Cadernos de Ciência e Cultura - Portal de Periódicos da URCA

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Caderno de Cultura e Ciência, Ano VI, v.10 , n.2, dez, 2011
Universidade Regional do Cariri – URCA
DOI: http://dx.doi.org/10.14295/cad.cult.cienc.v10i2.407
Artigo Científico
ISSN 1980-5861
ETNOBOTÂNICA: ASPECTOS HISTÓRICOS
E APLICATIVOS DESTA CIÊNCIA
Fabio Franco1; Ana Paula do N. Lamano-Ferreira 1,2; Maurício Lamano Ferreira1,3
Resumo
As plantas medicinais representam uma importante ferramenta na promoção da saúde e cultura em muitas regiões do
Brasil e em particular para muitas comunidades que detém esse tipo de conhecimento, sendo assim de grande
interesse na etnobotânica e na etnofarmacobotânica. Este trabalho teve como objetivo realizar um levantamento
bibliográfico sobre alguns aspectos culturais, religiosos e alimentícios da etnobotânica. Para alcançar este propósito
foram feitas pesquisas em artigos científicos e em livros. No levantamento bibliográfico observou-se que a
etnobotânica apresenta diferentes vertentes em suas aplicações, sendo a etnofarmacobotânica ganha destaque
especial em comunidades tradicionais. A etnobotânica investiga e estuda o uso de plantas com fins medicinais,
culturais, religiosos e conservacionistas, oferecendo assim elementos práticos para investigadores e favorecendo a
descoberta de novos medicamentos. O estudo de etnobotânica ainda se encontra pouco difundido no país, sendo que
a área apresenta alto potencial de estudo.
Palavras chave: plantas medicinais; conhecimento empírico; plantas alimentícias
ETHNOBOTANY: HISTORICAL ASPECTS
AND APPLICATIONS OF THIS SCIENCE
Abstract
Medicinal plants represent an important tool in promoting health and culture in many regions of Brazil and in
particular for many communities that has this kind of knowledge, thus being of great interest in ethnobotany and
ethnopharmacobotany. This study aimed to conduct a literature review on some aspects of cultural, religious and
food of ethnobotany. To achieve this goal it has been made a research in scientific papers and books. In the literature
it was observed that the ethnobotany presents different aspects in their applications, and the etnofarmacobotânica
gets special attention in traditional communities. The ethnobotany and study investigates the use of plants for
medicinal, cultural, religious and conservationists, providing practical information for researchers and encouraging
the discovery of new drugs. The study of ethnobotany is still not widespread in the country, and the area has high
potential to study.
Key words: medicinal plants; empirical knowledge; food plants
____________________
1
2
3
Bacharel em Ciências Biológicas na Universidade Nove de Julho, São Paulo, SP, Brasil,
Profa. Dra. em Ecologia na Universidade Nove de Julho e pós doutoranda na ESALQ/USP, Piracicaba/SP.
Prof. Msc. de Botânica e Ecologia na Universidade Nove de Julho e doutorando no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA-USP), Piracicaba/SP
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FRANCO, F.; LAMANO-FERREIRA, A.P.N.; LAMANO-FERREIRA, M. Etnobotânica: aspectos históricos e aplicativos desta ciência
Introdução
A população humana tem se relacionado
intimamente com o cultivo de plantas desde as suas
primeiras organizações sociais, quando os quintais
passaram a ser uma estratégia de cultivo do seu
próprio alimento e remédios. O uso popular de
plantas é uma arte muito antiga fundamentada no
acúmulo de informações repassadas oralmente
através de sucessivas gerações (NASCIMENTO,
2008).
Uma importante subárea da botânica, a
etnobotânica, tem ganhado destaque na área científica
devido à grande conexão que se estabelece entre
conhecimento popular e ciência propriamente dita.
A etnobotânica é uma ferramenta relativamente
barata de pesquisa que favorece a relação do homem
com a vasta diversidade vegetal, que por sua vez,
contribui de forma significativa nas enfermidades
humanas, nos rituais religiosos e até mesmo em
padrões de alimentação.
