GAB_C2_8oAno_Hist_SOME_Tony_2013 03/01/13 08:03 Página I Orientação para o Professor – História – 8.o Ano do Ensino Fundamental Procura-se inserir a Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana como movimentos relacionados à crise do Sistema Colonial Português. Buscou-se um entrelaçamento com a crise do Antigo Regime e a independência dos EUA. – Influências externas aos movimentos de contestação à exploração colonial: Iluminismo francês, independência das Treze Colônias inglesas na América, Revolução Francesa. – Inconfidência Mineira: organização, liderança, violência da pena. – Conjuração Baiana: influência dos ideais jacobinos. – Composição social da liderança: camadas médias e populares. Projeto revolucionário ultrapassava a emancipação política. – Governo napoleônico direcionado aos interesses da burguesia e baseado em uma política expansionista e militarista. – As relações históricas entre o Bloqueio Continental e a vinda da corte portuguesa ao Brasil; antecedente ao processo de independência. – A derrota de Napoleão e a reação conservadora europeia: Congresso de Viena e Santa Aliança. ORIENTANDO O TRABALHO EM CLASSE CAPÍTULO 5 Neste capítulo o aluno tomará contato com as principais mudanças do século XVIII, com ênfase para o surgimento das ideias do Iluminismo. Com isso, inicia-se o estudo do Antigo Regime. O assunto é a Revolução Industrial, sobre a qual procurou-se destacar: – Razões do surgimento da Revolução Industrial na Inglaterra. – Transformação na produção. – Comparação entre trabalho artesanal e trabalho fabril. – Urbanização. – Surgimento do proletariado. – Condição de vida nos primeiros tempos da indústria. – Alteração no modo de vida a partir da formação da sociedade urbana e industrial (por exemplo, a percepção do tempo). Procurou-se estabelecer uma ponte entre as condições de vida e de trabalho no início da industrialização e hoje, enfatizando-se a utilização do trabalho infantil. – Permanência histórica: a exploração do trabalho infantil – início do século XIX, fins do século XX. – A questão das crianças que estão fora, à margem do processo educativo. – Após o trabalho com o texto, o professor deverá dividir a classe em pequenos grupos e discutir os pontos levantados em aula. Colonização inglesa na América do Norte. Colônias de povoamento e exploração. Contrastes e semelhanças em relação à colonização ibérica. Processo de emancipação política das Treze Colônias inglesas na América – guerra pós-independência. EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES O aluno deverá ser levado a discutir as razões profundas que levaram a França à Revolução e discutir o significado desse movimento. O aluno deverá ser orientado a escrever, em forma de narração, o desenvolvimento histórico do processo revolucionário francês, considerando o roteiro proposto na tarefa. A orientação dada ao aluno deverá ser no sentido de reflexão e raciocínio, antes de preencher o quadro. CAPÍTULO 7 Neste capítulo destacamos: – Governo napoleônico direcionado aos interesses da burguesia e baseado em uma política expansionista e militarista. – As relações históricas entre o Bloqueio Continental e a vinda da corte portuguesa ao Brasil; antecedente ao processo de independência. – A derrota de Napoleão e a reação conservadora europeia: Congresso de Viena e Santa Aliança. Os dois textos complementares constituem-se em instrumentos teóricos para a compreensão do movimento emancipacionista na ótica da crise do antigo sistema colonial. A liderança criolla no movimento e a participação de segmentos populares nas guerras de independência. EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES O aluno deverá ser orientado a pesquisar em diferentes fontes sobre a inovações técnicas e tecnológicas do século XVIII. Ao final do trabalho ele deverá citar corretamente as fontes bibliográficas. O professor deverá orientar o aluno no sentido de fazer entrevistas/pesquisas com três pessoas, que podem ser da escola ou de sua família. A questão é saber qual o papel ou a função dos sindicatos nos dias atuais. O aluno deverá colocar o nome, a idade e a profissão de cada entrevistado. O aluno deverá ser orientado para que, em um primeiro momento – reflita sobre o real significado da expressão “regenerar pelo trabalho”; – questione o conceito de marginalidade. A partir daí ele irá opinar, por escrito, acerca das questões ideológicas que mascaram a exploração do trabalho infantil. O aluno deverá comparar as bases da colonização do Brasil e dos Estados Unidos. EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES Orientar o aluno para a pesquisa em diversas fontes, inclusive a internet. Enfatizar a importância da correta citação bibliográfica ao final do trabalho. CAPÍTULO 8 CAPÍTULO 6 Neste capítulo destacamos: – Transferência da Corte Portuguesa para o Brasil – abertura dos portos às nações amigas e o fim do pacto colonial. Influência da Inglaterra no Brasil. – Política interna e externa de D. João. A modernização do Rio de Janeiro. O capítulo enfoca a Revolução Francesa com destaque para: – O processo revolucionário francês. – Ascensão da burguesia ao poder. – Participação popular. – Limites burgueses da revolução. I GAB_C2_8oAno_Hist_SOME_Tony_2013 03/01/13 08:03 Página II – Revolução Pernambucana de 1817 e a proposta republicana. – Bases políticas do movimento de separação entre Brasil e Portugal. Tentativas de recolonização e avanço do processo de independência. – Lutas internas pós-independência. O real significado da independência. O professor e a classe deverão envolver-se profundamente nessa atividade para que ela seja realizada a contento. Dividir a classe em grupos e orientá-los na elaboração do texto é um trabalho que o professor deve realizar com alguma antecedência, algo em torno de 30 dias. Os alunos poderão ser orientados a usar roupas escuras na dramatização, numa clara alusão ao Teatro Negro de Praga, onde os personagens vestem-se de negro com maquiagem branca no rosto. Um trabalho de reflexão e discussão em grupo é o objetivo dessa atividade de revisão. O professor dividirá a classe em pequenos grupos, preferencialmente não ultrapassando quatro pessoas. Essa discussão inicial pode estar em torno de quinze minutos. Após esse tempo, o professor fará um grande círculo, em que um representante de cada grupo apresentará suas conclusões ou reflexões. 1. Como acontecia a divisão do trabalho na fábrica de alfinetes, tal como Adam Smith a descreveu? EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES 4. Como você analisa a atuação do operário na divisão do trabalho “Um operário desenrola o arame, um outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto faz as pontas, um quinto o afia nas pontas para a colocação da cabeça do alfinete; para fazer uma cabeça de alfinete requerem-se 3 ou 4 operações diferentes.” 2. Que outros exemplos de divisão ou especialização de trabalho você conhece? A partir da leitura do texto de Adam Smith e de seus conhecimentos anteriores, o aluno deverá responder a questão. 3. Você concorda com a ideia de que o aumento da divisão ou especialização do trabalho leva ao aumento da produtividade nas indústrias? Justifique sua resposta. O aluno deverá se posicionar, considerando todas as discussões que envolveram o processo de mudanças na produção, a partir do séxulo XVIII. O aluno deve ser orientado a colocar-se no lugar de um historiador. Ante seus olhos está a cidade do Rio de Janeiro de 1808, momento do desembarque da corte portuguesa. Como observador atento deverá descrever todo esse cenário. Lembrar ao aluno que ele deverá dar um título a esse trabalho. O aluno deverá considerar a especialização necessária ao trabalho no século XVIII. A partir da leitura dos textos e das discussões com seu professor, reflita e responda: 1. Como eram as condições de vida dos novos trabalhadores da indústria? GABARITO O aluno deverá considerar em sua resposta: a exploração do trabalho, a extensa jornada de trabalho e a ausência de uma legislação trabalhista. CAPÍTULO 5 – UM MUNDO EM MUDANÇA 2. O primeiro texto fala sobre o surgimento das Trade Unions inglesas, precursoras dos atuais sindicatos. Você sabe qual é a função dessas associações de trabalhadores? Justifique sua resposta. Trabalho artesanal Define-se pela posse do produtor sobre os meios de produção: instalação, ferramentas e matérias-primas. Em casa, sozinho ou com a família, o artesão realiza todas as etapas do processo produtivo. Na defesa de seus interesses econômicos, os artesãos de mesma atividade profissional reúnem-se em corporações de ofício e têm o controle sobre o ritmo e a quantidade de seu trabalho. Os sindicatos são associações que representam os interesses de uma determinada categoria profissional. 3. Retire dos textos pelo menos dois exemplos de violência que crianças e jovens sofriam na rotina diária do trabalho explorado nos primeiros tempos de indústria. Trabalho fabril A – Crianças e jovens sustentavam-se em pernas de pau para conseguirem alcançar os teares das fábricas. B – Os menores tinham seus dedos e membros esmagados ou amputados pelas engrenagens dos teares sem proteção. A fábrica, com todo seu complexo de instalações, define o ritmo de produção do trabalhador. O proletário, advindo desse contexto, torna-se assalariado através da venda de sua força de trabalho. Sujeito a uma longa jornada de trabalho, produz nas fábricas, na maioria das vezes, sob péssimas condições de higiene e segurança. 4. Imagine um dia na rotina do trabalhador inglês no início da industrialização e descreva abaixo como seria. A introdução da divisão do trabalho na atividade manufatureira foi analisada por Adam Smith a partir do funcionamento de uma fábrica de alfinetes do século XVIII. Para entender como isso acontecia, leia o documento desta aula e faça os exercícios a seguir. As discussões feitas em sala de aula e as explicações do professor são subsídios para o aluno descrever o cotidiano de um trabalho inglês do século XVIII. II GAB_C2_8oAno_Hist_SOME_Tony_2014 15/01/14 10:39 Page III Com base na leitura do texto de Paul Mantoux e sob a mediação do professor, a classe irá debater os seguintes pontos: Os Estados Unidos após a independência Declaração de Independência “Consideramos como autoevidentes as verdades que afirmam serem todos os homens criados iguais e dotados pelo seu Criador de certos direitos inalienáveis, entre os quais estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade. Que para garantir esses direitos são instituídos os governos entre os homens, derivando-se a sua força justa do consentimento dos governados; que sempre que qualquer forma de governo se tornar destruidora desses fins, o povo terá o direito de alterá-lo ou aboli-lo, e de constituir um novo governo que tenha por alicerces esses princípios, e organizar o seu poder da forma que lhes pareça a melhor maneira de conseguir a sua segurança e felicidade.” 1. Retire do texto duas frases que exemplifiquem a exploração do trabalho infantil no início da Revolução Industrial. “Cinquenta, oitenta, cem crianças eram cedidas em bloco e enviadas, como gado, com destino à fábrica onde deveriam ficar fechadas durante longos anos…” “Yarranton recomendava a abertura de escolas de indústria, como vira na Alemanha, onde duzentas meninas fiavam sem descanso, sob a ameaça da palmatória de uma mestra, submetidas a um silêncio absoluto, e chicoteadas se não fiassem bem ou rápido o bastante”… 2. Qual a diferença entre o trabalho infantil descrito por Paul Mantoux e a situação apresentada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT)? Declaração de Independência in Panorama da História dos Estados Unidos. HOFSTADTER, Richard e GRAY, Wood e OLSON, Keith (atualização). Agência de Comunicação Internacional dos Estados Unidos da América, s/d, p.40 A descrição de Paul Mantoux remete-nos à exploração de crianças e adolescentes no espaço das fábricas, após a Revolução Industrial. O texto da Organização Internacional do Trabalho alerta para a situação de vulnerabilidade, notadamente entre meninas e mulheres, em função da exploração do trabalho doméstico e do tráfico de pessoas. 1. Grife as ideias políticas do Iluminismo contidas no texto. Trabalho de leitura e interpretação feita pelo aluno. 2. Justifique e analise a parte do texto que você grifou. O aluno poderá considerar a frase inicial do texto e analisá-la à luz do Iluminismo, estudado anteriormente. Deverá recordar-se que o desdobramento do movimento da ilustração, na esfera política, concentrou-se na defesa dos direitos do indivíduo e no combate às arbitrariedades dos governos absolutistas. 3. Vamos explorar mais o texto da OIT e levantar hipóteses de porque o trabalho infantil, hoje se localiza no setor doméstico. Procure pensar sobre as condições que favorecem essa situação. Nesse espaço registre as possíveis hipóteses dessa situação tais como o fato dos empregadores nem sempre registrarem os trabalhadores domésticos que são mantidos em situação trabalhista irregular. 3. Qual a função do governo prevista nessa declaração? Garantir os direitos inalienáveis do homem: a vida, a liberdade e a busca da felicidade. 4. Em que circunstâncias o governo poderia ser mudado? Toda vez que o governo não for capaz de garantir a manutenção dos direitos inalienáveis do homem. 4. Com base na leitura dos dois textos, a classe deverá debater sobre a exploração do trabalho infantil da Revolução Industrial até os dias atuais: avanços e permanências. Registre as conclusões no espaço abaixo. Gabarito – Exercícios Complementares Capítulo 5 Resposta pessoal. 1. As Treze Colônias inglesas querem ser livres (…). Essas colônias conquistaram sua independência em meio às inovações técnicas e às mudanças pelas quais passava a economia inglesa em plena Revolução Industrial e à crise do Antigo Regime, que atingiria seu ponto mais agudo com a Revolução Francesa. Alguns exemplos: – SPINNING JENNY – 1767. Inventor: James Hargraves. Furadeira mecânica de pedal, com capacidade para produzir vários furos simultâneos. – WATER FRAM – 1769. Inventor: Richard Arkwright. Máquina movida a água, que produzia fios grossos. – TEAR MECÂNICO – 1789. Inventor: Edmund Cartwright. Processo automático para a fabricação de tecidos, movido a vapor. No início do século XIX podemos observar invenções no setor de transportes, ligadas também à Revolução Industrial: – NAVIO A VAPOR – 1869. Inventor: Robert Fellon. – LOCOMOTIVA A VAPOR – 1814. Inventor: George Stenphenson. Observe o mapa abaixo e descreva o que vê. A partir da análise do mapa, o aluno deverá observar que a colonização da América do Norte fez-se, inicialmente, na faixa atlântica, porção leste do atual Estados Unidos. Deverá observar, também, a existência de dois tipos de colonização: o de povoamento ao norte e o de exploração nas colônias do sul. 2. III A partir dos dados coletados nessa pequena pesquisa de opinião, o aluno terá elementos para discutir a posição dos profissionais frente a seus sindicatos. GAB_C2_8oAno_Hist_SOME_Tony_2013 03/01/13 08:03 Página IV 3. O aluno deverá elaborar um pequeno texto opinativo sobre a questão do trabalho infantil. 4. BRASIL – Inscreve-se no modelo de colonização dos países ibéricos, Portugal e Espanha, momento de expansão do capitalismo comercial via ampliação de mercados e acumulação de metais preciosos. Colônia do tipo exploração, o Brasil caracterizou-se pela monocultura em grandes extensões de terra, produção voltada ao mercado externo e exploração de mão de obra escrava africana. 3. De que forma pode-se relacionar o lema da Revolução Francesa com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão? Liberdade, Igualdade e Fraternidade foram os princípios que nortearam o início da Revolução Francesa, o qual, em razão disso, foi chamado, por alguns historiadores, de fase romântica ou idealista. Esse lema também está presente na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que estabelecia o princípio de igualdade entre todos os cidadãos. ESTADOS UNIDOS Norte: Presença das colônias de povoamento, sustentadas pela pequena propriedade familiar e mão de obra livre. A liberdade econômica trouxe consigo a diversificação de atividades: policultura, manufaturas, atividades pesqueiras, construção naval e desenvolvimento de um comércio interno. Sul: Tal como o Brasil e demais colônias espanholas na América, apresentavam-se como colônias de exploração. Presença de latifúndios onde desenvolvia-se uma monocultura destinada ao mercado externo, garantido pelo Pacto Colonial, exclusividade de comércio entre metrópole europeia e colônia americana. O trabalho era compulsório, feito por mão de obra escrava africana. 4. Escolha um dos itens da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Analise-o e diga se, na sua opinião, ele é praticado pela maioria das pessoas. Ao refletir sobre essa questão o aluno, certamente, estará pensando criticamente as práticas sociais no tempo presente. • Revolução = rebelião, revolta ou insurreição. Em sentido mais amplo pode ser entendida como uma mudança ou transformação de uma determinada estrutura da sociedade. • • CAPÍTULO 6 REVOLUÇÃO FRANCESA • Antigo Regime = regime político que caracterizou a maioria dos países europeus ao longo da Idade Moderna. Suas principais características foram: • Absolutismo monárquico, fundado no “direito divino” dos reis. • Mercantilismo, baseado na intervenção do Estado nas atividades privadas. • A divisão da sociedade em ordens ou estados. • Burguesia = grupo social em ascensão, colocava-se como representante do interesse geral da população. Projetos progressistas da burguesia encontram apoio nas camadas populares. Buscava a extinção dos privilégios concedidos ao Primeiro e Segundo Estado. Camponeses = constituíam-se na maioria da população francesa, almejavam a extinção dos privilégios e das relações econômicas feudais que ainda vigoravam na França. Sans-culottes = trabalhadores urbanos, operários, artesãos, donos de pequenas oficinas. Defendiam a igualdade de direitos, o fim dos privilégios e a extinção das relações econômicas feudais. Inconfidência = significa falta de fé ou fidelidade para com o Estado ou governante. A palavra pode ser utilizada no sentido de abuso de confiança, revelação de um segredo ou traição. Leia a sentença de Tiradentes e depois responda às questões. Sociedade no Antigo Regime – Primeiro Estado: clero – Segundo Estado: rei e nobreza – Terceiro Estado: burguesia e povo, grupo sans-culotte, Que razões teriam levado Portugal a condenar apenas Tiradentes? Em um primeiro momento todos os inconfidentes foram condenados à morte, porém um decreto da rainha D. Maria I comutou a sentença. Apenas o alferes Joaquim José seria executado, aos outros membros caberia o degredo da África. Tiradentes foi condenado em função de sua origem social, era pobre e não tinha cursado as universidades europeias. isto é, a massa pauperizada do Terceiro Estado. (…) Leia o texto abaixo em que figuram, resumidamente, os artigos que defendem os Direitos do Homem e do Cidadão. Em sua opinião, por que a execução da pena foi tão violenta? 1. Segundo o texto, quais são os direitos naturais e inalienáveis do Homem? Enforcaram Tiradentes para dar um exemplo à população da colônia, que ninguém ousasse outras rebeliões. A violência do esquartejamento e a difamação de seus descendentes constituem-se em demonstrações da força do poder real. Porém, uma crônica salienta que a cabeça dos alferes, pendurada em um poste de Vila Rica, desapareceu, apesar da vigilância dos soldados. Era um recado do povo, ainda insubmisso às autoridades coloniais. A liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão. 2. Como o texto define a liberdade civil e política? O poder de fazer o que se quer desde que não prejudique outrem. IV GAB_C2_8oAno_Hist_SOME_Tony_2013 03/01/13 08:03 Página V Gabarito – Exercícios Complementares Capítulo 6 1. Propostas do movimento: Proclamação da República, abolição da escravidão, liberdade de comércio, fim de todos os privilégios políticos e sociais, aumento da remuneração dos militares, punição aos religiosos contrários à liberdade. A) • Economia = Base agrária, 80% da população era camponesa, poucas manufaturas. As dificuldades na agricultura levaram ao aumento de preços dos alimentos, aumentando a miséria da população. • Política = Governo absolutista; e a nobreza detinha enormes privilégios sociais. • Sociedade = Dividida em três estados: 1) Clero 2) Rei e Nobreza 3) Burguesia e povo, sans-culottes CAPÍTULO 7 – A EUROPA PÓSREVOLUCIONÁRIA 1. Que pretendia Napoleão com sua atitude de efetuar ele próprio a sua coroação? Napoleão deixava claro ao Papa que não iria submeter-se à autoridade da Igreja, colocando seu poder acima do poder religioso. B) • Burguesia = Esteve à frente do processo revolucionário, sendo o grupo vitorioso. • Sans-culottes = visavam à melhoria de sua condição social, tendo participado ativamente do processo revolucionário. 