VII Encontro de Pesquisa na Graduação em Filosofia da UNESP A problemática do movimento de processão e conversão dos seres, segundo Proclo Suelen Pereira da Cunha1 Resumo: Com o presente trabalho, objetivamos analisar como se dá o movimento de processão e conversão de acordo com o pensamento filosófico de Proclo (412-485). Para tanto, é necessário compreender que o movimento do qual se origina toda realidade, seja ela inteligível ou não, tem seu inicio em um princípio imóvel, de forma que os seres que dele procedem se dividem em: móveis por si mesmos e móveis por outros. Uma vez que o Uno é o único ser imóvel, ele, de acordo com Proclo, seguindo a mesma concepção plotiniana, não gera. Afinal, por ser autosuficiente e contemplar a si mesmo, ele emana tudo o que existe, sendo a causa de todos os seres. Devido a emanação, o que é produzido tem a necessidade de participar do produtor, é nesta relação de causa e causado que se dá o movimento de retorno, pois todos os corpos tendem a voltar ao ser primeiro, ou seja, ao Uno. Em meio ao processo de retorno, Proclo apresenta um estágio intermediário, as hénadas, de forma que é só através delas que é possível a participação dos demais seres naquela realidade de onde foram emanados. Assim, nos Elementos teológicos, Proclo desenvolve, sistematicamente, argumentos que não só visam explicar como ocorrem os movimentos de processão e retorno dos seres ao Uno, mas, também, porque ocorrem. Neste sentido, com base na referida obra de Proclo, objetivamos demonstrar como toda a realidade é produzida e envolvida numa relação de movimento com seus princípios primeiros. Palavras-chave: Proclo. Movimento. Processão. Conversão. Resumé: Avec cette étude, nous avons l’objectif d’analyser le mouvement de procession et conversion selon la philosophie de Proclus. Pour ça, c’est nécessaire de comprendre que le mouvement pour le quel la realité s’origine, inteligible ou non, a son origine dans un principe immobile, de sorte que les êtres qui de lui procèdent ils se divisent en: mobiles pour eux-mêmes et mobiles par d’autres. Une fois que l’Un est l’unique être immobile, il, par Proclus, qui suit la même conception plotinienne, ne génère pas.Pour être auto-suffisant et comtempler lui-même, il émane tout ce qui existe, alors, il est la cause de tous les êtres. En raison de l'émanation, le qui est produit a la nécessité de participer du producteur, et, il est dans cette relation de cause et causé que il donne le mouvement de retour, parce que tous les corps ont tendance à retour au être premier, c’est à dire, au Un. Dans le procéssus de retour, Proclus présent un stade intermédiaire, las Hénades, de façon que, seulement pour elles que c’est possible la participation des autres êtres dans la realité à partir de laquelle ils ont été émanant. Ainsi, dans les Élémentes de theologie, Proclu développe, systématiquement, les arguments que ne visent que à expliquer comment sont les mouvements de procession et retour de les êtres à l’Un, mais, aussi, pour quoi ils se produisent. En ce sens, avec l’ouvre de Proclus, nous avons l’objectif de démontrer comment la realité est produite et impliqué dans une relation de mouvement de ses principes premièrs. Mots-clés: Proclus. Mouvement. Procession. Conversion. *** 1 Graduanda em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará. Bolsista de Iniciação Científica. Orientador: Jan Gerard Joseph ter Reegen. Email: [email protected] Vol. 5, 2012. www.marilia.unesp.br/filogenese 97 VII Encontro de Pesquisa na Graduação em Filosofia da UNESP Introdução A ideia de um princípio único está presente em toda a filosofia antiga, de modo que nela, se tornou inevitável o questionamento: como a partir de um único princípio passa a existir toda multiplicidade? Ora, como pode um ser produzir, ou dar origem, a algo diferente de si mesmo? Neste sentido, Platão afirma que toda a multiplicidade surgiu a partir de um único princípio que tem em si, duas naturezas: o