TRAJETÓRIA TERAPÊUTICA DO PACIENTE COM DOENÇA RENAL CRÔNICA: SUBSÍDIOS PARA INTERVENÇÕES DO ENFERMEIRO Thalita Souza Torchi1, Sílvia Teresa Carvalho de Araújo2, Alessandra Guimarães Monteiro Moreira3, Doris de Oliveira Araujo Cruz4, Bruna Tavares Uchoa dos Santos5 Resumo: Estudo proveniente de dados parciais da dissertação de mestrado em andamento, cujo objeto é a trajetória terapêutica retrospectiva do paciente com doença renal crônica (DRC) e justifica-se pela necessidade de um diagnóstico situacional dessa população, quanto aos fatores que incidem sobre as condições clínicas do paciente e que resultam no diagnóstico tardio e na elevada morbidade e mortalidade, ainda compreender a dinâmica de vida de portadores de DRC, conforme preconiza o Ministério da Saúde1. A demanda crescente de clientes nas instituições de saúde, na rede básica e nas instituições gerais e especializadas, com diagnóstico tardio e que influencia diretamente na perda da qualidade de vida e no custo elevado do tratamento no sistema de saúde. A evidência de lacunas de cuidados de enfermagem a serem adequados com abordagem clínica na promoção da saúde e prevenção dos agravos pode retardar o início da terapia renal substitutiva. Existem quatro aspectos como principais relacionadas à DRC. Aspectos educacionais: como desconhecimento da doença pela população; ausência de diretrizes para encaminhamento precoce; não adesão dos clientes ao tratamento pré-dialítico; ingresso de clientes em Terapia Renal Substitutiva (TRS) em condições clínicas inadequadas; carência de enfermeiros especialistas em Nefrologia nos ambulatórios de tratamento conservador; e declínio do interesse de enfermeiros e médicos na área de Nefrologia. Aspectos Epidemiológicos: aumento da incidência e desconhecimento da real prevalência de clientes que irão necessitar de TRS no Brasil, nos próximos anos. Aspectos Políticos: relação conflitante entre a demanda de clientes e recursos disponíveis; carência de programas preventivos sustentados no Brasil; e carência de ambulatórios de tratamento conservador. Econômicos: número insuficiente de serviços que ofereçam cuidado integral e integrado aos portadores de DRC; custos elevados com diálise de urgência por encaminhamento tardio ou falta de conhecimento da doença por parte da população2. Cabe evidenciar através de estudos, tanto as fragilidades do sistema de atenção à saúde no trajeto terapêutico, quanto as fragilidades de enfrentamento e conhecimento dos pacientes, a fim de gerar ação frente a este quadro, para propor e implementar novas estratégias, principalmente na atenção primária. Objetivos: Identificar o conhecimento do paciente renal crônico em hemodiálise sobre a causa da sua doença renal e analisar sua trajetória terapêutica retrospectiva. Metodologia: pesquisa qualitativa, descritiva e exploratória, utilizando entrevista gravada com questões semiestruturadas e análise de prontuários. A produção de dados atendeu a Resolução do CNS nº 196/96, aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da EEAN/HESFA nº 112.923/2012. Cenários: hospital universitário e clínica satélite de TRS, ambos no município do Rio de Janeiro. Sujeitos: pacientes com DRC, adultos, maiores de 18 anos, ambos os sexos, em tratamento hemodialítico até um ano, por acreditar que terão memória recente de sua trajetória. A organização dos dados; a formação de categorias; a análise e a discussão das categorias encontradas foram resultantes da triangulação das entrevistas e dos dados retirados dos prontuários. Resultados preliminares: Verificou-se que no Estado do Rio de Janeiro existem 80 instituições prestando serviço de TRS e 50% destas estão localizadas no município do Rio de Janeiro, onde 15 unidades pertecem ao âmbito hospitalar. A amostra constou de 30 pacientes, sendo 10 provenientes de instituições hospitalares e 20 de clínica satélite. No hospital, 4 (40%) são do sexo masculino e 6 (60%) do sexo feminino, a idade média é de 48,9 anos, variando de 30 a 59 anos; já na clínica, 11 (55%) são do sexo masculino e 9 (45%) do sexo feminino, a idade média de 46,15 anos, variando entre 26 e 59 anos. Através da análise dos prontuários foi possível