UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSINHO UFRN – PROCEEM MARIA DO CARMO BIANOS DE SOUZA PADJA DE OLIVEIRA CAMPOS PAULA ALGAS E SUAS DIVERSAS UTILIDADES PARA O MEIO AMBIENTE NATAL 2010 MARIA DO CARMO BIANOS DE SOUZA PADJA DE OLIVEIRA CAMPOS PAULA ALGAS E SUAS DIVERSAS UTILIDADES PARA O MEIO AMBIENTE NATAL 2010 1.0. Introdução 1.1. Ecologia Das Algas Com aproximadamente 70% de sua superfície coberta por água, a Terra é conhecida como o “planeta água”. Esta abundância de água possibilitou o hábitat aquático no qual a vida começou há 3,5 bilhões de anos, com a primeira aparição dos procariotos. Evidências fornecidas pelo DNA sugerem que o primeiro eucarioto apareceu entre 2,5 e 1 bilhão de anos atrás, correspondendo estão incluídos a no mínimo , um bilhão de anos após a primeira aparição dos procariotos. Atualmente, uma série diversa de descendentes destes eucariotos primitivos, protistas, habita os oceanos e as linhas da costa marinha, bem como os lagos, lagoas e riachos de águas doces. Dentre esses as algas, seres vivos aquáticos e fotossintetizantes, que apresentam função ecológica semelhantes à das plantas, isto é, são produtores primários que utilizam energia luminosa para produzir o seu próprio alimento. As algas são separadas de acordo com o tamanho em dois grandes grupos: as algas microscópicas (microalgas) e macroscópicas (macroalgas) e sua distribuição dependem da salinidade e temperatura da água, disponibilidade de luz solar, correntes dos oceanos e das condições químicas e físicas afins (RAVEN et al., 1996). As microalgas são seres unicelulares, algumas delas com características semelhantes as das bactérias, como é o caso das cianofíceas ou algas azuis, as quais têm núcleos celulares indiferenciados e sem membranas. A maioria delas tem flagelos móveis, os quais favorecem o deslocamento. Existem vários grupos taxonômicos de microalgas marinhas, no entanto, as principais são as diatomáceas e os dinoflagelados. Estes são os principais componentes do fitoplâncton marinho que são o início da cadeia alimentar para os organismos heterotróficos que vivem nos oceanos e nos corpos de água doce. No mar, a maioria dos pequenos peixes e alguns dos maiores, bem como a maioria das grandes baleias, alimenta-se do plâncton, e ainda os peixes maiores alimentam-se dos peixes menores, Desta maneira, o “grande celeiro do mar”, como o fitoplâncton é algumas vezes chamado, pode ser comparado aos campos terrestres, servindo como fonte de alimento para os organismos heterotróficos (RAVEN et al., 1996). As macroalgas marinhas ocorrem principalmente fixas às rochas, podendo, no entanto crescer na areia, cascos de tartarugas, recifes de coral, raízes de mangue, cascos de barcos, pilares de portos, mas sempre em ambientes com a presença de luz e nutrientes. São muito abundantes na zona entre-marés, onde formam densas faixas nos costões rochosos. Estas algas são representadas pelas algas verdes, pardas e vermelhas, podendo apresentar formas muito variadas foliáceas, arborescentes, filamentosas, ramificadas. As macroalgas marinhas usualmente possuem grandes quantidades de carboidratos e proteínas (RAMOS et al., 1998), assim, podem ser consideradas como uma fonte potencial de nutrientes. 1.2. Algas marinhas e respectivas utilidades Além da importância ecológica as algas marinhas apresentam grande participação em atividades industriais e econômica para o homem. São utilizadas como matéria-prima para a produção de espessante, na produção de medicamentos e meios de culturas (ágar) de fungos, bactérias e em cultura de tecidos; mais de setenta espécies de macroalgas marinhas são usadas como alimentos, principalmente pelos povos orientais. Devido ao seu variado leque de constituintes: minerais (ferro e cálcio), proteínas (com todos os aminoácidos essenciais), vitaminas e fibras, as algas são a melhor forma de corrigir as carências nutricionais da alimentação atual. Algas como: Saccharina japonica, Laminaria ochroleuca e Saccharina latíssima (Kombu) destaca-se pelo seu elevado conteúdo em minerais (magnésio, cálcio e iodo). O cálcio e o magnésio regulam, em conjunto, muitas funções, nomeadamente as do sistema nervoso e dos músculos. As algas do gênero Laminaria são usadas como fonte de iodo na indústria extratora do mesmo, mineral com um papel fundamental no funcionamento da tiróide. A Palmaria palmata, por exemplo, possui elevados valores de vitamina C, que facilita a absorção do ferro, e de pigmento vermelho precursor da vitamina A. Esta alga é ideal como reconstituinte em estados de anemia, astenia (debilidade) e processos pós-operatórios. Fortalece a visão (vitamina A) e é aconselhada para tratamento de problemas gástricos e intestinais e para a regeneração das mucosas respiratória, gástrica e vaginal. Tal como outras algas vermelhas, a Palmaria palmata tem efeito vermífugo e atua como antiséptico e antiparasitário, saneando a flora intestinal. A Himanthalia elongata é, depois da Palmaria palmata, a alga mais rica em potássio e, juntamente com as algas dos géneros Porphyra e Laminaria, a que tem uma proporção sódio/potássio considerada ideal para a saúde humana. A Himanthalia elongata é a alga mais rica em fósforo, seguida de perto pela Porphyra e pela Undaria pinnatifida. O fósforo potencia as funções cerebrais, ajudando a preservar a memória, a concentração e a agilidade mental (Saá, 2002). Da composição analítica das algas marinhas destaca-se: ü Presença de minerais com valores cerca de dez vezes superiores ao encontrado nos vegetais terrestres. ü Presença de proteínas que contêm todos os aminoácidos essenciais, constituindo um modelo de proteína de alto valor biológico, comparável em qualidade à do ovo. ü Presença de vitaminas em quantidades significativas. Em especial destaque a vitamina B12. ü Presença de fibras em quantidades superiores ao encontrado na Lactuca sativa e semelhante à da Brassica oleracea (alface e couve, respectivamente). Algas marinhas usadas diretamente na alimentação humana: a, Saccharina japonica; b, Saccharina latissima; c, Undaria pinnatifida; d, Himanthalia elongata; e, Gelidium corneum; f, Pterocladiella capillacea; g, Gracilaria gracilis; h, Fucus vesiculosus; i, Laminaria ochroleuca; j, Laminaria hyperborea; l, Ulva spp.; m, Chondrus crispus; n, Palmaria palmata; o, Porphyra umbilicalis. Pobres em gorduras, as algas marinhas possuem polissacarídeos que se comportam, na sua grande maioria, como fibras sem valor calóricoe e com outros potenciais de grande importância econômica. Os polissacarídeos de algas, carragenana, por exemplo, constituem o terceiro hidrocolóide mais importante na área alimentar, logo a seguir à gelatina (de origem animal) e ao amido. A produção mundial total de carragenófitas é de cerca de 170 mil toneladas de peso seco da qual se extraem aproximadamente 26 mil toneladas de carragenanas. O mercado das carragenanas tem apresentado, durante os últimos anos, um crescimento anual de 3 % (VELDE; RUITER, 2002; MCHUGH, 2003). A carragenana é um ficocolóide (Fico = alga + colóide = gel) composto que forma soluções coloidais: estado intermédio entre uma solução e uma suspensão. Os ficocolóides são moléculas de grande tamanho, constituídas por açúcares simples, que fazem parte das paredes celulares e espaços intercelulares de um grande número de algas, fundamentalmente castanhas e vermelhas. São polissacarídeos que devido às suas propriedades não podem ser digeridos nem assimilados pelo organismo. Os principais campos de aplicação do polissacarídeo carragenana são: ü Área alimentar (indústria dos produtos lácteos e cafeteria, alimentos de base aquosa, produtos à base de carne e comida para animais) (ver Tabela 1). ü Aplicações em áreas não alimentares (aplicações técnicas, aplicações médicas, aplicações farmacêuticas, aplicações na indústria ambientadores domésticos e na indústria de higiene pessoal). . de