Departamento de Matemática CURVAS ALGÉBRICAS E O TEOREMA DE BÉZOUT Aluno: Filipe Bellio da Nóbrega Orientador: Marcos Craizer Introdução Foi feito um estudo dirigido sobre curvas algébricas, suas propriedades e maneiras de estudá-las. A partir da demonstração de diversos lemas foi-se desenvolvendo a compreensão teórica matemática do objeto de estudo. Mais adiante, foi demonstrado e compreendido o Teorema de Bézout bem como suas aplicações e corolários. Objetivos Familiarizar-se com o estudo das curvas algébricas, culminando com a demonstração do Teorema de Bézout. Resolver exercícios matemáticos sobre o tema e desenvolver ilustrações a respeito destes com softwares gráficos como o Maple e o Geogebra. Metodologia Seguindo o texto de apoio [1], há trajetória natural de conceitos até o Teorema de Bézout. Primeiramente é preciso definir curva algébrica, o que pode ser feito de duas maneiras. Ela pode ser descrita parametricamente através de funções para cada coordenada, ou implicitamente como a pré-imagem de 0 de uma classe de equivalência de funções polinomiais não nulas λf: ²→ (λ∈). Assim, a equação (, ) ∑, descreve bem um representante da curva algébrica, considerando subentendido que a expressão polinomial deve ser igualada a 0. Esta segunda forma será a utilizada. É importante notar a relevância do domínio da função f e o corpo de base para seus coeficientes que definem uma curva algébrica. Apesar de muitas das propriedades estudadas independerem do corpo , outras exigem algumas restrições sobre ele, como é o caso do próprio Teorema de Bézout. Nesse sentido, é recompensador um primeiro passo de abstração, trabalhar com os números complexos. O segundo passo de abstração importante diz respeito ao plano projetivo, em particular o plano projetivo complexo Pℂ². Este é o meio mais natural para se trabalhar, pois nele podem-se observar novas propriedades e invariantes que não existiam no plano afim, o que facilita o estudo das curvas algébricas. Sob este novo olhar, são aceitos “pontos no infinito”, que podem fazer parte de uma curva algébrica. Assim, por exemplo, duas retas sempre se encontram, mesmo as paralelas, pois estas se encontram em um ponto no infinito. O interessante é que estes resultados podem ser encontrados algebricamente com facilidade, mesmo nem sempre sendo claros geometricamente. Em Pℂ², uma curva algébrica tem o formato: (, , ) ∑,, e esta expressão deve ser uma forma, i.e. todos os monômios devem ter o mesmo grau (i+j+k = d). Isso se deve ao fato de que no plano projetivo os pontos (x:y:z) e (kx:ky:kz) = k(x:y:z) estão alinhados e portanto representam o mesmo ponto projetivo, assim, caso a expressão não fosse uma forma, poderia haver contradição, onde um ponto ao mesmo tempo pertence e não pertence a uma curva algébrica. Em diversas situações deseja-se estudar as interseções de duas curvas algébricas F e G. O Teorema de Bézout fornece informação sobre este aspecto, pois ele diz: Sejam F e G curvas algébricas em Pℂ² de graus m e n respectivamente e sem componentes comuns. Segue que a Departamento de Matemática soma dos números de interseção I(P,F,G) dos pontos de interseção P é mn, em particular F e G se encontram em pelo menos um ponto. Assim, dizemos que F e G têm mn interseções “contadas apropriadamente”. Claro que é preciso saber o significado de número de interseção para compreender o teorema, mas para isso também é preciso conhecer a definição de Resultante. Dados dois polinômios é possível montar uma matriz específica seguindo um padrão com seus coeficientes. O determinante desta matriz é o chamado resultante. Demonstra-se que a matriz é tal que seu resultante é nulo se e somente se os polinômios têm fatorem em comum. Dadas F e G curvas algébricas de graus m e n, é possível montar a tal matriz específica com seus coeficientes em z, i.e. as potências de x e y também aparecem na matriz. O resultante R(x,y) neste caso é um polinômio nas variáveis x e y. Demonstra-se que este polinômio é identicamente igual a zero ou uma forma de grau mn. Com este fato, pode-se demonstrar que duas curvas F e G sem componentes comuns de graus m e n respectivamente se intersectam em um número finito de pontos, em particular elas se intersectam no máximo em mn pontos distintos. A demonstração utiliza o Lema dos Quatro Pontos, importante na teoria de curvas projetivas, e também o fato de formas binárias, como é o resultante R(x,y), possuírem um número finito de raízes do ponto de vista projetivo, em particular se seu grau é mn, então haverá no máximo mn raízes distintas. O número de interseção I(P,F,G) de um ponto ( : : ) é definido como a multiplicidade de (: ) como raiz do resultante R(x,y) após feitos os ajustes necessários. Se P não é ponto de interseção I(P,F,G) = 0 e se P pertente a uma componente comum de F e G então I(P,F,G) = ∞. Agora é simples concluir o Teorema de Bézout, uma vez que a soma das multiplicidades das raízes de R(x,y) é exatamente mn, pois este é o grau de R(x,y). A parte final é simples, pois se F e G não se encontrassem em nenhum ponto, mn = 0, claramente um absurdo. Uma vez demonstrado o Teorema de Bézout, tem-se uma ideia de como duas curvas quaisquer se interceptam. Dado o conjunto dos pontos de interseção , , … , (s ≤ mn) temos uma soma característica associada a estes, a soma de seus números de interseção , , … , onde ( , , ). Essa soma ganha o nome de padrão de interseção de F e G e é um invariante sob transformações projetivas. É interessante notar o valor geométrico desta soma, tendo em vista que se alguma parcela for maior que 1, ela indica a existência de uma tangência de F e G naquele ponto em específico. Valores maiores apontam para uma aproximação ainda mais profunda entre as duas curvas. Conclusões O estudo teórico permitiu uma maior compreensão do universo das curvas algébricas e de suas propriedades. Foi possível demonstrar o Teorema de Bézout e solucionar exercícios complexos mesmo sem a utilização de meios tecnológicos. Entretanto, foi interessante a implementação de softwares gráficos como o Maple e o Geogebra para a visualização dos argumentos teóricos desenvolvidos. Curvas algébricas apresentam uma beleza inerente tanto do ponto de vista algébrico quanto geométrico, sendo sempre interessante manter uma comunicação entre essas duas facetas. Referências 1 - GIBSON, C. G. Elementary Geometry of Algebraic Curves: An Undergraduate Introduction. 1.ed. New York: Cambridge University Press, 2001.