identificar as doenças de 01816 base. No hospital a nefroesclerose hipertensiva está presente em 4 (40%) da amostra, a nefroesclerose hipertensiva associada com nefroesclerose diabética em 3 (30%) e 3 (30%) outras, como lúpus eritematoso sistêmico e nefropatia por IgA. Na clínica de TRS 35% possuem como doença de base a nefroesclerose hipertensiva, 30% nefroesclerose diabética, 10% hipertensão com diabete associada e 25% de causa desconhecida. A análise das entrevistas à pergunta: - Saberia dizer o que causou a sua doença nos rins? Apontou três principais respostas segundo a concepção dos pacientes. A primeira é hipertensão arterial, a segunda diabete melitus e a terceira não sabem dizer o que causou a doença. Outras respostas surgiram e dizem respeito a fatores relacionados ao estilo de vida como: má alimentação, vida com excessos, bebida alcoólica e estresse; e casos isolados como lúpus, infecção não tratada, fator hereditário e o uso excessivo de medicamentos anti-inflamatórios e hipotensores. Muitos sujeitos responderam com segurança sobre a causa da doença ser devido à hipertensão ou diabete porque o médico falou que aquela era a causa, poucos atribuíram a culpa a si próprios por não terem se cuidado. Quanto ao itinerário percorrido, verifica-se que a maioria descobriu tanto a doença de base quanto a doença renal de forma repentina, estando com clínica complicada quando procuraram algum tipo de serviço de saúde. Um dos fatores que levaram à complicação do quadro clínico foram mecanismos de reação frente à aceitação do diagnóstico e à procura médica. Conclusão: Ainda existe a falta de informação dos sujeitos da pesquisa sobre a doença, não conseguindo relacioná-la com suas causas. Pretendemos com este estudo valorizar o caminho percorrido pelo paciente e, sua percepção acerca da patologia, integrando condições de intervenções para intensificar a prevenção da DRC, o diagnóstico e ação precoce, assim retardando as complicações, reduzindo o sofrimento dos clientes e os custos financeiros associados. Apreender sobre os itinerários de pessoas em busca de atenção à saúde pode contribuir para compreensão sobre o comportamento em relação ao cuidado e utilização de serviços de saúde3. Descritores: Enfermagem, Prevenção de Doenças, Insuficiência Renal Crônica. Área Temática: Políticas e Práticas em Saúde e Enfermagem. Referências: 1 Mariani E, Fortes R. Abordagem preventiva da doença renal crônica. In: Lima E X, Santos I. (Org.). Sociedade Brasileira de Enfermagem em Nefrologia. Atualização de enfermagem em Nefrologia. Rio de Janeiro, 2004. 2 Brasil. Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde. Secretaria de Ciência e Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Ciência e Tecnologia. Brasília: Ministério da Saúde, 2008. 3 Cabral AL LV, Hemáez AM, Andrade EIG, Cherchiglia ML. Itinerários Terapêuticos: o estado da arte da produção científica no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 16(11): 44334442, 2011. 1 Enfermeira. Especialista em Nefrologia. Mestranda da Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ. Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Membro do Grupo de Pesquisa Comunicação em Enfermagem Hospitalar: Clientes de Alta Complexidade (CEHCAC/NUPENH). E-mail: [email protected] 01817 2 Professora Associada II. Departamento de Enfermagem Médico-cirúgica EEAN/UFRJ. Líder do Grupo de Pesquisa Comunicação em Enfermagem Hospitalar: Clientes de Alta Complexidade (CEHCAC/NUPENH). E-mail: [email protected] 3 Enfermeira. Mestranda da Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ. Bolsista FAPERJ. Membro do Grupo de Pesquisa Comunicação em Enfermagem Hospitalar: Clientes de Alta Complexidade (CEHCAC/NUPENH). E-mail: [email protected] 4 Enfermeira. Doutoranda da EEAN/UFRJ. Especialista em Nefrologia. Membro do grupo de pesquisa Comunicação em Enfermagem Hospitalar: Clientes de Alta Complexidade (CEHCAC/NUPENH). Chefe do Setor 6F do HUCFF/UFRJ. Relatora. E-mail: [email protected] 5 Enfermeira. Bolsista de IC. CNPQ. Membro do grupo de pesquisa Comunicação em Enfermagem Hospitalar: Clientes de Alta Complexidade (CEHCAC/NUPENH). E-mail: [email protected] 01818