Figura 27 – Praça da Vitória, Brescia, 1928-32, arqto. Marcello Piacentini. (TOGNON, 1999) 151 Figura 28 – Auditório, Biblioteca e Reitoria da Universidade de Roma, 1932-5, arqto. Marcello Piacentini. (TOGNON, 1999) Figura 29 – Palácio da Justiça de Messina, 1928, arqto. Marcello Piacentini. (TOGNON, 1999) 152 Figura 30 – “Onore dell‟architettura”, página 266 de “Architettura”, 1940, arqto. Marcello Piacentini. (TOGNON, 1999) 153 Figura 31 – Perspectiva da “Grande Roma”, em “Emporium”, 1925, arqto. Marcello Piacentini. (TOGNON, 1999) 154 Figuras 32 e 33 – Perspectiva da praça principal da Cidade Universitária de Roma, em “Capitolium”, 1933, e projeto da Via da Conciliação em Roma, em “Architettura”, 1936, ambos do Arqto. Marcello Piacentini. (TOGNON, 1999) 155 Figura 34 – Comparação entre Fóruns Romanos e uma Praça Imperial em Roma, em “Civiltá”, 1940, arqto. Marcello Piacentini. (TOGNON, 1999) 156 Figuras 35, 36 e 37 – Projetos para mercado em Como, 1933, reestruturação da área do Mausoléu de Augusto em Roma, 1936-40 e para o Palácio do Littorio em Roma, 1934, arqto. Vittorio B.Morpurgo.(TOGNON, 1999) 157 Figuras 38, 39 e 40 – Indústria Sociedade Mater em Roma, 1937, Edifício de apartamentos em Roma, 1937 e Maquete para o concurso do Palácio do Littorio em Roma, 1937, do arqto. Vittorio B. Morpurgo.(TOGNON, 1999) 158 Figuras 41 e 42 – Museu das barcas de Roma, 1940 e Banco Nacional da Albânia, em Tirana, 1940, ambos do arqto. Vittorio B.Morpurgo. (TOGNON, 1999) 159 3.3. A Arquitetura da Alemanha Nazista É impossível dar aos monumentos do Estado ou do Movimento uma expressão que se remonte a dois ou três séculos atrás sem que nos deparemos com magníficos edifícios públicos, ao contrário da expressão das criações burguesas na arquitetura privada, puramente capitalistas. O que dava as cidades da Antigüidade e do Medievo um aspecto característico, e por isso admirável, não era a grandeza dos edifícios particulares da burguesia, mas sim os da vida coletiva que se sobrepunham a eles. Os primores das técnicas aplicadas sobre estes edifícios colocavam os edifícios particulares da burguesia na sombra destes. Apesar dos aspectos característicos de nossas cidades tenham hoje como expoentes a presença dos grandes armazéns, lojas, hotéis, indústrias na forma de arranha-céus e etc, não se pode falar de arte, nem de cultura verdadeira. Porém, infelizmente, na idade da burguesia a expressão arquitetural da vida pública transformou-se na representação do mundo dos negócios do capitalismo privado. A grande tarefa histórico-cultural do Nacional-Socialismo consiste justamente em abandonar esta tendência. Nenhum povo sobrevive aos testemunhos de sua cultura (HITLER apud SPEER, 1941, p. 46) 51 Quando os nazistas assumiram o poder na Alemanha em 1933 e Adolf Hitler chegou à chancelaria, o Tardo-classicismo recebeu o papel de linguagem mais adequada à representação deste Estado onipresente, com sua expressão cívica monumental, regionalista e popular (volkisch). Foi a partir deste momento, com a predileção de Hitler pela arquitetura Tardo-classicista, que o país que gerou parte considerável dos pressupostos da arquitetura moderna, não só não coopta com este movimento como o aborta. 51 Adolf Hitler, no Congresso do Partido Nacional-Socialista de 1935, em Nuremberg. 160 Cabe salientar, que o próprio Adolf Hitler era um arquiteto frustrado e que, por conseguinte, via a construção do novo Estado alemão indissociável de seu aspecto material representativo, através da arquitetura, que em sua opinião era a mais nobre das artes, ou a síntese de todas, o motivo final. Portanto ficou evidente que a construção do conceito de Terceiro Reich não passava apenas pelas questões políticas, econômicas e sociais, mas era também uma questão estética, ou seja, de nada adiantariam as modificações de cunho estrutural se as imagens não fossem compatíveis com este novo estado das coisas. A arquitetura de referencial clássico era a face dessa nova Alemanha, que trazia de volta ou, segundo os nazistas, “retomava os verdadeiros valores germânicos”, baseados em um pretenso passado imperial e germinal da raça ariana. Para a concretização de seus ideais arquitetônicos, Hitler escolheu o arquiteto Paul Ludwig Troost, como seu principal