Décimo Quinto Encontro Regional Ibero-americano do CIGRÉ Foz do Iguaçu-PR, Brasil 19 a 23 de maio de 2013 ESTUDO DE TENSÕES TRANSITÓRIAS DE ALTA FREQUÊNCIA NA SE BOA ESPERANÇA 500 KV EM DECORRÊNCIA DA DANIFICAÇÃO DE DOIS REATORES DE LINHA E.L.F. Dantas* R. K. D. M. Medeiros* *Chesf RESUMO Este trabalho apresenta uma síntese dos estudos realizados para subsidiar a análise de ocorrências envolvendo reatores da SE Boa Esperança 500kV. O setor de 500kV da subestação possui um arranjo de disjuntor e meio, com um banco de autotransformador 500/230/13,8kV 3x100MVA, duas entradas de linhas, dois reatores de linha e um reator de barra de 100MVA. Há também uma chave seccionadora interligando os dois barramentos. A referida ocorrência consistiu na danificação da fase A do reator de linha com desligamento da linha devido à atuação do relé de gás do reator. Após a análise da equipe de manutenção, a fase danificada foi substituída pela unidade reserva. Ao realizarem a cromatografia da amostra de óleo foi constatada a existência de curto circuito interno ao equipamento. Em outra ocasião, houve a danificação da unidade que estava operando na fase B do reator associado à mesma linha. Em função destas ocorrências, foram realizados estudos de transitórios eletromagnéticos de alta frequência na SE Boa Esperança para ajudar a esclarecer estes fatos. A metodologia aplicada neste estudo foi baseada no trabalho desenvolvido pelo grupo de trabalho conjunto JWG A2/C4-03 do Cigré Brasil, denominado “Interação Elétrica Transitória entre Transformadores e o Sistema de Potência”. Foram realizadas simulações com manobras de disjuntores energizando o autotransformador e reator de barra da subestação, além de manobras de chaves para normalização/liberação de disjuntores e barramentos. Em todas as manobras foram monitoradas as tensões transitórias em terminais de barramento, reatores e autotransformadores, como também as correntes transitórias nos TC adjacentes às manobras de chaves. PALAVRAS-CHAVE Falhas de Reatores, Interação Transitória, Tensão Transitória, Manobras de Chaves Seccionadoras, Manobras de Disjuntores, Energização de Autotransformador, Correntes Transitórias. 1. INTRODUÇÃO A subestação de Boa Esperança é uma instalação importante no sistema de transmissão da Chesf, principalmente no recebimento de intercâmbio Norte-Nordeste. A instalação também tem um papel relevante no controle de tensão da Área Oeste, bem como no escoamento na geração da usina hidroelétrica de Boa Esperança (UBE). O setor de 500 kV da subestação possui um arranjo de disjuntor e meio, com um banco de autotransformador 500/230/13,8 kV 3x100 MVA, duas entradas de linhas de transmissão, dois reatores de linha e um reator de barra de 100 MVA. As duas linhas de 500 kV partem para São João 1/8 Décimo Quinto Encontro Regional Ibero-americano do CIGRÉ Foz do Iguaçu-PR, Brasil 19 a 23 de maio de 2013 do Piauí, 05C6, e para Presidente Dutra, 05C7. Sendo esta última de propriedade do agente Eletronorte. No dia 22/07/2009 houve a danificação do reator 05E1-A associado à LT 05C6 Boa Esperança - São João do Piauí. A referida ocorrência consistiu no desligamento da LT 05C6 Boa Esperança - São João do Piauí devido à atuação do relé de gás do reator 05E1-A. Após a análise da equipe de manutenção, o 05E1-A foi substituído pela unidade reserva. Ao realizarem a cromatografia da amostra de óleo do reator foi constatada a existência de curto circuito interno ao equipamento. Por fim, no dia 10/04/2011, houve a danificação do reator 05E1-B associado à LT 05C6 Boa Esperança - São João do Piauí. Este artigo apresenta os resultados dos estudos realizados para calcular as sobretensões transitórias de alta frequência em diversos pontos da subestação Boa Esperança 500 kV. Os resultados destes estudos forneceram elementos para o esclarecimento das ocorrências envolvendo o reator 05E1 e para identificar medidas operativas que possam minimizar as solicitações nos equipamentos da SE Boa Esperança. 