Tabela 1 - Aplicações das carragenanas na área alimentar (VELDE; RUITER, 2002). Os polissacarídeos de algas vêm sendo relatado nos últimos anos na literatura também como uma importante classe de biopolímeros naturais com reconhecidas aplicações farmacológicas. Dentre estas; os polissacarídeos sulfatados de principalmente algas devido vermelhas seu têm potencial sido extensivamente anticoagulante; estudados; antitrombótico e antiinflamatório (LABORATÓRIO DE ALGAS –UFRN,2009). Outros componentes das algas como o ácido algínico vem demonstrando efeitos preventivos contra a contaminação por metais pesados e substâncias radioativas (especialmente por estrôncio 90). O consumo quotidiano de kombu (diminui significativamente o impacto da poluição ambiental (SAÁ, 2002). 1.3. A Importância Das Algas No Ciclo Do Carbono As algas, que são abundantes neste planeta aquoso, são importantes no ciclo do carbono. Elas são capazes de transformar dióxido de carbono (CO2), chamado de gás estufa, que contribui para o aquecimento global, em carboidratos pela fotossíntese e em carbonato de cálcio pela calcificação. Grandes quantidades de carbono orgânico e carbonato de cálcio são incorporados pelas algas e são transportados para o fundo oceânico. Hoje o fitoplâncton marinho absorve cerca de metade de todo o CO2 que resulta das atividades humanas, tais como a queima de combustíveis fósseis. No ambiente marinho e de água doce, relativamente livres de sérios distúrbios antrópicos, as populações fitoplanctônicas são controladas geralmente por mudanças climáticas sazonais, limitação nutricional e predação. Entretanto quando o homem polui os sistemas aquáticos, certas algas podem ser liberadas destas limitações, e suas populações crescem em proporções indesejáveis, causando as florações. Nos oceanos, algumas dessas florações são conhecidas como “marés vermelhas”. As florações das algas correlacionam-se com grandes quantidades de compostos tóxicos na água. Estas toxinas podem causar doenças ao homem e mortandade massiva de peixes, aves ou mamíferos aquáticos. Nos últimos anos, a freqüência de floração tóxica marinhas tem aumentado globalmente, apesar de somente poucas dúzias de espécies fitoplanctônicas serem tóxicas. Alguns ecologistas relacionam este aumento com o declínio mundial da qualidade da água causado pelo aumento das populações humanas. Estima-se que, em 2050, a população mundial possa vir a aumentar para cerca de 12 mil milhões de pessoas. Destas, cerca de 60 por cento deverá viver a menos de 60 Km de distância do mar. As atividades agrícolas e industriais necessárias para sustentar esta população irão aumentar as já significativas pressões sobre as férteis áreas costeiras. Um dos impactos mais significativos para o ecossistema aquático não é apenas a poluição do petróleo dos acidentes e dos resíduos alijados na limpeza ilegal de depósitos. Apesar da escala e visibilidade de tais impactos, as quantidades totais de poluentes que se escoam para o mar a partir de derrames de petróleo são diminutas quando comparadas com as originadas por poluentes de outras proveniências. Estas incluem os esgotos domésticos, as descargas industriais, o escoamento de superfície urbano e industrial, os acidentes, os derrames, as explosões, as operações de descarga no mar, a exploração mineira, os nutrientes e pesticidas da agricultura, as fontes de calor desperdiçadas e as descargas radioativas. A introdução nos oceanos de substâncias químicas produzidas pelo homem engloba potencialmente um enorme número de substâncias diferentes. Pensa-se existirem cerca de 63.000 substâncias químicas diferentes a serem utilizadas em todo o mundo, com 3.000 de entre elas a serem responsáveis por 90 por cento da produção total. Todos os anos podem ser introduzidos no mercado qualquer coisa como 1.000 novas substâncias químicas sintéticas. De todas estas substâncias químicas, cerca de 4.500 enquadram-se na categoria mais