conselheiro arquitetônico52, e as cidades de Berlim, Munique, Nuremberg e Hamburgo, na Alemanha e Linz, na Áustria. Posteriormente, todas as cidades do III Reich passariam pelas mesmas intervenções. Ambos eram grandes admiradores de Schinkel53 e acreditavam existir na cultura teutônica, elementos que a ligavam com a cultura grega clássica. O primeiro projeto construído dentro destes pressupostos foi à Casa da Arte Alemã na Praça Real de Munique, de 1934-6, do arquiteto Ludwig Troost. O local foi escolhido pela sua importância para o Partido Nacional-Socialista, pois foi neste local que morreram membros do partido quando da tentativa de golpe de 1923. O edifício recriou um 52 Munique, por ter sido o local do surgimento do Partido Nacional-Socialista e onde ocorreu a tentativa malograda de deposição do governo da República de Weimar, em 1923. Nuremberg, por abrigar os projetos megalomaníacos de Adolf Hitler e seu arquiteto Albert Speer, para os eventos do partido. Hamburgo, por ser o principal porto à época e Linz, pela ligação com as origens de Hitler. 53 Karl Friedrich Schinkel (1781-1841) foi o principal arquiteto do Neoclássico e do Ecletismo com predominância neoclássica alemão, sendo suas principais obras a Schauspielhaus (1819-21) e o Altes Museum (1824-28), em Berlim. 161 templo grego de ordem dórica, porém, despojado de todos os adereços e das relações originais de proporcionalidade. Esta edificação passou a abrigar as exposições anuais da chamada “verdadeira arte alemã” em oposição à arte moderna, que passou a ser designada pelos nazistas como “arte degenerada”, e utilizada como ilustração das deformações físicas e mentais de alemães, atribuídas à miscigenação racial e em especial de origem judaica. Além deste edifício, foram também construídos em Munique os dois Templos da Fama, que eram os mausoléus dos mortos citados, em forma de pórticos abertos com as lápides, que eram visitados por Hitler e pelo alto escalão nazista todos os anos, na data comemorativa do evento, até mesmo no período de guerra. E por último, um edifício para a administração do partido na cidade. O projeto original da praça foi do arquiteto alemão Leo Von Klenze54, em 1833. O espaço da praça é formal e esteticamente constituído por paradigmas clássicos: formas quadriláteras que permitem fácil leitura, identificação repertorial e hierárquica; linguagem arquitetônica clássica e monocrômica, que estabelece unidade ao conjunto e escala monumental. Os edifícios construídos e a retificação do espaço público, executadas por Troost, foram projetados em uma escala que pretendia demarcar, através da monumentalidade, a importância que os fatos ali ocorridos tiveram para a criação da imagem de um Estado comprometido com a “verdadeira” essência do povo 54 Junto com Schinkel, foi um dos principais arquitetos neoclássicos alemão. 162 germânico (linguagem clássica) 55 e com a pretensa grandeza da nação alemã, portanto, com a onipresença deste Estado. O espaço da praça além de atender à necessidade de abrigar um número significativo de visitantes, possibilitava a hierarquia dos edifícios, bem como o afastamento propício para a visualização. Após a morte de Troost, assumiu a incumbência de dar prosseguimento às obras de construção do Terceiro Reich, o arquiteto Albert Speer56, na condição de Inspetor Geral das Edificações de Berlim, mas que também gerenciou os trabalhos de outros arquitetos em outras cidades, com o arquiteto Herman Giesler. Speer, sem dúvida, foi o mentor da escala monumental e do caráter dramatúrgico da maioria das obras construídas e dos projetos que não chegaram a sair do papel, para a consolidação da imagem almejada pelo Führer. Tamanha cumplicidade entre cliente e arquiteto, levou ao desenvolvimento de todas as propostas por Adolf Hitler e Albert Speer, em conjunto. Mesmo com os russos praticamente às portas de Berlim,em 1944, Hitler continuou os projetos e maquetes para Berlim e Linz, com a mesma dedicação, até por volta do final do mesmo ano. Em 1934, Speer construiu o Campo dos Congressos do Partido na cidade de Nuremberg, constituído pelo Palácio dos Congressos, um estádio, o Campo de Marte e o Zeppelinfeld, a grande arena e tribuna para os discursos do Führer e desfiles. Complexo monumental, cenários colossais, uma construção Volk, coletiva no sentido pleno da palavra. Aliás, o projeto contou com a colaboração da cineasta 55 Entendida como o repertório arquitetônico grego e romano, havendo no caso alemão uma predominância do grego. 