Saúde Coletiva ISSN: 1806-3365 [email protected] Editorial Bolina Brasil Gatti de Menezes, Fabiana; Leandro Nascimento, Jorge William; Pereira Camargo, Renata; Greco, Karin Vicente; Silva Santos, Álvaro da Perfil do uso de medicamentos para doenças cardiovasculares: análise de prescrições médicas em farmácia privada da região oeste da cidade de São Paulo Saúde Coletiva, vol. 6, núm. 34, 2009, pp. 237-243 Editorial Bolina São Paulo, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=84212106004 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto farmacologia e saúde Menezes FG, Nascimento JWL, Camargo RP, Greco KV, Santos AS. Perfil do uso de medicamentos para doenças cardiovasculares: análise de prescrições médicas em farmácia privada da região oeste da cidade de São Paulo Perfil do uso de medicamentos para doenças cardiovasculares: análise de prescrições médicas em farmácia privada da região oeste da cidade de São Paulo A utilização de medicamentos é um dos grandes desafios para a Saúde Pública, e, em qualquer etapa desse processo, os erros de medicação podem ocorrer, sendo comuns mundialmente. Entre os fatores que podem influenciar negativamente a terapia medicamentosa, podemos destacar as interações medicamentosas, as alterações de doses e as reações adversas. O presente estudo é quantitativo e objetiva descrever o perfil de uso de medicamentos para tratar doenças cardiovasculares, com o propósito de analisar as prescrições médicas de pacientes que frequentam uma farmácia privada, localizada na grande São Paulo. Foram analisadas 110 prescrições médicas, as quais apresentaram alta frequência de medicamentos anti-hipertensivos como: os betabloqueadores, diuréticos tiazídicos, bloqueadores de canais de cálcio, antagonistas do receptor AT1 da angiotensina II e inibidores da ECA. Possíveis interações medicamentosas observadas foram: lisinopril-hidroclorotiazida-ácido acetilsalicilíco; anlodipina-carvedilol; hidroclorotiazida-enalapril, entre outros. Também foram observadas prescrições contendo fitoterápicos, entre os mais comuns destacam-se: Ginkgo biloba, Centella Asiática e Castanha da Índia. A análise das prescrições médicas faz-se necessária como ferramenta importante no processo de identificação de problemas relacionados a medicamentos. Descritores: Estudo de utilização de medicamentos, Anti-hipertensivos, Interações medicamentosas, Doenças cardiovasculares. The use of drugs is one of the challenges to Public Health. Medication errors are world-wide and occur in any stage of the drugs use. Factors that could negatively change therapeutics are: drug-drug interactions, adverse reactions, and doses variations. The present study is quantitative and aims to describe the profile of drug use in cardiovascular diseases­, in order to analyse the medical prescription in a private pharmacy, located in São Paulo, Brazil. There have been analysed 110 medical prescription. Results demonstrated high incidence of antihypertensives drugs, thiazidic diuretics, calcium channel blockers, angiotensin II receptor antagonists and ACE inhibitors. Possible observed drugs interactions were: lisinopril and hydroclorothiazide, acetylsalicylic acid; amlodipine and carvedilol, hydroclorothiazide and enalaprile and others. Evaluation of medical prescription may be an important tool to indentify medication related problems. Descriptors: Drug utilization study, Antihypertensives, Drug interactions, Cardiovascular diseases. El uso de drogas es uno de los desafíos de la Salud Pública. Los errores de la medicación son mundiales y ocurren en cualquier fase del uso de drogas. Factores que pueden llevar a terapéuticas inadecuadas son: las interacciones medicamentosas, reacciones adversas, y alteraciones de dosis. El estudio presente es cuantitativo y objetiva describir el perfil de uso de medicinas en enfermedades cardiovasculares, con el objetivo de analice de prescripciones médicas, en farmacia privada, localizada en el São Paulo, Brasil. 