Mecânica dos Fluidos II Semana 6 (6 a 18 de Abril de 2009) Problema 1 – Considere uma asa com 1m de corda e 4m de envergadura a um pequeno ângulo de ataque. Admita que em primeira aproximação se pode considerar que a asa é equivalente a uma placa plana (gradiente de pressão nulo) com um comprimento igual à corda e uma largura igual à envergadura. Não se esqueça de que existe tensão de corte dos dois lados da placa. (ar=1,2 kg/m3, ar=1,51x10-5m2/s) ; (água=1000 kg/m3, água=1x10-6m2/s) (Número de Reynolds de transição=106) a) Estime o coeficiente de resistência de atrito quando a asa se desloca a 14 m/s em ar. Justifique os cálculos que efectuar. b) Estime o coeficiente de resistência da atrito quando a asa se desloca em água à velocidade de 14m/s. Justifique os cálculos que efectuar. c) A espessura da camada limite no bordo de fuga (final da placa) é maior no escoamento em ar ou água? Justifique claramente a resposta. Note que não precisa de fazer cálculos para dar a resposta. d) Para o escoamento em ar, determine a distância mínima ao perfil (placa) da linha de corrente que entra na camada limite em x=0.05m (x=0 no bordo de ataque ou seja o início da placa). e) Se o escoamento for em água, a distância que determinou na alínea anterior é maior ou menor? Justifique claramente a resposta. Note que não precisa de fazer cálculos para dar a resposta. f) Determine as constantes a1, a2 e a3 mais apropriadas para o perfil de velocidade u y y a1 a2 cos a3 sen Ue 2 d 2 d g) O perfil de velocidade que obteve é adequado para os dois escoamentos (ar e água)? Justifique a resposta. Problema 2 − Pretende-se montar um painel publicitário no topo de um veículo que se vai deslocar a 36 km/h. O painel tem de ter uma área de 1m2, um comprimento de 1,2m e encontra-se alinhado com o movimento do veículo. Admita que o painel não tem espessura e que o veículo se desloca numa zona sem vento. Nestas condições a camada limite na superfície do painel desenvolve-se em gradiente de pressão nulo. (Reynolds de transição =106, ar=1,51x10-5 m2/s) a) Determine a potência dissipada no painel. b) Qual o desvio que as linhas de corrente do escoamento exterior à camada limite apresentam no final do painel devido à presença da camada limite? c) A espessura da camada limite no final do painel é maior, menor ou igual do que o desvio que calculou na alínea anterior? Justifique a resposta. d) No caso de ocorrer transição da camada limite no bordo de ataque do painel, a potênica dissipada é maior, menor ou igual à calculada na alínea b). Justifique a resposta. e) Sabendo que o comprimento máximo do painel é de 1,8m e que não ocorre transição no bordo de ataque, determine as dimensões que deve ter o painel para minimizar a potência dissipada? Justifique a sua resposta. Problema 3 − Um perfil de velocidade de uma camada limite turbulenta atmosférica (com ≈ 600m) tem um comportamento muito semelhante ao de um perfil de camada limite numa placa plana (gradiente de pressão nulo). Admitindo que a superfície é hidrodinamicamente lisa, que a lei da parede é válida e que a uma altura de 80m a velocidade é de 10m/s, calcule: a) A tensão de corte na superfície. b) A velocidade às alturas de 1.7m e 0.17m do chão. c) A espessura da sub-camada linear. Problema 4 − Considere uma camada limite turbulenta sobre uma placa plana resultante de um escoamento estacionário, uniforme e paralelo à placa na região não perturbada (velocidade e pressão uniformes e constantes na região exterior à camada limite). A placa é muito rugosa, sendo a dimensão característica da rugosidade, e, muito superior à espessura da sub-camada laminar que existiria se a placa fosse lisa. Admita que o perfil de velocidades dentro da camada limite turbulenta segue uma lei 1/7 baseada na rugosidade característica e, tal que, 17 u y K , u e em que K é uma constante, y a distância à parede, u a velocidade média temporal em cada ponto e u a velocidade de atrito ( u 0 ), em que 0 é a tensão de corte na parede e a massa volúmica do fluido. Utilizando uma teoria aproximada para a camada limite estime a espessura da camada limite, , em função de x, a distância ao bordo de ataque da placa. Admita que =0 em x=0. O resultado é expresso em termos de e, de K e do parâmetro do perfil a (igual a 0,0972). 7 13,2 x 9 Resposta: 2 e K e METODOLOGIA A teoria aproximada a que o enunciado se refere é a equação de von Kármán que deve simplificar para as condições indicadas (U constante). Utilize a lei de velocidades indicada para exprimir a velocidade de atrito u, e portanto 0, com a velocidade exterior e a espessura da camada limite. Substitua a expressão encontrada para 0 na equação simplificada de von Kárman e integre em . Mecânica dos Fluidos II Semana 7 (18 a 24 de Abril de 2009) Problema 5 – O coeficiente de resistência de uma placa transversal a um escoamento uniforme e permanente é aproximadamente : D CD 2. 1 U 2 A 2 Designemos por U e p, respectivamente, a velocidade e a pressão não perturbadas a montante. Se a pressão na face de montante for igual à pressão total, qual a pressão média na face de jusante da placa? 