perigosa. São conhecidas como poluentes orgânicos persistentes (POPs). Resistentes à decomposição, têm o potencial de se acumularem nos tecidos dos organismos vivos (toda a vida marinha), provocando perturbações hormonais que podem, por sua vez, provocar problemas reprodutivos, levando ao cancro, e afetar o sistema imunitário ou interferir com o normal desenvolvimento das crianças. A origem em terra é estimada como responsável por cerca de 44% dos poluentes que penetram no mar, sendo as fontes atmosféricas responsáveis por perto de 33%. Em contrapartida, o transporte marítimo é responsável por apenas cerca de 12%. 1.4. Floresta Amazônica e Algas um Ciclo Harmônico Afirmações de que a Amazônia é o pulmão do mundo circula pelos meios de comunicação e nas cartilhas escolares. O objetivo dessa informação era claramente chamar a atenção para o desmatamento acelerado que ocorria e continua acontecendo, não só na Amazônia, mas também em outras partes do Brasil e do mundo. No entanto essa afirmação gerou e gera polêmica até hoje pela absoluta falta de conhecimento daqueles que insistem em transmitir essas informações errôneas. O pulmão não é o responsável pela produção do oxigênio que necessitamos. Se fosse, não precisaríamos usar equipamentos especiais para ir ao espaço ou para a prática de mergulho aquático. No espaço não há oxigênio e na água ele não se encontra na forma disponível ao homem; então usamos cilindros carregados com oxigênio porque não temos outro modo de consegui-lo a não ser da atmosfera ou desses cilindros, em condições específicas como as explicadas. Na verdade, a função dos pulmões é intermediária entre a atmosfera terrestre, onde há abundância deste gás e o restante do nosso corpo, é nele que ocorre a transformação do sangue venoso em sangue arterial, rico em oxigênio. Ele também tem a função de regular a temperatura do nosso corpo e, por conseqüência, do oxigênio que, por meio dele, irá para o sangue arterial, alimentando todos os órgãos do corpo humano na temperatura adequada. Por que então estabeleceram esta relação entre o pulmão e as florestas, particularmente a Amazônia e por que, de repente, decidiram que não há mais essa relação? Na realidade, a comparação foi entendida de forma errada, ela é absolutamente verdadeira e representa aproximadamente o mesmo ciclo. Assim como os pulmões, a Amazônia não produz o oxigênio que respiramos, pelo menos não na quantidade que a atmosfera ostenta. A quase totalidade do oxigênio disponível na atmosfera tem origem nos oceanos a partir das algas marinhas, que cobrem uma área infinitamente maior do que a Amazônia, produzindo muito mais oxigênio do que consomem. Assim como os pulmões, a Amazônia tem a função de regulador de temperatura e purificação do ar, retirando o CO2 que utiliza na fotossíntese e liberando o oxigênio. Muito embora ela talvez não produza todo esse oxigênio que a vida terrestre necessita, a Amazônia e todas as outras florestas do planeta cumprem o papel de resfriamento e purificação do oxigênio que tanto necessitamos; portanto, o equilíbrio do ciclo é necessário para evitar o aumento da temperatura dos oceanos e conseqüentemente a diminuição de toda essa produção de oxigênio pela da população das algas. 2.0. Referências MCHUGH, D.J.A guide to the seaweed industry. FAO Fisheries Technical Paper 441: 52-72, 2003. RAMOS et al.; Protein content and amino acid composition in some Braszilian marine algae species. Phisyol.Mol. Biol. Plants, V. 4, p.165, 1998. RAVEN, P.H.; EVERT, R. F.; EICHHOM, S. E. Biology of plants. 5 ed. Rio de Janeiro:Guanabara Koogan. 738p, 1996. SAÁ, C. Falgas do atlântico, alimento e saúde. Propriedades, receitas e descrição. Algamar, redondela- pontevedra, 272 pp, 2002. VAN DE VELDE, F.; DE RUITER, G.A Carrageenan. In: E.J. VANDAMME; S.D. BAETS e A.STEINBÈUCHEL (Eds.) Biopolymers v. 6. Polysaccharides II, polysaccharides from eukaryotes. Wiley-VCH, Weinheim; Chichester: 245-274, 2002.