PRONUNCIAMENTO DO IR. LUIZ MAIA DE FREITAS, POR OCASIÃO DA SESSÃO DE CONFRATERNIZAÇÃO DE NATAL EM 17/12/2011. PROFERIDO NA A:. R:. L:. S:. MANOEL REGINALDO DA ROCHA nª 2439. Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Os povos antigos, influenciados por religiões arcaicas, conceberam uma sociedade onde só o Estado é proprietário, só o Estado é livre, só ele tem uma vontade, uma religião e crenças, e quem quer que não pense como o Estado deve morrer. No meio de tudo isso surge idéias novas. Platão como Sócrates, define que a regra da moral e da política está em nós, que devemos escutar a razão e que as leis somente são justas quando estiverem de acordo com a natureza Humana. Aristóteles nos ensina que a lei é a razão. Como todo filosofo contesta a origem religiosa da sociedade humana, e define: “O Estado nada mais é que uma associação de seres iguais procurando uma existência feliz e fácil”. Dessa forma, a filosofia rejeita os antigos princípios das sociedades e procura novas bases sobre as quais possa buscar as suas leis sociais e a idéia de pátria. Mas não foi fácil fazer com que essas idéias passassem a prevalecer, porque no meio dos filósofos estavam os tiranos e opressores. De Sócrates a Platão, passando por Aristóteles e chegando até Zenão, muitos pensadores defenderam suas teses com a própria vida, para legar as gerações futuras uma sociedade mais justa e igualitária. Nesse sentido, Zenão foi brilhante. Concebe um Estado que compreendesse todo o gênero humano. Adepto do estoicismo alarga a sociedade humana, emancipa o individuo, reprova de igual modo a servidão do cidadão; já não aceita que o Estado sacrifique a pessoa humana. Distingue tudo quanto deve permanecer livre no homem e liberta a consciência. Diz ao homem que ele deve procurar em si o dever, a virtude, a recompensa. Orienta que qualquer que seja o governo, a sua consciência deve manter-se independente. Esses princípios tornaram-se uma das regras mais sagradas da política. Com essas idéias estava abalado o regime social dos povos antigos, onde a religião imperou como soberana absoluta na vida privada e na vida pública. Onde o Estado era uma comunidade religiosa, o Rei um pontífice, o magistrado um Sacerdote, a lei uma formula sagrada. A vitória do cristianismo assinala o fim da sociedade antiga. A nova religião conclui a transformação social iniciada seis ou sete séculos antes do seu advento. Assim os princípios e as regras essenciais da política foram então modificados. Mesmo porque nos cinco séculos que precederam o cristianismo, já não se manifestava tão estreita a união entre a religião, o direito e a política. Os esforços dos oprimidos, a decadência da casta sacerdotal, o trabalho dos filósofos, o progresso do pensamento, haviam abalado os velhos princípios da sociedade Humana. É chegado o dia em que o sentimento religioso retomou vida e adquiriu vigor, e então sob forma cristã a crença reconquistou o comando sobre a alma. Acabara a confusão entre governo e sacerdócio, entre fé e lei. Com o Cristianismo, não só o sentimento religioso se reavivou como tomou uma expressão mais elevada. O divino devidamente colocado fora e acima da natureza visível. Deus apresenta-se agora como um ser único, infinito, universal. O único a dever preencher a necessidade de adoração inata que há no homem. A religião tornou-se espiritual. O cristianismo trouxe ainda outras inovações. Não pertence nem a uma casta, nem a uma corporação. Desde o inicio, chamou a se toda humanidade. Jesus Cristo ensinava a seus discípulos: “Ide e ensinai a todos os povos”. A nova religião passou a ter por essência ensinar ao homem que tem deveres de justiça e de benevolência. Nos tempos antigos, a religião e o Estado formavam um todo. Em lugar disso, Jesus Cristo ensina que o seu reino não é desse mundo. E separa a religião do Estado. Cristo acrescenta: “Daí a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus” Foi a primeira vez que se distinguiu tão intimamente DEUS DO ESTADO. Observem os senhores que nos três primeiros séculos a nova religião viveu fora da ação do estado. Verifiquem que esses princípios possibilitaram a liberdade da alma do individuo. A esposa que era submissa passou a ser companheira, criou-se a igualdade. Enfim, o mais difícil aconteceu, a liberdade tornou-se possível na ordem social. Essa separação entre Estado e o Cristianismo durou pouco tempo. A Igreja, que pela sua influencia, tornou-se uma força política importante, nas mãos de alguns Imperadores Romanos. A História nos conta que no ano 313, o Imperador Constantino I, promulgou um Édipo de tolerância que na realidade propiciou ao cristianismo uma situação privilegiada. Idêntica situação aconteceu no ano 391, quando o Imperador Teodósio I eliminou todos os privilégios concedidos a autoridades de religiões antigas. No governo do Imperador, Teodósio II foi promulgado um Édipo no ano 423, proibindo todo e qualquer culto realizado pelos pagãos (nome dado as pessoas que não professavam o cristianismo). Estes seriam punidos com pena capital ou exílio, os bens seriam confiscados. Em troca a igreja se encarregaria de manter a população longe de revoltas. Na minha concepção, esses acordos visando à união do trono e do altar, foram danosos e comprometeram a imagem da igreja católica. Essa pratica se estendeu até os nossos