2. PROCEDIMENTOS DO ESTUDO No estudo foi considerada a configuração atual de operação da subestação Boa Esperança 500kV, com a instalação operando com tensão máxima operativa de 1,10pu nas barras de 500kV da subestação e a posição da chave de interligação de barras 35D3-2 normalmente aberta. Os níveis de isolamento para o enrolamento de 500kV do autotransformador também foram utilizados como referência para os reatores. O autotransformador apresenta valores de capacitância elevados. Nas simulações foi utilizado o valor médio de capacitância que corresponde a 5191pF. As buchas do lado de 500kV têm uma tensão suportável nominal de impulso atmosférico (1,2/50µs) igual a 1550kV. Já os reatores, das nove unidades monofásicas de reatores, sete são do tipo Shellform. Com exceção da unidade 05E2-A da Siemes, cuja capacitância é de 3842pF, os demais reatores apresentaram uma capacitância da ordem de 9633pF. Portanto, estas unidades têm capacitâncias bastante elevada. As torres da linha de transmissão nos cinco primeiros vãos mais próximos da subestação são de estrutura metálica (aço) em circuito simples com quatro cabos por fase e possuem dois cabos páraraios. Para a análise e simulação de fenômenos transitórios de alta frequência em subestações isoladas a ar (AIS), é necessário utilizar uma modelagem adequada com a representação dos componentes da rede válida para a faixa de frequências de interesse. Neste estudo, de uma forma geral, foram utilizados modelos construídos com base nas recomendações dos guias do IEEE [5], CIGRÉ [6] e IEC [7], além do artigo [8]. Em função da faixa de frequências de interesse, o sistema de transmissão foi representado de forma simplificada, incluindo apenas a subestação e as linhas de transmissão em 500kV que derivam dela. A metodologia aplicada neste estudo foi baseada no trabalho desenvolvido pelo grupo de trabalho conjunto JWG A2/C4-03 do Cigré Brasil, denominado “Interação Elétrica Transitória entre Transformadores e o Sistema de Potência” [1], [2]. As tensões transitórias de alta frequência nos terminais dos transformadores são calculadas através de simulações digitais utilizando o ATP/EMTP [3]. Nas simulações são calculados os valores máximos e as formas de onda das tensões transitórias, o que permite também o cálculo dos respectivos espectros de frequências utilizando a transformada rápida de Fourier (FFT). O espectro de frequências mostra a densidade espectral de energia do sinal de tensão, para cada valor de frequência, sendo possível identificar as frequências dominantes que correspondem aos picos de densidade espectral. Uma vez calculado o espectro de frequências da tensão transitória, este é comparado com a envoltória definida pelos espectros de frequências das formas de onda padronizadas que são utilizadas no projeto da isolação do transformador e são aplicadas nos ensaios dielétricos em laboratório, com os níveis de tensão para o caso em análise. O fator de severidade Fs(f) é definido pela equação (1) onde Dt(f) é a densidade espectral da tensão transitória numa dada frequência e De(f) é a densidade espectral da envoltória definida pelas formas de onda padronizadas. 2/8 Décimo Quinto Encontro Regional Ibero-americano do CIGRÉ Foz do Iguaçu-PR, Brasil 19 a 23 de maio de 2013 Fs Dt ( f ) De ( f ) (1) Nesta comparação são determinadas as frequências críticas fc(k), para k variando de 1 até m. Uma frequência é dita crítica quando é uma frequência dominante em que o fator de severidade Fs excede o fator de segurança ks. O fator de segurança ks deve levar em conta, além dos efeitos das condições de operação e manutenção (O&M) na suportabilidade da isolação, a dispersão estatística da tensão suportável pela isolação e o número de aplicações esperado ao longo da vida útil do equipamento. Neste trabalho adotou-se como referência um fator ks igual a 0,8 e 0,6 para as tensões transitórias resultantes de manobras de disjuntores e chaves secionadoras que são realizadas com frequência na subestação, respectivamente. Existe uma condição de potencial risco para o transformador quando a sobretensão máxima excede a tensão suportável nominal multiplicada pelo fator de segurança ks, e ou quando pelo menos uma frequência crítica fc(k) coincide ou é muito próxima de uma frequência de ressonância fr(i) do autotransformador. 