56 Speer também ocupou o cargo de Ministro de Suprimentos e Armamentos a partir de 1942, até o fim da Segunda Guerra Mundial. 163 Leni Riefenstahl57, que sugeriu a localização de diversos componentes, levando em consideração as melhores posições para as tomadas cinematográficas. “A Catedral de Luz”, efeito dramatúrgico proporcionado pelo posicionamento de aproximadamente mil holofotes para o céu durante um evento noturno, foi de um impacto retumbante. O projeto do Campo possuía um eixo que estabelecia a noção de unidade entre os edifícios do conjunto e ditava o desenvolvimento dos eventos. Os edifícios possuíam volumetrias simples proporcionadas pela opção por formas geométricas monolíticas. Todo o conjunto foi pensado para atribuir aos eventos a solenidade e monumentalidade identificadas com a imagem da “grande nação alemã”, construída e “devolvida” a Alemanha pelas ações do Partido Nacional-Socialista, e personificadas na figura do Führer. No Zeppelinfeld, as tribunas para os oradores situavam-se em posição que concretizava com bastante eficiência o objetivo acima descrito, ou seja, a superioridade do líder a conduzir seu povo. Eram locais de dimensões adequadas para paradas militares, desfiles do partido e congressos. O eixo central não só ligava os edifícios, como servia de roteiro para a ordem dos eventos. O Pavilhão dos Congressos era circular por tratar-se de local de reuniões exclusivas do partido e de membros com graduação semelhante, favorecendo a visibilidade. A realização das Olimpíadas de 1936 em Berlim foi extremamente conveniente para o novo regime, para a ostentação de uma imagem da Alemanha recuperada das conseqüências advindas da derrota na Primeira Guerra Mundial e novamente 57 Helene Bertha Amalie Riefenstahl (1902-2009) foi a cineasta oficial dos documentários do partido e do governo nazista a partir de 1933. Suas principais obras foram: A Vitória da Fé (Sieg des Glaubens), de 1933, O Triunfo da Vontade (Triumph des Willens), de 1934, O Dia da Liberdade-Nossas Forças Armadas (Tag der Freiheit-Unsere Wehrmacht),de 1935 e Olímpia (Olympia), de 1938. 164 inserida no grupo das grandes nações mundiais. São frutos deste momento, o Estádio Olímpico e diversos edifícios anexos, em Berlim. O edifício que melhor representou a ideologia e a dimensão desejada para o Estado nazista foi o da nova Chancelaria, em Berlim, construído em 1938. O objeto arquitetônico é monolítico, de escala monumental e gramática clássica. O pórtico na entrada central já informava tratar-se de um dos principais edifícios desta nova Alemanha e que abrigava o gabinete do Führer. Internamente, longas galerias e salões para a espera da audiência, com pé-direito triplo, todo revestido com pedras oriundas das mais variadas regiões da Alemanha, que colocavam o embaixador ou o homem de Estado ali presente, diante das inúmeras insígnias e suásticas representativas da grande nação germânica, em uma posição de reverência. O efeito psicológico era imediato e inesquecível. Ao lado deste edifício ficava o bunker onde Hitler passou seus últimos dias antes da conquista soviética. O edifício da Chancelaria tinha uma forma geométrica pura, quadrilátera, monolítica, simétrica e com pequena variação cromática, dentro de um único matiz, favorecendo uma leitura e apreensão imediata, colaborando na agregação simbólica de estabilidade, segurança e confiabilidade. A linguagem clássica agregava os valores da tradição e perenidade ao edifício e, por conseguinte, aos seus ocupantes. A partir de 1937, Hitler e Speer iniciaram o mais grandioso projeto nazista, a reorganização da cidade de Berlim, visando a construção da grande capital do Terceiro Reich. Longas e amplas avenidas davam a orientação urbana essencial, inspiradas em Paris, na Roma imperial e em Washington. O ponto focal de todos os eixos seria o “Grande Salão”, o maior domo já construído pelo homem, um panteão à pátria germânica e seus heróis, com especial deferência aos feitos do Nazismo. Ficaria no lado oposto ao Portal de Brandenburgo, na avenida central do grande plano, e tão amplo que poderia abrigar em seu interior a Basílica de São Pedro. 