Mudanças climáticas: como São Paulo foi afetado

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CADERNOS DO IME – Série Estatística
Universidade de São Paulo - USP
São Paulo – SP - Brasil
Mudanças climáticas: como São Paulo foi afetado
Joyce Ribeiro da Nóbrega Leite
IME - USP
[email protected]
Resumo
Palavras-chave: clima; aquecimento global; São Paulo.
Cadernos do IME – Série Estatística
Leite
1. Introdução
Muito se fala, atualmente, sobre as possíveis consequências que as
transformações no clima podem ter no ambiente de nosso planeta, antecipando cenários
bastante negativos. Segundo Marengo (2007):
“O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (International
Panel on Climate Change IPCC) conclui no seu Terceiro Relatório de
Avaliação TAR (IPCC 2001 a) que a temperatura média do ar tem
aumentado em 0.6ºC  0.2ºC durante o Século XX. Os modelos
globais do IPCC têm mostrado que entre 1900 e 2100 a temperatura
global pode aquecer entre 1.4 e 5.8 ºC, o que representa um
aquecimento mais rápido do que aquele detectado no Século XX e que
aparentemente não tem precedentes durante ao menos os últimos
10.000 anos.” (MARENGO, 2007).
Levando em conta tais informações e o questionamento se em São Paulo o
aumento da temperatura tende a ser tão acentuado, o objetivo deste artigo é tratar das
mudanças climáticas ocorridas no estado de São Paulo do final do século XX até os dias
de hoje, para observar as consequências que essas acarretaram e projetar as possíveis
influências no futuro.
Porém, vale lembrar que, conforme afirma Monteiro (1991), a “criação de
cenários futuros concernentes às mudanças climáticas ainda é bastante especulativa,
sobretudo devido à dificuldade da compreensão completa e satisfatória do dinamismo
da atmosfera na sua condição de corpo movente” (p. ).
Partirei da hipótese de que a temperatura global vem aumentando devido às
ações humanas e que isso vem trazendo graves consequências tanto ao ecossistema,
quanto às atividades do homem.
Para poder comprovar tal hipótese, analisarei os dados da temperatura,
precipitação e umidade do ar da cidade de São Paulo, nos últimos anos, dentre outras
cidades paulistas. Estes dados estão disponíveis em forma de gráfico no site do INMET
<http://www.inmet.gov.br/>, acessado em .
Dessa maneira, estarei utilizando a Estatística descritiva, ao analisar e comparar
os dados obtidos e a inferencial, ao analisar uma amostra dos dados obtidos e tirar
conclusões sobre os verdadeiros valores. Os métodos estatísticos utilizados estão
descritos em Bussab e Moretin (2010) e em Magalhães e Lima (2011).
2. Fundamentação teórica
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2.1 Aquecimento global
Aquecimento global, como o próprio nome já diz, é o aumento da temperatura
terrestre. Este aumento acontece tanto por causas naturais como por interferência de
atividades humanas.
O chamado Efeito Estufa é um dos fatores que contribuem para a elevação da
temperatura terrestre. Ele é um mecanismo de “ aprisionamento do calor proveniente do
sol através do processo de radiação” (MENDONÇA, 2003), sendo este um efeito
natural. Porém, ele vem se intensificando nos últimos tempos, por conta da emissão de
determinados gases, e isso tem sido prejudicial ao planeta. Os gases do efeito estufa são:
CO2, CH4, N2O e CFC.
Queima de combustíveis fósseis, como em veículos automotores, queima de
biomassa, fontes industriais, uso de aerossóis e refrigeradores antigos são exemplos de
atividades que acabam por emitir alguns dos gases citados acima, com o consequente
aumento da temperatura.
A figura abaixo mostra as causas das Mudanças Climáticas.
Figura1 – Causas das Mudanças Climáticas
Fonte: Mendonça, 2003.
2.2 Chuvas
Os índices pluviométricos podem ser afetados de duas maneiras. Uma é a
intensificação das chuvas, causando problemas como enchentes e desabamentos. Outra
é a redução das chuvas causando secas, redução dos níveis de umidade do ar e
consequentes doenças respiratórias.
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Estes dois casos podem não ocorrer isoladamente, pois períodos de intensas
chuvas podem ser intercalados por longos períodos de falta de chuva.
2.2.1 Enchentes
Enchente nada mais é do que a inundação de determinado local. Ela acaba por
trazer graves consequencias a população que vive no local afetado ,
como
a
perda
material, mortes e transmissão de doenças.
Segundo o site do Ambiente Brasil:
“As enchentes aumentam a sua frequência e magnitude devido
à ocupação do solo com superfícies impermeáveis e rede de condutos
de escoamentos. O desenvolvimento urbano pode também produzir
obstruções ao escoamento como aterros e pontes, drenagens
inadequadas e obstruções ao escoamento junto a condutos e
assoreamentos”.
