ANÁLISE DE ADESÃO E INVASÃO DE ESCHERICHIA COLI PATOGÊNICA EM CÉLULAS DE LINHAGEM Marcelly Chue Gonçalves (Bolsista PIBIC/CNPq), Paula Signolfi Cyoia, Renata Katsuko Takayama Kobayashi, e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Microbiologia/CCB Área e sub-área do conhecimento: Microbiologia/Microbiologia Aplicada Palavras-chave: Escherichia coli; invasão; ExPEC. Resumo Escherichia coli são enterobactérias que fazem parte da microbiota de animais homeotérmicos, incluindo determinadas porções do organismo humano. Eventualmente, essas bactérias podem apresentar fatores de virulência, que quando expressados são prejudiciais ao hospedeiro, como os patótipos diarreiogênico (DEC) e extraintestinal patogênico (ExPEC). Neste projeto, adesão e invasão em células eucarióticas foram identificados em amostras de bactérias das categorias DEC e ExPEC. Células das linhagens HeLa (câncer cervical) e HEp2 (câncer de laringe) foram usadas. Alta porcentagem de aderência foi apresentada por ambos os patótipos nos dois tipos celulares. Teste de invasão foi realizado apenas com ExPEC, no qual a porcentagem de invasão foi mais alta em células HEp-2. A caracterização dos mecanismos de patogenicidade e fatores de virulência de amostras bacterianas é essencial para estabelecer melhor distinção de modelos de infecção entre diferentes patótipos e direcionar a atuação de antimicrobianos e vacinas que futuramente poderão ser criados. Introdução e objetivo Escherichia coli patogênica pode ser dividida em E. coli diarreiogênica (DEC) e E. coli extraintestinal patogênica (ExPEC). São denominadas ExPEC cepas isoladas de infecções fora do trato intestinal (KÖHLER, 2011), como infecções do trato urinário (uropatogências – utilizadas neste trabalho), septicemia ou meningite em recém-nascidos. Cepas de E. coli diarreiogênica (DEC) também são classificadas em grupos que diferem no mecanismo de patogenicidade e fatores de virulência usados na infecção (NATARO & KAPER, 1 1998). Nessa categoria os grupos apresentam o mesmo sintoma de infecção no hospedeiro: diarreia. O objetivo do projeto é identificar a capacidade de aderência e/ou invasiva de amostras dos patótipos DEC e ExPEC em células animas HeLa e HeP-2. Sabe-se que os mecanismos de patogenicidade nos estágios de infecção de cepas diarreiogênicas são bem elucidados no campo científico. No entanto, para cepas extraintestinais esses ainda não são esclarecidos (KAPER & NATARO, 2004). Adesão e Invasão são pontos cruciais da infecção celular e o estabelecimento de doenças. Identificação da capacidade aderente ou invasiva de patógenos é substancial para possíveis esclarecimentos quanto ao modelo de infecção atribuída aos patógenos em questão. Essa pesquisa direciona a caracterização de fatores de virulência, e elaboração de modelos de infecção celular para patótipos em que esses mecanismos ainda são obscuros, e abrindo caminhos para novos alvos para vacinas, que atuem no processo de adesão ou invasão da bactéria na célula hospedeira. Procedimentos metodológicos As células HEp-2 e HeLa são cultivadas em garrafas de cultivo, contendo DMEM acrescido de soro fetal bovino (SFB;10%) e antibiótico/antimicótico (Penicilina na concentração de 10000 U, Estreptomicina na concentração de 10000ug/mL, e Anfotericina B na concentração de 25ug/mL). A monocamada celular é removida com auxílio de tripsina (1%), e as células são distribuídas em placa de cultivo de 24 poços para o teste de invasão; já para o teste de adesão, são adicionadas lamínulas nos poços antes da adição das células. A placa é incubada até atingir confluência apropriada para cada teste. O teste