3. RESULTADOS DAS SIMULAÇÕES EM ATP/EMTP 3.1 Manobras de Energização do autotransformador 05T1 e do reator de barra 05E3 Os resultados indicaram que essas manobras não geram sobretensões transitórias suficientemente elevadas para comprometer o isolamento de equipamentos na subestação. As sobretensões são bastante inferiores à tensão de atuação dos pára-raios da instalação. Isto não descarta a possibilidade de componentes das tensões nos terminais dos reatores e autotransformador possuírem frequências críticas na faixa de frequência de ressonância destes equipamentos. Nos casos simulados com a presença de resistor de pré-inserção, conforme esperado, houve amortecimento significativo das sobretensões. Para cada uma das manobras de disjuntores, exceto os casos com a presença de resistor de préinserção, foi realizado o cálculo do espectro de frequência da forma de onda da tensão no terminal do autotransformador e dos reatores da instalação. A Tabela 1 abaixo reúne os maiores fatores de severidade por manobra e por equipamento. Tabela 1 – Fatores de severidade mais significativos e as respectivas frequências dominantes devido a manobras do reator Frequência Fator de Manobra (kHz) Severidade Fechamento do 15D1, com 15E3 aberto, energizando o reator 05E3. Tensão no 05T1 136 0,86 Fechamento do 15D1, com 15E3 aberto, energizando o reator 05E3. Tensão no 05T1 136 0,86 Fechamento do 15D1, com 15E3 aberto, energizando o reator 05E3. Tensão no 05E3 136 0,82 Observa-se que há faixas de frequência dominante bem definida para a tensão transitória nos terminais do 05T1 e do 05E3 em manobras de energização dos mesmos, seja através do disjuntor central ou através do disjuntor de barra. A faixa envolve as frequências dominantes 135 e 136kHz. Apesar destas manobras não gerarem sobretensões elevadas nos terminais do destes equipamentos, elas se apresentam como manobras severas em alta frequência. 3/8 Décimo Quinto Encontro Regional Ibero-americano do CIGRÉ Foz do Iguaçu-PR, Brasil 19 a 23 de maio de 2013 3.2 Manobras de chave para normalização/liberação de disjuntores e de barramentos Nas operações de fechamento ou abertura de uma chave seccionadora com tensão, ocorre um arco elétrico entre contatos da chave. Na abertura, o arco inicia no instante da separação dos contatos, e no fechamento no instante em que a tensão entre contatos supera a suportabilidade dielétrica. Após o seu início, o arco é mantido até que a rigidez dielétrica entre contatos seja suficiente para suportar a tensão de restabelecimento na abertura, ou até o toque dos contatos na operação de fechamento. Durante o tempo de arco ocorre uma sucessão de interrupções de corrente e reacendimentos do arco. Em cada reacendimento ocorrem variações transitórias de tensão que geram ondas viajantes que se propagam na subestação, através dos barramentos e outros equipamentos conectados, sofrendo reflexões e refrações em pontos de transição. Como uma conseqüência das múltiplas reflexões e refrações, as tensões podem atingir valores elevados e podem ocorrer oscilações de alta frequência. As tensões transitórias nos diversos pontos da instalação são fortemente influenciadas pelo arranjo físico e pelas características dos equipamentos, e correspondem a uma seqüência de transitórios de alta frequência. Foram, então, simuladas manobras de chaves para normalização/liberação de disjuntores e dos barramentos da SE Boa Esperança 500kV, com abertura do primeiro pólo da chave com reacendimento (restrike) no instante correspondente à máxima diferença de tensão entre seus terminais. As grandezas calculadas indicaram que essas manobras não geram sobretensões transitórias elevadas nos terminais dos equipamentos, uma vez que a sobretensão transitória máxima atingiu 1,36pu no terminal do 05T1 durante a normalização/liberação do barramento 05B2 através da