110 prescripciones médicas fueron analizadas. Los resultados demostraron incidencia alta de medicinas antihipertensivas, tales como: diuréticos tiazidicos, bloqueadores de canales de cálcio, antagonistas de la angiotensina II y inhibidores de la ECA. Las posibles interacciones de medicinas observadas fueran: el lisinopril y hidroclorothiazida, ácido acetilsalicílico; amlodipino y carvedilol, hidroclorotiazida y enalapril, y otros. Evaluación de prescripciones médicas quizá una herramienta importante a la identificación del problemas relacionados con la medicación. Descriptores: Estudio de utilización de medicinas, Anti-hipertensivos, Interacciones medicamentosas, Enfermedades cardiovasculares. Recebido: 04/02/2007 Aprovado: 14/01/2009 2_artigo.indd 237 Saúde Coletiva 2009;06 (34):237-243 237 18.09.09 16:55:24 farmacologia e saúde Menezes FG, Nascimento JWL, Camargo RP, Greco KV, Santos AS. Perfil do uso de medicamentos para doenças cardiovasculares: análise de prescrições médicas em farmácia privada da região oeste da cidade de São Paulo Fabiana Gatti de Menezes: Farmacêutica. Mestre em Farmacologia. Doutora em Ciências. Docente da UNINOVE e Faculdades Oswaldo Cruz. Membro do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva e da Família/NESCOF - [email protected] Jorge William Leandro Nascimento: Farmacêutico. Doutor em Farmácia. Docente da UNINOVE no Curso de Farmácia e Bioquímica. Membro do Grupo de Pesquisa em Farmacologia. Renata Pereira Camargo: Acadêmica do 9º Semestre do Curso de Farmácia Bioquímica da UNINOVE. Karin Vicente Greco: Farmacêutica. Doutora em Ciências. Pós-doutoranda do William Harvey Research Institute, Inglaterra. Álvaro da Silva Santos: Enfermeiro. Mestre em Administração em Serviços de Saúde. Doutor em Ciências Sociais. Pós Doutor em Serviço Social. Professor Adjunto da Universidade Federal da Bahia - Campus Anísio Teixeira. INTRODUÇÃO utilização de medicamentos se constitui um dos maiores desafios para a Saúde Pública Mundial. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a utilização de medicamentos é definida como a distribuição, comercialização, prescrição e uso de medicamentos com ênfase especial sobre as consequências sociais, médicas e econômicas resultantes destes1. Os erros de medicação são comuns em toda parte do mundo, podendo ocorrer em qualquer etapa do processo de A 238 2_artigo.indd 238 utilização de medicamentos tais como: prescrição, dispensação e administração. A cada 100 prescrições, 4,8 % apresentam eventos adversos ou erros de medicação, sendo que, 39% ocorrem na fase de prescrição, 12% na transcrição da prescrição médica por outro profissional, 11% na dispensação e 38% na administração dos medicamentos. Durante o processo, 86% dos erros de prescrição e transcrição são interceptados pelos farmacêuticos e enfermeiros e apenas 2% são percebidos pelos pacientes após dispensação e administração errada2. Isto mostra ainda falha no processo até a che- Saúde Coletiva 2009;06 (34):237-243 18.09.09 16:55:26 0 farmacologia e saúde Menezes FG, Nascimento JWL, Camargo RP, Greco KV, Santos AS. Perfil do uso de medicamentos para doenças cardiovasculares: análise de prescrições médicas em farmácia privada da região oeste da cidade de São Paulo gada do medicamento ao paciente e isso deve ser considerado como uma demanda importante no cuidado ao paciente2. Gráfico 2. Porcentagem de prescrições médicas com No Brasil, milhões de prescrições que são geradas anualpotenciais interações medicamentosas em farmácia privada mente nos serviços públicos não apresentam requisitos técnida região oeste da cidade de São Paulo. Janeiro e fevereiro cos e legais imprescindíveis para uma dispensação eficiente de 2006. e correta utilização de medicamentos, o que retroalimenta a demanda pelos serviços de saúde, muitas vezes diminuindo a relação custo/efetividade dos tratamentos, impondo de forma desnecessária gastos com saúde e diminuindo a qualidade de vida dos pacientes3 . 