2. Comente as relações descritas no texto entre o Estado francês e a Igreja. Em 1805, Napoleão atacou os Estados Pontifícios, posteriormente o imperador Bonaparte ordenou a anexação dessas grandes áreas de domínio religioso à França. O papa Pio VII ficou dois anos confinado no castelo francês de Fontainebleau por não permitir que Bonaparte nomeasse os bispos franceses. C) Sim, pois defendiam a liberdade e criticavam o poder absoluto do rei. 2. 3. D) Por significar um momento no qual o povo procurou interferir na história no sentido de conquistar sua liberdade e o fim de privilégios sociais. VOCÊ É O HISTORIADOR: O aluno deverá analisar o processo revolucionário francês do século XVIII, considerando as condições histórico-sociais que possibilitaram o desenvolvimento das relações capitalistas na França. Você deve ter percebido que, para entender (…) Para discutir esse assunto, leia os dois textos a seguir e responda às questões. 1. Grife as ideias principais dos dois textos. As razões da independência VAMOS COMPLETAR! INCONFIDÊNCIA MINEIRA Ano: 1789 Composição social: Elites coloniais, como jovens que iam estudar na Europa, poetas, padres, militares de alta patente e um alferes, Joaquim José da Silva Xavier. Influência ideológica: Iluminismo. Fator externo de influência: Independência dos Estados Unidos. Antecedente imediato: Crise na mineração – cobrança de impostos – dia da derrama. Propostas do movimento: Emancipação política do Brasil, criação de uma república com sede na cidade mineira de São João del-Rei, criação de uma Universidade em Vila Rica e uma nova bandeira ao País. Salienta-se que os inconfidentes não chegaram a um acordo em relação ao problema da abolição da escravatura. “Por que se insurgem as colônias da Espanha? Será porque os grandes latifundiários (habitualmente produtores para a exportação), os proprietários de minas, os donos de milhões de índios e os poderosos mercadores de além-mar foram seduzidos pelos filósofos franceses e alguns pensadores liberais espanhóis? É claro que houve exceções (e Bolívar foi uma delas), mas a imensa maioria moveu-se por motivos mais prosaicos. Havia chegado o momento de afastar um sócio incômodo: o poder da Coroa Espanhola. Incômodo ou muito mais que isso, porque dificultava as transações mercantis, opunha restrições ao desenvolvimento de determinados setores produtivos, entregava o comércio com o além-mar a um grupo de monopolistas privilegiados, confiscava para si uma parte considerável do excedente econômico produzido pelo trabalho dos índios, limitava o acesso de criollos aos postos fundamentais da administração pública, e no cume da hierarquia social nem sempre conseguiam instalar-se os que aspiravam a isso em virtude de seu grande poder econômico.” CONJURAÇÃO BAIANA Ano: 1798 Composição social: Uma liderança intelectualizada, como o médico e jornalista Cipriano Barata, padres e militares, contando também com a participação efetiva de grandes segmentos das camadas populares: alfaiates, mulatos e negros. Influência ideológica: Iluminismo. Fator externo de influência: Revolução Francesa, notadamente as ideias e práticas políticas do grupo jacobino (que representava os interesses do povo no período da Revolução Francesa). Antecedente imediato: Crise no abastecimento, elevação do preço dos gêneros alimentícios. POMER, Leon. As independências da América Latina. 2.ª ed. São Paulo, Brasiliense, 1981. p.10 Independência: liberdade para quê? “Os homens que lideraram o processo de independência política, descontentes com o sistema colonial, estavam imbuídos das ideias liberais burguesas ‘descobertas’ nos estudos realizados na Europa ou através de livros dos V GAB_C2_8oAno_Hist_SOME_Tony_2013 03/01/13 08:03 Página VI ‘franceses’ entrados clandestinamente no continente. Julgavam-se absolutamente bem preparados para alcançar seus objetivos e acreditavam esperançadamente no futuro. As ideias de liberdade, de igualdade jurídica, da legitimidade da propriedade privada, da educação como remédio para os grandes males, da necessidade do império da lei, do progresso e da felicidade geral do povo estavam todas presentes nos projetos desses líderes liberais. Na América Espanhola, homens como Bolívar, San Martín, Mariano Moreno, Bernardo de Monteagudo, José Cecílio del Valle, Frei Tereza Servando de Mier apontavam oposições bastante claras; o Mundo Novo que surgia era o lugar da liberdade que se opunha à Espanha, reino do despotismo, da opressão e do arbítrio. A América era o espaço do novo, da esperança, do futuro. Entre os anos de 1810 e 1820 os objetivos fundamentais da luta desses grupos eram os mesmos e o inimigo comum era a Espanha. Todos os esforços concentravam-se para acabar com o domínio da Espanha. A tônica dos discursos era a liberdade. Liberdade, entretanto, não é um conceito entendido de forma única; tem significados diversos, apropriados também de formas particulares pelos diversos segmentos da sociedade. Para um representante da classe dominante venezuelana, Simón Bolívar, liberdade era sinônimo de rompimento com a Espanha, para a criação de fulgurantes nações livres que seriam exemplos para o resto do universo. Mas, principalmente, nações livres para comerciar com todos os países, livres para produzir, única possibilidade, segundo essa visão, do desabrochar do Novo Mundo. Já para Dessalines, o líder da revolução escrava do Haiti, que alcançou a independência da França em 1804, a liberdade, antes que tudo, queria dizer o fim da escravidão, mas também carregava um conteúdo radical de ódio aos opressores franceses (…). Para outros dominados e oprimidos como os índios mexicanos, a liberdade passava distante da Espanha e muito próxima da questão da terra.” 1. Na América Portuguesa não houve um processo de luta pela emancipação, com participação popular. 2. Na América Portuguesa houve um centro de poder que promoveu a emancipação sem a ruptura da unidade territorial e com a manutenção da monarquia. 3. Na América Espanhola, o processo de emancipação foi caracterizado por prolongadas lutas contra as forças da metrópole. 4. Na América Espanhola, a ausência de um centro hegemônico de poder favoreceu o desmembramento do território em várias repúblicas. Gabarito – Exercícios Complementares Capítulo 7 1. Congresso de Viena Formação: 1814-1815, após a derrota de Napoleão Bonaparte. Objetivos: tentativa de restabelecer o absolutismo monárquico, desconsiderar as invasões territoriais do período napoleônico e estabelecer o equilíbrio entre as nações europeias. Santa Aliança Formação: no quadro de reação conservadora do Congresso de Viena. Objetivos: combater, por ação armada, movimentos revolucionários que pusessem em risco as monarquias europeias. PRADO, Maria Lígia. A formação das nações latino-americanas. São Paulo: Atual/Campinas Edunicamp, 1986. pp. 12-14 2. A partir da exposição dos dois autores, aponte razões que teriam dado origem aos movimentos de libertação colonial na América Espanhola. 2. Lembrar os alunos de que com esse bloqueio a família real portuguesa mudou-se para o Brasil dando início ao processo de independência brasileira. 3. Alguns dados sobre o assunto: Correspondendo à metade da ilha de São Domingos, posto que a outra parte era possessão espanhola, o Haiti fora colonizado pela França, com base na produção de açúcar. Foi a primeira colônia a se tornar independente na América, depois das Treze Colônias inglesas, e caracteriza-se pelo fato de o movimento emancipacionista ter sido conduzido por negros escravos, que compunham 90% da população da ilha. As lutas contra os colonizadores começaram em 1791 sob a liderança do ex-escravo Toussaint L’Ouverture, que foi preso e enviado à França, onde morreu em 1803. No ano seguinte, a luta recomeçou e outro ex-escravo, Jean-Jacques Dessalines, conseguiu proclamar a independência do Haiti. CAPÍTULO 8 – BRASIL, SEDE DO IMPÉRIO PORTUGUÊS O fim do monopólio comercial de grupos ultramarinos na colônia, a possibilidade de ascensão política dos criollos. O livre comércio das Américas com outros países. A vinda da família real para o Brasil, (…) Registre suas observações no espaço reservado. 3. Você já observou que o Brasil, depois de sua independência, tornou-se um único país, enquanto a América Espanhola foi fracionada em diversos países. Que razões poderiam explicar isso? Discuta com seus colegas e com seu professor e use o espaço abaixo para registrar suas conclusões. O aluno deverá relacionar a leitura do texto complementar com as imagens produzidas por pintores da missão artística francesa, que chegou ao Brasil em 1816. Jean-Baptiste Debret, um dos integrantes dessa missão de artistas, registrou inúmeras cenas do cotidiano durante o tempo em que permaneceu no Brasil, entre 1816 e 1831. VI GAB_C2_8oAno_Hist_SOME_Tony_2013 03/01/13 08:03 Página VII Gabarito – Exercícios Complementares Capítulo 8 Você considera que, com a Independência, a estrutura da sociedade brasileira foi alterada? Registre suas conclusões no espaço abaixo: A emancipação política do Brasil, em 1822, conduzida sem a efetiva participação popular, não produziu alterações significativas em grande parte da população do País. A independência contemplou os interesses dos grandes proprietários de terra. Para essa elite agrária era preciso manter a grande propriedade e o regime escravocrata, excluindo a participação social de escravos e trabalhadores livres. 1. A chegada da família real para o Brasil, em 1808, provocou mudanças no cotidiano da cidade do Rio de Janeiro. Para escrever sua redação, o aluno deverá considerar as medidas tomadas pelo príncipe regente, Dom João, no âmbito da cultura, urbanização, organização econômica e administração pública. 2. Coloque V ou F 1–V 2–F 3–F 4–F 3. Testes A–D B–B C–E D–D E–A Uma crônica do século XVIII conta-nos (…) Use o espaço abaixo para registrar suas ideias. As discussões em sala de aula e as explicações do professor sobre o movimento revolucionário francês de 1789 são subsídios para que os grupos de alunos criem uma dramatização. Ao longo desse bimestre você (…) Use o espaço abaixo para registrar suas ideias. Trabalho em grupo onde os alunos irão refletir sobre o processo de profundas transformações estudadas ao longo desse bimestre. Sugestões Bibliográficas Para uso do aluno: Para o professor: DECCA, Edgar; MENEGUELLO, Cristina. Fábricas e Homens: a Revolução Industrial e o cotidiano dos trabalhadores. São Paulo: Atual, 1999. ARRUDA, José Jobson de Andrade. A Revolução Industrial. São Paulo: Ática, 1994, 3. ed. IANNONE, Roberto Antonio. A Revolução Industrial. São Paulo: Moderna, 1992. (col. Polêmica) CARMO, Paulo Sérgio do. A ideologia do trabalho. São Paulo: Moderna, 1992. LEMINSKI, Cristina. Tiradentes e a conspiração de Minas Gerais. São Paulo: Scipione, 1997. FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo, EDUS/ FDE, 1997. MOTA, Carlos Guilherme. Revolução Francesa. São Paulo: Ática, 1993. OLIVIERI, Antonio Carlos. A independência dos Estados Unidos. São Paulo: Ática, 1997. FLORENZANO, Modesto. As revoluções burguesas. São Paulo: Brasiliense, 1981, 2. ed. OSTERMANN, Nilse W.; KUNZE, Iole C. Às armas cidadãos: a França revolucionária (1789-1799). São Paulo: Atual, 1995. MICELI, Paulo. As revolução burguesas. São Paulo: Atual, 1994. TEIXEIRA, Francisco M. P. Revolução Industrial. São Paulo: Ática, 1998. POMER, Leon. As independências na América Latina. São Paulo: Brasiliense, 1981. VOVELLE, Michel. A Revolução Francesa explicada a minha neta. São Paulo: Unesp, 2007. SINGER, Paul. A formação da classe operária. São Paulo: Atual. 1994. VII GAB_C2_8oAno_Hist_SOME_Tony_2013 03/01/13 08:03 Página VIII VIII C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 205 CAPÍTULO 5 Um Mundo em Mudança 1. Revolução Industrial Por que a Revolução Industrial começou na Inglaterra? Os historiadores costumam apontar diversas razões para explicar por que essas transformações começaram na Inglaterra. Alguns consideram que o início desse processo começou bem antes do século XVIII, momento em que teria se intensificado. As principais razões apontadas são: Revolução Inglesa – Durante o século XVII, a Inglaterra sofreu um longo movimento revolucionário que levou ao fim do absolutismo e à afirmação da Monarquia parlamentar. Isto significou um aumento do poder político da burguesia e a possibilidade de se estabelecerem novas orientações econômicas no sentido de se eliminarem entraves impostos para a expansão da economia, como, por exemplo, a eliminação do protecionismo monopolista e o estabelecimento do livre-comércio. Com isso, as atividades produtivas viram-se estimuladas e abriu-se caminho para a chamada Revolução Industrial. Cercamento – Desde o século XVII, estava ocorrendo na Inglaterra um processo que se intensificou no século XVIII. Os camponeses eram expulsos do campo pela nobreza, que buscava expandir as pastagens para suas ovelhas, cuja lã era enviada para as manufaturas. Com isso, muitas pessoas foram para as cidades, o que deu origem a um grande contingente de mão de obra disponível para as atividades industriais. Invenções e inovações técnicas – Costuma-se apontar o surgimento, no século XVIII, de várias invenções que contribuíram para aumentar a produtividade e promover a transferência das atividades manufatureiras para as industriais. Grande realce é dado à invenção de James Watt (1736-1819) – a máquina a vapor. A utilização dessa fonte de energia para mover motores das máquinas, trens e navios incrementou a produção e os transportes. Na obtenção da energia a vapor, e também nas fundições, foi importante a difusão de novas técnicas de exploração do carvão mineral, abundante na Inglaterra. Com isso, tornou-se possível a construção e o uso contínuo das máquinas. Contexto histórico De uma maneira geral, considera-se que o conjunto de alterações produzidas na organização e no funcionamento da economia conhecido como Revolução Industrial ocorreu na Inglaterra na segunda metade do século XVIII. As transformações originadas irradiaramse a partir daí para outros países e continentes num longo processo que adentrou o século XIX e, em algumas regiões, alcançou o século XX. Trata-se não só de uma evolução técnica e econômica, mas de uma mudança profunda na vida da humanidade que se estende até os nossos dias. Além das inovações técnicas, da máquina a vapor, do aumento da produtividade, das fábricas e dos trens, vieram outras mudanças. As fábricas, ao promoverem uma grande concentração de pessoas para a realização dos trabalhos, conduziram ao aumento, muitas vezes vertiginoso, das aglomerações urbanas. Criou-se um movimento de saída das pessoas do campo para as cidades que, por sua vez, se multiplicaram. O próprio papel das cidades se alterou. Estas, além de concentrarem as atividades políticas e funcionarem como centros de comércio, passaram a abrigar a principal atividade econômica: a indústria. As mudanças sociais alcançaram grande vulto, incluindo o surgimento de uma nova classe social que, a partir daí, passou a compor o quadro de forças na disputa política: o proletariado. Com tudo isso, as formas de viver também se alteraram e ainda hoje sentimos o impacto dessas transformações. Você sabia? A Revolução Industrial é dividida, conforme as fontes de energia usadas, em: "Primeira Revolução entre o final do século XVIII e o início do século XIX, definida pela utilização da máquina a vapor e do carvão como combustível básico; Segunda Revolução, no final do século XIX, caracterizada pelo motor de explosão e a utilização da energia elétrica; Terceira Revolução, em curso no século XX, marcada pela difusão da energia atômica. Chega-se mesmo a falar numa Revolução Cibernética, resultante da difusão dos computadores e da ciência da informática." (ARRUDA, José Jobson. A Revolução Industrial. São Paulo: Ática, 1994. p. 20.) Máquina a vapor de Watt. 205 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 206 Acumulação de capitais – Durante os séculos XVII e XVIII, a Inglaterra conseguiu romper os monopólios coloniais participando ativamente do comércio internacional. Atuou nos mercados da América e das Índias e obteve altos lucros que puderam ser investidos nas atividades industriais. Trabalho fabril Mudanças na produção Você sabia? Em cálculos feitos no início da produção industrial temos: no espaço de tempo de uma semana um artesão manual seria capaz de produzir duas peças de tecido. Com um tear a vapor seria capaz de produzir sete peças do mesmo tipo. Numa fábrica com 20 teares a vapor, 100 pessoas seriam capazes de produzir 700 peças de tecido do mesmo tipo, número que só seria alcançado com o uso de 875 teares manuais! Considerando-se esses dados, concluía-se que uma fábrica que dispusesse de 200 teares a vapor seria capaz de fornecer trabalho e sustento para cerca de 2.000 pessoas. (ARRUDA, op. cit., p. 72.) Instalações fabris, apresentando trabalho em cadeia. A Revolução Industrial concluiu a transição do trabalho artesanal para a mecanização característica das indústrias. Isso representou mais do que aumento da produtividade. A Revolução Industrial, para muitos autores, significou a consolidação do modo de produção capitalista. Trouxe modificações importantes nas relações sociais de produção. O trabalho passou a ser realizado coletivamente, de acordo com especializações de funções e em troca de salários. O trabalhador não possuía mais os instrumentos de trabalho, não usufruía de seus resultados, não dominava todas as fases da produção e realizava tarefas, por vezes, somente mecânicas, como se fossem meros apêndices das máquinas. Inauguravamse a partir daí novas formas de viver que vieram a compor a chamada sociedade industrial. O advento das máquinas trouxe mudanças importantes na produção de manufaturas. Na atividade manufatureira, o artesão, em muitos casos, ainda era dono das ferramentas, do maquinário e também da produção. Com a indústria e a mecanização do trabalho completou-se a transformação do trabalho artesanal que vinha se operando desde o final da Idade Média. O trabalho passou a ser mecanizado e desenvolvido no interior das fábricas, onde a atividade produtiva passava a ser desenvolvida com a concentração de trabalhadores sob um mesmo comando e também sob rígido controle. Isso repercutiu na organização do trabalho e nas próprias relações sociais. De que forma? Para entender esse processo, com o auxílio de seu professor, complete a comparação: DOCUMENTO ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––-––––––––– A Divisão do Trabalho “Compreenderemos mais facilmente os efeitos produzidos pela divisão do trabalho na economia geral da sociedade se considerarmos de que maneira essa divisão do trabalho opera em algumas manufaturas específicas. Tomemos, pois, um exemplo, tirado de uma manufatura muito pequena, mas na qual a divisão do trabalho muitas vezes tem sido notada: a fabricação de alfinetes. Um operário não treinado para essa atividade (que a divisão do trabalho transformou em uma indústria específica), nem familiarizado com a utilização das máquinas ali empregadas (cuja invenção provavelmente também se deveu à mesma divisão do trabalho), dificilmente poderia talvez fabricar um único alfinete em um dia, empenhando o máximo de trabalho; de qualquer forma, certamente não conseguirá fabricar vinte. Entretanto, da forma como essa atividade é hoje executada, não somente o trabalho todo constitui uma indústria específica, mas ele está dividido em uma série de setores dos quais, por sua vez, a maior parte também constitui provavelmente um ofício especial. Um operário desenrola o arame, um outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto faz as pontas, um quinto o afia nas pontas para a colocação da cabeça do alfinete; para fazer uma cabeça de alfinete requerem-se 3 ou 4 operações diferentes; montar a cabeça já é uma atividade diferente, e alvejar os alfinetes é outra; a própria embalagem dos alfinetes também constitui uma atividade independente. Assim, a importante atividade de fabricar um alfinete está dividida em aproximadamente 18 operações distintas, as quais, em algumas manufaturas, são executa- Trabalho artesanal 206 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 207 das por pessoas diferentes, ao passo que, em outras, o mesmo operário às vezes executa 2 ou 3 delas. Vi uma pequena manufatura desse tipo, com apenas 10 empregados e na qual alguns desses executavam 2 ou 3 operações diferentes. Mas, embora não fossem muito hábeis, e portanto, não estivessem particularmente treinados para o uso das máquinas, conseguiam, quando se esforçavam, fabricar em torno de 12 libras de alfinetes por dia. Ora, 1 libra contém mais do que 4 mil alfinetes de tamanho médio. Por conseguinte, essas 10 pessoas conseguiam produzir entre elas mais do que 48 mil alfinetes por dia. Assim, já que cada pessoa conseguia fazer 1/10 de 48 mil alfinetes por dia, pode-se considerar que cada uma produzia 4800 alfinetes diariamente. Se, porém, tivessem trabalhado independentemente um do outro e sem que nenhum deles tivesse sido treinado para esse ramo de atividade, certamente cada um deles não teria conseguido fabricar 20 alfinetes por dia, e talvez nem mesmo 1, ou seja: com certeza não conseguiria produzir a 240.