CAPÍTULO III Ordem THYSANURA 1 27. Caracteres. - As especies desta ordem são os mais primitivos Hexapodos atualmente existentes. Insetos apteros, em geral pequenos (o maior tem cerca de 5 centímetros de comprimento), de corpo muito delicado, estreito, deprimido ou mais ou menos convexo no dorso, distintamente segmentado, nú ou revestido de escamas. Cabeça pro ou hipognata. Olhos facetados bem desenvolvidos, reduzidos ou ausentes. Ocelos geralmente ausentes (presentes em Machilidae). Antenas longas, filiformes ou moniliformes, multisegmentadas. Aparelho bucal mandibulado ou mastigador, ecto ou entognato, isto é, com as peças salientes ou escondidas dentro da cabeça. Pernas moderadamente longas; tarsos uni, bi, tri ou quadriarticulados; o ultimo articulo com 2 garras. Abdomen de 11 segmentos, quasi do mesmo comprimento, com um par de cércos multisegmentados, sob a forma de apendices filiformes caudais, ou unisegmentados, com o aspecto de pinça ou forceps. Em varios urosternitos, ou sómente nos ultimos (posteriores), um par de apendices curtos (styli). Em muitos Tisanuros, além destes apendices e para dentro deles, ha 1 ou 2 pares de pequenos orgãos vesiculiformes retrateis, de aspecto variavel nas especies. Outros Tisanuros apresentam, entre os dois cércos filiformes, um filamento 1 Gr. thysanos, franja; o u r a, cauda. 38 INSETOS DO BRASIL cerciforme, tão ou mais longo longamento do 11º esternito. Fig. são 1 - que eles, considerado um pro- Acrotelsa collaris (F.) (aumentada). (De E s c h e r i c h , 1905) 28. Desenvolvimento insetos ametabolicos. post-embrionario. Os tisanuros A forma que apresentam ao nascer 39 THYSANURA mantem-se essencialmente a mesma durante o correr do desenvolvimento até a fase adulta ou de imago, diferindo esta das formas jovens apenas pela formação completa do aparelho genital. Fig. 2 - Ctenolepisma ciliata (Duf.) (De E s c h e r i c h , 1905) (aument.) 29. Habitos. - Os insetos desta ordem vivem em lugares úmidos em que haja materia organica de natureza vegetal, 40 da do INSETOS DO BRASIL qual se alimentam. Encontra-se-os tronco e dos galhos das plantas, sob sob pedras, sob a casca a bainha das folhas, Fig. 3 - Machilis sp. c Fig. 4 - Perna metatoracica de Machilidae, c, coxa; s, stylus; sc, subcoxa, (De Imms, 1934, fig. 225) em madeira podre acumulam no sólo. e entre as Fig. 5 - Abdomen de Machilidae, face ventral (foi retirada a metade esquerda da 8ª placa ventral). bs styl coxais; c, cércos; cb, vesiculas lr, ovipositor. coxais; (De Packard, 1909, fig. 179). folhas em decomposição que se THYSANURA 41 No Brasil, como em outros paizes, ha especies mirmecofilas e termitofilas, a saber: Atelura praestans (Silvestri, 1901), em formigueiros de Solenopsis geminata; Atelura termitobia (Silv., 1901), em termiteiros de Anoplotermes tenebrosus e Hamitermes hamifer; Atelura sinoiketa (Silv., 1901), em termiteiros de Eutermes microsoma. Fig. 6 - Esternitos de Machilidae, com os apendices ancestrais e respetiva musculatura, m, musculos; pr, prosegps, post-segmento; s, styli; mento; v, vesículas coxais retraidas; v, vesiculas coxais protraidas. (De Comstock, 1924, fig. 225, segundo Oudemans). B, C, Fig. 7 - Extremidade do abdomen de c, cércos; t, telson. Projapygidae, Fig. 8 - Projapyx stylifer Cook, Brasil. extremidade do abdomen; c, cércos; gl, glandulas dos cércos; t, telson. parte apical de um cérco perfurado, emitindo a creção das glandulas, (De Silvestri, 1901, figs. 1, 12 e 15). Os Tisanuros mais conhecidos em nosso meio são as "lepismas", impropriamente