UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE FISIOTERAPIA RAFAELA ELIZE DE MORAIS FERNANDES TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO DE REFLUXO GASTROESOFÁGICO EM LACTENTES JOVENS ATRAVÉS DA TERAPIA MANUAL CASCAVEL- PR 2004 Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 1 RAFAELA ELIZE DE MORAIS FERNANDES TRATAMENTO FISIOTRAPÊUTICO DE REFLUXO GASTROESOFÁGICO EM LACTENTES JOVENS ATRAVÉS DA TERAPIA MANUAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Fisioterapia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná Campus Cascavel como requisito parcial para obtenção do título de Graduação em Fisioterapia. Orientador: Prof. José Mohamud Vilagra CASCAVEL-PR 2004 Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 2 TERMO DE APROVAÇÃO RAFAELA ELIZE DE MORAIS FERNANDES TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO DE REFLUXO GASTROESOFÁGICO EM LACTENTES JOVENS ATRAVÉS DA TERAPIA MANUAL Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para obtenção do título de Graduado em Fisioterapia, na Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Profª. Josiane Rodrigues da Silva Coordenadora do Curso BANCA EXAMINADORA ........................................................................................ Orientador: Prof. José Mohamud Vilagra Colegiado de Fisioterapia – UNIOESTE .......................................................................................... Profª. Carmem Lúcia Rondon Soares Colegiado de Fisioterapia - UNIOESTE .......................................................................................... Prof. Rodrigo Genske Colegiado de Fisioterapia - UNIOESTE Cascavel, 10 novembro de 2004. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 3 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus por dar-me forças para ter chegado até aqui, mesmo após as tantas dificuldades me fizeram tantas vezes pensar em desistir, porém, dificuldades que me fizeram crescer e aprender muito. Ao meu papito Carlos, à minha mami Mariângela, às minhas irmãs Ana Paula e Roberta e à Kamilla, mesmo ainda sem entender muito de sua importância. Estes, que tanto amo e sempre me deram amor, me apoiaram e me incentivaram, cada um com seu jeitinho para que eu completasse mais uma etapa, que é apenas o começo da minha vida. Às minhas grandes amigas Dani, Márcia e Figo, que desde a infância e mesmo distantes foram fiéis, me confortando e me acompanhando não apenas nos momentos difíceis como também nos momentos de alegrias e festas. Migas, eu amo vocês! Ao meu grupo de estágio, Gi, Ju e Gui por tantos momentos de cansaço e também de descontração, jantas, churrascos, cervejadas...e ajuda na realização deste trabalho. Ao meu Baby’s principalmente, que se não fosse sua imensa dedicação e incrível paciência nos momentos de mau humor e chatice, sempre me dando muito carinho, eu não conseguiria ter chegado até o fim desta etapa. Àquele que muito me incentivou nas horas difíceis e de desespero em frente ao computador, uma pessoa muito importante que soube me acalmar e me dar incentivo para prosseguir, sempre ouvindo com paciência. Em especial à professora Carmem Soares, uma pessoa muito especial, uma grande amiga que estava sempre disposta a ajudar e assim o fez não apenas nos problemas da faculdade como também nos momentos difíceis que passei. Por terme mostrado que ser fisioterapeuta não é apenas tratar o indivíduo como um paciente e sim como um ser humano que possui nome e sentimento e que deve ser tratado com carinho e respeito. Ao orientador José Vilagra que me acompanhou durante todo o ano, dedicando-se a este trabalho e me ajudando a superar os obstáculos. Ao professor André Pegas Oliveira, de fundamental importância, foi quem confiou seus conhecimentos a mim para a realização desta pesquisa, mostrando-se sempre disponível e interessado a ajudar em qualquer momento. À professora Helenara por ter acreditado na realização deste trabalho e tanto ter me incentivado e auxiliado desde o início. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 4 “Que os nossos esforços desafiem as impossibilidades. Lembrai-vos que as grandes proezas da história foram conquistas do que parecia impossível. ” Charlie Chaplin Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 5 RESUMO O refluxo gastroesofágico é o retorno do conteúdo gástrico ao esôfago. É muito comum sua ocorrência em lactentes até quatro meses de idade devido às características fisiológicas da junção esôfago-gástrica, tornando-se patológico se o refluxo persistir ou se agravar. Os sintomas desaparecem na grande maioria até os dois anos de idade. Técnicas fisioterapêuticas manuais para o tratamento do refluxo gastroesofágico são de pouco conhecimento e aceitação pelos profissionais e há grande da escassez de referencial teórico no assunto. Este estudo tem por objetivo principal comprovar a eficácia da terapia manual na redução do número de regurgitações, promovendo a função gastroesofágica. O estudo foi composto por uma amostra de 10 crianças de 0 a 4 meses, ambos os sexos, submetidos a cinco atendimentos semanais de aproximadamente 20 minutos. O protocolo consistia em terapia craniana para liberação do nervo vago, liberação da inervação simpática através do nervo esplâncnico (T4-T5-T6), liberação diafragmática e liberação fascial do estômago. Após a intervenção foram analisados os resultados referentes ao número de episódios de refluxo em cada semana após o atendimento, mostrando uma melhora de 77,94%. Concluiu-se que as técnicas fisioterapêuticas de terapia manual apresentam efeito positivo sobre a doença do refluxo gastroesofágico em lactentes em relação a outras técnicas de tratamento como cirúrgico e medicamentoso, melhorando assim a função digestória, diafragmática e qualidade de vida dos pacientes. Além disso, sabe-se que grande parte das crianças prematuras apresenta esta patologia. Palavras-chave: Refluxo Gastroesofágico; Manipulação visceral; Fisioterapia. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 6 ABSTRACT Gastroesophageal reflux is the return of the gastric content to the esophagus. This occurrence is common in suckles up to four months old due to the physiological characteristics of the esophagus-gastric junction, becoming pathological if reflux persists or if it becomes serious. The symptoms disappear in the great majority until two years old. Techniques for the treatment of gastroesophageal reflux are of little knowledge and acceptance for the professionals and have great scarcity of theoretical referential in the subject. This study has as main objective, prove the effectiveness of the manual therapy in the reduction of the number of refluxes, being promoted the gastroesophageal function. The study was composed for a sample of 10 children from 0 to 4 months, male and female, submitted to five weekly meetings for approximately 20 minutes. The protocol consisted in cranium therapy for release of the vagus nerve, release of the simpathetic nerve through the splanic nerve (T4T5-T6), diaphragm release and fatial release of the stomach. After the intervention the attendance was been analyzed the referring results to the number of episodes of reflux in each week after the treatment, showing a 77,94% of improvement. It was concluded that the techniques of manual therapy present positive effect on the illness of gastroesophageal reflux in suckles in relation to the other techniques of treatment as surgical and treatment with medicines, improving thus the digestory function and quality of life of the patients. Moreover, it is known that great part of the premature children present this pathology. Key -Words: Manual therapy; Gastroesophageal reflux, Phisiotherapy. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 7 SUMÁRIO RESUMO .......................................................................................................................................5 ABSTRACT .................................................................................................................................. 6 LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................... 9 LISTA DE GRÁFICOS ............................................................................................................. 10 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .............................................................................. 11 1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................... 12 1.1Justificativa ......................................................................................................................... 14 1.2 Objetivos do estudo ........................................................................................................ 15 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .......................................................................................... 16 2.1 Anatomia e Fisiologia do Sistema Gastrintestinal .................................................. 16 2.1.1 Motilidade do Tubo Digestório ......................................................................... 17 2.1.2 Músculo Liso Visceral ........................................................................................ 19 2.1.3 Esôfago ................................................................................................................ 21 2.1.4 Estômago ............................................................................................................ 26 2.1.5 Fisiologia dos Movimentos Viscerais............................................................... 35 2.2 Histologia ........................................................................................................................... 36 2.2.1 Esôfago................................................................................................................ 38 2.2.2 Estômago ............................................................................................................ 39 2.3 Sistema Nervoso Autônomo ......................................................................................... 40 2.3.1 Regulação da Atividade Motora do Sistema Digestório .............................. 44 2.3.2 Sistema Nervoso Entérico ................................................................................ 46 2.3.3 Sistema Nervoso Simpático ............................................................................. 48 2.3.4 Sistema Nervoso Parassimpático ................................................................... 52 2.4 Diafragma ............................................................................................................................ 57 2.4.1 Ação do Diafragma ............................................................................................ 57 2.4.2 Aberturas Diafragmáticas ................................................................................. 58 2.4.3 Movimento Diafragmático ................................................................................. 59 2.4.4 Inervação............................................................................................................. 61 2.5 Refluxo Gastroesofágico ............................................................................................... 62 2.5.1 Etiologia e Epidemiologia ................................................................................. 64 2.5.2 Classificação do RGE ....................................................................................... 65 2.5.3 Refluxo Fisiológico............................................................................................. 66 2.5.4 Barreira Anti-Refluxo ......................................................................................... 68 2.5.5 Fatores Funcionais da Barreira Anti-refluxo .................................................. 69 2.5.6 Fatores Anatômicos ........................................................................................... 73 2.5.7 Fisiopatologia da DRGE ................................................................................... 75 2.5.8 Manifestações Clínicas da DRGE ................................................................... 80 Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 8 2.5.9 Complicações ..................................................................................................... 82 2.5.10 Diagnóstico ....................................................................................................... 85 2.6 Tratamento ......................................................................................................................... 89 2.6.1 Tratamento Cirúrgico ......................................................................................... 89 2.6.2 Tratamento Clínico............................................................................................. 91 2.6.2.2 Tratamento Postural ....................................................................................... 93 2.6.2.3 Tratamento Medicamentoso ......................................................................... 93 2.6.3 Tratamento Fisioterapêutico ............................................................................ 95 3 METODOLOGIA .................................................................................................................. 102 3.1 Caracterização do Estudo............................................................................................ 102 3.2 Caracterização da Amostra .........................................................................................102 3.3 Instrumentos e Procedimentos ..................................................................................103 3.3.1 Avaliação dos pacientes .................................................................................103 3.3 Tratamento e Evolução .................................................................................................104 3.3.1 Terapia Craniana .............................................................................................104 3.3.2 Sistema Nervoso Simpático ...........................................................................106 3.3.3 Liberação diafragmática ..................................................................................107 3.3.4 Liberação Fascial Global do Estômago ........................................................108 4 RESULTADOS ....................................................................................................................109 5 DISCUSSÃO........................................................................................................................ 116 6 CONCLUSÃO ......................................................................................................................119 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 120 8 APÊNDICES .........................................................................................................................123 9 ANEXO ..................................................................................................................................134 Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 9 LISTA DE FIGURAS Figura 01: Anatomia da junção esôfago-gástrica ....................................................................22 Figura 02: Sistema Nervoso Autonômico .................................................................................40 Figura 03: Inervação dos Nervos Vagos ...................................................................................51 Figura 04: Refluxo Gastroesofágico ..........................................................................................58 Figura 05: Mecanismos anti-refluxo ...........................................................................................63 Figura 06: Medidas comportamentais.......................................................................................86 Figura 07: Inervação sensitiva e Neurovegetativa das vísceras.............................................91 Figura 08: Posicionamento dos dedos para abertura do forame jugular..............................98 Figura 09: Liberação do Nervo Vago ........................................................................................98 Figura 10: Liberação do Sistema Nervoso Simpático ............................................................99 Figura 11: Liberação Diafragmática.........................................................................................100 Figura 12: Liberação Fascial Global do Estômago................................................................101 Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 10 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 01: Idade ao Início do Atendimento ...........................................................................102 Gráfico 02: Idade Gestacional ao Nascimento ......................................................................103 Gráfico 03: Tipo de Parto .........................................................................................................103 Gráfico 04: Tipo de Alimentação.............................................................................................104 Gráfico 05: Uso de Medicamentos .........................................................................................104 Gráfico 06: Evolução do Tratamento ......................................................................................107 Gráfico 07: Episódios de Regurgitações ao Término dos Atendimentos..........................107 Gráfico 08: Evolução do Paciente A .......................................................................................122 Gráfico 09: Evolução do Paciente B .......................................................................................122 Gráfico 10: Evolução do Paciente C.......................................................................................123 Gráfico 11: Evolução do Paciente D.......................................................................................123 Gráfico 12: Evolução do Paciente E .......................................................................................123 Gráfico 13: Evolução do Paciente F .......................................................................................124 Gráfico 14: Evolução do Paciente G.......................................................................................124 Gráfico 15: Evolução do Paciente H.......................................................................................124 Gráfico 16: Evolução do Paciente I.........................................................................................125 Gráfico 17: Evolução do Paciente J........................................................................................125 Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 11 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BAR – Barreira anti-refluxo; DRGE – Doença do refluxo gastroesofágico; EIE – Esfíncter inferior do esôfago; ESE – Esfíncter superior do esôfago; LCR – Líquido céfalo-raquidiano; RGE – Refluxo gastroesofágico; RTEIE – Relaxamento transitório do esfíncter inferior do esôfago; ed- Edição; pH – Potencial hidrogeniônico; n.- Número; v.- Volume. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 12 1 INTRODUÇÃO O crescimento cada vez maior da fisioterapia na área da saúde favoreceu o reconhecimento de nossas técnicas para o tratamento global de todas as disfunções. Há até pouco tempo, as patologias viscerais eram restritas à área médica, tanto em seus diagnósticos quanto em seus tratamentos. De acordo com Ricard e Sallé (2002), as técnicas manuais viscerais não foram iniciadas por osteopatas, pois os mesmos só consideravam em seus tratamentos, as articulações. Como descrito por Chaitow (1982), a terapia manual visceral vem sendo considerada eficaz, utilizando manobras passivas articulares e alongamento miofascial para o tratamento de disfunções viscerais. A seguir, serão abordados o refluxo gastroesofágico (RGE) e seu tratamento através da terapia manual, sendo esses os principais objetos de pesquisa deste projeto. A doença do refluxo gastroesofágico consiste nas manifestações clínicas decorrentes do refluxo do conteúdo gástrico para o esôfago, podendo ser caracterizada por qualquer combinação de sintomas e alterações radiológicas, endoscópicas ou histopatológicas (Cohen e Parkman, 2001) Segundo Koda (1996), indivíduos normais podem apresentar ocasionalmente um RGE fisiológico, assintomático e sem conseqüências clínicas. Ocorre devido a um sistema de prevenção, a barreira anti-refluxo, representada principalmente pelo esfíncter inferior do esôfago que constitui uma barreira funcional por permanecer fechado, abrindo somente na deglutição. Uma barreira mecânica formada pelo pilar direito do diafragma, membrana freno-esofágica, pregas da mucosa do fundo gástrico ricas em fibras elásticas que favorecem o fechamento da cárdia e o ângulo de Hiss, Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 13 que é o ângulo de entrada do esôfago para o estômago, também participam dessa proteção fisiológica do organismo. O clareamento esofágico realizado pela saliva e pelo próprio peristaltismo, responsável por eliminar o ácido do esôfago, assim como a resistência epitelial, têm a capacidade de resistir à agressão ácida. Qualquer alteração na barreira anti-refluxo provoca o retorno do conteúdo gástrico para o esôfago. Recém-nascidos e lactentes jovens possuem alterações fisiológicas que favorecem o aparecimento do RGE patológico, dentre elas podem ser citados o esfíncter inferior do esôfago mais curto, uma diminuição da pressão entre o esôfago e estômago, e ângulo de Hiss mais aberto. Essas crianças apresentam principalmente vômitos recorrentes em geral após as refeições e em decúbito dorsal, desnutrição, disfagia, irritabilidade e problemas respiratórios. Crises de tosse e dificuldade respiratória aparecem especialmente durante o sono (KODA, 1996). Outras complicações decorrentes desta patologia, como esofagite, úlceras pépticas, esôfago de Barret, hemorragia e estenose estão presentes em grande parte dos pacientes. Podem ainda surgir complicações pulmonares conseqüentes da aspiração como apnéias, pneumonias, sinusites, laringites, asma, atelectasias, fibroses, dentre outras. Após a avaliação por achados clínicos, cintilografia, radiografia de contraste, endoscopia, medida de pH intra-esofágico, dentre outros, o RGE pode ser diagnosticado, e a partir daí, seleciona-se a melhor forma de tratamento, que pode ser clínico, conservador, cirúrgico, ou fisioterapêutico. O tratamento clínico visa melhorar o desempenho da barreira anti-refluxo através de medicamentos e dieta adequada; o conservador baseia-se na prevenção através de orientações quanto ao Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 14 posicionamento e amamentação adequados. O tratamento cirúrgico é indicado em casos mais persistentes, quando ocorrem patologias associadas (AMARAL, 1999). A fisioterapia atua através de orientações e manipulação visceral, que será de maior ênfase neste projeto. A proposta de tratamento consiste na liberação do sistema nervoso autônomo por meio de mobilização das correspondências vertebrais do estômago da quarta a sexta vértebra torácica (RICARD e SALLÉ, 2002), de onde partem as raízes nervosas até a víscera, e através da liberação dos nervos vagos direito e esquerdo, que de acordo com Castro (1985) são formados por fibras parassimpáticas que atravessam o forame jugular, formando o plexo esofágico na região do esôfago e ramos gástricos anteriores e posteriores, responsáveis pela inervação do estômago. Ricard e Sallé (2002), destacam a importância da liberação do diafragma em qualquer tratamento visceral, pois esse funciona como bomba hemodinâmica na circulação venolinfática, favorecendo a troca do sangue venoso pelo arterial durante a compressão que o diafragma exerce sobre as vísceras durante a sua descida na inspiração. E por fim, baseado em Barral e Mercier (1983), a liberação fascial do estômago favorece sua mobilidade e motilidade, melhorando o peristaltismo, o tônus da musculatura lisa esôfago-gástrica, ou seja, fazendo com que este retorne à total funcionalidade. 1.1Justificativa Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 15 A realização desta pesquisa justifica-se principalmente pela falta de conhecimento e dados desta forma tratamento da doença do refluxo gastroesofágico através terapia manual por grande parte dos profissionais da área da saúde, inclusive fisioterapeutas. A escassez de materiais bibliográficos e estudos experimentais que relacionem o RGE ao seu respectivo tratamento que será abordado neste estudo. 1.2 Objetivos do estudo O presente estudo tem como objetivo geral comprovar a eficácia da terapia manual na doença do refluxo gastroesofágico através da aplicação de um protocolo, observando a redução do número de episódios de regurgitações. Os objetivos específicos para que a realização desta pesquisa possa ser efetivada são: • Reduzir o número e intensidade das regurgitações dos pacientes; • Divulgar a técnica de tratamento proposta para todos os profissionais da área da saúde; • Reestabelecer a função digestória, principalmente da junção esôfagogástrica; • Melhorar a função diafragmática; • Melhorar a qualidade de vida destes pacientes. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 16 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Anatomia e Fisiologia do Sistema Gastrintestinal O sistema digestório segundo Castro (1985), consiste em um longo tubo oco irregular, de pouco mais de dez metros e que se estende da boca até o ânus, com várias glândulas adaptadas para lançar secreções à luz deste tubo. É adaptado à mastigação dos alimentos, secreção de substâncias que produzem alterações químicas nos alimentos, absorção de substâncias nutritivas e eliminação de resíduos. O canal alimentar é constituído pelos órgãos da cabeça, pescoço, tórax, abdome e pelve, constituído pela cavidade bucal, faringe, esôfago, estômago, intestino delgado e intestino grosso, terminando no reto que se abre ao meio externo através do ânus. O intestino delgado está subdividido em duodeno, jejuno e íleo e o intestino grosso, em ceco, apêndice, colo (partes ascendente, transversa, descendente e sigmóidea), reto e canal anal. As glândulas anexas como pâncreas, fígado e glândulas salivares, incluindo as glândulas parótidas, submandibulares, sublinguais, labiais, bucais e linguais, também pertencem ao sistema digestório. As secreções das glândulas salivares são lançadas à cavidade da boca formando a saliva e as secreções do fígado e pâncreas são Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 17 lançadas à primeira porção do intestino delgado (DANGELO e FATTINI, 1985; HAMILTON, 1982). Cada órgão do sistema digestório realiza função ou funções específicas. Na boca, o alimento é umedecido e mastigado; passa pela faringe, esôfago e estômago, onde é misturado ao suco gástrico e convertido em quimo. No intestino delgado é digerido por secreções pancreáticas, hepáticas e secreções próprias da parede intestinal. As paredes do intestino grosso absorvem a água, impulsionando produtos teciduais em direção ao ânus, onde são eliminados como fezes. O canal alimentar é caracterizado por mecanismos esfinctéricos a cada área juncional, sendo eles faringoesofágico, gastroesofágico, pilórico e ilocólico. Os esfíncteres estão sob controle hormonal e neural e têm a função de evitar o refluxo de conteúdos do lúmem de uma porção do canal para outra. Os produtos da digestão passam através do epitélio da mucosa gástrica e intestinal, atingindo os capilares sangüíneos e linfáticos. Capilares do canal gastrintestinal drenam até as veias que irão formar a veia porta, desdobrando-se em um grupo secundário de capilares no fígado, que por sua vez drenam em veias que formam as veias hepáticas (GARDNER, GRAY e O’RAHILLY, 1978). 2.1.1 Motilidade do Tubo Digestório Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 18 A motilidade do tubo digestório compreende um conjunto de fenômenos mecânicos realizados através dos movimentos de sua parede, fazendo com que as substâncias alimentares ingeridas se desloquem em sentido orocaudal e em harmonia com as secreções. Estes movimentos pela musculatura são organizados de acordo com as funções específicas de cada órgão incluindo a participação dos esfíncteres, movimentos de propulsão e retropulsão, exceto no esôfago, onde o trânsito é unicamente propulsivo (MENEGHELLI, OLIVEIRA, e FERNANDES, 1996). Para Guyton e Hall (2002), o movimento propulsivo básico do trato gastrintestinal é o peristaltismo, que aparece como um anel contrátil. Qualquer material à frente deste anel contrátil é movido adiante. A onda peristáltica, começando logo abaixo do esfíncter esofagiano superior empurra o alimento sólido adiante dela. A pressão varia de 30 a 120 mmHg. O processo de ascensão e queda da pressão pode durar de três a sete segundos em um ponto do esôfago. O pico da onda de contração desloca-se pelo esôfago em sentido distal. Estímulos nervosos eferentes ativam as ondas peristálticas do esôfago, determinados por centros superiores. As ondas de pressão do tubo gastrintestinal são classificadas de acordo com seu tamanho. Ondas do tipo I são ondas monofásicas de baixa amplitude, entre 3 e 10 mmHg e dura 5 a 20 segundos. No estômago, a contração que produz ondas tipo I é progressiva. As ondas do tipo II são simples e de amplitude maior (8 a 40 mmHg) durando 12 a 16 segundos; no estômago seu ritmo é semelhante às ondas tipo I. Ondas do tipo III são complexas, ocorrendo elevação da pressão basal durando desde alguns segundos até alguns minutos. Ocorrem Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 19 durante 10 a 30% de um período de tempo no antro de um homem normal após jejum noturno, perdurando cada uma por cerca de um minuto. As contrações gástricas tendem a desaparecer conforme ocorre esvaziamento. No estômago vazio as ondas tipo I fracas passam pelo antro cerca de 25% do tempo; ondas tipo II, 15% do tempo; nos 60% do tempo restante ele permanece imóvel. No estômago repleto, ocorrem ondas peristálticas, contrações sistólicas do antro terminal e diminuição do tamanho do fundo e do corpo gástrico (DAVENPORT, 1978). Em jejum, o antro gástrico apresenta movimentação de acordo com um ciclo conhecido como complexo motor migrante, com duração de setenta a cento e cinqüenta minutos. Na fase mais ativa deste ciclo, fase III, o antro gástrico apresenta-se em excitação máxima durante alguns minutos. Em seguida à fase II, ocorre uma rápida fase de desaceleração, fase IV, em um período de quiescência motora onde a musculatura está refratária a estímulos (fase I) até atingir novamente a fase III, de excitação máxima (MENEGHELLI, OLIVEIRA e FERNANDES, 1996). 2.1.2 Músculo Liso Visceral As células musculares lisas organizam-se anatomicamente em duas camadas distintas, a circular e a longitudinal, dispostas respectivamente interna e Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 20 externamente, ao longo do tubo gastrintestinal. Apresentam-se com variações nos diferentes órgãos, particularmente no intestino grosso. A contração das fibras circulares promove aumento de pressão ou da força que movimenta o conteúdo, enquanto que a camada longitudinal promove encurtamento da víscera (MENEGHELLI, OLIVEIRA e FERNANDES, 1996). Segundo Guyton e Hall (2002), os feixes musculares são separados por tecido conjuntivo frouxo, e em seu interior as fibras musculares lisas individuais do trato gastrintestinal estão eletricamente conectadas umas às outras por um grande número de junções abertas, permitindo o fácil movimento de íons de uma célula a outra, com baixa resistência. Sinais elétricos que iniciam as contrações musculares podem seguir rapidamente seu percurso de uma fibra a outra. Então, cada camada funciona como sincício, ou seja, quando um potencial de ação é desencadeado em qualquer parte do interior da massa muscular, este percorre todas as direções do músculo. A superfície extracelular da membrana plasmática está ligada, via microfibrilas, às fibras de colágeno da matriz extracelular. Estas ligações funcionam como microtendões intramusculares permitindo que a força da contração das células individuais seja transferida para o músculo como um todo. Células das paredes de órgãos como o esôfago e estômago se contraem intermitentemente ou fasicamente, em resposta ao aumento do volume do órgão. Os músculos lisos nos esfíncteres nas extremidades dos órgãos estão na maioria das vezes, tonicamente contraídos (KUTCHAI, 1996). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 21 2.1.3 Esôfago O esôfago é um longo tubo fibro-músculo-mucoso com vinte e cinco a trinta centímetros na posição ereta. Estende-se desde a extremidade inferior da cartilagem cricóide da laringe, desce verticalmente atravessando a região inferior do pescoço (parte cervical), todo o tórax (parte torácica) e perfura o diafragma (hiato esofágico) desembocando no óstio cárdico do estômago. Sua principal função é a condução do alimento líquido ou sólido até o estômago (CASTRO, 1985). Na região do pescoço, o esôfago é separado dos corpos vertebrais e discos intervertebrais pelo ligamento longitudinal anterior e pelos músculos prévertebrais até terceira vértebra torácica e pela aorta descendente, abaixo da sétima vértebra torácica. No tórax situa-se atrás da traquéia e a seguir atrás do átrio esquerdo, desviando-se para a esquerda atrás do brônquio principal esquerdo. No abdome ele é curto, com aproximadamente dois centímetros de comprimento, se alongando à medida que começa a encher (HAMILTON, 1982). Ao atravessar o diafragma, o esôfago junta-se ao estômago em sua curvatura menor. Essa junção é denominada gastroesofágica, cardioesofágica ou esôfago-gástrica que atua de maneira importante na barreira para o refluxo do Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 22 conteúdo do estômago para o esôfago. Na junção esofagogástrica a condução do alimento ao estômago é mais lenta. Acima da junção gastroesofágica, há um segmento esfinctérico de um a quatro centímetros localizado parcialmente no tórax, parcialmente no hiato diafragmático e parcialmente no abdome, prendendo-se ao diafragma pelo ligamento frenoesofágico. Posteriormente subdivide-se em uma porção tubular superior e uma porção mais expandida inferior ou vestíbulo. Entre estas duas porções, as fibras circulares de musculatura lisa, formam o esfíncter inferior do esôfago (EIE). O fechamento entre o esôfago e estômago inclui pregas mucosas que se unem quando o esfíncter se contrai (GARDNER, GRAY e O’RAHILLY, 1978). Figura 01: Anatomia da junção esôfago-gástrica. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 23 Fonte: LEMOS, 2004. Os mecanismos esfinctéricos são representados por zonas de pressão de repouso intraluminal maior do que no fundo do estômago. A pressão diminui antes da chegada do bolo alimentar, ocorrendo rápido relaxamento e subseqüente pós-contração do EIE em resposta à deglutição, sob controle neural. O tônus de repouso do esfíncter está sob controle hormonal. Na transição entre a faringe e o esôfago encontra-se o esfíncter superior do esôfago (ESE) formado por musculatura estriada. Após a deglutição, o EIE e o ESE abrem-se em concordância com os movimentos propulsivos de todo o esôfago após a digestão, que é o denominado peristaltismo primário. O peristaltismo secundário é aquele desencadeado pela presença de material na Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 24 luz do órgão, sendo o principal mecanismo pelo qual é devolvido ao estômago, o alimento refluído. Podem ainda, ocorrer alguns movimentos não peristálticos após a ingestão ou espontaneamente, denominadas contrações terciárias (GARDNER, GRAY e O’RAHILLY, 1978; MENEGHELLI, OLIVEIRA e FERNANDES, 1996). O esôfago não apresenta atividade motora basal até que o alimento deglutido chegue à sua luz. Quando isso ocorre, apresenta uma atividade propulsiva vigorosa que cessa logo após a passagem do conteúdo para o estômago. As forças que fazem o conteúdo do esôfago transitar ao longo do órgão são dos movimentos de contração peristáltica da musculatura esofágica em sentido crânio-caudal mesmo com o corpo em supino ou contra a gravidade e da força gravitacional presente quando ocorre deglutição na posição ortostática. O tempo médio de trânsito de alimentos semi-sólidos varia com a idade e comprimento do esôfago (MENEGHELLI, OLIVEIRA e FERNANDES, 1996). 2.1.3.1 Função Esofágica Depois de ser deglutido, o esôfago conduz o alimento da faringe até o estômago, impedindo através de suas extremidades inferiores e superiores que Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 25 funcionam como esfíncteres, que o ar entre na extremidade superior do esôfago e que o conteúdo gástrico corrosivo reflua. O esfíncter esofágico inferior é também denominado gastroesofágico e esfíncter superior, faringoesofágico. O esfíncter superior é formado por musculatura estriada, do músculo cricofaríngeo e fibras inferiores do constritor faríngeo inferior, segundo Kutchai (1996). Sua pressão é cerca de 40 mmHg em repouso. Já o esfíncter inferior, no indivíduo normal tem sempre pressão maior do que no estômago, abrindo-se quando há uma onda peristáltica esofágica. Sua pressão de repouso é 30 mmHg e sua ação é devido a contração tônica da musculatura circular controlada mediada por fibras vagais colinérgicas. O esfíncter inferior do esôfago, por possui pressão maior que a do estômago, representa junto com outros elementos anatômicos e funcionais uma barreira contra o refluxo gastroesofágico. São eles: pilar direito do diafragma que enlaça o esôfago (ativo com aumento da pressão abdominal), ângulo de Hiss (uma entrada do esôfago no estômago) e uma projeção intralumial da mucosa na junção (MENEGHELLI, OLIVEIRA e FERNANDES, 1996). 2.1.3.2 Vascularização e Inervação Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 26 O esôfago, de acordo com Gardner, Gray e O’Rahilly (1978), é irrigado pelas artérias tireóideas inferiores e bronquiais, por ramos direitos da aorta e artérias frênica e gástrica esquerda. Ocorre uma importante anastomose da porção inferior do esôfago com a veia gástrica esquerda comunicando a circulação porta e sistêmica. As veias esofágicas drenam para veias adjacentes, os vasos linfáticos da porção torácica esofágica drenam aos linfonodos frênicos, mediastinais posteriores e traqueais. A inervação esofágica é feita pelos nervos faríngeos recorrentes, tronco simpático cervical e nervos vagos. Fibras parassimpáticas vagais, juntamente com nervo simpático e esplâncnico, formam o plexo esofágico. Fibras pósganglionares parassimpáticas suprem o músculo liso e glândulas que o ativam. As fibras pré-ganglionares nascem da porção inferior da medula torácica e fazem sinapse com gânglios dos troncos simpáticos (HAMILTON, 1982; GARDNER, GRAY e O’RAHILLY, 1978). Para Gardner, Gray e O’Rahilly (1978), as fibras condutoras de sensibilidade dolorosa esofágica acompanham fibras simpáticas até os troncos simpáticos e através dos nervos espinhais passam aos ramos comunicantes, entrando na medula espinhal pelas raízes dorsais. A estimulação dolorosa da parte inferior do esôfago por refluxos de conteúdos de ácido gástrico pode gerar uma dor em queimação, percebida sob o esterno e região epigástrica. 2.1.4 Estômago Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 27 Para Castro (1985), o estômago é a maior dilatação do tubo digestivo, apresentando capacidade de um a dois litros e com forma bastante variada conforme a posição do indivíduo. A digestão enzimática é a principal função gástrica. O estômago está em contato com a parede abdominal anterior, face visceral do lobo esquerdo do fígado e diafragma, que o separa do pericárdio e cavidade pleural esquerda. A parede anterior é completamente coberta por peritônio. Póstero-inferiormente estão localizadas estruturas que formam o “leito do estômago” compreendendo uma pequena parte do diafragma, glândula suprarenal esquerda, faces gástricas do baço e rim esquerdo e a face ântero-superior do pâncreas e do colo transverso (HAMILTON, 1982). Anatomicamente, o estômago é dividido em inúmeras estruturas. O fundo gástrico é situado acima de uma linha horizontal traçada na porção inferior do esôfago e contém ar deglutido. Os dois terços restantes do órgão são denominados corpo do estômago. A porção mais distal compreende o antro pilórico, canal pilórico e piloro. Internamente sua membrana mucosa é rica em pregas, denominadas rugas, que se ramificam, estas praticamente desaparecem quando o estômago está cheio (HAM, 1991). O fundo atua como reservatório, relaxando quando um volume sólido, líquido ou ar entra no estômago. O antro é a parte mais ativa do estômago, com capacidade de misturar os alimentos com o suco gástrico, triturar os componentes sólidos e impedir que partículas maiores que um milímetro passem para o duodeno (MENEGHELLI, OLIVEIRA e FERNANDES, 1996). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 28 Externamente possui uma parede anterior e outra posterior; uma abertura superior, a abertura cárdica que se junta com o esôfago e uma inferior, a pilórica; uma curvatura maior que é mais longa, convexa e à esquerda e outra menor, à direita, mais curta e côncava (GARDNER, GRAY e O’RAHILLY, 1978). As curvaturas maior e menor são bastante irregulares no indivíduo vivo em função dos movimentos peristálticos. Devido aos óstios cárdicos e pilóricos estarem à direita, a curvatura maior, esquerda, é três vezes mais longa que a menor, à direita. A curvatura maior se aprofunda mais inferiormente com o estômago cheio ou na posição ereta, podendo penetrar na pelve (CASTRO, 1985). O suco gástrico converte o alimento em uma mistura líquida e macia denominada quimo, esvaziado rapidamente para o duodeno através dos movimentos peristálticos, que têm início na altura da parte média do estômago e se deslocam lenta e maciamente em direção ao piloro. Pouca ou nenhuma atividade peristáltica aparece no corpo e fundo do estômago (GARDNER, GRAY e O’RAHILLY, 1978). Funcionalmente, o estômago é dividido em proximal (fundo e um terço do corpo gástrico) e distal (restante do corpo gástrico e região de antro e piloro) devido ao esvaziamento do estômago, resultado fisiológico da atividade motora (MENEGHELLI, OLIVEIRA e FERNANDES, 1996). De acordo com Gardner, Gray e O’Rahilly (1978), o estômago é um órgão móvel e deslocável sem posição fixa. Sua forma e tamanho, dependem do grau de distensão e das vísceras adjacentes. Óstio cárdico é a parte mais fixa. O fundo gástrico junta-se na curvatura da cúpula diafragmática esquerda e se move Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 29 com ela; a parte pilórica é bastante móvel. Na posição em decúbito, com o estômago vazio, ela está a alguns centímetros para a esquerda do plano mediano; na posição ortostática ou com o estômago cheio pode estar em qualquer lado do plano mediano. Quando vazio, o estômago toma a forma de uma letra “J”, porém esta forma é facilmente variada por alterações na postura, podendo se tornar cilíndrico ou grosseiramente crescente. O ar no fundo, caracteriza o som timpânico à percussão (GARDNER, GRAY e O’RAHILLY, 1978; HAMILTON, 1982). Segundo Hamilton (1982), o tônus do estômago influencia no encurtamento ou prolongamento do tempo de esvaziamento gástrico. O estômago com tônus normal possui suas paredes paralelas. Um estômago hipertônico torna o fundo gástrico arredondado, o corpo com forma tubular e a curvatura menor situando-se em um nível mais alto. O hipotônico apresenta antro pilórico mais largo que o normal. Uma hipotonia gástrica pode ser observada em situações psicológicas como o medo. Um afundamento súbito da parede inferior pode ser observado logo após um desmaio. O piloro separa o antro do estômago da primeira parte do duodeno, o bulbo duodenal, atuando com esfíncter anatômico e seu músculo liso circular forma dois espessamentos circulares seguidos por tecido conjuntivo, separando o piloro do duodeno. Plexos mientéricos do piloro e bulbo duodenal são contínuos, fazendo com que o antro e duodeno permaneçam coordenados: quando o antro se contrai, o bulbo duodenal está relaxado. A junção gastroduodenal permite o esvaziamento regulado do esvaziamento gástrico, com a capacidade do duodeno Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 30 de processar o quimo, e impedir a regurgitação do conteúdo duodenal de volta para o estômago (KUTCHAI, 1996). 2.1.4.1 Enchimento, Mistura e Esvaziamento Gástrico Segundo Guyton e Hall (2002), à medida que o alimento penetra no estômago, um “reflexo vagovagal” para o tronco cerebral e a seguir de volta ao estômago, reduz o tônus da parede muscular gástrica permitindo sua distensão progressiva e acomodando quantidade cada vez maior de alimentos, até aproximadamente um a um litro e meio. Quando uma onda peristáltica do esôfago atinge o EIE este se relaxa reflexamente, seguido por relaxamento do fundo e corpo do estômago, o denominado relaxamento receptivo. O mesmo ocorre se o estômago se encher diretamente por gás ou líquido. A musculatura lisa do fundo e corpo gástricos facilita o relaxamento receptivo e promove a função reservatória, porém tem menor resistência ao estiramento do que o músculo liso do antro (KUTCHAI, 1996). Os sulcos digestivos gástricos secretados pelas glândulas gástricas recobrem praticamente toda a parede do corpo do estômago. O alimento armazenado, localizado na superfície da mucosa do estômago entra imediatamente em contado com essas secreções. Os alimentos podem Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 31 permanecer sem se misturar por até uma hora após a alimentação. As gorduras tendem a formar uma camada oleosa no topo do conteúdo gástrico por diferenças de densidade, sendo esvaziadas depois dos outros alimentos. Líquidos são esvaziados mais rapidamente para o duodeno; partículas grandes ou indigestas são retidas no estômago por mais tempo. Na presença do alimento ocorrem ondas peristálticas fracas, as ondas de mistura, com freqüência de uma a cada quinze a vinte segundos na porção média da parede gástrica e em direção ao antro. À medida que essas ondas constritoras progridem do corpo ao antro do estômago tornam-se mais intensas e extremamente fortes, formando poderosos anéis constritores peristálticos com pressão cada vez maior em direção ao piloro. Toda vez que passa uma onda peristáltica do antro em direção ao piloro, esta penetra profundamente no conteúdo alimentar do antro. Devido à aceleração da onda peristáltica a contração terminal do antro e do piloro ocorre quase que simultaneamente, sendo denominada contração sistólica do antro. As fortes ondas permitem que o conteúdo antral passe para o bulbo duodenal em forma de esguichos, terminados pelo fechamento abrupto do esfíncter pilórico. Devido seu pequeno diâmetro, o esfíncter pilórico permite que apenas alguns mililitros do conteúdo antral sejam expelidos para o duodeno (GUYTON e HALL, 2002; KUTCHAI, 1996). Com isso, a maior parte do conteúdo antral é impelido de volta através do anel peristáltico em direção ao corpo do estômago, formando um mecanismo denominado retropulsão, importante para a mistura do alimento com as Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 32 secreções gástricas e ajudando na dilaceração mecânica das partículas de alimento (GUYTON e HALL, 2002). Quase que imediatamente após a chegada do conteúdo alimentar ao estômago inicia-se o processo de esvaziamento. No lactente recebendo somente o leite materno a suspensão coloidal coagula em contato com a secreção gástrica pela ação da pepsina, transformando-se em fases líquidas e sólida. Em uma refeição mista, formada por de líquidos e sólidos, os líquidos são esvaziados primeiramente, pelas contrações musculares lentas da parte proximal do estômago que geram uma pressão basal intragástrica estabelecendo um diferencial de pressão entre a luz do órgão e duodeno. Para o esvaziamento dos alimentos sólidos há a ação do peristaltismo antral durante a propulsão, trituração decorrente do atrito entre os fragmentos dos alimentos e retropulsão, até atingir diâmetro suficiente para ultrapassar o piloro. O único estímulo natural capaz de iniciar o esvaziamento gástrico é a própria distensão gástrica através da ativação dos receptores sensíveis ao contato, localizados na mucosa e dos receptores sensíveis à distensão passiva localizados na musculatura gástrica. Quando se inicia o esvaziamento gástrico, o estômago recebe estímulos inibitórios como conteúdo ácido, osmolaridade e conteúdo calórico dos alimentos absorvíveis via neuronal (plexo mientérico e nervo vago) e hormonal (colecistocinina), desencadeados a partir da mucosa do intestino delgado (MENEGHELLI, OLIVEIRA e FERNANDES, 1996). A presença de ácidos graxos ou monoglicerídeos no duodeno diminui a velocidade do esvaziamento gástrico, pois a contratilidade do esfíncter pilórico Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 33 fica aumentada. As enzimas digestivas do duodeno tornam o quimo que deixa o estômago ainda mais hipertônico. Soluções hipertônicas no duodeno retardam o esvaziamento gástrico, assim como conteúdos duodenais com pH baixo, menor que 3,5, presença de aminoácidos e peptídeos no duodeno (KUTCHAI, 1996). De acordo com Meneghelli, Oliveira e Fernandes (1996), outros fatores físicos e bioquímicos podem influenciar no esvaziamento gástrico. Dentre os fatores físicos podem estar incluídos obstáculos mecânicos como estenose hipertrófica de piloro, influência da variação térmica do ambiente e da refeição, posição do corpo (o decúbito lateral direito facilita o esvaziamento gástrico pelo efeito adicional da pressão hidrostática). Os fatores bioquímicos podem ser descritos em situações onde há bloqueio na digestão de macronutrientes por déficit de enzimas. Extremos de idade também influenciam no esvaziamento gástrico de líquidos. No período neonatal ocorre retardo do esvaziamento de solução de glicose por recuperação do trauma do parto, modificações circulatórias e imaturidade dos mecanismos de esvaziamento. Idosos também possuem retardo do esvaziamento de líquidos por menor poder do fundo gástrico de gerar pressões. 2.1.4.2 Vascularização e Inervação Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 34 As artérias do estômago são derivadas do tronco celíaco. Um dos principais ramos deste tronco, a artéria gástrica esquerda, arqueia-se para cima e à esquerda em direção ao hiato esofágico no diafragma. Em seguida, passa ao longo da curvatura menor para se anastomosar com a artéria gástrica direita, um ramo da artéria hepática ou hepática comum. O fundo gástrico é alimentado por artérias gástricas curtas originadas do ramo esplênico do tronco celíaco; a curvatura maior recebe ramos das artérias gastro-epiplóicas direita e esquerda que passam do longo da curvatura maior e se anastomosam livremente uma com a outra (HAMILTON, 1982). Anastomoses arteriovenosas estão presentes na parede do estômago. As anastomoses de artérias que irrigam este órgão com artérias que irrigam os órgãos abdominais externos fornecem uma via de circulação colateral. As veias do estômago acompanham as artérias e esvaziam-se tanto na veia porta como em uma de suas tributárias. Os plexos linfáticos se comunicam com plexos similares do esôfago e duodeno, esvaziando-se em vasos linfáticos que drenam ao ducto torácico (GARDNER, GRAY e O’RAHILLY, 1978). Troncos vagais anterior e posterior derivados do plexo esofágico fornecem fibras parassimpáticas para o estômago, contendo também fibras aferentes relacionadas com a atividade reflexa. O tronco vagal anterior passa ao longo da curvatura menor e dá origem a numerosos ramos gástricos principais para a face anterior do estômago, incluindo um ramo para o antro pilórico e um ramo hepático para o hilo hepático. O tronco vagal posterior origina ramos gástricos principalmente para a superfície posterior do estômago e um ramo celíaco que acompanha a artéria gástrica esquerda até o plexo celíaco. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 35 Os nervos simpáticos do estômago são fibras pós-ganglionares originadas dos plexos e gânglios celíacos, acompanhando várias artérias que penetram na parede gástrica ou continuando em filamentos separados. Os nervos vagos parassimpáticos estimulam o peristaltismo gástrico e secreção; contraem o esfíncter pilórico. Possuem ainda fibras de dor, atingindo a medula espinhal através de troncos simpáticos, ramos comunicantes e raízes nervosas dorsais (HAMILTON, 1982). 2.1.5 Fisiologia dos Movimentos Viscerais As diferentes estruturas que compões o corpo são submetidas a movimentos variados e múltiplos. Através de um estudo anatômico-fisiológico dos movimentos viscerais, observa-se um conceito de articulação visceral. Existem diferentes tipos de movimentos viscerais subdivididos em grupos a partir de sistemas do qual pertencem as vísceras, que são o sistema nervoso central, sistema nervoso autonômico e movimento respiratório primário. Movimentos resultantes do sistema nervoso central são simples e englobam a mobilidade voluntária: a motricidade. Esta é codificada graças à anatomia e fisiologia dos músculos estriados, sendo a mobilização das estruturas ósseas sob a ação dos músculos estriados, comandados pelo sistema nervoso central. Todos os movimentos do esqueleto são fatores da mobilidade visceral, ou seja, o passo, a corrida e os movimentos do tronco obrigam as vísceras a se movimentarem. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 36 As vísceras estão contidas em cavidades: crânio, tórax e abdome. Estas cavidades são deformáveis e formadas pelo esqueleto, verdadeira cadeia articulada. A motricidade movimenta uma deformação destas cavidades, exceto o crânio, e as vísceras acompanham o movimento (BARRAL e MERCIER, 1983). Segundo Barral e Mercier (1983) o peristaltismo e o movimento diafragmático, como todos os outros movimentos viscerais são movimentos extrínsecos, passivos. Paralelamente, ocorre uma mobilidade ativa resultante de uma aptidão intrínseca de sua estrutura. A víscera se mobiliza por seus próprios meios através de um movimento lento e de pequena amplitude. 2.2 Histologia Funcional e anatomicamente, a parede gastrintestinal é formada por musculatura lisa com células de atividade contrátil autônoma, dividida em duas camadas: circular internamente e longitudinal externamente ao longo de todo o tubo digestivo (MENEGHELLI, OLIVEIRA e FERNANDES, 1996). O alimento deve ser absorvido através do revestimento epitelial do tubo, constituído por células extremamente seletivas. A parede geral do tubo gastrintestinal consiste em quatro camadas principais: a membrana mucosa, a submucosa, a muscular externa e a serosa (JUNQUEIRA e CARNEIRO, 1995). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 37 A membrana mucosa consiste no revestimento epitelial que é basicamente protetor, podendo ser absorvente ou secretor em alguns locais e é suplementado por glândulas mucosas como glândulas salivares. A lâmina própria de sustentação é rica em fibras colágenas, elásticas e reticulares que podem atuar como linha de defesa por apresentar características linfóides e uma camada contínua e delgada de musculatura lisa, dupla. A membrana submucosa abriga os plexos dos grandes vasos sangüíneos e um plexo de fibras nervosas associados a algumas células ganglionares (plexo de Meissner). Já a camada muscular externa tem como principais características a mistura e propulsão do alimento da faringe ao ânus através da contração muscular, ou seja, encarregar-se dos movimentos peristálticos (HAM, 1991). A quarta e mais externa camada da parede do tubo digestivo é a serosa, formada por tecido conjuntivo frouxo, grande quantidade de células adiposas, vasos sangüíneos e linfáticos. O revestimento epitelial da mucosa promove uma barreira semipermeável entre o conteúdo do tubo digestivo e o meio interno facilitando o transporte e absorção dos produtos da digestão dos alimentos (JUNQUEIRA e CARNEIRO, 1995). A resistência ao canal alimentar é dada pela camada submucosa. A muscular move o conteúdo alimentar; a camada serosa mais externa é escorregadia e permite a mobilidade. Algumas partes do canal apresentam uma camada fibrosa externa para fixação do órgão à parede abdominal, limitando a mobilidade (GARDNER, GRAY e O’RAHILLY, 1978). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 38 Para Meneghelli, Oliveira e Fernandes (1996) o primeiro indício do desenvolvimento da camada muscular é encontrado no feto de cinco a seis semanas de gestação, com a camada circular na porção proximal do intestino delgado. Por volta de sete a oito semanas esta camada está presente em todo o comprimento deste órgão. A camada longitudinal muscular é encontrada em porções iniciais do intestino delgado e íleo por volta de nove semanas. O mesmo desenvolvimento ocorre no esôfago e estômago, sendo que a região pilórica é observada no terceiro mês de gestação alcançando a maturação mais tarde. 2.2.1 Esôfago O esôfago é constituído pelas camadas básicas do plano geral do trato digestivo, anteriormente descritas. É revestido por epitélio escamoso estratificado, como proteção contra alimentos de textura áspera, sofrendo renovação contínua. Algumas glândulas mucosas, as glândulas esofágicas, encontram-se espalhadas na submucosa. Outras podem ainda estar localizadas na lâmina própria da parte superior do esôfago e próximo ao estômago, assemelhando-se Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 39 com glândulas localizadas na região cárdica do esôfago, denominadas glândulas cárdicas (HAM, 1991). 2.2.2 Estômago O estômago é um órgão exócrino e endócrino que digere os alimentos e secreta hormônios, continua a digestão iniciada na boca, acrescentando um fluido ácido aos alimentos ingeridos e transformando-os em uma massa viscosa, o quimo, pela ação enzimática e contração muscular (JUNQUEIRA e CARNEIRO, 1995). As glândulas da mucosa secretam o suco gástrico que contém ácido clorídrico, pepsina, renina e lipase e muco. Esta combinação é suficiente para ulcerar a parede do estômago e por isso, existem mecanismos protetores na mucosa gástrica. A espessa camada de muco viscoso e a renovação do revestimento epitelial a cada dois a seis dias são formas protetoras de evitar lesões (HAM, 1991). Segundo Junqueira e Carneiro (1995), todas as regiões do estômago possuem igual revestimento epitelial superficial, constituído por células prismáticas secretoras de muco, apresentando núcleo esférico e localização na Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 40 porção média da célula. O epitélio de revestimento na superfície interna do estômago apresenta invaginações denominadas fossetas gástricas onde se abrem pequenas glândulas secretoras. O epitélio que recobre o estômago é constituído por células colunares mucosas repletas de vesículas secretoras contendo muco. Na região da junção gastroesofágica aparecem também pequenas glândulas mucosas e glândulas mucoparietais produtoras de ácido, porém as glândulas zimogênicas localizadas no fundo do estômago é que são responsáveis por produzir a maior parte do ácido clorídrico e enzimas gástricas (HAM, 1991). De acordo com Junqueira e Carneiro (1995), as células epiteliais da mucosa gástrica têm vida curta e se descamam para a luz do órgão. Quando lesadas se regeneram através de duas correntes de células. Uma se dirige para a superfície da membrana mucosa e se diferencia em células mucosas de revestimento. A outra, resultante de mitoses celulares desloca-se em direção oposta e lentamente se diferenciam em células mucosas. 2.3 Sistema Nervoso Autônomo Machado (1981) divide o sistema nervoso de acordo com critérios funcionais em sistema nervoso somático, responsável pela vida de relação com componentes eferentes que conduzem os impulsos aos centros nervosos e Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 41 aferente, que leva o comando dos centros nervosos aos músculos estriados esqueléticos; e sistema nervoso visceral, relacionado com inervação e controle das vísceras para manutenção da homeostase também com componentes aferentes originados nos visceroceptores e eferentes dos centros nervosos até as vísceras, glândulas, músculo liso ou cardíaco. Esta parte eferente do sistema nervoso visceral é denominada sistema nervoso autônomo ou autonômico. A grande maioria das funções viscerais é controlada inteiramente ou parcialmente pelo sistema nervoso autonômico, que têm característica de serem intensamente alteradas em rápido período de tempo. O sistema nervoso autonômico é ativado pela medula espinhal, tronco cerebral e hipotálamo através de gânglios situados nessas estruturas. Ele ainda opera por meio dos reflexos viscerais onde sinais subconscientes originados de uma víscera, entram nos gânglios autonômicos no tronco cerebral ou hipotálamo e voltam com respostas reflexas diretamente às vísceras para controlar sua atividade (GUYTON e HALL, 2002). Este sistema é um conjunto eferente que inerva músculos lisos, músculo cardíaco e glândulas. Os corpos celulares dos neurônios efetores finais ou terminais deste sistema localizam-se fora do sistema nervoso central, em gânglios autonômicos denominados neurônios efetores pós-ganglionares. Suas atividades são controladas pelos neurônios conectores préganglionares, cujos corpos celulares localizam-se no tronco cerebral e medula espinhal. Muitas estruturas recebem inervação aferente através dos neurônios viscerais aferentes (HAMILTON, 1982). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 42 O sistema nervoso autonômico é subdividido em sistema nervoso simpático e parassimpático por onde os impulsos eferentes são transmitidos aos órgãos sinergicamente, com o objetivo de proporcionar harmonia na atividade visceral. Os sistemas simpático e parassimpático em um mesmo órgão têm na sua maioria, ações antagônicas. Por seu papel nos mecanismos integradores centrais, o sistema nervoso autonômico está relacionado aos fatores comportamentais e neuroendocrinológicos, assim como nos processos pelos quais o corpo conserva seu ambiente interno constante, mantendo temperatura, equilíbrio hídrico e composição iônica do sangue ideais (GARDNER, GRAY e O’RAHILLY, 1978). Os nervos simpáticos são vasoconstritores e contêm fibras de dor que atingem a medula espinhal através do tronco simpático, ramos comunicantes e raízes nervosas dorsais (HAMILTON, 1982). Para Guyton e Hall (2002), o sistema gastrintestinal recebe influências do sistema nervoso autônomo. A estimulação parassimpática estimula sua atividade em geral, peristaltismo, relaxamento dos esfíncteres, maior propulsão do conteúdo ao longo do trato, associado a um aumento da secreção das glândulas gastrintestinais. Já a estimulação simpática não tem íntima relação com o trato gastrintestinal, porém a forte estimulação inibe o peristaltismo e aumenta o tônus dos esfíncteres. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 43 Figura 02: Sistema Nervoso Autonômico. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 44 Fonte: CREAGER, 1992. 2.3.1 Regulação da Atividade Motora do Sistema Digestório Os padrões de atividade motora, suas variações e integrações resultam da ação de um complexo sistema regulador neuro-humoral que controla as Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 45 contrações e relaxamentos do tubo digestório (MENEGHELLI, OLIVEIRA e FERNANDES, 1996). • Mecanismos Neurais Neurônios motores do tronco cerebral inervam a musculatura estriada da faringe e esôfago, cujos axônios se constituem em fibras dos nervos vagos e glossofaríngeos. Exceto o esfíncter externo do ânus o tubo digestório é inervado pelo sistema nervoso autônomo. As fibras do sistema nervoso simpático que alcançam o tubo são axônios de neurônios situados nos gânglios celíacos e mesentéricos superior e inferior, sendo chamadas de fibras simpáticas pósganglionares. As fibras eferentes do sistema nervoso parassimpático alcançam o tubo digestório pelos nervos vago e pélvico a partir de núcleos do tronco cerebral e medula sacral respectivamente. Fibras eferentes do sistema nervoso simpático e parassimpático fazem sinapse com neurônios do sistema nervoso entérico. • Mecanismos Humorais Vários hormônios influenciam a motilidade gastrintestinal. Ao longo do tubo digestório existem inúmeras células secretoras de peptídeos, conhecidos como hormônios gastrintestinais, com ações demonstradas sobre fibras musculares lisas (MENEGHELLI, OLIVEIRA e FERNANDES, 1996). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 46 2.3.2 Sistema Nervoso Entérico Para Guyton e Hall (2002), o trato gastrintestinal possui um sistema nervoso próprio denominado sistema nervoso entérico, estendendo-se desde o esôfago até o ânus. Ele controla particularmente a secreção gastrintestinal. O sistema nervoso entérico é o conjunto de neurônios e células de suporte localizados nas paredes do tubo digestório, inclusive do pâncreas e vesícula biliar. Distribui-se em dois plexos contínuos, o plexo mioentérico situado entre as camadas circular e longitudinal e plexo submucoso, ambos conectados entre si. Além de neurônios efetores e sensitivos contém grande população de interneurônios que se conectam formando circuitos neurais. Possui grande importância na coordenação e execução das atividades motoras do sistema digestório, pois contém células efetoras relacionadas a motilidade, ou seja, neurônios que se conectam diretamente às fibras musculares lisas (MENEGHELLI, OLIVEIRA e FERNANDES, 1996). O plexo mioentérico ou plexo de Auerbach é externo, e o plexo submucoso ou plexo de Meissner é interno. O plexo mioentérico controla principalmente o peristaltismo, enquanto que o submucoso controla a secreção gastrintestinal e fluxo sangüíneo local (GUYTON e HALL, 2002). Influências de outras partes do sistema nervoso autonômico se fazem sobre partes musculares através do sistema nervoso entérico. A atividade dos Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 47 circuitos neuronais do sistema nervoso entérico é capaz de, à semelhança do sistema nervoso central, programar atividades motoras complexas como peristaltismo e abertura dos esfíncteres. A maturação combinada dos sistemas nervosos entérico autonômico e central é responsável pelas grandes alterações no desenvolvimento da atividade motora intestinal antes e depois do nascimento (MENEGHELLI, OLIVEIRA e FERNANDES, 1996). 2.3.2.1 Plexo Mioentérico O plexo mioentérico consiste em uma cadeia linear de neurônios interconectados. Pelo fato de estar entre as camadas musculares circular e longitudinal é diretamente relacionado com o controle da atividade motora ao longo de todo o intestino. Quando estimulado aumenta a contração tônica da parede intestinal, intensidade das contrações rítmicas, aumenta ligeiramente a freqüência do ritmo de contração e proporciona maior velocidade de condução das ondas excitatórias ao longo da parede intestinal, resultando em movimento mais rápido das ondas peristálticas. O plexo mioentérico não pode ser considerado totalmente excitatório, pois alguns de seus neurônios são inibitórios, secretando transmissores com a Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 48 ação de inibir os músculos esfinctéricos e impedindo o movimento do alimento entre segmentos sucessivos do trato gastrintestinal, como o esfíncter pilórico e o esfíncter da válvula ileocecal (GUYTON e HALL, 2002). 2.3.2.2 Plexo Submucoso O plexo submucoso está relacionado principalmente com o controle da função no interior da parede de cada diminuto segmento do intestino. Inúmeros sinais sensitivos se originam do epitélio gastrintestinal e a seguir, são integradas no plexo submucoso, ajudando no controle da secreção intestinal local, absorção e contração local do músculo submucoso responsável pelo pregueamento da mucosa gatrintestinal (GUYTON e HALL, 2002). 2.3.3 Sistema Nervoso Simpático A parte simpática ou toracolombar do sistema nervoso autonômico envolve fibras pré-ganglionares que saem dos níveis torácicos e lombares superiores da medula espinhal e é parte importante do mecanismo pelo qual o Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 49 indivíduo reage ao estresse. Atingem nervos espinhais por meio dos ramos ventrais, e a seguir deixam os nervos espinhais alcançando gânglios adjacentes através dos ramos comunicantes. Os gânglios estão contidos em longos cordões nervosos denominados troncos simpáticos, um de cada lado da coluna vertebral desde a base do crânio até o cóccix (GARDNER, GRAY e O’RAHILLY, 1978). Corpos celulares dos neurônios conectores pré-ganglionares do sistema nervoso simpático estão localizados no interior da coluna cinzenta lateral da medula espinhal, entre o primeiro segmento torácico e segundo segmento lombar. Seus axônios saem da medula pelas raízes ventrais dos nervos espinhais correspondentes, formando o fluxo toracolombar. São transportados pelos primeiros ramos ventrais dos nervos espinhais para dentro dos ramos comunicantes brancos, pertencentes ao tronco simpático do mesmo lado do corpo. Os axônios de neurônios pós-ganglionares podem ser distribuídos à periferia por ramos comunicantes cinzentos até alcançarem os nervos espinhais, sendo distribuídos aos membros e tronco, inervando vasos sangüíneos, glândulas sudoríparas e músculos eretores dos pêlos (HAMILTON, 1982). Algumas fibras pré-ganglionares fazem sinapse em gânglios do tronco, outras seguem até os gânglios dos plexos pré-vertebrais e outras ainda fazem sinapse com células da medula das glândulas supra-renais (GARDNER, GRAY e O’RAHILLY, 1978). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 50 2.3.3.1 Tronco Simpático Como já foi dito, os troncos simpáticos são troncos nervosos ganglionares localizados em cada lado e ao longo de toda a coluna vertebral desde a base do crânio até o cóccix. Cada tronco é formado por gânglios interligados por feixes de fibras nervosas (GARDNER, GRAY e O’RAHILLY, 1978). Para Hamilton (1982), a parte cervical do tronco localiza-se na região dos músculos pré-vertebrais. O gânglio cervical superior se estende para dentro da base do crânio, o gânglio cervical médio encontra-se ao nível da sexta vértebra cervical e o gânglio cervical inferior, freqüentemente está fundido com o primeiro, ou primeiro e segundo gânglios torácicos formando o gânglio cervico-torácico ou estrelado. Ao entrar no tórax a partir do pescoço, os troncos simpáticos descem anteriormente às cabeças das costelas superiores, vasos intercostais posteriores e nervos que os acompanham, entrando no diafragma ou passando atrás dos ligamentos arqueados medias. Conforme descem, inclinam-se medialmente até se localizar nas laterais das vértebras torácicas inferiores (GARDNER, GRAY e O’RAHILLY, 1978). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 51 A parte lombar localiza-se sobre a superfície ântero-lateral das vértebras lombares. Cada tronco atravessa o promontório sacral para se prolongar com o tronco pélvico. A porção pélvica desce medialmente sobre a superfície pélvica do sacro e se une em frente ao cóccix, terminando em um pequeno gânglio único, o gânglio ímpar (HAMILTON, 1982). Os gânglios pré-vertebrais são encontrados nos plexos pré-vertebrais formados por ramos do nervo vago e troncos simpáticos e são nomeados de acordo com o plexo associado. Fibras pré-ganglionares para a cabeça e pescoço originam-se dos primeiros um ou dois segmentos da parte torácica da medula e partem da primeira raiz ventral torácica. As fibras pré-ganglionares entram no tronco simpático e realizam sinapse nos gânglios cervicais simpáticos. Fibras simpáticas que chegam até o membro superior o fazem através do plexo braquial, originam-se do segundo ao nono ou décimo segmentos torácicos e chegam ao tronco simpático pelas raízes e ramos ventrais apropriados. Já as fibras pré-ganglionares para o coração e vasos coronários originam-se dos quatro a seis segmentos superiores da parte torácica da medula. As fibras que chegam às vísceras abdominais originam-se da metade inferior da medula e segmentos lombares superiores, passam através do tronco simpático e nervos esplâncnicos fazendo sinapse nos gânglios pré-vertebrais. Para as vísceras pélvicas, as fibras são originadas nos segmentos lombares superiores e descem nos troncos simpáticos para os gânglios lombar e sacral. As fibras pré-ganglionares até os membros inferiores se originam dos segmentos torácicos inferiores e lombares superiores, penetram no tronco Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 52 simpático e descem aos gânglios lombar e sacral, dos quais fibras pósganglionares entram nos nervos lombar e sacral (GARDNER, GRAY e O’RAHILLY, 1978). 2.3.4 Sistema Nervoso Parassimpático As fibras do sistema nervoso parassimpático deixam o sistema nervoso central pelos III, VII, IX e X pares dos nervos cranianos, pelos segundo e terceiro nervos espinhais sacrais e pelos primeiro e quarto nervos sacrais. Sabe-se que 75% das fibras nervosas parassimpáticas estão localizadas no X par dos nervos cranianos (nervos vagos). Além de suprir os nervos parassimpáticos de órgãos como pulmão, coração, intestino delgado, metade proximal do cólon, fígado, vesícula biliar, pâncreas e porções superiores dos ureteres, os nervos vagos suprem o esôfago e estômago, órgãos de importância neste estudo. Funções específicas estão ligadas ao sistema nervoso parassimpático, como a digestão, metabolismo intermediário e excreção (GUYTON e HALL, 2002). 2.3.4.1 Nervos Vagos Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 53 Os nervos vagos de acordo com Moore (1994), formam o décimo par de nervos cranianos e possui a maior trajetória e distribuição de todos os pares, atravessando e inervando estruturas no pescoço, tórax e abdome. É do tipo misto, ou seja, com funções motoras e sensitivas, sendo dois núcleos vagais motores e dois sensitivos. Para Hamilton (1982), as fibras eferentes viscerais formam a maior parte do fluxo parassimpático pré-ganglionar craniano envolvido com a inervação do coração, musculatura lisa e glândulas de grande parte dos sistemas digestório e respiratório, após terminarem fazendo sinapses com neurônios pós-ganglionares ou distribuindo-se aos músculos lisos estriados, terminando diretamente nas fibras musculares formando as placas motoras terminais. Já as fibras aferentes viscerais são distribuídas para os mesmos territórios das fibras eferentes e para vasos sangüíneos torácicos, ou ainda podem ser distribuídas para as papilas gustativas da epiglote e parte mais posterior da língua. Grande parte das fibras vagais aferentes está envolvida com os reflexos viscerais, porém algumas fibras para a região do ouvido, faringe, laringe e terço superior do esôfago transportam impulsos que são reconhecidos como sensação de dor (MOORE, 1994). O nervo vago emerge do sulco retro-olivar do bulbo por inúmeras raízes vagais que se unem para formar um tronco único. Esse tronco percorre a fossa craniana pelo espaço subaracnóideo e junto com as raízes do nervo acessório, envolvidos pela bainha da dura-máter, saem do crânio pelo forame jugular. Nesse ponto de saída, o vago apresenta duas proeminências ganglionares contendo os corpos celulares de fibras aferentes, que são os gânglios superior e inferior. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 54 Ao deixar o crânio, o nervo vago segue a bainha da carótida entre a veia jugular e a artéria carótida. Após, desce verticalmente pelo pescoço relacionandose com os grandes vasos. Devido à assimetria dos vasos sangüíneos do tórax superior, a direção dos nervos vagos bilateralmente é diferente. O nervo vago direito passa à frente da artéria subclávia direita, entra no tórax descendo posteriormente abaixo da pleura da face direita do mediastino. Passa à direita da traquéia e vem se localizar atrás da raiz do pulmão direito onde forma o plexo pulmonar direito. Deste plexo saem diversos feixes de fibras vagais que continuam descendo para formar, juntamente com fibras do vago esquerdo, o plexo esofágico. Quando o plexo esofágico atinge a cavidade abdominal, forma o tronco vagal anterior e posterior. O vago esquerdo entra no tórax, também com trajetória descendente e ao longo da face esquerda do mediastino, cruza a superfície anterior da aorta e passa atrás da raiz do pulmão esquerdo formando o plexo pulmonar esquerdo, de onde saem fibras vagais que contribuem para formar o plexo esofágico e conseqüentemente, para formar os troncos vagais anterior e posterior, penetrando na cavidade abdominal pela abertura esofágica (HAMILTON, 1982). O tronco vagal anterior supre a face anterior do estômago, fígado, canal pilórico, duas primeiras porções do duodeno e cabeça do pâncreas. O tronco posterior supre a face posterior do estômago e termina no gânglio celíaco e plexos adjacentes (MOORE, 1994). A seguir serão descritos os ramos dos nervos vagos segundo Hamilton (1982) e Moore (1994). Os ramos meníngeos originam-se do gânglio superior do vago e suprem a dura-máter na fossa posterior do crânio; ramos auriculares, Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 55 sensitivos, inervam a pele da superfície craniana da orelha, parede do meato auditivo externo e porção inferior da membrana timpânica; os ramos faríngeos, motores, seguem para a faringe e suprem os músculos estriados da faringe e palato mole; os ramos da artéria carótida, sensitivos, seguem para as paredes do seio carotídeo. O nervo laríngeo superior, sensitivo e motor, desce na região de pescoço e divide-se em nervo laríngeo interno que atravessa a membrana tireóidea e supre a porção da laringe acima das cordas vocais e nervo laríngeo externo que é motor para o músculo cricotireóideo da laringe. O nervo laríngeo inferior, também motor e sensitivo, curva-se ao redor da artéria subclávia direita e arco da aorta no lado esquerdo, ascendendo no pescoço até a laringe abaixo das pregas vocais (sensitivo) e músculos intrínsecos da laringe (motor). Os ramos cardíacos parassimpáticos deixam o nervo vago no pescoço e passam para o plexo cardíaco, fazendo sinapse e seguindo para o coração atuando na diminuição da freqüência cardíaca e contração das artérias coronárias. Ramos pulmonares também parassimpáticos são originados no tórax e contribuem para os plexos pulmonares anterior e posterior, fazendo sinapse e suprindo a musculatura lisa da árvore brônquica. Ramos abdominais originam-se dos troncos vagais anterior e posterior (cada tronco supre a face correspondente do estômago através dos ramos gástricos), fazendo sinapse com células ganglionares nas paredes das vísceras e inervando o músculo liso no tubo digestivo até a flexura esquerda do cólon. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 56 Figura 03: Inervação dos Nervos Vagos Fonte: CREAGER, 1992. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 57 2.4 Diafragma O diafragma é o principal e essencial músculo respiratório. Possui a forma de cúpula com concavidade inferior que separa a cavidade torácica da abdominal. É formado por um tendão central denominado centro tendíneo e partes musculares, aumentando o diâmetro torácico em três dimensões: ântero-posterior, látero-lateral e crânio-caudal. A parte periférica é muscular e a parte central é tendinosa. A parte muscular se origina da apófise xifóide, face profunda das seis cartilagens costais inferiores, ligamentos arqueados lateral e medial e corpos vertebrais lombares superiores por meio de pilares direitos e esquerdos. Os dois pilares direitos são maiores e se inserem nas faces anteriores dos corpos das três primeiras vértebras lombares; o pilar esquerdo se insere nas duas primeiras vértebras lombares. Esses pilares se unem na região da décima segunda vértebra torácica (HAMILTON, 1982). 2.4.1 Ação do Diafragma De acordo com Souchard (1989), durante a inspiração o diafragma contraído desce e é freado pela pressão que exercem as vísceras abdominais, contidas pelos músculos abdominais e perineais, além da tração do pericárdio. As barreiras do fígado e estômago permitem a elevação das costelas inferiores. Em uma inspiração forçada, o centro tendíneo abaixa vigorosamente recebendo uma Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 58 contrapressão das vísceras abdominais mantidas pela contração abdominal e perineal. Os movimentos diafragmáticos são importantes na circulação sangüínea, pois o aumento da pressão abdominal e redução da pressão torácica que acompanham sua contração durante a inspiração ajudam o retorno do sangue das vísceras para o coração. Assim, o sangue da veia cava inferior é forçado para cima até o coração. Esse movimento é facilitado pelo aumento do hiato da veia cava e dilatação da veia cava inferior que ocorre durante a contração diafragmática (MOORE, 1994). O diafragma exerce grande importância sobre a digestão em decorrência de sua ação sobre as vísceras abdominais, principalmente durante a defecação. Souchard (1989) afirma que no esôfago, o encaminhamento do bolo alimentar é assegurado pela musculatura do esôfago e pelo diafragma, que ao baixar-se durante a inspiração puxa a parte cárdica provocando um efeito bomba que dilata o esôfago. O diafragma desempenha ainda um papel de esfíncter entre o esôfago e o estômago, impedindo o refluxo do conteúdo gástrico principalmente em situações de aumento da pressão abdominal como tosse e espirro, pois ocorre uma contração diafragmática vigorosa, fechando o óstio esofágico. 