Uno e a Díade, sendo o Uno o princípio da unidade e a Díade de toda a multiplicidade. Com Plotino o Uno, como um ser divino, indizível e que dá origem a toda multiplicidade, uma vez que em Platão o principio da multiplicidade é a Díade. Em Proclo, observam-se grandes contribuições acerca do Uno, principalmente no que diz respeito à sistematização da filosofia plotiniana. Isso porque nele se encontra uma tentativa de retomar o pensamento filosófico grego em um período em que o cristianismo estava em expansão. Foi na Academia de Atenas, um dos poucos centros de estudos de origem pagã, onde Proclo mergulha no neoplatonismo Plotiniano. Neste sentido, a figura do Uno, na filosofia de Proclo, é de extrema importância. Partindo então, da ideia de que é necessário um principio único, Proclo explica a geração dos seres a partir deste, por meio do movimento de processão2 e conversão. 1. Uno como mônada de todas as mônadas. Proclo, na preposição 11 dos Elementos Teológicos, afirma que tudo o que existe tem sua origem a partir de uma Causa Primeira, para isso ele toma como fundamento a evidência da ordem de geração dos seres a partir da relação de causa e efeito. Esta evidência está expressa, principalmente na existência da ciência que é o conhecimento das causas. Seguindo está linha de raciocínio, Proclo afirma que, ou nada é causa dos seres, ou a causa de todos os seres é circular, ou ainda, que a causa dos seres procede ‘ad infinitum’, No entanto, todas estas possibilidades são impossíveis, uma vez que, como já foi dito, a ciência prova o contrário na medida em que elimina a possibilidade de nada ser causa dos seres3, de suas causas serem circulares4 e dos seres procederem 2 Usamos o termo processão, por ser ele, em nossa concepção, quem melhor explica a relação de causa e efeito, de semelhança e dessemelhança entre o Uno e aquilo que dele procede. 3 Se existe conhecimento de uma causa, logo esta causa existe. Vol. 5, 2012. www.marilia.unesp.br/filogenese 98 VII Encontro de Pesquisa na Graduação em Filosofia da UNESP ‘ad infinitum’5. Diante de tudo que foi dito até aqui, fica uma certeza: é necessário que exista uma causa prima de todos os seres e esta será, para Proclo, o Uno. Este, segundo Proclo, é superior a todos os seres por constituir a primeira esfera do inteligível, de forma que o Uno, é a Mônada de todas as mônadas. Neste sentido, ele é quem dá movimento a tudo, é divino por ser superior a tudo, imortal por ser princípio de vida e quem a mantém. É inteligível, visto que conduz o intelecto a perfeição, é unitário e indissolúvel, sendo sempre semelhante a si mesmo, ele é ordem, causa de toda bondade, não existindo opinião nem razão discursiva sobre ele6, pois transcende a todo ser. Devido a sua inefabilidade não é possível conhecê-lo através de nenhuma afirmação, uma vez que, toda afirmação tende a limitá-lo. Assim, o que se pode dizer do Uno é dito por meio da negação. Cícero Cunha Bezerra, neste sentido, argumenta: As afirmações possuem a característica de fragmentar, enquanto que as negações re-conduzem os seres das formas divididas às formas simples... Para Proclo, de acordo com Platão as analogias e a negação são meios próprios para revelar a existência inefável do Bem supremo7. Sendo assim, pode-se perceber o porquê não é possível afirmar o Uno8, de forma que é impossível defini-lo, isso porque o Uno é indivisível. Visto que ele é uno e simples não pode ser dividido e, se a afirmação, como assegurou Cícero Cunha Bezerra9, tem a característica de dividir o ser, o Uno não pode ser afirmado. A negação e a analogia são, portanto, as melhores formas de expressá-lo. Mesmo que o Uno seja imparticipável10, ele se manifesta de diversas formas, sendo expresso de acordo com o 4 Se as causas procedessem circularmente não haveria uma hierarquia, não existindo uma hierarquia não poderia existir uma relação de causa e efeito, o que, para Proclo, é impossível. Além do fato de que a ciência evidencia a existência desta relação de causa e efeito e, portanto, da hierarquia. 