ª parte e talvez nem mesmo a 4 800.ª parte daquilo que hoje são capazes de produzir, em virtude de uma adequada divisão do trabalho e combinação de suas diferentes operações.” VO C A B U L Á R I O Fundição = processo de fusão, purificação e vazamento de metais e ligas. Instalação metalúrgica onde é realizada a fusão de metais e ligas, posteriormente à conformação através de vazamentos em moldes. Modo de produção = entende-se como a maneira pela qual o homem se organiza para garantir as suas condições de sobrevivência e o seu próprio modo de vida. Envolve as forças produtivas e as relações sociais de produção, pois o que importa não é o que se produz em uma dada sociedade, mas sim o modo como isso se faz. Modo de produção capitalista = apresenta-se em etapas progressivas de desenvolvimento. Foi caracterizado ao longo dos tempos pela concentração do lucro e acumulação de capitais, exploração de mão de obra assalariada, formação e expansão de grandes empresas. Monarquia parlamentar = caracterizada historicamente a partir de 1689, quando da submissão da realeza inglesa ao Parlamento, que tinha então o direito de aprovar ou rejeitar impostos, garantir a liberdade individual e a propriedade privada. Nesse momento, surge a célebre frase: “O rei reina, mas não governa”. SMITH, Adam. A riqueza das nações. Col. Os Economistas. São Paulo: Nova Cultural, 1996. pp.65-66 Trabalhando com o texto 2. Vivendo num mundo com máquinas A introdução da divisão do trabalho na atividade manufatureira foi analisada por Adam Smith a partir do funcionamento de uma fábrica de alfinetes do século XVIII. Para entender como isso acontecia, leia o documento deste item e faça os exercícios a seguir. Os primeiros tempos da indústria As transformações acontecem, às vezes, de forma muito rápida na vida das pessoas, por vezes, assustandoas. Isso aconteceu na Revolução Industrial. As máquinas e as indústrias chegaram repentinamente e levaram a reações inesperadas. Provocaram abalos numa sociedade em que o ritmo de vida transcorria de maneira mais lenta que a anunciada por aquelas novidades. Na Inglaterra e na França, quando esta também passou a ter indústrias, houve agressivas destruições de máquinas. Uma reação relativamente organizada foi o movimento luddista, na Inglaterra (1811–1812), responsável por danos feitos a várias indústrias. 1. Como acontecia a divisão do trabalho na fábrica de alfinetes, tal como Adam Smith a descreveu? ________________________________________ ________________________________________ 2. Que outros exemplos de divisão ou especialização de trabalho você conhece? ________________________________________ Você sabia? ________________________________________ 3. Você concorda com a ideia de que o aumento da divisão ou especialização do trabalho leva ao aumento da produtividade nas indústrias? Justifique sua resposta. Luddismo foi um movimento de protesto dos trabalhadores das fábricas inglesas entre 1811 e 1813, caracterizado pela destruição e queima das instalações industriais em várias regiões do país. O líder dessas manifestações chamava-se King Ludd. Os proprietários das fábricas reagiram rapidamente e conseguiram do Parlamento a aprovação de uma lei que condenava à morte, na forca, os acusados de destruição das máquinas. ________________________________________ ________________________________________ 4. Como você analisa a atuação do operário na divisão do trabalho? ________________________________________ V Í D E O ________________________________________ Tempos Modernos, Charlie Chaplin 207 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 208 No início da industrialização, as fábricas localizavam-se em regiões centrais das cidades, que foram envolvidas na fuligem e na fumaça das máquinas. Pouco a pouco as instalações fabris se distanciaram para os arredores dos centros urbanos e deram origem a bairros com predominância de trabalhadores. Ali os primeiros operários viviam em condições precárias em meio à sujeira e ao abandono, concentrados em cortiços ou pequenas habitações sem higiene. Sobre a adaptação à vida nas cidades, leia o trecho abaixo. Mina de carvão na Inglaterra no começo do século XIX. TEXTO COMPLEMENTAR ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Novas formas de viver “(…) a nova divisão do trabalho, que urbaniza a sociedade operária, esquarteja a sociedade dos pobres, todos à procura de uma ocupação que lhes escapa por entre os dedos; leva-os a lugares inesperados, longe dos campos que lhes são familiares, e acaba deteriorando sua vida. Morar na cidade, ficar privado da presença tradicional do quintal, do leite, dos ovos, do galinheiro, trabalhar em locais enormes, sofrer a vigilância raramente amável dos contramestres, obedecer, deixar de ter liberdade de movimentos, aceitar horários fixos de trabalho, tudo de repente, são duras provações. É mudar de vida e de horizonte, a ponto de se tornar estranho à sua própria existência. É também mudar de alimentação: comer pouco, comer mal. Neil J. Smelser, sociólogo e historiador, seguiu, no universo novo e proliferante do algodão, esse drama do desenraizamento. O mundo operário levará anos para criar uma defesa de hábitos e proteções novas: sociedades filantrópicas, caixas econômicas. Os trade unions surgem mais tarde. E convém não perguntar muito aos ricos o que pensam desses novos citadinos. Veem neles “brutos, viciosos, briguentos e desordeiros”, e, defeito maior, “geralmente pobres”. O que os operários pensam do trabalho na fábrica exprime-se de outro modo: se possível, fugir dele. Em 1838, apenas 23% dos operários do setor têxtil são homens feitos; a grande massa é constituída por mulheres e crianças, mais resignadas.” BRAUDEL, Fernand. Civilização material, economia e capitalismo. Séculos XV e XVIII. Vol. 3, O tempo do Mundo. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 553. No Portal Objetivo Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL OBJETIVO (www.portal.objetivo.br) e, em “localizar”, digite HIST8F202 mulheres. Todos os trabalhadores, indiscriminadamente, eram submetidos a um cotidiano desgastante, com uma jornada de trabalho que variava entre 12 e 19 horas por dia. Os salários eram mantidos muito baixos, pois os empresários acreditavam que assim iriam garantir altos lucros. Os acidentes eram numerosos, principalmente com as crianças que tinham mais dificuldades em manejar as máquinas. Os erros eram punidos severamente. Com frequência as crianças recebiam chicotadas. Não havia quem defendesse os operários, que não tinham ainda se organizado. Entretanto, pouco a pouco, os operários começaram a se reunir e, ao longo do século XIX, deram início às suas reivindicações e greves que possibilitaram algumas conquistas, como as leis trabalhistas. O trabalho nas fábricas: um cotidiano difícil Operários trabalhando nos primeiros tempos da indústria. Durante a fase de implantação do capitalismo industrial, era comum o uso da mão de obra de crianças e 208 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 209 Um novo tempo O relógio de ponto é, hoje, um símbolo do trabalho e da importância que o tempo tem em nossa sociedade. Nem sempre foi assim. Antes da implantação do trabalho fabril, não havia uma separação muito nítida entre tempo de trabalho e tempo de lazer. Com as máquinas, o tempo começou a ser medido e qualificado como um valor e a sua passagem começou a ser percebida de forma diferente. A contagem do tempo deixou de ser feita de acordo com a natureza e seus ritmos, e difundiu-se o uso dos relógios. Houve muita resistência dos trabalhadores a se adaptar ao trabalho nas fábricas. Acostumados a um outro tipo de vida, foram muitas vezes obrigados pela força e com castigos a trabalhar em horários determinados, de acordo com um ritmo estipulado, e garantir determinada quantidade de produção. São vários os relatos de época que dão conta da fuga de operários das fábricas durante a jornada de trabalho. Aplicavam-se até castigos cruéis para aqueles que se recusassem a trabalhar. Penas como corte de orelhas e marcação com ferro em brasa eram previstas em leis na Inglaterra e também em outros países no século XVIII. Veja o esforço de um empresário do alvorecer do século XVIII para acostumar os seus trabalhadores ao rígido controle do trabalho, lendo a seguir alguns trechos do Livro de Leis (Law Book), da Siderúrgica Crowley: Trabalho feminino em fiação no início do século XIX. TEXTO COMPLEMENTAR ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––-––––––––– Os problemas imediatos da classe trabalhadora “As dificuldades da classe trabalhadora eram enormes, desde as mais simples, como por exemplo ser obrigada a fazer suas compras na loja do patrão, recebendo seus pagamentos em mercadorias miúdas, ou ser obrigada a morar em casas fornecidas pela fábrica, contra o pagamento de pesados aluguéis, até os problemas mais graves, tais como: a jornada de trabalho, inexistência de seguro para o trabalho, baixos salários e flutuação dos empregos. Referindo-se ao trabalho nas manufaturas metálicas em Birmingham, Marx diz que, em serviços pesados, havia mais de 30 000 crianças e 10 000 mulheres. Nas olarias o trabalho entre maio e setembro começava às cinco da manhã e terminava às oito da noite, ou quando a secagem se fazia ao ar livre entre quatro e nove horas. Nestes trabalhos empregavam-se crianças de 6 e, até mesmo, 4 anos de idade. Citando o relatório Saunders, de 1844, diz: ‘Entre as operárias, há mulheres que trabalham muitas semanas seguidas, com exceção de alguns dias, de 6 da manhã até meia-noite, com menos de 2 horas para as refeições, de modo que, em 5 dias na semana, só dispõem de 6 horas das 24, a fim de ir para casa, dormir e voltar’ (O capital, Livro I, p. 460). Os acidentes de trabalho mais comuns ocorriam com os menores que, durante as horas intermináveis que ficavam sobre as máquinas, muitas vezes sustentados por uma perna-de-pau, pois que seu pequeno tamanho não lhes permitia atingir o cimo dos altos teares, as crianças adormeciam e tinham seus dedos estraçalhados pelas engrenagens dos teares. O número de acidentes ocorridos não tem paralelo na história da maquinaria. Num único estabelecimento industrial, de estomentar o linho, entre 1852 e 1856, houve seis casos de morte e 60 mutilações graves. Não havia qualquer indenização pelos membros amputados, muito menos para os dias de paralisação das atividades.” DOCUMENTO ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––-––––––––– Livro de Leis (Law Book) “Alguns têm alegado uma espécie de direito à ociosidade, pensando que pela sua presteza e capacidade fazem o suficiente em menos tempo do que os outros. Outros têm sido bastante tolos a ponto de pensar que a simples presença no local de trabalho sem nada fazer já é suficiente [...]. Outros ainda são tão desavergonhados que se orgulham de sua vileza e reprovam a diligência dos demais [...]. Com a finalidade de detectar a preguiça e a vilania, bem como recompensar os justos e diligentes, achei conveniente criar um registro de tempo feito por um supervisor; assim determino e fica pelo presente determinado, que das cinco às oito horas e das sete às dez horas são quinze horas, das quais se tira 1,5 para o café da manhã, o almoço etc. Haverá, portanto, treze horas e um serviço semirregular [...]. Toda manhã, às cinco horas, o diretor deve tocar o sino para o início do trabalho, às oito horas para o café da manhã, depois de meia hora para o retorno ao trabalho, ao meiodia para o almoço, à uma hora para o trabalho e às oito para o fim do expediente, quando tudo deve ser trancado.” Citado em THOMPSON, E. P. Os costumes em comum. Estudos sobre a Cultura Popular Tradicional. São Paulo: Cia. das Letras, 1998. ARRUDA, José Jobson. A Revolução Industrial. 3ª ed. São Paulo: Ática, 1994. 209 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 210 Trabalhando com o texto VO C A B U L Á R I O A partir da leitura dos textos e das discussões com seu professor, reflita e responda: Desenraizamento = fazer perder as características de origem. Diligência = zelo, presteza em fazer alguma coisa. Esquartejar = dividir, espedaçar. Estomentar = bater o linho, limpar, depurar, espancar. Jornada de trabalho = duração do trabalho de um dia. Leis trabalhistas = conjunto de leis que regulamentava o trabalho e a atividade do trabalhador, garantindo-lhe direitos como a redução da jornada de trabalho e o descanso semanal remunerado. Ociosidade = inatividade, preguiça, moleza. Olaria = local em que se fabricam tijolos, telhas, manilhas e vasilhames de barro. Sociedade filantrópica = grupo ou sociedade humanitária, sem fins lucrativos, que pratica a caridade e a solidariedade. Trade Unions = sindicatos; diz-se das primeiras associações de trabalhadores na Inglaterra, no início do século XIX, que reivindicavam melhores condições de trabalho, fundamentando-se na organização dos trabalhadores. 1. Como eram as condições de vida dos novos trabalhadores da indústria? ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ 2. O primeiro texto fala sobre o surgimento das Trade Unions inglesas, precursoras dos atuais sindicatos. Você sabe qual é a função dessas associações de trabalhadores? Justifique sua resposta. ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ 3. Retire dos textos pelo menos dois exemplos de violência que crianças e jovens sofriam na rotina diária do trabalho explorado nos primeiros tempos de indústria. ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ 4. Imagine um dia da rotina do trabalhador inglês no início da industrialização e descreva abaixo como seria. ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ 3. Discutindo a história: trabalho infantil Siderúrgica no início de industrialização na França. Como você viu, as transformações trazidas pelas novas formas de trabalho surgidas com a Revolução Industrial alcançaram também a vida das pessoas. A mecanização da atividade e a divisão do trabalho, na medida em que distanciavam o trabalhador do resultado final, faziam com que muitas vezes ele perdesse o sentido de sua atividade. O trabalho separou-se do lazer, da vida comunitária e familiar. A própria percepção do tempo se alterou. Começaram aí, certamente, novas formas de viver. Utilização de trabalho infantil e feminino no início da industrialização. 210 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2014 17/01/14 14:05 Page 211 da A Marcha Mundial sobre o trabalho infantil A passagem do tempo traz muitas transformações, mas, às vezes, é possível perceber algumas permanências. A descrição das condições do trabalho nas fábricas feita pelo historiador Paul Mantoux, autor de trabalho clássico sobre a Revolução Industrial, lembra a utilização do trabalho infantil ainda hoje em diferentes regiões do planeta. Leia, no texto complementar 1, um trecho desse trabalho. Em 1998, houve uma grande Marcha Mundial contra a exploração do trabalho infantil. Crianças e jovens de vários países, até mesmo do Brasil, alertaram o mundo para a violência a que são submetidos. Esse movimento contra o trabalho infantil, organizado pela OIT continua sua ação. Em 2013, foi realizada a III conferência, em Brasília, presidida pelo seu criador, o indiano Kailash Satyarthi. Essa conferência utilizou como um dos documentos de referência o Mapa do IBGE com indicadores sobre a situação de crianças e adolescentes de 10 a 17 anos de idade, no que concerne a trabalho e educação, com base no Censo Demográfico de 2010. Esse Mapa também subsidia as políticas públicas municipais de combate ao trabalho de crianças e adolescentes, uma vez que no Brasil ele só é permitido em condições especiais, como na condição de aprendiz. Trabalho infantil na Revolução Industrial época TEXTO COMPLEMENTAR 1 ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––-––––––––– Uma infância difícil… “Entrar para uma fábrica era, diziam, como ir para um quartel ou para uma prisão. (...) A maioria desses infelizes seres eram crianças assistidas, fornecidas – poderíamos dizer vendidas – pelas paróquias por elas responsáveis. Cinquenta, oitenta, cem crianças eram cedidas em bloco e enviadas, como gado, com destino à fábrica onde deveriam ficar fechadas durante longos anos. (...) Os operários se recusavam, e com razão, a mandar as suas. Sua resistência, infelizmente, não durou muito tempo; levados pela necessidade, resignaram-se àquilo que, a princípio, tanto os havia horrorizado. (...) Longe de se indignarem, os contemporâneos achavam isso admirável. Yarranton recomendava a abertura de escolas de indústria, como vira na Alemanha, onde duzentas meninas fiavam sem descanso, sob a ameaça da palmatória de uma mestra, submetidas a um silêncio absoluto, e chicoteadas se não fiassem bem ou rápido o bastante. (...) De Föe, ao visitar Halifax, ficou maravilhado ao ver crianças de quatro anos ganharem a vida como pessoas adultas... (...) Abandonados ao arbítrio dos patrões, que os mantinha fechados em seus edifícios isolados, longe de qualquer testemunha que pudesse comover-se com seu sofrimento, padeciam uma escravidão desumana. O único limite para seu dia de trabalho era o esgotamento completo de suas forças: durava quatorze, dezesseis e até dezoito horas... Frequentemente, para não paralisar o funcionamento das máquinas, o trabalho continuava sem interrupção, dia e noite. Nesse caso, eram formadas equipes que se revezavam: ‘as crianças não esfriavam nunca’. Os acidentes eram frequentes, sobretudo no final dos dias de trabalho muito longos, quando as crianças, exaustas, ficavam trabalhando meio adormecidas; foram incontáveis os dedos arrancados, os membros esmagados pelas engrenagens. (...) As fábricas eram, geralmente, insalubres: seus arquitetos pouco se preocupavam com a higiene e com a estética. Os tetos eram baixos, de forma a se perder o menos possível de espaço, as janelas eram estreitas e, quase sempre, ficavam fechadas...” TEXTO COMPLEMENTAR 2 ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––-––––––––– A natureza e a dimensão mundial do problema do trabalho infantil doméstico Muitas crianças estão envolvidas em trabalho doméstico. Pesquisas recentes têm ilustrado a dimensão deste problema: • 15,5 milhões de crianças em todo o mundo estão envolvidas em trabalho doméstico, remunerado ou não, em casa de terceiros; • A grande maioria das crianças trabalhadoras domésticas são meninas (72%). • 47% das crianças trabalhadoras domésticas têm menos de 14 anos e, dessas, 3,5 milhões têm entre 5 e 11 anos de idade e 3,8 milhões têm entre 12 e 14 anos. • Muitas crianças realizam trabalho doméstico em consequência de serem vítimas de trabalho forçado ou de tráfico de pessoas. Embora se desconheça o número exato, estima-se que 5,5 milhões de crianças se encaixem nessa categoria. • O trabalho infantil doméstico é um fenômeno presente em todas as regiões do mundo, sem exceção. • Devido à invisibilidade do trabalho doméstico e ao fato de frequentemente as leis trabalhistas serem mais frágeis nesse setor, esta categoria está submetida a vulnerabilidades específicas. Casos de abuso de trabalhadores (as) domésticos (as) não são raros e crianças e adolescentes são particularmente vulneráveis. As normas da OIT relativas ao trabalho infantil exigem particular atenção para a situação das meninas, bem como esforços para chegar às crianças que correm um risco especial. Paul Mantoux. A Revolução Industrial no século XVIII. São Paulo: Unesp/Hucitec, s.d. CARMO, Paulo Sérgio do. A ideologia do trabalho. São Paulo: Moderna, 1992. pp. 31-32 211 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2014 15/01/14 10:33 Page 212 Com base na leitura do texto de Paul Mantoux responda às seguintes questões: Ratificação e implementação da Convenção 189 da OIT sobre Trabalho Decente para os Trabalhadores (as) Domésticos (as) Em 2011, a OIT adotou a Convenção 189 e a Recomendação 201 sobre o trabalho decente para os (as) trabalhadores (as) domésticos (as). A Convenção 189 transmite uma mensagem clara: os trabalhadores domésticos, como os outros trabalhadores, têm o direito a condições de trabalho e de vida decentes. No que diz respeito à eliminação do trabalho infantil, a Convenção 189 pede aos Estados-Membros que estipulem uma idade mínima para os trabalhadores domésticos que deve ser consistente com as convenções da OIT relativas ao trabalho infantil e não inferior ao estabelecido para os trabalhadores em geral. As Convenções da OIT relativas ao trabalho infantil estão entre as mais amplamente ratificadas, ajudando a assegurar às crianças e adolescentes a proteção adequada a seu desenvolvimento integral. A Convenção 189 e a Recomendação 201 fornecem um apoio adicional para esses esforços devido a sua orientação clara sobre como prevenir o trabalho infantil. A ratificação e a implementação da Convenção 189 da OIT pelos EstadosMembros será um passo importante para a promoção do trabalho decente para os trabalhadores domésticos, e é essencial para eliminar o trabalho infantil no setor. 