2.4.2 Aberturas Diafragmáticas Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 59 O diafragma apresenta três grandes aberturas que também podem ser denominadas hiatos, orifícios, óstios ou forames, que permitem a passagem de estruturas entre o tórax e abdome. São eles: hiato esofágico, hiato aórtico e hiato da veia cava. O hiato esternocostal é uma pequena fenda bilateral entre as partes esternal e costal da porção muscular do diafragma. Através destas aberturas passam vasos linfáticos que drenam os linfonodos frênicos anteriores situados atrás do processo xifóide e vasos epigástricos superiores (MOORE, 1994). O hiato aórtico localiza-se na região da décima segunda vértebra torácica e dá passagem à aorta e ao canal torácico. O hiato da veia cava inferior está à direita e situa-se no tendão central, na altura do disco intervertebral entre oitava e nona vértebra torácica. O hiato esofágico é uma fenda oblíqua situada atrás da união dos pilares direito do diafragma por onde passam os nervos vagos, na região da décima vértebra torácica (HAMILTON, 1982). Os nervos frênicos passam diretamente através do diafragma e o supre a partir de sua parte inferior. De acordo com Moore (1994), o nervo frênico direito passa através do centro tendíneo e os troncos simpáticos passam através do diafragma atrás dos ligamentos arqueados mediais. 2.4.3 Movimento Diafragmático Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 60 Segundo Barral e Mercier (1983), o diafragma efetua aproximadamente dois mil movimentos por dia e movimenta com ele a cada vez, pulmões e vísceras abdominais, atuando também na pressão intra-abdominal. Fisiologicamente, o diafragma que separa a cavidade torácica da abdominal faz com que estas duas cavidades tenham relação funcional de continuidade. Quando o diafragma desce na inspiração, cria uma depressão torácica e uma compressão abdominal fazendo com que o volume da caixa torácica aumente. Quando ele sobe na expiração, cria uma compressão torácica e uma depressão abdominal. O espaço residual entre os órgãos é mínimo. As posições de fim da inspiração e final da expiração impulsionam os movimentos de deslizamento entra as diferentes vísceras do abdome. O diafragma impulsiona-se verticalmente para baixo e tem como resultante uma força horizontal sobre a parede muscular anterior. O conhecimento das direções de força permite o entendimento da mobilidade visceral no momento do movimento respiratório. O movimento respiratório primário através do diafragma também atua como bomba no sistema nervoso central com um ritmo de dez ciclos por minuto, circulando o líquido céfalo-raquidiano (LCR) onde estão banhadas estruturas nervosas, como os nervos raquidianos. O movimento respiratório primário é criado por variações na pressão entre o sangue arterial, líquido céfalo-raquidiano e sangue venoso. Na inspiração o LCR propaga-se em direção aos ventrículos, aumentando os diâmetros horizontais. Uma hiperpressão nestes ventrículos Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 61 aciona uma difusão do LCR em direção ao sangue venoso e quando a pressão nos ventrículos é baixa, um mecanismo de feedback bloqueia a difusão. Na inspiração a pressão no interior do ventrículo movimenta suturas do crânio, fazendo com que receptores nervosos locais barosensíveis sejam acionados, abrindo as comportas e permitindo que o LCR se junte ao sangue venoso. Os ossos pares e ossos ímpares do crânio são mobilizados em rotação externa. Na expiração, os movimentos se direcionam de maneira oposta (BARRAL e MERCIER, 1983). 2.4.4 Inervação Cada metade do diafragma possui uma inervação independente, assim, uma paralisia de uma das metades não afeta a outra, porém as duas metades se contraem de modo sincrônico. O diafragma está sob controle voluntário apenas em uma determinada extensão, ou seja, ninguém pode voluntariamente prender a respiração a ponto de asfixia (GARDNER, GRAY e O’RAHILLY, 1978). O suprimento motor do diafragma é feito pelos nervos frênicos que se originam dos ramos ventrais dos terceiro a quinto segmentos vertebrais cervicais da medula espinhal e enviam fibras sensitivas de dor e propriocepção para a maior parte deste músculo. Suas partes periféricas recebem suprimento sensitivo dos seis ou sete nervos intercostais inferiores e do nervo subcostal (MOORE, 1994). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 62 Segundo Gardner, Gray e O’Rahilly (1978), a metade esquerda do pilar direito é suprida pelo mesmo nervo frênico esquerdo e a metade direita do pilar esquerdo é suprido pelo nervo frênico direito. A parte periférica do diafragma também é suprida com as fibras sensoriais e vasomotoras dos nervos toracoabdominais. 2.5 Refluxo Gastroesofágico O refluxo gastroesofágico (RGE) consiste no retorno do conteúdo gastroduodenal para o esôfago, favorecido pelo gradiente de pressão positiva entre esses órgãos. As manifestações clínicas resultantes da exposição da mucosa esofágica ao conteúdo gástrico variam desde pirose, que é uma sensação de desconforto ou queimação na região do estômago, vômitos ou regurgitações recorrentes até sintomas respiratórios. Estas manifestações podem ser combinadas a alterações radiológicas, endoscópicas ou histopatológicas (COHEN e PARKMAN, 2001). “Essa tendência é maior em situações pré-prandiais, quando há aumento da pressão intra-abdominal (tosse, exercício ativo, evacuação, choro) ou em decúbito horizontal” (KODA, 1996, p.82). O conteúdo gástrico é composto por ácido, sais biliares, pepsina e enzimas pancreáticas que irritam a mucosa esofágica, não adaptada a um estímulo potencialmente nocivo, mas que pode ser totalmente assintomático ou acarretar conseqüências que vão desde queimação até formas graves de Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 63 doenças esofágicas e extra-esofágicas, incluindo tosse crônica, rouquidão, broncoespasmos e dores torácicas (GASTRAL e PALOMBINI, 1997). Os refluxos patológicos repercutem em episódios mais freqüentes e prolongados com maior prevalência pelo período noturno. Sabe-se também que o RGE, mesmo em pequeno grau é a principal causa de um terço dos problemas respiratórios crônicos e recorrentes em crianças, podendo ser responsável por complicações respiratórias em prematuros, como a neoplasia broncopulmonar (COHEN e PARKMAN, 2001; AMARAL, 1999). Figura 04: Refluxo Gastroesofágico. Fonte: ASTREZENECA, [s.d] Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 64 2.5.1 Etiologia e Epidemiologia A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) é uma afecção de grande importância por ser de elevada incidência e alta morbidade, que prejudica a qualidade de vida dos pacientes. Sua prevalência é elevada, sendo que 44% da população norteamericana desenvolve sintomas pelo menos uma vez por mês e 10%, uma vez ao dia. Contudo, a grande maioria não procura assistência médica (EISIG, FILHO e RODRIGUEZ, 1999). É uma causa comum entre as crianças menores de um ano de idade, ocorrendo em até 10% da população infantil. Desta, 40 a 50% podem ter mudanças anormais à pHmetria, segundo Mayans et al (2002). Geralmente, a DRGE ocorre por um distúrbio motor do esôfago decorrente de um defeito na barreira anti-refluxo (BAR), com insuficiência da união esôfago-gástrica, principalmente pelo esfíncter inferior do esôfago (EIE). Para Castro et al (1999), é preciso conhecer os mecanismos responsáveis pela prevenção do refluxo gastroesofágico para o entendimento da fisiopatologia da doença do refluxo gastroesofágico. A prevenção é representada pela ação da BAR. Qualquer deficiência nesta barreira provocará o trânsito retrógrado do estômago para o esôfago, que além da disfunção do EIE, outros fatores Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 65 mecânicos podem ser responsáveis, como mecanismo valvular ineficiente e compressão esofágica; fatores exógenos e iatrogênicos, incluindo dieta inadequada e drogas; e fatores endógenos como alterações na capacidade de esvaziamento gástrico (AMARAL, 1999). Sabe-se que a pressão intragástrica é menor que a pressão intraesofágica, atingindo pressão positiva média de 5 mmHg e média negativa de 5 mmHg, uma diferença de 10 mmHg, que aumenta ainda mais em situações onde ocorre aumento da pressão intra-abdominal. Nessas condições o RGE não ocorre, pois a região de alta pressão na junção esôfago-gástrica, composta pelo esfíncter inferior do esôfago e ligamento frenoesofágico, impede o refluxo do conteúdo gástrico para o esôfago (CASTRO et al, 1999). Para Iacono et al (1992) e Huf et al (2000) apud Mayans et al (2002), a presença de fatores genéticos em grupos familiares e gêmeos pode desencadear a DRGE. Recentemente, surgiu a hipótese da existência de um gene localizado no cromossomo 13q14 que está relacionado a casos de RGE graves. 2.5.2 Classificação do RGE Em posição ortostática e em certos períodos do dia, muitos indivíduos apresentam algum grau de refluxo sem desenvolvimento sintomático ou Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 66 complicações, que é denominado refluxo fisiológico. Ocorrendo em situações de ingestão excessiva de alimento ou situações onde há aumento da pressão abdominal. O refluxo gastroesofágico que provoca sintomatologias ou complicações é chamado refluxo patológico ou doença do refluxo gastroesofágico (GASTRAL e PALOMBINI, 1997). Mayans et al (2002) mencionam o RGE primário como resultado de uma deficiência ou falha primária na motilidade gastrintestinal, ocasionando o retorno passivo do conteúdo gástrico ao esôfago. O RGE secundário, na maioria das vezes está associado a processos infecciosos, alergia aos alimentos como à proteína do leite de vaca e soja, processos metabólicos como acidose tubular renal e síndrome de Bartter e alterações neurológicas ou malformações congênitas do trato gastrintestinal, como estenose hipertrófica do piloro. No RGE oculto não são constatadas manifestações gastrintestinais, e sim, sinais atípicos ou extra-intestinais. Esse tipo de refluxo pode ser encontrado em crianças com irritabilidade, disfonia, laringite, asma. Essas manifestações iniciais melhoram com o tratamento, mas não desaparecem. 2.5.3 Refluxo Fisiológico Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 67 No lactente jovem, o mecanismo anti-refluxo é deficitário, pois seu EIE é mais curto. Com três meses, ele tem 1 cm; com mais de um ano 1,6 cm, sabendo que em um indivíduo adulto esta média é de 3 a 4 cm. Além disso, o ângulo de Hiss é mais aberto e a parte abdominal do esôfago é fisiologicamente mais curta, aumentando conforme o crescimento físico da criança (KODA, 1996). No feto de oito semanas, o esôfago abdominal é amplo e longo. Aos poucos, vai se estreitando e encurtando até o nascimento. Depois volta a se alongar atingindo aproximadamente quinze milímetros (MAYANS, 2002). De acordo com Koda (1996), o EIE de recém-nascidos é hipotônico com pressão diminuída, praticamente nula, normalizando-se por volta de dois meses de vida. A melhora do tônus ocorre progressivamente com a maturação e melhor resposta ao estímulo neuro-hormonal no nível do EIE. Nas primeiras doze horas do recém-nascido a termo e até o sétimo dia do prematuro, podem ocorrer a presença freqüente de ondas simultâneas em vários pontos do esôfago, resultando em movimentos incoordenados. Até os dois anos de idade pode ser observada uma progressão do peristaltismo primário até o fundo do estômago, atuando como mecanismo anti-refluxo. A pressão esfincteriana é baixa nas duas primeiras semanas de vida, aumentando progressivamente em um a dois meses. A zona esfincteriana mede 0,5 a 1 centímetro no neonato até alcançar 2 a 4 centímetros na fase adulta. Todos esses aspectos explicam o fato de grande parte dos recémnascidos apresentarem um refluxo gastroesofágico de resolução espontânea, melhorando quando a criança inicia o sentar e manter-se de pé. Na maioria das vezes, regurgitações e vômitos iniciam entre um a quatro meses de idade, Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 68 diminuem no segundo semestre de vida e desaparecem com o amadurecimento da barreira anti-refluxo (KODA, 1996). Sabe-se que o refluxo se resolve naturalmente com o passar da idade. Os sintomas desaparecem em até 55% das crianças até os dez meses de idade, em 81% das menores de dezoito meses e em 98% até os dois anos. Nos lactentes, o RGE está associado a uma desordem no desenvolvimento da maturidade na motilidade gastrintestinal. Em geral, pode-se dizer que o RGE possui comportamento transitório em sua história natural, pois melhora com o tempo (MAYANS et al, 2002). 2.5.4 Barreira Anti-Refluxo Na fisiologia normal, ocorre um sistema de prevenção eficiente ao refluxo gastroesofágico, a barreira anti-refluxo. Ela é composta por elementos na transição entre o esôfago e o estômago, protegendo o organismo contra os efeitos do conteúdo gástrico, neutralizando seus efeitos ou impedindo seu movimento retrógrado (GASTRAL e PALOMBINI, 1997; AMARAL, 1999). Fatores anatômicos e funcionais compõem a BAR, que de acordo com Koda (1996) atuam em conjunto: ângulo de Hiss, pilar direito do diafragma, membrana freno-esofágica e disposição em rosetas das pregas da mucosa do fundo do estômago compondo os fatores anatômicos. O principal componente do fator funcional é o esfíncter inferior do esôfago (EIE). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 69 Figura 05: Mecanismos anti-refluxo. Fonte: CHINZON, 2002. 2.5.5 Fatores Funcionais da Barreira Anti-refluxo 2.5.5.1 Esfíncter Inferior do esôfago Para Koda (1996), o EIE é o principal fator funcional da BAR através de sua contração tônica, situado na porção distal desse órgão, com ação de suas fibras Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 70 musculares de sua camada circular. Permanece fechado em condições de repouso, abrindo somente na deglutição e permitindo a passagem do conteúdo esofágico. O EIE possui 2,5 a 4 cm de comprimento. Apresenta uma porção localizada no abdome e outra no canal que forma o hiato diafragmático, constituído pelo pilar direito do diafragma. Ele é responsável pela pressão expiratória final da junção esôfagogástrica (CASTRO et al, 1999). Segundo Koda (1996), um gradiente pressórico positivo entre o EIE e o estômago também mantém seu bom funcionamento. Assim, uma elevação da pressão intragástrica faz com que ocorra um aumento paralelo da pressão do EIE, atuando como um mecanismo reflexo vagovagal. Doses farmacológicas de agentes colinérgicos e anticolinérgicos, aumentam e diminuem a pressão do esfíncter, respectivamente. Vários hormônios podem ainda, alterar sua pressão, além de fatores de ordem ambiental, como fumo, obesidade e alimentação (GASTRAL e PALOMBINI, 1997). Para Koda (1996), alimentos ricos em gorduras, chocolates, cafeína, cítricos, nicotina, álcool e condimentos favorecem a diminuição da pressão do EIE, despertando os sintomas do refluxo. 2.5.5.2 Mecanismos de Clareamento Esofágico O Clareamento ou depuração esofágica ocorre toda vez que o material refluído do estômago atinge o esôfago, independente do refluxo ser fisiológico ou patológico, com a sucessão de eventos desencadeados pela deglutição. Induzindo ao peristaltismo e propulsão do alimento, resultando em aumento do pH intralumial. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 71 Juntamente com o peristaltismo, a saliva e o ortostatismo favorecem o clareamento (GASTRAL e PALOMBINI, 1997). De acordo com Koda (1996), o clareamento esofágico é caracterizado pela capacidade do esôfago de permanecer sempre vazio, fazendo com que o contato entre secreções digestivas e a mucosa esofágica seja mínimo, diminuindo o risco de lesões. A saliva diminui o efeito do RGE sobre a mucosa esofágica, pois estimula a deglutição e a acompanha naturalmente, favorecendo o retorno das secreções regurgitadas ao estômago e neutralizando secreções ácidas refluídas. Uma deglutição seguida de uma única seqüência peristáltica devolve ao estômago quase 100% do material ácido refluído. Segundo Castro et al (1999), o volume do refluxato a ser clareado e a neutralização do ácido favorecem o clareamento esofágico e dependem da atividade motora do esôfago, ou seja, da atividade peristáltica. A neutralização do ácido depende da capacidade tamponante do bicarbonato e proteínas da saliva e secreções da mucosa esofágica. 2.5.5.3 Resistência da Mucosa Esofágica A mucosa esofágica é sensível aos efeitos lesivos de substâncias como ácido clorídrico, pepsina e ácidos biliares. A proliferação das células do epitélio do esôfago faz parte da BAR, sendo importante quando os outros mecanismos protetores não conseguem conter o agente agressor. A resistência da mucosa pode Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 72 variar entre os indivíduos e é constituída por três fatores: pré-epiteliais, epiteliais, e pós-epiteliais (GASTRAL e PALOMBINI, 1997). • Fatores Pré-epiteliais Os fatores pré-epiteliais do epitélio gastroduoedenal são representados por muco, camada de água imóvel e concentrações de íons bicarbonato. Essa camada aquosa cria um ambiente alcalino em sua superfície tecidual. Já no epitélio esofágico, não é encontrada camada de muco e não é secretado bicarbonato, fazendo com que sua defesa inicial fique por conta dos fatores epiteliais (KODA, 1996; GASTRAL e PALOMBINI, 1997). • Fatores Epiteliais Os fatores epiteliais incluem a membrana celular, junções firmes, muco intracelular, transporte epitelial de íons, tampões hidrogênio intra e extracelulares e replicação celular. Estes fatores dificultam a penetração de ácido e pepsina, restando somente a própria capacidade neutralizadora do conteúdo celular (KODA, 1996). Os transportadores de membrana restauram o pH após a acidificação pela remoção do hidrogênio em troca do sódio extracelular. A replicação celular ocorre para reparo da lesão produzida através de hiperplasia celular da camada basal e em pacientes com DRGE está ligada a presença de íons hidrogênio na mucosa esofageana. Contudo, para Castro et al (1999), estes mecanismo ainda não são totalmente esclarecidos. Para Koda (1996), a capacidade tampão do íon hidrogênio intracelular é a capacidade celular de expelir esses íons para o fluído intersticial, onde são neutralizados e removidos pela circulação. • Fatores Pós-epiteliais Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 73 Os fatores de proteção localizados abaixo da mucosa esofágica e gástrica são dependentes do fluxo sangüíneo adequado. Quando ocorre uma exposição da mucosa esofageana ao ácido gástrico estes fatores de proteção proporcionam afluxo de bicarbonato aos tecidos para tamponamento intracelular de íons hidrogênio, removendo ácidos metabólicos e gás carbônico, além de liberar nutrientes para o metabolismo e reparo celular (CASTRO et al, 1999; KODA, 1996). 2.5.6 Fatores Anatômicos 2.5.6.1 Pilar Direito do Diafragma As fibras musculares do pilar direito do diafragma ou crura diafragmática, enlaçam o esôfago ao se contraírem, comprimindo-o e diminuindo sua luz, o que inibe o RGE através de um mecanismo de pinçamento muscular. Segundo Koda (1996), essa situação ocorre principalmente quando há aumento da pressão intraabdominal, como tosse, inspiração profunda e flexão do tórax. 2.5.6.2 Ângulo de Hiss Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 74 Para Gastral e Palombini (1997), o ângulo de Hiss corresponde uma projeção oblíqua da mucosa esofágica na região da junção esôfago-gástrica que varia entre os indivíduos, atuando mecanicamente como uma válvula de barreira anti-refluxo. Acredita-se que quanto mais agudo esse ângulo, mais forte o mecanismo anti-refluxo. 2.5.6.3 Ligamento Freno-esofágico De acordo com Castro et al (1999), o ligamento freno-esofágico é outro componente da junção esôfago-gástrica resultante da condensação do tecido conjuntivo frouxo e fáscia subperitoneal, originada da face interna do diafragma. Forma uma bainha membranosa ao redor do esôfago que ancora sua parte mais distal ao diafragma, permitindo seu deslizamento para fora e dentro do hiato durante o peristaltismo e relaxamento do EIE. Essa membrana não apenas ancora a transição esôfago-gástrica ao diafragma impedindo a ascensão do estômago para a cavidade torácica, como também antagoniza a força de contração tônica do EIE ao tracioná-lo (KODA, 1996). 