Para Prance (1991), somente a partir dos
trabalhos de Carl Linnaeus que se inicia a história da
etnobotânica, porque seus diários de viagens
continham dados referentes às culturas visitadas, os
costumes de seus habitantes e o modo de utilização
das plantas.
Para Albuquerque e Lucena (2004), a
etnobotânica não possui uma estrutura conceitual
estabelecida que defina seus métodos, entretanto, ela
se sustenta em conceitos antropológicos, botânicos e
ecológicos.
A experiência de muitos pesquisadores tem
favorecido métodos compatíveis com a abordagem
etnocientífica, uma vez que a definição dos métodos
de qualquer ciência depende das concepções teóricas
defendidas por esta ciência. Dentre tais métodos se
podem destacar o uso tradicional e amplo das plantas
para tratamentos de certas doenças. (PHILLIPS;
GENTRY 1993).
Podem-se encontrar estudos etnobotânicos
relativamente antigos, pois com a proximidade a
novos povos detentores de tais conhecimentos alguns
cientistas mostraram interesse pelo assunto, como foi
o caso Carl Friedrich Philipp von Martius e Joahnn
Baptist Ritter von Spix no século XIX, que fizeram
notas do uso de plantas por indígenas brasileiros.
Já muito antes (no século XVII), no Nordeste do
Brasil, os holandeses Guilherme Piso e Georg
Marggraf, coletaram plantas e registraram usos
conhecidos pelos nordestinos. (ALBUQUERQUE,
2002).
Cad. Cult. Ciênc. Ano VI, v.10, n.2, dez, 2011
Diversos estudos etnobotânicos vêm sendo
desenvolvidos no Brasil e no mundo buscando
conhecer a medicina e rituais dos diversos povos
étnicos. Devem-se ressaltar estudos em comunidades
indígenas, tais como o desenvolvido por Rodrigues
(2001), que trabalhou com um comunidade indígena
da etnia Krahô, Coutinho e colaboradores (2002), que
realizaram estudo etnobotânico de plantas medicinais
utilizados por comunidades indígenas no estado do
Maranhão e, Morais e colaboradores (2005) com o
levantamento das plantas medicinais usadas pelos
índios Tapebas do Ceará.
Todos evidenciaram a diversidade de espécies
vegetais utilizadas como medicinais, proporcionando
um maior conhecimento aplicado da flora.
O Brasil, um dos países de maior diversidade
genética vegetal ocupa posição de destaque no que se
diz respeito ao patrimônio vegetal genético nacional
(NORDORI; GUERRA, 1999).
Dessa forma, atualmente, muitas plantas que nos
rodeiam podem apresentar uma produção de
substâncias químicas que podem atuar beneficamente
sobre outros organismos ou agirem de forma tóxica.
Para que o homem possa fazer uso de uma espécie,
com segurança, é necessário que a mesma seja
estudada do ponto de vista químico, farmacológico,
toxicológico e etnológico, quando possível (RITTER
et al. 2002).
Assim, este trabalho objetivou fazer um
levantamento bibliográfico sobre a etnobotânica e
suas aplicações.
Método
A pesquisa em questão constituiu-se num
levantamento de publicações científicas relacionadas
a etnobotânica. As bases de dados foram consultadas
entre agosto de 2009 à outubro de 2010.
As palavras chaves foram cruzadas de três
maneiras distintas: plantas medicinais; etnobotânica,
conhecimento empírico. Apesar disto o estudo versa
sobre uma revisão bibliográfica não sistematizada.
Para análise e síntese do material realizou-se uma
leitura exploratória do material bibliográfico.
Após isso houve uma leitura seletiva,
determinando assim o material mais pertinente ao
tema do trabalho. Por fim, procedeu-se a leitura
analítica a fim de sumarizar e hierarquizar as
informações contidas nos periódicos e livros
consultados, possibilitando assim, a obtenção de
resposta ao problema da pesquisa.