40,90% Apresentaram Dentre os fatores que influenciam negativamente a efiinterações cácia dos medicamentos podemos citar: as interações meNão apresentaram dicamentosas, alterações de doses e reações adversas que, 59,10% interações muitas vezes, são previsíveis e possíveis de serem evitadas. As interações medicamentosas são responsáveis pelo agravamento na condição de saúde do paciente e podem favorecer as reações adversas4. A atenção farmacêutica é conhecida como uma prática profissional em que o paciente é o beneficiário das ações do farmacêutico, incluindo o acompanhamento de um tracas (isquemias e insuficiência), além das tamento farmacológico, em cooperação doenças vasculares cerebrais. O cuidado "OBSERVOU-SE QUE A CLASSE com os médicos e outros profissionais com os pacientes é um importante eleFARMACOLÓGICA MAIS do sistema de saúde, a fim de conseguir mento do planejamento global, mas tamPRESCRITA FOI DOS BETAbons resultados para a melhoria da quabém constitui uma resposta insuficiente e lidade de vida do paciente. Com esta incompleta, posto que, com frequência, a BLOQUEADORES SEGUIDA prática, o farmacêutico se responsabilimorte súbita é a primeira manifestação de POR DIURÉTICOS TIAZÍDICOS za pelas necessidades do paciente com enfermidades cardiovasculares6. os medicamentos mediante a detecção, A análise das prescrições médicas reE INIBIDORES DE ECA, prevenção e resolução de problemas representa importante fonte de informaBLOQUEADORES DE CANAIS DE lacionados com os medicamentos (PRM), ção sobre o consumo de medicamentos de uma forma continuada, sistematizada e PRM. Desta forma, o presente trabalho CÁLCIO TIVERAM 37,72% DE e documentada em colaboração com o tem por objetivo descrever o perfil de uso CITAÇÕES NAS PRESCRIÇÕES próprio paciente5. de medicamentos para tratar doenças cardiovasculares, bem como identificar as No contexto das doenças crônicas, MÉDICAS ANALISADAS, COM possíveis interações medicamentosas em as enfermidades cardiovasculares são as VARIAÇÕES DE DOSES DE 3 A farmácia privada, da região oeste, da ciprincipais causas de morte na maioria dade de São Paulo. dos países industrializados. Entre elas as 12 MG" mais frequentes são as doenças cardíaMETODOLOGIA O presente estudo é do tipo quantitativo Gráfico 1. Prescrição de medicamentos utilizados para e descritivo, realizado em uma farmácia privada, de médio tratamento de doenças cardiovasculares de acordo com porte, na região oeste da cidade de São Paulo. O período as classes farmacológicas em farmácia privada da região de coleta foi entre janeiro e fevereiro de 2006, totalizanOeste da cidade de São Paulo. Janeiro e fevereiro de 2006. do 110 prescrições médicas que continham medicamentos para tratamento de doenças cardiovasculares. As prescriInibidores da ECA ções foram analisadas quanto aos seguintes aspectos: princípio ativo, classe farmacológica, doses e possibilidade de Betabloqueadores 0,34% 0,57% interações medicamentosas As consultas sobre as interações Bloqueadores dos canais medicamentosas foram obtidas através de sites de acesde Ca2+ 0,06% so gratuito e literatura. Os endereços eletrônicos gratuitos 0,12% Diuréticos tiazidicos para consulta das interações medicamentosas foram: http:// 0,36% www.drugstore.com/pharmacy/drugcheker/interactions.asp; Antag. do receptor AT1 da 0,35% www.drug-interactions.com; http://www.drugdigest.org e angiotensina II http://www.intelihealth.com. Diuréticos poupadores 0,55% Os dados foram apresentados de forma relativa, indicando de K+ a frequência em relação ao total das prescrições, como exisDiuréticos de alça tem associações de medicamentos