2.2.2 Umidade do ar e doenças respiratorias
A umidade do ar tem direta relação com os niveis de chuva. Quanto mais tempo
sem chover, menor a umidade do ar. E quanto menor a umidade do ar, maior a
incidência de doenças respiratórias, como rinite e asma.
Segundo o G1, “A baixa umidade do ar resseca as vias aéreas e compromete a
proteção natural do nariz (...) (deixando) o corpo mais vulnerável”. Além disso, a baixa
umidade do ar “dificulta a dispersão de poluentes”, deixando aqueles que já têm alergia
mais expostos a eles.
2.3 Parâmetros, estimadores e estimativa
Por definição, segundo Bussab e Morettin (2010) , “um parâmetro é uma medida
usada para descrever uma caracteristica da população.” Ainda segundo esses autores,
um estimador é aquele que, baseado na amostra, estima o valor real do parâmetro; e
estimativa é o valor obtido na amostra. Observe-se a figura a seguir:
Figura 2 – Exemplos de parâmetros e estimadores
Medida
Parâmetro
Estimador
Média

X = (X1+...Xn)/n
Variância
2
S2 = 1/(n-1) (xi - x)2
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Fonte: Bussab, Morettin (2010)
É considerado um bom estimador aquele que é não-viesado e consistente.
“Definição: O estimador T é não viesado para (o parâmetro)  se E(T)=, para
todo .
Proposição: Uma sequência {Tn} de estimadores de  é consistente se
a) lim n-> E(Tn) = 
b) lim n-> Var(Tn) = 0 ” (BUSSAB, MORETTIN, 2010)
2.4 Teorema Limite Central
O Teorema Limite Central (TLC) diz que, para uma amostra (X1, X2, ..., Xn), se
todos Xi, i = 0,...,n, forem independentes e para n grande (em geral maior que 20), a
distribuição da média amostral será aproximadamente normal. Ou seja, X  N(,2/n).
Isso vale para X com qualquer distribuição.
2.5 T-Student
Se tivermos X  N(,2/n) e, ao fazer um teste de hipóteses, nos depararmos
com 2 desconhecida, a média amostral seguirá uma distribuição T-student:
X  T(n-1) (,s2/n).
3 Metodologia
3.1 Teste de Hipóteses
O Teste de Hipóteses é feito para testar se os dados obtidos são compatíveis ou
não com uma determinada afirmação. Segundo Bussab e Morettin (2010), “O objetivo
do teste estatístico de hipóteses é fornecer uma metodologia que nos permita verificar se
os dados amostrais trazem evidencias que apoiem ou não uma hipótese (estatística)
formulada”.
Primeiramente, estabelecem-se duas hipóteses:
a) Hipótese nula (H0): Hipótese contrária à alternativa.
b) Hipótese alternativa (H1): Esta é a hipótese que queremos comprovar, ou seja, aquela
que supomos verdadeira.
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O segundo passo é decidir qual estimador será utilizado para testar as hipóteses
estabelecidas e obter distribuição, média e desvio padrão deste.
Temos dois tipos de erros no teste. São eles:
a) Erro tipo I: probabilidade de rejeitar H0, dado que H0 é verdadeiro.
b) Erro tipo II: probabilidade de aceitar H0, dado que H0 é falso.
Assim, o terceiro passo é fixar , ou seja, a probabilidade de erro tipo I.
Estabelecido , é possível realizar os cálculos e estabelecer uma região crítica
(RC), assim como uma regra de decisão.
Podemos escrever  como  = P(estimador E RC| H0 é verdadeiro). Assim, uma
regra de decisão seria: Rejeitar H0 se o valor do estimador observado pertencer à região
critica e aceitar caso contrário.
É importante ressaltar que, se aceitarmos a hipótese nula, isso não quer dizer que
ela é verdadeira. Isso só mostra que não há evidências para que possamos dizer o
contrário.
4 Dados e análise
4.1 Temperatura
4.1.1 Temperatura média do final do século XX
O gráfico abaixo mostra a temperatura média de São Paulo por mês em dois
intervalos de tempo: de 1931 a 1960 e de 1961 a 1990.
Figura 3: Gráfico de Temperatura Média X Mês
Fonte: http://www.inmet.gov.br/
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Observando a figura 3, percebe-se que os dois intervalos de tempo seguem o
mesmo padrão, porém, a temperatura média de 1961-1990 é ligeiramente maior.
