II Simpósio Internacional sobre Gerenciamento de Resíduos Agropecuários e Agroindustriais – II SIGERA ANÁLISE PRELIMINAR DO COMPORTAMENTO DO ZINCO NO SOLO E NO MILHO (Zea mayz L.) SOB APLICAÇÃO DE ÁGUA RESIDUÁRIA DA SUINOCULTURA Kessler, N.C.H.1; Passarin, O. M¹*; Lucas, S.D.M.2; Sampaio, S.C.3 1 Bióloga, Pós-graduanda, UNIOESTE/Cascavel – PR CEP 85819.110. email [email protected] 1* Bióloga, Pós-graduanda, UNIOESTE/Cascavel – PR 2 Tecnóloga em Gerenciamento Ambiental, Pós-graduanda, UNIOESTE/Cascavel – PR. 3 Engenheiro Agrícola, Prof.Adjunto Dr., UNIOESTE/Cascavel – PR RESUMO: O objetivo deste trabalho foi avaliar as concentrações de Zinco no solo na profundidade de 0-20 cm e em plantas de duas culturas de milho (Zea mayz L.), cultivadas nos anos de 2009 e 2010 em Latossolo Vermelho distroférrico e fertirrigadas com diferentes contribuições de água residuaria de suinocultura (ARS). Foram aplicados oito tratamentos, sendo quatro diferentes taxas de ARS, associadas ou não a fertilizante mineral, em 24 lisímetros de drenagem instalados em campo. Observou-se que aplicações sucessivas de ARS podem contribuir para o aumento de teores disponíveis de metais no solo e, consequentemente dos teores absorvidos pelas plantas. Palavras-chave: dejetos, poluição ambiental, suinocultura, CONCENTRATION OF ZINC IN CROPS OF CORN (Zea Mayz L.), IN APPLICATION OF SWINE WASTEWATER ABSTRACT: The objective of this paper was to evaluate the concentrations of zinc in soil at a depth 0-20 cm and plants two crops of maize (Zea Mayz L.), grown in the years 2009 and 2010 and dystrophic Red Latosol fertigated with different contributions from swine wastewater (ARS). Eight treatments were applied, and four different rates of ARS, associated or not with mineral fertilizer, 24 drainage lysimeters installed in the field. It was observed that the successive application of ARS may contribute to increased levels of available metals in soil and consequently the levels absorbed by plants. Keywords: rejects, swine production, environmental pollution INTRODUÇÃO O setor suinícola tem sua relevância no cenário agropecuário brasileiro. Contudo, a suinocultura apresenta um elevado potencial poluidor, por gerar efluentes com altas concentrações de nutrientes, matéria orgânica e metais pesados (STEINMETZ et al., 2009). Uma das possibilidades de destinação para os resíduos é a sua distribuição em áreas agrícolas, afim de que solo converta os resíduos através da ciclagem dos elementos presentes. A água residuária da suinocultura (ARS) constitui-se de diferentes macro e micronutrientes essenciais às plantas podendo suprir parcialmente ou completamente os fertilizantes minerais, mas diferente desses, o biofertilizante apresenta constituição desbalanceada. Assim, deve-se evitar que a aplicação exceda a capacidade de retenção do solo ou aquelas exigidas pelas culturas. O zinco é um importante componente de vários sistemas enzimáticos que regulam diversas atividades do metabolismo das plantas. A presença de elementos como ele e outros metais nos dejetos é consequência da adição de quantidades excessivas nas rações dos suínos com o objetivo de promover crescimento e melhorar a digestão. Todavia, essa suplementação excede o requerimento fisiológico de suínos, explicando a alta concentração desses elementos nos dejetos (JONDREVILLE et al. 2003). Dessa forma, sucessivas aplicações tendem a acumular compostos nãobiodegradáveis e metais pesados tóxicos, que possivelmente serão transferidos sendo passiveis de gerar riscos as culturas estabelecidas, e ou para animais e seres humanos. Em culturas vegetais concentrações maiores que as requeridas acarretam sintomas de toxicidade (MARSCHNER, 1995) em gramíneas manifestam- se pela diminuição da área foliar, seguida de clorose, podendo aparecer na planta toda, um pigmento pardoavermelhado (MALAVOLTA et al., 1997). Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi verificar as concentrações de Zn no solo e em plantas de duas culturas de milho (Zea mayz L.), cultivadas nos anos de 2009 e 2010 em Latossolo Vermelho distroférrico e fertirrigadas com diferentes contribuições de água residuaria de suinocultura. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi desenvolvido no Núcleo Experimental de Engenharia Agrícola – NEEA da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE. A área está localizada geograficamente pelas coordenadas 24°48’ de latitude Sul e 53°26’ de longitude Oeste, com altitude de 760 m.O clima é do tipo subtropical úmido (Cfa), com precipitação média anual de 1.800 mm, e temperatura média de 20º C e umidade relativa do ar em média de 75 % (IAPAR, 1998). O solo da área experimental é classificado como Latossolo Vermelho distroférrico típico (EMBRAPA, 2006). Na área de implantação, havia 24 lisímetros de drenagem construídos de acordo com ABOUKHALED et al. (1986). Cada lisímetros apresentava um volume de 1 m3 e área de 1,60 m2 , compreendendo uma parcela experimental. Semeou-se milho, cultivar DowagroScience A2 106 em março de 2009 e cultivar CD 322 em abril de 2010, da Coodetec – Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola, sendo que para cada cultura dos 24 lisímetros, 12 deles receberam adubação mineral (NPK) 5:20:20 600 Kg/ha. A água residuária de suinocultura (ARS) aplicada foi coletada no distrito de Três Bocas, município de Toledo - PR em uma propriedade rural que dispõe de um biossistema integrado no tratamento de dejetos, sendo na tubulação de saída do biodigestor, o ponto de coleta. A caracterização da ARS deu-se de acordo com APHA, AWWA & WEF (1998). Os tratamentos nas parcelas foram distribuídos aleatoriamente em cada bloco, em triplicata e consistiram de quatro taxas de ARS: 0 m3/ha (T1/T2), 100 m3/ha (T3/T4), 200 m3/ha (T5/T6), e 300 m3 /ha(T7/T8) associadas ou não com a adubação mineral na semeadura. Ao final dos dois ciclos das culturas de milho, foram coletadas aleatoriamente amostras da parte aérea das plantas e do solo na profundidade de 0-20 cm de todos os lisímetros, para obtenção da matéria seca das plantas as amostras foram encaminhadas ao Laboratório de Saneamento Ambiental da Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE, Campus de Cascavel, e colocadas em estufa a 65 °C por 72 horas. Posteriormente, tanto as amostras de solo como a das plantas foram encaminhadas a AGRILAB - AGRILAB Laboratório de Análises Agrícolas e Ambientais Ltda para a determinação das concentrações de zinco as extrações se deram com DTPA (Lindsay & Norvel 1978) para solo e no tecido vegetal a extração foi via úmida (digestão nitroperclórica) com posterior leitura em espectrofotômetro de absorção atômica. RESULTADOS E DISCUSSÃO Verifica-se na Tabela 1, que os teores de Zn tanto na planta quanto no solo aumentaram de 2009 para 2010. No ano de 2009, os teores de Zn apresentaram homogeneidade dos dados, segundo o valor do coeficiente de variação, tanto para a planta quanto para o solo, já no ano de 2010, verifica-se que CV (%) foi maior que 20%, ou seja, houve heterogeneidade dos dados (PIMENTEL GOMES, 2000). Pode-se observar na Figura 1, que a concentração de Zn no solo foi maior quando houve aplicação de 300 m3/ha de ARS associado com adubação química (T8), destacando- se este tratamento no ano de 2010. Os resultados corroboram com Smanhotto et al., 2010 que verificaram que as concentrações de Zn no solo variaram em função da aplicação das taxas de ARS, e o maior teor de Zn para os autores também foi obtido com a taxa de 300 m3/ha que diferiu significativamente das demais taxas. A Figura 2 apresenta os teores de Zn nas amostras das plantas, indicando que os tratamentos que apresentaram os menores teores de Zn no milho para os anos de 2009 e 2010 foram o com taxa de 200 m3/ha ARS associado com adubação mineral (T6) e taxa de 300 m3/ha de ARS também associado com adubação mineral (T8). A disponibilidade de Zn no solo está associada com a