INFORME ECONÔMICO Ano 16 ● Número 48 ● 1° de dezembro de 2014 América Latina: sem fôlego para crescer em 2014 As economias do Chile e do Peru estão com dificuldades transitórias, enquanto Brasil e Argentina têm sérios entraves estruturais. O México esboça uma retomada, enquanto a Colômbia vai bem. PIB cresce, mas não empolga O cenário ainda é de crescimento essencialmente baixo por conta das limitações pelo lado da oferta. FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO RIO GRANDE DO SUL Av. Assis Brasil, 8787 Fone: (051) 3347.8731 Fax: (051) 3347.8795 UNIDADE DE ESTUDOS ECONÔMICOS www.fiergs.org.br/economia As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista desta Federação. É permitida a reprodução deste texto e dos dados contidos, desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas. América Latina: sem fôlego para crescer em 2014 As economias do Chile e do Peru estão com dificuldades transitórias, enquanto Brasil e Argentina têm sérios entraves estruturais. O México esboça uma retomada, enquanto a Colômbia vai bem. I N F O R M E E C O N Ô M I C O F I E R G S As principais economias que compõem a América Latina, de uma forma geral, vem passando por um momento complicado. A expansão da atividade na região será de apenas 1,3% em 2014 e 2,2% em 2015, segundo o FMI. Além da desaceleração do Brasil, que possui a maior representatividade nesse conjunto, outras importantes nações têm crescido menos, como o Chile e o Peru. A Argentina enfrenta uma forte recessão, enquanto o México esboça uma retomada. O principal destaque positivo do bloco vem de outro País: a Colômbia se expandiu a uma taxa de 5,5% nos últimos 12 meses terminados em junho. Os investimentos, sobretudo relacionados à construção civil, tem puxado a economia, em função de ações governamentais específicas: (i) programa de 100 mil casas totalmente subsidiadas para a população mais pobres e (ii) PIPE, programa que reduziu de 12% a.a. para 7% a.a. as taxas de juros para os financiamentos imobiliários. Essas medidas explicam a expansão do crédito (16,4% em termos nominais no acumulado até setembro), que não tem pressionado a inflação (3,1% a.a. no acumulado dos últimos 12 meses terminados em outubro, muito próxima ao centro da meta, de 3% a.a.. Os principais riscos para a economia colombiana no futuro envolvem um preço mais baixo do petróleo e do carvão (muito importantes para a economia do País) e a continuidade dos ataques das FARC aos oleodutos. Apesar disso, a economia deverá crescer próximo ao seu potencial de 4,5% nos próximos anos. A desaceleração verificada para a economia chilena é considerável. Além da piora nas condições do mercado de trabalho, a inflação nos últimos meses já supera o teto da meta estabelecida pelo Banco Central (4% a.a.). A desvalorização considerável do peso chileno (ao encarecer os produtos importados) e a política fiscal ativa do País são os fatores que explicam essa variação significativa do nível de preços. Um dos principais desafios para a economia chilena envolve o menor preço do cobre no mercado internacional. Cabe lembrar que a commodity é fundamental para o País, respondendo por cerca de 10% do PIB, 52,4% da pauta de exportações e 0,7% do emprego (dados de 2013). A economia chilena deverá crescer menos do que a média histórica esse ano (2,4%). Somente em 2016 a mesma convergirá para um crescimento próximo do seu potencial, de 4,0%. No caso da economia peruana, houve uma intensa desaceleração em um curto espaço de tempo: a variação do PIB, que gravitava em torno de 6% a.a. desde o período pós-crise, passou a crescer apenas 1,7% a.a.. Contudo, trata-se de um choque negativo pontual, decorrente da interrupção de uma das principais minas para coibir a produção informal de ouro, além do baixo conteúdo metálico do mesmo. Para contornar essa situação, várias medidas foram tomadas para incentivar o consumo, através do aumento dos bônus para