5 Neste caso, se as coisas procedessem ‘ad infinitum’ sempre haveria uma causa anterior à outra, de forma que as causas nunca cessariam. Se isso acontecesse não poderia haver conhecimento das causas porque, segundo Proclo, não há conhecimento das coisas infinitas. 6 Neste sentido, todas as características aqui colocadas, são apenas tentativas de compreender o que o Uno é, visto que ele não pode ser predicado por transcender a todo ser. 7 BEZERRA, Cícero Cunha. Compreender Plotino e Proclo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. P. 124-125. 8 O termo Uno não indica o Uno em si mesmo, no entanto o entendimento humano sobre aquilo que denominamos Uno só é possível por meio de um nome. Este nome Uno, não diz, portanto, respeito ao Uno, mas a imagem da processão e da conversão. 9 Op.cit.pg. 126. 10 Sua imparticipação se deve ao fato de que aquilo que participa, o faz por necessidade. O Uno é completo, ele de nada necessita e por não necessitar de nada, não se deixa participar, já que nada pode ser acrescido a ele. Vol. 5, 2012. www.marilia.unesp.br/filogenese 99 VII Encontro de Pesquisa na Graduação em Filosofia da UNESP grau de participação de cada ser11. É devido a esta manifestação do Uno, que acontece mediante a capacidade de participação das hipóstases12, que é possível perceber que tudo se origina e existe no Uno, e pelo Uno, a partir do movimento de processão e conversão. Partimos, então, do princípio de que, “toda multiplicidade é posterior ao Uno”13, possuindo nele sua causa e a necessidade de dele participar, de forma que esta necessidade se deve ao fato de o Uno, como Sumo Bem, originar toda a multiplicidade por meio da processão. Assim, pela processão, ele não se divide, mas multiplica a si mesmo, na medida em que aparecem novas esferas na escala dos seres por meio desta processão. Esses seres que tem sua origem no Uno, nada mais são do que o ser do Uno com uma menor potência, de modo que não há perda de potencialidade ou diminuição do Uno Divino, mesmo que os seres que dele procedam seja ele próprio, uma vez que o produtor não pode produzir algo diferente de si mesmo. Logo, aquele que é imparticipado dá origem a participáveis e a participantes, sendo as Hénadas as primeiras manifestações procedentes do Uno. 2. Hénadas como Unidades unificadoras Enquanto na filosofia plotiniana não há nenhum elemento que faz o intermédio entre o Noûs14 e o Uno, na filosofia procleana este elemento intermediário existe, são eles as Hénadas. Elas estão na segunda esfera do inteligível e, portanto, dizem respeito, em Proclo, a segunda Hipóstase. Elas são únicas enquanto ser, mas são múltiplas por serem muitas, elas são super-substanciais, super-vitais e super-cognitivas, sendo completas em si15. Elas possuem uma substância de bondade, uma potência que é unidade e um conhecer que é incompreendido pelos demais seres. As Hénadas tem um importante papel de mediação, sendo elas fundamentais para o movimento de 11 Os seres, por sua vez, necessitam retorna ao Uno que é a causa última. Este retorno acontece por meio da participação mediante aquilo que lhe é semelhante. (visto que o Uno é imparticipado e os seres participam dos seres participados, pois as Hénadas são quem mais estão próximas do Uno por serem as primeiras que dele procedem). 12 Entendemos por Hipóstases as esferas inteligíveis, em Proclo podemos citar o Uno, Hénadas, Noûs e as Almas. 13 PROCLO. Os elementos teológicos de Proclo. Trad. Jan Gerard Joseph ter Reegen. p.05. (no prelo) 14 O Noûs é quem dar origem a toda ordem de seres, nele reside a capacidade de pensar, e onde se encontra ser, vida e intelecto. Ele é ao mesmo tempo pensante e pensado. O Noûs pode ser substituído pala palavras Intelecto ou Espírito, no entanto, neste trabalho optamos por utilizar o termo Noûs. 15 Proclo as compara com a classe de deuses. Vol. 5, 2012. www.marilia.unesp.br/filogenese 100 VII Encontro de Pesquisa na Graduação em Filosofia da UNESP conversão16. Por procederem diretamente do Uno, as Hénadas tem grande semelhança como ele17, de forma que, enquanto o Uno é o Bem, as Hénadas são a bondade, enquanto o Uno é uno, as Hénadas são as unidades e ambos estão acima do Noûs.