FRANCO, F.; LAMANO-FERREIRA, A.P.N.; LAMANO-FERREIRA, M. Etnobotânica: aspectos históricos e aplicativos desta ciência
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apresentou uma definição pragmática para essa área
do saber:
Resultados e Discussão
No Brasil, o uso das plantas com fins medicinais
foi disseminado principalmente pela cultura indígena.
Os índios, assim como a população em geral, fazem
uso de plantas medicinais no tratamento de suas
doenças (VEIGA-JÚNIOR, 2008).
Nos artigos consultados as espécies herbáceas,
cultivadas ou espontâneas, são as que apresentaram
maior importância em estudos dessa natureza, porém,
há de se considerar as plantas de hábito arbóreo,
subarbustivo e arbustivo (CAVALCANTE; FRIKEL,
1973;
RODRIGUES,
2001;
COUTINHO;
TRAVASSOS; AMARAL, 2002).
Há evidências de que a seleção de plantas para
uso medicinal não é feita ao acaso e que famílias
botânicas com compostos bioativos tendem a ser
mais bem representadas nas farmacopéias populares
(MOERMAN; ESTABROOK, 2003). No entanto,
para Morais e colaboradores (2005), muitas espécies
utilizadas ainda não existem em trabalhos científicos,
fato que não garante seu uso seguro.
Aspecto histórico
O interesse dos povos e sociedades em relação ao
meio ambiente, em especial aos vegetais, data de
milhares de anos. Registros históricos demonstram
que na antiguidade, o homem já conhecia diversas
propriedades das plantas, dentre estas, as
propriedades medicinais (FERNANDES, 1982).
Diversos estudos etnobotânicos vêm sendo
desenvolvidos no Brasil buscando conhecer a
medicina indígena e quilombola e a forma de
organização desses conhecimentos, no entanto, temse observado que há poucas referências etnobotânicas
para os povos indígenas do Brasil, que apesar de ser
um país com uma grande diversidade cultural e
biológica, estudos de natureza etnobotânica ainda não
são representativos, quando comparados com estudos
relacionados a outras áreas (ALBUQUERQUE,
2000).
Segundo Albuquerque, (2002) Alphonse De
Candolle publicou em 1886, “A origem das plantas
cultivadas”, onde dados etnobotânicos foram
utilizados nos estudos sobre a origem de plantas
cultivadas. Já o termo etnobotânica foi designado em
1895 pelo americano John Willian Harshberger que
Cad. Cult. Ciênc. Ano VI, v.10, n.2, dez, 2011
“É considerado que a etnobotânica
possa auxiliar no esclarecimento da
cultura das etnias que utilizam as
plantas de forma medicinal ou em
rituais”.
Sobre este aspecto é importante dizer que homem
foi e é o agente de mudanças de evolução vegetal
doméstica, pois desde os primórdios da civilização
humana o meio botânico esteve relacionado à sua
sobrevivência, manipulando-a não somente para
suprir suas necessidades nutritivas, mas também
culturais e farmacológicas.
Nos últimos anos surgiram importantes trabalhos
sobre o assunto, porém ainda são raros os que são
escritos em português, embora sejam encontrados
alguns relatos na literatura brasileira. Este é o caso de
Munanga (1996),
que estudou comunidades
indígenas e quilombolas.
Ele destaca em seu trabalho a origem destes
povos bem como o uso de plantas em rituais e na
medicina. O autor comenta que para se entender mais
sobre as plantas, é preciso mergulhar um pouco em
mitos e rituais populares, uma vez que a cultura, em
geral, influencia a saúde e a forma de como lidar com
o corpo.
Aplicações e implicações da Etnobotânica
Vários são os objetivos e justificativas que levam
pesquisadores a desenvolver uma pesquisa
etnobotânica. Existem, entretanto, tendências gerais
que sugerem a realização destas pesquisas em um
contexto.