chave 35D3-2. Muito embora a magnitude das sobretensões transitórias encontradas nos terminais dos reatores e do autotransformador não tenha alcançado patamares preocupantes, o espectro de frequências de suas formas de ondas revelou fatores de severidade muito elevados e bastante acima do fator de segurança utilizado para este tipo de manobra. O fator de severidade máximo encontrado dentre todas as manobras de chaves simuladas atingiu 1,7 na manobra de normalização/liberação do disjuntor 15D1 através da chave seccionadora 35D1-1 para a tensão nos terminais do autotransformador. Da Tabela 2 encontram-se os maiores fatores de severidade e respectivas frequências dominantes do espectro de frequências da tensão terminal dos reatores e autotransformadores nas manobras de chaves seccionadoras simuladas envolvendo barramentos. Tabela 2 – Fatores de severidade mais significativos e as respectivas frequências dominantes nas manobras de normalização/liberação de barramento Frequência (kHz) Fator de Severidade Reacendimento na chave 35D3-2, com os disjuntores 15C6 e 15T1 abertos e as chaves 35C6-4 e 35T1-4 abertas, normalizando/liberando o barramento 05B1. Tensão no 05T1 171 0,62 Reacendimento na chave 35D3-2, com os disjuntores 15C6 e 15T1 abertos e as chaves 35C6-4 e 35T1-4 abertas, normalizando/liberando o barramento 05B1. Tensão no 05E3 170 0,60 Reacendimento na chave 35C7-4, com os disjuntores 15C7 e 15E3 abertos e as chaves 35D3-2 e 35E3-4 abertas, normalizando/liberando o barramento 05B2. Tensão no 05E2 700 0,64 Manobra Dentre as tensões monitoradas nas manobras acima envolvendo barramentos, em três delas, ocorrendo em duas manobras, o fator de severidade ficou acima do fator de segurança utilizado como referência neste tipo de manobra, 0,6, e não muito acima se comparado com manobras de chaves para normalização/liberação de disjuntores. A normalização/liberação da barra 05B1 através da chave seccionadora de interligação de barras 35D3-2 tem reflexos acima do fator de severidade no autotransformador 05T1 e no reator de barra 05E3. A frequência dominante para a tensão transitória nestes equipamentos é de 171 kHz para o 4/8 Décimo Quinto Encontro Regional Ibero-americano do CIGRÉ Foz do Iguaçu-PR, Brasil 19 a 23 de maio de 2013 autotransformador e 170 kHz para o reator, sendo 0,62 e 0,60 os respectivos fatores de severidade. As manobras envolvendo a chave 35D3-2, com tensão em apenas um dos lados, são severas e já há restrições para estas manobras documentadas na IO-BEA.02 [4]. O maior fator de severidade encontrado nas manobras de normalização/liberação dos barramentos ocorreu durante manobra de energização da barra 05B2 através da chave 35C7-4. A tensão monitorada no terminal do reator de linha 05E2 apresentou um fator de severidade de 0,64 com frequência dominante de 700 kHz. A Tabela 3 mostra um comparativo dos fatores de severidade das tensões calculadas nos terminais dos reatores e do autotransformador durante as manobras de normalização/liberação do disjuntor 15D2 através das chaves 35D2-1 e 35D2-2. São estas as manobras mais severas do ponto de vista dos reatores de linha. Tabela 3 – Fatores de severidade mais significativos e as respectivas frequências dominantes na normalização/liberação do disjuntor 15D2 Frequência (kHz) Fator de Severidade Reacendimento na chave 35D2-1, com o 15D2 e a 35D2-2 abertos, normalizando/liberando o 15D2. Tensão no 05T1 808 0,98 Reacendimento na chave 35D2-1, com o 15D2 e a 35D2-2 abertos, normalizando/liberando o 15D2. Tensão no 05E1 421 0,74 734 1,00 495 0,80 479 0,60 479 0,47 451 0,26 698 1,65 247 1,62 451 1,50 713 0,62 614 0,52 Manobra Reacendimento na chave 35D2-1, com o 15D2 e a 35D2-2 abertos, normalizando/liberando o 15D2. Tensão no 05E2 Reacendimento na chave 35D2-2, com o 15D2 e a 35D2-1 abertos, normalizando/liberando o 15D2. Tensão no 05T1 Reacendimento na chave 35D2-2, com o 15D2 e a 35D2-1 abertos, normalizando/liberando o 15D2. Tensão no 05E1 Reacendimento na chave 35D2-2, com o 15D2 e a 35D2-1 abertos, normalizando/liberando o 