165 Para Hitler, a arquitetura era um instrumento propagandístico que devia ser utilizado para inspirar seus seguidores e oprimir seus inimigos, conforme ele explicitou em inúmeras ocasiões: O grande programa de construções é um tonico contra o complexo de inferioridade do povo alemão. Quem deseja educar o povo deve dar-lhe razões visíveis para orgulhar-se, não com o mero propósito ostentatório, mas para dar segurança à nação. Uma nação de oitenta milhões de habitantes tem o direito de possuir semelhantes edifícios, e nossos inimigos e seguidores devem saber que estes edifícios reforçam nossa autoridade. (HITLER apud SUDJIC, 2007, p.37). Além dos projetos estatais e cívicos, que foram os mais significativos e importantes, projetos rurais e domésticos também faziam parte da construção imagética nazista. A cidade moderna era vista como um mal necessário à administração e aos negócios, estando no campo a verdadeira essência da alma nacional, das origens alemãs. Valorizou-se a arquitetura tradicional alemã, associada à certa vernacularidade: O imaginário deveria sugerir a conservação da terra natal e da comunidade local, em oposição aos distúrbios das metrópoles modernas proliferados pela veloz industrialização e pelas perigosas idéias estrangeiras. Este Heimatstil (estilo caseiro) deveria promover relações sociais saudáveis e abertas, e conformidade às doutrinas estatais prevalecentes (CURTIS, 2008, p.357). Um exemplo deste Regionalismo Nazista foi o Albergue da Juventude Nazista de Urfeld, de 1935, projeto do arquiteto Karl Vesser, na região da Bavária. Por fim, coroando o estilo Tardo- classicista alemão perante o mundo, salientamos o Pavilhão Alemão na Feira Internacional de Paris de 1937, projeto de Albert Speer. 166 Uma edificação verticalizada, tal qual um pórtico colossal, sobre uma escadaria e encimado pela grande águia alemã sustentando a suástica nazista. Mais ideológico impossível, só igualado em monumentalidade e simbologia pelo Pavilhão Soviético, situado exatamente à sua frente58. Ironia do destino, nações de regimes totalitários diametralmente opostos e que a história - ou melhor, os seus personagens centrais, Hitler e Stalin - se incumbiu de cruzar, colocadas neste momento numa confortável e segura distância, como que alheios a um futuro trágico próximo, que mudaria a história da humanidade. 58 Projeto do arquiteto oficial de Stalin, Boris Iofan. 167 Figura 43 – Mausoléu aos “Heróis do Nazismo”, Praça Real de Munique, 1934, arqto. Paul Ludwig Troost. (SPEER, 1941) 168 Figura 44 – Praça Real de Munique, plano geral com as edificações construídas para o Partido Nazista, 1934, arqto. Paul Ludwig Troost. (SPEER, 1941) Figura 45 – Vista geral da Praça Real de Munique com destaque para os dois mausoléus nazistas, 1934, arqto. Paul Ludwig Troost. (SPEER, 1941) 169 Figura 46 – Sede do Partido Nazista em Munique, na Praça Real, 1934, arqto. Paul Ludwig Troost. (SPEER, 1941) 170 Figura 47 – Colunata da Casa da Arte Alemã, 1934, Praça Real de Munique, arqto. Paul Ludwig Troost. (SPEER, 1941) 171 Figura 48 – Pórtico de entrada da Casa da Arte Alemã, Praça Real de Munique, 1934, arqto. Paul Ludwig Troost. (SPEER, 1941) 172 Figura 49 – Fachada posterior da Casa da arte Alemã, Praça Real de Munique, 1934, arqto. Paul Ludwig Troost. (SPEER, 1941) 173 Figura 50 – Pavilhão Alemão na Exposição Internacional de Paris, 1937, arqto. Albert Speer. (SPEER, 1941) 174 Figura 51 – Águia alemã com a suástica nazista na cobertura do Pavilhão Alemão na Feira Internacional de Paris, 1937, arqto. Albert Speer. (SPEER, 1941) 175 Figura 52 – Escultura “A beleza ariana”, Arno Breker, 1934, Campo dos Congressos do Partido Nazista em Nuremberg. (SPEER, 1941) 176 Figura 53 – Maquete do Campo de Congressos do Partido Nazista em Nuremberg, 1934, arqto. Albert Speer. (SPEER, 1941) Figura 54 – Vista geral do Zeppelinfeld, a esquerda, e do Campo de Marte, a direita, no Campo dos Congressos do Partido Nazista em Nuremberg, 1934, arqto. Albert Speer. (SPEER, 1941) 177 Figura 55 – Acesso as tribunas do Zeppelinfeld, Campo dos Congressos do Partido Nazista em Nuremberg, 1934, arqto. Albert Speer. (SPEER, 1941) 178