO & TECNOLOGIA OFERECIDA DAS TÉCNICAS DE VENDAS DA CONCORR~NCIA • • • COBERTURA DE MERCADO FREQÜENCIA DE VISITAS VARIA POR TIPO DE CLIENTE (POTENCIAL DE NEGÓCIO) NIVEl DO CONTATO VARIA POR TIPO DE CLIENTE (POTENCIAL DE NEGócIO) TAMANHO DE TERRI1QRIO VARIA POR TIPO DE CLIENTE (POTENCIAL DE NEGÓCIO) REPOSTA DO CLIENTE ATENDIMENTO REGISTRADO ATENDIMENTO ACOMPANHADO PESQUISA DE SATISFAÇAO INTELlGENCIA DE MERCADO ATNlDADE INFORMAL ATIV1DADE FORMAL CANALIZA TODOS OS CONTATOS COM CLIENTE RELACIONAMENTO INTERFUNCIONAL tNFORMAÇOES DOS CliENTES $AO CONHECIDAS POR TODAS AS AREAS tNFORMACOES SOBRE CLIENTES SÃO CANALIZADAS DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO SUGESTÃO (DO CANAl PARA o FABRICANTE) DE DESENVOLVIMENTO PADRONIZAÇÃO DA SOLUÇÃO PELA MARCA DO FABRICANTE AUTONOMIA ( DO CANAL) PARA FORMAR SOLUCAO-COM MARCAS VARIADAS RELACOES COM O MERCADO GERAL EVENTOS INDEPENDENTES DA MARCA FABRICANTE EVENTOS 00 FABRICANTE ENVOLVENDO CANAL RELACOES COM TERCEIROS (ALIADOS, FORNECEDORES, ASSOCIACOES, ETC) PROPAGANDA & PROMOCAO PROPAGANDA INDEPENDENTE DA MARCA DO FABRICANTE PROPAGANDA DA MARCA DO FABRICANTE INCLUINDO MARCA DO CANAL DESENVOLVIMENTO DO PROPRIO FERRAMENTAL DE VENDAS