dias. Através de acordos e concessões a igreja Católica era religião oficial, na França, Espanha, Portugal e Brasil. Os padres eram funcionários do Estado e os bispos nomeados pelo Rei ou Imperador. Na França, essa situação foi um vexame, havia dois cleros. O baixo clero era composto pelos padres, recrutados na classe operaria e entre os camponeses, estes cuidavam da salvação das almas. O alto clero, composto pelos Bispos nomeados pelo Rei, recrutados entre os nobres. Muitos deles sequer sabiam rezar o credo, iam cuidar da parte administrativa e financeira das dioceses. Felizmente, o Papa Pio IX aboliu essa pratica, e chamou para si a responsabilidade de administrar a Igreja de Cristo. A idéia de se fazer uma síntese da Historia da civilização, teve a finalidade de mostrar que a liberdade e a igualdade foram palavras proibidas ao longo dos tempos. Aqui nesta analise, Aristóteles falou de igualdade, Zenão cita as palavras livre e liberta, eram apenas uma idéia. Com o cristianismo as palavras liberdade e igualdade, surgem como algo verdadeiro, concreto. Todavia o homem que por excelência é um dominador, apesar da vitoria dessas formulas visando uma relação mais fraterna entre as pessoas, nem sempre foi respeitada. Observamos que o próprio cristianismo que desfraldava uma suave bandeira de amor e tolerância foi envolvido de roldão numa onda avassaladora de perseguições e martírios aos chamados pagãos. O nosso tempo V.M. não permite detalhar fatos ocorridos ao longo da história. Chamo a atenção para fatos ocorridos na história da França que são exemplos incontestes de tirania, opressão e intolerância. No fim do século XVIII o país passava por dificuldades, motivado por um modelo onde só a nobreza e a igreja tinham direitos, privilégios e oportunidades. A classe burguesa, os operários e os camponeses, só tinham direito de trabalhar de forma escrava para sustentar a opulência da aristocracia, Nesse período surgiu um movimento chamado iluminismo, liderado pelos intelectuais e pelos filósofos que mostrava o abismo criado pelas desigualdades sociais. Albert Soboul professor da Sorbone, escreve “ As Lojas Maçônicas contribuíram para a difusão das idéias filosóficas”. Podemos seguramente afirmar que desde épocas as mais remotas, a maçonaria procura inculcar na consciência de seus membros, seus ideais de liberdade de pensamento, benevolência e fraternidade, incitando-os a trabalhar pelo aprimoramento moral e pelo aperfeiçoamento da sociedade. Seguindo essa linha de raciocínio a maçonaria exerceu influencia junto aos sábios e pensadores do iluminismo, pertencentes aos seus quadros. Porém não consigo entender que a maçonaria tenha exercido um esforço planejado para promover uma ação de transformação social. Acho que a tirania, a opressão, a insensatez e a falta de tolerância, aliados ao desespero da classe operária, que só tinha os braços e assim mesmo eram responsáveis pela produção da riqueza que sustentava a nação; não havia outra saída, a não ser o confronto. A revolução foi um movimento que transformou a França em um mar de cadáveres. A tomada da Bastilha e a morte dos soberanos na guilhotina simbolizaram a queda da monarquia. Em 26 de agosto de 1789 foi promulgado a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que entre outras coisas definiu: “ Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos”. Essa declaração foi a parte poética da revolução. Obra dos filósofos, redigida pelos constituintes, que dava a impressão de está se dirigindo a todos. Porém na hora da regulamentação desses princípios a coisa mudou. Mas a República enfrentou problemas financeiros, que refletiram negativamente no exército, onde os soldados estavam mal nutridos, mau vestidos, mal pago. O devotamento à nação cede lentamente a fidelidade a um chefe. No meio desse quadro, o general Napoleão Bonaparte, deu um golpe e substituiu o Estado Liberal pelo Estado Autoritário. Mas o esforço dos revoltosos não foi em vão, as idéias permaneceram no coração das pessoas e, mais tarde a França volta a ser a República que é até os dias atuais. O que aconteceu no fim do século XVIII está acontecendo agora nos países do Oriente Médio. O jornalista Marat do jornal L’ami de Du Peuple na edição do dia 18 de novembro de 1789 afirmou: ”as leis só prevalecerão enquanto os povos quiserem a elas se submeterem, se eles sacudiram o julgo da nobreza, quebrarão da mesma forma o julgo da opulência. Essas observações de Marat continuam atuais. Os povos do Oriente Médio resolveram não mais aceitar as leis de seus países, porque elas só oprimem as populações. O Brasil vive atualmente um momento ímpar. Apesar da crise mundial respiramos com certa tranqüilidade um momento de progresso que permite para todos uma melhor distribuição da renda. Passamos recentemente a experimentar a liberdade, bem como uma melhor igualdade de oportunidade. Isso só está sendo possível porque passamos a viver em um estado democrático de direito. Mas nem tudo são flores. Infelizmente a corrupção que se instalou em todos os níveis da administração pública tem retardado maiores conquistas. Torna-se necessário que tenhamos atitude. Liberdade, Igualdade e Fraternidade, não são coisas que caem do céu. São palavras que exprimem as aspirações de um povo e que precisam ser conquistada no dia dia. Muito obrigado Luiz Maia