Normalmente o objetivo de estudo de tais
pesquisas são os chamados grupos culturalmente
definidos que possuam nitidamente estreita relação
com os recursos naturais e, portanto, um
conhecimento histórico e/ou tradicionalmente
acumulado. Muitas vezes a localização geográfica de
isolamento ou semi-isolamento junto a ricas fontes de
recursos naturais proporciona esta estreita relação,
devido às dificuldades de acesso (físico e/ou
econômico) aos insumos para sobrevivência,
recorrendo aos recursos naturais (ALBUQUERQUE;
LUCENA, 2004).
Os autores referidos anteriormente afirma que
dentro de uma lógica das metas do estudo, estas
pesquisas objetivam em geral:
FRANCO, F.; LAMANO-FERREIRA, A.P.N.; LAMANO-FERREIRA, M. Etnobotânica: aspectos históricos e aplicativos desta ciência
“Resgatar o conhecimento tradicional
de grupos definidos culturalmente, a
respeito da manipulação de recursos
vegetais e de recursos biologicamente
ativos
etnobotânica
e
etnofarmacologia, respectivamente, de
modo a correlacionar a relação entre o
homem
e
o
meio
ambiente,
particularmente os recursos naturais,
com sua cultura peculiar, fazendo uma
etnografia do grupo.”
“Descobrir novos recursos ainda não
explorados pela ciência e novas técnicas
de manipulação e conservação destes e
dos recursos já conhecidos, a fim de
subsidiar mudanças de conceitos
fundamentais da ciência clássica
visando à melhoria da qualidade de vida
global.”
A justificativa desse tipo de pesquisa é, portanto,
o resgate cultural visando desenvolver estratégias de
conservação da biodiversidade e proteção da
etnobiodiversidade, entretanto há um impasse difícil
de ser solucionado nas pesquisas “etno”, pois são na
maioria das vezes fontes potenciais de lucro e
benefícios para manipuladores dos dados da pesquisa
e para a humanidade, tendo um grande valor de
conhecimento dos grupos culturais, assim se revela
um dos mais polêmicos desafios destas pesquisas,
garantirem os direitos à propriedade intelectual
(idéias, invenções e expressão criativa) desses
grupos, pois há o desejo de se dar o status de
propriedade a essas invenções e expressões das
comunidades estudadas. Desde a década de 80 a
chamada “década da ética”, etnocientistas tem
discutido esta questão, entretanto pouco de concreto
tem evoluído no sentido de encaminha-lá.
(SHERWOOD, 1992).
Além disso, uma planta com um índice de
concordância relativamente alto, isto é, que possua
diversas referências concordando com um mesmo
uso terapêutico, talvez possa sugerir uma verdadeira
efetividade no tratamento da doença, esse índice de
referência facilitará a seleção de espécies para testes
farmacológicos que possam vir a comprovar uma real
eficácia de seus princípios ativos (FRIENDMAN et
al, 1986).
Etnofarmacologia, Farmacognosia e Fitoterápicos
Cad. Cult. Ciênc. Ano VI, v.10, n.2, dez, 2011
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A etnofarmacologia é uma ciência que procura
entender o universo dos recursos naturais (plantas,
animais e minerais) utilizados como drogas sob a
ótica de grupos humanos (RAO; HAJHARA, 1987).
Levantamentos etnofarmacológicos realizados
em comunidades residentes próximo às matas
brasileiras são instrumentos promissores, uma vez
que o país possui altos índices de biodiversidade e
endemismo associados a um processo de
miscigenação intenso que resultou numa riqueza
considerável de conhecimentos sobre a sua flora.
No Brasil, estes levantamentos têm focado os
grupos indígenas (CAVALCANTE; FRIKEL, 1973)
as populações tradicionais, tais como os caiçaras
(BEGOSSI, 1993) e os caboclos, (MING, 1995),
sendo o negro raramente incluído, com exceção dos
trabalhos realizados por Camargo (1998) e
recentemente por Albuquerque (2001).