2.5.6.4 Pregas da Mucosa do Fundo Gástrico Koda (1996) descrevem as pregas da mucosa do fundo do estômago como em disposição em roseta. São ricas em fibras elásticas, que ao se contraírem provocam o fechamento da cárdia. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 75 2.5.7 Fisiopatologia da DRGE Em meados dos anos trinta, considerava-se o RGE como um fenômeno patológico, ocorrendo quase sempre em casos de hérnia hiatal ou como conseqüência de uma redução persistente do tônus do EIE. Desde a evolução da tecnologia, que se tornou cada vez mais moderna e sofisticada para o estudo simultâneo do pH e motilidade esofageana, já não se considera mais a diminuição do tônus do EIE como mecanismo principal, responsável pela RGE. Nas duas últimas décadas foram consolidadas a existência do refluxo fisiológico e a ocorrência do chamado relaxamento transitório do EIE (RTEIE), que é uma queda abrupta da pressão deste esfíncter ao nível da pressão intragástrica, não induzida pela deglutição, quatro segundos antes a dois segundos após o relaxamento do EIE (CASTRO, 1999). Para Koda (1996) a etiopatogenia da DRGE é controversa, mas de um modo geral, consiste no desequilíbrio do balanço entre os fatores que protegem o esôfago contra o refluxo, como a BAR, clareamento esofágico e resistência da mucosa esofágica gerando aumento da freqüência e/ou duração dos episódios de refluxo e podendo provocar algumas complicações e os fatores que causam dano a este órgão, como volume e composição do material refluído, determinando aumento da lesividade do material refluído. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 76 Embora a pressão média no EIE seja mais baixa que em indivíduos normais, ocorre uma acentuada superposição dos músculos circulares situados acima e abaixo do EIE. Um esfíncter com tônus muito baixo ou relaxamento impróprio de um esfíncter normalmente competente podem estar associados ao refluxo. A hipotonia somente é a causa de casos da DRGE quando é menor que 5 mmHg, situação mais comum em pacientes com esofagite. Por isso, a hipotonia pode ser uma conseqüência da esofagite e não uma causa do refluxo, não podendo ser feita uma relação direta entre hipotonia e DRGE (COHEN e PARKMAN, 2001; KODA, 1996). Outras situações descritas por Koda (1996), incluem a insuficiência primária do EIE causando uma hipotonia esfincteriana decorrente de alteração muscular primária ou decorrente de alteração em sua inervação colinérgica. Pode ainda ser decorrente de uma diminuição na sensibilidade dos seus receptores à gastrina ou outros hormônios elaborados no aparelho digestivo, e de situações de esforço onde o diafragma se contrai e a pressão no nível do EIE aumenta contrapondo-se à pressão abdominal. Assim, o aumento da pressão abdominal é considerado fator etiológico da DRGE em pacientes com hérnia hiatal, e provavelmente as hérnias são mais comuns em indivíduos portadores de tosse crônica ou situações de esforço freqüente. Para Castro et al (1999), muitos pacientes refluem não apenas através de episódios de RTEIE como também durante o relaxamento do EIE induzido pela deglutição, particularmente em pacientes com pressão do EIE muito baixa ou ausente e durante esforço causado por inspiração profunda ou aumento da pressão abdominal. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 77 O RTEIE é um mecanismo adicional importante aos episódios normais e anormais do refluxo. Cabe saber diferenciar o relaxamento transitório do EIE do relaxamento induzido pela deglutição, que é uma resposta normal ao ato da deglutição e está relacionada ao peristaltismo. Durante este relaxamento o refluxo não é comum, constituindo somente 5 a 10% dos episódios de refluxo no indivíduo normal. O número de episódios aumenta quando ocorre alteração de peristaltismo ou quando há prolongamento do relaxamento determinado por uma série de deglutições em rápida sucessão, sendo de aproximadamente 25% dos episódios de refluxo. Nem todos os relaxamentos transitórios acompanham o refluxo. Em pacientes normais, 35% dos RTEIE são acompanhados de refluxo e pacientes com DRGE esta proporção torna-se 65% (KODA, 1996). Atualmente, o RTEIE é o mecanismo quase único do RGE fisiológico e ocorre independente da deglutição e peristaltismo esofágico. Os RTEIE são mais prolongados do que aqueles induzidos pela deglutição, durando de cindo a trinta segundos, enquanto o relaxamento induzido pela deglutição nunca é superior a oito segundos. Após o término do relaxamento transitório ocorre uma elevada amplitude de contração do EIE. O RTEIE incompleto é aquele onde a redução da pressão do EIE não alcança a pressão intragástrica e não se associa com o RGE (CASTRO et al, 1999). Segundo Koda (1996), este relaxamento espontâneo não ocorre na posição supina e seu estímulo é a distensão gástrica que resulta de um reflexo vagossimpático iniciado pela estimulação de mecanorreceptores da parede gástrica. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 78 De acordo com Castro et al (1999), durante o RTEIE ocorre não somente as alterações motoras da musculatura lisa do EIE, como também completa inibição da musculatura estriada da crura diafragmática além de outras estruturas situadas no tubo digestório superior e fora dele, que influenciam o fluxo através da junção esofagogástrica, como eventos simultâneos na faringe, no corpo do esôfago e estômago. Dentre os fatores moduladores da freqüência do RTEIE podem ser incluídos a postura, sono, anestesia e estresse. As posições de decúbitos suprimem quase totalmente os RTEIEs, ocorrendo somente em ortostatismo. Quando refluem durante a noite, o fazem durante curtos períodos em que os pacientes com DRGE despertam do sono, mesmo sem perceberem. O estresse também é capaz de reduzir sensivelmente a freqüência dos RTEIE, em pessoas saudáveis. A distensão gástrica resultante do esvaziamento gástrico retardado aumentaria não somente a freqüência dos RTEIE, como também o tempo durante o qual existiria conteúdo gástrico para refluir (CASTRO et al, 1999; KODA, 1996). O ácido colocado dentro do esôfago é eliminado de maneira inadequada em pacientes com DRGE. A remoção da regurgitação do ácido atua, fazendo com que maior parte do líquido retorne ao estômago através de contrações peristálticas e o restante da camada ácida que se adere à parede esofágica é neutralizado pela saliva deglutida. O ácido gástrico e a pepsina atuam na patogenia da DRGE, os sais biliares e as enzimas pancreáticas podem ser responsáveis em alguns pacientes. A combinação dos sais biliares e ácido é muito lesiva ao esôfago. Alterações do muco esofágico, saliva deglutida rica em bicarbonato e menor resistência da mucosa Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 79 esofágica à digestão são importantes na determinação do grau de lesão da mucosa na DRGE (COHEN e PARKMAN, 2001). O pacientes com DRGE apresentam episódios de refluxo mais freqüentes e com maior duração devido uma alteração do clareamento esofágico. Alterações funcionais do EIE e no peristaltismo esofágico são secundárias à exposição ácida da mucosa esofágica. Uma diminuição da eficácia do peristaltismo esofágico, volume salivar, freqüência das deglutições e da sensibilidade à presença ácida no esôfago ou aumento do volume e da acidez do material refluído podem ser responsáveis pelo retardo do clareamento esofágico. Embora este mecanismo atue limitando a duração do contato da mucosa esofágica com o material refluído, ele não é instantâneo e sempre operante. A diminuição da resistência da mucosa do esôfago é importante para desencadear o refluxo patológico (KODA, 1996). De acordo com Cohen e Parkaman (2001), o refluxo durante a gestação ocorre devido uma redução da força do EIE decorrente dos níveis aumentados de estrogênio e progesterona. O aumento de peso também tende a agravar o refluxo. Pelo menos duas áreas localizadas uma no estômago e outra na faringe são capazes de, quando devidamente estimuladas, deflagrar o reflexo que irá ativar o RTEIE. A distensão gástrica ativa os mecanorreceptores, iniciando um arco reflexo cujas fibras aferentes transitam pelo nervo vago até núcleos vagais superiores por conecções entre neurônios. Através de neurônios vagais eferentes o arco reflexo mediado por mensageiros químicos não adrenérgicos e não colinérgicos deflagram o RTEIE (CASTRO et al, 1999). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 80 2.5.8 Manifestações Clínicas da DRGE “O quadro clínico do refluxo gastroesofágico da criança reflete a complexidade desta patologia. Os sintomas podem simular outras patologias como distúrbios pulmonares abdominais e metabólicos” (AMARAL, 1999, p. 345). Segundo Gastral e Palombini (1997), as manifestações de cunho digestivo são denominadas típicas e todas as outras manifestações não usuais e não digestivas, são atípicas. A pirose, conhecida como azia, constitui a manifestação mais comum da DRGE, variando desde uma leve sensação de queimação após a ingestão de alimento em excesso até um desconforto intenso e constante, associada a dor retroesternal de caráter intermitente que limita o estilo de vida do paciente. A pirose quando muito incomodativa e em freqüência maior de dois episódios por semana, pode ser classificada em intensa. Este sintoma pode ainda deixar a criança extremamente irritada, chorando constantemente e até recusando alimentação. Geralmente é acompanhada de regurgitação do conteúdo gástrico para a boca ou árvore brônquica. Nestes casos podem aparecer sibilos noturnos, rouquidão e sensação de peso na base do pescoço (COHEN e PARKMAN, 2001; EISIG, FILHO e RODRIGUEZ, 1999). Para Koda (1996), o vômito em suas diversas formas é encontrado em até 90% dos casos da DRGE sob forma de simples regurgitação constante e duradoura ou vômito líquido, incolor ou esbranquiçado. Em alguns casos pode se apresentar em jato ou vômito alimentar durante, imediatamente ou após as refeições, formado Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 81 pelo próprio leite digerido ou não. Outra característica dos vômitos no RGE é a melhora na posição ortostática e pior em decúbitos. De acordo com Eisig, Filho e Rodriguez (1999) e Koda (1996), as manifestações respiratórias relacionadas ao refluxo gastroesofágico podem ser decorrentes de alterações na motilidade do corpo esofágico. Quando o material refluído atinge as vias respiratórias provoca faringite, laringite, traqueíte, bronquite de repetição, pneumonias recorrentes e crises de apnéia. Estas situações ocorrem principalmente em decúbito dorsal, especialmente durante o sono, juntamente com crises de tosse e dificuldade respiratória. Freqüentemente as crianças apresentam disfagia, podendo caracterizar o início da formação de estenose, ou seja, diminuição da luz do esôfago por edema ou por fibrose. Essa disfagia ocorre principalmente com sólidos, sendo aliviada pela deglutição repetida ou ingestão de água. Uma perda de sangue por um processo inflamatório decorrente de ulcerações superficiais esofágicas pode a longo prazo, provocar uma anemia (COHEN e PARKMAN, 2001). Sintomas menos comuns como síndrome de Sandfer que leva a uma postura anormal da cabeça ou torcicolite, manifestações neuropsiquiátricas, morte súbita do lactente, desnutrição e deficiência de peso quando o RGE é intenso, também são descritas por Koda (1996). A ocorrência de ácido gástrico no esôfago inferior desencadeia um reflexo vagal caracterizado por broncoespasmo e laringoespasmo através de receptores esofageanos. A criança possui um controle neuromuscular de sucção-deglutiçãorespiração ineficiente e por isso, durante um episódio de refluxo, pode haver aspiração pulmonar do conteúdo gástrico. Com isso, pneumonias e internações Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 82 freqüentes prejudicam o desenvolvimento neuropsicomotor normal das crianças (AMARAL, 1999). Algumas manifestações como granulomas de cordas vocais, estenoses subglóticas, úlceras de contato na laringe, globo faríngeo, e eventualmente otite média também podem estar associados ao refluxo gastroesofágico (GASTRAL e PALOMBINI, 1997). O refluxo gastroesofágico associado a problemas cardíacos tem sido demonstrado na literatura pediátrica. Axelrod apud Gastral e Palombini (1997), relatou um caso clínico onde um paciente portador de “disautonomia familiar” apresentava bradicardia induzida pelo refluxo. Após um tratamento cirúrgico, teve sua bradicardia controlada. Assim, manifestações como bradicardia e taquiarritmias podem ser observadas em pacientes neonatos e com disautonomia com refluxo gastroesofágico, porém esses mecanismos ainda não estão bem esclarecidos. 2.5.9 Complicações 2.5.9.1 Esofagite de Refluxo As lesões causadas na mucosa esofágica pelo material gástrico refluído provocam hiperplasia basal. Conforme o refluxo persiste, começa a ocorrer perda do epitélio escamoso que pode ocasionar ulcerações, inflamação crônica e fibrose Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 83 subepitelial, resultando em estenose. Quando esse refluxo intenso provoca inflamações e conseqüentes danos ao esôfago pode ser desenvolvida esofagite de refluxo. A esofagite de refluxo provoca alterações na motilidade esofagogástrica, diminuindo o clareamento esofágico e retardando o esvaziamento gástrico, aumentando assim, a duração dos episódios de refluxo e agravando o processo inflamatório (KODA, 1996). 2.5.9.2 Esôfago de Barret Após uma esofagite de refluxo crônica severa, o epitélio escamoso em cicatrização pode ser substituído por epitélio colunar especializado semelhante ao encontrado na mucosa gástrica com metaplasia intestinal (epitélio de Barret), podendo ser um precursor de adenocarcinoma de esôfago. Freqüentemente, o esôfago de Barret é encontrado em estenoses de porção média do esôfago (COHEN e PARKMAN, 2001). 2.5.9.3 Estenose Esofágica Segundo Cohen e Parkman (2001), após um longo período de persistência da patologia, pode aparecer estenose esofágica, habitualmente na extremidade Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 84 inferior do esôfago, próxima à junção esofagogástrica, podendo migrar para a parte média ou regiões mais altas com o passar dos anos. Os pacientes desenvolvem obstrução esofágica com estreitamento da luz deste órgão, que pode ser diminuída conforme o controle do RGE. O sintoma proeminente é a disfagia constante e lentamente progressiva, acompanhada ou não de dor. Inicialmente, ocorre dificuldade de ingestão para sólidos que progride para alimentos pastosos e líquidos, aumentando a freqüência dos vômitos e regurgitações (KODA, 1996). 2.5.9.4 Úlcera Esofágica Para Koda (1996), a ulceração péptica do esôfago afeta geralmente sua porção distal. Essas úlceras sangram com freqüência, provavelmente por uma erosão da artéria esofágica, e o epitélio de Barret é comum nesses pacientes. Pequenas estrias de sangue podem ser observadas no material regurgitado, em conseqüência aos processos inflamatórios e erosões da mucosa. 2.5.9.5 Aspiração Pulmonar Um refluxo acima do esfíncter esofágico superior poderá facilmente passar para a laringe e árvore traqueobrônquica, refletindo em sintomas respiratórios e Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 85 laríngeos como tosse, rouquidão, sibilos e crises asmatiformes principalmente durante a noite e em decúbito dorsal (GASTRAL e PALOMBINI, 1997). 2.5.10 Diagnóstico A anamnese e as manifestações clínicas da DRGE formam os elementos mais importantes para seu diagnóstico. Testes objetivos devem ser realizados para quantificar extensão e gravidade dos danos patológicos à mucosa esofágica. Os testes para avaliar a doença e suas variáveis diferenciam em testes para condições morfológicas e funcionais e testes para demonstrar ou quantificar o refluxo (GASTRAL e PALOMBINI, 1997). Segundo Cohen e Parkman (2001), em crianças e lactentes o refluxo pode ser medido por técnicas não-invasivas utilizando uma faixa abdominal para aumentar a pressão intra-abdominal e submeter a junção gastroesofágica a estresse. Examina-se a área esofágica com uma gamacâmara, após introduzir uma solução de colóide com enxofre no estômago. O diagnóstico diferencial deve ser feito em casos de intolerância à lactose, alergia a alimentos como proteína do leite de vaca, soja, ovo, malformações congênitas do trato gastrintestinal, estenose hipertrófica do piloro, enfermidades infecciosas como encefalites e infecções urinárias, enfermidades metabólicas como acidose renal, tumores intracranianos e síndrome de vômito cíclico (MAYANS et al, 2002). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 86 2.5.10.1 Estudo Radiológico A radiografia do esôfago contrastada com bário é útil para afastar processo suboclusivo que possa causar regurgitações e vômito, simulando um quadro de refluxo. Podem ainda detectar hérnia hiatal ou esofagites em fases avançadas, pois a mucosa se encontra edemaciada ou grosseiramente ulcerada (KODA, 1996). 2.5.10.2 Cintilografia A cintilografia consiste em acompanhar uma solução salina com tecnécio deglutida pelo paciente em posição supina e submetido a compressão abdominal. Permite identificar e quantificar o refluxo, sendo mais utilizada em pacientes pediátricos, porém é de custo elevado (GASTRAL e PALOMBINI, 1997). Para Koda (1996), este método é vantajoso por não ser invasivo e permite um tempo de monitorização maior, pois a irradiação é menor. Possibilita o estudo do esvaziamento gástrico e identificação da microaspiração pulmonar. 2.5.10.3 Manometria Esofágica A manometria do esôfago é utilizada como método coadjuvante na avaliação do RGE como transdutores de pressão e perfusão contínua do EIE para o Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 87 estudo das alterações motoras do esôfago. Permite verificar as pressões dos esfíncteres inferior, superior e corpo do esôfago durante o repouso, em condições de estresse e durante a deglutição (KODA, 1996). A manometria esofágica é útil em casos de disfagia crônica nos quais são descartadas estenoses, suspeita de aclasia do EIE, RGE associado a colagenopatias e transtornos motores do esôfago (MAYANS et al, 2002). 2.5.10.4 Monitorização do pH Intra-esofágico A monitorização do pH intra-esofágico detecta presença, freqüência, duração e gravidade do RGE, medindo diretamente o refluxo de íons hidrogênio em direção ao esôfago, onde normalmente o pH é alcalino. Um pH menor que quatro por mais de quinze segundos é interpretado como RGE. Esta técnica pode ser realizada por curto período de tempo, de uma a três horas, ou por período mais prolongado, durante vinte e quatro horas (KODA, 1996). Para Cohen e Parkman (2001), a monitorização do pH esofágico por 24 horas permite avaliar a relação do RGE com os demais sinais e sintomas (pirose, dor torácica, sibilos), os episódios de refluxo ácido, número de episódios de refluxo e período de tempo pelo qual o esôfago é acidificado. Episódios repetidos e prolongados de exposição ao ácido sugerem refluxo gastroesofágico anormal. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 88 2.5.10.5 Endoscopia e Biópsia Esofágica A endoscopia digestiva permite a visualização direta das alterações secundárias ao refluxo gastroesofágico como esofagites, úlceras, estenoses e a visualização das anomalias anatômicas associadas (KODA, 1996). Segundo Cohen e Parkman (2001), a endoscopia é indicada quando o paciente apresenta hematêmese com sintomas prolongados e não responde ao tratamento empírico ou quando houver manifestações sistêmicas como perda de peso, anemia e sangue nas fezes. Se o aspecto da mucosa esofágica for normal à endoscopia pode-se realizar biópsias para analisar evidências objetivas de esofagite microscópica. 2.5.10.6 Medicina Nuclear e Ultra-Som A medicina nuclear é de grande importância para o esvaziamento gástrico, porém é de alto custo e requer profissionais especializados. É documentado retardo do esvaziamento em 30 a 60% das crianças com RGE. O ultra-som é útil para conhecimento do esvaziamento gástrico em crianças menores de seis meses com alimentação exclusiva de leite. É simples e de baixo risco (MAYANS et al, 2002). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 89 2.6 Tratamento O tratamento da DRGE tem como objetivo reduzir o refluxo para proteger o esôfago e eventualmente as estruturas respiratórias do contato com os conteúdos gástrico e duodenal, diminuindo os riscos e intensidade das complicações. O tratamento pode ser cirúrgico ou clínico, este consiste no tratamento postural dietético e medicamentoso, dependendo dos achados de exames complementares (KODA, 1996). Para Amaral (1999), os resultados do tratamento são sempre positivos, fazendo com que a criança passe a apresentar pouco ou nenhum episódio de regurgitação e aspiração pulmonar devido aumento da força abdominal. Além de funcionar como anti-refluxo por aumentar a pressão no EIE, a musculatura abdominal diminui secreções e broncoespasmos, melhora a eficácia da tosse, expansão e ventilação pulmonar, melhorando o condicionamento físico. 2.6.1 Tratamento Cirúrgico Quando o tratamento conservador não é suficiente para remissão dos sintomas e complicações em aproximadamente seis meses a técnica cirúrgica é indicada. Visa restaurar a competência do esfíncter inferior do esôfago circundando a extremidade inferior deste órgão como um manguito de músculo fúndico gástrico (AMARAL, 1999; COHEN e PARKMAN, 2001). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 90 A intervenção cirúrgica, sendo mais utilizada via laparoscopia, deve ser decidida pelo médico e pelo paciente, especificando os aspectos desfavoráveis, como idade maior dos sessenta anos, cirurgia anti-refluxo prévia, rejeição do paciente, fator econômico e doença do colágeno e fatores favoráveis ao ato cirúrgico, incluindo idade abaixo de sessenta anos, aversão ao uso crônico de medicamentos, aceitação do paciente, ausência de colagenoses e cirurgião experiente (EISIG, FILHO e RODRIGUES, 1999). A realização da válvula anti-refluxo pela técnica de fundoplicatura à Nissen por videolaparoscopia alcançou grande aceitação. Atualmente discute-se sua durabilidade funcional em face ao tratamento medicamentoso, porém seu resultado em relação à sintomatologia e pequeno índice de complicações e morbidade são incomparáveis (FILHO, 1999). As estenoses esofágicas simples decorrentes da DRGE podem ser revertidas com dilatadores de borracha ou teflon. Estreitamentos sinuosos ou angulados são abordados sobre um fio-guia introduzido através de um endoscópio, sob controle radiográfico. Olivas de aço graduáveis, dilatadores com aumentos graduados de tamanho ou balão de diâmetro máximo podem ser passados sobre o fio previamente introduzido. Um balão de diâmetro máximo pode ser passado pelo canal de um endoscópio durante o diagnóstico, restaurando a luz esofágica e facilitando a deglutição sem dificuldades. Pacientes que não toleram a dilatação ou necessitam de dilatação vigorosa a cada três ou quatro semanas são submetidos a cirurgia anti-refluxo definitiva para regressão do estreitamento. Se o mesmo persistir após a cirurgia, uma substituição Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 91 do esôfago por cólon, jejuno ou estômago constituirá o último recurso, porém possui altas taxas de morbidade e mortalidade (COHEN e PARKMAN, 2001). 2.6.2 Tratamento Clínico Em grande parte dos pacientes com refluxo sintomático e aqueles indivíduos moderadamente afetados são utilizadas técnicas destinadas a alterar a freqüência ou tipo do refluxo. A elevação da cabeceira da cama em quinze a vinte centímetros é uma forma efetiva de prevenção. Abstinência de alimentos e de líquidos pelo menos três horas antes de deitar-se, diminuindo o volume de material disponível para o refluxo durante a noite, supressão de alimentos que podem diminuir a pressão do EIE e evitar ingerir alimentos em excesso também favorecem a prevenção e diminuição do RGE (COHEN e PARKMAN, 2001). 2.6.2.1 Tratamento Dietético Para Koda (1996), o tratamento dietético consiste em evitar alimentos estimulantes da secreção ácida que diminuem a força de contração do EIE e que retardem o esvaziamento gástrico. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 92 Em crianças pequenas, a dieta láctea deve ser espessada com farináceos na concentração de 3 a 5%. Para crianças com aleitamento natural, o leite materno deve ser mantido. As mães devem ser orientadas a cozinhar bem os alimentos, reduzir gorduras, temperos, evitar frutas cítricas, chocolates, café, chás, refrigerantes e hortaliças cruas. Eliminar da dieta condimentos, enlatados e doces. As refeições não devem ser muito quentes ou muito frias e fracionadas em pequenos volumes. Recomendase ainda comer devagar, sem associação com líquidos momentos antes ou durante às refeições e não dormir logo após a alimentação (KODA, 1996; AMARAL, 1999). Figura. 06: Medidas Comportamentais. Medidas comportamentais no tratamento da DRGE Medidas • Evitar refeições volumosas; Justificativa • Condições que elevam a • Evitar bebidas gasosas; pressão intra-abdominal ou • Combater a obstipação intestinal. intragástrica. • Evitar deitar-se após das refeições, obedecendo intervalo mínimo de 1,5 a 2 • Perda do fator gravidade. hrs após a última refeição. • Evitar alimentos gordurosos, chocolate, chá, café. • Abolir o tabagismo. • Provocam redução na pressão do EIE. • Provoca redução na pressão do Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 93 EIE. • Evitar bebidas alcoólicas. • É controverso; reduz a pressão do EIE e clareamento esofágico. • Elevar cabeceira da cama em 15cm. • Favorece ação da gravidade, auxilia o clareamento. Fonte: EISIG, FILHO e RODRIGUEZ, 1999. 2.6.2.2 Tratamento Postural O tratamento postural reduz significativamente a freqüência e duração dos episódios de refluxo dentro de duas a quatro semanas, e pode ser interrompido após serem registradas seis semanas sem sintomas. Para crianças pequenas, as posições ideais são decúbito dorsal elevado a 45 até 60º ou ventral elevado a 30º durante 24 horas, facilitando o esvaziamento gástrico. Logo após as mamadas, a criança poderá ficar no berço em decúbito lateral direito ou decúbito ventral elevado, porém a manutenção desta postura é difícil quando as crianças se tornam maiores (KODA, 1996; AMARAL, 1999). 2.6.2.3 Tratamento Medicamentoso Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 94 De acordo com Koda (1996), o tratamento medicamentoso visa melhorar o desempenho do EIE como barreira anti-refluxo, reduzindo ou amenizando os fatores agressores, atuando por quatro a oito semanas. Dentre as drogas que agem sobre o EIE está o cloridrato de betanecol, que é um éter sintético estrutural, análogo da acetilcolina e que possui ação direta sobre os receptores da fibra muscular lisa. No esôfago, aumenta a pressão do EIE e o peristaltismo, favorecendo o clareamento esofágico e BAR. A metoclopramida é um agente antagonista central e periférico da dopamina e colinérgico que aumenta a pressão do EIE e acelera o esvaziamento esofágico melhorando a BAR, coordena o funcionamento pilórico facilitando o esvaziamento gástrico, o que diminui o volume disponível para o refluxo. A ação do bromopride se faz pelo aumento da liberação de acetilcolina e antagonista central e periférico da dopamina. Aumenta a pressão do EIE e age sobre a motricidade do antro, facilitando o esvaziamento gástrico. A domperidona é um antagonista dopaminérgico, com ação periférica. Eleva a pressão do EIE, acelera o esvaziamento gástrico, aumenta a contratilidade gástrica, aumenta a peristalse e coordenação antroduodenal. A cisaprida é de uso recente e sua experiência em crianças ainda é pequena e através de seu mecanismo de ação, aumenta a liberação fisiológica da acetilcolina pelas terminações nervosas dos neurônios pós-ganglionares do plexo mioentérico na musculatura lisa gastrintestinal. Aumenta a pressão do EIE, motilidade esofágica e acelera o esvaziamento gástrico (KODA, 1996). Pacientes com esofagite têm necessidade de redução da agressão representada pelo ácido. Nestes casos são utilizados fármacos que mantém o maior tempo possível o pH acima de quatro, como os inibidores da bomba de prótons. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 95 Estes, podem agir na cicatrização da mucosa. O tratamento deve ser inferior a oito semanas, em doses diárias (EISIG, FILHO e RODRIGUEZ, 1999). 2.6.3 Tratamento Fisioterapêutico Inúmeras ações fisioterapêuticas preventivas, simples e eficazes são importantes para serem orientadas durante o tratamento da DRGE, quanto aos cuidados com a criança em seu domicílio. A mãe deverá fracionar a dieta aumentando sua consistência, oferecendo-a com a criança bem elevada no colo e não posicioná-la em decúbitos logo após as mamadas. Orientar para que regule o furo do bico da mamadeira, que deve ser pequeno para evitar engasgos; “incentivar” uma chupeta ortodôntica até seis meses de idade para favorecer o desenvolvimento do sistema motor oral, melhorando a relação sucção-deglutição-respiração, pois a deficiência desta relação pode favorecer o refluxo. O tratamento compreende a fase aguda, em que a criança encontra-se hospitalizada, e a fase crônica, com acompanhamento ambulatorial. Realiza-se com a criança elevada, sempre uma hora antes da alimentação para não favorecer o refluxo e visando o reequilíbrio tóraco-abdominal (AMARAL, 1999). Na fase aguda a criança apresenta esforço respiratório intenso, prejudicando o desenvolvimento neuropsicomotor. Deve-se corrigir posturas e padrões anormais e posicionamento no leito, favorecendo simetria e padrão postural fisiológico. Mudanças de decúbito são importantes para evitar atelectasias. Alongamentos de músculos acessórios da inspiração, solicitados durante aumento do trabalho respiratório, propriocepção diafragmática para melhorar a ventilação e profundidade da respiração normalizando o padrão ventilatório também devem ser Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 96 enfatizados, assim como manobras desobstrutivas e ventilatórias para manter as vias aéreas permeáveis, evitando acúmulo de secreções e aumento da resistência das vias aéreas. Estas manobras favorecem o aumento da potência e da eficácia do diafragma, que possui importante papel na BAR. Na fase crônica o tratamento é mais intenso, visando o reforço muscular e condicionamento físico para uma maior resistência às crises e fadiga. Nesta fase, as condutas favorecem o desenvolvimento neuropsicomotor, fortalecimento e alongamento dos músculos respiratórios. Fortalecimento diafragmático, abdominal e exercícios de equilíbrio para fortalecer músculos do tronco, manobras ventilatórias e desobstrutivas devem ser promovidos, bem como exercícios de recondicionamento físico (AMARAL, 1999). 2.6.5.1 Tratamento Osteopático A osteopatia não vê mais apenas o corpo do ponto de vista articular e de manobras unicamente estruturais. Hoje ela é estrutural, visceral e craniana, facilitando o entendimento dos desequilíbrios do corpo e elaboração de condutas para restauração das disfunções, visando a homeostasia (OLIVEIRA, 2003). Ricard e Sallé (2002) afirmam que a osteopatia, segundo os conceitos de A. Still, “pai da osteopatia, baseia-se em quatro grandes princípios básicos em sua terapia holística, sendo eles: • A Estrutura Determina a Função Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 97 O ser humano é composto por estruturas, cada uma com determinadas funções e representando diferentes partes do corpo, porém o homem é único e indivisível. Se a estrutura está em harmonia a enfermidade não ocorre e a função é preservada, constituindo o primeiro princípio. • A Unidade do Corpo O organismo possui a capacidade de buscar seu equilíbrio, ou seja, de promover homeostasia. O mesmo ocorre na unidade do sistema miofascioesquelético, que é capaz de guardar na memória os traumatismos sofridos. • A Autocura O corpo é capaz de autocurar-se, tendo em si mesmo os meios necessários para eliminar ou prevenir patologias. Para que isso ocorra, estes meios devem estar livres e funcionando corretamente. • A Lei da Artéria A regra da artéria é absoluta, pois o sangue é o meio de transporte de todos os elementos, assegurando uma imunidade natural. Uma perturbação da artéria levará a uma deficiência na circulação, tendo como conseqüências um retorno venoso mais lento, acumulando toxinas. Segundo Ricard e Sallé (2002), as vísceras estão suspensas por estruturas ósseas e musculares vertebrocostais fazendo com que uma disfunção somática possa perturbar diretamente a mobilidade visceral. A boa função das vísceras está relacionada a sua mobilidade fisiológica, sua boa vascularização e inervação. A fáscia é quem limita o movimento visceral, e através de uma limitação pode provocar uma estase vascular e um circuito medular nociceptivo, resultado de uma lesão musculoesquelética. As vísceras não possuem inervação à dor, porém seus Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 98 envoltórios são sensíveis a estímulos nocivos, podendo ser a origem de um reflexo neurovegetativo nociceptivo. Figura. 07: Inervação Sensitiva e Neurovegetativa das Vísceras. Fonte: RICARD e SALLÉ, 2002. A osteopatia visceral se constitui basicamente ao uso de manobras passivas articulares e alongamentos miofasciais para o tratamento de disfunções de órgãos peritoneais e estruturas adjacentes (SALGADO, 2002 apud OLIVEIRA, 2003). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 99 Diferentes mecanismos lesionais provocam uma disfunção osteopática visceral. As vísceras sofrem influências do diafragma, que por sua vez é influenciado pelas costelas e vértebras concernentes, assim como pelo nervo frênico, que possui correspondências nas terceira e quarta vértebras cervicais. As vísceras são submetidas ao controle de centros medulares neurovegetativos simpáticos, gânglios laterovertebrais e controle parassimpático representado pelo nervo vago e cadeia sacral. O diagnóstico da osteopatia visceral é composto pela anamnese, inspeção e palpação, que consiste em buscar pontos gatilhos viscerais relacionados a zonas de aderências ou espasmos da musculatura lisa principalmente em regiões de esfíncteres, traduzindo uma disfunção neurovegetativa do órgão; buscar os endurecimentos ou zonas dolorosas permitindo estudar os músculos abdominais que podem ser responsáveis pelas dores referidas, simulando uma lesão visceral. A palpação superficial permite a observação do tecido subcutâneo e fáscia superficial e a palpação profunda permite a palpação direta das vísceras. Uma lesão visceral pode ser confirmada através de uma celulalgia cutânea durante a manobra de rolamento da pele do abdome, revelando uma dermalgia reflexa localizada. A palpação visceral é realizada com os dedos interpostos. Existem zonas fisiologicamente líquidas, refletindo macicez e zonas de ar, timpanismo. Quando estas zonas estão aumentadas ou localizadas em outras regiões é sinal de processo patológico, ocasionando uma atonia, hipertonia, distensão ou espasmos da musculatura lisa (RICARD e SALLÉ, 2002). Durante o tratamento osteopático da DRGE, devem ser normalizadas as relações do estômago primeiramente, para então tratar a víscera diretamente. A mobilidade do estômago depende da integridade das vísceras adjacentes e dos Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 100 sistemas ligamentar e fascial que as une. Sabe-se que o estômago está diretamente ligado ao diafragma através do esôfago e ligamento frênico-gástrico. Por isso, todas estas estruturas também devem ser foco do tratamento para o bom funcionamento do estômago. As relações neurológicas de importância ao tratamento, visa um equilíbrio entre o sistema nervoso simpático e o parassimpático, incluindo a inervação simpática (T4-T5-T6) através da inervação pelo nervo esplâncnico e parassimpática (através da saída do nervo vago pelo forame jugular) do estômago, que devem estar equilibradas para que não ocorram arcos-reflexos patológicos que poderão alterar o funcionamento desta víscera (OLIVEIRA, 2003). Existe uma mobilidade visceral induzida pela ação diafragmática, que desce durante a inspiração conduzindo globalmente com ele, todas as vísceras. No caso do estômago, o diafragma induz sua descida global, mas como a cúpula esquerda do diafragma é mais baixa o estômago realiza uma látero-flexão esquerda associada a uma rotação à direita, devido à tração do omento menor (ligamento hepatogástrico) (RICARD e SALLÉ, 2002). Para Cohen e Parkman (2001), os pilares do diafragmáticos circundam a junção gastroesofágica para aumentar o EIE intrínseco. Em uma hérnia hiatal, observa-se deslocamento anatômico do EIE e dos pilares do diafragma. O mesmo ocorre na DRGE, pois se sabe que uma disfunção visceral provoca alteração da fáscia peritoneal, fazendo com que ocorra retração das estruturas adjacentes. Por isso é de grande importância incluir no tratamento as liberações fascial e diafragmática. Assim, a diminuição da retração da fáscia peritoneal e o efeito de bomba hemodinâmica do diafragma às vísceras abdominais garantem boa funcionalidade a toda região comprometida. Segundo Oliveira (2003), o diafragma Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 101 recebe sua inervação através do nervo frênico, que parte dos níveis cervicais C3 e C4, portanto, a região cervical também deve ser avaliada. Ricard e Sallé (2002) descrevem uma lesão do grupo de vértebras T4-T5T6, que correspondem à inervação do estômago. Se o princípio da artéria estiver comprometido, o sangue arterial chegará com mais dificuldade a este órgão; o fluxo venoso vegetativo estará diminuído; o retorno venoso e linfático mais lentos. O estômago não estará doente porém funcionará com mais dificuldade, tornando-se vulnerável. A enfermidade se instala em um órgão debilitado, ou seja, é a lei do menor esforço. Basta um estresse forte e o estômago não responderá corretamente gerando uma gastrite ou princípio de úlcera gástrica. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 102 3 METODOLOGIA O estudo descrito é parte do projeto de pesquisa intitulado “Tratamento Fisioterapêutico de Refluxo Gastroesofágico de Lactentes jovens através da Terapia Manual.”, aprovado pelo Comitê de Ética e pesquisa do Centro de Ciências Biológicas e de Saúde (CCBS). Trata-se de um estudo qualitativo, através de uma pesquisa realizada para solução de um problema específico, analisando a evolução do número de episódios de refluxo durante o período de atendimento dos pacientes, através da terapia manual. 3.1 Caracterização do Estudo O estudo em questão trata-se de um ensaio clínico não randomizado. 3.2 Caracterização da Amostra Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 103 A amostra foi composta de dez indivíduos de ambos os sexos, com faixa etária entre zero e quatro meses, acompanhados de diagnóstico clínico de refluxo gastroesofágico. Após a seleção, os pacientes foram submetidos a uma avaliação inicial de acordo com as metas previamente desenvolvidas (Apêndice A). Para participarem do estudo foram consideradas ainda a disponibilidade de tempo, meios de transporte e aceitação da rotina de tratamento pela mãe, com justificativas no caso de faltas e reposição do atendimento, sendo que a mesma foi reposta na mesma semana da falta. A mãe de cada paciente, após concordar com o tratamento, assinou o termo de consentimento livre e esclarecido. 3.3 Instrumentos e Procedimentos 3.3.1 Avaliação dos pacientes Na avaliação inicial, foram coletados dados como anamnese, dados pessoais (nome completo, idade, data de nascimento, raça, endereço, telefone), nome, raça e idade da mãe, idade gestacional, tipo de parto, tipo e horário de alimentação, uso de medicamentos, intensidade da regurgitação considerada pela mãe (leve, moderado ou grave), horários mais freqüentes, condições agravantes e o número de episódios Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 104 de regurgitações por dia. A variável utilizada foi freqüência dos episódios de regurgitações. Após a avaliação, as mães receberam informações para que a criança comparecesse à terapia em jejum de no mínimo uma hora antes de cada atendimento. 