1 A CRISE E OS BANCOS DE FOMENTO: BIRD, BID, BNDES, BDMG Carlos Maurício de Carvalho Ferreira 1 O sistema financeiro é composto por uma rede diversificada de instituições com funções diferenciadas, tais como bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos múltiplos, financeiras, bancos de fomento, seguradoras, entre outras. O sistema financeiro canaliza e multiplica recursos para movimentar o investimento, a produção e o consumo. Contudo, suas fontes de recursos, objetivos, prazos e tipos de aplicações, e formas e instrumentos para criarem liquidez, ou seja, de dinheiro no circuito econômico, são profundamente diferenciados e delimitados. Deste modo, é preciso reconhecer os papéis dessas instituições nas crises econômicas e financeiras, em particular as funções dos bancos de fomento e desenvolvimento. É indispensável entender e definir a contribuição que os bancos de fomento podem ter no combate às inevitáveis crises financeiras e econômicas, sem colocar em risco a estabilidade e a sobrevivência dessas instituições. Os bancos comerciais, por exemplo, captam seus recursos essencialmente por meio de depósitos à vista e à prazo. Ao emprestarem esses recursos eles são depositados em outros bancos e, em parte, retornando aos próprios bancos que fizeram as aplicações, multiplicando moedas, notas e cheques em circulação, ou seja, meios de pagamento para qualquer fim. Os bancos de investimento privados utilizam capital próprio, captam depósitos à prazo, empréstimos e obrigações, inclusive em operações interbancárias no mercado monetário e, como o próprio nome sugere, aplicam esses recursos à taxas de mercado em participações societárias, a médio e longo prazo. Os bancos comerciais e os governos costumam participar desses empreendimentos. Os recursos dos bancos de fomento, que em geral são propriedades de governos, são o capital próprio provido pelo Estado e, na sua maioria, constituídos de fundos rotativos públicos e de repasses entre agências governamentais de fomento e desenvolvimento, portanto da contribuição tributária dos cidadãos, para prover capital de giro e investimentos produtivos, financiamento a exportações, ou de infra-estrutura social e econômica. Deste modo, logo se pode concluir da fundamental importância dos bancos comerciais e de fomento como o BIRD, BID, BNDES, BDMG, entre outros, * Professor Titular da UFMG. Ex-Presidente da Fundação João Pinheiro para a 2 economia mundial e nacional, e da profunda diferença e limitações de suas fontes de recursos, que determinam os objetivos e o papel que podem ter no combate às crises financeiras e econômicas. Minas Gerais é um exemplo ímpar da importância dos bancos de fomento, representado pelo seu Banco de Desenvolvimento, criado na década de 60, com outras instituições como a Fundação João Pinheiro, o INDI,a CDI, como resultado do notório Diagnóstico da Economia Mineira (BDMG, 1968). As fontes de recursos dos bancos de fomento se limitam ao seu capital e fundos de origem governamentais – por prudência mantendo-se longe dos malabarismos financeiros das securitizações e derivativos - e suas aplicações estão sujeitas as restrições dos orçamentos públicos, à regulamentações de provisão para devedores duvidosos do Banco Central, e aos riscos de inadimplência de seus mutuários. Assim sendo, os bancos de fomento, mesmo sendo capitalizados e provisionados com recursos adicionais, não são instituições estruturadas para expandirem a liquidez e empréstimos de curto prazo nas crises financeiras e econômicas, como os bancos comerciais. Há uma accountability, transparência e responsabilização pública” dos bancos de fomento, a ser respeitada, que torna impensável o “moral hazard”. Como não podem captar recursos de curto prazo através de depósitos à vista, de irrigarem seus caixas com repasses oriundos das práticas de política monetária clássicas como redesconto, reservas mínimas e compras e vendas de títulos públicas no open market, etc., ficariam rapidamente sem caixa, ou seja, sem liquidez e, em seguida, insolventes. O papel dos bancos de fomento no combate às crises financeiras e econômicas têm como foco, essencialmente, o estímulo à continuidade dos investimentos produtivos e na infra-estrutura econômica e social, mantendo a rigorosa análise de balanços, de aspectos jurídicos e de garantias, bem como da análise prospectiva dos negócios que incentivam. Enfim, a solidez dos projetos que financiam no médio e longo prazos é uma condição indispensável para que os bancos de fomentos sejam instrumentos eficazes de solução do inevitável estresse e colapso eventual dos negócios nos ciclos econômicos, e não um problema adicional a pressionar as finanças públicas no médio e longo prazo, dificultando ainda mais a recuperação econômica.