anti-hipertensivos constan- Saúde Coletiva 2009;06 (34):237-243 2_artigo.indd 239 239 18.09.09 16:55:27 farmacologia e saúde Menezes FG, Nascimento JWL, Camargo RP, Greco KV, Santos AS. Perfil do uso de medicamentos para doenças cardiovasculares: análise de prescrições médicas em farmácia privada da região oeste da cidade de São Paulo Os demais medicamentos pertencentes a outras classes farmacológicas também foram observados, entre eles podese citar: alopurinol (doses de 100 e 200 mg) e omeprazol com as prescrições analisadas em farmácia privada da nas doses de 10 e 20 mg (2,73% cada fármaco), seguidos de região oeste da cidade de São Paulo. Janeiro e fevereiro, ácido fólico (dose de 5 mg), cloreto de potássio (dose de 100 2006. mg) e famotidina na dose de 40 mg (1,82% cada fármaco). Quanto às classes farmacológicas, foram observados: betabloqueadores (57,27%), diuréticos tiazídicos (55,45%), bloqueadores dos canais de cálcio (36,36%), antagonistas do receptor AT1 da angiotensina II (35,45%) e inibidores da ECA (46,34%) (gráfico 1). Uma mesma prescrição pode ter associações de anti-hipertensivos, portanto a soma das porcentagens das classes farmacológicas ultrapassa os 100%. Outro aspecto relevante observado foi a frequência de prováveis interações medicamentosas presentes nas prescriA+B A+C A+D E+F D+G B+J E+B ções consultadas, aproximadamente 60% (gráfico 2). Dentre as potenciais interações medicamentosas destacaD+E D+H D+I C+I H+J B+K D+B se a interação de lisinopril com hidroclorotiazida (57,14%). A-lisinopril; B-hidroclorotiazida; C-ácido acetilsalicilíco; D-Anlodipina; As demais potenciais interações observadas por fármaco E-Enalapril; F-Indapamida; G-Carvedilol; H-Atenolol; I-Espironolactona; foram: a) lisinopril com: ácido acetilsalicílico (14,3%) e J-Metformina; K-Ginkgo biloba. anlodipina (10,7%); b) anlodipina com: hidroclorotiazida (22,80%), carvedilol (17,54%), enalapril (15,78%), atenolol (15,78%) e espironodo em uma mesma prescrição, a soma das lactona (14,03%); c) enalapril com: hidroporcentagens relativas não será de 100%. clorotiazida (50%), indapamida (18,75%) "BETABLOQUEADORES SÃO e ácido acetilsalicílico, espironolactoRESULTADOS na (30,76% cada) e d) hidroclorotiazida Foi acompanhada a utilização dos mediOS MEDICAMENTOS MAIS com: Ginkgo biloba (37,5%) e metformicamentos relacionados ao tratamento de PRESCRITOS, SEGUIDOS POR na (37,5%) (gráfico 3). doenças cardiovasculares, medicamenDe acordo com os dados obtidos, foi tos para tratamento de demais doenças DIURÉTICOS E INIBIDORES observada uma alta incidência de prescrie fitoterápicos em relação a frequências DE ECA. UMA TENDÊNCIA ção de medicamentos anti-hipertensivos e doses e separados de acordo com as QUE DEMONSTRA QUE AS nas prescrições médicas. classes farmacológicas. Observou-se que Segundo as V Diretrizes Brasileiras de a classe farmacológica mais prescrita foi PRESCRIÇÕES ESTÃO DE Hipertensão Arterial7, existem evidências dos betabloqueadores seguida por diuACORDO COM AS DIRETRIZES réticos tiazídicos e inibidores de ECA, que demonstram a redução de morbidabloqueadores de canais de cálcio tiveram de e mortalidade com uso de diuréticos, PROPOSTAS NACIONALMENTE. 37,72% de citações nas prescrições méporém isso também foi observado com JÁ NA POLITERAPIA, dicas analisadas, com variações de doses uso de betabloqueadores, inibidores da de 3 a 12 mg, vide tabela 1. enzima conversora da angiotensina, anOS MEDICAMENTOS Entre parênteses o número de vetagonistas do receptor AT1 da angiotensiMAIS COMUNS FORAM: zes que o fármaco foi prescrito. No na II. Nos pacientes idosos, a redução da percentual de prescrições tem-se o númemorbi-mortalidade ocorre com o uso de LISINOPRIL, CARVEDILOL, ro de vezes que o fármaco foi prescrito bloqueadores dos canais de cálcio. HIDROCLOROTIAZIDA, dividido pelo número total de prescrições