“Se de fato imita o Uno, aquilo que sem se mover dá substância ao que vem depois dele, também tudo que produz da mesma forma possui a causa produtiva” 18. Como seres participados, as Hénadas são perfeitas, já que é delas o papel de unir toda a multiplicidade por meio da participação, isto porque que o Uno é imparticipável. Desta forma, quando se fala em processão, os primeiros seres serão sempre os mais perfeitos. Em Proclo existe uma hierarquia de perfeição que acontece de forma cíclica de acordo com a distância entre o ser e o Uno. De forma que quanto mais próximo, mais perfeito e quanto mais distante, menos perfeito, esta hierarquia de perfeição é uma das coisas que evidencia a geração dos seres a partir do Uno. Pois quanto mais próximo do produtor mais perfeito o ser é, assim as Hénadas são perfeitas e quanto mais perto delas um ser está, mais perfeito ele é. Já no que se refere ao processo de conversão, os últimos seres serão sempre os mais perfeitos, uma vez que eles estarão mais próximos das Hénadas. Portanto, o primeiro ser da processão e o último da conversão diz respeito ao mesmo ser, que será o primeiro que procede das Hénadas e o último a se converter a elas. As Hénadas fazem a multiplicidade perfeita na medida em que esta delas participa, elas são semelhantes ao Uno, mas não iguais a Ele, pois todo produto é inferior ao seu produtor, sendo menos potente que Ele, seus efeitos não são os mesmos. Isso porque, mesmo que o produto seja semelhante ao seu produtor, no que se refere a sua substância, visto que não é possível que o produtor produza algo diferente de si mesmo, o produzido será dessemelhante ao seu produtor na medida em que é potencialmente inferior a ele. Nesse sentido, enquanto as Hénadas, pela sua semelhança imitam o Uno, tendo a função de unificar toda a multiplicidade19, isto porque elas são a mistura de limite e ilimitado, pois tudo o que é posterior ao Uno é composto desta mistura. É limitada na medida em que é uma unidade e ilimitada na medida em que contém em si a 16 A conversão se trata do movimento de retono ao Uno e de unificação de acordo com a ordem de cada ser. 17 Esta semelhança é tanta que Proclo afirma que elas imitam o Uno devido a sua proximidade com ele e por terem sido as primeiras que dele procederam, são mais semelhantes com ele do que qualquer outro ser. 18 PROCLO. Os elementos teológicos de Proclo. Trad. Jan Gerard Joseph ter Reegen. p.17. (no prelo) 19 Faz-se importante ressaltar que a unificação da multiplicidade só é possível por meio da semelhança presente nos seres, ou seja, por meio do ser do produtor que permanece no produzido. Vol. 5, 2012. www.marilia.unesp.br/filogenese 101 VII Encontro de Pesquisa na Graduação em Filosofia da UNESP multiplicidade por meio da participação no Uno. O Noûs, que assim como as Hénadas também está no plano do inteligível, constitui o princípio de tudo o que existe e de tudo o que é, uma vez que cabe a ele pensar todos os seres que compõe a multiplicidade. 3. A importância do Noûs na geração dos seres. O Noûs, que é o princípio de todo ser composto de limite e ilimitado, ou seja, que é semelhante e dessemelhante, tem a função de pensar os seres que são compostos pela mistura de limite e ilimitado, vida e intelecto20. O Noûs 21 , ou Inteligência, dá origem a todos os seres na medida em que, ao pensá-lo, divide a unidade, transformando-a em multiplicidade22, portanto, todo ser como mistura de limite e ilimitado, e que tem origem no Noûs tem a necessidade de ser por ele pensado. Assim, pode-se perceber que ao passo que o Noûs tem a função de pensar o ser e, portanto, de dividi-lo. É somente através das Hénadas que estes seres são unificados, esta