1. Retire do texto duas frases que exemplifiquem a exploração do trabalho infantil no início da Revolução Industrial. 2. Qual a diferença entre o trabalho infantil descrito por Paul Mantoux e a situação apresentada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT)? 3. Vamos explorar mais o texto da OIT e levantar hipóteses de porque o trabalho infantil, hoje se localiza no setor doméstico. Procure pensar sobre as condições que favorecem essa situação. http://www.oit.org.br/content/nao-ao-trabalho-infantil-domestico, acessado em 5 de agosto de 2013. O Estatuto da Criança e do Adolescente 4. Com base na leitura dos dois textos, a classe deverá debater sobre a exploração do trabalho infantil da Revolução Industrial até os dias atuais: avanços e permanências. Registre as conclusões no espaço abaixo. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) entrou em vigor no Brasil, em 1990 tendo como objetivo geral garantir os direitos e proteger as crianças e adolescentes de nosso país. Considera criança a pessoa até onze anos de idade incompletos e adolescente aquele entre doze e dezoito anos de idade. Leia no texto complementar 3 o que diz essa lei sobre o trabalho infantil. TEXTO COMPLEMENTAR 3 VO C A B U L Á R I O ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––-––––––––– Arbítrio = resolução, determinação dependente apenas da vontade. Halifax = cidade do norte da Inglaterra, no condado de York, vale do Hebbe, importante centro industrial têxtil e metalúrgico. Insalubres = pouco saudável, capaz de provocar doenças. OIT = Organização Internacional do Trabalho pertencente às Nações Unidas. Padeciam = sofriam. Palmatória = peça de madeira com que antigamente se castigavam as crianças, batendo com ela na palma de suas mãos. Estatuto da Criança e do Adolescente Capítulo V Do direito à profissionalização e à proteção no trabalho Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz. Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido em entidade governamental ou não governamental, é vedado trabalho: I – noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia e as cinco horas do dia seguinte; II – perigoso, insalubre ou penoso; III – realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social; IV – realizado em horários e locais que não permitam a frequência à escola. No Portal Objetivo Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL OBJETIVO (www.portal.objetivo.br) e, em “localizar”, digite HIST8F202 212 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 213 4. As Treze Colônias inglesas querem ser livres Contexto histórico O poder econômico da Inglaterra no século XVIII era grande e crescia cada vez mais à medida que sua economia se lançava rumo à industrialização. Seu comércio marítimo era intenso e, apesar de a princípio ter ficado de fora da partilha do continente americano, esse país conseguira implantar focos de colonização em alguns pontos. No norte da América, desde o século anterior, ingleses haviam se instalado e deram origem às chamadas Treze Colônias, a partir das quais os Estados Unidos foram criados. Essas colônias conquistaram sua independência em meio às inovações técnicas e às mudanças pelas quais passava a economia inglesa em plena Revolução Industrial e à crise do Antigo Regime, que atingiria seu ponto mais agudo com a Revolução Francesa. Descreva o processo da colonização das Treze Colônias a partir do mapa abaixo: __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ 213 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 214 O primeiro estabelecimento colonial na América do Norte foi um posto avançado de comércio fundado em Jamestown, em 1607, no Velho Domínio da Virgínia, uma região que logo se desenvolveria numa florescente economia baseada nas plantações de fumo, que encontrava sempre um bom mercado na Inglaterra. Por volta de 1620, quando as mulheres eram aliciadas na Inglaterra para virem para a Virgínia, com o intuito de casar e estabelecer residência, as grandes plantações já se estendiam ao longo do Rio James e a população já era de uns mil colonos.” Você sabia? Em 1584, a Inglaterra instalou um núcleo de colonização na América do Norte, que desapareceu possivelmente destruído pelos nativos. O ano de 1607 marca a presença efetiva dos ingleses no Novo Continente, quando um grupo de colonos agenciados pela London Company fundou Virgínia, a primeira das Treze Colônias, assim chamada em homenagem à rainha Elizabeth I que nunca se casara. HOFSTADTER, Richard, GRAY, Wood e OLSON, Keith (atualização). Panorama da História dos Estados Unidos. Agência de Comunicação Internacional dos Estados Unidos da América, s/d, pp. 1-2 Uma colonização diferente Você deve ter percebido que houve dois tipos de colonização inglesa na América do Norte: • Colônia de exploração: caracterizava a região sul, em áreas com predomínio da monocultura (notadamente o algodão) em grandes latifúndios, destinadas ao mercado externo. Utilização, em grande escala, da mão de obra escrava africana. O processo de colonização feito pelos ingleses no norte da América não foi financiado pelo seu governo. Os colonos vieram por conta própria ou patrocinados por companhias que visavam ter lucros com essa colonização e para isso transportavam e equipavam aqueles que se dispusessem a se aventurar naquelas terras. Mas o que movia as pessoas a virem para a América? Alguns vinham para fugir aos problemas na agricultura e ao uso cada vez maior das terras para a criação de ovelhas destinadas a fornecer lã para as indústrias. A falta de oportunidades de trabalho também contava para despertar o interesse de artesãos e outros trabalhadores da cidade que vinham procurar novas oportunidades. A busca de liberdade política e religiosa também foi decisiva. Tanto é que foi grande o número de colonos de origem puritana (calvinistas) que fugiam de perseguições religiosas. • Colônia de povoamento: caracterizava a porção norte, apresentando uma diversificação econômica: pequena indústria, construção naval, pesca de baleia, agricultura e comércio. Utilização de mão de obra livre, familiar ou assalariada. TEXTO COMPLEMENTAR ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––-––––––––– O Início da Colonização “Os primeiros imigrantes ingleses, que vieram para o que é hoje os Estados Unidos, cruzaram o Atlântico muito depois de florescentes colônias espanholas já se terem estabelecido no México, nas Índias Ocidentais e na América do Sul. Como todos os primeiros que vieram para o Novo Mundo, esses navegantes viajaram em barcos pequenos e sobrecarregados. Durante as viagens que duravam de seis a doze semanas, viviam de parcas rações e muitos deles morriam de doenças durante a travessia. Os navios eram, frequentemente, assolados pelas tempestades e muitos se perdiam no mar. Para o viajante exausto, a vista das plagas norte-americanas trazia um imenso alívio. Disse um dos cronistas: ‘O ar a doze léguas de distância tinha o doce perfume de um jardim em flor’. A primeira vista que os colonizadores tiveram da nova terra era uma paisagem de florestas densas. A verdade, porém, era que aquelas florestas eram habitadas por índios, muitos dos quais hostis, e o medo de seus ataques era mais uma das preocupações diárias da vida já em si dura. No entanto, aquelas imensas florestas virgens, que se estendiam por quase 2100 quilômetros ao longo da costa do Atlântico, do norte até o sul, viriam a ser para eles um verdadeiro tesouro que lhes proporcionaria alimentação abundante, combustível e uma inexaurível fonte de matériaprima para casas, mobiliário, navios e proveitosa carga para exportação. Você sabia? A Pensilvânia surgiu a partir da doação de terras aos quakers. Estes seguiam uma doutrina religiosa originada na Inglaterra que pregava o pacifismo, a humildade e a igualdade como regras fundamentais. Nas colônias de povoamento, formadas ao norte em região de clima temperado, havia dificuldades para o aproveitamento extensivo do solo que era árido e pedregoso. Por isso ali a pesca e as manufaturas foram as principais atividades. Nas colônias do sul, de exploração, as grandes plantações de tabaco, anil e algodão predominavam. Utilizavam escravos negros para trabalhar e encaminhavam sua produção para a exportação. Os colonos que se fixaram na América do Norte vieram com a intenção de permanecer nas novas terras, o que fez essa colonização diferente da que foi feita no Brasil. Aqui, como em outros lugares do continente, os colonos vinham para enriquecer e voltar para sua terra natal. 214 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 215 A Inglaterra, a princípio, permitiu que suas colônias da porção norte da América desfrutassem de grande liberdade e autonomia. Isso, entretanto, mudou em meados do século XVIII, provocando fortes reações. Apesar de suas diferenças, as Treze Colônias se uniram e num processo relativamente rápido separaram-se da Inglaterra, tornando-se um país independente: os Estados Unidos da América. Vamos acompanhar essa história? A caminho do rompimento Os problemas começaram quando a Inglaterra, após a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), tentou intensificar seu controle sobre as Treze Colônias e delas extrair maiores lucros. Nesse conflito, que se estendeu para a América, os franceses perderam territórios, os comerciantes americanos enriqueceram, mas a Inglaterra ficou endividada. Além disso as colônias do norte tinham um intenso comércio que concorria com o britânico. Os colonos transportavam melaço, açúcar e rum das Antilhas, pravam escravos na África e os vendiam na América. Essas negociações eram feitas sem participação dos ingleses. A Inglaterra impôs algumas leis que causaram muitos protestos: – Lei do açúcar (1764) – os colonos deveriam pagar uma taxa pelo açúcar e melaço transportado; – Lei do selo (1765) – todos os tipos de impressos feitos na colônia (jornais, documentos, anúncios etc.) deveriam ser timbrados e selados sob pagamento de imposto; – Lei do chá (1770) – dava exclusividade do comércio do chá na colônia aos comerciantes ingleses. As oposições a essas medidas centralizaram-se em Boston, um dos principais portos da colônia. Ali tropas inglesas abriram fogo contra os colonos num episódio conhecido como Massacre de Boston (1770). Também ocorreu nessa cidade a Festa do Chá (1773), quando colonos disfarçados de índios jogaram ao mar o carregamento de chá de um navio inglês ali ancorado, o que provocou forte reação da Coroa. O incidente de Boston, após a proibição do comércio do chá pelos colonos norte-americanos, que foi denominado “Boston Tea Party”. A inevitável separação A tensão na colônia crescia cada vez mais. Em 4 de julho de 1776 foi divulgada a Declaração de Independência para marcar que a partir de então as Treze Colônias afirmavam sua separação definitiva da Inglaterra. Seguiu-se uma Guerra de Independência que durou oito anos. A vitória dos americanos contou com o apoio de tropas francesas acompanhadas de reforços da Espanha e Holanda. Em 1783, no Tratado de Paris, a Inglaterra reconheceu oficialmente a soberania dos Estados Unidos da América. Você sabia? George Washington “... recebeu a notícia da independência cercado pelos britânicos em Nova York e ordenou que a Declaração fosse lida para suas tropas. Os nova-iorquinos comemoram derrubando uma estátua do rei Jorge III a cavalo. A maior parte do chumbo foi usada para fabricar 40.000 balas, mas a cabeça foi recuperada pelos ingleses e conduzida a Londres”. In CLARK, Philip. Guerras que mudaram o mundo – A Independência dos Estados Unidos. Ática, pp. 13-15 Desenho representando o Massacre de Boston ocorrido em março de 1770. Thomas Jefferson, autor da Declaração de Independência dos EUA. 215 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 216 Os Estados Unidos após a independência A Declaração de Independência norte-americana, que teve redação original de Thomas Jefferson, deu forma às ideias políticas do Iluminismo. Vamos conferir? A vida pelos Estados Unidos após a Independência acompanhou as ideias colocadas em pauta pelo Iluminismo, como a igualdade jurídica e política e o governo de base representativa popular. A isso, somava-se uma tradição de autonomia local herdada dos ingleses. Resultou, dessa forma, uma Constituição de caráter democrático, celebrada ainda hoje pelos norte-americanos como um dos pilares de sustentação de sua democracia política. Entretanto a igualdade prevista tinha seus limites, percebidos já na época de sua promulgação. As mulheres reclamaram por não estarem incluídas nessa igualdade, já que a elas, por exemplo, não havia sido concedido o direito de voto. De fora, também, haviam ficado os 600 000 escravos negros que trabalhavam, em sua maioria, nas lavouras do sul. A Independência dos Estados Unidos repercutiu para além das fronteiras do país recém-criado. Sua notícia alcançou a Europa, alimentando a fermentação revolucionária que vinha crescendo na França. Contribuiu para tornar mais aguda a crise do sistema colonial que se formava, influenciando os movimentos de independência na América Latina. A Constituição americana, modelo de concretização das ideias políticas liberais, influenciou a elaboração de vários textos constitucionais. DOCUMENTO ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– ––––––––––– Declaração de Independência “Consideramos como autoevidentes as verdades que afirmam serem todos os homens criados iguais e dotados pelo seu Criador de certos direitos inalienáveis, entre os quais estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade. Que para garantir esses direitos são instituídos os governos entre os homens, derivandose a sua força justa do consentimento dos governados; que sempre que qualquer forma de governo se tornar destruidora desses fins, o povo terá o direito de alterá-lo ou aboli-lo, e de constituir um novo governo que tenha por alicerces esses princípios, e organizar o seu poder da forma que lhes pareça a melhor maneira de conseguir a sua segurança e felicidade.” Declaração de Independência in Panorama da História dos Estados Unidos. HOFSTADTER, Richard e GRAY, Wood e OLSON, Keith (atualização). Agência de Comunicação Internacional dos Estados Unidos da América, s/d, p.40 1. Grife as ideias políticas do Iluminismo contidas no texto. VO C A B U L Á R I O 2. Justifique e analise a parte do texto que você grifou? Inalienável = qualidade de um bem que não pode ser _________________________________________ transferido a outro proprietário. _________________________________________ Melaço = líquido viscoso, subproduto da cana-de-açúcar. _________________________________________ Puritano = membro de seita protestante surgida no século _________________________________________ XVI, que pregava uma simplificação dos cultos e rigor na 3. Qual a função do governo prevista nessa declaração? interpretação das escrituras sagradas. Timbrado = aquilo que tem selo, carimbo. _________________________________________ _________________________________________ _________________________________________ _________________________________________ 4. Em que circunstâncias o governo poderia ser mudado? _________________________________________ _________________________________________ _________________________________________ _________________________________________ _________________________________________ Assinatura da Declaração de Independência em 4 de julho de 1776. 216 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 217 EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES 1. Minipesquisa: As grandes invenções e inovações tecnológicas do século XVIII. 3. O uso do trabalho infantil era justificado no século XVIII como forma de “regenerar pelo trabalho” a população pobre. As crianças, ao estarem trabalhando, se afastariam das ruas e da marginalidade. Esse discurso aparece algumas vezes em depoimentos de quem explora o trabalho infantil ainda hoje. O que você acha disso? Orientação: – pesquise em livros, enciclopédias ou na Internet; – escrever o resultado de sua pesquisa no espaço abaixo; Faça uma redação sobre esse assunto. Não se esqueça de dar um título para ela. – procure ilustrar sua pesquisa; – ao final, coloque a bibliografia ou o endereço e a data do site utilizado. 2. Associações e organizações de trabalhadores surgiram historicamente na Inglaterra, com o objetivo de reivindicar melhores condições de trabalho nas fábricas e exigir do Parlamento a aprovação da primeira legislação trabalhista. Nos dias atuais, qual o papel ou função de um sindicato de trabalhadores? Orientação: pesquise junto a três pessoas e complete o espaço abaixo. Nome: ________________________ Idade: _____ Profissão: ________________________________ Sindicato: ________________________________ Opinião sobre o sindicato: ___________________ _________________________________________ Nome: ________________________ Idade: _____ Profissão: ________________________________ Sindicato: ________________________________ Opinião sobre o sindicato: ___________________ _________________________________________ Nome: ________________________ Idade: _____ Profissão: ________________________________ Sindicato: ________________________________ Opinião sobre o sindicato: ___________________ _________________________________________ Agora, discuta as opiniões colhidas em sua pesquisa. 217 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 218 4. Você já estudou bastante a colonização do Brasil e neste item teve algumas informações sobre a maneira como foi feita a colonização dos Estados Unidos. Procure compará-las no espaço abaixo. BRASIL ESTADOS UNIDOS Norte Sul 218 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 219 CAPÍTULO 6 Revolução Francesa A Queda da Bastilha (óleo de L. Congniet, século XVIII). 