CONVULSÃO e ESTADO DE MAL CONVULSIVO A conduta inicial na emergência, tanto para o enfermo que chega ao serviço ainda na vigência de episódio convulsivo isolado quanto para o que apresenta o estado de mal convulsivo, caracterizado por crises convulsivas contínuas ou recorrentes, por 30 minutos ou mais, sem recuperação da consciência, é basicamente a mesma. As causas precipitantes mais comuns para as duas situações são: infecções do SNC, distúrbio metabólico, hemorragia intracerebral, encefalopatia aguda, parada do uso de anticonvulsivante, intoxicações exógenas. A conduta varia de acordo com a faixa etária do paciente. Será apresentada a orientação para o quadro no recém nascido e em outras idades. RECÉM NASCIDO: SERVIÇO DE SAÚDE – ATENDIMENTO INICIAL Solicite ambulância com estrutura de UTI e transfira para unidade com alto poder resolutivo, idealmente com recursos de UTI; Adote as seguintes medidas enquanto aguarda remoção: Saturometria e O2 contínuo; verificar necessidade de assistência ventilatória (AMBÚ?); Via aérea permeável e aquecimento; posicionamento adequado para evitar aspiração para a via aérea e proteção contra trauma decorrente da atividade convulsiva; Dextrostix e, se não prejudicar a transferência que deve ser o mais rápida possível, colha exames para diagnóstico (hemograma, calcemia, glicemia, proteína C-reativa e outros); Glicose IV a 25 %; diluir glicose a 50% + SG 5% na proporção 1/1 e infundir 3 a 5 ml/kg; em seguida, mantenha venóclise com SG 5%; Gluconato de cálcio a 10%, diluido em água destilada (1:1); fazer 4ml/kg, IV, lentamente, com controle da freqüência cardíaca. Interrompa se surgir bradicardia; Sulfato de magnésio a 10%. Dilua em água destilada(1:4) e injete IV, 1 a 2ml/kg; Anticonvulsivantes: melhor fazer no serviço com UTI (risco de parada respiratória); caso o paciente apresente convulsões muito freqüentes, com parada respiratória, hipóxia e se a transferência não for de imediato, medique com: Fenobarbital - 1ml = 200mg, 15 a 20mg IM, na emergência. Diazepam - 0,3 a 0,5 mg/kg, com velocidade máxima de 2mg / minuto (0,2ml/min). A via retal pode ser uma alternativa. Não dilua o diazepam em SF ou SG a 5%. Avise médico assistente e converse com o colega da unidade receptora sobre as medidas adotadas no serviço. SERVIÇO DE SAÚDE COM UTI Cabe ao protocolo da unidade receptora definir a conduta. OUTRAS IDADES: SERVIÇO DE SAÚDE - ATENDIMENTO INICIAL Adote as medidas gerais cabíveis, seguindo o modelo citado para o neonato, com algumas adaptações; Tente controlar a atividade convulsiva como citado a seguir: Diazepam (2ml/10 mg) droga de escolha para o tratamento inicial da convulsão; é eficaz em cerca de 75-90% dos casos. Deve ser aplicada na veia, na dose de 0,3 mg/kg/dose (máximo de 10mg). Pode ser repetida com intervalo de 5 a 10 minutos, caso a crise não ceda. A dose máxima é de 20 mg. Na falta de acesso venoso, pode-se usar o diazepam por via retal, na dose de 0,5mg/kg/dose. A via intra-muscular não deve ser utilizada. Não diluir o diazepam. Durante a administração venosa pode ocorrer precipitação do medicamento. O diazepam é rapidamente redistribuído para outros tecidos, causando queda rápida dos níveis séricos e cerebral. Assim, é necessário, quando existe risco de recorrência, a utilização de outras drogas de ação mais prolongada, para impedir a recorrência das crises (hidantal). Se após a repetição do diazepam a crise não ceder, administre: Hidantal (50mg/ml): controla a atividade epiléptica em até 90% dos pacientes. Não age bem nos portadores de distúrbios tóxicos, metabólicos ou na anóxia. É droga de escolha, após a utilização do diazepam. Deve ser aplicada por via intravenosa, com dose de ataque de 20 mg/kg/dose (máximo de 1000 mg), atingindo