O termo Farmacognosia, etimologicamente
significa o conhecimento dos fármacos (gnose) ou
venenos (pharmacon), é considerado o estudo de
matérias-primas e substâncias de origem biológica,
ou seja, obtidas a partir dos vegetais, animais ou
fermentação a partir de microrganismos, com fins
terapêuticos. É uma ciência aplicada, de caráter,
necessariamente multidisciplinar.
Restringido ao estudo de drogas e substâncias de
origem vegetal, a farmacognosia envolve o estudo da
identificação de drogas vegetais por caráter
morfológicos e anatômicos, o estudo de sua origem e
formas de produção, de sua qualidade composição
química, elucidação estrutural e conhecimento das
propriedades físico-químicas das substâncias ativas,
bem como suas propriedades farmacológicas e
toxicológicas (BRUNETON, 1993).
Os fitoterapêuticos são medicamentos feitos de
partes de plantas cujos princípios ativos não foram
purificados, como chás, extratos e tinturas, podendo
ser produtos de venda e de uso livre e, desta forma,
estão diretamente ligados à automedicação (RATES;
SANTOS, 1997).
O uso de fitoterápicos remonta aos tempos
ancestrais e seu uso na medicina popular sempre foi
bem difundido, porém, hoje em dia, há uma
abordagem científica desses medicamentos com
estudos clínicos para verificar a eficácia.
Muitas plantas medicinais bastante populares não
tiveram sua eficácia comprovada e podem até ser
tóxicas sendo comum a crença errônea de que os
fitoterápicos, por serem provenientes de plantas, não
acarretam riscos à saúde. Porém são medicamentos, e
como tal podem ter efeitos colaterais em potencial e
devem ser usado sob orientação médica.
FRANCO, F.; LAMANO-FERREIRA, A.P.N.; LAMANO-FERREIRA, M. Etnobotânica: aspectos históricos e aplicativos desta ciência
A interação dos medicamentos fitoterápicos com
drogas sintéticas é uma grande preocupação da
medicina atual, por isto, estes devem ser preparados
de forma correta e utilizados em doses e horários
definidos, pois como qualquer medicamento, as
plantas também podem desencadear sérios efeitos
colaterais (ZUCOLOTTO; APEL; RATES, 1999).
Segundo a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA), alguns fitoterápicos podem
auxiliar no tratamento de várias doenças, por meio da
Resolução RDC 89/2004 (BETTEGA et al., 2011),
que publicaram uma lista de fitoterápicos de registro
simplificado e buscou estabelecer a padronização de
marcadores químicos para diversas plantas e limite
diário para seu uso.
Entende-se esta preocupação como etapa
fundamental para assegurar o uso e garantir eficácia
ao fitoterápico. Buscando atuar neste contexto, a
necessidade de determinar o teor de princípios ativos
em matérias-primas vegetais, embora diversos
estudos tenham demonstrado a necessidade de
garantir segurança aos produtos de origem vegetal
(POSEY, 1987).
Realização de um trabalho etnobotânico
Albuquerque (2002), menciona que na adequação
da metodologia ao problema principal da pesquisa,
deve se questionar qual o melhor meio de se analisar
o problema enfocado na conclusão de qualquer
investigação cientifica e na livre escolha que tem o
pesquisador de usar os métodos compatíveis com os
objetivos a serem alcançados, seja dando uma ênfase
quantitativa ou qualitativa, ou a associação de ambas.
De posse de todo o arsenal teórico e prático
necessário, devem ser considerados os aspectos de
extrema relevância em uma pesquisa, as regras
principais para a pesquisa etnobiológica e as
considerações para o campo da investigação
etnobotânica que são, segundo Posey (1987):
a) Estudar a botânica desenvolvida por outras
culturas tendo em mente que estas se
esforçam por classificar, catalogar e utilizar
racionalmente o mundo vegetal, tratando os
informantes como especialistas no assunto,
uma vez que verdadeiramente são, pois
dominam conhecimentos e fenômenos que
nos são desconhecidos e que buscamos
compreender.
b) Evitar perguntas etnocêntricas, ou seja, não
colocar a visão do mundo onde o nosso
próprio grupo é tomado como centro de tudo
e nem impor suas próprias idéias. Participar
Cad. Cult. Ciênc. Ano VI, v.10, n.2, dez, 2011
c)
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sem alterar o curso normal das atividades e
comportamento dos informantes.