servidores e pensionistas e antecipação do aumento dos salários. O crescimento será de 3,6% em 2014, ultrapassando 5% já a partir de 2015. No caso da Argentina, as estimativas privadas da consultoria OJF para o PIB mostram uma tendência de queda, que se acentuou em 2014. O último dado mostra que o nível atual é o mesmo registrado em janeiro de 2011 (série com ajuste sazonal). Isso se explica pela desvalorização mais acentuada da taxa de câmbio promovida pelo governo. Muitas cadeias produtivas, principalmente de veículos, são bastante dependentes das importações, uma vez que os custos internos têm crescido rapidamente. A diminuição do poder de compra do peso argentino em relação à moeda americana foi promovida para tentar repatriar os dólares mantidos no exterior, em função da acentuação das perdas de reservas internacionais. A manutenção da taxa de câmbio num patamar sobrevalorizado era a última âncora que mantinha a inflação num patamar de 25% (conforme cálculos privados da “Inflación Verdadera”). Os últimos dados apontam para uma variação superior a 40% em 12 meses. É possível que a Argentina, em 2015, alcance um acordo que envolve o pagamento da dívida externa para os credores que não aceitaram a reestruturação recente da mesma (holdouts). No entanto, isso não deverá modificar seus fundamentos macroeconômicos, e a tendência é que o processo de controle rígido das importações continue em 2015, o que deverá manter a demanda externa arrefecida. A magnitude da recessão será de -1,7% em 2014 e -1,5% em 2015. A economia mexicana, após crescer apenas 1,2% nos últimos 4 trimestres, inicia um processo de retomada. A queda da confiança das famílias, em função da reforma tributária que aumentou os impostos sobre o consumo, foi uma das principais causas do arrefecimento. Nem mesmo o processo de recuperação da economia americana tem ajudado (os EUA são importante destino dos produtos industriais do País). A principal expectativa positiva gira em torno dos efeitos da reforma energética, a partir da possibilidade da participação privada no setor. Estimativas dão conta de que os investimentos em petróleo aumentarão em até 2,5% do PIB num período de 10 anos, e o PIB potencial em 0,4 pontos percentuais. Diante das potencialidades do bloco, o crescimento seguirá decepcionando. Um melhor resultado no futuro fica condicionado a resolução dos desequilíbrios nos diversos países que o compõe. No entanto, isso resultará num avanço mais baixo no curto prazo. Unidade de Estudos Econômicos – FIERGS www.fiergs.org.br/economia PIB cresce, mas não empolga O cenário ainda é de crescimento essencialmente baixo por conta das limitações pelo lado da oferta. I N F O R M E E C O N Ô M I C O F I E R G S Conforme divulgado pelo IBGE no final da semana passada, o PIB brasileiro apresentou crescimento de 0,1% no terceiro trimestre de 2014 na comparação com o trimestre imediatamente anterior, já descontados os efeitos sazonais. Com pequeno crescimento na margem, o País saiu da situação de recessão técnica em que se encontrava após dois trimestres consecutivos de queda nesta base de comparação. Contudo, o resultado não empolga. Na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, a retração é de 0,2% e no acumulado do ano até setembro, o crescimento é de apenas 0,2%. Caso a atividade econômica não cresça entre outubro e dezembro, terminará o ano completamente estagnada. Se no quarto trimestre o crescimento for semelhante àquele observado ao longo dos últimos três anos (+0,44%, resultado pouco provável), a expansão anual será de apenas 0,1%. A indústria registrou avanço no terceiro trimestre, mas o desempenho não recupera perdas anteriores. Após quatro trimestres de quedas consecutivas, o setor cresceu 1,7% na comparação entre o terceiro e o segundo trimestres de 2014, já descontados os efeitos sazonais. A pequena base de comparação, causada pelas paradas em decorrência da Copa