Antropologia Prof. Dr. Sérgio Montalvão Edward Tylor (1877) empregou o conceito de cultura em um sentido abrangente, para referir-se a TODOS OS PRODUTOS COMPORTAMENTAIS, ESPIRITUAIS E MATERIAIS DA VIDA HUMANA. Foram deixados de lado os sentidos mais antiquados do termo, resistindo em formato modificado: A) em certas sociedades algumas pessoas possuem cultura, outras não; B) certas sociedades possuem cultura, outras não. Franz Boas – antropólogo que mais promoveu um conceito de cultura que englobasse a espécie humana. Pesquisas de Boas – voltadas para as sociedades primitivas, caracterizadas pelo TAMANHO REDUZIDO, DESCONHECIMENTO DA ESCRITA, TECNOLOGIA SEM MÁQUINAS E ORDEM SOCIAL FORMADA EM TORNO DE LAÇOS FAMILIARES. O ANTIEVOLUCIONISMO de Boas encontra-se manifesto no modo que ele entendia a cultura: A) distribuída igualmente por todos os grupos sociais, independentemente de seu nível tecnológico; B) como sistema(s) auto-explicativo(s). Relativismo cultural: Negação das hierarquias classificatórias na relação entre os povos. Esquimós: “Quanto mais observo seus costumes, mais me convenço de que não temos porque nos considerarmos superiores”. Boas entendia que a principal tarefa do antropólogo era registrar cuidadosamente as informações etnográficas específicas sobre o maior número de sociedades “primitivas”, antes do seu desaparecimento. Ele teve pouco interesse no desenvolvimento de uma teoria da cultura. Antropologia – Ciência não-paradigmática. 40 anos após a morte de Boas, os antropólogos não chegaram ainda a um consenso acerca do conceito de cultura, embora considerem-no fundamental a este campo do saber. Discussão central de Mintz (p. 229): Concepção histórica versus não-histórica de cultura. Kroeber – cultura “superorgânica”. é “superindividual” Propriedades: “transmissibilidade”, variabilidade” e “padrões de valor”. e “alta Linguagem como sistema cultural “Novamente a língua inglesa é uma parte da cultura. A faculdade de falar e entender alguma ou qualquer linguagem é orgânica: é uma faculdade da espécie humana”. “Mas a agregação total das palavras, formas, gramática e significados que constituem a língua inglesa são o produto cumulativo e conjunto produzido por milhões de indivíduos ao longo de muitos séculos”. Kroeber afirma que “um fato cultural é sempre um fato histórico”. Abordagem Historicista (Radcliffe-Brown). X Funcionalista Hoje essa controvérsia tem se resolvido por um equilíbrio entre as duas tendências. Aceitação dos condicionantes históricos na Antropologia, levanta questões de explanação. 1) Superação da visão, predominante no equipamento teórico dos antropólogos, em que Cultura/Sociedade são meios convenientes de se falar de duas faces de um mesmo fenômeno que se encaixam. Eric Wolf – “erramos ao pensar em uma cultura em cada sociedade, uma subcultura em cada segmento social, esse erro prejudicou nossa capacidade de ver as coisas dinamicamente” (p. 232). Eric Wolf – “é possível que um grupo humano possa ter mais do que uma cultura, diversificar sua abordagem em relação à vida, ampliando seu campo de manobras através de um processo de generalização, assim como é possível que um grupo humano se especialize, restringindo-se a um conjunto de formas culturais e evitando quaisquer alternativas possíveis” (p. 232). CULTURA (Eric Wolff): “formas desenvolvidas historicamente através das quais os membros de uma sociedade se relacionam entre si”. SOCIEDADE (Eric Wolff): “elemento de ação, de manobras humanas dentro de um campo constituído pelas formas culturais”. O caso do compadrazgo em Porto Rico (final dos anos 1940). Mintz e Wolff realizavam pesquisa etnográfica em duas regiões próximas, em que o compadrazgo (ritual católico do compadrio) possuía dinâmicas muito distintas. Os associados à pesquisa de Wolff procuravam os mais ricos para serem padrinhos de seus filhos, o que era aceito pela elite local. Na comunidade que eu (Mintz) estava estudando, a população preferia escolher vizinhos, amigos ou parentes próximos. Existiam, portanto, dois padrões de relacionamento social contrastantes em uma forma cultural básica. Estruturas para manobras foram construídas sobre dispositivos de classificação social – classe, raça etc. Compadrazgo – instituição na qual esta gama de manobras individuais foi percebida, é um PRODUTO HISTÓRICO. Entretanto, quando alguém passa do estudo do compadrazgo, enquanto conjunto de formas desenvolvidas e derivadas historicamente, para um corpo vivo de oportunidades, dentro do qual as pessoas invocam suas capacidades de manobra, esticando uma ou outra regra de modo a maximizar suas próprias vantagens percebidas, está passando do aspecto cultural para o aspecto social do fenômeno. As pessoas conduzem a maior parte das suas ações com base nas suas experiências e aprendizados passado. As classes não podem ser meticulosamente dispostas de uma forma tão simples, cada uma possuindo seus padrões normativos distintos. “As classes, como a própria cultura, são processos” (p. 237). As classes se formam pela sua própria experiência (E. P. Thompson). As pessoas adquirem experiências enquanto estão sendo acionadas, enquanto agem. Na maior parte do tempo, elas agem de acordo com um código socialmente herdado de comportamento (p. 238). Mas esse código não é uma “camisa de força”: existem escolhas e alternativas. “A classe se forma enquanto homens e mulheres vivem suas relações produtivas, e enquanto eles experimentam suas diferentes situações, dentro do conjunto das relações sociais, com as suas culturas e expectativas herdadas, e enquanto lidam com estas experiências de maneiras culturais” (E. P. Thompson), p. 238. Cultura – “comportamento mediado através de símbolos” (p. 239). Devemos, no entanto, nos desprender de uma visão de cultura perfeitamente coerente, monolítica, consistente internamente, e harmoniosa” (239).