presença de matéria orgânica, esse metal pode ser fixado na fração orgânica ou ficar temporariamente imobilizados nos micro-organismos, elementos na matriz do solo, como óxidos de ferro e alumínio, matéria orgânica e fósforo, são capazes de reter fortemente os metais pesados, como Zn, uma vez que estão relacionados à maior carga líquida negativa presente nas camadas superiores do solo (PAGANINI et al. 2004). Possivelmente com maiores níveis de matéria orgânica no solo o Zn associou-se e tornouse menos disponível aos vegetais. Contudo, os teores encontram-se abaixo do valor sugerido pelo CONAMA como máximo permitido para solos de 300 mg/kg-1, também são inferiores ao valor de investigação em solo agrícola que é 450 mg/kg-1 (CONAMA, 2009). CONCLUSÕES Sucessivas aplicações de ARS podem contribuir para o aumento de teores disponíveis de metais no solo. É relevante o monitoramento de plantas, visando aplicações ambientalmente seguras, visto que o efeito de biomagnificação de metais nas plantas pode ser uma via de contaminação da cadeia trófica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APHA, AWWA & WEF - AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION – APHA; AWWA, WEF. Standard methods for the examination of water and wastewater. 20 ed. Washington: American Public Health Association, p. 1998. 1193. ABOUKHALED, A.; ALFARO, A.; SMITH, M. Lysimeters. Rome: FAO, 1986. p.60 (Estudio FAO Riego y Drenaje, 24). CONAMA - Brasil - Resolução nº 420, de 28 de Dezembro de 2009. Dispõe sobre critérios e valores orientadores de qualidade do solo quanto à presença de substâncias químicas e estabelece diretrizes para o gerenciamento ambiental de áreas contaminadas por essas substâncias em decorrência de atividades antrópicas. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, nº 249, p. 81-84, 30 dez. 2009. INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ - IAPAR. Cartas Climáticas do Estado do Paraná. Londrina: IAPAR, 1998. JONDREVILLE, C.; REVY, P. S.; DOURMAD, J. Y. Dietary means to better control the environmental impact of copper and zinc by pigs from weaning to slaughter. Livestock Production Science, v.84, p. 147-156. 2003. LINDSAY, W.L. & NORWELL, W. Development of a DTPA soil test for zinc, iron, manganese and copper. Sci. Soc. Am. J.,42:421- 428, 1978. MALAVOLTA, E.; VITTI, G.C.; OLIVEIRA, S. A. Avaliação do estado nutricional de plantas: princípios e aplicações. 2.ed. Piracicaba: POTAFOS, p. 319. 1997. MARSCHNER H. Mineral nutrition of higher plants, 2.ed. London, UK: Academic Press.1995. PAGANINI, W.S. da; SOUZA, A. de; BOCCHIGLIERI, M.M. Avaliação do comportamento de metais pesados no tratamento de esgotos por disposição no solo. Engenharia Sanitária e Ambiental. v.9. p. 225-239. 2004. PIMENTEL GOMES, F. Curso de estatística experimental. 14.ed. Piracicaba: Degaspari, p.477 .2000. SMANHOTTO, A.; SOUZA, A. de; SAMPAIO, S. C.; NÓBREGA, L. H. P.; PRIOR, M. Cobre e zinco no material percolado e no solo com a aplicação de água residuaria de suinocultura em solo cultivado com soja. Engenharia Agrícola. v.30. p. 346-357. 2010. STEINMETZ, R. L. R.; KUNZ, A,; DRESSLER, F. E. M. M.; MARTINS, A. F. Study of metal distribution in raw end screened swine manure. CLEAN – Soil, Air, Water. v.37. p.239-244. 2009. AGRADECIMENTOS Os autores deste trabalho agradecem o auxílio de pesquisa concedido pelo CNPq, para a realização desta pesquisa. Tabela 1- Média e coeficiente de variação para os teores de Zinco na planta e no solo nos anos de 2009 e 2010. Tratamento 2009 2010 Milho Solo Milho Solo 3 (mg/Kg) (mg/dm ) (mg/Kg) (mg/dm3) T1 12 1,4 28,9 3,1 T2 15,9 1,8 37 4 T3 15,9 1,8 30,4 4,2 T4 14,1 1,2 41 4,9 T5 14,1 1,6 35,2 5 T6 8,8 1,7 27,4 3,7 T7 12,7 1,9 31 4,1 T8 10,3 2 20,2 7,2 Média 12,98 1,68 31,39 4,53 CV (%) 19,60 15,88 20,39 27,44 Figura 1- Teores de zinco no solo de acordo com as taxas de ARS aplicadas. Figura 2- Teores de zinco nas plantas de acordo com as taxas de ARS aplicadas.