Entre os antagonistas do receptor AT1 consultadas. Isto pois, os medicamentos da angiotensina II, o losartan promove ANLODIPINA" podem estar associados em uma mesma uma redução da morbimortalidade cardioprescrição, portanto, as porcentagens são vascular superior à observada com o aterelativas ao número de citações dividido nolol, com maior eficácia na redução de pelo número total de prescrições observadas. acidente vascular cerebral. Acrescenta-se o fato do uso de loAlguns medicamentos fitoterápicos estavam na mesma sartan apresentar menor incidência de novos casos de diabeprescrição, sendo que os mais comuns: ginkgo biloba (nas tes mellitus. Além do efeito anti-hipertensivo, pode ser benéfidoses de 40 e 120 mg), seguido pela centella asiática (nas co no tratamento da insuficiência cardíaca congestiva, sendo doses de 100 e 200mg) e castanha da Índia (nas doses de conhecido como nefro e cardioprotetor para o diabetes tipo 2 150 e 200mg), num total de 22 fitoterápicos prescritos. Decom nefropatia estabelecida7,8. mais fitoterápicos, com baixa frequência de prescrição foOs diuréticos são muito utilizados por sua eficácia, baixo ram: hamamélis, cynara scolymus, passiflora, entre outros. custo e poucos efeitos colaterais. São prescritos como monoterapia ou em associação com outros agentes anti-hipertenGráfico 3. Risco de interações medicamentosas de acordo 240 2_artigo.indd 240 Saúde Coletiva 2009;06 (34):237-243 18.09.09 16:55:28 farmacologia e saúde Menezes FG, Nascimento JWL, Camargo RP, Greco KV, Santos AS. Perfil do uso de medicamentos para doenças cardiovasculares: análise de prescrições médicas em farmácia privada da região oeste da cidade de São Paulo Tabela 1. Prescrições por fármaco e doses para tratamentos de doenças cardiovasculares em farmácia privada da região oeste da cidade de São Paulo. Janeiro e fevereiro de 2006. Classes farmacológicas Inibidores da ECA Fármacos Lisinopril Enalapril Captopril Ramipril Prescrições % 25,45 18,18 1,81 0,90 Atenolol Carvedilol Propranolol Diltiazem Nimodipina 48,18 8,18 0,90 1,81 1,81 Anlodipina 37,72 Hidroclorotiazida Clortalidona Indapamida Amilorida 41,8 7,27 5,45 0,91 Espironolactona 10,91 Furosemida Bumetanida 3,63 0,91 Betabloqueadores Bloqueadores de canais de cálcio Diuréticos tiazídicos Diuréticos poupadores de K+ Diuréticos de Alça sivos constituindo a base terapêutica para a maioria dos indivíduos com hipertensão. Os diuréticos mais utilizados no tratamento da hipertensão arterial são os tiazídicos e por sua ação farmacológica mais longa e relativamente mais fraca do que os diuréticos de alça, são utilizados em baixas doses9,10. Já os diuréticos de alça são menos utilizados por apresentarem efeitos mais agudos e curtos, sendo particularmente úteis para situações de hipertensão associada a insuficiências renal e cardíaca, mesmo sendo muito potentes, não têm efeito antihipertensivo maior que os tiazídicos. Quando não há melhoria na resposta ao tratamento com os tiazídicos, deve-se utilizar outro agente anti-hipertensivo, entretanto não é recomendado aumentar a dose dos mesmos, pois ocasionaria alterações bioquímicas entre elas: hipocalemia, hipercolesterolemia, hiperinsulinemia e piora da tolerância à glicose. Os diuréticos tiazídicos são associados mais comumente com betabloquedores e também em baixas doses com inibidores da ECA, outras associações podem ser com: antagonistas do receptor "A ADESÃO CORRETA AO TRATAMENTO ANTI-HIPERTENSIVO É CARACTERIZADA PELO GRAU DE COINCIDÊNCIA ENTRE A PRESCRIÇÃO MÉDICA E O COMPORTAMENTO CONSENSUAL DO PACIENTE, QUE É EXTREMAMENTE RELEVANTE PARA ALCANÇAR OBJETIVOS MAIORES DE REDUÇÃO DE MORBIDADE E MORTALIDADE POR DOENÇAS CARDIOVASCULARES" Saúde Coletiva 2009;06 (34):237-243 2_artigo.indd 241 Doses em mg (número de prescrições) 2,5(1); 5(2); 11(1); 12(2); 15(2); 16(1); 17(1); 20(2); 22(1); 25(2); 