níveis séricos adequados após 10-30 minutos da infusão. Para evitar arritmias cardíacas e hipotensão arterial, deve ser administrada na velocidade máxima de 1 mg/kg/min. A diluição da medicação, quando necessária, deve ser realizada com água destilada ou solução fisiológica a 0,9%, ambos na proporção 1/1. Ocorre precipitação quando utilizada a solução glicosada para diluir. Nunca usar por via muscular. O hidantal também é indicado nas convulsões relacionadas a situações que necessitam da manutenção de uma droga anticonvulsivante com menor potencial depressor do SNC, como nas meningites ou nos traumatismos crânio-encefálicos. Nestes casos, após 12 horas, deve ser iniciada a manutenção na dose de 7 mg/kg/dia, dividida em duas infusões diárias. Não deve ser feita a dose de ataque plena nos pacientes que já vinham recebendo esta medicação. Neste momento, se não houver controle das crises ou, apesar do controle, o paciente apresentar comprometimento do estado geral ou alteração no exame neurológico, deve ser providenciado sua remoção para hospital com suporte de UTI. Fenobarbital- É utilizado quando não houve controle das crises com diazepan e fenitoína. Em determinadas situações como no período neonatal, crises pós anoxia e na convulsão febril, tem se preferido a utilização inicial do fenobarbital, em relação a fenitoína. Na emergência, utilizar o fenobarbital sódico em veículo hidrossolúvel, na dose de ataque de 20 mg/kg/dose, por via endovenosa. Não ultrapassar a velocidade de 30 mg/minuto (máximo de 300 a 400mg/dose); nível sérico efetivo em 10 a 20 minutos após o termino da infusão. O fenobarbital com veículo oleoso deve ser administrado apenas por via intramuscular; atinge nível sérico efetivo após doses de ataque, em 2 a 4 horas e é ineficaz no controle do estado de mal epiléptico. A manutenção do fenobarbital deve ser iniciada após 24 horas da dose de ataque, na dose de 4 a 5 mg/kg/dia. Se o paciente já vinha fazendo uso de fenobarbital, deve ser adotada a mesma postura citada antes, para o hidantal. Estude a remoção do enfermo para unidade de maior porte quando não houver resposta com o segundo fármaco; Informe ao médico assistente e ao familiar sobre o que está ocorrendo. SERVIÇO DE SAÚDE COM UTI - INTERNAÇÃO O protocolo assistencial do serviço definirá a conduta. OUTRAS DROGAS PASSÍVEIS DE SEREM UTILIZADAS EM SERVIÇO DE MAIOR PORTE: Midazolam- Utilizado no controle das crises epilépticas que se mostram refratárias às medicações clássicas utilizadas por via parenteral. É utilizado por via intravenosa, na dose de ataque de 0,2 mg/kg, sendo a seguir mantida infusão inicial de 1 micrograma/kg/minuto, podendo ser aumentado 1 micrograma/kg/min, a cada 15 minutos, até o controle das crises ou atingir doses máximas de 18 micrograma/kg/min (em recém nascidos não ultrapassar doses de 10 microgramas/kg/min); Também pode ser utilizado por via intramuscular, como opção em pacientes sem acesso venoso. Dose máxima: 10 mg. Normalmente, não tem sido necessária a utilização de ventilação assistida relacionado a sua infusão, porém é imperiosa a necessidade de existir uma facilidade para realização da entubação oro-traqueal e assistência respiratória, ao se optar por este esquema terapêutico. Tiopental sódico - os pacientes que não apresentam resposta às drogas utilizadas devem ser transferidos para a UTI, submetidos a intubação e ventilação mecânica, para ser iniciada a infusão do tiopental sódico. É importante a lembrança de que algumas crises, que também podem se apresentar como estado de mal epiléptico, como as mioclonias e as ausências, não são passíveis de serem tratadas com fenitoína ou o fenobarbital. Nestes casos, além dos benzodiazepínicos, a droga preconizada é o ácido valpróico.