Fenómenos de Transferência I Transferência de quantidade de movimento II. Introdução ao comportamento dos fluidos em movimento Sara Raposo 2. Dinâmica de Fluidos 2.1. Introdução ao comportamento dos fluidos em movimento 2.1.1. Noção de Fluido Quando sujeito a uma força tangencial deforma-se continuamente (“escoa” ou “flui”) 2.1.2. Noção de camada-limite Tubo circular Camada-limite Fluido Zona do fluido em que a velocidade não é uniforme. A velocidade é afectada por acção da parede sólida Camada-limite O fluido em contacto com a parede fica sujeito a atrito velocidade uniforme Junto à parede, a velocidade é praticamente nula FTI - II.2.1. Fluidos em Movimento FTI - Sara Raposo 2 1 Velocidade uniforme Fluido camada-limite Junto ao solo Parede sólida A velocidade aumenta no meio e diminuí junto à parede Verifica-se um atrito recíproco entre as moléculas do fluido na camada-limite Diminuição da velocidade do fluido com a proximidade da parede y=0 ⇒ vx≈0 y=½y ⇒ vx=v y=y ⇒ vx=v FTI - II.2.1. Fluidos em Movimento 3 2.1.3. Regimes de escoamento dos fluidos: Laminar e Turbulento Experiência de Reynolds Válvula quase fechada Válvula aberta Regime Laminar Regime Turbulento A corrente de corante não se mistura com a água. A corrente de corante misturase com a água. FTI - II.2.1. Fluidos em Movimento FTI - Sara Raposo 4 2 Regime Laminar • Formação de laminas de corrente, que representam as camadas do fluido • Há trocas de energia feitas pelas moléculas das diferentes laminas, no entanto, esta troca é feita molécula a molécula • O movimento atravessando linhas de corrente ocorre somente como resultado da difusão a uma escala molecular e o caudal é fixo Regime Turbulento • Quanto maior a corrente, maior a turbulência do fluido • Ocorrem trocas de energia entre grupos de moléculas do fluido, provocando turbulência • A presença de correntes de circulação resulta na transferência de fluido a uma escala maior e ocorrem flutuações cíclicas no caudal, embora o caudal médio no tempo permaneça constante FTI - II.2.1. Fluidos em Movimento 5 As linhas de corrente paralelas As linhas de corrente aproximamse umas das outras à medida que a passagem é constringida Maior velocidade de fluido ⇓ Linhas de corrente mais próximas entre si Padrões de fluxo num tubo rectilíneo, através de uma constrição e na passagem por um objecto imerso FTI - II.2.1. Fluidos em Movimento FTI - Sara Raposo 6 3 2.1.4. Viscosidade e Tensão de corte vx - dvx y Fluido dy o Área da placa: A vx -F x F Forças tangenciais (paralelas à direcção do fluido) - as resultantes anulam-se para estabelecer o equilíbrio F =τ A τ x = −µ τ é contrária ao gradiente de Tensão de corte (N/m2) dv x dy velocidade formado Lei de Newton da viscosidade µ Viscosidade absoluta ou dinâmica (propriedade do fluido) (regime laminar) Gradiente de velocidade FTI - II.2.1. Fluidos em Movimento 7 Unidades de µ • Sistema SI: • Sistema CGS: N.s.m-2 = Kg.m-1.s-1 = Pa.s g.cm-1.s-1 = poise ; cp Em regime turbulento τ x = −(µ + ε) Viscosidades cinemáticas (Unidades: m2/s) 1 cp = 10-3 Pa.s dv x dy Viscosidade turbulenta µ =ν ρ molecular ε = νc ρ turbulenta FTI - II.2.1. Fluidos em Movimento FTI - Sara Raposo 8 4 Valores típicos e variação da viscosidade Líquidos: - µ > 0,1 cp - µ diminuí com o aumento da T - µ não depende da P Gases: - µ < 0,1 cp - µ aumenta com o aumento da T - µ é independente de P até cerca de 10 atm - ν varia fortemente com a P FTI - II.2.1. Fluidos em Movimento 9 2.1.5. Fluidos Não-Newtonianos Não seguem a Lei de Newton da viscosidade τ x = µ aparente dv x dy O factor de proporcionalidade – viscosidade aparente – varia com o gradiente de velocidade (velocidade de corte) (dvx / dy) Tensão de corte não segue uma relação linear com a velocidade de corte ⇓ µap depende de τ Tipos de fluidos Não-Newtonianos: - Independentes do tempo - Dependentes do tempo FTI - II.2.1. Fluidos em Movimento FTI - Sara Raposo 10 5 Independentes do tempo tensão de corte crítica ou tensão de cedência k – coeficiente de consistência Tensão de corte -(τx) − τ x = −( τ x )crit + k Fluido de Bingham τ = τ0 + k dv x dy Fluido de Casson (plástico) p (τx)crit dv x ; τ > τ0 dy dv − τ x = k x ;p < 1 dy Fluido Pseudoplástico Fluido Newtoniano dv τ x = µ ap x dy Fluido Dilatante p dv − τ x = k x ; p > 1 dy Velocidade de Corte (γ=dvx/dy) ou gradiente de velocidade ou rapidez de corte FTI - II.2.1. Fluidos em Movimento 11 ¾ Plástico de Bingham – resiste ao efeito de corte, para τx ≤ (τx)crit Para τx > (τx)crit comporta-se como um fluido Newtoniano EX.: Margarina, pasta dentífrica, lamas de esgotos ¾ Pseudoplásticos - µaparente diminui à medida que aumenta a velocidade de corte (gradiente de velocidade) EX.: Maionese, polímeros, tintas, caldos fermentativos ¾ Dilatantes - µaparente aumenta à medida que aumenta a velocidade de corte EX.: Soluções de amido, goma arábica ¾ Pásticos de Casson – EX.: sangue, ketchup, sumos concentrados, chocolate derretido FTI - II.2.1. Fluidos em Movimento FTI - Sara Raposo 12 6 Dependentes do tempo ¾ Tixotrópicos – viscosidade aparente diminuí com o tempo de aplicação da tensão de corte ⇒ os fluidos tornam-se mais pseudoplásticos. Para uma dada tensão de corte, a velocidade de corte aumentará com o tempo, podendo provocar uma ruptura do material (progressiva). EX.: tintas de pintar e escrever ¾ Reopécticos – viscosidade aparente aumenta com o tempo de aplicação da tensão de corte ⇒ os fluidos tornam-se mais dilatantes. EX: suspensões de gesso em água ¾ Viscoelásticos – são fluidos que apresentam, simultaneamente, propriedades viscosas e elásticas. O efeito da elasticidade depende do tempo de aplicação da tensão de corte. EX.: polímeros fundidos FTI - II.2.1. Fluidos em Movimento 13 τx Início Fluido Tixotrópico dvx/dy Fluido Reopéctico Início dvx/dy FTI - II.2.1. Fluidos em Movimento FTI - Sara Raposo 14 7 2.1.6. Tensão de corte e Fluxo de Quantidade de Movimento Tensão de corte = = Força (F) massa (m) × acelaração (m) = = Área tangencial (A) área tangencial (A) massa (m) × velocidade (v) Quantidade de Movimento = = Fluxo de Quantidade de Movimento área (A) × tempo (t) Área tangencial × Tempo 2.1.7. Diâmetro equivalente de uma conduta de = 4 × área da secção transversal " perímetro molhado" perímetro interno Num tubo circular: de = diâmetro do tubo FTI - II.2.1. Fluidos em Movimento 15 2.1.8. Número de Reynolds (Re) Re = Forças de inércia forças viscosas Re = u.de .ρ µ Adimensional u – velocidade média do fluido numa dada secção transversal de – diâmetro equivalente ρ - massa específica µ - viscosidade u= M ρ.S M – caudal mássico (Kg/s) S – secção transversal m2) • Regime laminar: Re ≤ 2100 • Regime de transição: 2100 < Re ≤ 4000 • Regime turbulento: Re >4000 FTI - II.2.1. Fluidos em Movimento FTI - Sara Raposo Em condutas 16 8 2.1.9. Tensão de corte e queda de pressão (P - ∆P). S τw . A S – área da secção transversal do tubo (d2 . π/4) L d A – área lateral do tubo (d.L. π) τw - tensão de corte na parede d – diâmetro interno do tubo P.S L – comprimento do tubo Balanço de forças: P.S − (P − ∆P).S = τ w .A ⇒ ∆P.S = τ w .A ⇒ τw = πd2 ⇒ ∆P = τ w .π.d.L 4 ∆P.d 4.L ou ∆P 4.τ w = L d FTI - II.2.1. Fluidos em Movimento 17 2.1.10. Variação da tensão de corte ao longo da secção transversal de um tubo circular τw τ r Num ponto qualquer, à distância r do eixo do tubo: ∆P.π.r2 = 2. π. r.L.τ Logo, perímetro do circulo ∆P r τ= L 2 ou • Centro do tubo • Paredes do tubo τ= (r = 0) 2τ w r d área da secção τ varia linearmente desde a parede até ao centro do tubo ⇒ τ =0 (r = d/2) ⇒ τ = τw , valor máximo de τ FTI - II.2.1. Fluidos em Movimento FTI - Sara Raposo 18 9