27(1); 30(2); 32(1); 35(7); 37(2) 5(1); 6(1); 10(6); 20(12) 25(1); 50(1) 2,5(1) 10(1); 12,5(1); 15(1); 20(1); 25(13); 35(1); 50(6); 65(1); 100(3) 3(1); 3,5(1); 10(1); 6,25(2); 13(1); 20(1); 25(9); 30(8); 32(1); 35(6); 45(2); 50(1) 80(1) 75(1); 90(1) 30(2) 2,5(6); 3(1); 4(2); 5(14); 6(1); 7(4); 7,5(1); 8(2); 9(1); 10(3); 12(1) 6,25(2); 7(1); 10(1); 12,5(16); 15(4); 20(4); 25(10); 35(1); 40(1); 50(6) 12,5(8) 1(2);1,5(2); 25(2); 5(1) 10(1); 12,5(1); 21(1); 25(3); 30(1); 50(2); 60(1); 70(1); 80(1) 5(1); 15(1); 20(1); 45(1) 1(1) de angiotensina II ou diuréticos poupadores de potássio. A utilização de pequenas doses de diuréticos tiazídicos, entre 12,5 e 25 mg de hidroclorotiazida ou clortalidona em paciente com hipertensão e diabetes do tipo 2 pode não só tratar hipertensão como minimizar as alterações nos níveis glicêmicos. Quanto aos poupadores de potássio são pouco utilizados isoladamente devido à baixa atividade diurética, usualmente associados com os diuréticos tiazídicos (depletores de potássio) para evitar a hipocalemia10. Há controvérsia sobre os bloqueadores de canais de cálcio quanto ao aumento do risco do aparecimento de eventos cardiovasculares, devendo ser evitados em pacientes com falência cardíaca como síndrome coronariana aguda e infarto agudo do miocárdio, para estes casos os inibidores da ECA, os betabloqueadores e os diuréticos são as classes farmacológicas de primeira escolha. A anlodipina pode ser utilizada nos casos de persistência da hipertensão po- 241 18.09.09 16:55:28 farmacologia e saúde Menezes FG, Nascimento JWL, Camargo RP, Greco KV, Santos AS. Perfil do uso de medicamentos para doenças cardiovasculares: análise de prescrições médicas em farmácia privada da região oeste da cidade de São Paulo díaca e também há evidências de que pessoas com diabetes e hipertensão melhoraram quanto à resistência à insulina e retardaram o desenvolvimento de microalbuminúria11. Adicionalmente, os inibidores da ECA são indicados para tratamento de pacientes com hipertensão, com insuficiência cardíaca, infarto agudo do miocárdio ou com alto risco para doença aterosclerótica, podendo ser utilizados preventivamente para acidente vascular encefálico7,9. Com base nos dados apresentados na literatura, o tratamento anti-hipertensivo por monoterapia não é suficiente para obter resposta e necessita de um controle rigoroso, havendo tendência para iniciar precocemente a terapêutica combinada de anti-hipertensivos. Como se observou, no presente estudo, as prescrições seguem a tendência da politerapia. Mas um dos motivos para a melhoria da adesão está centralizado no número de medicamentos prescritos e frequência de doses diárias12. É importante ressaltar a identificação de potenciais interações medicamentosas de anti-hipertensivos e demais medicamentos de uso contínuo que podem ser prescritos para o paciente que apresenta doenças cardiovasculares. Neste contexto, foi evidenciado que o lisinopril e hidroclorotiazida foram associados com frequência e tal associação pode produzir resposta hipotensiva13. Outra interação observada foi dos inibidores da ECA e ácido acetilsalicílico, no entanto, em estudo realizado em hospital, não houve confirmação da relevância dessa interação em pacientes com infarto agudo do miocárdio14. Já o uso concomitante dos inibidores da ECA e de diuréticos poupadores de potássio, pode desencadear insuficiência renal, necessitando de monitorização semanal da função renal e do potássio15. O risco para hipertensão e para reações adversas é maior em pacientes idosos devido à politerapia. Entretanto, a fase farmacocinética mais importante nas interações medicamentosas envolve o sistema do citocromo P450. Alguns medicamentos sofrem extenso metabolismo, a saber: os betabloqueadores, bloqueadores de canais de cálcio, inibidores da ECA e "O VÍNCULO ENTRE O os antagonistas do