filosofia da arte - Carlos João Correia

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filosofia da arte
“A finalidade da filosofia (...) da arte é explorar os conceitos
que tornam possível criar arte e pensar sobre ela. Entre esses
conceitos contam-se o próprio conceito de arte, os conceitos
de representação, de expressão, de forma artística e de
estética. (...) Mas há também os conceitos complementares
para os quais o filósofo pode olhar, como os de interpretação,
falsificação, criatividade e valor artístico, entre outros. O
filósofo da arte pode concentrar-se em formas de arte
específicas – perguntando “Que é a literatura? (a dança, a
música, o cinema, o teatro, e assim sucessivamente)?” – ou
pode explorar os conceitos de certos géneros artísticos como
a ficção, a comédia, a tragédia, a poesia e outros que tais.”
Noël Carroll. Philosophy of Art. A contemporary introduction. London and New York: Routledge. 1999, 5; Filosofia
da Arte. Tradução de Rita Canas Mendes. Lisboa: Texto&Grafia. 2010, 18.
Cathedra. 1951. Stedelijk Museum
Barnett Newman [1905-1970]
Ornement 1. 1948. MoMA
“a estética é para mim como a ornitologia deve ser para os pássaros”
Barnett Newman
“como se os pássaros tivessem que tomar
notas dos ornitólogos sobre o que
significava ser efectivamente um pássaro”
Arthur C. Danto. The Abuse of Beauty. 2
“Mesmo que se consiga realizar uma análise
estética ou um sistema estético que explique a arte
ou a pintura ou o que quer que seja, tal não tem
realmente valor porque a estética é para mim como
o ornitólogo deve ser para os pássaros.”
Barnett Newman. “Interview with Emile de Antonio (1970)” in Selected Writings
and Interviews. Ed. John P. O’Neill. Berkeley/Los Angeles: University of
California Press. 1992, 304
“[Tal afirmação aconteceu] num painel dedicado a analisar o tema
“A Estética e o Artista” em Woodstock, Nova Iorque, em Agosto
de 1952 [...]. O que Newman realmente disse é que nunca
encontrou um ornitólogo que pensasse que o que estava a fazer
era “para os pássaros” [...]. Provavelmente Newman sentiu que o
tema do painel implicava efectivamente uma atitude paternalista
em que os artistas aprendiam dos estetas o que faziam realmente
- como se os pássaros tivessem que tomar notas dos ornitólogos
sobre o que significava ser efectivamente um pássaro [...]
Entretanto a atitude global entre os filósofos analíticos, com os
quais me identificava, era que a própria estética era para os
pássaros”.
Arthur C. Danto. The Abuse of Beauty: Aesthetics and the concept of Art (Chicago/Illin.:
Open Court. 2003, 2).
“Dada a dificuldade de dizer algo de positivo e verdadeiro acerca da
arte, pode ser tentador rejeitar em bloco a questão da arte. Para quê
darmo-nos ao trabalho de filosofar acerca das obras de arte? Barnett
Newman sugeriu que os artistas precisam tanto da teoria da arte como
as aves da ornitologia. Mas há uma verdadeira questão aqui que merece
ser examinada, precisamente por ser tão enigmática. E quanto mais os
artistas põem em causa a noção do que é a arte, mais enigmática parece
tornar-se. A questão torna-se mais evidente perante objectos ansiosos.
Contudo, assim que reconhecemos a questão pode tornar-se igualmente
intratável quando consideramos as principais tendências da arte. Vale
certamente a pena dedicar alguma energia à tentativa de responder à
questão, ou pelo menos mostrar que não pode ser respondida.”
Nigel Warburton. the Art Question (London/New York: Routledge. 2003, 4)
“Imaginemos que nos cruzamos com um casal de carne e osso, sentado a uma
mesa de madeira e que se olha mutuamente. Em condições normais poderíamos
não lhe prestar atenção ou desviar o olhar por uma questão de cortesia. Mas, se
classificarmos a situação como uma obra de arte – como a performance “Night
Crossing”, de Marina Abramović e Ulay -, a nossa reacção será completamente
diferente. Examinaremos a cena descaradamente, de forma atenta, procurando
interpretá-la, talvez em termos do que ela diz sobre a vida humana e as relações
amorosas. Procuraremos situá-la na história da arte, comparando-a com outras
obras de arte, de diversos géneros. Contemplaremos o que a cena exprime e que
sentimentos desperta em nós; podemos avaliá-la – louvando-a, talvez, por chamar
a nossa atenção para territórios da experiência esquecidos ou por nos comover ou
por transmitir a sua mensagem com uma surpreendente economia de meios.
Talvez a critiquemos por ser enfadonha ou vulgar. Em todo o caso, torna-se
evidente que, ao categorizamos a situação como uma obra de arte, a nossa
resposta a ela diferirá radicalmente do modo como vemos casais parecidos na
“vida real”.”
Noël Carroll. Philosophy of Art. 6; Filosofia da Arte. 19.
“Vejamos o caso das cirurgias. No dia-a-dia, não as vemos como alternativas a
uma ida à ópera. Mas quando elas fazem parte de uma performance, como no
trabalho Image/New Image(s) or the Reincarnation of Saint-Orlan, consideramos a
cirurgia plástica de Orlan como uma obra de arte e vemo-la sob uma perspectiva
diferente. Reparamos na interessante organização cromática dos uniformes dos
cirurgiões e perguntamos qual é o significado da decisão de Orlan de se submeter
à faca – que diz ela sobre a sociedade, sobre as mulheres, sobre a identidade
pessoal, sobre a história da arte e os ideais de beleza feminina que nela
encontramos? Isto é, a nossa reacção é completamente diferente da que teríamos
se se tratasse de uma comum operação à vesícula. (...) Aqui a interpretação
depende da classificarmos ou não o objecto em causa como obra de arte – se lhe
aplicamos correctamente o conceito de arte. Como vemos, clarificar o nosso
conceito de arte não é uma mera questão de enfadonha minudência académica.
Está no centro das nossas práticas artísticas. Está no centro das nossas práticas
artísticas, pois classificar candidatos como obras de arte leva-nos a mobilizar um
conjunto de reacções à arte que constituem a própria natureza da nossas
actividades como espectadores, ouvintes e leitores. Para jogar o jogo, precisamos
de dominar o conceito de arte. ”
Noël Carroll. Philosophy of Art. 6-7; Filosofia da Arte. 19-20.
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