NO PRATO

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ZERO HORA 9
SÁBADO E DOMINGO,
27 E 28 DE AGOSTO DE 2016
EM FAMÍLIA
NO PRATO
ENTREVISTA Helena Maria Corrêa de Sousa Vieira
Presidente da Associação Catarinense de Pediatria
Evitar que a criança ande de pés descalços e fique
exposta ao sol forte são cuidados importantes.
O problema é quando passam do limite.
A preocupação excessiva com a higiene dos pequenos
está diretamente relacionada ao desenvolvimento
de alergias. Em entrevista, a pediatra Helena Maria
Corrêa de Sousa Vieira, especialista em alergias e
imunologia pediátrica e presidente da Associação
Catarinense de Pediatria, esclarece questões
importantes sobre o tema. Confira.
Quais têm sido as principais causas de
alergias nas crianças?
A maior consideração é de aspecto
alimentar.As crianças apresentam
problemas logo que nascem e existe uma
série de fatores para que elas sejam cada
vez mais alérgicas.Um ponto é a falta de
aleitamento materno nos primeiros seis
meses de vida,pois ele é fundamental para a
saúde.Outra questão é a higiene em excesso,
que acaba tornando a criança alérgica a
coisas comuns.Se protegida demais,ela
será mais alérgica e acabará por ter uma
vida muito complicada nos primeiros
anos de escola,porque é preciso toda uma
alimentação diferenciada.
Como a higiene em excesso prejudica
o desenvolvimento?
A criança é privada de experiências
naturais que poderiam ajudar a desenvolver
anticorpos nela.São coisas como andar
de pés descalços,ter contato com a terra,
a grama,o chão.Tudo é protegido demais.
Até mesmo a questão dos alimentos.Tudo
que é saudável e ela não consumir pode
gerar intolerância,assim como o excesso
de alguma comida.Também entram nesse
ponto o contato com animais,se expor ao
sol,à água,ao mar.Já foram feitos vários
estudos que mostram que crianças que
vivem em fazendas,por exemplo,têm bem
mais resistência que indivíduos com higiene
excessiva.Esse contato com a vida natural
é saudável e protege à medida que ajuda no
desenvolvimento de anticorpos.
A ausência de vitamina D também
é consequência disso?
Em parte,sim.O hábito das crianças
que moram nas cidades de saírem cada
vez menos de casa e ficarem mais ligadas
a computadores e videogames tem levado
LEO MUNHOZ
“CRIANÇA PROTEGIDA DEMAIS
SERÁ ALÉRGICA”, DIZ PEDIATRA
Lenice Zarth Carvalho é nutricionista e torce
o nariz para alimentos industrializados,
gordurosos e cheios de conservantes
[email protected]
LENICE ZARTH CARVALHO
PARECE,
MAS NÃO É!
NÃO SE ILUDA COM AS EMBALAGENS
NEM COM AS POUCAS CALORIAS
HÁ UMA INFINIDADE
DE BISCOITOS,
CEREAIS, BOLINHOS
E SUCOS QUE
SÃO OFERECIDOS
COMO OPÇÕES
SAUDÁVEIS, MAS
NÃO SÃO
A
à necessidade de ingestão de vitamina D
via oral de forma absurda.As crianças estão
simplesmente ficando sem sol e sem o
componente que é extremamente importante
para a formação óssea.Essa proteção em
excesso também atrapalha nisso.É sempre
dentro de casa,dentro da escola,dentro
do carro.Não se sai mais à rua para jogar
bola,andar de bicicleta,ir à praia.Por outro
lado,tem a questão da exposição da pele ao
sol,que também exige cuidados quanto a
queimaduras e câncer de pele.
No caso dos alimentos,o que é
observado?
Várias substâncias presentes nos
alimentos provocam desajustes na parte
endócrina e alérgica.Uma vez que você tem
tudo natural,tem uma alimentação mais
segura.O papel na nutrição pediátrica é
fundamental para a longevidade humana,
principalmente na ingestão de alimentos
saudáveis nos primeiros mil dias de vida.
É consenso entre os pediatras a indicação
da amamentação,apenas com leite materno,
até os seis meses e,a partir desse momento,
a ingestão de alimentos sem agrotóxicos,
preferência por orgânicos.Uso de pouco sal
e cuidado com as gorduras são importantes
para o crescimento saudável.