unificação ocorre por causa da necessidade que os seres têm de participar do que lhes é semelhante, da sua causa. Mesmo que o Noûs tenha a capacidade de pensar, esta característica não faz dele um ser superior ao Uno, visto que tal capacidade se dá a partir de uma deficiência de potencialidade do Noûs23 em relação ao Uno. É por não compreender a unidade de forma absoluta que o Noûs a divide através do pensamento, transformando-a em multiplicidade: sujeito pensante e objeto pensado. Esta incapacidade se dá porque há um desgaste na processão, de forma que, mesmo conservando aquilo que recebeu do Uno, uma vez que é semelhante a Ele e Nele tem sua causa, o Noûs é potencialmente inferior ao Uno. Nisso consiste a relação de semelhança e dessemelhança, em ainda que o produzido seja semelhante ao produtor, por encontrar nele a sua causa e pelo fato do produtor não poder originar nada diferente de si mesmo, é que o produzido será sempre inferior ao produtor, na medida em que é potencialmente inferior a este. Logo, o 20 Inteligência, seres intelectivos. Inteligência ou Espírito. 22 A multiplicidade que surge no Noûs é diferente daquela que aparece nas Hénadas, pois a que aparece nas Hénadas é una e não una, enquanto a que aparece no Noûs é não una e una. 23 Como já foi dito em nota anterior, mesmo que o produzido seja semelhante, por ter em si a essência do produtor, ele é potencialmente inferior. É justamente esta inferioridade que constitui a dessemelhança entre produzido e produtor. Neste caso, é a inferioridade da potência que leva o Noûs a pensar e a partir disso, dar origem aos seres. Este princípio já encontrado em Parmênides: Onde ser e pensar coincidem. 21 Vol. 5, 2012. www.marilia.unesp.br/filogenese 102 VII Encontro de Pesquisa na Graduação em Filosofia da UNESP produzido é semelhante por ter o Uno como produtor, e dessemelhante por ser potencialmente inferior a Ele. É devido a esta inferioridade ou dessemelhança que o produto será cada vez mais imperfeito toda vez que surgir uma nova esfera na escala de seres, de forma que o último ser que surge da processão é o mais imperfeito de todos os seres e o primeiro da conversão, o mais imperfeito. É, então, possível notar que esta é uma hierarquia oposta àquela observada no grau de perfeição dos seres, visto que a perfeição se dá na medida em que a multiplicidade se aproxima e participa do Uno por meio das Hénadas. 4. O Movimento de Processão e Conversão. Assim, o movimento tem um importante papel na filosofia procleana, isso porque é só através dele que se dá a processão e a conversão. Neste sentido, o Uno, que sempre permanece em si mesmo e é idêntico a si mesmo, visto que é imóvel, dá origem por meio da processão às Hénadas, e estas, por sua vez, dão origem ao Noûs, sendo o Noûs aquele que origina toda a multiplicidade, de modo que cada ser dá origem a uma ordem segundo a sua natureza, fato este que vai refletir na conversão. Os seres, portanto, convertem-se segundo a substância, a operação, o ser, a vida e o intelecto, conforme se deu a processão. Todos esses seres tem, assim, sua causa primeira no Uno, necessitando voltar a Ele, mas esse movimento de retorno só ocorre por meio da participação. De forma que tudo surge do processo de permanência24, processão25 e conversão26 que forma um movimento circular e não possui antes ou depois, visto que acontece simultaneamente. Neste sentido, Giovanni Reale afirma: Em primeiro lugar, deve-se registrar a perfeita determinação alcançada por Proclo da lei geral que governa a geração de todas as coisas entendida como um processo circular constituída por três momentos: 1) a “permanência”, ou seja, o ficar ou permanecer em si do principio; 2) a “processão”, ou seja, o proceder desde o principio; 3) o “retorno” ou a conversão, ou seja, o retorno ao principio27. 24 A permanência se refere à presença do Uno em cada ser, na medida em que dele procede e que todos os seres são o Uno em uma menor potência, residindo ai a semelhança e dessemelhança. De forma que o permanecer diz respeito à semelhança enquanto o proceder, a dessemelhança. 