15D2. Tensão no 05E2 A Tabela acima indica que a manobra para normalização/liberação do disjuntor 15D2 mais crítica é a da chave 35D2-2, com vários fatores de severidade bastante elevados na tensão transitória no terminal do reator de linha 05E2 e igual ao fator de segurança na tensão do autotransformador 05T1. Para o reator de linha 05E2 o fator de severidade foi o mais elevado, atingindo 1,65 na frequência de 698 kHz. A manobra de normalização/liberação do disjuntor 15D2 através da chave 35D2-1 é a que apresenta a maior densidade espectral na tensão do reator de linha 05E1. O fator de severidade supera o limite de segurança, chegando a 0,74 na frequência dominante de 421 kHz. Quando realizada através da chave 35D2-2, esta manobra apresenta um fator de severidade menor na tensão do reator 05E1, 0,47, e com uma frequência dominante de 452 kHz, que é bastante próxima da manobra através da chave 1. Portanto, uma alteração na seqüência de manobras destas chaves pode vir a reduzir as solicitações no 05E2, no entanto, caso a frequência de ressonância do reator 05E1 seja na faixa dos 400 kHz, as 5/8 Décimo Quinto Encontro Regional Ibero-americano do CIGRÉ Foz do Iguaçu-PR, Brasil 19 a 23 de maio de 2013 solicitações neste equipamento se agravarão. Esta alteração em específico fica condicionada à análise do ensaio de resposta em frequência em reatores de linha de posição operacional 05E1 da SE BEA. Com o intuito de testar a influência da capacitância dos reatores na densidade espectral da tensão no terminal do reator 05E1, foram realizadas novas simulações de manobras de chaves com essas grandezas reduzidas à metade, devido à incerteza dos valores das capacitâncias dos reatores Mitsubishi. Nestas novas simulações foram utilizados os três casos que apresentaram os maiores reflexos no 05E1. A normalização/isolamento do disjuntor 15D2 através das chaves 35D2-1 e 35D2-2, e a normalização/isolamento do disjuntor 15D1 através da chave 35D1-1. Na manobra da chave 35D21 o fator de severidade passou de 0,74 para 1,15 com a redução da capacitância, e a frequência dominante variou pouco, de 421 kHz para 427 kHz. Durante a manobra da chave 35D2-2, o fator de severidade que era de 0,47 passou para 0,6, e a frequência dominante passou de 479 kHz para 489 kHz. E na manobra da chave 35D1-1 o fator de severidade também se elevou, passando de 0,5 para 0,94, enquanto que a frequência dominante variou de 426 kHz para 429 kHz. Portanto, houve elevação do fator de severidade em todas as três manobras simuladas com redução na capacitância, ficando acima do critério de segurança. Particularmente, a manobra da chave 35D2-1 é bastante severa, com fator severidade acima da envoltória definida em ensaios. Se as capacitâncias forem realmente mais baixas, estas manobras passam a ser mais severas para o reator 05E1. Através de levantamento do SIGA (Sistema Integrado de Gestão de Ativos), foi constatado que no dia 27/05/2009, portanto, cerca de dois meses antes da danificação do 05E1-A houve a liberação do disjuntor 15D2 para a realização de manutenção no equipamento. Neste caso, foram realizadas manobras nas chaves 35D2-1 e 35D2-2 que de acordo com os resultados de simulações são a mais crítica e a terceira mais crítica manobra para o 05E1, podendo ainda ser mais críticas a depender do valor das capacitâncias dos reatores Mitsubishi que serão confirmados ou não através dos ensaios de resposta em frequência. A normalização/liberação do disjuntor 15D2 quando realizada pela chave 35D2-1 gera tensões no terminal do reator de linha 05E2 com fatores de severidade mais baixos se comparados com os resultados da manobra através da chave 35D2-2. Ainda assim, a manobra através da chave 35D2-1 produz fatores de severidade acima do fator de segurança na tensão transitória no terminal do 05T1, 05E1 e 05E2. Na tensão transitória no terminal do reator de linha 05E2 o fator de severidade é o mais elevado para a manobra através da chave 1, atingindo 1,00 na frequência de 734 kHz. A Tabela 4 apresenta um resumo dos resultados mais