chamadas "traças dos livros". São 42 INSETOS DO BRASIL insetos de corpo mole, côr cinzenta e brilho prateado, devido ás escamas que revestem o tegumento na parte dorsal, que, aliás, se destacam facilmente. Encontra-se-os nos domicílios, entre papeis velhos, principalmente nas bibliotecas. No Rio Fig. 9 - Aparelho de Berlese para colheita de Thysanura e Collembola. A, reciplente contendo agua; B, funil interior; C, prateleira com fundo de tela metalica; D, material a examinar; E, funil para entrada de agua; G, suporte do aparelho; L, bico de gaz; M, tubo condutor; N, torneira de descarga; a, cano de borracha ligando o funil interno ao tubo de vidro com alcool; f, que recebe os insetos. (De Berlese, 1905, fig. i). de Janeiro as especies mais frequentemente observadas são: Acrotelsa collaris (Fabr., 1793) e Ctenolepisma ciliata (Dufour, 1831), ambas da família Lepismatidae. Provavelmente devem existir no Brasil Lepisma saccharina L., 1758 e Thermobia domestica (Packard, 1973), ambas encontradas em rodas as regiões do globo e tambem pertencentes á familia Lepismatidae. Sob o ponto de vista agrícola, a importancia dos Tisanuros é nula. 43 THYSANURA 30. Classificação A ordem Thysanura compreende cerca de 500 especies, distribuídas nos grupos indicados na seguinte chave: 1 Peças bucais salientes. Abdomen provido de um par de cércos e de um filamento caudal mediano. Subord. Ectotropha (Ectognatha)2 ........................................................... 2 Peças bucais escondidas dentro da cabeça. Abdomen provido de um par de cércos ou forceps, sem filamento caudal mediano. Subord. Entotropha (Entognatha)3 ............................ 3 Corpo mais ou menos deprimido. Olhos pequenos ou ausentes, compostos de poucos omatidios separados e relativamente grandes; ocelos, ausentes; styli sómente nos urosternitos 7-9 ou 8-9. Não podem saltar ............................... ................................................................................... Lepismatidae 4 Corpo fortemente convexo no dorso. Olhos grandes, facetados; ocelos presentes; styli nos quadris meso e metatoraxicos e nos urosternitos 2-9. Podem saltar ....................................... ....................................................................................... Machilidae 5 Cércos unisegmentados com aspecto de praça ou forceps ............... ................................................................................................ Japygidae6 Cércos segmentados mais ou menos longos ...................... 4 Cércos curtos, relativamente robustos, perfurados no apice do ultimo segmento; l0 urosternito com styli; 3 pares de estigmas toraxicos e 9 a 10 pares de estigmas abdominais ........................................................................ Projapygidae. Cércos longos, filiformes, não perfurados no apice do ultimo segmento; 1º urosternito sem styli; sómente 3 pares de estigmas toraxicos ............................................ Campodeidae7 1' 2(1) 2' 3(1') 3' 4(3') 4' Autores recentes (SILVESTRI e outros) consideram as especies da subordem Entotropha (Entognatha ou Diplura) em ordem aparte, ficando Thysanura restricta á Ectotropha (Ectognatha) e ás duas familias que a constituem como superfamilias: Lepismoidea (Lepismatoidea) e Machiloidea. A bibliografia será apresentada com a da ordem seguinte. 2 3 4 5 6 7 Gr. Gr. Gr. Gr. Gr. Gr. ectos, enthos, lepis, mache, japyg, came, fóra; trophe, alimento; gnathos, dentro. escama. mole, corpo. Japix, filho de Daedalus. lagarta. maxila.