1 Resposta: p p U 2 2 NOTAS Num corpo não-fuselado como o que se está a considerar, a força de resistência é sobretudo de forma, isto é, resultante da distribuição de pressão, sendo a resistência de atrito desprezável. A distribuição de pressão é, por sua vez, fortemente condicionada pela separação da camada limite na extremidade da placa, ocorrendo escoamento separado na face de jusante da placa. Na região de escoamento separado a pressão é aproximadamente uniforme e próxima da pressão média. METODOLOGIA Exprima a força de resistência da placa, D, em termos da pressão média nas duas faces da placa transversal, tome a aproximação sugerida para a pressão média na face de montante e utilize o valor dado para o coeficiente de resistência para estimar a pressão média na face de jusante da placa. Problema 6 – O João consegue pedalar a sua bicicleta a uma velocidade de 10 m/s em plano e sem vento. A resistência de rolamento é independente da velocidade e igual a 16N. A “área de resistência” do João e da bicicleta é ACD = 0,422 m2. O João pesa 80 kg e a bicicleta 15 kg. Imagine, agora, que ele pedala um dia com um vento contrário com uma velocidade de 5 m/s. a) Desenvolva uma equação que lhe permita calcular a velocidade máxima, V, a que o João consegue pedalar, admitindo que ele desenvolve a mesma potência com e sem vento (note que a equação resultante é do terceiro grau em V). b) Resolva a equação anterior e determine essa velocidade. c) Porque é que o resultado encontrado não é apenas 10 – 5 = 5 m/s, como se poderia esperar numa abordagem simplista? 1 2 Resposta: W V Vw C D A 0,8V V ; V=7,41 m/s 2 NOTAS A massa do João e da bicicleta são irrelevantes, visto que ele pedala em plano e a velocidade é constante. O coeficiente de resistência está definido no enunciado do problema anterior. A velocidade V num referencial fixo está relacionada com a velocidade relativa W medida num referencial móvel com uma velocidade constante U através de V W U . METODOLOGIA Determine a potência máxima que o João pode desenvolver com os dados fornecidos para a situação sem vento. Para isso comece por calcular a força de resistência que o João tem que vencer. Utilize um referencial fixo ao João para calcular a velocidade máxima que ele pode atingir. Tenha atenção a que a resistência aerodinâmica depende da velocidade relativa entre o João e o vento, a de rolamento da velocidade do João com o chão e que a potência desenvolvida pelo João é o produto dessa força pela velocidade absoluta do João. Problema 7 – Um paraquedista salta de um avião com um paraquedas de 8,5m de diâmetro numa atmosfera standard. A massa total do paraquedista e do paraquedas é de 90kg. Admitindo o paraquedas aberto e que a queda se faz com movimento quasiestacionário, estime o tempo necessário para descer dos 2000m para os 1000m de altitude. O coeficiente de resistência do paraquedas aberto é CD=1,2. Resposta: t = 462,6s NOTA • A atmosfera standard tem a distribuição de pressão e temperatura indicada na tabela anexa. Na resolução é necessário atender a que a massa específica do ar não é constante ao longo do movimento. • Admitir-se um movimento quasi-estacionário corresponde a considerar desprezável a aceleração. Neste problema, desprezar a aceleração do paraquedista e do paraquedas significa considerar que a força resultante exercida sobre eles é nula, isto é, que o peso deles é equilibrado pela sua resistência aerodinâmica. METODOLOGIA Estabeleça a equação que rege o movimento do paraquedista e paraquedas; Aproxime a evolução da massa específica do ar por uma evolução linear com a altitude por troços, isto é entre 2000 e 1500 m e enter estes e 1000m; Exprima a velocidade de queda e a massa específica do ar em função da cota y e integre a equação resultante entre os 2000 m e 1500 m e depois entre 1500 m e 1000 m, e some-os para obter o tempo de queda pedido. Problema 8 – Um avião pesa 180 kN, tem uma área de asa de 160 m2 e uma corda média de 4 m. As propriedades do perfil aerodinâmico da asa estão representadas na figura anexa. Se o avião se deslocar a 250 milhas por hora a uma altitude de 2000 m numa atmosfera standard, qual a potência propulsora necessária para vencer a resistência aerodinâmica das asas. (1milha=1609m). Resposta: 511 kW NOTA 1 milha = 1609 m O coeficiente de sustentação é dado por C L L , em que L é a 1 2 U A 2 sustentação, a massa volúmica do ar, U a velocidade do avião (ou do escoamento não perturbado) e A a área das asas (área molhada). No caso de corpos fuselados a área utilizada no coeficiente de resistência é, normalmente, a área molhada, enquanto que nos corpos não-fuselados é a área transversal. METODOLOGIA Calcule a massa específica do ar à altitude do voo; Calcule a sustentação que as asas induzem no avião de modo a anular o seu peso (condição necessária para que o voo seja a altitude constante); Calcule o coeficiente de sustentação e o número de Reynolds; Com os dois valores calculados atrás determine através da figura acima o coeficiente de resistência CD; Calcule a força de resistência das asas com o coeficiente de resistência; Determine finalmente a potência propulsora necessária para vencer a resistência das asas. Problema 9 – O coeficiente de resistência aerodinâmica de um veículo automóvel é dado por Fx CX 1 U 2 A 2 f em que Fx é a força de resistência aerodinâmica, U∞ a velocidade do escoamento de aproximação e Af a área da secção frontal do veículo. De um catálogo retiraram-se os seguintes valores: Veículo A – Cx=0,29 Af=2,09m2; Veículo B – Cx=0,41 Af=2,78m2. Admita que os motores de ambos os veículos produzem 6,25×106J de energia por cada litro de gasolina consumida e que se pretende determinar o consumo de combustível devido à força de resistência aerodinâmica para uma viagem de 300km realizada a 120km/h numa zona sem vento. a) Determine o aumento percentual de consumo dos dois veículos quando a viagem é feita a 160km/h em vez de 120km/h. b) Determine a razão entre o consumo dos dois veículos. c) Calcule o combustível consumido pelo veículo A quando a viagem é feita a 120km/h.