A mudança de médicos para
acompanhar a infância é um problema?
Ter o acompanhamento do mesmo
médico ao longo de toda a infância é muito
importante. O profissional geralmente
já conhece a família, terá históricos e
mais facilidade para entender problemas
e até mesmo direcionar para algum
especialista, se necessário. Mas isso
é difícil hoje em dia. Infelizmente, há
menos pediatras no mercado e menos
profissionais mantendo consultórios.
tualmente,o termo mais citado quando falamos de
doenças é inflamação.Tentando explicar de maneira
simples,substâncias chamadas citocinas inflamatórias
alteram o funcionamento de células e tecidos no nosso organismo,
provocando alterações que levam a doenças.Isso ocorre na maioria
das doenças – diabetes,cardiopatias,problemas articulares,
depressão e outras doenças neurodegenerativas.
Essas substâncias inflamatórias são produzidas em maior escala
quando a alimentação é pobre e de baixa qualidade.Sim,é desta
forma que a alimentação ruim lhe deixa doente,não por consumir
um pouco mais ou um pouco menos de calorias.
Uma doença crônica como as citadas acima são resultado de
anos de desequilíbrio alimentar,não de um final de semana (mas
talvez de muitos finais de semanas descuidados).
Imagine que seu sangue deve transportar vitaminas,
minerais,compostos bioativos,gorduras de boa qualidade e
substâncias antioxidantes,mas está transportando gorduras
trans,gorduras saturadas em excesso,muito açúcar e sal,muitas
vezes,concentradas em pouco volume sanguíneo,resultado de
desidratação.O resultado disto,a médio ou longo prazo,será a
doença,dentre elas,o excesso de gordura corporal.Os efeitos
vão desde uma gestação com sobrecarga para o bebê,até as
patologias que anteriormente eram de idosos que hoje afetam
jovens mal alimentados.
Pois bem,infelizmente,não é fácil comer bem.Alimentos
saudáveis são caros e trabalhosos,mas o que mais me incomoda
são aqueles alimentos também caros com cara de“saudáveis”na
prateleira do supermercado e da lojinha“natural”.A infinidade
de biscoitos,cereais,bolinhos e sucos que são oferecidos como
opções saudáveis,mas não são.
Biscoitos de farinha refinada,dito rico em fibras,mas com teor
de gordura saturada elevado e com mais gordura do que fibra...
Mas ninguém vai escrever“biscoito gorduroso”na embalagem.
Granolas que contêm mais açúcar e cereais refinados do que aveia,
castanhas e outros componentes saudáveis,além de preparadas
com óleos ricos em ômega 6,que já consumimos em excesso.
Agora temos os chips de batatas assados,ricos em gordura
saturada.Bolinhos sem glúten e sem nutrientes,também
completamente refinados.Chocolates ricos em cacau,mas
cheios de gordura vegetal hidrogenada.Sucos de fruta nos quais
o teor de suco é menor do que a proporção de açúcar.Pratos
semiprontos com temperos artificiais,ricos em glutamato
monossódico e a embalagem plástica (pronta para aquecer) lhe
ofertam mais toxinas do que nutrientes.Bebidas sem calorias,
mas ricas em corantes,adoçantes,conservantes.
E por aí vai...Parece saudável,mas não é!
Em certa situação,uma paciente para a qual prescrevi lanches
com frutas,castanhas,alguns cereais específicos etc.,ao final da
minha orientação,me questionou se o lanche não poderia ser
mais“normal”.Ãh? Como assim? Ela me explicou: lanche normal
é pão,bolacha,bolo,biscoito,cappuccinos,sucos,barra de cereais,
sorvete dietético.Realmente entendi porque ela deveria estar
recebendo orientação nutricional.
Não se iluda com o valor calórico baixo,não se iluda com a
tarja das embalagens,são poucos alimentos industrializados
que consideramos saudáveis.As exceções são alguns chocolates
que boa qualidade feitos com manteiga de cacau,alguns
iogurtes com probióticos,alguns pães,alguns sucos.Ainda não
inventaram nada mais normal do que a comida preparada em
casa,com ingredientes naturais,frutas,lanches caseiros.Fique de
olho na qualidade para não ser iludido.
Não precisa ser natureba,mas exceção é exceção.
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