1. O processo revolucionário • Antigo Regime = ___________________________ Em julho de 1789, a Bastilha – prisão situada nos arredores de Paris – foi tomada por uma população enfurecida. Esse fato se tornou tão célebre que atualmente é empregado para marcar o início da Idade Contemporânea. Para a maior parte dos historiadores, significou a ascensão política da burguesia na França e a consolidação do Estado burguês. Para a grande maioria das pessoas, é símbolo de liberdade. Grande parte dos movimentos ocorridos no final do século XVIII e início do XIX, na Europa e nas Américas, apresentaram-se como defensores das ideias lançadas pelos revolucionários franceses. Mas, afinal, o que essa revolução teve de tão especial? Para entender isso, é preciso conhecer melhor o conjunto de acontecimentos ocorridos na França, antes e durante o processo revolucionário. Antes de ir em frente, vamos recordar? Complete os quadros com o auxílio de seu professor. ____________________________________________ ____________________________________________ • Sociedade no Antigo Regime – Primeiro Estado: ____________________________________________ ____________________________________________ – Segundo Estado: ____________________________________________ ____________________________________________ – Terceiro Estado: _____________________________________________ _____________________________________________ 219 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 220 Nas cidades concentrava-se a burguesia composta por banqueiros, comerciantes e empresários, além de muitos trabalhadores urbanos. Grande parte da população das cidades era formada de pequenos comerciantes e artesãos chamados de sans-culottes. Considerados a camada inferior do terceiro estado, tiveram importante participação no processo revolucionário. Representação das três ordens, na sequência: clero, nobreza e terceiro estado. Sans-culotte representado em óleo de Boilly (1761–1845). Você sabia? Sans-culottes quer dizer “sem calções”. Os artesãos e pequenos proprietários urbanos eram assim chamados por não usarem os calções presos ao tornozelo como os nobres, mas sim calças simples para trabalhar. Luís XVI. Como se chegou à Revolução No final do século XVIII, a economia francesa estava frágil. As poucas manufaturas existentes sofriam concorrência das indústrias em expansão na Inglaterra. A agricultura enfrentava problemas de falta de produtividade, que se tornaram mais graves com uma grande seca em 1788. Os alimentos ficaram escassos e tiveram seu preço elevado. A situação de tensão era grande. A população enfrentava cada vez mais problemas e crescia o número daqueles que eram lançados à miséria. Durante o Antigo Regime, a França vivia sob governos absolutistas e a nobreza desfrutava de inúmeros privilégios. No reinado de Luís XVI (1774–1793), essa situação tornou-se insustentável. A nobreza recebia boa parte da renda do país, ocupava os cargos mais importantes e, assim como o clero, não pagava impostos. Muitos componentes desse grupo social viviam luxuosamente na Corte às custas do dinheiro público. No palácio de Versalhes, suntuosa residência oficial do rei situada nas proximidades de Paris, as festas e banquetes eram frequentes. Isso causava grande descontentamento na população, sobre quem recaíam altos impostos e todos os ônus das guerras e dificuldades econômicas que o país vinha enfrentando. A França, nessa época, era um país agrícola. A população francesa contava com 25 milhões de pessoas das quais 20 milhões viviam no campo. A maior parte era composta de camponeses vivendo em extrema pobreza, alguns deles em situação de miséria absoluta. Muitos deles ainda estavam em regime de servidão feudal. Pintura mostrando franceses famintos disputando alimentos. 220 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 221 Outro foco de tensão era a burguesia, que visava obter mais poder político. Isso lhe daria condições de tomar medidas que acabassem com os obstáculos à expansão de seus negócios, além de tornar possível a criação de incentivos para as atividades industriais, como vinham fazendo os ingleses. Defendiam os princípios do liberalismo econômico, criticavam a existência de monopólios comerciais e de resquícios do feudalismo, tais como restrições de trabalho impostas pelas antigas corporações e as aduanas internas. Não bastassem esses problemas, o rei, assolado pelas dificuldades econômicas, pretendia aumentar os impostos. Os cofres estavam vazios pelos gastos excessivos da Corte e também pela participação do país em guerras, como a dos Sete Anos e a Guerra de Independência dos Estados Unidos. Tudo isso causava grande descontentamento popular. Luís XVI se indispôs também com o clero e a nobreza ao pretender que eles passassem a pagar impostos. Como forma de discutir a crise econômica, o rei convocou a Assembleia dos Estados Gerais, na qual se reuniam os três Estados. A partir daí os acontecimentos se aceleraram. O Terceiro Estado, no qual a burguesia se inseria, não queria aceitar a forma de votação a ser usada na Assembleia, que deveria ser por Estado e não por indivíduo. Dessa forma, o Terceiro Estado, que possuía a maioria dos deputados, contaria com apenas um voto. Isso era uma desvantagem para a burguesia. A nobreza e o clero poderiam, facilmente, juntos, controlar as decisões a seu favor. Os representantes do Terceiro Estado reuniram-se em separado e declararam-se em Assembleia Nacional Constituinte. Houve reação do rei, que mandou fechar o prédio onde se reuniam. A partir daí as manifestações de revolta começaram a aparecer por toda a parte e, com a queda da Bastilha, estourava a Revolução. à Bastilha: o diretor recusou-se a abrir os portões, houve uma batalha que provocou numerosas mortes entre os atacantes, mas eles acabaram se impondo e assassinando o diretor. A Queda da Bastilha no dia 14 de julho de 1789 é tão importante quanto o Juramento do Jogo de Pela, talvez até mais: quando os deputados estão sob a ameaça do golpe de força real, a entrada em cena do povo parisiense constitui o acontecimento mais importante, e vai caracterizar a Revolução que se inicia – é preciso que se diga – com a marca da violência, ainda que esta já estivesse presente antes.” VOVELLE, Michel. A revolução francesa explicada à minha neta. São Paulo: Editora UNESP, 2007, pp. 31-32. A burguesia à frente Ideias que contestavam o poder absoluto do rei e defendiam a instauração de uma outra ordem política já vinham se alastrando há muito e isso contou para uma rápida adesão ao movimento. Os adeptos da “Filosofia das Luzes” vinham defendendo essas ideias nas reuniões políticas, nos jornais e nos panfletos que circulavam por toda a parte. TEXTO COMPLEMENTAR Pintura que representa a promulgação da nova Constituição francesa. ––––––––––– ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O lema da Revolução Francesa era Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Sob essa bandeira uniram-se burgueses, artesãos e camponeses. Cada um desses grupos, certamente, pretendia fazer a revolução a seu modo. Aquilo que poderia ter sido apenas uma revolta palaciana ameaçava fugir ao controle. Do campo vinham notícias de invasões a castelos e assassinatos de nobres. Na capital, o ardor revolucionário das massas urbanas era intenso e a revolta contra as injustiças inflamava os ânimos. Os saques a armazéns e depredações no campo ameaçavam se estender às propriedades em geral, causando temores aos nobres, mas também aos burgueses. A burguesia temia que o movimento levasse as massas populares ao poder. A queda da Bastilha “(…) Em busca de armas, no dia 14 de julho os parisienses invadiram a Bastilha, antiga fortaleza medieval que se tornara uma prisão do Estado. (…) (…) É lá que o rei prendia, sem julgamento, aqueles que o contrariavam. Escritores, jornalistas (chamados de panfletários), autores de textos proibidos, indivíduos de mau comportamento, também, a pedido da família. Bastava uma carta régia com a ordem de prisão, sem acusação precisa nem processo. Ela se tornara o símbolo da arbitrariedade do rei. A bem da verdade, é preciso dizer que em julho de 1789 a prisão estava quase vazia, só havia meia dúzia de presos. Não eram eles que as pessoas queriam, e sim as armas. Uma multidão armada, composta sobretudo por artesãos e populares, além de soldados – os guardas do rei –, dirigiu-se 221 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 222 Para acalmar os camponeses, a Assembleia extinguiu todos os direitos feudais ainda existentes (servidão, privilégios da nobreza, impostos etc). Pouco tempo depois foi aprovada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão pela qual se garantia, ao menos formalmente, o direito à liberdade e a igualdade de todos perante a lei. Em 1791 promulgou-se a nova Constituição francesa, passando a vigorar como regime político a Monarquia Constitucional. TEXTO COMPLEMENTAR ––––––––––– ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Resumo da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da Revolução Francesa. 1. Os homens nascem iguais e livres e assim permanecem quanto a seus direitos. 2. O objetivo das associações políticas é a preservação dos direitos naturais e inalienáveis do homem. 3. Esses direitos são: a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão. 4. A liberdade civil e política consiste no poder de fazer o que quer desde que não prejudique os outros. 5. A lei só deve proibir as ações prejudiciais à sociedade e ninguém deve ser acusado, preso ou detido, a não ser em casos determinados pela lei e de acordo com as formas por ela prescritas. 6. Ninguém deve ser punido a não ser de acordo com a lei promulgada antes da ofensa. 7. Um homem é considerado inocente até ser condenado. 8. Ninguém deve ser perseguido por suas opiniões em qualquer campo, desde que sua expressão não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei. 9. Cada cidadão pode falar, escrever e publicar livremente seus pensamentos e opiniões desde que se responsabilize pelo abuso dessa liberdade, nos casos determinados pela lei. Trabalhando com o texto Na Declaração dos Direitos do Homem encontramos alguns princípios básicos da revolução. Vamos conhecêlos? Leia o texto complementar, em que figuram, resumidamente, os artigos que defendem os Direitos do Homem e do Cidadão, e responda às questões: 1. Segundo o texto, quais são os direitos naturais e inalienáveis do Homem? _________________________________________ _________________________________________ _________________________________________ _________________________________________ 2. Como o texto define a liberdade civil e política? _________________________________________ _________________________________________ Citado em LEITE, Miriam Moreira. Iniciação à História Social Contemporânea. São Paulo: Cultrix, p. 196 _________________________________________ VO C A B U L Á R I O _________________________________________ Carta Régia = documento assinado pelo rei. Juramento do Jogo de Pela = em 20 de junho de 1789, os deputados do Terceiro Estado invadiram uma sala de jogar pela (espécie de tênis praticado em um salão) onde fizeram o juramento de não se dispersar até a promulgação de uma nova constituição francesa. Monarquia Constitucional = forma de governo em que o rei governa de acordo com uma constituição. Ônus = carga, peso, obrigação de difícil cumprimento. Resquícios = resíduos, vestígios. 3. De que forma pode-se relacionar o lema da Revolução Francesa com a Declaração dos Direitos do Homem? _________________________________________ _________________________________________ _________________________________________ _________________________________________ _________________________________________ 4. Escolha um dos itens da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Analise-o e diga se, na sua opinião, ele é praticado pela maioria das pessoas. No Portal Objetivo _________________________________________ _________________________________________ Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL OBJETIVO (www.portal.objetivo.br) e, em “localizar”, digite HIST8F203 _________________________________________ _________________________________________ 222 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 223 2. Revolução: até onde ir? laterais, providos de ranhuras. A viga sustentava uma pesada lâmina de forma oblíqua, que uma vez solta deslizava pelas ranhuras dos postes laterais, caindo violentamente sobre o pescoço do condenado. A morte, assim, era instantânea e indolor. (...) (...) continuou a ser usada até 1981, quando a pena de morte foi abolida na França. O dr. Guillotin, ao contrário do que diz a lenda, morreu na cama em 1814, aos 76 anos; conservou seu pescoço intato até o fim da vida.” A luta dos rebeldes franceses teve idas e vindas. Houve até mesmo um movimento contrarrevolucionário. O rei, os nobres e alguns membros do clero buscaram apoio em monarcas absolutistas de outros países, receosos de que a revolução se alastrasse pela Europa e pusesse em risco seus governos. Batalhões estrangeiros chegaram a invadir Paris, mas foram derrotados pelo exército popular. Luís XVI acabou sendo condenado a morrer na guilhotina, acusado de traição, o mesmo acontecendo com Maria Antonieta. Proclamou-se a República e o governo passou às mãos da Assembleia, a partir daí chamada de Convenção. RIBEIRO, Renato Janine. “Virtudes da Guilhotina” in Revista Superinteressante. São Paulo: Abril, jun 1989. pp. 16-17 TEXTO COMPLEMENTAR ––––––––––– ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A guilhotina “Como uma revolução inspirada na liberdade, na igualdade e na fraternidade foi capaz de adotar uma máquina de matar tão fria, tão terrível como a guilhotina? Pois foram exatamente aqueles princípios que justificaram seu uso. Antes da Revolução, existia uma hierarquia até para as execuções dos condenados. Os nobres tinham o direito de morrer de forma digna, que não manchasse sua memória, por isso eram decapitados com machado ou espada. Os plebeus, ao contrário, passavam pela humilhação da forca, considerada um suplício infamante. Além dessa diferença entre honra e desonra, havia também as gradações no sofrimento porque eram aplicadas penas de Dr. Guillotin morreu na cama mutilação e de tortura, que a Revolução aboliu. Neste contexto é que devemos entender a guilhotina. Os revolucionários não admitiam privilégios. Os homens nascem livres e iguais; então, por que deveria haver diferença entre a morte nobre e a morte vil? Primeiro, pensouse numa igualdade por baixo, dando a todos a morte plebeia e infamante na forca. Isso foi logo depois da supressão dos demais privilégios, como os títulos de nobreza, os direitos feudais etc. Mas não durou, pela simples e boa razão de que todo o movimento reivindicatório procura nivelar pelo alto e não por baixo. Com esse objetivo, um deputado eleito para a Assembleia Nacional em 1789, o médico Joseph-Ignace Guillotin, apresentou projeto de lei estabelecendo que todas as sentenças de morte deviam ser executadas ‘por meio de uma máquina’. E ofereceu ele próprio o modelo dessa máquina, formada por uma viga mestra e dois altos postes A Revolução popular A fase da Convenção (1792-1795) é apontada por alguns historiadores como o momento em que a Revolução Francesa foi levada mais longe e mais próxima dos interesses das camadas menos favorecidas da população. Entretanto, a alta burguesia teria, no final das contas, assumido o comando e impedido que as conquistas populares se efetivassem. Essa classe temia perder suas propriedades e riquezas e também o controle do poder político. Dessa forma, a Revolução Francesa teria sido uma revolução burguesa, com uma base de sustentação popular. Antes de entender essa discussão, vamos começar definindo o próprio significado da palavra revolução. • Revolução = _______________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ 223 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 224 Desde logo, ficou claro que a unidade dos revolucionários era ilusória, pois seus objetivos não eram os mesmos. Procure apontar, com o auxílio do que já aprendeu na aula anterior, os interesses de cada grupo social envolvido no movimento. Você sabia? Na Assembleia, os girondinos sentavam-se à direita, os jacobinos à esquerda e os do Pântano no centro. Surgiu daí a designação dada às orientações políticas ainda hoje usadas: “direita” (conservadores), “centro” e “esquerda” (revolucionários). • Burguesia = _______________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ • Camponeses = _____________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ Georges Jacques Danton, um dos líderes da Revolução Francesa. • Sans-culottes = _____________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ As divergências haviam dado origem a partidos políticos diferentes durante o desenrolar do movimento. Eram eles: • Girondinos – deputados pertencentes à alta burguesia, não queriam participação política das camadas populares, defendiam o direito de propriedade. Recebiam este nome por serem provenientes, em sua maioria, da região de Gironda situada no sul da França. • Jacobinos – representavam os interesses da pequena burguesia e dos sans-culottes. Tinham posição radicalmente contrária à monarquia e defendiam o direito de o povo ter representação política. Eram assim chamados por reunirem-se no convento de Saint Jacques. • Pântano – não tinham posição política definida, apoiando um ou outro lado, de acordo com seus interesses imediatos. Robespierre, um dos líderes jacobinos da Revolução. Durante a Convenção houve uma predominância dos jacobinos sob a liderança de Maximilien Robespierre. O temor da contrarrevolução fez com que fossem guilhotinados muitos partidários do rei. Para manter seu comando, os jacobinos passaram a perseguir violentamente seus opositores, o que fez com que essa fase ficasse conhecida como o Terror (1793–1794). Nesse período, cerca de 20 mil pessoas morreram na guilhotina, inclutante líder jacobino que criticava duramente Robespierre. 224 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 225 Entretanto, foi durante a Convenção que os princípios revolucionários foram levados mais longe em termos das leis sociais que foram implementadas. Privilégios da nobreza foram extintos, aumentaram-se os impostos sobre as riquezas, assegurou-se o princípio da instrução pública e tabelaram-se os preços dos alimentos. O líder jacobino Robespierre feriu interesses econômicos com suas medidas, perseguiu muitos para se manter no poder e acabou isolado. Recebeu ele próprio a pena que aplicara a tantos. Foi preso pelos girondinos e levado à guilhotina. Em 1795 foi promulgada nova Constituição, instalou-se novamente outro governo, o Diretório (1795-1799). Afirmava-se o predomínio político da burguesia conservadora no comando do processo revolucionário. Esta, temendo a contrarrevolução e reações dos jacobinos, aproximou-se do exército. Dali surgiu aquele que iria reafirmar o poder político da burguesia na Revolução. Em 9 de novembro de 1799, o general Napoleão Bonaparte liderou um golpe de Estado, depôs o Diretório e colocou-se à frente do governo francês. A Revolução e seus símbolos Você sabia? As divisas republicanas em imagem da época. O primeiro selo da República trazia a efígie de uma mulher de pé, vestida à moda romana, segurando na mão direita uma lança, de cuja ponta pendia um barrete frígio. A mão esquerda segurava um feixe de armas. Um leme completava a simbologia. O barrete frígio identificava os libertos na antiga Roma; o feixe de armas indicava a unidade, ou fraternidade; o leme, o governo; a lança, arma popular por excelência, era a presença do povo no regime que se inaugurava.” (CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: O imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p. 75.) A Revolução Francesa valeu-se de vários símbolos. A cor revolucionária oficial era a verde. A figura feminina foi usada para simbolizar tanto a República quanto a própria Revolução. Os revolucionários franceses, durante a fase republicana, chamavam-se todos de “cidadão” ou “cidadã”. Difundiu-se até mesmo um “figurino revolucionário”. Recomendava-se para as mulheres o uso de toucado vermelho, e os homens, “autenticamente revolucionários”, vestiam-se à moda dos sans-culottes, com barrete vermelho, calças largas e paletós estreitos. Louças, objetos de decoração, adornos, todos tinham alusões à revolução. Tratava-se, sobretudo, de afirmar simbolicamente que começava um novo tempo para a França. Tanto é que chegaram a instituir um novo calendário. Está certo que ele durou pouco tempo, mas vale conhecê-lo. Calendário Revolucionário Calendário Cristão Outono Vendemiário (mês das vindimas) Brumário (mês das brumas, nevoeiros) Frimário (mês das geadas) 22 de setembro a 22 de outubro 23 de outubro a 21 de novembro 22 de novembro a 21 de dezembro Inverno Nivoso (mês das neves) Pluvioso (mês das chuvas) Ventoso (mês dos ventos) 22 de dezembro a 20 de janeiro 21 de janeiro a 19 de fevereiro 20 de fevereiro a 21 de março Primavera Germinal (mês da germinação) Floreal (mês das flores) Prairial (mês das pastagens) 22 de março a 20 de abril 21 de abril a 21 de maio 22 de maio a 19 de junho Verão Messidor (mês da colheita do trigo) Termidor (mês do calor) Frutidor (mês das frutas) 20 de junho a 19 de julho 20 de julho a 18 de agosto 19 de agosto a 21 de setembro Louça com motivos alusivos à Revolução 225 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 226 Revendo as fases do processo revolucionário francês No Portal Objetivo Assembleia Nacional Constituinte (1789-1791) • • • • Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL OBJETIVO (www.portal.objetivo.br) e, em “localizar”, digite HIST8F201 Tomada da Bastilha. Generalizam-se as revoltas populares no campo e nas cidades. Assembleia aprova a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Rei Luís XVI é detido ao tentar fugir do país. Preso, é mantido sob vigilância em Paris. Votada a constituição Francesa que abole as relações feudais ainda existentes. Estabelece a liberdade de comércio, o voto censitário e o direito à propriedade privada. VO C A B U L Á R I O Barrete frígio = chapéu vermelho semelhante ao que usavam os frígios, povo antigo da Ásia. Adotado no tempo da Revolução Francesa, era também denominado de barrete vermelho. Hierarquia = qualquer classificação por ordem, escala. Infamante = desonroso, que lança ou envolve infâmia. República = criada em 1792, após a Batalha de Valmy, onde as tropas contrarrevolucionárias foram derrotadas. Luís XVI foi capturado e preso. O governo passou a ser exercido pela Convenção Nacional, uma assembleia eleita com o voto universal masculino. Revolução Burguesa = define a Revolução Francesa de 1789. A burguesia é a grande condutora do processo revolucionário, coloca fim ao absolutismo monárquico, mas mantém as transformações implantadas no limite de seu interesse econômico. Monarquia Constitucional (17911792) • • • • • • • Eleição da Assembleia Legislativa, composta por uma maioria de representantes da alta burguesia favorável à manutenção de uma monarquia constitucional. Exército francês é derrotado em batalhas pelas tropas austríacas. O povo invade as Tulherias e aprisiona a família real. Exército prussiano invade a França e é derrotado pelas tropas constituídas na maioria pelos sans-culottes. Massacre de Setembro: parte da nobreza é assassinada na prisão sob acusação de traição à pátria. A convenção nacional é eleita por sufrágio universal. Fim da Monarquia Constitucional. É proclamada a República na França. 