de aderência em células eucarióticas é realizado de acordo com o protocolo de Cravioto et al. (1979) adaptado. As células são lavadas com PBS (salina tamponada 0,01M) e meio DMEM suplementado com 2% SFB são 2 adicionados em cada orifício da placa de 24 poços. Em seguida, cultura bacteriana crescida por 18 horas sem agitação, é adicionada a cada orifício. Após incubação a 35ºC durante 180 min (correspondente ao período de infecção) em ambiente com 5% de CO2, as monocamadas celulares são lavadas com PBS para eliminar as bactérias não aderidas as células, seguida de nova incubação para multiplicação das bactérias aderentes. As células são fixadas às lamínulas com a utilização de metanol, em seguida são coradas com corantes May Grunwald e Giemsa, para observação em microscópio óptico comum, utilizando objetiva de imersão. O teste de invasão em células de linhagem, adaptado de Sansonetti et. al. (1986) é realizado como o teste de aderência, a diferença se encontra após a incubação da bactéria. Para invasão, após crescimento bacteriano, lavagem com PBS seguida de adição de Gentamicina (50ug/mL) e nova incubação. Após incubada, a placa é lavada com PBS, e Triton 1% é adicionado em para lise celular e liberação das bactérias invasoras. Diluição seriada e plaqueamento de cada poço são realizados em placas de ágar Mac Conkey, e após 24 horas de incubação em estufa de 37ºC a contagem de colônias é realizada. Resultados e discussão Aproximadamente 50 cepas de cada patótipo (DEC e ExPEC) foram testadas para adesão. Para DEC, 72% das cepas apresentaram adesão agregativa. Já ExPEC, 81% apresentaram adesão. Não houve diferenças de adesão de DEC e ExPEC entre HeLa e HEp-2. 27 cepas ExPEC (aderentes) foram utilizadas para invasão, todas não resistentes à gentamicina. 25% das cepas foram invasoras em teste com HeLa, enquanto 46% das cepas foram invasoras em teste com HEp-2. Testes de invasão por DEC não foram realizados, pela ausência de gene de invasão (ipaH) nas cepas diarreiogênicas. 3 Para entender as bases biológicas de invasão por ExPEC, muitos fatores ainda devem ser esclarecidos pela comunidade científica. Já a categoria DEC, que é bem elucidada, foi utilizada neste estudo como base de comparações. Para cepas do grupo DEC, existem genes de virulência bem definidos para cada estágio de infecção, um exemplo é o gene ipaH, um gene que auxilia a invasão às células do hospedeiro. Já para ExPEC, os testes de invasão abriram uma questão interessante quanto a diferença de invasão entre as células desse estudo. Conclusão ExPEC e DEC apresentaram alta porcentagem de aderência, como era o esperado pois a aderência é um dos primeiros estágios de infecção; HEp-2 é mais suscetível à invasão por ExPEC quando comparada à HeLa, o que permanece uma questão aberta para futuros estudos. Referências CRAVIOTO, A., R. J. GROSS, S. M. SCOTLAND, and B. ROWE. An adhesive factor found in strains of Escherichia coli belonging to the traditional infantile enteropathogenic serotypes. 1979. Curr. Microbiol. 3:95–99. KAPER, J.B., NATARO, J.P., MOBLEY, H.L. Pathogenic Escherichia coli. 2004. Nat. Rev. Microbiol. 2, 123-140. KÖHLER, C.D., DOBRINDT, U. What defines extraintestinal Escherichia coli? 2011. Int. J. Med. Microbiol. 301(8):642-7. Doi: 10.1016/j.ijmm.2011.09.006. Review. NATARO, J.P. & KAPER, J.B. Diarrheagenic Escherichia coli. 1998. Clin. Microbiol. Rev. 11, 142-201. SANSONETTI, P.J.; RYTER, A.; CLERC, P.; MAURELLI, A.T. & MOUNIER, J. – 1986. Multiplication of Shigella flexneri within HeLa cells: lysis of the phagocytic vacuole and plasmid-mediated contact hemolysis. Infect. Immun. 51: 461-469. 4