severos verificados nos transformadores de corrente nas simulações de manobra de chaves para liberação de disjuntores. As simulações mostram que durante manobras de chaves seccionadoras com tensão, ocorrem solicitações elevadas nos TC. Os TC mais solicitados são os adjacentes às chaves, ou seja, que estão localizados entre a chave manobrada e o disjuntor. Além disso, foram observadas correntes transitórias de amplitude e frequência elevadas que fluem através do isolamento dos TC para a terra, através dos cabos de aterramento. Estas correntes transitórias podem causar solicitações no isolamento dos TC e podem induzir sobretensões transitórias nos circuitos secundários. Tabela 4 – Resultados das Simulações de Manobras de Chaves para Liberação dos Disjuntores Verificados nos TC Adjacentes às Chaves Manobradas. TC DISJ. ABERTO CHAVE ABERTA CHAVE MANOBRADA Corrente Transitória para Terra-Imax (kA) 95C6 95C7 95D1-1 95D1-2 95D2-1 95D2-2 15C6 15C7 15D1 15D1 15D2 15D2 35C6-4/35C6-5 35C7-4/35C7-5 35D1-1/35D1-2 35D1-1/35D1-2 35D2-1/35D2-2 35D2-1/35D2-2 35C6-5 35C7-5 35D1-1 35D1-2 35D2-1 35D2-2 3,70 3,68 3,70 3,70 3,43 3,70 6/8 Décimo Quinto Encontro Regional Ibero-americano do CIGRÉ Foz do Iguaçu-PR, Brasil 19 a 23 de maio de 2013 95E1 95E2 95E3-1 95E3-2 95T1 15C6 15C7 15E3 15E3 15T1 35C6-4/35C6-5 35C7-4/35C7-5 35D3-4/35D3-5 35D3-4/35D3-5 35T1-4/35T1-5 35C6-5 35C7-5 35D3-5 35D3-5 35T1-5 1,18 0,93 1,26 3,70 3,85 As sobrecorrentes transitórias de altas frequências que fluem do isolamento para a terra em manobras de chaves seccionadoras com reacendimento, atingiram valores de 3,85kA. Trata-se de sobrecorrente bastante elevada, apesar de não superar a máxima sobrecorrente transitória encontrada em TC entre os estudos já realizados na Chesf para manobras de chaves. Uma vez que o valor máximo encontrado até então ocorreu na subestação de Luiz Gonzaga, cerca de 4,35kA. Foram encontradas correntes transitórias elevadas, acima de 3 kA em quase todos os TC da subestação, com exceção apenas para 95E1, 95E2 e 95E3-1. Através da alteração da seqüência de manobras de chaves com tensão, é possível reduzir de forma significativa às solicitações impostas aos TC. Entretanto, no caso dos TC próximos do disjuntor central, 95D1-1/95D1-2 e 95D2-1/95D2-2, a manobra para liberação do disjuntor 15D1 e do 15D2, sempre causará solicitações elevadas em pelo menos um dos TC, não sendo possível definir uma seqüência de manobras que minimize as solicitações simultaneamente nas duas unidades. Neste sentido é importante avaliar os riscos envolvidos através de uma análise do projeto e do histórico de manutenção desses TC. De acordo com levantamento da área de manutenção, nos últimos quatro anos o único TC substituído no setor de 500 kV da SE Boa Esperança foi o 95T1-B. Ele corresponde exatamente àquele submetido à maior sobrecorrente transitória, que são os TC de posição operacional 95T1. O equipamento de fabricante/modelo Siemens/AKOF foi substituído em março de 2008 devido ao alto teor de gases apresentado. Quanto à sobretensões nos terminais dos TPC, as maiores solicitações atingiram 2,57pu e 2,52 no 85B1 e 85B2, respectivamente. Estas sobretensões elevadas são decorrentes das manobras de normalização/liberação dos barramentos 05B1/2 através da chave 35D3-2. No entanto, a realização desta manobra não é recomendada, sendo liberada apenas para atendimento a intervenção de natureza inadiável conforme instrução IO-BEA.02 [4]. Isto garante que os TPC de barra não sejam submetidos a estas solicitações. Nas demais manobras a tensão máxima nos terminais dos TPC alcançam 1,47pu no 85C6 durante manobra de normalização/liberação do disjuntor 15C6 através da chave 5. 