3. Repercussões no Brasil Enquanto na Europa os efeitos da Revolução Francesa abalavam os alicerces da monarquia absoluta e nos Estados Unidos da América construíam-se novas formas de governar, no Brasil chegavam os ecos das ideias iluministas fermentando ideais de liberdade. Ainda no século XVIII dois movimentos se referiram a essas ideias: a Inconfidência Mineira (1789) e a Conjuração Baiana (1798). É certo que não se pode atribuir somente a essas influências o surgimento dessas revoltas. Há que se considerar, também, as razões específicas da colônia portuguesa que levaram a essas insurreições. Convenção (1792-1795) • • • • • • • • Na convenção definem-se três facções políticas: girondinos, jacobinos e Pântano. Julgamento do rei Luís XVI, acusado de desviar verbas nacionais para a contrarrevolução. O rei e a rainha Maria Antonieta, são guilhotinados. Lei do Máximo – tabelando preços de cereais e artigos de primeira necessidade. Promulgada a Constituição de 1793, de inspiração iluminista, abolição do voto censitário. Período de Terror, que através das Leis dos Suspeitos, condena à guilhotina os denominados inimigos da Revolução. Prisão e morte do líder jacobino Robespierre. Reação Termidoriana – os girondinos voltam ao poder e perseguem os jacobinos. A Inconfidência de Minas Gerais Você sabe qual é o significado da palavra inconfidência? • Inconfidência = _____________________________ Diretório (1795-1799) • • • Em 1795, a Convenção promulgou uma nova Constituição que criava o Diretório, assembleia controlada pelos girondinos. Foram anuladas inúmeras conquistas sociais que beneficiavam o Terceiro Estado. Retorno do voto censitário. Em 18 do Brumário de 1799, o general Napoleão Bonaparte colocou fim à fase de Diretório e à primeira grande etapa da Revolução Francesa. 226 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 227 O sentido de deslealdade para com a Coroa portuguesa contido nesse termo indica que essa revolta foi assim chamada por ter representado um momento no qual a colônia tentou separar-se de Portugal. Vejamos o que levou a população de Minas Gerais a tomar essa iniciativa. Durante o século XVIII, Portugal enfrentava problemas econômicos. Em 1703 havia assinado um acordo com a Inglaterra, o Tratado de Methuen, que favorecia a entrada de produtos ingleses no país. Isso ocasionou um deficit na balança comercial portuguesa, pois o volume de suas importações era maior que o de exportações. O ouro brasileiro foi usado para cobrir essa diferença, tendo, para muitos historiadores, contribuído para financiar o crescimento industrial e marítimo da Inglaterra. tica ao absolutismo e de defesa aos direitos de liberdade do cidadão. Por meio deles, e de alguns livros que, apesar dos cuidados da Coroa, conseguiam entrar, essas ideias chegaram ao Brasil. O exemplo da Independência dos Estados Unidos contribuiu também para impulsionar o movimento de rompimento com Portugal que já se esboçava. TEXTO COMPLEMENTAR ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Os rebeldes e os livros “(…) Na residência do tenente-coronel Francisco de Paula Freire de Andrade, em Vila Rica, (…) os rebeldes não encontravam um local destinado especificamente à armazenagem e à leitura de livros, mas podiam retirá-los em duas estantes, uma pintada e outra mais usada, além de reunir-se sentados em cadeiras de damasco amarelo, repousando seus papéis e livros em mesas de pau-branco ou em outras menores, cobertas de pano verde; em meio a uma polêmica e outra, talvez voltassem os olhos para os mais de 42 quadros de pintura que forravam as paredes. Da residência de Andrade, a boêmia estendeu-se para outras casas, como as pertencentes a Cláudio Manuel da Costa, Domingos Vieira, Tomás Antônio Gonzaga e João Rodrigues de Macedo (…). Os conjurados discorriam sobre a situação da capitania, mirando-se nas Treze Colônias Inglesas da América do Norte, cuja independência chegaram a conhecer principalmente por meio de escritos publicados em francês, em particular a obra do abade Raynal. Esta obra e outros livros auxiliavam-nos a refletir sobre a situação das Gerais, a orquestrar a sedição e a definir os horizontes da ordem pós-revolucionária. Algumas delas incendiavam as mentes falando sobre os direitos dos povos, o antidespotismo, as riquezas da Colônia e sua exploração pela Metrópole — e o alferes andava com elas, importunando seus conhecidos para traduzirem os trechos mais subversivos e exibindo um Mapa que denunciava a riqueza das Minas (…).” Você sabia? Pelo Tratado de Methuen (Panos e Vinhos), os portugueses se comprometiam a consumir os tecidos ingleses e a Inglaterra a consumir os vinhos portugueses. Na prática, isso significou o monopólio do abastecimento de manufaturas inglesas em Portugal. O governo português, para ajudar a solucionar seus problemas, começou a cobrar mais impostos sobre a região de mineração no Brasil. O “quinto”, imposto sobre o ouro, teria um valor total estipulado de 100 arrobas. Caso essa quantia não fosse alcançada, seria feita uma “derrama” com a qual toda a população deveria contribuir para completar o que faltava, mesmo aqueles que não fossem mineradores. Ocorre que o ouro vinha escasseando na região das minas. Os veios estavam se esgotando e os métodos de extração eram pouco eficientes. Estava cada vez mais difícil pagar os impostos. Desagradava à Capitania, também, o reforço à proibição de instalação de manufaturas feito pela rainha D. Maria I (1785). Somente seria permitido que se fizessem panos grosseiros de algodão para vestir os escravos. As dívidas da Capitania de Minas Gerais com a Coroa chegavam a 538 arrobas de ouro, além das dívidas pessoais de membros da elite da região que também eram enormes. Em 1788, o Visconde de Barbacena, nomeado governador de Minas, fora designado para vir de Portugal para Vila Rica (Ouro Preto) e realizar as cobranças. A ameaça pairava sobre todos. A “derrama” deveria acontecer em breve. O cenário da revolta já estava pronto. VILLALTA, Luiz Carlos. “O que se fala e o que se lê: língua, instrução e leitura”. In História da vida privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. pp.379-380 Quem eram os inconfidentes? Os líderes do movimento faziam parte da elite de Minas Gerais. Vários deles, como José Álvares Maciel e Joaquim Silvério dos Reis, tinham dívidas com a Coroa portuguesa e viam no rompimento com a metrópole uma possibilidade de solução para seus problemas. Destaca-se também a participação de homens cultos e letrados como os poetas Cláudio Manuel da Costa, Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio Gonzaga. Este último desempenhava o importante cargo de ouvidor de Vila Rica. Uma elite letrada Nessa época, livros que pudessem fomentar revoltas contra a metrópole portuguesa eram proibidos de circular na colônia. Mesmo assim, a elite das cidades mineiras conhecia as ideias do Iluminismo. Muitos haviam estudado na Europa, a maioria em Coimbra, na Faculdade de Direito. Lá haviam tomado contato com as ideias de crí227 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 228 Destoava desse grupo o alferes Joaquim José da Silva Xavier, homem sem posses que participou apaixonadamente do levante. Sua função foi arregimentar adeptos e ficou responsável por promover a agitação em Vila Rica quando ocorresse a “derrama”. Mas que queriam os inconfidentes? Seu lema era: “Libertas quae sera tamem”, ou seja, “Liberdade, ainda que tardia”. Além de conseguir a separação de Portugal, não havia unanimidade nos projetos dos inconfidentes. Pensaram em libertar os escravos, sem, no entanto, abolir a escravidão. O regime político deveria ser, ao que tudo indica, a República, com a capital em São João del Rey. Queriam também permissão para instalar manufaturas e a criação de uma Universidade. Após o fracasso do levante em Vila Rica, os depoimentos dos presos foram colhidos nos três anos que durou a devassa, nome que era dado ao processo judicial. Durante esse período, Cláudio Manoel da Costa morreu na prisão em circunstâncias pouco esclarecidas. Você sabia? O alferes Joaquim José da Silva Xavier, Tiradentes. Tomás Antônio Gonzaga havia se apaixonado por uma jovem de nome Maria Doroteia, a quem chamava de Marília nos vários poemas que fez para ela usando o nome de Dirceu. Quando foi preso, estava noivo de sua amada. Degredado para Moçambique, nunca mais a viu. Acabou casando-se lá. Maria Doroteia morreu solteira, com 85 anos. Você sabia? Tiradentes teve várias ocupações, entre outras a de dentista, o que lhe deu esse apelido um pouco pejorativo. Não há registro de imagens suas da época da Inconfidência. Sua transformação em “herói nacional” ocorreu apenas após a Proclamação da República (1889), regime que se preocupou em criar símbolos sobre a história nacional como forma de se afirmar no poder. Datam dessa época os retratos de Tiradentes que o mostram com barbas e cabelos longos numa clara referência à imagem tradicional de Cristo. Os inconfidentes tomaram atitudes diversas em seus depoimentos. Alguns negaram tudo, outros assumiram sua participação. Tiradentes acabou se responsabilizando pelo movimento, procurando assumir, sozinho, toda a culpa. Durante todo o processo mostrou grande dignidade ao não acusar e nem implorar perdão como os outros inconfidentes. Apenas ele recebeu a pena máxima: morte por enforcamento e esquartejamento. Os outros participantes do movimento foram degredados para a África. A execução pública de Tiradentes, no Rio de Janeiro, em 21 de abril de 1792, aconteceu como um grande espetáculo. A população acorreu em massa para ver seu enforcamento e durante seis dias a cidade comemorou. Seu corpo foi esquartejado e decapitado. Sua cabeça foi levada para Vila Rica e seu corpo espalhado pelo caminho. Bandeira da Inconfidência. A conspiração A derrama estava marcada para fevereiro de 1789. Os inconfidentes, que já vinham se reunindo há bastante tempo, contavam com esse fato para conseguir a adesão da população ao movimento que tornaria a Capitania independente de Portugal. Entretanto, a derrama foi adiada e, antes que a revolta acontecesse, Joaquim Silvério dos Reis negociou o perdão para suas dívidas em troca da denúncia do movimento em todos os seus detalhes. Depois dele, outros também foram ao governador fazer suas delações. Dessa forma, antes mesmo que começasse o levante, seus líderes foram presos. NOVAES, Carlos Eduardo; LOBO, César. História do Brasil para principiantes. São Paulo: Ática, 1997. 228 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 229 TEXTO COMPLEMENTAR ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Tu não verás, Marília, cem cativos Tirarem o cascalho e a rica terra, Ou dos cercos dos rios caudalosos, Ou da mina da serra. Não verás separar ao hábil negro De pesado esmeril a grossa areia, E já brilharem os granetes de ouro No fundo da bateia. Não verás derrubar as virgens matas, Queimar as capoeiras inda novas. Servir de adubo à terra a fértil cinza, Lançar os grãos nas covas. Não verás enrolar negros pacotes Das secas folhas do cheiroso fumo, Nem espremer entre as dentadas rodas Da doce cana o sumo. Pintura do séc. XIX representando Tiradentes esquartejado. DOCUMENTO Verás em cima da espaçosa mesa Altos volumes de enredados feitos, Ver-me-ás folhear os grandes livros E decidir os pleitos. ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Tiradentes é condenado Enquanto revolver os meus consultos, Tu me farás gostosa companhia, Lendo os fatos da sábia mestra história E os cantos da poesia. “Portanto condenam o réu Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha o Tiradentes, alferes que foi da tropa paga da capitania de Minas, a que com baraço e pregão seja conduzido pelas ruas públicas ao lugar da forca e nela morra morte natural para sempre, e que depois de morto lhe seja cortada a cabeça e levada a Vila Rica, onde em lugar público ela será pregada, em poste alto até que o tempo a consuma; e o seu corpo será dividido em quatro quartos e pregado em postes, pelos caminhos de Minas, no sítio da Varginha e das Cebolas, onde o réu teve as suas infames práticas, e os mais nos sítios de maiores povoações até que o tempo também os consuma; declaram o réu infame, e seus filhos e netos, tendo-os, e os seus bens aplicaram para o Fisco e Câmara Real, e a casa em que vivia em Vila Rica será arrasada e salgada, para que nunca mais no chão edifique, e, não sendo própria, será avaliada e paga a seu dono pelos bens confiscados, e no mesmo chão se levantará um padrão, pelo qual se conserve também a memória desse abominável réu.” Lerás em alta voz a imagem bela; Eu vendo que lhe dás o justo apreço Gostoso tornarei a ler de novo O cansado processo. Se encontrares louvada uma beleza, Marília, não lhe invejes a ventura, Que tens quem leve à mais remota idade A tua formosura. GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. Rio de Janeiro, Ediouro, 1998. Lira III/Parte III. p. 107 Citado em ALVES F., Ivan. Brasil, 500 anos em documentos. Rio Janeiro, Mauad, 1999. p. 136 Leia a sentença de Tiradentes e depois responda às questões. Que razões teriam levado Portugal a condenar apenas Tiradentes? Em sua opinião, por que a execução da pena foi tão violenta? Pintura representando Tiradentes na prisão. 229 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 230 Você sabia? Dos 48 acusados de participarem da conjuração baiana, 4 eram servidores civis ou profissionais liberais, 12 eram militares, 23 artesãos e 9 escravos sem ocupação declarada. Dentre esses acusados 34 eram livres, 3 forros e 11 escravos. Quanto à cor da pele, 11 eram brancos, 34 pardos ou mulatos e apenas 3 pretos. (MATTOSO, Kátia de Queiroz. Bahia 1798: os panfletos revolucionários. ln: A Revolução Francesa e seu impacto na América Latina. São Paulo: Nova Stella/EDUSP; Brasília, CNPq, 1990.) No movimento, pretendia-se ir além da conquista da independência de Portugal e da instalação de um regime republicano. Pretendia-se acabar com a escravidão e instaurar a igualdade racial. DOCUMENTO ––––––––––– ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Os conjurados “Instruídos por bem na lição destes livrinhos, alguns pardinhos, e também branquinhos da plebe conceberam o arrojado pensamento, de fazerem também seu levante, sem mais outro intento, senão de fazerem com este meio, tão arriscado, feliz a sua desgraçada sorte, passando, quero dizer, de pobres a ricos, de pequenos a grandes, de vis e baixos a estimados, e finalmente de Servos, pois muitos dos pardos eram cativos, a Senhor.” (Extraído do documento Relação da Francesia formada pelos Homens Pardos da Cidade da Bahia no ano de 1798. Arquivo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, lata 402). O liberal Cipriano Barata, médico da cidade de Salvador, foi um dos grandes defensores dos ideais separatistas e republicanos no Brasil, sofrendo constantes perseguições por parte das autoridades. Conjuração Baiana Na Bahia, à mesma época da Inconfidência, também havia insatisfeitos. Ali, organizou-se uma conspiração visando a instalar uma República independente de Portugal conhecida como Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates. Salvador, que havia sido a primeira capital do Brasil, vinha tendo problemas econômicos. Com o deslocamento das atenções para a região mineradora, a população da cidade havia ficado relegada à própria sorte pelas autoridades da Coroa. A miséria era grande. As atividades comerciais e de artesanato ocupavam seus habitantes. Eram sapateiros, pedreiros e... alfaiates. A elite, também descontente, discutia os ideais de liberdade da Revolução Francesa numa associação maçônica chamada Cavaleiros da Luz. Dentre eles, o médico Cipriano Barata, muito querido da população. Numa manhã de 1798, a cidade despertou com diversos cartazes nas paredes das casas chamando a população para uma revolta. Logo se apuraram os responsáveis, que foram presos. Nas investigações, muitos foram apontados como adeptos do movimento. A participação das camadas mais baixas da população foi bastante grande. Apenas esses foram condenados. Os membros da elite foram poupados. Dos líderes populares, quatro foram enforcados e esquartejados: os alfaiates João de Deus e Manuel Faustino e os soldados Lucas Dantas e Luís Gonzaga. ALVES F., Ivan. op. cit. p. 141 VO C A B U L Á R I O Abade = título dado ao superior de uma ordem religiosa, líder espiritual de uma abadia ou mosteiro. Alferes = antigo posto militar, equivalente nos dias atuais ao posto de segundo-tenente. Baraço = laço de forca; corda com que se enforcavam os condenados. Esmeril = rocha metamórfica, de grande dureza, utilizada como abrasivo. Deficit = falta, prejuízo; o que falta para completar uma conta, uma previsão. Granete = pequeno grão. Ouvidor = juiz que os donatários, no Período Colonial, colocavam em suas terras. Pregão = ação de apregoar, proclamação proferida em altas vozes pelas ruas; um grande anúncio verbal. Sedição = perturbação da ordem pública, revolta, motim; crime contra a segurança do Estado. 230 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 231 EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES C – As ideias do Iluminismo influenciaram o processo revolucionário francês de 1789? Justifique. 