do Mundo e das férias coletivas concedidas por várias empresas naquele período explicam parte do resultado. No que se refere às atividades de transformação, o cenário é semelhante em termos de comportamento, porém mais traumático, uma vez que as taxas de queda nos trimestres anteriores foram maiores do que a média registrada para o total da indústria, e o crescimento no terceiro trimestre foi bastante tímido (+0,7%) em relação ao observado nesta. No caso da construção civil, o avanço frente ao segundo trimestre foi de 1,7%. Porém, na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, a atividade do setor permaneceu 5,3% negativa. No acumulado do ano, a indústria acumula queda de 3,3%. É importante destacar que o pequeno crescimento registrado no terceiro trimestre não foi suficiente para recuperar as perdas que a indústria de transformação vem sofrendo desde o início de 2013. Entre o primeiro trimestre de 2013 e o terceiro trimestre de 2014, o setor acumula queda de 2,0%. Além disso, em nível, o PIB da indústria de transformação continua em patamar semelhante ao observado no segundo trimestre de 2007, o que se traduz em 7 anos de estagnação. Nos demais ramos da indústria, o cenário é bem distinto. A indústria extrativa recupera-se da queda do ano passado e cresce 5,3% no acumulado de 2014, impulsionada principalmente pela maior produção de petróleo. A indústria da construção, por outro lado, acumula perdas de 3,3% em 2014, refletindo a queda nos investimentos. Apesar de terem crescido na margem (1,3% na comparação entre o terceiro e o segundo trimestres de 2014, já descontados os efeitos sazonais), os investimentos acumulam queda de 7,4% no acumulado do ano até setembro. A debilidade dos índices de confiança da economia brasileira não sinaliza reversão deste quadro no futuro próximo. A taxa de investimento entre os meses de julho e setembro de 2014 foi de 17,4%, a mais baixa para o trimestre desde 2006. O volume de investimentos atual é similar ao nível observado no início de 2010. A taxa de poupança interna também apresentou queda acentuada, alcançando a marca de 14% entre os meses de julho a setembro – a menor já observada para o trimestre na série histórica (que começa em 2000). A maior dificuldade de atração de poupança externa e a queda da poupança interna impõem um cenário bastante restritivo para os investimentos futuros. No terceiro trimestre de 2014, o Brasil foi um dos países que apresentou a menor taxa de crescimento frente ao segundo, conforme a OCDE. No acumulado do ano (janeiro a setembro), o resultado é ainda pior: entre 23 países ou blocos econômicos, nosso País teve o segundo pior desempenho, ficando atrás apenas da Itália (-0,3%) que enfrenta sérios entraves na áreas fiscal e em outros fundamentos econômicos. O nível de atividade brasileiro cresceu menos, inclusive, na comparação com os países avançados, que apresentam maiores dificuldades para crescer em função do seu já elevado nível de desenvolvimento. Para 2015, a expectativa não é de uma recuperação robusta, pois os principais entraves à competitividade ainda carecem de solução. Portanto, pelo menos até a primeira metade do próximo ano, não se espera uma reação mais forte da economia. Variação % do PIB – Brasil 3ºTRI2014/ 2ºTRI2014* PIB a preços de mercado 3ºTRI2014/ 3ºTRI2013 0,1 -0,2 Ac. no ano Ac. em 4 até setembro trimestres 0,2 0,7 ÓTICA DA OFERTA Agropecuária Indústria -1,9 0,3 0,9 1,1 1,7 -1,5 -1,4 -0,5 Extrativa mineral 2,2 8,2 7,3 5,3 Transformação 0,7 -3,6 -3,3 -1,8 Construção civil 1,3 -5,3 -5,1 -3,3 0,5 0,5 0,9 1,2 Serviços ÓTICA DA DEMANDA Consumo das famílias -0,3 0,1 1,2 1,5 1,3 1,9 2,0 2,1 Formação bruta de capital fixo 1,3 -8,5 -7,4 -4,6 Exportação de bens e serviços 1,0 3,8 2,8 3,5 Importação de bens e serviços (-) 2,4 0,7 -0,2 1,1 Consumo da adm. pública Fonte: IBGE. *Com ajuste sazonal. Unidade de Estudos Econômicos – FIERGS www.fiergs.org.br/economia