receptor da angiotensiPACIENTE E OS MEMBROS na, portanto são mais suscetíveis a interações farmacocinéticas, já outros, como os DA EQUIPE DE SAÚDE, diuréticos, são eliminados essencialmente INCLUSIVE O PROFISSIONAL por via renal16. Identificou-se que um dos fitoterápicos FARMACÊUTICO, CERTAMENTE mais frequentemente prescrito foi ginkgo dendo ser combinada com um inibidor É UM ASPECTO DE REAL biloba, o qual apresenta possível interação de ECA, betabloqueador e um diurético10. medicamentosa com diuréticos tiazídicos Outro argumento importante a ser ciIMPORTÂNCIA NESTE (hidroclorotiazida), com efeito direto na tado é que certos betabloqueadores são PROCESSO DE ADESÃO" elevação da pressão arterial sanguínea17-19. especialmente indicados para o paciente com diabetes portador de cardiopatia isOs fármacos anti-inflamatórios não esquêmica e hipertensão arterial9. É o caso teriodais (AINEs), como o acetilsalicílico, podem induzir um aumento da pressão do carvedilol que tem se mostrado capaz sanguínea e reduzem o potencial da eficácia de diversos de aumentar a sobrevida de pacientes com insuficiência car- 242 2_artigo.indd 242 Saúde Coletiva 2009;06 (34):237-243 18.09.09 16:55:30 farmacologia e saúde Menezes FG, Nascimento JWL, Camargo RP, Greco KV, Santos AS. Perfil do uso de medicamentos para doenças cardiovasculares: análise de prescrições médicas em farmácia privada da região oeste da cidade de São Paulo prescrição de fitoterápicos de prováveis indicações, como vasodilatadores (ginkgo "EM ESTUDO REALIZADO biloba) e diuréticos (castanha da Índia), entre outros efeitos. EM HOSPITAL, NÃO Ocorreu variação de doses para os seHOUVE CONFIRMAÇÃO guintes fármacos: lisinopril, atenolol, carvedilol, anlodipina, hidroclorotiazida e esDA RELEVÂNCIA DESSA pironolactona. São dados que demonstram INTERAÇÃO EM PACIENTES uma preocupação dos prescritores quanto à individualização da dose, inclusive as COM INFARTO AGUDO DO doses mais baixas foram prevalentes, o que MIOCÁRDIO. JÁ O USO vai de encontro com os princípios do uso CONCOMITANTE DOS racional de medicamentos. Várias associações podem resultar em INIBIDORES DA ECA E DE interações medicamentosas, a saber: lisinoDIURÉTICOS POUPADORES pril-hidroclorotiazida, lisinoprol-anlodipina, anlodipina-hidroclorotiazida, anlodipinaDE POTÁSSIO PODE carvedilol, anlodipina-enalapril, anlodipinaCONCLUSÃO DESENCADEAR INSUFICIÊNCIA atenolol, anlodipina-espironolactona, enalaNo presente estudo pôde-se destacar alta pril-hidroclorotiazida, entre outros. frequência de prescrição de fármacos anRENAL, NECESSITANDO DE Enfim, a adesão correta ao tratamento ti-hipertensivos em prescrições contendo MONITORIZAÇÃO SEMANAL anti-hipertensivo é caracterizada pelo grau outros fármacos, do tipo: hipoglicemiande coincidência entre a prescrição médites, hipolipemiantes, vasodilatadores, enDA FUNÇÃO RENAL E DO ca e o comportamento consensual do patre outros. POTÁSSIO" ciente, que é extremamente relevante para Betabloqueadores são os medicamenalcançar objetivos maiores de redução de tos mais prescritos, seguidos por diurétimorbidade e mortalidade por doenças carcos e inibidores de ECA. Uma tendência diovasculares. O vínculo entre o paciente que demonstra que as prescrições estão e membros da equipe de saúde, inclusive o profissional farde acordo com as Diretrizes propostas nacionalmente. Já na macêutico, certamente é um aspecto de real importância nespoliterapia, os medicamentos mais comuns foram: lisinopril, te processo de adesão. carvedilol, hidroclorotiazida, anlodipina entre outros. Observou-se ainda que há uma discreta, porém variada medicamentos anti-hipertensivos, tais como diuréticos, betabloqueadores e inibidores da ECA 20, 21. Relata-se que os bloqueadores de canais de cálcio não são afetados por AINEs, portanto são os preferidos para tratamento de controle de hipertensão20 . Os dados atuais sugerem que todos os antagonistas do receptor da angiotensina, inclusive o losartan, são eficazes no tratamento da hipertensão, o que têm uma baixa incidência de efeitos adversos como, por exemplo, a hipotensão, porém este efeito adverso é incomum. Entretanto, estes dados dos estudos devem ser mais bem esclarecidos22, 23. Referências 1. G1. Gomes MJVM, Reis AMM. Ciências farmacêuticas: uma abordagem em farmácia hospitalar. 