3.3 Tratamento e Evolução O protocolo de intervenção fisioterapêutica, realizado nas dependências da Clínica de Fisioterapia da UNIOESTE no período de junho a setembro de 2004, foi aplicado semanalmente, durante cinco semanas, com aproximadamente vinte minutos cada atendimento. Este protocolo incluía quatro etapas: liberação do nervo vago através da terapia craniana do forame jugular, liberação dos gânglios simpáticos através da mobilização das vértebras torácicas (T4-T5-T6), liberações diafragmática e fascial do estômago. Cada etapa do protocolo de atendimento foi realizado em uma duração de dois minutos. A evolução do tratamento de cada paciente foi analisada a partir de uma ficha de evolução diária destinada às mães, em relação às características patológicas, ou seja, número de episódios de regurgitações e intensidade das mesmas ao dia. Estas fichas foram entregues no primeiro atendimento e devolvidas somente no último atendimento, com todas as informações devidamente descritas (Apêndice B). 3.3.1 Terapia Craniana Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 105 Segundo Chaitow (2001), o osso occiptal se articula com os temporais através da incisura jugular do occiptal e fossa jugular do temporal. A atuação no sistema nervoso parassimpático foi realizada a partir de uma técnica que visa a abertura do forame jugular, pela manipulação dos ossos occiptal e temporal do crânio, bilateralmente, visando a liberação dos nervos vagos através deste forame, que além deste nervo craniano passam por ele os nervos glossofaríngeo, acessório, artéria meníngea posterior, seio sigmóide e seio petroso. O paciente posiciona-se em decúbito dorsal com rotação da cabeça para o lado a ser mobilizado, ou seja, um lado de cada vez. As mãos do terapeuta são posicionadas da seguinte maneira: indicador na região de processo mastóide e dedo médio próximo ao côndilo occiptal no lado a ser trabalhado; a outra mão repousa sobre a face do paciente para estabilização cervical. O indicador e dedo médio realizam um movimento de abertura, afastando-se os dedos, sem perder o contato com a pele do paciente (RICARD, 2002). Figura 08: Posicionamento dos dedos para abertura do forame jugular. Figura 09: Liberação do Nervo Vago. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 106 Fonte: Da autora. Fonte: Da autora. 3.3.2 Sistema Nervoso Simpático Para a normalização do sistema nervoso simpático, visando normalizar as estruturas de inervação da região gastroesofágica, foi realizada uma técnica de oscilação das vértebras torácicas T4-T5-T6, segundo Salgado (2004), correspondentes à inervação simpática, nervo esplâncnico, da região em estudo. Com paciente em decúbito lateral, o terapeuta posiciona suas falanges distais sobre os processos espinhosos destas vértebras e realiza um movimento oscilatório de “empurrar” as vértebras em sentido póstero-anterior. Figura 10: Liberação do Sistema Nervoso Simpático. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 107 Fonte: Da autora. 3.3.3 Liberação diafragmática A liberação do diafragma no tratamento do refluxo gastroesofágico consiste em arrastar com as pontas dos polegares toda a região diafragmática, contornando os bordos inferiores das últimas costelas desde o processo xifóide até a porta da 12ª costela (SOUCHARD, 1989). Figura 11: Liberação Diafragmática. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 108 Fonte: Da autora. 3.3.4 Liberação Fascial Global do Estômago Com o paciente em decúbito dorsal, localiza-se o estômago, percutindo toda a região inferior das últimas costelas, buscando um som timpânico. Após sua localização, posiciona-se os dois polegares sobre ele e com leve pressão traciona-o para caudalmente e em direção à cicatriz umbilical durante a expiração do paciente (BARRAL e MERCIER, 1983). Como as crianças possuem um ritmo respiratório característico, 1:1, a tração do estômago foi mantida por dois ou três ciclos respiratórios. Esta técnica favorece a mobilidade fisiológica do estômago, sendo que o mesmo desce, roda à direita realiza uma lateroflexão à esquerda (RICARD e SALLÉ, 2002). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 109 Fig. 12: Liberação Fascial Global do Estômago. Fonte: Da autora. 4 RESULTADOS Após o levantamento de dados bibliográficos e a partir da aplicação do protocolo de tratamento em uma amostra de dez pacientes, foram obtidos os seguintes resultados, caracterizando a população pesquisada. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 110 As variáveis independentes avaliadas e relacionadas aos perfis dos pacientes incluem idade dos pacientes, idade gestacional ao nascimento, idade das mães, tipo de parto, tipo de alimentação e uso de medicamentos. A amostra foi composta por pacientes com uma média de 3,1 meses de idade, sendo que haviam 2 pacientes com dois meses, 5 com três meses e 3 com quatro meses de idade (gráfico 01). Idade dos Pacientes 6 2 meses 3 meses 4 meses Nº de 4 pacientes 2 0 Meses Gráfico 01: Idade ao Início do Atendimento. Fonte: Da autora. Dos pacientes incluídos na amostra, verificou-se uma média de idade gestacional ao nascimento de 33,8 semanas (gráfico 02). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 111 Idade Gestacional ao Nascimento 2 1,5 Nº de pacientes 1 0,5 0 Idade Gestacional 27 32 33 34 36 38 42 semanas semanas semanas semanas semanas semanas semanas Gráfico 02: Idade Gestacional ao Nascimento. Fonte: Da autora. As idades das mães dos pacientes colhidas durante a avaliação resultaram em uma média de 24,8 anos. Outras variáveis analisadas foram o tipo de parto, tipo de alimentação e uso de medicamentos. Dos nascimentos dos pacientes incluídos na amostra 70% se deu através de parto cesárea e 30%, parto normal (gráfico 03). Tipos de Parto 30% Parto Normal Parto Cesária 70% Gráfico 03: Tipos de parto. Fonte: Da autora. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 112 O aleitamento exclusivamente materno foi encontrado em 80% dos pacientes no início do tratamento, 20% mamadeira através de suplementos alimentares ou leite de vaca (gráfico 04). Tipo de Alimentação 20% Mamadeira Leite Materno 80% Gráfico 04: Tipo de Alimentação. Fonte: Da autora. Outro fator analisado e de grande relevância para a pesquisa foi o uso de medicamentos para controle do refluxo gastroesofágico. De acordo com os resultados obtidos e representados no gráfico 05, 80% dos pacientes utilizavam medicamentos e 20% não utilizavam. Uso de Medicamentos 20% Utilizam Não Utilizam 80% Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 113 Gráfico 05: Uso de Medicamentos ao início do tratamento. Fonte: Da autora. A partir da segunda semana de atendimento o paciente A, que utilizava medicamento três vezes por dia, passou a diminuí-lo progressivamente até cessar o medicamento na quarta semana. Da segunda para terceira semana de atendimento houve um pequeno aumento no número de regurgitações, semana em que iniciou o uso complemento alimentar. Para o paciente B houve diminuição significativa na intensidade das regurgitações relatadas pela mãe a partir da terceira semana, onde o medicamento foi diminuído até ser suspenso na quarta semana. Durante a segunda semana houve diminuição do medicamento do paciente C de duas para uma vez por dia; após a terceira semana, este foi suspenso totalmente. A intensidade das regurgitações passou de severo para leve, segundo informações da mãe, a partir da terceira semana. Já o paciente D, após a segunda semana de atendimento passou de três para duas vezes por dia o uso de medicamento; na terceira semana fez uso somente uma vez ao dia e a partir da quarta semana foi suspenso. Este paciente, no decorrer da terceira semana foi submetido à vacinação, onde apresentou febre e maior número de regurgitações, segundo informações colhidas. Na segunda semana, o paciente E, que fazia uso de dois medicamentos anti-refluxo, passou a fazer de um medicamento uma vez ao dia e o outro, três vezes; na terceira semana permaneceu apenas sob o efeito de um medicamento e este, uma vez ao dia. Durante toda a quarta semana permaneceu internado no Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP) com o diagnóstico de broncopneumonia e infecção por rotavírus, onde os medicamentos voltaram a ser Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 114 controlados. Após sua saída do hospital, foi administrado durante a quinta semana, um medicamento três a quatro vezes. Os paciente F, I e J, durante todos os atendimentos, não apresentaram intercorrências, sendo que a medicação foi progressivamente dispensada no decorrer das semanas. Sem utilizarem medicamentos, os pacientes G e H evoluíram normalmente, apresentando diminuição significativa na intensidade das regurgitações, segundo informações obtidas da mãe. Os gráficos individuais, caracterizando a evolução semanal de cada paciente encontram-se entre os apêndices (Apêndice C). Houve uma diminuição significativa do número de episódios de regurgitação, resultando em uma melhora de 77,94%. De acordo com os resultados obtidos, houve uma melhora média de 5,67% da primeira semana em relação à segunda; 12,71% da segunda para terceira; 36,26% da terceira para a quarta e 27,4% da quarta para a quinta semana de atendimento. A média do número de regurgitações dos dez pacientes, por semana de atendimento, foi a seguinte: na primeira semana, a média de episódios foi de 20,4 por semana; na segunda semana, 19,3; na terceira, 16,7; na quarta 10,1 e na quinta semana, 4,5 episódios de regurgitação (gráfico 06). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 115 5ª semana 4ª semana 3ª semana 2ª semana 25 20 15 nº refluxos 10 5 0 1ª semana Evolução do Tratamento Gráfico 06: Evolução do Tratamento. Fonte: Da autora. Ao término dos atendimentos, 20% dos pacientes não apresentaram nenhum episódio de regurgitação. Um episódio foi observado em 10% dos pacientes; 20% apresentaram dois episódios semanais; 40% sete episódios e 10% dos pacientes apresentaram doze ocorrências de regurgitações no decorrer da última semana de atendimento (gráfico 07). Término dos Atendimentos 10% 20% 10% 40% 20% 0 Episódios 1 Episódio 2 Episódios 7 Episódios 12 Episódios Gráfico 07: Episódios de Regurgitações ao Término dos Atendimentos. Fonte: Da autora. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 116 5 DISCUSSÃO O RGE é uma disfunção bastante comum em indivíduos de até um ano de idade acometendo 10% dos lactentes (MAYANS et al, 2002). Dentre as complicações decorrentes da DRGE, as principais são as respiratórias, responsáveis por um terço dos problemas pulmonares crônicos e recorrentes em crianças (AMARAL, 1999). De acordo com Koda (1996), lactentes jovens apresentam o EIE mais curto e hipotônico, normalizando-se aos dois meses de idade, ângulo de Hiss mais aberto e parte abdominal do esôfago mais curta, favorecendo o movimento retrógrado do conteúdo gástrico para o esôfago. Segundo Koda (1996), grande parte dos recém-nascidos apresentam resolução espontânea do RGE, assim que a criança inicia o sentar e manter-se de pé. Na maioria das vezes, inicia-se entre um a quatro meses de idade, diminuindo no segundo semestre de vida, desaparecendo no segundo ano, com amadurecimento da BAR. Sabendo que a média de idade dos pacientes foi de 3,1 meses de idade, pôde ser observada uma aceleração na resolução das regurgitações, ou seja, houve uma diminuição significativa do RGE em até cinco semanas. Portando, ocorrendo antes do segundo semestre de vida e do sentar da criança, que segundo Flehming (2000), inicia-se a partir do quarto mês de vida. Em 20% destes pacientes, a resolução foi completa, ainda não haviam iniciado o sentar durante o Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 117 período de atendimento, mostrando que o protocolo de terapia manual cessou os refluxos antes do tempo previsto de amadurecimento da BAR. A amostra do presente estudo incluía pacientes com uma média de idade gestacional ao nascimento de 33,8 semanas, revelando uma média de pacientes considerados prematuros (menos de 36 semanas completas). Este dado pode ser relacionado à DRGE, pois segundo Newll e cols (1989) apud Parker e Prasad (2002), o RGE atinge 80% das crianças pré-termo. Dos pacientes, 70% nasceram através de parto cesárea e 30%, parto normal. Assim, houve uma maior prevalência de RGE naqueles pacientes nascidos de parto cesárea, quando comparados dentro da própria amostra. Quanto ao fator alimentação, foi incluído esperando-se que a maioria dos pacientes não se alimentasse por leite materno, porém constatou-se que 80% alimentavam-se por leite materno, não encontrando relação quanto ao tipo de alimentação e incidência de RGE. Contudo, grande parte das mães já havia recebido orientações quando ao posicionamento da criança, fracionamento e redução da quantidade da dieta em consultas prévias. Apesar de não constar entre as variáveis independentes avaliadas, todos os pacientes apresentaram episódios de soluços entre as crises de refluxo, como relatados pelas mães. Este fato comprova a importância da integridade do diafragma à junção esôfago-gástrica, pois segundo Gardner, Gray e O’Rahilly (1978), os soluços são contrações espasmódicas do diafragma. De acordo com a literatura, os recursos disponíveis de tratamento são restritos a tratamento cirúrgico e clínico, incluindo uso de medicamentos e orientações. O tratamento cirúrgico, realizado principalmente via laparoscopia, é indicado quando Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 118 a sintomatologia e complicações persistem por mais de seis meses. O tratamento clínico através de orientações alimentares e posturais visa reduzir a freqüência e duração dos episódios de refluxo em aproximadamente seis semanas (AMARAL, 1999). O tratamento medicamentoso é utilizado para melhorar o desempenho do EIE como barreira anti-refluxo, reduzindo ou amenizando os fatores agressores, atuando por quatro a oito semanas (KODA, 1996), porém não é apresentado um percentual de melhora esperado em relação à redução ou resolução das regurgitações. Estes dados, quando comparados aos obtidos pela pesquisa em questão, reforçam a eficácia do protocolo utilizado, que mostrou resultados favoráveis, justificados pela aplicação da terapia manual, sendo que foi observada uma redução do número de episódios de refluxo por semana de 77,26% após cinco atendimentos semanais, com conseqüente melhora da função digestória e qualidade de vida. Como descrito por Eisig, Filho e Rodriguez (1999), a DRGE é de elevada morbidade, cuja sintomatologia prejudica a qualidade de vida dos pacientes que sofrem desta patologia. Koda (1996) ainda descreve que o refluxo melhora espontaneamente em 55% das crianças até os 10 meses, 81% até os 18 meses e 98% até os dois anos. Assim, houve uma melhora significativa após o tratamento, 77,26% do número de regurgitações em cinco semanas, acelerando sua resolução. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 119 6 CONCLUSÃO A literatura específica sobre o tratamento da DRGE através da terapia manual é bastante escassa e não fornece referências suficientes para análise e discussão dos resultados observados neste estudo. Após a realização desta pesquisa, concluiu-se que a fisioterapia atuando na DRGE através da terapia manual é de grande eficácia na diminuição do número de regurgitações e sua intensidade, visto que acelera sua resolução e mostra-se mais vantajosa quando comparada a outros tipos de tratamento, como medicamentoso e cirúrgico. A diminuição da sintomatologia, prevenindo o aparecimento e evolução das complicações decorrentes da patologia resultam em restauração da função digestória, diafragmática e conseqüentemente, a qualidade de vida dos pacientes. Tais resultados, previnem a realização de uma provável cirurgia se os sintomas não reduzissem em até seis semanas. A evolução dos pacientes pode ser considerada subjetiva, pois não é possível saber se as anotações descritas pelas mães nas evoluções diárias são fidedignas em relação ao número exato dos episódios de refluxos semanais. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 120 Sugere-se, naqueles pacientes onde a resolução completa do refluxo não foi atingida no período de tratamento estipulado pelo protocolo, que haja continuidade no atendimento por um período maior de semanas, com o propósito de anular o número das regurgitações. 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMARAL, J. F. Refluxo gastroesofágico (RGE). In: SOUZA, E. L. B. L. et al. Fisioterapia aplicada à obstetrícia e aspectos de neonatologia: Uma visão multidisciplinar. 2 ed. Belo Horizonte: Health, 1999. Aztrazeneca. Disponível em: <http://www.astrazeneca.com.br/Pacientes/Gastrointestinal/dica_03.asp> Acessado em 06/07/2004. BARRAL, J. 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Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 123 8 APÊNDICES Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 124 APÊNDICE A: Ficha de Avaliação Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 125 QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO IDENTIFICAÇÃO Nome:____________________________________________________________ Idade:_____________________________________________________________ Endereço:____________________________________Fone:_________________ Cidade:_______________________________U.F.____CEP:_________________ Nome da mãe:______________________________________________________ FICHA CLÍNICA - Prematuro: não ( ) sim ( ) - Idade Gestacional ao nascimento:______________________________________ - Faz uso de medicamentos anti-refluxo?: não ( ) sim ( ) - Tratamentos anteriores: não ( ) sim ( ) tipo______________________________ - Tipo de alimentação: ( ) leite materno ( ) outros __________________________ - Horários das alimentações:____________________________________________ Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 126 QUADRO CLÍNICO - Quantos episódios de regurgitação por dia: 1( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5 ( ) mais de 5 ( ) - Intensidade do refluxo (considerado pela mãe): leve ( ) moderado ( ) grave ( ) - Horários mais freqüentes: _____________________________________________ - Condições agravantes: decúbito dorsal ( ) decúbito ventral ( ) decúbito lateral ( ) outros ( ) ______________________________________________________ APÊNDICE B: Evolução: Relato diário Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 127 EVOLUÇÃO: RELATO DIÁRIO Após o 1º atendimento (__/__/____): Após o 2º atendimento (__/__/____): Após o 3º atendimento (__/__/____): Após o 4º atendimento (__/__/____): Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 128 Após o 5º atendimento (__/__/____): APÊNDICE C: Evolução Individual dos Pacientes Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 129 Evolução: Paciente A 10 8 6 nº refluxos 4 2 0 semanas 1ª semana 2ª semana 3ª semana 4ª semana 5ª semana Gráfico 08: Evolução do Paciente A. Fonte: Da autora. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 130 Evolução: Paciente B 20 1ªsemana 15 2ªsemana nº refluxos 10 3ªsemana 5 4ªsemana 0 Semanas 5ªsemana Gráfico 09: Evolução do Paciente B. Fonte: Da autora. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 131 Evolução: Paciente C 30 20 nº refluxos 10 0 semanas 1ªsemana 2ªsemana 3ªsemana 4ªsemana 5ªsemana Gráfico 10: Evolução do Paciente C. Fonte: Da autora. Evolução: Paciente D 20 15 nº refluxos 10 5 0 semanas 1ªsemana 2ªsemana 3ªsemana 4ªsemana 5ªsemana Gráfico 11: Evolução do Paciente D. Fonte: Da autora. Evolução: Paciente E 40 30 nº refluxos 20 10 0 semanas 1ª semana 2ª semana 3ª semana 4ª semana 5ª semana Gráfico 12: Evolução do Paciente E. Fonte: Da autora. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 132 Evolução: Paciente F 20 nº refluxos 15 10 5 0 semanas 1ªsemana 2ªsemana 3ªsemana 4ªsemana 5ªsemana Gráfico 13: Evolução do Paciente F. Fonte: Da autora. Evolução: Paciente G 30 20 nº relfuxos 10 0 semanas 1ª semana 2ª semana 3ª semana 4ª semana 5ª semana Gráfico 14: Evolução do Paciente G. Fonte: Da autora. Evolução: Paciente H 20 15 nº refluxos 10 5 0 semanas 1ªsemana 2ªsemana 3ªsemana 4ªsemana 5ªsemana Gráfico 15: Evolução do Paciente H. Fonte: Da autora. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 133 Evolução: Paciente I 80 1ªsemana 2ªsemana 3ªsemana 4ªsemana 5ªsemana 60 nº refluxos 40 20 0 semanas Gráfico 16: Evolução do Paciente I. Fonte: Da autora. Evolução: Paciente J 60 40 nº refluxos 20 0 semanas 1ªsemana 2ªsemana 3ªsemana 4ªsemana 5ªsemana Gráfico 17: Evolução do Paciente J. Fonte: Da autora. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 134 9 ANEXO Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 135 Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265