1. Vamos ver se você aprendeu? A – Comente a situação da França pré-revolucionária nos aspectos a seguir: • Economia = • Política = D – Por que razão a tomada da Bastilha, em julho de 1789, é considerada por muitos como um símbolo de liberdade? • Sociedade = B – Discuta o papel dos seguintes grupos sociais durante o processo revolucionário: • Burguesia = 2. Você é o historiador Os acontecimentos históricos não falam por si, mas são interpretados pelo historiador que procura lhes atribuir um sentido. Com base no que já estudou, faça você sua análise sobre a Revolução Francesa. Leve em consideração que: – a burguesia conquistou o poder; – as camadas populares acabaram afastadas do poder; – os resquícios do feudalismo foram extintos; – criaram-se condições para o desenvolvimento do capitalismo. • Sans-culottes = 231 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 232 3. Vamos completar! “Animai-vos povo baiense, que está para chegar o tempo feliz da nossa liberdade; o tempo em que todos seremos irmãos: o tempo em que todos seremos iguais.” Essa frase fazia parte de um documento que circulou em Salvador no mês de agosto de 1798. Era uma chamada para que a população baiana aderisse à revolta contra Portugal. Com base em seus conhecimentos e nas informações obtidas em classe, complete o quadro abaixo. Ano Composição social Influência ideológica Fator externo de influência Antecedente imediato Propostas do movimento Inconfidência Mineira Conjuração Baiana __________________________ _________________________ __________________________ __________________________ __________________________ _________________________ _________________________ _________________________ __________________________ __________________________ __________________________ _________________________ _________________________ _________________________ __________________________ __________________________ _________________________ _________________________ __________________________ __________________________ _________________________ _________________________ __________________________ __________________________ __________________________ __________________________ __________________________ _________________________ _________________________ _________________________ _________________________ _________________________ 232 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2016 22/01/16 11:23 Página 233 CAPÍTULO 7 A Europa Pós-Revolucionária Desde a própria cerimônia de sua coroação, percebese a arrogância e a sede de poder do novo imperador. Leia o texto abaixo e discuta: TEXTO COMPLEMENTAR ––––––––––– ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Napoleão e a Igreja “Filho da Revolução, as relações de Napoleão com a Igreja Católica foram tumultuadas. Mais do que instrumentos da fé, a religião era para ele um elemento de governo. ‘Uma sociedade sem religião é como um navio sem bússola’, disse em 1801, ano em que firmou a primeira concordata com o papa. As negociações foram difíceis e conduzidas com espírito militar. ‘Trate o papa como se ele tivesse 200 mil homens à sua disposição’, recomendou ao primeiro embaixador que enviou a Roma. A concordata acertada previa que o governo francês nomearia parte dos bispos no país e o papa os demais, mas todos os prelados prestariam juramento de fidelidade ao Estado francês e nomeariam párocos ‘do agrado do governo’. As relações Igreja-Estado continuavam, contudo, conturbadas. Em 1804, depois de nomeado imperador, Napoleão convenceu o papa Pio VII a vir a Paris para sua coroação. Foi um feito diplomático memorável, para quem se notabilizara apenas pelo uso eficiente das armas: mil anos antes, outro imperador francês, Carlos Magno, teve que fazer o caminho inverso e ir a Roma em busca da bênção papal à sua investidura. Napoleão, não satisfeito, frisou seu triunfo fazendo o papa esperá-lo três horas para a cerimônia. Outra surpresa estava reservada para o chefe da Igreja, nesse dia: Napoleão coroou a imperatriz Josefina e, em seguida, com as próprias mãos, colocou a coroa imperial sobre sua cabeça. Ao papa coube, apenas, a celebração do ofício religioso. Evidentemente, as relações entre os dois poderes não seriam nada cordiais. Em 1805, Napoleão atacou os Estados Pontifícios; em 1806, o papa recusou-se a aderir ao bloqueio continental contra a Inglaterra. Em 1808, os franceses ocuparam Roma e, em 1809, Napoleão ordenou a anexação dos Estados Pontifícios à França. Pio VII foi preso no palácio do Quirinal por ordem de Napoleão e, mais tarde, foi levado a Savonna, sendo confinado no castelo de Fontainebleau em 1812. Nesse ano, o imperador impôs ao papa um tratado em que Pio VII abria mão da nomeação de grande parte dos bispos franceses. No ano seguinte, o papa recuou e denunciou o tratado; em 1814, Napoleão mandou-o de volta a Fontainebleau e finalmente, em 10 de março de 1814, permitiu sua volta a Roma.” Cerimônia de coroação de Napoleão em 1804. Tela do pintor Jacques Louis David (1748-1825). 1. Retrocesso na França Acalmados os ânimos revolucionários, Napoleão Bonaparte, que havia chegado ao poder com apoio da burguesia francesa, começou a afastar-se cada vez mais dos princípios democráticos daquele movimento. Em 1804 foi escolhido num plebiscito como novo imperador do povo francês. Passou a governar de maneira tão autoritária e despótica quanto os monarcas que a Revolução havia derrubado. Censurou a imprensa, criou o serviço militar obrigatório e eliminou as liberdades políticas e individuais. Você sabia? Napoleão (1769-1821) nasceu na Córsega. Casou-se em 1796 com Joséphine de Beauharnais de quem se divorciou por ela não ter lhe dado um filho. Com a princesa austríaca Marie-Louise, teve seu único filho, Joseph-François-Charles, que morreu com 21 anos, tendo sido coroado rei de Roma. Napoleão Bonaparte governou cinco anos como cônsul antes de ser coroado imperador da França. RUY, José Carlos e MARANHÃO, Ricardo in Revista Superinteressante. São Paulo, Editora Abril, ano 3, n.º 2, 1989, p. 41 233 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 234 salvaguardar a continuidade da Coroa, a solução encontrada foi a saída de Portugal. Assim, D. João VI e toda a Corte portuguesa fugiram de Lisboa e vieram para o Brasil. Contaram com a escolta de navios ingleses que se comprometeram a garantir a sua segurança. É certo que os ingleses também tinham seus interesses. Queriam manter o acesso aos portos portugueses que serviam como ponto de apoio para seus próprios navios e centros de irradiação dos produtos britânicos e também impedir que os franceses se apoderassem da importante frota portuguesa. Com a vinda da Corte para o Rio de Janeiro, o Brasil tornou-se a sede do Império Colonial português. Afrouxaram-se os laços de dominação colonial e iniciou-se o processo de independência em nosso país. Aprofundouse também o vínculo comercial com a Inglaterra, a qual passou a ter grande participação na economia brasileira. 1. Que pretendia Napoleão com sua atitude de efetuar ele próprio a sua coroação? _________________________________________ _________________________________________ _________________________________________ 2. Comente as relações entre o Estado francês e a Igreja descritas no texto. _________________________________________ _________________________________________ _________________________________________ O Império Napoleônico Napoleão Bonaparte, no comando da França, invadiu diversos países europeus, formando vasto Império. A Inglaterra, no entanto, permanecia irredutível ao seu avanço militar. A concorrência dos produtos industriais ingleses prejudicava a frágil economia francesa que, encaminhando sua própria industrialização, estava tentando se afirmar após o longo período de revolução. Para enfraquecer a Inglaterra e minar seu poderio econômico, o imperador francês pensou em uma estratégia: impôs, em 1806, aos países sob sua influência o Bloqueio Continental. Com esse bloqueio, as nações europeias estariam impedidas de manter relações comerciais com a Inglaterra. Você sabia? A frota transportando a Corte de D. Joao VI saiu de Portugal em 29 de novembro de 1807. Trazia também a rainha D. Maria I, vários milhares de pessoas, documentos, tesouros da Coroa e outros bens avaliados em 80 milhões de cruzados. No dia seguinte, em 30 de novembro, tropas francesas invadiam Lisboa. (PANTALEÃO, Olga. A presença inglesa. In: HOLANDA, Sérgio Buarque. História Geral da Civilização Brasileira. Tomo II, DIFEL.) Ventos de conservadorismo na Europa Também a Rússia deixou de acatar as determinações de Napoleão e rompeu o Bloqueio Continental em 1812. O imperador francês entrou em guerra com esse país e acabou sendo derrotado. Tropas da Rússia, Áustria, Prússia e Inglaterra uniram-se contra ele, que acabou sendo levado a abdicar o trono em 1814. Exilado na ilha de Elba, ali ficou por pouco tempo. Com auxílio de sua guarda pessoal, fugiu para retomar o trono francês que havia sido substituído por Luís XVIII. Entretanto, as forças que se opunham a Napoleão se uniram e lhe impuseram uma derrota definitiva em Waterloo (1815). Napoleão foi enviado para a ilha de Santa Helena, onde morreu em 1821. Após a derrota de Napoleão, monarcas europeus reuniram-se no Congresso de Viena (1814-1815) para tentar restabelecer o absolutismo e conter o avanço dos ideais de liberdade colocados em cena pela Revolução Francesa. Nesse congresso, os limites territoriais dos países invadidos por Bonaparte foram restabelecidos e procurou-se estabelecer um equilíbrio entre as nações europeias para garantir a paz. A difícil opção portuguesa O Bloqueio Continental criou um impasse para D. João VI, regente de Portugal. Esse país era tradicional aliado da Inglaterra e boa parte do seu comércio era feito com os ingleses. Caso atendesse Napoleão, Portugal teria seus próprios interesses econômicos prejudicados. Por outro lado, se não cumprisse a determinação de Bonaparte, teria seu território invadido pelas forças francesas. Como não havia meios de resistir à invasão e para, ao menos, 234 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2014 10/01/14 15:02 Page 235 Como decorrência desse congresso, firmou-se a Santa Aliança. Tratava-se de uma aliança militar estabelecida entre Áustria, Rússia, Prússia e Inglaterra, que se retirou pouco depois. O objetivo dessa aliança era combater novos movimentos revolucionários que pusessem em risco as monarquias europeias. Os participantes da Santa Aliança realizaram algumas expedições militares na Itália, Espanha e Alemanha. Perseguiram trabalhadores e burgueses. Mas acabaram enfraquecidos, frente ao avanço da ordem burguesa na Europa e ao surgimento de movimentos de libertação nas colônias americanas. Unidos criava esperanças. De fato, entre 1808 e 1825, as colônias espanholas na América se levantaram contra sua metrópole. Empreenderam uma guerra de independência que levou à emancipação de quase todas elas, com exceção de Cuba e Porto Rico, que ficaram ainda sob o domínio espanhol. Mas será que apenas a influência das ideias europeias teria sido capaz de originar esses acontecimentos? No final do século XVIII, a Espanha havia permitido que suas colônias mantivessem comércio entre elas, mas continuou impedindo que se relacionassem comercialmente com outros países. Isso desagradava aos criollos, os filhos dos espanhóis nascidos na América, que defendiam a liberdade de comércio visando, com isso, a aumentar seus lucros. A proibição de instalação de manufaturas que viessem a concorrer com os produtos metropolitanos também causava descontentamentos na colônia. Além disso, os criollos não tinham as mesmas oportunidades de ascensão social que os espanhóis recémchegados. Os cargos mais importantes na administração pública e mesmo na hierarquia da Igreja eram ocupados por uma elite vinda da Espanha. Isso causava enorme insatisfação nos criollos que acabaram vendo na emancipação o caminho mais curto para chegar ao poder. Dessa forma, colocaram-se à frente no processo de independência das colônias da América Espanhola. É certo que houve participação de outras camadas sociais. Camponeses e outros grupos sociais pouco favorecidos viam na independência a possibilidade de concretizar aspirações de melhoria em suas condições de vida. Mas estes não viram suas expectativas serem realizadas. VO C A B U L Á R I O Abdicar = renunciar ao poder, deixar o trono. Plebiscito = voto do povo, por sim ou por não, sobre uma proposta, lei ou resolução a que ele seja submetido. 2. A independência da América espanhola As independências Os países da América Espanhola conquistaram sua independência por meio de uma guerra violenta. Mas como começou a luta? Napoleão Bonaparte, em 1808, havia colocado no trono espanhol seu irmão José Bonaparte. Caracas, México, Buenos Aires e Bogotá não quiseram reconhecer esse novo governo. Em meio a essa crise começaram a estourar movimentos separatistas. Iniciados nas cidades, acabaram se espalhando para o campo. Na guerra de independência, alguns líderes se destacaram. É o caso de Simón Bolívar, José Sucre, San Martín e Bernardo O’Higgins. Todos eles haviam participado das reuniões feitas nos cabildos, locais onde a elite criolla se reunia para discutir ideias políticas e reivindicações dos grupos menos favorecidos da população. Após a restauração da monarquia, as forças da Espanha tentaram conter os movimentos que surgiam, com êxito cada vez menor. Até que, uma a uma, as regiões de colonização espanhola na América deram origem a nações independentes. Esses países então criados adotaram o regime republicano como forma de governo. Mapa representando a independência das colônias americanas. Contexto histórico As transformações ocorridas na Europa no século XVIII repercutiram intensamente no continente americano. As novas ideias políticas já vinham chegando aqui ao longo daquele século, fermentando ideais de liberdade. O exemplo da independência dos Estados 235 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 236 Vejamos alguns casos: País Ano Liderança Argentina 1816 José de San Martín Chile 1818 José de San Marítn Colômbia 1819 Simón Bolívar e José Sucre México 1821 Padres Miguel Hidalgo e José Maria Morelos Espanha, em dificuldades econômicas em função das guerras externas que vinha enfrentando, estava procurando aumentar os impostos e tentando controlar mais as suas colônias. Tal iniciativa de arrochar ainda mais o esquema de exploração colonial, num momento em que isso estava sendo muito criticado, acabou por levar a uma reação violenta de suas possessões na América. Para discutir esse assunto, leia os dois textos a seguir e responda às questões. Peru 1821 José de San e José Sucre TEXTO COMPLEMENTAR Venezuela 1821 Simón Bolívar e José Sucre ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Equador 1822 Simón Bolívar e José Sucre Bolívia 1825 Simón Bolívar e José Sucre As razões da independência “Por que se insurgem as colônias da Espanha? Será porque os grandes latifundiários (habitualmente produtores para a exportação), os proprietários de minas, os donos de milhões de índios e os poderosos mercadores de além-mar foram seduzidos pelos filósofos franceses e alguns pensadores liberais espanhóis? É claro que houve exceções (e Bolívar foi uma delas), mas a imensa maioria moveu-se por motivos mais prosaicos. Havia chegado o momento de afastar um sócio incômodo: o poder da Coroa Espanhola. Incômodo ou muito mais que isso, porque dificultava as transações mercantis, opunha restrições ao desenvolvimento de determinados setores produtivos, entregava o comércio com o além-mar a um grupo de monopolistas privilegiados, confiscava para si uma parte considerável do excedente econômico produzido pelo trabalho dos índios, limitava o acesso de criollos aos postos fundamentais da administração pública, e no cume da hierarquia social nem sempre conseguiam instalar-se os que aspiravam a isso em virtude de seu grande poder econômico.” ––––––––––– San Martín, um dos grandes líderes no processo de independência da América Espanhola. POMER, Leon. As independências da América Latina. 2.ª ed. São Paulo, Brasiliense, 1981. p.10 Você sabia? TEXTO COMPLEMENTAR ––––––––––– O Uruguai foi incorporado ao Brasil em 1821 como nome de Província Cisplatina, vindo a se tornar independente em 1828. ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Independência: liberdade para quê? “Os homens que lideraram o processo de independência política, descontentes com o sistema colonial, estavam imbuídos das ideias liberais burguesas ‘descobertas’ nos estudos realizados na Europa ou através de livros dos ‘franceses’ entrados clandestinamente no continente. Julgavam-se absolutamente bem preparados para alcançar seus objetivos e acreditavam esperançadamente no futuro. As ideias de liberdade, de igualdade jurídica, da legitimidade da propriedade privada, da educação como remédio para os grandes males, da necessidade do império da lei, do progresso e da felicidade geral do povo estavam todas presentes nos projetos desses líderes liberais. Na América Espanhola, homens como Bolívar, San Martín, Mariano Moreno, Bernardo de Monteagudo, José Cecílio del Valle, Frei Tereza Servando de Mier apontavam oposições bastante claras; o Mundo Novo que surgia era o lugar da liberdade que se opunha à Espanha, reino do despotismo, da opressão e do arbítrio. A América era o espaço do novo, da esperança, do futuro. Entre os anos de 1810 e 1820 os objetivos fundamentais da luta desses grupos eram os mesmos e o inimigo comum era a Espanha. Todos os esforços concentravam-se para acabar com o domínio da Espanha. A tônica dos discursos era a liberdade. Você sabia? Simón Bolívar foi chamado de grande libertador, pois pretendia viabilizar a integração de todo o continente americano. Inspirou o nome de um dos países criados no processo de independência: Bolívia. Discutindo a História Você deve ter percebido que, para entender o movimento de independência das colônias americanas, é preciso situá-lo num contexto histórico mais amplo que diz respeito à crise do próprio sistema colonial. As transformações econômicas na Europa com a Revolução Industrial, como já vimos, haviam colocado em discussão os princípios da política econômica mercantilista e proposto novas orientações de acordo com o liberalismo econômico. Questionavam-se, por exemplo, os monopólios e as restrições à liberdade de comércio. A 236 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 237 Liberdade, entretanto, não é um conceito entendido de forma única; tem significados diversos, apropriados também de formas particulares pelos diversos segmentos da sociedade. Para um representante da classe dominante venezuelana, Simón Bolívar, liberdade era sinônimo de rompimento com a Espanha, para a criação de fulgurantes nações livres que seriam exemplos para o resto do universo. Mas, principalmente, nações livres para comerciar com todos os países, livres para produzir, única possibilidade, segundo essa visão, do desabrochar do Novo Mundo. Já para Dessalines, o líder da revolução escrava do Haiti, que alcançou a independência da França em 1804, a liberdade, antes que tudo, queria dizer o fim da escravidão, mas também carregava um conteúdo radical de ódio aos opressores franceses (…). Para outros dominados e oprimidos como os índios mexicanos, a liberdade passava distante da Espanha e muito próxima da questão da terra.” 1. Grife as ideias principais dos dois textos. 2. Com base na exposição dos dois autores, aponte razões que teriam dado origem aos movimentos de libertação colonial na América Espanhola. 3. Você já observou que o Brasil depois de sua independência tornou-se um único país, enquanto a América Espanhola foi fracionada em diversos países. Que razões poderiam explicar isso? Discuta com seus colegas e com seu professor e use o espaço abaixo para registrar suas conclusões. PRADO, Maria Lígia. A formação das nações latino-americanas. São Paulo: Atual/Campinas Edunicamp, 1986. pp. 12-14 VO C A B U L Á R I O Arrochar = apertar com muita força; comprimir; conter. Emancipação = libertação, ato ou efeito de tornar-se livre ou independente. Prosaico = trivial, comum, vulgar. EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES 1. Complete adequadamente o quadro abaixo: Santa Aliança Congresso de Viena Formação: Formação: Objetivos: Objetivos: 2. Desafio Histórico: Em que medida o Bloqueio Continental, decreto napoleônico de 1806, relaciona-se com a História do Brasil? 3. Minipesquisa: Procure descobrir como transcorreu a independência do Haiti. Não deixe de citar a bibliografia, o site e a data da consulta. 237 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 238 CAPÍTULO 8 Brasil: Sede do Império Português A liberdade de comércio era vantajosa sobretudo para os ingleses. Interessados em aumentar o mercado consumidor de seus produtos industrializados, passaram a usar o porto do Rio de Janeiro como porta de entrada para seus produtos não só para o Brasil, mas também para outras regiões da América do Sul. A influência britânica na economia portuguesa e, por consequência na brasileira, aumentava cada vez mais. Em 1810 firmaram-se tratados entre Portugal e Inglaterra que garantiram grandes privilégios comerciais aos ingleses. Pelo Tratado de Comércio e Navegação daquele ano, os produtos vindos da Inglaterra pagariam taxas muito mais baixas nas alfândegas de quaisquer portos do Império português, fazendo com que seus produtos ficassem mais baratos que os produtos vindos de outros lugares, até mesmo de Portugal. Essa medida prejudicou os comerciantes e significou também uma dificuldade para o desenvolvimento das manufaturas no Brasil, já que os produtos ingleses chegavam aqui com preços menores. Vista da Baía de Guanabara no início do século XIX, em pintura de F.E. Taunay. 