Iniciativas tentam mostrar os custos econômicos dos danos

Propaganda
Iniciativas tentam mostrar os custos econômicos dos danos ambientais e
climáticos
25/09/2013 - By: Fabiano Ávila - Source: Instituto Carbono Brasil
Três novos trabalhos buscam chamar atenção da sociedade e dos governos para os prejuízos
resultantes das perdas de ecossistemas, dos conflitos por terras e das mudanças climáticas
Já há algum tempo, ambientalistas e
pesquisadores perceberam que, para
conseguirem ser ouvidos e obterem
resultados para seus alertas, é preciso
apresentar suas informações na forma de
prejuízos econômicos. Assim, apontar
diretamente as consequências das perdas de
ecossistemas e das mudanças climáticas nos
cofres públicos ou nos investimentos
privados virou um norte que é cada vez mais
seguido.
Nesta semana, três novos trabalhos fazem
justamente isso, chamando a atenção por
tentar precificar os grandes problemas
ambientais e climáticos que estamos
vivendo.
O primeiro deles é o relatório “Estratégia
Global pada a Gestão Sustentável de
Terras”, lançado durante o encontro sobre
degradação de terras das Nações Unidas,
que está sendo realizado na Namíbia.
Produzido pela The Economics of Land
Degradation Initiative (ELD) (algo como
Iniciativa da Economia da Terra Degradada),
o estudo afirma que, atualmente, 168 países
sofrem com a degradação de suas terras,
gerando um prejuízo anual de US$ 40
bilhões.
“Se não conseguirmos mostrar nossas preocupações em um formato que seja entendido por ministros de
planejamento ou finanças, pouca coisa acontecerá. É por isso que estamos tentando falar a mesma
linguagem que essas pessoas, para que os países coloquem as ações necessárias dentro dos seus
orçamentos”, explicou Richard Thomas, principal autor do estudo.
No entanto, a ELD também tenta destacar os possíveis ganhos se uma gestão sustentável das terras for
colocada em prática.
De acordo com o relatório, se melhores tecnologias e métodos forem implementados ao redor do
mundo, seriam ampliadas as áreas para a produção de alimentos sem a necessidade de avanço sobre
regiões de natureza intocada. O valor dessas novas áreas agrícolas chegaria a US$ 1,4 trilhão.
Conflitos
Outro trabalho, realizado pela consultoria Munden Project a pedido da Rights and Resources Initiative
(Iniciativa de Direitos e Recursos) dos Estados Unidos, destaca os riscos para investidores caso não sejam
respeitados os direitos dos povos nativos sobre a propriedade de suas terras.
O “Global Capital, Local Concessions” (Capital Global, Concessões Locais) analisou 153 milhões de
hectares de terras em 12 países emergentes, incluindo Brasil, Argentina, Indonésia e Moçambique, e
concluiu que 3750 concessões comerciais estão sobre terras indígenas, cobrindo um total de 48,4 milhões
de hectares.
Essa sobreposição pode resultar em conflitos e disputas legais, o que, com certeza, representa um risco
para investidores internacionais, que deveriam ter esse tipo de preocupação em mente quando escolhem
onde aportar seus recursos. Apenas para o setor de agricultura, o valor da produção sob risco foi avaliado
em US$ 5 bilhões.
Sobre o Brasil, o relatório destaca a situação dos Guarani-Kaiowá, que exigem compensações por terem
perdido terras para o agronegócio.
É citado o estudo “Em terras alheias – a produção de soja e cana em áreas Guarani no Mato Grosso
do Sul”, divulgado pelo Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis (CMA) e pelo Repórter Brasil,
que fez o mapeamento da corresponsabilidade da cadeia produtiva da soja e da cana nos problemas
decorrentes da ocupação das terras Guarani-kaiowá no MS.
A tabela abaixo é um sumário da sobreposição do cultivo da soja em terras indígenas brasileiras.
“Comunidades que vivem de suas terras sofrem com diferentes desafios, como pobreza, fome e com a
crescente ameaça do `desenvolvimento` que busca expulsá-las de seus locais tradicionais de ocupação.
Muitos conflitos que vemos hoje seriam evitáveis se pelo menos as leis nacionais fossem postas em
prática”, destacou Andy White, coordenador do Rights and Resources Initiative.
Mudanças Climáticas
Os prejuízos econômicos decorrentes do aquecimento global ficam evidentes a cada novo evento
climático extremo, já que a imensa maioria da comunidade científica concorda que uma das
consequências da elevação da temperatura média do planeta é o aumento da frequência e da intensidade
desses fenômenos.
No entanto, ainda falta muito para se conhecer todos os impactos globais das mudanças climáticas. Para
tentar diminuir essa lacuna no nosso conhecimento, um grupo de sete países lançou nesta semana o
projeto New Climate Economy (Nova Economia Climática).
A intenção é apresentar na próxima Assembleia Geral da ONU, em setembro de 2014, uma avaliação
completa e revisada dos custos e benefícios de se cortar as emissões de gases do efeito estufa.
“Os impactos da mudança do clima estão crescendo assim como o aumento da temperatura está cada
vez mais claro, mas a maioria das análises econômicas não inclui adequadamente os riscos crescentes da
mudança do clima ou as oportunidades que podem existir com o fenômeno”, afirmou Felipe Calderón,
ex-presidente do México.
“Temos que identificar com urgência como podemos ter crescimento econômico e criar empregos ao
mesmo tempo em que reduzirmos emissões de gases-estufa.”
Calderón é o atual líder do Global Commission on the Economy and Climate (GCEC) (Comissão Global
sobre Economia e Clima), entidade que bancará os US$ 8,9 milhões necessários para a inciativa.
O documento pode ser considerado uma atualização do relatório Stern, que já em 2006 apontava o risco
de perda de 5% a 20% do PIB mundial anual com os impactos das mudanças climáticas.
O próprio Nicholas Stern, que é vice-presidente da GCEC, participará da elaboração do novo documento.
“Em um tempo no qual governos de todo o mundo estão sofrendo para incentivar o crescimento,
aumentar o acesso a energia e melhorar a segurança alimentar, é essencial que todos os custos e
benefícios das políticas climáticas sejam claramente entendiados. Não podemos pensar que é o caso de
se escolher entre crescimento econômico ou lidar com o aquecimento global, é preciso fazer os dois”,
declarou o economista.
Os sete países bancando a iniciativa são Colômbia, Coreia do Sul, Etiópia, Indonésia, Noruega, Reino
Unido e Suécia.
Crédito Foto: The Economics of Land Degradation Initiative (ELD)
Download