1 ed. São Paulo: Atheneu; 2002. p. 92. 2. Leape LL. Systems analysis of adverse drug events. ADE Prevention Study Group. JAMA. 1995;274(1):35-43. 3. Lyra júnior DP. As prescrições médicas como causadoras de risco de problemas relacionados com os medicamentos. Acomp Farmacoter. 2004;2(2):86-96. 4. Bittencourt MO, Cruz MS, Castilho SR. Problemas com a utilização de medicamentos – estudo piloto em hospital psiquiátrico do Rio de Janeiro. Rev Bras Farm. 2004;85(2):37-39. 5. Flores L, Segura CQMS, Hall V. Seguimiento farmacoterapéutico con el método dáder em un grupo de pacientes com hipertensíon arterial. Seguim Farmacoter. 2005;3(3):154-7. 6. González MM, Martín MP. Guía de seguimiento farmacoterapêutico sobre hipertensíon. Barcelona: Maria José Faus Dadér, Grupo de Investigação em Atenção Farmacêutica, Universidade de Granada; 2003. 7. Mion JR D, Machado CA, Gomes MAM. V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial. (s.l.): Sociedade Brasileira de Hipertensão; 2006. 8. Zanella MT. Tratamento da hipertensão arterial no paciente diabético. Rev Bras Hipertens. 2004;11(1):37-42. 9. Silveiro SP, Ferreira SRG, Azevedo MJ. Tratamento da hipertensão arterial sistêmica no diabetes melito. Rev Bras Hipertens. 1999;6(3):300-7. 10. Nigro D, Fortes ZB. Efeitos farmacológicos dos diuréticos e dos bloqueadores dos canais de cálcio. Rev Bras Hipertens. 2005;12(2):103-7. 11. Bakris GL, Fonseca V, Katholi RE. Metabolic effects of Carvedilol us metoprolol in patients with type 2 diabetes mellitus and hypertension: a randomized controlled trial. JAMA. 2004;292(18):2227-36. 12. Nobre F. Associações fixas de drogas anti-hipertensivas: vantagens e desvantagens na prática clínica. Rev Bras Hipertens. 2003;10:270-6. 13. Laher MS. The effects of age and renal impairment on the pharmacokinetics of co-administered lisinopril and hydroclorothiazide. J Hum Hypertens. 1991;5(Suppl 2):77-84. 14. Latini R, Santoro E, Masson S. Investigators. Aspirin does not interaction with ACE inhibitors when both are given early after acute myocardial infarction: results of the GISSI-3 Trial. Heart Dis. 2000;2(3):185-90. 15. Chiu TF. Rapid life-treatening hyperkalemia after of amiloride HCL/ hydroclorothiazide to angiotensinaconverting enzyme inhbitor therapy. Ann Emerg Med. 1997;30(5):612-5. 16. Flockhart DA, Tanus-Santos JE. Implications of cytochrome P450 interactions when prescribing mediaction of hypertension. Arch Intern Med. 2002;162( 4):405-12. 17. Hu Z. Herb-drug interac- Saúde Coletiva 2009;06 (34):237-243 2_artigo.indd 243 tions: a literature review. Drugs. 2005;65(9):1239-82. 18. Dergal JM. Potencial interactions between herbal medicines and conventional drug therapies used by older adults attending a memory clinic. Drugs Aging. 2002;19(11):879-86. 19. Hu Z. Herb-drug interactions: a literature review. Drugs. 2005;65(9):1239-82. 20. Polonia J. Interaction of antihypertensive drugs with anti-inflammatory drugs. Cardiology. 1997;88(Suppl 3):47-51. 21. Blundell DB. Interacciones farmacólogicas detectadas en una farmacia comunitaria. Pharm Care Esp. 2003:261-7. 22. Unger T, Kaschina E. Drug interactions with angiotensina receptor blockers: a comparasion with other antihypertensives. Drug Saf. 2003;26(10):707-20. 23. Burrell LM, Johnston CI. Angiotensin II receptor antagonists. Potential in elderly patients with cardiovascular disease. Drugs Aging. 1997;10(6):421-34. 243 18.09.09 16:55:30