Aproximando-se as temperaturas médias do gráfico, temos a seguinte tabela:
Figura 4: Tabela com os dados da figura 3
Média –
Mês
1931-1960
1960-1990
Janeiro
21,5
22
Fevereiro
21,5
22,5
Março
21
22
Abril
18,5
19,5
Maio
17
17,5
Junho
16
16,5
Julho
13
16
Agosto
16
17
Setembro
17
18
Outubro
18,5
19
Novembro
19
20
Dezembro
20
21
(1931-1960) 18,25
Variância – (1931-1960) 2,58052
(1960-1990) 19,25
(1960-1990) 2,2813
4.1.2 Estação 83781 São Paulo (Santana) – Gráficos de temperatura de janeiro de
alguns anos
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Figura 5: Temperatura de janeiro estação Santana
Fonte: http://www.inmet.gov.br/
4.1.3 Estação 83781 São Paulo (Santana) – Gráficos de temperatura de julho de
alguns anos
Figura 6: Temperatura de julho estação Santana
Fonte: http://www.inmet.gov.br/
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4.2 Precipitação
Figura 7: Evolução do total anual de chuvas na região metropolitana de São Paulo
Fonte: http://revistapesquisa.fapesp.br/2012/05/11/da-garoa-a-tempestade/
Através do gráfico e do ajuste linear feito, observa-se que o nível de chuva em
São Paulo vem aumentando ao longo dos anos. De aproximadamente 1100mm em 1930,
a quantidade de chuva passou a quase 1600mm em 2010. Porém, segundo a revista de
pesquisa Fapesp (2012), “ A pluviosidade não apenas se intensificou como alterou seu
padrão de ocorrência. Não está simplesmente chovendo um pouco mais a cada dia”,
cresceu o número de dias com chuva forte ou moderada e diminuiu aqueles com chuva
fraca.
São Paulo vive em dois extremos: dias de muita chuva intercalados por um
longo período sem ela. Também segundo a revista citada acima:
“Elas (modelagens feitas pelo Centro de Ciência do
Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(CCST-Inpe)) sinalizam que deverá ocorrer até o final deste
século um aumento no número de dias com chuvas superiores a
10, 20, 30 e 50 mm, ou seja, praticamente em todas as faixas
significativas de pluviosidade. Haverá apenas uma diminuição
na quantidade de dias com chuvas muito fracas e possivelmente
um aumento no número de dias secos.”
4.3 Umidade do ar
4.3.1 Final do século XX
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Figura 8 – Gráfico de umidade X mês
Fonte: http://www.inmet.gov.br/
Como não há dados no intervalo de tempo 1931-1960, vamos somente registrar
os dados obtidos.
80 - 79 - 80 - 80 - 79 - 78 - 77 - 74 - 77 - 79 - 78 – 80
Média – 78,41
Variância – 1,7816
Referências
BUSSAB, W. O.; MORETTIN, P.A. Estatística Básica. São Paulo: Editora Saraiva. 5ª. Edição, 2006.
Intergovernmental Panel on Climate Change IPCC:2001a: Climate Change 2001: The Scientific BasisContribution of Working Group 1 to the IPCC Third Assessment Report. Cambridge Univ. Press. 2001.
MAGALHÃES, M. N.; LIMA, A. C. P., Noções de Probabilidade e Estatística, 7ª edição, São Paulo:
Edusp, 2011.
MARENGO, J. A. Mudanças Climáticas Globais e Efeitos sobre a Biodiversidade: Caracterização do
clima no Século XX e Cenários Climáticos no Brasil e na América do Sul para o Século XXI derivados
dos Modelos Globais de Clima do IPCC, CPTEC/INPE, São Paulo, 2007.
Sites pesquisados:
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<http://ambientes.ambientebrasil.com.br/agua/artigos_aguas_urbanas/enchentes_e_inundacoes.html>
acessado em 14/10/2012.
<http://www.inmet.gov.br> acessado em 14/10/2012.
<http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2012/08/baixa-umidade-do-ar-causa-doencas-respiratorias-eresseca-pele.html> acessado em 14/10/2012.
<http://redeglobo.globo.com/globoecologia/noticia/2012/05/estudo-preve-consequencias-de-mudancasclimaticas-para-rj-e-sp.html> acessado em 14/10/2012.
<http://revistapesquisa.fapesp.br/2012/05/11/da-garoa-a-tempestade/> acessado em 14/10/2012.
<http://www.unit.br/mestrado/saudeambiente/leitura/Aquecimento%20global%20e%20saude%20.......pdf
> acessado em 14/10/2012.
COMENTÁRIOS:
Seu trabalho já está bem adiantado! Como fundamentação teórica e corpus (dados e informações), está
bom. Agora falta fazer a análise desses dados para comprovar sua hipótese e atingir seu objetivo, que é:
“tratar
das mudanças climáticas ocorridas no estado de São Paulo do final do
século XX até os dias de hoje, para observar as consequências que essas acarretaram e
projetar as possíveis influências no futuro.”
Na conclusão, não se esqueça de responder ao objetivo.
Dei uma simplificada nas referências, mas como você consultou muitos sites, acho melhor deixar assim.
Faça o resumo e a parte final em inglês.
Já pode me entregar a versão final direto!
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