1. A corte portuguesa no Brasil A transferência da corte para o Brasil, com todo o aparato administrativo do governo, trouxe transformações profundas para a colônia portuguesa na América. Para muitos autores, significou o início de nosso processo de independência. Você sabia? Durante a viagem que trouxe a Corte portuguesa para o Brasil, ocorreram vários contratempos. Houve muita confusão já no próprio embarque, com todos querendo entrar ao mesmo tempo. Com os navios abarrotados, houve falta de água e comida a bordo. Para improvisar a troca de roupas, a marinha inglesa providenciou lençóis e cobertores. E mais, as mulheres foram obrigadas a raspar os cabelos devido aos ataques de piolhos. (FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP FDE, 1997. p. 121.) D. João VI, ao decretar a Abertura dos Portos, rompeu o Pacto Colonial. Mais um passo rumo à independência Antes mesmo de chegar ao Rio de Janeiro, onde viria a se estabelecer, D. João VI tomou importante resolução. Decretou, na cidade de Salvador, em 28 de janeiro de 1808, a abertura dos portos brasileiros às nações amigas. Com isso, rompia-se o pacto colonial na medida em que a metrópole deixava de ter o monopólio do comércio de sua colônia. Muito importante, também, foi a permissão concedida pelo rei, pouco tempo depois, para que fossem instaladas manufaturas aqui. As duas medidas favoreciam os comerciantes e proprietários rurais brasileiros que, assim, teriam oportunidade de expandir seus negócios, sem intermediação dos portugueses. Enquanto D. João VI estava no Brasil, desenrolavamse na Europa os encontros dos representantes de nações europeias no Congresso de Viena. Nesta reunião, firmouse o Princípio de Legitimidade pelo qual seriam reconhecidos apenas os Estados existentes antes das invasões napoleônicas e de outros movimentos revolucionários. Por esse princípio, o Brasil ainda seria uma colônia. Para evitar que D. João VI tivesse que voltar para Portugal e ter a situação do reino regularizada, criouse o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Com isso, alterava-se a situação política e jurídica do Brasil e rompia-se oficialmente o pacto colonial. 238 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 239 Conflitos internos e externos Durante sua estada no Brasil, D. João VI quis ampliar os domínios do Império português. Anexou em 1809 a Guiana Francesa, com o auxílio financeiro dos ingleses, e manteve seu controle na região até 1817. Invadiu o atual Uruguai, que foi incorporado ao território brasileiro em 1821 como Província Cisplatina, situação em que ficou até 1828. Internamente o rei português teve que se defrontar com uma grande revolta em 1817: a Revolução Pernambucana. Inspirados nos ideais da Revolução Francesa e no exemplo dos Estados Unidos, os pernambucanos quiseram separar-se de Portugal e chegaram a instalar na região uma república. Ressentiam-se dos altos impostos cobrados pelo governo imperial que, aos seus olhos, relegavam a segundo plano aquela região açucareira que vinha enfrentando sérios problemas econômicos. Os mais diferentes setores sociais reuniram-se nessa rebelião: grandes proprietários de terras, comerciantes e militares. Estes últimos foram os líderes, mas houve participação de todos os outros setores, inclusive de escravos. É claro que cada qual com seu próprio interesse. A partir de Pernambuco a revolta alcançou o sertão, recebendo a adesão de Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte. Durante dois meses a região esteve sob o comando dos revolucionários que chegaram a instalar um governo republicano independente. No entanto, D. João VI enviou soldados para lá e o movimento foi derrotado. Seus participantes foram perseguidos, castigados e alguns, principalmente os das camadas menos favorecidas, acabaram sendo executados e esquartejados. Jardim Botânico no Rio de Janeiro, pintor anônimo. Você sabia? O Banco do Brasil foi fundado em 12 de outubro de 1808 por D. João. Foi o quarto banco emissor do mundo. Antes dele, apenas Suécia, Inglaterra e França haviam emitido. Instalado num prédio da antiga rua Direita, esquina com a rua São Pedro, no Rio de Janeiro, o banco iniciou suas atividades em 11 de dezembro de 1809. Em 25 de abril de 1821, D. João VI e a Corte voltaram a Portugal, para onde levaram os recursos que haviam depositado no banco. Foi a primeira crise da instituição. Para formar o capital do Banco do Brasil, D. João se fartou de vender títulos de nobreza a comerciantes, usineiros, fazendeiros e a quem tivesse dinheiro. Em pouco mais de um ano, o Brasil já tinha mais condes, duques, barões e marqueses que a Corte portuguesa. Havia também títulos mais baratinhos, como o de comendador, de cavaleiro ou de oficial. (DUARTE, Marcelo. O Guia dos Curiosos: Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1999. p.78.) A vida da cidade mudou com a introdução de alguns hábitos europeus. Músicos e cantores vinham da Europa para se apresentar no Rio de Janeiro, despertando na elite sediada na corte o gosto pela ópera e pelo balé. Entretanto, as ruas continuavam a ser ocupadas pelos muitos escravos que também viviam na cidade, demonstrando que aqui ainda se vivia de modo diferente do padrão europeu que se queria imitar. Durante a estada de D. João VI no Brasil, muitos estrangeiros vieram para cá: espanhóis, franceses e ingleses. Entre eles, alguns viajantes, cientistas que percorriam o País para observar nossa fauna, flora e também nossos costumes. É o caso do zoólogo Spix e do botânico Martius, os dois da Bavária, e do francês Auguste de Saint-Hilaire. Mudança de hábitos A transferência da corte portuguesa para o Brasil não trouxe apenas transformações econômicas e políticas. O Rio de Janeiro passou a ser mais do que sede administrativa do reino. A cidade cresceu e se transformou em centro das atividades culturais, de onde se irradiavam novos hábitos e costumes para outras regiões do País. Antigas restrições que impediam a circulação de ideias caíram. Livros e jornais, ainda que sujeitos à censura, passaram a ser impressos no Brasil. Abriram-se teatros, academias literárias e científicas. Na bagagem da corte vieram os primeiros livros que deram início à Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Datam também dessa época a criação do Jardim Botânico, do Arquivo Nacional, do Banco do Brasil; a construção de teatros; melhoramentos no porto e alargamento das ruas; instalação de cursos de medicina; construção de edifícios públicos e muito mais. Máscaras indígenas em desenhos de Jean-Baptiste Debret. 239 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 240 cidade do Rio de Janeiro no início do século XIX retratadas por Debret e por Henry Chamberlain. Registre suas observações no espaço reservado. Litografia aquarelada de Johann Baptiste von Spix. Aquarela de Jean-Baptiste Debret com cena do Rio de Janeiro no início do século XIX. Índios apiacás em aquarela de Hercule Florence. Em 1816, a convite do governo imperial, chegou ao Rio de Janeiro a Missão Artística Francesa. Pintores, escultores, músicos e outros artistas vieram para fundar uma academia de artes. Entre eles, o arquiteto Auguste Grandjean de Montigny, Nicolas Antoine Taunay e JeanBaptiste Debret. Este último foi autor de importantes desenhos e aquarelas sobre a paisagem e os tipos humanos brasileiros. Permaneceu aqui mesmo após a maior parte deles retornar e participou da inauguração, em 1826, da Academia Imperial de Belas Artes. Essa Missão introduziu no Brasil a tendência artística neoclássica nas artes plásticas e na arquitetura. Cena do Largo da Glória no Rio de Janeiro em pintura de H. Chamberlain. TEXTO COMPLEMENTAR ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Texto 1 “Boa parte dos viajantes que visitaram o Rio de Janeiro nesta década de 1810 reconhecia as mudanças, indicando um refinamento da sociabilidade que se estendia às moradias, aos móveis, às roupas, às joias, aos adornos, à etiqueta, ao comer e beber, à importação e uso de objetos que faziam seu dono sentir-se mais elegante ou à vontade, numa sociedade de corte que propiciava o aparecimento e a expansão de novos serviços: a modista francesa, os tecidos importados, o cabeleireiro, o professor de dança, os préstimos de um pintor, além de incentivar as idas ao teatro, aos banquetes e bailes, às missas solenes, sobretudo se se contasse com a presença de alguém da realeza.” Você é o historiador A vinda da família real para o Brasil, como você já estudou, trouxe mudanças importantes na economia com o fim do pacto colonial e, na política, com a nova situação de Reino Unido. No Rio de Janeiro, houve uma intensificação do modo de vida urbano, segundo padrões europeus. A facilidade de adquirir produtos importados e um maior contato que se estabeleceu com a Europa contribuíram para isso. Entretanto, a sociedade brasileira ainda era fortemente marcada pela escravidão. Leia os textos que se seguem e observe as cenas do cotidiano da SOUZA, Iara Lis Carvalho. Patria coroada. O Brasil como corpo político autônomo. 1780–1831. São Paulo: Unesp, 1999. 240 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 241 2. O Rompimento com Portugal TEXTO COMPLEMENTAR ––––––––––– –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Texto 2 “A população da cidade cresceu por causa da transferência da corte, mas também graças à entrada maciça de africanos no Brasil. Apesar do acordo com a Inglaterra para diminuir e cessar o tráfico, este foi um período de intensa chegada de negros, homens jovens de preferência, vindos principalmente do centro-oeste africano e sendo denominados de várias formas no Brasil: negro, pardo, mulato, crioulo. Exerciam diversos trabalhos nas casas, qualificados ou não, servindo de aluguel, circulando pela cidade, nas tavernas, nas praças, nas ruas, nas casas, nas igrejas, alfândegas, mercados, no porto, sujeitos aos castigos físicos, à prisão e ao trato violento diário e contínuo, que a própria condição de escravo embutia, o que não significa uma anulação de seus anseios, de seus desejos e modos de compreender suas vidas – fosse num plano pessoal, fosse coletivamente. De todo modo, a presença escrava tornou-se, no início do século XIX, parte integrante e crucial do Rio de Janeiro.” Pintura representando D. Pedro I sendo aclamado pela população. A Proclamação da Independência do Brasil Em 7 de setembro de 1822, D. Pedro de Alcântara, filho de D. João VI, declarou, às margens do riacho do Ipiranga, próximo à cidade de São Paulo: “Independência ou Morte”. Esse fato, celebrado como uma data fundamental para a história do Brasil, revestido de muitos significados, marcou nossa separação definitiva de Portugal e o início da construção do Estado nacional brasileiro. Mas qual o alcance das mudanças? Em que bases ocorreu o início da construção de nosso país? SOUZA, Iara Lis Carvalho. Pátria coroada: o Brasil como corpo político autônomo. 1780–1831. São Paulo: Unesp, 1999. Os fatos… A Independência não resultou de uma decisão pessoal de D. Pedro, mas foi fruto de um processo mais longo iniciado já na transferência da administração portuguesa para cá, como foi visto na aula anterior. Os acontecimentos se precipitaram quando Portugal passou a querer restabelecer o controle do Brasil, tentando conduzir um retorno à situação colonial. Após a saída da corte para o Brasil, Portugal vinha-se defrontando com muitos problemas. Sua produção econômica estava desorganizada e os comerciantes portugueses haviam perdido seus privilégios na venda dos produtos coloniais com a extinção do monopólio após a abertura dos portos. O comando do país havia passado para tropas inglesas que se alojaram em Portugal. A insatisfação era grande. Em 1820 explodiu a Revolução do Porto, que preparou uma constituição para o país e exigiu a volta de D. João VI. Sem saída, com medo de perder o trono, o rei português abandonou o Brasil, tomando o cuidado de deixar em seu lugar D. Pedro de Alcântara como príncipe regente. O retorno do rei português não significou o fim dos problemas. As cortes portuguesas exigiam um retorno do Brasil à situação colonial. Passaram a pressionar D. Pedro para que ele também retornasse a Portugal. A população começou a tomar partido. A elite latifundiária, representada VO C A B U L Á R I O Bavária = também denominada Baviera, designa áreas da Alemanha, da Áustria e do sul do Tirol. Neoclássico = tendência artística da segunda metade do século XVIII e início do XIX que tentou reviver os padrões da Antiguidade Clássica, principalmente características de equilíbrio, medidas e clareza. Taverna = taberna, local onde se vendem bebidas, principalmente o vinho. 241 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2016 22/01/16 11:26 Página 242 na figura de José Bonifácio de Andrada e Silva, o “Patriarca da Independência”, defendia a permanência de D. Pedro. Temiam que, caso ele deixasse o País, os ânimos, já exaltados, da população levassem a uma rebelião de grandes proporções e pusesse em risco seus interesses econômicos. TEXTO COMMPLEMENTAR ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– ––––––––––– A elite no poder “As elites brasileiras que tomaram o poder em 1822 compunham-se de fazendeiros, comerciantes e membros de sua clientela, ligados à economia de importação e exportação e interessados na manutenção das estruturas tradicionais de produção cuja base era o sistema de trabalho escravo e a grande propriedade. Após a Independência, reafirmaram a tradição agrária da economia brasileira; opuseram-se às débeis tentativas de alguns grupos interessados em promover o desenvolvimento da indústria nacional, e resistiram às pressões inglesas visando abolir o tráfico de escravos. Formados na ideologia da ilustração, expurgaram o pensamento liberal das suas feições mais radicais, talhando para uso próprio uma ideologia essencialmente conservadora e antidemocrática. A presença do herdeiro da casa de Bragança no Brasil ofereceu-lhes a oportunidade de alcançar a Independência sem recorrer à mobilização das massas. Organizaram um sistema político fortemente centralizado que colocava os municípios na dependência dos governos provinciais e as províncias na dependência do governo central. Continuando a tradição colonial, subordinaram a Igreja ao Estado e mantiveram o catolicismo como religião oficial, se bem que, numa concessão ao pensamento ilustrado, tenham autorizado o culto privado de outras religiões. Adotaram um sistema de eleições indiretas baseado no voto qualificado (censitário), excluindo a maior parte da população do processo eleitoral.” D. Pedro I. Em 9 de janeiro de 1822, o príncipe regente tomou uma posição definitiva e decidiu que ficaria no Brasil. Ao receber um abaixo-assinado pedindo sua permanência, teria dito a célebre frase: “Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto. Diga ao povo que fico!”. A partir daí os acontecimentos se precipitaram e levaram ao rompimento definitivo em 7 de setembro. A aceitação da independência, entretanto, demorou um pouco mais. Alguns grupos, principalmente aqueles relacionados a comerciantes portugueses que temiam ter seus interesses prejudicados, reagiram e se colocaram contra a emancipação. A guerra de independência que se seguiu nas províncias da Bahia, Pará e Cisplatina durou alguns meses ainda. Apesar dessas reações, localizadas, a passagem do Brasil para uma situação de nação independente se fez sem grandes convulsões sociais. E ainda diferentemente das colônias espanholas que se haviam fracionado em diversas repúblicas, a unidade do território foi mantida sob o regime monárquico. Você sabia? A Inglaterra ajudou, com armas e oficiais, a Guerra de Independência. A retirada dos portugueses da Bahia ocorreu em 2 de julho de 1823, com o auxílio do escocês Lord Cochrane. Essa data é comemorada por muitos baianos como marco da independência. COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república: momentos decisivos. São Paulo, Grijalbo, 1977, p.11 VO C A B U L Á R I O Censitário = diz-se do voto baseado na renda (apenas os …e seu significado ricos votavam). Com a independência, o Brasil teria conquistado a libertação de Portugal. Mas qual o significado dessa liberdade? Sobre isso, leia o texto a seguir e discuta com seus colegas de classe o alcance dessa liberdade e o significado da independência. Para orientar sua discussão, considere: – a existência, ou não, de alterações na estrutura econômica e social; – o grupo social que passou a comandar o País; – a participação, ou não, do povo no movimento de independência. Convulsão social = revolta social, popular. Débil = frágil, fraco. Expurgar = afastar, retirar; limpar, sanear. Você é o historiador Você considera que, com a Independência, a estrutura da sociedade brasileira foi alterada? Registre suas conclusões no espaço a seguir: 242 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2016 22/01/16 11:23 Página 243 No Portal Objetivo Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL OBJETIVO (www.portal.objetivo.br) e, em “localizar”, digite HIST8F204 EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES 1. Vamos redigir? B – Dia da cobrança de impostos atrasados na região de Minas Gerais, ficando as pessoas sob a ameaça de apreensão de todos os seus bens: a) Devassa. b) Derrama. c) Dia do Quinto. d) Cobrança. e) Diretório. Use as observações feitas neste capítulo e faça uma pequena redação sobre a vida na cidade do Rio de Janeiro na época da vinda da família real. Não se esqueça de dar um título à sua redação. 2. Coloque verdadeiro ou falso após cada afirmação. C – Assinale a alternativa incorreta em relação à Conjuração Baiana: a) Participação de uma associação maçônica denominada Cavaleiros da Luz. b) Grande influência da Revolução Francesa. c) Participação de alfaiates, mulatos e negros da Bahia. d) Proposta revolucionária que, entre outros itens, pretendia a abolição da escravatura. e) Movimento revolucionário que contou apenas com a participação de médicos, advogados e intelectuais baianos. 1. A proclamação da Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, definiu a separação política em relação a Portugal e o início da construção do Estado nacional brasileiro. ( ) 2. A Revolução do Porto, de 1820, exigia a volta imediata de D. Pedro I a Portugal. ( ) 3. Com o retorno de D. João VI a Portugal, as cortes lusitanas deixaram de interferir no processo político brasileiro. ( ) 4. Grupos de comerciantes portugueses, que temiam ter seus interesses prejudicados, colocaram-se contra a emancipação política do Brasil, tendo sido responsáveis pela eclosão de movimentos de revolta em São Paulo e no Rio de Janeiro. ( ) D – Sobre a composição social do Terceiro Estado, à época da Revolução Francesa, é correto afirmar: a) Era formado pelo grupo sans-culottes e grande massa de camponeses franceses. b) Era formado pela nobreza. c) Era formado pela burguesia, intelectuais e pequenos comerciantes. d) As afirmações a e c estão corretas. e) As afirmações b e c estão corretas. 3. Testes A – O Tratado de Methuen, assinado em 1703, entre ingleses e portugueses estabelecia que a) a Inglaterra daria prioridade de compra aos vinhos portugueses. b) produtos ingleses entrariam no Brasil pagando uma alta taxa de tarifa alfandegária. c) Portugal compraria tecidos de lã, entre outros produtos, apenas de comerciantes ingleses. d) as afirmações a e c estão corretas. e) as afirmações b e c estão corretas. E – Fato histórico que determina o fim do Período do Diretório e da própria Revolução Francesa: a) Golpe do 18 Brumário – Napoleão Bonaparte. b) Assassinato do rei Luís XVI. c) Golpe do 18 Brumário – Robespierre. d) Criação do Código Civil – Napoleão, em 1804. e) Derrota das tropas napoleônicas na campanha da Rússia. 243 C2_8o_Ano_Historia_SOME_Tony_2013 07/03/13 15:12 Página 244 Atividade Opcional 1 Recriando a História – Dramatização Uma crônica do século XVIII conta-nos que, no dia da Tomada da Bastilha, seu comandante militar ordenou que os soldados atirassem contra o povo. Porém os soldados não cumpriram a ordem e prenderam o comandante que acabou por ser morto a pauladas. O rei Luís XVI, ao saber do ocorrido, teria dito: “Oh! Mas isso é uma revolta?” Ao que um assessor teria completado: “Não, majestade, é uma Revolução.” Orientação: A classe dividida em grupos deverá apresentar uma pequena dramatização sobre a Revolução Francesa. O grupo será responsável pela elaboração do texto que deverá ter como personagens: – povo; – burguesia; – nobreza; – clero. Use o espaço abaixo para registrar suas ideias. 244