Estabelecer contato amigável e receptivo com
os informantes, deixando que os mesmos
sejam os guias da pesquisa, não rejeitando
dados ou informações que a primeira vista
pareça insignificante ou absurda.
Para Albuquerque e Lucena (2004), a observação
participante, originada da Antropologia, é muito útil
na abordagem etnobotânica, pois permite minimizar a
influência
de
inventários
superficiais
instrumentalizados pela aplicação fria de formulários
e questionários. Trata-se de um fator limitante à
pesquisa facultando assim revelar detalhes não
explicados durante as entrevistas formais, bem como
acrescer nas listagens obtidas espécies não
informadas fazendo assim, qualquer situação em que
plantas e pessoas se vejam envolvidas pode ser
apuradas em busca de sentido e lógica.
Apesar de toda a importância de um questionário
em um trabalho desta natureza outro ponto que não
pode ser deixado de lado é a escolha da planta a ser
estudada a qual, pode ser feita de três formas: a)
abordagem randômica - escolha da planta sem
qualquer critério, tendo como fator determinante a
disponibilidade
da
planta;
b)
abordagem
quimiotaxonômica ou filogenética – seleção da
espécie correlacionada com a ocorrência de uma dada
classe química de substâncias em um gênero ou
família; c) abordagem etnofarmacológica - seleção da
espécie de acordo com o uso terapêutico evidenciado
por um determinado grupo étnico (MACIEL, 2002).
A aplicação da etnobotânica dentro de uma
dinâmica própria em que se desenvolve a relação
pessoas/plantas possui ainda uma multiplicidade de
questões e níveis interativos que a circundam, indo
além da descrição ou qualificação de uma planta e a
devolução desse conhecimento as comunidades,
como nos trabalhos de Rodrigues (2001), Coutinho e
colaboradores (2002), Morais e colaboradores
(2005).
Basta constatarmos a carta de Belém elaborada
durante o Congresso Internacional de Etnobiologia,
ocorrido em 1988 em Belém-Pará, que muitos
ecossistemas frágeis estão desaparecendo e com isso
espécies vegetais com potencial medicinal pra muitos
males estão se extinguindo sem ao menos serem
conhecidos (ALBUQUERQUE, 2005).
As pesquisas etnobotânicas realizadas no
decorrer dos últimos 100 anos têm provado essa
afirmativa, evidenciando com um discurso científico
e conduzindo a uma direção na qual se possa tomar
FRANCO, F.; LAMANO-FERREIRA, A.P.N.; LAMANO-FERREIRA, M. Etnobotânica: aspectos históricos e aplicativos desta ciência
medidas concretas com mecanismos práticos que
vissem sanar esse problema.
Considerações Finais
As pesquisas com plantas medicinais envolvem
investigações da medicina tradicional e popular
(etnobotânica) e investigação farmacológica de
extratos e dos constituintes químicos isolados
(farmacologia).
As sociedades tradicionais têm sido, de alguma
forma, influenciada pela medicina tradicional. No
entanto algumas doenças podem ser vistas como
sendo curáveis tanto por médicos quanto por outros
especialistas, como por exemplo, benzedeiras ou
pajés, sendo que o paciente doente pode aceitar a
explicação da medicina ortodoxa e dos especialistas
culturalmente mais próximos, seguindo as
prescrições de ambos.
Estudos de etnobotânica se fazem extremamente
necessários, uma vez que este pode ser o precursor de
agentes importantes para a terapia de uma série de
enfermidade, além do que esta modalidade de estudo
pode contribuir em planos de conservação, resgate da
cultura e fortalecimento de atos religiosos.
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