25 O proceder dos seres a partir do Uno. 26 Conversão como movimento de retorno ao Uno devido sua necessidade de participar, da relação de causalidade entre produto e produtor. Devido ao ser do Uno que permanece em todos os seres que compõem a multiplicidade. 27 REALE, Giovanni. Historia da filosofia antiga. Volume IV. São Paulo: Loyola, 1994. Pág.586. Vol. 5, 2012. www.marilia.unesp.br/filogenese 103 VII Encontro de Pesquisa na Graduação em Filosofia da UNESP O permanecer do Uno em si mesmo constitui o princípio. Partindo dele se tem a processão que traz do princípio a sua causa, afinal, aquilo que foi produzido na processão almejará retornar ao seu princípio. No entanto, neste movimento de processão e conversão não há uma diminuição do Uno, pois por ser imóvel ele não se modifica e por isso não sofre diminuição. Na medida em que é produzido, o produto se assemelha a sua causa, o produtor, e por isso permanece nele na medida em que faz a conversão. Assim, todas as hipóstases, mesmo que procedam do Uno e o tenha como sua causa, permanecem nele devido à necessidade de participar, isso ocorre em todas as esferas da realidade, seja ela inteligível ou corpórea. Este movimento de processão e conversão não acontece dentro de uma temporalidade, de forma que não existe um “antes e depois”, sendo a ordem aqui colocada apenas como uma ordem hierárquica, segundo o grau de perfeição. Conclusão Conclui-se que o movimento de processão é o responsável pela geração dos seres na medida em que todos tem sua origem em um único princípio, o Uno. O Uno, por ser imóvel não sofre diminuição ao proceder e por produzir sempre algo semelhante a si mesmo, mas que é diferente na medida em que é potencialmente inferior a Ele; o Uno multiplica a si mesmo. Diante disso, o produto tem a necessidade de retornar a sua causa, pois necessita participar daquilo que lhe é semelhante. É esta necessidade que possibilita uma comunicação por meio da participação entre causa e causado, entre produto e produtor, entre Uno e Multiplicidade, que torna possível a multiplicidade. Pelo fato de todas as hipóstases serem originadas e terem sua existência a partir do processo de Conversão, Processão e Permanência na causa, ou seja, no Uno, não se pode inferir uma hierarquia temporal, pois mesmo que haja a ideia de uma ordem de geração, portanto, de uma temporalidade, essa hierarquia não é possível, uma vez que tudo ocorre simultaneamente, na medida em que permanece no Uno por ter nele sua causa. Logo, nada existe fora do Uno e nada existe diferente Dele, ainda que não seja potencialmente igual a Ele. Referências Vol. 5, 2012. www.marilia.unesp.br/filogenese 104 VII Encontro de Pesquisa na Graduação em Filosofia da UNESP ABBAGNANO, N.. Dicionário de filosofia. tradução da 1° editora brasileira coordenada e revista por Alfredo Bossi; revisão da tradução e tradução dos novos textos Ivone Castilho Benedetti.- 5°ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2007. BEZERRA, C. C. Compreender Plotino e Proclo. Petrópolis, RJ: Vozes. 2006. _________. Unidade e pensamento no Parmênides e nos Elementos de Teologia de Proclo. Revista Archai: As origens do pensamento ocidental. (Revista eletrônica) Ano 2010; No 5. Pág. 91-103. Julho de 2011. FRANÇOIS, J. História da filosofia. Tradução de James Bastos Arêas e Noéli Cprreia de Melo Sobrinho. - P Petrópolis, RJ: Vozes; 2011. O LIVRO das Causas: líber de causis/ Tradução e Introdução de Jan Gerard Joseph ter Reenger. – Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000. PROCLO. Os elementos teológicos de Proclo. Trad, da versão latina de Guilherme de Moerbrke. Trad. para o português: Dr. Jan G. J ter Reegen. (no prelo) REALE, G.. Historia da filosofia antiga. Vol. IV. São Paulo: Loyola,1994. – (Série história da filosofia). Obra em 5 volumes. Vol. 5, 2012. www.marilia.unesp.br/filogenese 105