4 CONCLUSÃO As análises realizadas utilizando a metodologia descrita neste artigo permitiram identificar algumas manobras de chaves seccionadoras e disjuntores que geram tensões transitórias de alta frequência com densidade espectral elevada. Tais transitórios provocam solicitações no autotransformador e reatores da subestação acima dos critérios de segurança ou mesmo dos limites estabelecidos pelos fabricantes, portanto, com riscos de falhas dielétricas em pontos internos destes equipamentos. As manobras de disjuntores não geram sobretensões elevadas acima da suportabilidade dos reatores, autotransformador ou terminais de barra da instalação. No entanto, as manobras de energização do reator de barra 05E3 e do autotransformador 05T1 através do disjuntor central 15D1 geram sobretensões transitórias com densidades espectrais elevadas para o 05E3 e o 05T1, estando acima de níveis considerados seguros. O fator de severidade atinge 0,82 no reator de barra 05E3 e 0,86 no autotransformador 05T1, ambos na mesma frequência crítica de 136 kHz. Estas solicitações podem ser reduzidas através da energização do autotransformador e reator de barra preferencialmente através do disjuntor de barra. Os resultados das simulações de manobras em disjuntores não apresentaram solicitações severas para o reator de linha 05E1. Mesmo após a realização de novas simulações com redução das capacitâncias dos reatores da subestação, as solicitações neste equipamento continuaram abaixo do limite de 7/8 Décimo Quinto Encontro Regional Ibero-americano do CIGRÉ Foz do Iguaçu-PR, Brasil 19 a 23 de maio de 2013 referência. Pois, o maior fator de severidade encontrado na tensão do 05E1 foi 0,26 com frequência dominante de 85kHz com as capacitâncias informadas. Enquanto que nas novas simulações o fator de severidade passou a ser 0,38 na frequência de 430 kHz. Portanto, as simulações dão o indicativo que tais manobras não são severas para o 05E1. Entre as manobras envolvendo reacendimento de chaves seccionadoras para normalização/isolamento de disjuntores, os equipamentos submetidos aos maiores fatores de severidade foram, em ordem decrescente, 05T1, 05E2, 05E3 e 05E1. Portanto, apesar de já ter havido ocorrência envolvendo a danificação dos reatores de linha 05E1-A/B, os fatores de severidade encontrados nestes equipamentos foram os menores se comparados aos demais equipamentos. Ainda assim, na manobra de normalização/isolamento do disjuntor 15D2 através da chave 35D2-1, o fator de severidade atinge 0,74 na frequência de 421 kHz. O resultado de novas simulações com a redução da capacitância neste caso mais crítico para o 05E1, normalização/isolamento do disjuntor 15D2 através da chave 35D2-1 com reacendimento, indica uma elevação do fator de severidade da tensão no reator para 1,15, com frequência dominante de 427 kHz. Foi levantado que a liberação e normalização do disjuntor 15D2 ocorreram cerca de dois meses antes da danificação do 05E1-A, no dia 22/07/2009. Isto garante que as chaves 35D2-1 e 35D2-2 foram manobradas na ocasião, o que pode ter contribuído para a danificação do reator. As correntes que circulam nos TC para a terra durante as manobras de chaves com reacendimento mostraram-se bastante elevadas, chegando a 3,85 kA no 94T1, sendo a sobrecorrente mais elevada encontrada para os transformadores de corrente nas simulações. Inclusive, o 95T1-B foi o único TC de 500 kV substituído nos últimos quatro anos, devido ao alto teor de gases, de acordo com levantamento realizado na área de manutenção. Para os terminais de barramentos e TPC de barra as manobras envolvendo a interligação de barramentos com tensão em apenas um dos lados é particularmente severa. As sobretensões nos terminais de barra chegam a atingir 3,18pu, e 2,57pu nos TPC de barra. BIBLIOGRAFIA [1]. ROCHA, A. C. O., (JWG A2/C4-03), “Electrical Transient Interaction between Transformers and the Power System”, CIGRE 2008 SESSION, Paper C4-104. [2]. FREIRE, A. R. F., (JWG A2/C4-03), “Interação Transitória entre Transformadores e o Sistema Elétrico: Novos Requisitos para a Especificação”, XIX SNPTEE, GSE-20, Rio de Janeiro – RJ, Outubro de 2007. [3]. LEUVEN EMTP CENTER, “ATP – Alternative Transient Program – Rule Book”, Herverlee, Belgium, July 1987. [4]. IO-BEA.02, Instrução de Operação para manobras de chaves seccionadoras de 500 kV da SE Boa Esperança. [5]. 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